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Oração Segundo As Escrituras
Oração Segundo As Escrituras
DO EDITOR
CONFORTO PARA AS ORAÇÕES FRACAS
EIS QUE ELE ESTÁ ORANDO
HUMILDADE, A AMIGA DA ORAÇÃO.
IMPEDIMENTOS À ORAÇÃO
ORAÇÃO, A PROVA DA SANTIDADE
OS DOIS GUARDAS: ORAR E VIGIAR
PEDIDO E ARGUMENTAÇÃO
QUANDO DEVEMOS ORAR?
PREFÁCIO DO EDITOR
Não existe nenhuma outra atividade mais difícil, mais intensa e mais necessária
que a oração, o entrar em contato com o Senhor com palavras, lágrimas e até
mesmo o silêncio. A oração é, de longe, o maior desafio para a alma. A oração
em público é fácil de ser feita, comparada à oração particular. Ali está o maior
indicador da saúde da sua vida espiritual, ou você ora ou você não ora. Não
existe meio termo.
De acordo com a Lei do Antigo Testamento, os sacrifícios poderiam ser de
animais puros, mas o coração do homem sempre foi levado em consideração. Na
verdade, o coração do homem é determinante na aceitação do sacrifício
oferecido.
Vemos logo em Gênesis que Deus se agradou de Abel e depois de seu sacrifício,
e se desagradou de Caim e, consequentemente, do seu sacrifício. Que você tenha
em mente aqui que os sacrifícios não determinaram nada na aceitação de Deus,
mas o que foi principal no aceitar ou não foi o coração daquele que oferecia.
Vemos no Salmo 51, que o rei Davi escreve algo interessantíssimo. “Não te
deleitas em sacrifícios nem te agradas em holocaustos, se não eu os traria” (verso
16). Olhe bem para o que Davi fala, que Deus não se agrada do simples
sacrifício, como se fosse uma conta a se pagar e que depois de paga, a
consciência do pecador estaria limpa. Se fosse assim, Davi não teria que se
preocupar, ele era rei em Israel, possuía mais bens que a grande maioria da
população, se Deus pedisse um boi ou mil bois, Davi poderia trazer e sacrificar.
Mas ele entendia algo essencial, Deus não aceita sacrifícios vazios, Deus não
aceita formalidades sem arrependimento; se Deus fosse como homem, Davi
poderia trazer seus sacrifícios e seria perdoado. Mas Davi conhecia o Deus que
adorava. “Os sacrifícios que agradam a Deus são um espírito quebrantado; um
coração quebrantado e contrito” (verso 17). Ele sabia que o que agradaria a seu
Senhor, era um coração arrependido pelo pecado.
Suas orações são sacrifícios a Deus, como você as tem feito? Você tem buscado
a formalidade sem fervor? Você tem levantado as mãos para cima e agradecido
por ser um ótimo homem e um ótimo crente? Ou entra diante de Deus de cabeça
baixa, bate no peito e clama por misericórdia? Isso vai definir toda a sua vida, a
vida nesta terra e a vida eterna, seja no inferno, seja à direita de Deus.
Fraqueza corporal nunca deveria ser argumentada por nós como uma razão
para parar de orar. De fato, nenhum filho Deus pensaria tal coisa como esta. Se
não posso dobrar os joelhos de meu corpo por estar muito fraco, minhas orações
que faço de minha cama devem estar em seus joelhos – meu coração deve estar
em seus joelhos e orar tão aceitavelmente como antigamente. Em vez de relaxar
nas orações pelo fato de nosso corpo sofrer, corações verdadeiros, em tempos
como esse, geralmente dobram suas petições. Como Ezequias, eles viram seus
rostos para a parede para que eles não vejam nenhum objeto terreno e então
olham para as coisas invisíveis e falam com o Altíssimo. Sim, e frequentemente
em uma maneira mais doce e familiar do que eles faziam nos dias de sua saúde e
força; Se nós estamos tão fracos que só podemos nos deitar parados e respirar,
façamos com que cada respiração seja uma oração!
Nem deveria um cristão relaxar nas suas orações por dificuldades mentais .
Quero dizer daquelas perturbações que distraem a mente e impedem a
concentração dos nossos pensamentos. Tais males acontecerão conosco. Alguns
de nós estão frequentemente deprimidos e muitas vezes são jogados para lá e
para cá em sua mente, de forma que se a oração fosse uma operação que
requeresse que as faculdades estivessem todas em dia, como no resolver
problemas matemáticos difíceis, nós não poderíamos, nesses momentos, orar de
forma nenhuma. Mas, irmãos e irmãs, quando a mente está muito pesada, então
não é a hora de desistir de orar, mas em vez disso, redobrar nossas súplicas!
Nosso abençoado Senhor e Mestre foi levado por angustias da mente para a mais
triste condição – Ele disse, “A minha alma está cheia de tristeza até a morte” – e
mesmo por essa razão Ele não disse, “Eu não posso orar”, mas, pelo contrário,
Ele buscou as bem conhecidas sombras do olival e lá descarregou Seu pesado
coração e derramou Sua alma como água perante o Senhor! Que nunca nos
consideremos tão doentes ou distraídos para orar. Um cristão nunca deve estar
em tal estado de mente em que ele deva se sentir obrigado a falar “Eu não sinto
que consigo orar”, ou se ele o fizer, que ele ore até que ele sinta que ele pode
orar . Não orar porque você não se sente apto a orar é como dizer, “Eu não
tomarei o remédio porque estou muito doente”. Ore para orar! Ore por você
mesmo, através da assistência do Espírito, para que você consiga orar! É bom
martelar o ferro quando ele está quente, mas alguns fazem o ferro frio se
esquentar por martelar ele! Nós, às vezes, comemos até que tivéssemos apetite,
então oremos até que possamos orar. Deus irá te ajudar na procura do seu dever,
não na negligência dele.
O mesmo é o caso com relação às doenças espirituais . Algumas vezes não é
meramente o corpo ou a mente que estão afetados, mas nossa natureza interior é
tediosa, estúpida, letárgica, de forma que quando é o tempo de orar, nós não
sentimos o espírito da oração. Além disso, talvez nossa fé esteja tombando e
como nós podemos orar quando nossa fé está tão fraca? Possivelmente nós
suspeitamos de que sejamos realmente povo de Deus e somos molestados pela
coleção de nossas quedas. Agora o tentador irá sussurrar, “Não precisa orar
agora – seu coração não está numa boa condição para isso”. Meus queridos
irmãos e irmãs, você não se tornará apto para orar por se manter longe do Trono
da Misericórdia! Mas se deitar gemendo e suspirando aos pés do Trono é a
melhor preparação para suplicar ao Senhor. Nós não devemos almejar uma
autopreparação do nosso coração para que possamos nos achegar a Deus
corretamente, mas “as preparações do coração no homem e a resposta da língua
são do Senhor” (Provérbios 16:1 – Versão King James). Se eu me sinto
desinclinado a orar, então este é o tempo em que preciso orar mais do que
nunca! Possivelmente quando a alma pula e exulta em comunhão com Deus,
deve ser mais seguro se refrear de orar do que aqueles momentos quando a alma
se arrasta pesadamente à devoção. Ai de mim, meu Senhor, será que minha alma
anda errante longe do Senhor? Então volte, meu coração! Irei te arrastar de volta
pela força da Graça Divina! Não irei parar de clamar até que o Espírito de Deus
te faça voltar para a obediência. O que? Meu irmão cristão, por você se sentir
negligente, esta é a razão pela qual você deveria guardar sua mãe e não servir
seu Deus? Não, fora com sua negligência e dobre sua alma resolutamente ao
serviço! Então, ao sentir uma sensação de não querer orar, seja mais aplicado na
oração! Arrependa-se por não querer se arrepender, lamente por que você não
consegue se lamentar e ore até que você consiga orar – fazendo isto, Deus irá te
ajudar.
Mas, pode surgir uma objeção, de que algumas vezes nós somos colocados em
grandes dificuldades por tais circunstâncias que nós podemos ser dispensados de
orar. Irmãos e irmãs, não existem circunstâncias nas quais nos deveríamos parar
de orar de forma alguma. “Mas eu tenho tantas necessidades”. Quem de nós não
as tem? Se nós estamos dispensados de orar até que nossas necessidades acabem,
certamente nunca chegaríamos a orar, ou oraríamos quando não mais
precisássemos de oração! O que Abraão fez quando ele ofereceu sacrifícios ao
Senhor? Quando o patriarca sacrificou as criaturas determinadas e as deitou no
altar, alguns abutres e pássaros vieram prontos para arrancar pedaços da carne
consagrada. O que o patriarca fez? “E as aves desciam sobre os cadáveres;
Abrão, porém, as enxotava.” (Gn 15:11). Assim devemos pedir para que a Graça
enxote nossas necessidades das nossas devoções.
Aquela foi uma sábia instrução que o profeta deu à pobre mulher quando o
Senhor estava prestes a multiplicar seu azeite. “Vá, pegue a botija” ele disse,
“derrame o azeite e encha as vasilhas emprestadas”. Mas o que mais ele disse?
“E fecha a porta sobre ti” (2 Rs 4:4). Se a porta estivesse aberta, alguns de seus
vizinhos bisbilhoteiros teriam olhado aquilo e dito, “O que você está fazendo?
Você realmente espera encher todos esses jarros com essa pequena botija de
azeite? Por que, mulher? Você deve estar louca!”. Temo que ela não fosse capaz
de realizar aquele ato de fé se os seus objetores não estivessem sido trancados
fora da casa. É uma grande coisa quando a alma pode fechar com ferrolho as
portas contra as distrações e manter fora os intrusos – pois então é que a oração e
a fé irão realizar o seu milagre e nossa alma deve ser cheia com as bênçãos do
Senhor! Ó, que a Graça vença as circunstâncias e ao menos nos faça suspirar
nossas orações se não podemos alcançar a forma mais poderosa de oração!
Talvez, contudo, você declare que suas circunstâncias são mais difíceis do que
posso imaginar, pois você esta cercado daqueles que zombam e, além disso, o
próprio satanás lhe molesta . Ah, querido irmão ou irmã, debaixo de tais
circunstâncias, em vez de restringir a oração, seja dez vezes mais diligente! Sua
posição é preeminentemente perigosa – você não pode se permitir de viver longe
do Trono da Graça – portanto, não tente isto. Sobre a perseguição e ameaça, ore
provocando-as. Lembre-se de como Daniel abriu sua janela e orou ao seu Deus
como ele tinha feito em outros dias? Deixe que o Deus de Daniel seja seu Deus
no seu quarto de oração e Ele será seu Deus na cova dos leões! Sobre o demônio,
tenha certa que nada o expulsará como a oração. Esse par de versos é correto
quando declara que –
“Satanás irá tremer quando olhar
O mais fraco santo orar!”
Qualquer que seja sua posição, se você não pode falar, chore. Se não pode
chorar, comece a gemer. Se não pode gemer, deixe que falem os “gemidos
inexprimíveis”. E se você nem mesmo pode chegar a isso, deixa que suas
orações sejam ao menos respirações – um desejo vital e sincero – o transbordar-
se de sua vida interior na mais simples e fraca forma, e Deus irá aceitar isso. Em
uma palavra, quando você não consegue orar como deve, cuide para orar
como você pode!
II. Agora, uma segunda palavra de instrução. É claro neste texto, de
muitas outras passagens da Escritura e de observações gerais que: OS
MELHORES HOMENS GERALMENTE ACHAVAM AS MAIORES
FALTAS NAS SUAS PRÓPRIAS ORAÇÕES .
Isso vem do fato que eles apresentaram orações verdadeiras e ainda assim
sentiam muito mais do que podiam expressar. Um mero formalista sempre pode
orar assim que desejar. O que ele deve fazer além de abrir seu manual e ler as
palavras prescritas, ou dobrar seus joelhos e repetir certas frases sugeridas por
sua memória ou por sua imaginação? Como a Máquina de Oração do Tártaro [1] ,
tendo vento e a roda, toda a oração é realizada! Todo esse dobrar de joelhos,
falar e orar já estão feitos! As orações do formalista sempre são igualmente boas,
ou melhor, sempre igualmente más. Porém o verdadeiro filho vivo de Deus
nunca oferece uma oração que o satisfaz – seus padrões estão acima de suas
capacidades. Ele se maravilha na forma de que Deus o escuta, e mesmo que ela
saiba que será ouvido por amor de Deus à Cristo, ainda assim ele considera isso
um maravilhoso fato de misericórdia condescendente, a saber, que tão pobres
orações como as suas devem chegar aos ouvidos do Senhor dos Exércitos!
Se fosse perguntado em qual ponto os homens santos acham faltas em suas
orações, nós responderíamos, que eles reclamam da pequenez de seus desejos. Ó
Deus, Tu me convidas a abrir minha boca bem aberta e que o Senhor vai enchê-
la de palavras, mas eu não abro minha boca! Tu estás pronto para me conceder
grandes coisas, mas eu não estou pronto para receber grandes coisas! Eu sou
limitado, mas não no Senhor – eu sou limitado nos meus próprios desejos!
Queridos irmãos e irmãs, quando nós lemos sobre Hugh Latimer [2] que ficava de
joelhos perpetuamente clamando “Ó, Deus, dê de volta o Evangelho para
Inglaterra”, e que algumas vezes orava por tanto tempo que não conseguia se
levantar, sendo um homem de idade – e eles tinham que levantá-lo do chão da
prisão – e ele continuava a clamar “Ó, Deus, dê de volta o Evangelho para a
pobre Inglaterra”; nós devemos bem nos surpreender pelo fato de alguns de nós
não orarem desse jeito! Os tempos são maus como os de Latimer e nós temos
uma grande necessidade de orar como ele orou “Ó, Deus, expulse estes papas
mais uma vez daqui e dê de volta o Evangelho para a Inglaterra”. Pense, então,
em John Knox [3] . As orações daquele homem eram como exércitos poderosos e
ele lutava durante toda a noite com Deus para que ele incendiasse a luz do
Evangelho na Escócia. Ele declarou que lhe foi concedido este seu desejo e creio
que realmente o foi, e que a Luz de Deus que queima tão fortemente da Escócia
deve ser muito atribuída às orações daquele homem. Nós não oramos como esses
homens. Nós não temos coração para pedir grandes coisas. Um avivamento está
esperando, a nuvem está passando por cima da Inglaterra, mas nós não sabemos
como trazê-la para baixo! Ó, que Deus ache alguns espíritos verdadeiros que
possam ser os condutores a trazer para baixo o Fogo Divino! Nós precisamos
muito disso, mas nossos pobres suspiros – eles não são muito mais que isso –
não têm força, nem expansividade, nem coração e nem preponderância em si
mesmos!
Então, quão grave nós caímos a respeito da fé! Nós não oramos como se
acreditássemos. Orar acreditando na oração é um sofrimento e uma luta, mas
nossas orações são meros assopros e bafejos, pequenos suspiros – nada mais que
isso. Deus é verdadeiro e nós oramos a Ele como se Ele fosse falso. Ele quis
dizer o que Ele disse, e nós tratamos Sua Palavra como se Ela fosse falada de
brincadeira. O maior erro de nossas orações é a falta de fé.
Quão frequentemente nos falta seriedade ! Tais homens como Lutero tinham
seus desejos do Céu porque eles queriam tê-los! O Espírito de Deus os fez
resolutos em intercessão e eles não sairiam de perto do Trono da Misericórdia
até que seus apelos fossem atendidos. Mas nós somos frios, e consequentemente
fracos, e nossas pobres, pobres orações nos cultos, no nosso quarto em secreto e
no altar da família definham e quase morrem!
Quão mais, infelizmente, é a impureza de nossos motivos de oração! Nós
pedimos por avivamento, mas queremos que nossa própria igreja ganhe a bênção
de ter o crédito por isso! Nós oramos a Deus para abençoar nosso trabalho e isto
porque desejamos escutar homens dizerem que somos bons trabalhadores. A
oração é boa em si mesma, mas nossos dedos sujos a estragam. Ó, que possamos
oferecer súplicas como elas devem ser oferecidas! Bendito seja Deus, Aquele
que é o Único que pode lavar nossas orações por nós, mas, mais
verdadeiramente, nossas próprias lágrimas devem ser choradas de novo e nossas
orações devem ser oradas novamente. Mesmo a melhor coisa que nós façamos
deve ser lavada na Fonte de Sangue, ou de outra forma, Deus somente a pode
olhar como um pecado.
Outra falta que bons homens olham em suas súplicas é que eles mantém certa
distância de Deus enquanto oram , que eles não se achegam perto o bastante
Dele. Não é verdade que alguns de vocês são oprimidos por uma sensação de
distância que existe entre vocês e Deus? Você crê que existe um Deus e acredita
que Ele irá lhe responder, mas não é sempre que você vem direto para Ele, até
Seus pés, e toma posse Dele e diz, “Ó, meu Pai, escuta a voz de Seus escolhidos
e deixe o clamor do sangue de Seu Filho venha diante de Ti!”. Ó, queremos
orações que possam ir além do véu e se aproximem do Trono da Misericórdia!
Ó, queremos pessoas suplicantes que são familiarizados com os querubins e com
o brilho que sai do meio de suas asas! Que Deus nos ajude a orar melhor! Mas
disso estou certo – vocês que têm as melhores súplicas são exatamente aqueles
que pensam o mínimo de suas próprias orações e que são os mais gratos a Deus
por Ele deseja escutar a vocês – e os mais ansiosos para eu Ele os ajude a orar de
uma maneira mais nobre.
III. A terceira lição é esta – O PODER DA ORAÇÃO NÃO É
MEDIDO POR SUA EXPRESSÃO EXTERNA.
O suspiro é uma oração da qual Deus não esconde Seu ouvido. É, sem sombra de
dúvida, uma grande Verdade de Deus, e também cheia de conforto, de que
nossas orações não são poderosas na proporção de suas expressões, pois, se fosse
assim, o Fariseu teria obtido sucesso já que ele tinha melhores dons de oratória
do que o Publicano tinha. (Lc 18:10-14). Não tenho dúvida de que se houvesse
um culto normal, e o Fariseu e o Publicano estivesse lá, nós teríamos chamado o
Fariseu para orar. Não creio que o povo de Deus teria apreciado sua oração, nem
teria sentido alguma afinidade de espírito com ele e ainda assim, muito
naturalmente, por pensar em seus dons, ele teria se levantado e se comprometido
com a devoção pública ou, se aquele Fariseu não tivesse feito isso, sei de outros
Fariseus que o fariam. Sem dúvida o espírito daquele homem era mau, mas sua
expressão era boa – ele podia colocar sua oração tão ordenadamente e a
proclamar muito cuidadosamente. E que todo homem saiba que Deus não se
importa com isso! O suspiro do Publicano alcançou Seu ouvido e ganhou a
bênção, porém as palavras orgulhosas do Fariseu foram uma abominação para
Ele!
Se nossas orações fossem eficientes na proporção de sua expressão, então a
retórica seria mais valiosa que a Graça e a educação escolástica seria melhor que
a santificação – mas isso não é verdade. Alguns de nós podem ser capazes de se
expressar muito fluentemente através da força de dons naturais, mas deveria ser
sempre uma pergunta inquietante para nós se nossa oração seria uma que Deus
receberia, pois nós devemos saber, e saber de uma vez, que nós frequentemente
oramos melhor quando nós balbuciamos e gaguejamos – e nós oramos pior
quando as palavras fluem como uma torrente, uma atrás da outra! Deus não é
movido por palavras – elas não passam de barulhos para Ele. Ele só é movido
pelos pensamentos profundos e pelas emoções verdadeiras que estão no mais
fundo do espírito. Seria algo ruim para você, que é necessitado, se Deus só nos
escutasse de acordo com a beleza de nossas palavras, pois talvez seja que sua
educação foi tão negligenciada que não exista esperança para você ser capaz de
falar gramaticalmente bem. E, além disso, poderia ser que, por sua informação
limitada, você não usasse palavras que soassem tão bem. Mas o Senhor ouve os
pobres, os ignorantes e os necessitados! Ele ama escutar o seu clamor. O que
importa para Ele a gramática de uma oração? É a alma que Ele quer! E se você
não consegue amarrar corretamente nem três palavras do inglês da rainha,
mesmo assim se sua alma consegue de alguma forma suspirar a si mesma diante
do Altíssimo – se é algo quente, de coração, sincero e sério – existe poder na sua
oração e não menos poder nela por causa de palavras quebradas, nem seria
vantagem para você, visto ao que o Senhor se importa, se essas palavras não
fossem quebradas, mesmo que fossem bem compostas! Isso não é um conforto
para nós, então?
Mesmo que sejamos abençoados com facilidade de se expressar, nós, algumas
vezes, notamos que nosso poder de proclamação nos falha. Debaixo de grande
pesar, um homem pode não falar como ele é conhecido a fazer. Circunstâncias
podem fazer a língua mais eloquente se tornar pesada. Não importa – sua oração
é tão boa quanto era antes. Você clama a Deus em adoração pública e se senta
pensando que sua confusa oração não foi de serviço para a Igreja. Você não sabe
em que balanças Deus pesa sua oração – não em quantidade, mas em qualidade –
não por uso de vestimenta externa verbal, mas pela alma interna e seriedade
intensa que havia ali é que Ele pesa o valor! Não é verdade que algumas vezes
quando você se levanta de seus joelhos em seu quarto, em secreto, e diz, “Acho
que não orei, não me senti orando de verdade”? Nove de cada dez vezes, essas
orações que não achamos aceitáveis são as mais importantes para Deus. Mas
quando nós nos gloriamos em nossa oração, Deus não irá querer saber dela! Se
você vê alguma beleza em sua própria súplica – Deus não olha isso – pois,
evidentemente, você estava olhando para sua oração e não para Ele! Mas quando
a alma vê tanto de Sua glória que chega clamar, “Eis que agora me atrevi a falar
ao Senhor, ainda que sou pó e cinza” (Gn 18:27). Quando a alma vê tanto de Sua
Santidade que ela é dificultada a se expressar pela profundidade de sua própria
humilhação, ó, então é quando esta é sua melhor oração! Pode haver mais oração
em um gemido do que em uma liturgia inteira. Pode existir uma devoção mais
aceitável em uma lágrima que molha o bando da igreja do que em todos os hinos
que nos cantamos, ou em todas as súplicas que nós fizemos! Não é o exterior, é o
interior! Não são os lábios, é o coração que o Senhor leva em consideração! Se
você consegue somente suspirar, suas orações serão aceitas pelo Altíssimo!
Desejo que esta verdade possa ir para casa com cada um de nós que diz, “Eu não
consigo orar”. Isso não é verdade. Se para orar fosse necessário falar por um
quarto de hora, ou que fosse necessário pronunciar coisas bonitas, então eu
admitiria que você não conseguiria orar! Mas se for só falar de seu coração,
“Deus, tem misericórdia de mim, um pecador”, então consegue sim, e se oração
não é nada sobre o falar, mas sim desejar, ansiar, esperar por misericórdia,
perdão e por salvação, então nenhum homem pode falar “Eu não consigo”, a não
ser que ele seja honesto o suficiente para completar a frase: “Eu não consigo,
porque eu não vou orar. Amo os meus pecados demais e não tenho fé em Cristo.
Não desejo ser salvo”. Se você quer orar, Ó meu ouvinte, então você consegue
orar! Ele que dá o querer, adiciona a habilidade para isso!
E ó, deixe-me dizer, não durma esta noite até que você tenha tentado e
experimentado o poder da oração! Se você sente um fardo em seu coração, diga
ao Senhor! Cubra seu rosto e fale com Ele. Nem isso acredito que você precise
fazer, pois, suponho que Ana não cobriu seu rosto quando Eli olhou seus lábios
movendo e pensou que ela estava bêbada (1 Sm 1:9-15). Não, seus lábios nem
precisam mover! Sua alma pode agora dizer, “Salve-me, meu Deus! Convença-
me do meu pecado, me leve até a Cruz! Salve-me esta noite! Não me deixe
terminar mais um dia como Seu inimigo! Não me deixe ir para meus afazeres
por mais uma semana sem ser perdoado, com Sua ira suspendida sobre mim
como um relâmpago! Salve-me, salve-me, Ó meu Deus!”. Tais orações, mesmo
que sem palavras pronunciadas, não são impotentes, mas serão ouvidas no Céu!
IV. Iremos concluir com essa quarta lição prática – ORAÇÕES
FRACAS SÃO OUVIDAS NO CÉU.
Por que que orações fracas são entendidas e ouvidas por Deus no Céu? Aqui
estão três razões.
Primeiro, a oração mais fraca, se for sincera, foi escrita pelo Espírito Santo
no coração, e Deus sempre reconhecerá a caligrafia do Espírito Santo .
Frequentemente, alguns caros amigos da Escócia mandam para o Orfanato [4]
algumas porções do que um deles outro dia chamou de “dinheiro imundo” – isto
é, notas de uma libra sujas. Bem, certamente, essas notas de uma libra parecem
que tem um pequeno valor. Mas ainda assim, elas carregam a assinatura própria
e são bem aceitas – e sou muito grato por elas. Muitas orações que são escritas
pelo Espírito Santo no coração parecem escritas com tinta fraca, e além disso,
parecer ser apagadas e sujas por nossas imperfeições. Mas o Espírito Santo pode
sempre ler Sua própria caligrafia. Ele conhece Suas próprias anotações e quando
Ele emitiu uma oração, Ele não a negará. Portanto, o suspiro ao qual o Espirito
Santo trabalhou em nós, será aceito por Deus.
Ademais, Deus, nosso sempre bendito Pai, tem um ouvido ligeiro para o suspiro
de cada um de Seus filhos. Quando uma mão tem um filho doente, é maravilhoso
o quão ligeiro seu ouvido é o atendendo. Que boa mulher, nós nos maravilhamos
como ela não cai no sono. Se você contratou uma enfermeira, as chances são de
dez para um que ela dormiria. Mas o filho querido, no meio da noite, não precisa
pedir por água, ou nem mesmo falar – só um pequeno suspiro – quem ouvirá
isso? Ninguém exceto a mãe! Mas seus ouvidos são rápidos, pois estão no
coração de seu filho. Então, se existe algum coração no mundo que anseia por
Deus, o ouvido de Deus já está no coração daquele pobre pecador! Ele o ouvirá.
Não existe um único bom desejo no mundo que o Senhor não tenha escutado.
Lembro-me quando, uma vez, estava um pouco temeroso de pregar o Evangelho
aos pecadores como se fossem pecadores, e mesmo assim, eu o queria fazer,
então costumava falar, “Se você tem somente uma milionésima parte de desejo,
venha a Cristo!”. Ouso dizer mais do que aquilo hoje, mas ainda assim quero
fazê-lo, e o farei de uma vez – se você tem uma milionésima parte de desejo, se
você tem somente um pequeno suspiro – se você deseja ser reconciliado, se você
deseja ser perdoado, se você deseja ser desculpado, se existe ao menos metade
de um bom pensamento formado em sua alma, não o ponha em questão, não o
sufoco e não pensei que Deus irá rejeitá-lo!
E, então, há outra razão, a saber, que o Senhor Jesus Cristo está sempre pronto
para pegar a mais imperfeita oração e a aperfeiçoar para nós. Se nossas orações
tiverem que subir aos Céus como elas são, elas nunca teriam obtido sucesso.
Mas elas acham um Amigo neste caminho, e então, elas prosperam. Um pobre
homem tem uma petição para ser mandada para alguma agência do governo. Se
ele tivesse que escrever isto por si mesmo, todos os oficiais da rua Downing [5]
ficariam confusos sobre o que a petição significaria. Mas o pobre homem é sábio
o bastante para achar um amigo que pudesse escrever, ou ele viria até o seu
pastor e diria, “Pastor, o senhor poderia escrever essa petição corretamente para
mim? O senhor poderia colocar em um bom inglês, para que esta fosse
apresentada?”. E então a petição iria de uma forma diferente. Dessa forma, o
Senhor Jesus Cristo toma nossas pobres orações, as adapta e apresenta a petição
com a adição de Sua própria Assinatura – e o Senhor nos manda uma resposta de
paz.
A mais fraca oração no mundo é ouvida quando esta tem o selo de Cristo em si.
Quero dizer que Ele coloca Seu Sangue Precioso sobre ela. E aonde quer que
Deus veja o Sangue de Cristo, Ele deve e irá aceitar o desejo que ela endossa. Vá
a Jesus, pecador, mesmo que você não consiga orar, e deixe que o suspirar de sua
alma seja, “Seja misericordioso comigo, limpa-me, salva-me” e assim será feito,
pois Deus não escutará tanto sua oração como escuta o Sangue de Seu Filho,
“que fala melhor do que o de Abel.” (Hb 12:24). Uma voz mais alta prevalecerá
sobre a sua! E seus fracos suspiros irão até Deus cobertos com as súplicas
Onipotentes do Grande Sumo Sacerdote que nunca apela em vão!
Tive por objetivo, desta forma, confortar os aflitos que dizem que não pode orar,
mas antes de eu terminar, devo adicionar como indesculpáveis são aqueles que,
sabendo de tudo isto, continuam sem orar, sem Deus e sem Cristo! Senão
houvesse nenhuma misericórdia para se obter, você não seria culpado se não a
tivesse. Se não houvesse nenhum Salvador para os pecadores, um pecador
poderia ser desculpado por continuar no pecado. Mas existe uma Fonte e ela está
aberta – por que, então, você não se lava nela? Misericórdia é para ser ganha
“sem dinheiro e sem preço” (Is 55:1) – é para ser ganha por se pedir por ela.
Algumas vezes, pobres homens são amordaçados, condenados em uma cela e
sentenciados para serem enforcados. Mas suponha que eles tivessem um perdão
gratuito só por pedir por ele, e eles não fizessem isso – quem teria pena deles?
Deus dará Suas bênçãos para todo aquele que é movido a busca-las com
sinceridade às Suas mãos sob somente essa única condição – que a sua alma
confie em Jesus! E ainda isso não é uma condição, pois Ele dá o arrependimento
e a fé, e capacita pecadores a crerem no Seu querido Filho! Eis Cristo
crucificado, a mais triste e, ao mesmo tempo, a mais alegre visão debaixo do céu
jamais vista! Eis o eterno Filho de Deus feito carne e sangrando Sua vida! Uma
maravilha insuperável de aflição e amor! Olhe para Ele que salvará você!
Mesmo que estejas aos pés da cova ou na beira do inferno, por um olhar ao Jesus
crucificado sua culpa será cancelada, suas dívidas serão para sempre anuladas
diante do Trono de Deus e você mesmo será levado à alegria e paz. Ó, que você
dê esse olhar!
Suspire a oração, “Senhor, dê-me a fé de Seus eleitos e salve-me com uma
grande salvação!”. Apesar de ser somente um suspiro, ainda assim, como o
antigo puritano falava, quando Deus sente o respirar de Seu filho sobre Sua face,
Ele sorri. E Ele irá sentir o seu respirar, sorrir para você e lhe abençoar. Que Ele
assim o faça, em nome de Jesus! Amém.
EIS QUE ELE ESTÁ ORANDO
Pregado em Setembro de 1885
Estas palavras são a marca da conversão genuína. “Eis que ele está
orando” é uma testemunha mais confiável da conversão de um homem do que,
“eis que ele canta”, ou “eis que ele lê as Escrituras”, ou “eis que ele prega”.
Essas coisas podem ser admiravelmente feitas por homens que não foram
regenerados! Mas se, no sentido que Deus tem pelo termo, um homem
realmente ora , nós podemos saber com certeza que ele passou da morte para a
vida. Oração verdadeira é uma evidência do vivificar espiritual – o Espírito
Santo colocou vida espiritual no coração do homem que ora, pois oração é o
respirar de uma vida espiritual. Oração é o resultado do sentimento de
necessidade que surge da nova vida – o homem não oraria a Deus se ele não
sentisse que ele tivesse uma urgente necessidade de bênçãos que só podem ser
concedidas pelo Senhor. Enquanto expressa seu sentimento de necessidade e
apela a Deus por ajuda, o homem que ora dá evidência de estar em paz com seu
Senhor e curado de sua alienação natural. Aquele eu ora, crê, e assim revela a fé
que salva. Algumas formas de oração mostram uma grande fé, mas toda
verdadeira oração é obra da fé, seja pequena ou grande. Será que um homem
clamaria a Deus por misericórdia se ele não acreditasse Nele? Será que ele
suplicaria ao Trono da Misericórdia se ele não esperasse obter seu desejo?
Assim, caros amigos, o tipo verdadeiro de oração é um comprovante da
existência da vida espiritual na sua consciência de necessidade, no seu se voltar a
Deus e na sua fé Nele.
Oração é o autografo do Espírito Santo sobre o coração regenerado.
Oração é, também, uma admirável forma de comunhão com Deus e, e como a
mente carnal não pode ter comunhão com Deus, esta se torna prova da
regeneração, a evidência da adoção! Aquele que ora tem algum conhecimento de
Deus, algum entendimento com o Grande Invisível. O hábito de oração privada e
a constante prática do coração de comunhão com o Altíssimo são os mais certos
indicadores da obra do Espírito Santo sobre o coração. Quando pode ser dito de
um homem, “Eis que ele está orando”, o selo do Grande Rei está sobre ele! Ele
carrega o aval do Esquadrinhador de Corações. Assim que o Senhor deu a
Ananias esta certa indicação de que Saulo de Tarso era um homem convertido,
por dizer a ele, “Eis que ele está orando”.
No caso de Saulo, esta indicação era especialmente notável. “Eis que ele
está orando” tinha um significado especial em relação a este fariseu convertido.
Mostrarei isso durante o sermão. É como se fosse uma grande maravilha que o
rei Saul, do Velho Testamento, tivesse profetizado. Algo tão inesperado e
maravilhoso que o evento se tornou um provérbio – “Está Saul também entre os
profetas?” (1 Sm 10:12). Mas era uma maravilha igual quando este mais
moderno Saulo foi visto orando! Está Saulo de Tarso também entre aqueles que
oram pela misericórdia de Jesus? O próprio Senhor dos Céus menciona isto
como um prodígio! Ele aponta para isso como se fosse uma coisa a ser
contemplada e de se maravilhar, pois Ele diz ao Seu servo Ananias, “Eis que ele
está orando”.
I. Nós começaremos nosso discurso com a seguinte
observação – Esta expressão a respeito de Saulo de Tarso é notável, pois
ELA IMPLICA QUE ELE NUNCA HAVIA ORANDO
ANTERIORMENTE. “Eis que ele ora” não poderia ser falado a respeito
de um homem que já orava em situações anteriores.
É difícil para ele orar, pois ele foi um formalista por um longo tempo.
Ele esteva tão enraizado ao hábito de devoção formal e tão satisfeito com isto
que é extremamente difícil trazê-lo a enxergar coisas espirituais. A letra mata em
mais sentidos que um só – e um homem tão morto não tem vida para as coisas
espirituais. Se ele vai para o seu quarto na hora da oração, ele percorre os
mesmos velhos trilhos sem o mínimo de sentimento e coração. Ele repete
palavras, mas é o mesmo para ele do que ler em uma língua desconhecida. A
tendência é dizer a mesma coisa vez após vez até que os lábios se movam
mecanicamente e a alma durma profundamente. A Bíblia é lida, mas a mente
está cochilando. O sermão é ouvido, mas o coração está vagando. Qual é o bem
disso? Mesmo assim, quão difícil é para os homens saírem disto! É mais fácil
comparecer a milhares de assembleias, ou ir à igreja todos os dias da
semana do que oferecer uma única oração verdadeira!
É muito difícil para você que é rico em devoção falsa [9] entrar no Reino
dos Céus. É difícil colocar o Manto da Justiça de Cristo nas costas daquele
homem que acredita que seu próprio manto é tão bom e tão necessário quanto o
de Cristo – ele vestem seus próprios trapos a tanto tempo que se unirão a ele! Ele
é muito orgulhoso para mendigar, pois ele tem vivido com um cavalheiro em
seus próprios ganhos. Ele tem sido rico e grande em bens por tanto tempo – e
não necessita de nada – que ele cresceu tão acostumado à sua forma de religião
externa e superficial, que você não consegue o fazer, a não ser que haja um
milagre da Graça, buscar aquilo que é verdadeiro e profundo.
Novamente, a justiça própria é um grande impedimento para vir a Cristo
em oração. Nos dias de Cristo, os publicanos e as prostitutas entraram no Reino
antes mesmo que os Fariseus que se consideravam justos! É uma grande coisa
conquistar o “eu” pecaminoso, mas é uma coisa ainda maior derrotar a natureza
“justa ”. O homem que é completamente mal e sente isto, pede por misericórdia,
mas aqueles outros são maus no seu coração e não se sentem assim e, portanto,
não buscarão o Senhor. Eles acreditam que fizeram tudo que deveriam ter feito –
enrolando-se nos seus farrapos de justiça, eles imaginam que são aptos o
suficiente para entrar no Banquete Real sem colocar as vestes nupciais que o Rei
providenciou (Mt 22:1-14). Custa, para um homem que considera a si mesmo
justo, um grande esforço para se colocar para orar. Se ele soubesse somente que
sua justiça própria é só uma parte de sua imundície, ele mudaria isto. A Escritura
diz “Mas todos nós somos como o imundo, e todas as nossas justiças como trapo
da imundícia” (Is 64:6). Quando nós vemos nossas justiças assim, ficamos
felizes em nos livrar delas, pois elas são repugnantes e si mesmas e a tola doença
do orgulho envenena cada parte delas!
O homem que é acostumado a orar sem seu coração e a ser religioso
sem ser convertido é difícil de ser posto para orar, pois ele é preconceituoso com
o caminho da Graça. Ele arquitetou sua mente de tal maneira que não verá a Luz
de Deus porque acredita em sua própria luz. Você fala com ele sobre a salvação
pela Graça, redenção pelo sangue precioso e justificação somente pela fé, mas
ele não suporta essas conversas – elas podem servir para os ímpios, mas ele é de
outra raça! Ele está encoberto pelas glórias de si mesmo e, portanto, ele não pode
ver a Glória de Deus na face de Jesus Cristo. O hábito da religião superficial e
externa, sendo uma vez formado, é tão difícil para ser quebrado quanto para o
etíope mudar a sua cor de pele. Um homem abraça sua justiça própria como se
abraça à sua vida. Pele por pele, sim, tudo que um homem tem, ele irá dar por
sua vida legalista, a vida do seu eu.
Apesar disso, um homem que se considera justo sabe que todos pensam
que ele é justo e, assim, ele não pode se humilhar por tais orações e confissões
como cabem aos pecadores comuns. Se você fala para ele sobre se converter; por
que falar, senhor? Ele não precisa de conversão! Ele nasceu bom! Ele sempre
foi um cristão! Ele não precisa de nenhuma mudança – você não sabe quão
bom cavalheiro ele é! Ele nunca chora no amargor de sua alma, “Deus, tem
misericórdia de mim, um pecador”. Por que ele deveria? Sua mãe e pai foram
pessoas extremamente boas e ele “nasceu de novo” no batismo e até então foi
confirmado! O que mais você precisa? Se lavar no sangue de Jesus? Bem, talvez
ele precise disso como os outros também, mas não há um pecado grande nele,
certamente, nada pelo que ele deveria ser condenado. Pessoas desse tipo são
raramente levadas a orar. Elas podem ser chamadas de prata reprovada, pois o
Senhor as rejeitou. Se tais pessoas um dia serão salvas, isso irá maravilhar
homens e anjos – e o próprio Senhor irá clamar, “Eis que ele está orando!”.
Até mesmo a intensidade e o fervor religiosos podem se tornar
impedimentos para a conversão de um homem quando o ardor é pela falsa fé. O
mais sério formalista está envolto em aço e as flechas do Evangelho
ricocheteiam nele. Alguns adoram cada prego da porta da igreja e cada azulejo
da capela; se um padre atravessasse a rua, eles estariam prontos para beijar o
chão em que ele pisa! Como estes podem ser trazidos à simplicidade da fé? Entre
os inconformados não existem pessoas que são obcecados com insignificâncias,
conservadores com velhos métodos, inflexíveis nos hábitos, ferozes por formas
exteriores e ainda assim vazios de vida espiritual? Aqueles que não têm nada
dentro de si ou da Graça espiritual são frequentemente os mais ardentes pelos
sinais exteriores e visíveis. O homem que não tem nenhum centavo é o mais
obcecado por uma aparência respeitável, ele crê que se não mantém uma boa
aparência, logo sairá nos jornais. Um sincero e gracioso cristão é tentando, pelo
contrário, a pensar tão pouco da sua “fachada” do que a ter em boa estima. Ele
valoriza ao máximo sua vida e fé interiores no Senhor Jesus. Falo novamente,
irmãos e irmãs, é uma coisa tão maravilhosa que um homem externamente
religioso venha um dia a começar a orar com sinceridade que isto é considerado
como um prodígio! “Eis que ele está orando”.
Veja o que foi necessário no caso de Saulo para fazer com que ele orasse
– o próprio Senhor Jesus teve que aparecer e o trazer aos seus joelhos! Nada
menos que uma Luz brilhando do Céu poderia lhe mostrar sua maldade! Ó, que
tal Luz possa brilhar sobre as almas dos “justos”! O homem orgulhoso caindo ao
chão, empurrado de seus altos lugares! Até que ele esteja ao chão, ainda haverá
glória em sua carne. Ele teve ser atacado com cegueira, para que ele esteja
pronto para aceitar a enxergar pela fé. Por três dias ele não deve comer ou beber,
para fazer com que ele largue o vício desta terra e o faça se alimentar do Pão do
Céu. Grande deve ser a agonia do seu espírito, pois ele, que era tão intensamente
justo aos seus próprios olhos, não podia ser trazido a Cristo sem ser grandemente
machucado. Ele, que havia confiado em si tão completamente e por tanto tempo,
devia ser arrancado pelas raízes antes que ele pudesse largar suas confianças
carnais. É necessária, assim como foi, uma especial intervenção da Graça para
trazer um professor religioso a orar em espírito e verdade!
III. E agora quero que você perceba, em terceiro lugar, que
embora fosse uma grande maravilha que Saulo tenha orado, ainda assim É
DIVINAMENETE DECRETADO NO TEXTO QUE ELE O FIZESSE.
Sabemos que Deus aceitou a sua primeira oração, pois Deus estava
prestes a respondê-la! Ele estava aprontando Ananias para ir e confortar o
pobre arrependido e cego. Deus está prestes a responder sua oração, meu querido
irmão, esta manhã, se você chorar a Ele. Talvez esteja presente aqui no
Tabernáculo o homem que irá falar com você depois que você deixar essas
paredes, ou alguém logo irá lhe chamar para dizer-lhe o caminho da paz mais
perfeitamente. Se você largar hoje o caminho da justiça própria e devoção
formal, e começar a chorar ao Deus Vivo, Deus irá se encontrar com você!
Além disso, nós temos certeza que Deus aceitou sua primeira oração,
pois Ele chamou atenção para ela com um “Eis”. Nós já ouvimos falar das sete
maravilhas do mundo e sobre outras maravilhas a respeito das quais os homens
clamam, “Eis”, mas o que mais “surpreende” Deus é um homem orando, um
pecador orando! Deus não diz, “Eis Herodes em seu trono” ou “Eis César em
seu palácio”, mas Ele diz, “Eis que ele está orando”, como se Ele fizesse a
oração do homem o centro da observação, o foco da atenção! “Eis que ele está
orando”. O coração de Deus se deleita com orações verdadeiras. O maior
inimigo percebe a verdadeira oração e treme quando um homem cai em seus
joelhos. E Deus chamou para que todos os Seus santos na terra e Seus santos no
Céu olhassem para um homem em oração. Para o grande coração do Pai, é um
pródigo retornando! Ele clama, “Eis que Ele está orando”, mas Ele quer dizer
“Eis que ele está voltando para casa! Eis que ele busca o rosto de seu Pai! Eis
que Eu achei meu filho que havia perdido!” A oração é o prazer de Deus, a
admiração de Deus!
Amado, será que isso já passou pela sua cabeça, que você poderia
chamar a atenção do Grande Deus para si? Temo que existam muitos de quem
poderia ser falado, “Eis que ele nunca ora!”. Que coisa sobre a terra – um
homem feito pelo seu Criador que nunca adora seu Autor – um homem que é
diariamente alimentado pelas dádivas de Deus, mas nunca O adora! Cavalheiro,
você é um monstro, você é a criatura mais nojenta dentre os homens! Um
homem que vive sem oração não deveria viver! É uma maravilha que a terra não
abra sua boca e engula este miserável! E, apesar disso, quando ele, de fato,
ora, Deus faz disto uma maravilha!
É sua primeira oração esta manhã. Eu o vejo – o sermão acabou e ele
chegou em casa. Ele sobe para seu quarto. Ele tem medo que alguém entre e o
atrapalhe – ele está virando a chave. Ele está se ajoelhando ao lado da cama na
qual ele já dormiu tantas vezes sem orar e ele clama, “Ó, Deus, eu não sei o que
falar, mas seja misericordioso comigo, um pecador, e perdoe meus pecados!”.
Escuto o barulho das asas dos anjos à medida que eles se reúnem neste local
sagrado! Logo eles irão voar para cima clamando, “Eis que ele está orando!”.
Anos passarão por você, jovem rapaz, e você pode chegar ao meio de sua vida e
ser exposto a mais aguda tentação – o que você fará então? Bons espíritos irão
olhar você, temendo para que você não se perca, e demônios olharão para sua
indecisão. Você se lembrará daquele dia no meio de Setembro em que você orou
pela primeira vez – e você dirá para si mesmo, “Clamarei novamente a Deus,
como eu tenho feito frequentemente”. Você vai para o quarto e diz, “Senhor,
muitos dias se passaram desde a primeira vez em que clamei a Ti e eu não parei
de clamar, mas agora eu estou em uma grave tribulação. Eu Te imploro, proteja-
me!”. Deus te ajudará. A grande roda da Providência irá se mover por você.
Enquanto isso, ambos os anjos e demônios têm espiado você – os anjos cantam e
os demônios resmungam: “Eis que ele está orando”.
Alguns anos passaram. O jovem rapaz envelheceu e o tempo em que ele
deve morrer chegou. Ele sobe para o mesmo quarto da última vez e lá estão
aqueles que choram e o olham. Perceba a serenidade da alma que está partindo!
Ele está olhando para a eternidade sem medo. Ele conhece Aquele em que ele
crê e está pronto para partir. O que ele está fazendo em seus últimos momentos?
“Eis que ele está orando”. A oração, que por muito tempo foi seu respirar vital e
seu ar nativo é agora –
“Sua senha de entrada aos portões da morte
Ele entra no Céu orando!”.
Demônios que se reúnem em nossas últimas horas fugirão como
morcegos fogem da caverna assustados por uma tocha! Eles fugirão quando
ouvirem a voz, “Eis que ele ora”. Os espíritos iluminados encontrarão, felizes, a
alma que está na margem do Jordão quando escutarem a voz “Eis que ele está
orando”. Eles irão encontrar o espírito que ora do outro lado das águas e sorrirão
enquanto a oração terrena se transforma em uma oração Celestial! Logo
estaremos para sempre com o Senhor! Que Deus nos conceda isso, no Seu Santo
Nome. Amém.
HUMILDADE, A AMIGA DA ORAÇÃO.
Pregado em Junho de 1884
Não! Ele avalia seu grande estado e fala de tudo isto como
misericórdias – misericórdias as quais o Senhor mostrou ao Seu servo! Não
faço objeções a livros de homens que se fizeram [12] , mas temo que todos estes
homens tenham uma tendência grande de adorar àqueles que os fizeram. É muito
natural que eles façam isto. Mas, irmãos e irmãs, se nós nos fizermos, tenho
certeza que temos um criador muito ruim e que devem existir muitas falhas em
nós! Seria melhor se nos colocássemos no pó e fossemos refeitos para que nos
tornemos homens feitos por Deus! Escute, ó orgulhoso independente mortal! E
que importa se você ganhou tudo – quem lhe deu a força para ganhar isto? Que
importa se seu sucesso veio de sua sagacidade – quem lhe deu a habilidade e a
capacidade de previsão? Que importa que você tenha sido sóbrio e trabalhador,
por qual razão você não é gastador como outros e por que você não gasta em
farras tudo aquilo que Deus lhe concedeu? Ó, senhor, se você é levantado um
centímetro acima da imundície, você deveria agradecer a Deus por isto, pois é da
imundície que você veio!
Deus ajuda Seus servos quando eles estão fracos. Mas quando eles se
imaginam fortes, Ele frequentemente os humilha. Quando nós clamamos, “Não é
esta a grande babilônia que eu edifiquei para a casa real, com a força do meu
poder, e para glória da minha magnificência? (Dn 4:30), Deus pode até não nos
lançar para fora, mas Ele irá nos lançar para baixo . Ele não lançou fora
Nabucodonosor, mas Ele permitiu que ele perdesse sua razão e que se misturasse
com as feras do campo. Se nós agimos com brutalidade, o Senhor pode permitir
que nos tornemos como feras em outras situações. O uso de nossos poderes
racionais é um presente de caridade celestial que deveria nos guiar a uma
profunda gratidão – mas nunca nos induzir ao orgulho pelas nossas habilidades
superiores! Se nós estamos fora do hospício, devemos abençoar o Senhor da
forma mais humilde possível. Será que ousaremos nos gloriar de nossos
talentos? Será que o machado deve ser orgulhar contra aquele que o usa para
cortar? Será que a rede deve exaltar a si mesma contra o pescador que a arrasta
pelo mar? Isto seria, de fato, uma loucura – uma loucura que provoca a Deus!
Enquanto Deus faz tanto por nós, nós deveríamos ser humilhados pelo peso da
obrigação que esse amor nos acumula.
Isto deve, também, produzir em nós um apego a Deus em oração, pois
agora podemos dizer, “Senhor, Tu fizestes tudo isto para mim! É claro que Sua
mão tem estado em todas as felicidades de Teu servo – que ela continue comigo
então”. Ó, homem que se fez, quando você se realiza, será que você pode se
manter e se preservar no que quer? E você espera chegar ao Céu e tirar sua capa
e dizer, “Hosana para mim mesmo”? Você se baseia em tamanha vangloria? Se
você busca sua própria glória, você não terá lugar naquela cidade em que a
Glória de Deus é a felicidade que a tudo permeia. Então, aquilo que nos tenciona
a ser humildes, também se torna uma assistência para nossas orações.
O próximo ponto é uma consideração das misericórdias de Deus . Em
meu caso, nada me faz mais humilde do que a misericórdia de Deus. E, em
sequência a isto, sou prontamente subjugado pela bondade de alguns homens.
Quando a trombeta chama para batalha, estarei passo a passo contra aquele que
duela comigo – e tudo o que há de homem em mim está desperto para o conflito
– mas quando tudo é paz e quietude, e todos desejam o meu bem, me maravilho
com sua bondade, e afundo em meus sapatos com temor para que não aja de
nenhuma forma indigna. O homem que possui a devida percepção de sua
personalidade será humilhado por palavras de elogio. Quando nos lembramos do
carinhoso amor do Senhor para nós, não podemos fazer nada a não ser contrastar
nossa pequenez com a grandiosidade de Seu amor, e ter uma sensação de auto
humilhação. Está escrito, “Espantar-se-ão e perturbar-se-ão por causa de todo o
bem, e por causa de toda a paz que eu lhe dou.” (Jr 33:9). Estas palavras não
poderiam ser mais verdadeiras.
Tome um caso – Pedro foi pescar e se ele houvesse capturado alguns
peixes, seu barco teria flutuado bem alto no lago. Mas quando o Mestre entrou
no barco e disse-o para jogar a rede para que ele a puxasse com uma multidão de
peixes, então o pequeno barco começou a afundar! Para baixo e para baixo este
foi e o pobre Pedro desceu também até que caiu aos pés de Deus e chorou,
“Senhor, ausenta-te de mim, que sou um homem pecador” (Lc 5:8). Ele estava
confuso e rendido, ou ele nunca teria pedido para que o bendito Mestre o
deixasse – a bondade de Cristo o espancou com delicadeza até que ele temesse
o seu Benfeitor! Você não sabe o que é ser levado abaixo pela bondade infinita,
oprimido pela misericórdia, varrido por uma avalanche de amor? Eu, pelo
menos, conheço tal coisa e não conheço nenhuma outra experiência que já me
tenha feito tão pequeno aos meus próprios olhos! Sinto-me indigno da menor de
Suas misericórdias! Encolho-me e tremo na presença de Sua ajuda! Se alguma
vez a bondade providencial fizer isto, tenha certeza que o amor redentor será
muito mais efetivo!
Aqui está um pecador orgulhoso, se gabando de sua própria justiça. Você
não pode tirar dele o seu louvor ao próprio ego, mas, pouco a pouco, ele aprende
que o Filho de Deus deu Sua vida para redimi-lo, derramou Seu coração na Cruz
do Calvário, o Justo pelo injusto, para trazê-lo a Deus – e agora ele tem outro
pensamento! Nenhum homem poderia pensar que ele merecia que o Filho de
Deus deveria morrer por ele! Se um homem pensa assim, deve estar insano! O
amor que morre toca o coração e o homem clama, “Senhor, não sou digno de
uma gota de Seu precioso sangue! Não sou digno de um suspiro de Seu sagrado
coração! Não sou digno que Tu tenhas vivido na Terra por mim, muito menos
que Tu tenhas morrido por mim”. Um sentimento dessa maravilhosa bondade a
qual é o maior louvor do amor de Deus, isto é, que no devido tempo Cristo
morreu pelos ímpios, traz o homem aos seus joelhos, derrotado pelas
misericórdias de Deus!
Agora, se houver algum homem aqui que tem uma boa esperança através
da Graça de que, pouco a pouco, ele estará no Céu com Deus – se ele meditar
nesta visão alegre, se ele se imaginar com uma coroa sobre sua cabeça e o ramo
de palmeira em sua mão, se ele se imaginar desfrutando de infinitas Aleluias –
“Longe do mundo de tristeza e pecado,
Com Deus eternamente selado”
A próxima coisa que ele deverá fazer é se sentar e chorar para que isto se
torne realidade! Tal pobre, inútil e pecadora alma como a minha – será que posso
ser glorificado, e será que Jesus preparará um lugar para mim? Será que Ele me
dá Sua própria certeza que Ele voltará e me receberá Nele? Sou eu um coerdeiro
com Cristo e um favorecido filho de Deus? Isto faz com que nos perdamos em
adoração de gratidão. Ó, senhores, nós nunca poderemos mais abrir nossa boca
com ostentação! Nosso orgulho é afogado neste mar de misericórdia!
Se nós tivéssemos um pequeno Salvador, e um pequeno Céu, uma
pequena misericórdia, poderíamos levantar nossas bandeiras. Mas com um
grande Salvador, e uma grande misericórdia, e um grande Céu, nós podemos
somente entrar, como Davi, e sentar diante do Senhor e falar, “Por que tudo isto
para mim ?”. Tenho um querido irmão em Cristo que agora está extremamente
doente, o Reverendo Curme, o vicário de Sandford em Oxfordshire, que tem
sido um caro amigo por muitos anos. Ele reflete humildade e divide seu nome
em duas palavras Cur me? Que significa “Por que eu?”. Geralmente ele diz, “Por
que eu, Senhor? Por que eu?” Verdadeiramente posso falar o mesmo, por que
eu? –
“Por que fui eu feito para ouvir Tua voz
E entrar onde há lugar para mim
Enquanto milhares fazem uma escolha miserável
E preferem morrer de fome do que vir?”
Toda esta excedente bondade do Senhor tende a promover humildade e,
ao mesmo tempo, nos ajudar em oração, pois se o Senhor é tão enormemente
bom, nós devemos adotar a linguagem da mulher fenícia quando o Mestre lhe
disse, “Não é bom pegar no pão dos filhos e deitá-lo aos cachorrinhos”. E ela
respondeu, “Sim, Senhor, mas também os cachorrinhos comem das migalhas que
caem da mesa dos seus senhores” (Mt 15:27).
Então nós iremos pedir ao nosso Senhor que nos dê migalhas de
misericórdia – e elas serão suficiente para nós, pobres cachorrinhos. As migalhas
de Deus são maiores que os pães dos homens e se Ele nos der o que para Ele é
uma migalha, isto nos será uma refeição. Ó, Ele é um Grande Doador! Ele é um
Glorioso Doador! Nós não somos dignos dos menores de Seus presentes! Não
podemos estimar Sua menor misericórdia, nem descrevê-la completamente, nem
O louvar por ela suficientemente! Seu raso é muito profundo para nós! Seu
montinho de terra de misericórdias irão se elevar muito acima de nós! O que
diremos da Sua montanha de misericórdia?
Ademais, uma comparação do nosso passado com nosso presente irá
nós levar a humildade e, também, será uma ajuda em oração. Jacó,
primeiramente, se descreve assim, “com meu cajado passei este Jordão”. Ele está
completamente sozinho, nenhum servo o auxilia. Ele não tem nenhum bem, nem
mesmo um pouco de alguma parcela – nada além de um cajado para andar.
Agora, depois de alguns anos, aqui está Jacó voltando, atravessando o rio na
direção oposta. E ele tem consigo dois bandos. Ele é um grande criador de gado,
com grande riqueza em todo tipo de rebanho. Que mudança! Digo sempre para
aqueles homens que Deus fez prosperar que eles nunca devem se envergonhar do
que eles eram – eles nunca deveriam se esquecer do cajado com o qual eles
atravessaram este Jordão! Tenho um bom amigo que preservou o eixo de
madeira do carrinho no qual ele trouxe seus bens quando veio, pela primeira vez,
para Londres. Este era colocado em cima de sua porta da frente e ele nunca se
envergonhava de dizer sobre como ele veio do interior, trabalhou duro e fez seu
caminho pelo mundo.
Gosto muito mais disso do que da nobreza rebuscada que se esquece da
solitária moedinha que trazia nos bolsos quando entraram nesta cidade. Eles
ficam indignados se você os lembrar do seu velho e pobre pai que está no
interior, pois eles descobriram que sua família é muito mais antiga e honrada !
De fato, um de seus ancestrais veio junto com Conquistador! Nunca senti
nenhum desejo de ser aparentado com aquele grupo de vadios, mas os gostos
mudam, e existem alguns que pensam que eles devem ser seres superiores, pois
são descendentes dos piratas das ilhas Norman. Ninguém se enche de si tão
rapidamente como eles! Observe que Jacó não diz, “Anos atrás eu estava em
casa com meu pai, Isaque, um homem de grande patrimônio”. Nem mesmo ele
fala de seu avô, Abraão, como um nobre de uma antiga família em Ur dos
Caldeus, aquele que foi recebido por monarcas.
Não, ele não é tão estúpido para se vangloriar de aristocracia ou de
riqueza, mas ele francamente admite sua pobreza inicial – “Com meu cajado, um
pobre, solitário e sem amigos, eu atravessei este Jordão, e agora eu me tornei
dois bandos”. O humilha pensar no que ele era, mas, ao mesmo tempo, isto o
fortalece em oração, pois, com efeito, ele suplica, “Senhor, Tu fizeste dois
bandos de mim para que Esaú tenha mais o que destruir? O Senhor me deu essas
crianças para que elas pereçam pela espada?”. Então, novamente eu digo –
aquilo que o humilhou também o encorajou – ele encontrou força para a oração
naquelas mesmas coisas que forneciam-lhe motivo para ser humilhado!
III. E agora, já que o tempo voa, devemos acolher o terceiro
ponto, ainda batendo no mesmo prego – A VERDADEIRA HUMILDADE
NOS DÁ ARGUMENTOS NA ORAÇÃO. Olhe para o primeiro
argumento, “ Não sou digno de todas as Tuas misericórdias”. Não, “Não
sou digno da mínima de todas as misericórdias que Tu mostraste ao Teu
servo. Tu guardaste Tua Palavra e foste verdadeiro para comigo, mas isto
não foi porque eu fui verdadeiro para Contigo. Não sou digno da verdade
que Tu mostraste ao Teu servo”. Não existe poder em tal oração? Não é a
misericórdia garantida por uma confissão de indignidade? O homem mais
elogiado por Cristo, até onde me lembro, usou essa mesma linguagem. O
centurião veio à Cristo e disse, “Senhor, não sou digno de que entres
debaixo do meu telhado” – ainda assim, este foi o homem sobre quem o
Senhor disse, “Em verdade vos digo que nem mesmo em Israel encontrei
tanta fé” (Mt 8:10).
Dependa disto se você quer o elogio de Cristo, você deve ser humilde
em sua própria estima, pois Ele nunca elogia o orgulhoso! Mas Ele, sim, honra o
humilde. Já que o Senhor fora tão gracioso com ele, quando este era indigno,
Jacó não teria assim um esplêndido argumento para se basear enquanto ele
lutava com Deus e dizia, “Livra-me de Esaú, meu irmão, apesar de que o mal
que o tenha feito me faz indigno de tal livramento”? Sempre temos medo de que,
em nosso tempo de tribulação, Deus nos trate de acordo com nossa indignidade –
mas Ele não fará isto. Dizemos a nós mesmos, “Enfim, os pecados de minha
mocidade me alcançaram. Agora eu serei tratado de acordo com minhas
iniquidades!”.
Mas Jacó praticamente disse, “Senhor, nunca fui digno da menor das
coisas que Tu fizeste por mim. E todos os Seus tratamentos comigo são em pura
Graça. Permaneço aqui onde sempre permaneci – como um devedor de Teu
imerecido e soberano favor! E apelo a Ti – já que fizestes isto tudo por mim, um
indigno, eu imploro a Ti, faça ainda mais! Eu não mudei, pois sou tão indigno
como sempre fui, e Tu não mudaste, pois Tu és bom como sempre foi. Desta
maneira, continue por salvar Teu servo”. Isto é apelar poderosamente com o
Altíssimo!
Então, por favor, note que enquanto Jacó assim apelava por sua própria
indignidade, ele não é lento em apelar para a bondade de Deus . Ele fala com as
mais expressivas palavras, com as mais amplas e cheias de significado. “Não sou
digno da mínima de todas as Tuas misericórdias. Não posso enumerá-las, a lista
seria longa demais! Parece-me que Tu me deste todos os tipos de misericórdias,
todo tipo de bênçãos. Sua misericórdia dura para sempre e Tu me deste todas
elas”. Como ele engrandece a Deus de boca cheia quando diz, “Todas as Tuas
misericórdias”. Ele não diz, “toda a Tua misericórdia” – a palavra está no plural
– “da mínima de todas as Tuas misericórdias”. Deus tem muitos conjuntos de
misericórdias – os favores nunca vêm sozinhos – eles nos visitam em tropas!
Todas as árvores na videira de Deus são cheias de ramos e cada ramo é
carregado de fruto! Todas as flores no jardim de Deus florescem duplamente – e
algumas delas florescem até sete vezes mais!
Nós não temos somente misericórdia, mas misericórdias tão numerosas
como a areia! Misericórdia para o passado, presente e futuro! Misericórdia para
acalmar aflições, misericórdia para purificar alegrias! Misericórdia por nossos
pecados, misericórdia por nossas coisas sagradas. “Todas as Tuas misericórdias”
– a expressão tem um vasto campo de significado! Ele não sabe como expressar
seu senso de compromisso exceto com plurais e universais! A linguagem é tão
cheia, que eu não consigo exibir todo o seu significado! Ele parece dizer ao
Senhor, “Por causa de toda essa grandiosa bondade, eu oro a Ti que vá e
permaneça com Teu servo. Salva-me de Esaú, ou todas as Tuas misericórdias
serão perdidas! Não foi o Senhor que, em Seu amor passado, me deu a garantia
de que continuaria comigo até o fim?”. Misericórdia e verdade estão
continuamente entrelaçadas por toda a Bíblia – “Todas as veredas do Senhor são
misericórdia e verdade” (Sl 25:10). “Deus enviará a sua misericórdia e a sua
verdade.” (Sl 57:3). Essas duas graciosidades dão as mãos na oração de Jacó –
“Todas as Tuas misericórdias e toda Tua verdade!”. Ó, irmãos e irmãs, se você
gostaria de lutar com Deus e prevalecer, use o máximo que puder desses dois
argumentos mestres – misericórdias e verdade! Estas são duas chaves que
abriram todos os tesouros de Deus! Estes são dois escudos atrás dos quais você
se protegerá do alcance de todo dardo de chamas! Aquilo que fez Jacó se
humilhar também o fez poderoso em oração. A gratidão pelas misericórdias o fez
se prostrar diante de Deus, mas isso também o permitiu se agarrar ao Anjo com a
mão da persistência da fé!
Note, em seguida, como ele fala “Teu servo ”. Um apelo está oculto
nesta palavra. Jacó poderia ter se chamado por outro nome nesta ocasião. Ele
poderia ter dito, “Não sou digno da mínima de todas as Tuas misericórdias, e de
toda a verdade que Tu mostraste ao Teu filho ”. Isto seria verdade. Mas não seria
adequado. Suponha que tenha ocorrido assim – “Ao Teu escolhido ”? Isto teria
sido verdade, mas não seria tão humilde. Ou, “ao homem do Teu pacto ” – isto
teria sido correto, mas não uma expressão tão humilde como a qual Jacó se
sentiu obrigado em usar no tempo de sua angústia, quando os pecados de sua
juventude foram trazidos à sua mente. Ele parecia dizer, “Senhor, sou Teu servo.
O Senhor me trouxe até aqui e aqui estou por causa desse chamado – portanto,
me proteja”. Certamente um rei não irá se recusar ao ver seu servo engajado em
um serviço real!
Jacó estava no caminho do dever e Deus iria fazer deste, um caminho de
segurança. Se fizermos de Deus nosso Guia, Ele irá nos guardar. Se Ele é nosso
Comandante, Ele será nosso Defensor. Ele não permitirá que nenhum Esaú
esmague à espada nenhum de Seus Jacós! Quando nos atiramos completamente
ao Senhor através de uma obediência de fé, nós podemos depender de que Ele
irá nos levantar e nos carregar por todo o caminho! Mestres são mandados a dar
aos seus servos o que é justo e correto – e nós podemos ter certeza de que nosso
Mestre Celestial fará o mesmo para cada um de nós que O serve. Jacó estava em
perigo ao obedecer a seu serviço e, portanto, a honra do Senhor haveria de
garantir que ele seria salvo. Pode parecer algo pequeno ser um servo, mas é algo
grandioso clamar por isso em nossa hora de necessidade! Assim Davi o fez –
“Faze resplandecer o teu rosto sobre o teu servo” (Sl 31:16). “E não escondas o
teu rosto do teu servo, porque estou angustiado” (Sl 69:17). “Ó Deus meu, salva
o teu servo, que em ti confia” (Sl 86:2). Estes são nada mais do que exemplos de
maneiras nas quais homens de Deus usam sua posição como servos para um
argumento para atingir a misericórdia.
Jacó tinha ainda outro apelo que mostrou sua humildade e que foi um
argumento feito de fatos . “Com meu cajado”, ele disse, “passei este Jordão”.
“Este Jordão” que corria forte e que recebia o Jaboque. Isso trazia milhares de
coisas à sua mente, estar naquele velho lugar mais uma vez. Quando ele o
atravessara anteriormente, ele estava caminhando para o exílio. Mas agora ele
está voltando como um filho para tomar seu lugar com a amada Rebeca e seu
(falecido) pai Isaque – e ele sentia que isto era uma grande misericórdia, o fato
de que ele estava agora indo a uma direção mais feliz que a anterior. Ele olhou
para o seu cajado e lembrou como, em medo e tremor, se apoiou nele enquanto
percorria sua apressada e solitária marcha. “Com este cajado – isto era tudo o
que eu tinha”. Ele olha isto e compara sua presente condição e seus dois bandos
com aquele dia de pobreza, aquela hora de fuga apressada!
Essa retrospectiva o humilhou, mas também o fortaleceu em oração. “Ó,
Deus, se Tu me ajudaste desde minha miserável pobreza até toda esta riqueza, Tu
podes, certamente, me preservar deste presente perigo. Aquele que tem feito
tanto, ainda é capaz de me abençoar e assim Ele o fará” –
“Pode Ele, que me ensinou a confiar em Seu Nome
E tão longe assim me trazer, me entregar à vergonha?”.
Será que Deus zomba de todos os homens? Será que Ele encoraja a fé
deles e depois os abandona? Não, o Deus que começa a abençoar, nos preserva
em bênção e, até om fim, continua a amar os Seus escolhidos!
Concluindo, penso que descobri um poderoso argumento aqui na oração
de Jacó. Será que ele não quis dizer que apesar de Deus ter o enriquecido tão
grandemente, veio com isto toda uma grande responsabilidade ? Ele tinha mais
do que cuidar do que quando possuía pouco. O dever aumentou com o aumento
das posses. Ele parece dizer, “Senhor, quando eu vim por este caminho, antes, eu
não tinha nada – somente um cajado – isto era tudo o que eu deveria cuidar. E se
eu perdesse aquele cajado, poderia ter encontrado outro. Então eu tive a Sua
querida e doce proteção, que foi melhor para mim do que as riquezas. Não a
terei agora mesmo? Quando eu era só um homem com um cajado, Tu me
guardaste. E agora que estou rodeado por essa numerosa família de filhos e
servos, não estenderás Tu as Tuas asas sobre mim? Senhor, as dádivas de Sua
bondade aumentaram minha necessidade – dê-me proporcionalmente Sua
bênção! Eu poderia, anteriormente, correr e escapar de meu furioso irmão – mas
agora as mães e as crianças estão ligadas a mim e devo permanecer com eles e
morrer com eles a não ser que Tu me preserves”.
Meus irmãos e irmãs, neste momento sei como usar o mesmo apelo!
Para mim, toda posição de avanço dentre os homens significa mais obrigação
para servir meu Senhor e abençoar minha geração! Necessito de mais Graça
Divina ou minha queda será a mais vergonhosa possível! Indignos como somos
para toda esta benção, ainda assim nós não ousamos desperdiça-la e recusar a
servir nosso Deus com todas as nossas forças. Quanto mais bois – mais arados
devem ser feitos! Quanto mais largos os campos – mais laboriosamente devemos
semear. Quanto maior a colheita – mais diligentemente devemos ceifar! E para
tudo isto precisamos de muito mais força. Se Deus abençoa e nos aumenta o
talento, ou a substância, ou qualquer outra coisa, não deveríamos nós concluir
que maior confiança envolve maior responsabilidade? Assim quanto mais dura
nossa tarefa de vida se torna, quanto mais dificuldade houver, mais do que nunca
somos direcionados ao nosso Deus!
Este é nosso argumento – “Ó, Senhor, Tu me impuseste um maior
serviço! Dê-me mais Graça! Em Tua bondade, Tu conferiste mais talentos para
aquele que tinha dez talentos – será que Tu não irás me ajudar a colocar tudo em
ordem por amor ao Teu Nome?” Sim, irmãos, à medida que Deus lhes levanta,
tomem cuidado para sempre se prostrar mais e mais baixo aos Seus pés.
Consagre mais inteiramente o teu completo ser a Deus! Seja agradecido se sua
moeda ganhou outra moeda e, se Ele fizer mais por você, seja incansável até que
suas cinco libras ganhem mais cinco. Permaneça na bondade de Deus, em vez de
fazer uma capa para seu orgulho, ou um mestre para sua preguiça, seja um
incentivo para seu empreendimento, um estímulo para seu zelo! Que isto o ajude
em sua humildade, mas, ao mesmo tempo, que isto encoraje sua confiança
quando você se aproximar de Deus em oração, que o faça sentir o quão
largamente você é obrigado a servir ao Senhor.
Venham, caros amigos, o Senhor cuida de nós como Igreja e Ele irá nos
abençoar! Nós obtivemos, através de nosso Senhor Jesus e Seu Espírito, bênçãos
tão grandes que posso falar em seu nome que você não é digno da menor de
todas essas misericórdias! Será que não as usaremos para a Glória de Deus? Sim,
mais do que nunca – pois estamos determinados a orar mais, crer mais e
trabalhar mais – e sermos mais cheios de coragem e intrepidez para que o nome
e a verdade de Jesus sejam conhecidos onde quer que nossa voz seja ouvida!
Enquanto línguas puderem falar e corações bater, Deus estará nos ajudando, e
nós viveremos por Jesus, nosso Senhor! Nós somos o que Rutherford chamaria
de “devedores afogados” – que vivamos como amantes vivos! Nossos navios
têm afundado em um oceano de amor até que a misericórdia passe sobre nossos
mais altos mastros. Que assim seja! Que assim seja! Nós somos engolidos em
um abismo de amor! Minha ilustração nos descreve como afundando, mas, na
mais plena verdade, estamos sendo levantados com todas as plenitudes de Deus!
Com um coração cheio eu oro por você, amado. Deus te abençoe, no nome de
Jesus. Amém.
IMPEDIMENTOS À ORAÇÃO
Sermão de Número 3083
Pregado em Setembro de 1874
Orações podem ser impedidas, em seguida, por ter muitas coisas para
fazer. Nesta era, isto é algo muito corriqueiro. Nós, homens, temos muitos
negócios a fazer; os dias quietos dos nossos contentados antepassados passaram,
e os homens atribuem a si mesmos muita labuta. Não contentados a ganhar o
suficiente para si e para suas famílias, eles devem ter muito mais do que podem
possivelmente usar consigo mesmos, ou que podem usar proveitosamente para
com os outros; a sabedoria aparenta dizer que um cajado é o suficiente para um
homem andar, mas ambição não pode ser satisfeita a não ser que carregue um
lote de cajados nas costas! “O suficiente é tão bom quanto um banquete” [14] , diz
o antigo provérbio, mas hoje me dia nem o suficiente e nem um banquete
satisfará os homens! Eles devem acumular mais do que pode alimentar milhares
de famílias antes que estejam satisfeitos – não, eles nem mesmo estão
contentados desta forma! Muitos homens que poderiam prestar um ótimo serviço
à Igreja de Deus se tornam inúteis, pois eles quiseram caminhar por uma nova
direção nos negócios que tomou todo o seu tempo livre. Em vez de pensar que
seu primeiro cuidado deveria ser, “Como posso melhor glorificar Deus?”, seu
objetivo que a tudo consome é “estender os braços como mares e agarrar tudo o
que há nos litorais”. Milhares, centenas de milhares e até mesmo milhões de
libras não podem silenciar a ambiciosa sanguessuga que os homens engoliram, a
qual continuamente clama “Dá-me! Dá-me!”. Muitos adicionam casas à casas,
terrenos à terrenos, como se fosse para que eles morassem sozinhos na terra! Ai
daqueles cristãos que são infectados por esta mesma febre! O homem rico na
parábola não tinha nenhum tempo para oração, pois ele estava muito ocupado
planejando os novos celeiros para abrigar seus bens – mas ele teve que arranjar
tempo para morrer quando o Senhor disse, “Louco! esta noite te pedirão a tua
alma” (Lc 12:20). Tome cuidado, eu te imploro, com “as ambições de outras
coisas” (Mc 4:19), com a úlcera das riquezas, com a insaciável ganância que
leva os homens ao mesmo engano do diabo, pois se isto não lhe traz maldade
maior, irá te trazer prejuízos suficientes, e suas orações serão impedidas.
Nós ainda podemos ter muitas coisas para fazer na Casa de Deus, e
então ter nossas orações impedidas como Marta, amontoada com tanto serviço.
Nunca ouvi ninguém que esteve tão atarefado com oração! Quanto mais nós
trabalhamos, mais deveríamos orar, e a oração deveria equilibrar nosso serviço,
ou melhor, esta devia ser o sangue de toda nossa ação, e saturar nossa vida
completamente, assim como o orvalho dos Céus encharcou a lã de Gideão. Nós
não podemos trabalhar tanto se a oração for proporcional ao trabalho, mas temo
que alguns de nós fariam muito mais se tentassem menos e orassem mais. Temo
ainda que alguns permitem compromissos religiosos públicos se sobreporem à
comunhão privada com Deus – eles participam de muitos sermões, muitas
conferências, muitos estudos bíblicos, muitos ajuntamentos; e sim, a muitas
reuniões de oração! Todas essas coisas são boas em si, mas todas elas se tornam
nocivas quando limitam nossas orações secretas e privadas. A senhora Row disse
que se os Apóstolos estivessem pregando no momento de sua comunhão privada
com Deus, ela não iria deixar seu quarto para ir e os escutar! É melhor estar com
Deus do que com Pedro ou Paulo! A oração é o objetivo da pregação, e ai
daquele homem que, valorizando mais os meios do que o fim, permite que
qualquer outra forma de culto empurre suas orações para o canto!
Não pode haver dúvida de que, também, as orações são impedidas por
haver muito pouco a se fazer. Se você quer uma coisa bem feita, você deve ir ao
homem que tem muitas coisas para fazer, pois ele é o homem que fará isso para
você! Pessoas que não têm nada para fazer, geralmente, fazem as coisas com
uma grande quantidade de confusão; de manhã até de noite eles desperdiçam o
tempo das outras pessoas; eles são os visitantes, os entrevistadores, as pessoas
que escrevem parágrafos atraentes sobre homens públicos; muito
frequentemente, coisas inventadas em seus próprios tolos cérebros. Estes são os
propagadores da calúnia, que em muita malícia, cospem no caráter de bons
homens; não tendo nada para fazer, eles são contratados por satanás para impedir
e injuriar outros. Se tais pessoas oram, tenho certeza que sua preguiça deve os
impedir bastante. O homem que tem que ensinar nas escolas carentes percebe
que ele tem que clamar por ajuda para dominar aquelas naturezas jovens e
selvagens; a senhorita que tem ao seu redor dúzias de meninas as quais ela
deseja levar ao Salvador, sente que é obrigada a orar por Jane e Helen, para que
elas sejam convertidas a Deus. O ministro, cujas mãos estão cheias de santo
trabalho, e cujos olhos chegam a falhar com vigia sagrada, percebe que ele não
pode fazer nada sem estar perto de seu Deus! Se estes servos de Jesus tivessem
menos o que fazer , eles orariam menos , mas a indústria santa é o berçário da
devoção!
Eu disse que nós devemos fazer muito, e não poderia deixar de
equilibrar essa verdade a não ser que adicionasse que uma grande proporção de
cristãos faz muito pouco! Deus os deu riqueza o suficiente para que eles fossem
capazes de se aposentar dos negócios; eles tem tempo em suas mãos e ainda têm
que inventar coisas para gastar este tempo – e ainda assim, os ignorantes
precisam de instrução, os doentes precisam ser visitados, os pobres precisam de
ajuda; não deveriam eles deixar seu lazer abundante e servir a Deus? Não
deveriam eles, então, se apressarem para orar? Gostaria que todos pudessem
dizer como um dos santos do Senhor, “Oração é meu negócio, meu louvor e meu
prazer” – mas estou certo de que eles nunca farão isso até que o zelo pela Casa
do Senhor os consuma completamente. Algumas pessoas impedem suas orações,
novamente, por falta de ordem . Eles acordam um pouco mais tarde, e têm que
correr atrás do seu trabalho durante o dia todo, e nunca o alcançam. Eles estão
sempre em uma agitação, um dever tropeçando no outro. Eles não tem tempo
determinado para se retirar, um pequeno espaço cercado para sua comunhão com
Deus, e consequentemente, alguma coisa ou outra aparece, e a oração é
esquecida – não, acho que nem tanto esquecida, mas sim, arrastada e apressada a
uma pequena quantidade, e isto não os traz nenhuma bênção. Gostaria que cada
um de vocês mantivesse um diário de como vocês irão orar na semana que vem,
e assim verão o quão pouco de tempo que vocês passam com Deus das 24 horas!
Muito tempo é gasto em uma mesa, quanto de tempo é gasto no Trono da
Misericórdia? Muitas horas são gastas com homens, quantas horas são gastas
com seu Criador? Você tem tempo para os amigos da Terra, mas quantos
minutos você tem com o seu Amigo no Céu? Você se permite um tempo para
recreação; o que você separa para aqueles exercícios nos quais verdadeiramente
sua alma é recriada? “Um lugar para tudo, e tudo tem seu lugar”, é uma boa
regra para escolas e casas de negócios, e isto será igualmente útil em questões
espirituais! Outros deveres devem ser feitos, mas a oração não pode ser deixada
de ser realizada – esta deve ter o seu próprio lugar e tempo suficiente para si.
Deve ser tomado cuidado para que nossas orações não sejam impedidas, para
que nós não haja omissão ou encurtamento delas. O tempo me obriga a deixar
este grande assunto e continuar.
II. Em segundo lugar, nós devemos vigiar para que não
sejamos IMPEDIDOS NA ORAÇÃO, quando nós estamos comprometidos
com esse santo trabalho. Aqui eu irei pelo mesmo solo de antes, e observar
que alguns são impedidos enquanto estão em sua oração por serem frouxos
e indiferentes – um grande impedimento; outros por ter muito ou por ter
pouco o que fazer, e outra classe por estar naquela apressada condição de
coração a qual é resultado de falta de ordem. Mas não preciso repetir
quando vocês estão tão diligentemente bebendo minhas palavras! Notemos
que alguns são impedidos na oração por selecionar um tempo e lugar
inapropriados. Existem tempos em que você espera por uma batida em sua
porta; então não bata ainda na porta de Deus! Existem horas em que cartas
chegam, quando clientes ligam, quando mercadores precisam de atenção,
quando trabalhadores precisam de ordens; seria tolice ir para o seu quarto
nestes momentos!
Se você é empregado por outros, você não deve apresentar para Deus
aquelas horas em que você pertence ao seu patrão! Você honrará mais ao Senhor
com a diligência de seu ofício. Existem tempos que demandam você para as
necessidades da família, e para o seu chamado obrigatório; estes já são do
Senhor de qualquer forma – deixe que eles sejam usados para os seus devidos
propósitos. Nunca corrompa um dever com o sangue de outro; dê a Deus e ore
naqueles momentos adequados nos quais você espera estar sozinho. Claro que
você pode orar em seu trabalho com gemidos silenciosos – e você deve
permanecer no espírito de súplica durante o dia todo; mas estou me referindo
agora a tempos que são especialmente devotos à súplica, e digo para encontrar
um tempo e um local onde você pode estar livre de interrupção. Um garoto
piedoso que não tinha lugar em casa para orar, foi para o estábulo e subiu no
palheiro, mas em breve veio alguém que subiu a escada e o interrompeu. Na
próxima vez, ele cuidou de puxar a escada para cima logo depois que subiu –
uma dica muito útil para nós! Seria bom se você, de fato, pudesse puxar
completamente a escada para cima de forma que nem o diabo e nem o mundo
pudessem invadir sua privacidade secreta. “Mas tu, quando orares, entra no teu
aposento e, fechando a tua porta, ora a teu Pai que está em secreto; e teu Pai, que
vê em secreto, te recompensará publicamente.” (Mt 6:6). Escolha, então, o
melhor tempo e lugar para que suas orações não sejam impedidas.
Cuidados mundanos são frequentes e os mais perniciosos
impedimentos à oração. Um cristão deveria ser o homem mais cuidadoso do
mundo, e mesmo assim não ser ansioso. Você entende este paradoxo? Ele
deveria ser cuidadoso para não pecar, mas para com outros assuntos, ele deveria
colocar sua ansiedade “porque ele tem cuidado de vós.” (1 Pe 5:7). Receber tudo
das mãos de Deus, e confiar tudo nas mãos de Deus é um caminho feliz de se
viver, e muito útil à oração. Será que seu Mestre não lhe contou dos pássaros e
dos lírios? Seu Pai Celestial os alimenta e os veste – não irá Ele te vestir?
“Buscai primeiro o reino de Deus, e a sua justiça” (Mt 6:33). A fé dá paz e a paz
deixa a alma pura para a oração – mas quando a ansiedade vem, esta confunde a
mente, e tira o coração das súplicas. Um coração entupido de ansiedade é como
um homem tentando nadar com roupas pesadas – ele deve tirá-las se espera
nadar até à praia. Muitos marinheiros cortaram suas roupas aos pedaços porque
eles pensavam que iriam afundar se não as cortassem. Desejaria que muitos
cristãos se rasgassem dos excessivos compromissos mundanos; pois eles tem
uma tal massa de ansiedade sobre si que mal conseguem manter suas cabeças
sobre a superfície da água! Ó, por mais Graça e menos preocupação; mais oração
e menos fardos; mais intercessão e menos especulação! Dessa maneira, orações
são tristemente impedidas.
Prazeres terrenos , especialmente aqueles de tipo duvidoso, são o pior
tipo de impedimentos. Alguns adeptos toleram entretenimentos os quais não
tenho certeza que são consistentes com a oração. Eles lembram às moscas que
mergulham no mel até que grudem suas asas e pernas e não conseguem mais
voar. Lembro-me uma vez de ler “uma oração para ser feita pelo cristão que
chega em casa depois do teatro”, “uma prece para o santo ao retornar das
corridas” e “uma oração para uma moça cristã depois de retornar do baile”.
Claro que estas foram escritas sarcasticamente e eram, de fato, uma farsa
desmedida. Como você pode chegar em casa de uma frivolidade e pecado, e
então olhar para a face de Jesus? Como podem as modas do mundo serem
seguidas e a comunhão com Deus ser mantida? Você não pode rolar no lamaçal e
depois se aproximar com roupas limpas ao Trono da Misericórdia! Como você
pode vir diante do Trono de Deus com petições quando você acabou de desonrar
o nome do Altíssimo? Ó cristãos, guardem-se de tudo que é duvidoso quanto a
sua pureza ou mesmo sua conveniência; tudo aquilo que não é da fé é pecado
(Rm 14:23) e irá impedir suas orações! Além disso, orações podem ser
impedidas igualmente por tristezas mundanas. Alguns dão lugar à tristeza tão
extremamente que não podem orar; as lágrimas do lamento rebelde molham o pó
da oração de forma que um cristão não pode enviar seus desejos em direção ao
céu como ele deveria. A tristeza que impede a oração de um homem é uma
ampla rebelião contra a Vontade de Deus!
Nosso Senhor estava cheio “de tristeza até a morte”, mas então Ele orou
– não – por isso “Ele orou”. É correto ficar triste, pois Deus planeja que a
aflição seja algo pesaroso e não alegre; mas quando a tristeza é justa, esta irá
nos levar à oração – não nos expulsar dela! E quando nós encontramos a
tristeza na perda de um filho amado, ou na ruína de nossa propriedade,
impedindo nossas orações, penso que deveríamos dizer a nós mesmos, “Agora
eu tenho que orar, pois é errado que eu seja tão rebelde contra meu Pai para
recusar pedir todas as coisas de Suas mãos”. Você acharia que seu filho teria um
comportamento muito mal se, porque ele não teve as coisas do jeito que queria,
ele se recusasse a lhe pedir qualquer coisa, e andasse pela casa fazendo cara feia.
Porém muitos prateadores agem dessa maneira. Nós poderíamos nos simpatizar
profundamente com sua tristeza, mas nós não devemos deixar passar seus
resmungos, pois “a tristeza do mundo opera a morte” (2 Co 7:10), e isto é
inadequado para um filho de Deus. Com toda sua dor dobrada ao pó pela aflição,
ainda assim, como seu Senhor e Mestre, clame, “não seja como eu quero, mas
como tu queres”. (Mt 26:39), e então suas orações serão ajudadas e não
impedidas! Existem casos onde a oração é grandemente impedida por um mau
temperamento . Não sei onde isto será aplicado, mas onde quer que o seja,
acredito que isso será fixado em você. Você não pode habitualmente falar com
grosseria com servos e crianças; você não pode se unir em uma grande contenda
ou em pequenas discussões e então ir e orar com poder! Não posso ser efetivo
em oração se eu sinto ódio no meu coração, e acredito que nem você pode fazer
isso também! Levante-se e vá resolver a situação antes que você tente falar com
Deus, pois a oração de homens irados faz Deus se irar; você não pode lutar com
o Anjo enquanto você está sob o poder do demônio. Apelo para suas próprias
consciências – vocês deverão ser juízes – não é mesmo? Este foi um bom
conselho da parte do nosso Senhor: “Deixa ali diante do altar a tua oferta, e vai
reconciliar-te primeiro com teu irmão e, depois, vem e apresenta a tua oferta”
(Mt 5:24). Se isso não for feito, o sacrifício não pode ser aceito, nem vejo como
você pode ousar oferecê-lo!
Ouvi falar de dois bons homens que tinham uma afiada divergência entre
si nos negócios. Não sei quem foi o culpado; talvez nem um dos dois, pois eles
deve ter se desentendido. Um deles, ao caminhar para casa muito contrariado,
viu o sol se pondo, e a passagem veio a ele, “não se ponha o sol sobre a vossa
ira”. Ele pensou, “Voltarei e pedirei desculpas, pois acredito que falei muito
fortemente”. Ele começou a voltar ao escritório de seu amigo, e no meio do
caminho este homem o encontrou fazendo a mesma coisa! Felizes crentes esses
por serem tão atentos ao ensino do Espírito Santo, e do Senhor Jesus! É certo
que a ofensa virá, mas benditos são aqueles que são os primeiros a removê-la! Ai
daqueles homens de tal maneira que não podem fazer isso, mas guardam rancor
até que este apodreça e encha toda sua vil natureza com os seus odores!
Certamente eles não podem esperar serem ouvidos em oração enquanto
hostilidades não sepultadas poluem suas almas! Esforcem-se, queridos amigos
cristãos, o mais que puderem, para sempre que estiverem irados, não pecarem;
isto é possível, pois está escrito: “Irai-vos, e não pequeis” (Ef 4:26). Um homem
que não tem ira dentro de si mal pode ser um homem, e certamente não é um
bom homem, pois ele não pode estar irado contra o pecado, não está apaixonado
pela bondade! Dizem de alguns que eles são macios como um sapato velho, e,
geralmente, eles não valem mais do que este objeto. A ira contra a injustiça é
correta, mas a ira contra a pessoa que se degenera em desejar que esta seja
machucada é ira pecaminosa e apaga, com efeito, os fogos da oração. Nós não
podemos orar por perdão a não ser que perdoemos as ofensas que outros
cometeram contra nós!
A oração pode ser impedida – terrivelmente impedida – de três formas.
Se nós desonrarmos ao Pai ao qual nos oramos, ou ao Filho através do qual nós
oramos, ou ao Espírito Santo pelo qual nós oramos. Digo que nós podemos
desonrar ao Pai . Isto pode ser feito pela inconsistência do viver – se os filhos
de Deus não são obedientes à vontade do Pai, eles não podem se surpreender se
encontrarem dificuldades ao orar. Você não pode derramar o seu coração
adequadamente a não ser que acredite em seu Pai Celestial; se você tem
pensamentos desagradáveis sobre Ele; se você tem um coração frio à Ele, e falta
de reverência pelo Seu Nome; se você não acredita que naquele grandioso e
disposto coração o qual está pronto para abençoar você, a sua falta de amor, fé e
reverência irão estrangular suas orações. Ó, quando um homem está
completamente em união com o grande Pai; quando “Aba, Pai” é o espírito de
sua alma; quando ele fala com Deus como o único no qual ele coloca sua
confiança, e cuja Vontade ele se submete perfeitamente; quando a Glória de
Deus é o prazer de sua alma – então ele está em um terreno vantajoso para a
oração, e ele irá ganhar o que deseja de Deus; mas se ele não é assim com Deus,
suas orações irão cambalear muito dolorosamente!
E, irmãos e irmãs, se estamos em uma posição errada com Jesus ,
através de quem devemos orar; se nós temos alguma medida de justiça própria;
se sentimos prazer em nós mesmos e esquecemos de nosso Amado; se pensamos
que podemos triunfar sem o Salvador, e se, portanto, nós oramos como Fariseus
satisfeitos em si mesmos, nossas oração serão impedidas! Se nós não somos
como o Salvador; se não fazemos Dele nosso Exemplo; se não tivermos nada de
Seu Espírito amoroso; se, acima de tudo, nós O crucificamos novamente, e O
envergonhamos abertamente, e se nós somos ingratos pelas bênçãos que já
recebemos – nossas orações serão impedidas. Você não pode apelar na corte se
você brigar com seu Advogado; se suas orações não forem tomadas pelas mãos
pelo Grande Intercessor, e oferecidas por Ele em seu lugar, você não terá
chances para o exercício sagrado. Então, novamente, sem Espírito Santo não
existe uma única oração que Deus aceite, somente aquelas que o Espírito
primeiramente escreve dentro de nossos corações. Oração verdadeira não é tanto
nossa intercessão como é o fato de o Espírito de Deus criar intercessões em nós!
Agora, se nós entristecemos o Espírito, Ele não nos ajudará a orar, e se nós
tentarmos orar por algo que é contrário a santa, graciosa e amorosa natureza do
Espírito, não podemos esperar que Ele nos possibilite a orar em contradição à
mente de Deus! Tome cuidado para que você não aborreça o Espírito de Deus de
nenhuma forma, especialmente por fechar os ouvidos para Suas advertências
gentis, Seus chamados amorosos, Suas diligentes súplicas, Seus tenros
requerimentos – pois se você é surdo para o Confortador Divino, Ele irá ser
mudo para com você! Ele não irá ajudá-lo a orar se você não se render a Ele em
outras áreas.
Então, queridos amigos, estabeleci para vocês de uma maneira rápida
algumas das formas nas quais a oração pode ser impedida. Que Deus conceda
que nenhum de nós possa ser derrotado por elas, mas que nós possamos ser
guardados de tudo aquilo que pode arruinar nossas petições!
III. Agora necessito de sua mais diligente atenção para a
parte mais importante de todas, na qual devo me esforçar para ser
breve. Nós podemos ser IMPEDIDOS NA EFETIVIADE DE NOSSAS
ORAÇÕES. Nós podemos orar, mas mesmo assim nossas orações podem
não ser ouvidas! E deixe-me aqui introduzir uma nota: O Senhor ouvirá a
oração de qualquer um que pedir por Sua Misericórdia através da
mediação do Senhor Jesus Cristo! Ele nunca despreza o choro do contrito;
Ele é um Deus pronto para ouvir todos aqueles que buscam reconciliação.
Mas à respeito de outros quesitos, é verdade que Deus não ouve os
pecadores – isto é, enquanto eles permanecem pecadores, Ele não irá
conceder seus pedidos; de fato, se fosse assim, isto os encorajaria a
continuar em seus pecados! Se eles se arrependerem e clamar por
Misericórdia através de Jesus Cristo, Ele ouvirá seu clamor e os salvará;
mas se eles não forem primeiramente reconciliados com Ele, suas orações
são sopros vazios.
Nem TODOS os homens são santos. Oxalá, os ímpios são a grande maioria da
raça humana! E todos os homens que são, até certo ponto, santos, não são
igualmente santos. O homem que teme a Deus e deseja verdadeiramente
conhecê-Lo tem alguma pouca medida de santidade. O homem que tem
começado a confiar no Salvador, o qual Deus colocou como a grande
Propiciação pelo pecado tem uma abençoada quantidade de santidade. O homem
cuja comunhão com Deus é constante, cujas sérias orações e lágrimas
penitenciais são frequentemente observadas pelo grande Pai, e o qual suspira por
um mais completo e mais profundo conhecimento do Senhor – este homem é
santo em um sentido mais alto. E aquele que, por uma companhia contínua com
Deus tem se tornado como Ele, sobre quem a imagem de Cristo foi fotografada,
pois ele olhou para Ele por tanto tempo e se alegrou Nele tão intensamente – ele
é um homem santo! O homem que acha seu Deus em todo lugar, que vê Ele em
todos os trabalhos de suas mãos. O homem que leva tudo a Deus – quer que seja
algo feliz ou calamitoso – este é o homem santo. O homem que procura à Deus
por tudo, toma cada pedido para o Trono da Graça e toda petição para o Assento
da Misericórdia – o homem que não poderia viver sem seu Deus, para quem
Deus é sua alegria excelente, a ajuda e a saúde de seu semblante, o homem que
permanece em Deus – este é o homem santo. Este é o homem que deverá habitar
eternamente com Deus, pois ele teve a santidade dada para si e, no bom tempo
do Senhor, ele deverá ser convocado para aquele abençoado lugar onde ele
deverá ver Deus e se alegrará diante Dele por toda eternidade!
Julguem-se a si mesmos, queridos ouvintes, por estes testes, se você é santo ou
não. Deixe que a consciência faça um trabalho correto neste assunto.
Possivelmente, enquanto estou pregando, você pode ser ajudado a realizar este
muito necessário trabalho de autoexame. O texto, em si mesmo, é um teste pelo
qual nós podemos dizer se estamos entre os santos – “Por isso, todo aquele que é
santo orará a Ti, a tempo de Te poder achar.”
Nestas palavras nós temos, em primeiro lugar, a marca universal dos homens
santos . Eles oram a Deus. Então nós temos, em segundo lugar, um motivo
poderoso para orar – “Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti.” E em
seguida, em terceiro, nós temos a ocasião especial onde a oração é mais útil , a
ocasião na qual os santos se beneficiam abundantemente – eles deverão orar” “a
Ti, a tempo de Te poder achar.” Todos estes pontos são muito dignos da nossa
mais séria consideração.
I. O primeiro ponto é, A MARCA UNIVERSAL DA
SANTIDADE – “Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti”
O motivo parece ser, primeiramente, porque Deus escutou tão grande pecador
como Davi era. Possivelmente você sabe que esta passagem é muito difícil de
interpretar. Parece ser simples o bastante, porém existem muitas interpretações
sobre ela. Na Versão Revisada você irá achar na nota de rodapé “A tempo de
descobrir pecados”. Deixe-me ler o contexto – “Confessei-te o meu pecado, e a
minha maldade não encobri. Dizia eu: Confessarei ao Senhor as minhas
transgressões; e tu perdoaste a maldade do meu pecado. Por isso, todo aquele
que é santo orará a ti, a tempo de descobrir pecados”. Tudo corre bem e o
contexto parece garantir essa interpretação. Não estou certo de que esta seja a
tradução correta, mas o sentido harmoniza com a tradução, então que
aprendamos disto esta lição, que Deus escutou a oração de um grande pecador!
Pode existir, nesta Casa de Oração, alguém que penetrou em pecado grosseiro e
grave – e esta leitura da passagem pode ser uma mensagem do Senhor para esta
pessoa. Davi pecou muito tolamente e adicionou a este pecado o engano. Suas
obras maléficas fazem os ímpios criticarem a piedade até o dia presente, dessa
forma os infiéis perguntam em desprezo “Este é o homem segundo o coração de
Deus?”. Foi um pecado horrível que ele cometeu, mas veio a ele um tempo de se
deparar com seu pecado. Seu coração foi quebrantado em penitência e então ele
foi à Deus, achou misericórdia e disse, com efeito, que era tão maravilhoso que
um desgraçado como ele poderia ser perdoado, que todo homem santo, por todo
tempo enquanto o mundo existir, poderia acreditar na confissão de pecados ao
Senhor e no poder da oração para obtenção de perdão para a culpa! Gosto deste
significado do texto, pois ele é algumas vezes necessário para nós, quando nós
estamos debaixo da convicção do pecado, para que pensemos sobre tais
pecadores como Manassés, Madalena, o ladrão crucificado e Saulo de Tarso.
Existem ocasiões, mesmo para aqueles que são grandemente abençoados por
Deus, quando nada a não ser o Salvador do pecador pode fazer algo para eles. E
quando eles sentem que se não existisse salvação para o mais vil dos vis, não
haveria salvação para eles mesmos.
Então Deus nos dá um caso como o de Davi, que todos que são santos devem
orar a Ele em tempo de achar o seu pecado. Nós devíamos ficar com medo se
Davi não tivesse trilhado este caminho antes de nós! “Venha,” ele diz para o de
coração quebrantado, ele que escreveu o Salmo 51, “Deus me perdoou e Ele o
fez para que Ele mostrasse em mim toda a longanimidade, como por um padrão
para que aqueles que viessem depois pudessem se arrepender e crer”.
Outro motivo para a oração o qual eu penso que o texto nos traz é que, todos nós
precisamos de perdão diário – “Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti”.
“Por isso” – pelo cobrir dos pecados, por este apagar das iniquidades. Queridos
amigos, espero que todos vocês orem a Deus diariamente pelo perdão dos
pecados. Estou certo de que todos os santos entre vocês o fazem. Se você não
comete nenhum pecado, então o Salvador cometeu um grande pecado quando
Ele nos deixou a oração “Perdoai as nossas ofensas”. Qual é a necessidade dessa
petição se nós não tivéssemos ofensas para serem perdoadas? Mas para isto, ou
seja, o perdão dos seus pecados, todo aquele que é santo deve orar ao Senhor.
E todo aquele que é santo orará a Deus por esta razão, também, a saber, porque
este recebeu o perdão dos pecados . Você se lembra de quando fez sua
confissão ao Juiz de Tudo e recebeu absolvição Dele? Você se lembra de quando,
com coração quebrantado e olhos cabisbaixos, você reconheceu seu pecado a Ele
e Ele lhe tirou suas transgressões? Muito bem, esta é a razão pela qual você
deveria sempre orar! Aquele que lhe escutou naquele tempo, ainda irá te escutar!
Aquele que tirou seus pecados naquele tempo, por aquele grande lavar na Fonte
de sangue, continuará a tirar seus pecados por aquela lavagem de pés que Ele
continuamente nós dá, sobre a qual Jesus disse; “Aquele que está lavado não
necessita de lavar senão os pés, pois no mais todo está limpo”. Bendito seja
Deus, nós não devemos parar de orar por perdão por mais que já tenhamos
recebido perdão! Nós iremos suplicar pela renovação diária do símbolo Divino
da reconciliação. Se nós o recebemos quando ainda éramos pecadores, quanto
mais devemos o receber agora que somos reconciliados com Deus pela morte de
Seu Filho! Se nós O recebemos quando ainda éramos exilados, quanto mais
agora devemos receber já que somos Seus queridos filhos!
Novamente, “Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti”, isto é para dizer que,
tribulações vêm , pois o contexto nos ensina esta lição. “Até no transbordar de
muitas águas, estas não lhe chegarão. Tu és o lugar em que me escondo; tu me
preservas da angústia”. Irmãos, o Senhor cuida para nos manter orando, não é
verdade que Ele o faz, por nos dar necessidades constantes? Suponha que eu
tenha um amigo no qual eu era dependente e cuja associação eu amava muito, e
ele falasse a mim: “Eu vou te dar, de uma vez, dinheiro o bastante para que lhe
durasse até essa mesma época do ano que vem, e então você pode vir me ver e
receber outra porção anual. Ou, como você gosta de vir à minha casa, você
preferiria receber essa quantia de três em três meses?”. Eu responderia: “Eu
escolho a última opção, pois assim eu poderia vir até você quatro vezes ao ano e
poder jantar quatro vezes com você”.
“Bem, então, você gostaria que fosse mensalmente?”. “Ó, sim! Eu gostaria de vir
mensalmente e passar o dia com você a cada mês”. “Talvez”, ele diria, “Você
não gostaria de vir todos os dias?”. “Ó, sim! Eu preferiria assim! Eu gostaria de
ter um lugar na sua mesa diariamente”. “Ou talvez você gostaria de ficar comigo
para sempre, assim como o Dr. Watts [18] fez quando ele foi até a casa do senhor
Thomas Abney, para passar uma semana, e acredito que essa ‘semana’ durou 28
anos, pois ele nunca saiu de lá até sua morte. Talvez você gostaria de receber
tudo de minha mão e não ter nada além daquilo que eu te der”. “Ó, sim, meu
amigo, essa dívida contínua, essa constante dependência me daria tantas
oportunidades de melhor lhe conhecer, alguém que eu amo tanto, que eu gostaria
que fosse dessa maneira”.
Vocês ouviram falar de “porção do cesto [19] ”. Existe uma donzela prestes a se
casar e seu pai diz-lhe “Aqui, minha menina, vou lhe dar, de uma vez, várias
centenas de libras. Use da melhor forma, pois é tudo o que lhe darei”. Outra
moça se casa e seu pai diz, “Te mandarei uma cesta cheia de coisas em tal dia” e
então, toda semana, um presente chega até ela. É uma cesta cheia de presentes e
está sempre vindo! Nunca chega a um fim e esta recebe uma quantia maior do
seu velho pai do que a outra recebe, aquela que recebeu sua fortuna de uma vez
só. De qualquer forma, a cesta vem, todas as vezes “com o amor de seu pai”. Se
isto fosse dado uma vez só e com um sentimento, talvez, ruim, a inimizade
poderia surgir. Mas se isto vem “com o amor de seu pai”, 50 ou 100 vezes por
ano, olhe como a afeição aumentaria entre pai e filha! Dê-me a “porção do
cesto”!
Você que gostaria de ir e pegar maná suficiente para uma semana – irá criar
cheiro antes do fim da semana! Eu gosto de ter o meu maná fresco todos os dias,
assim como vem aquecido dos fornos do Céu e pronto para o apetite celestial
daquele que aprende a viver das dádivas diárias de Deus! Por isso, todo aquele
que é santo orará a Deus. Ele terá problemas para levar, ele terá a Graça para o
chamar, ele terá pesos para o elevarem e estes pesos serão tão ajustados que em
vez de ameaçar colocar o homem para baixo, eles irão, na verdade, levantá-lo!
Mais uma vez, penso que, falando amplamente, as palavras “Por isso”, aqui
significam “Porque Deus escuta as orações , por isso, todo aquele que é santo
orará a Ele”. Agora, queridos amigos, sempre existirá uma disputa entre o
verdadeiro crente e o mero professor sobre o assunto de Deus escutar orações. É
obvio que o mundo irá sempre zombar à ideia de Deus ouvindo orações! Um
homem disse uma vez para mim, “Você diz que Deus escuta suas orações?”.
“Sim, eu digo isso”. Disse ele: “Eu não acredito nisso”. “Não,” eu disse, “eu
nunca disse que você acreditava nisso. E se você tivesse acreditado, eu pensaria
que havia ocorrido um engano! Não espero que uma mente carnal receba a
Verdade de Deus”. “Ó,” ele disse, “não existe tal coisa como oração!”. Então lhe
perguntei, “Você já orou, meu amigo? Você alguma vez já orou a Deus?” Não,
ele nunca tinha orado. “Muito bem, então,” eu disse, “não fale nada sobre aquilo
que você não conhece! Se você não sabe nada sobre oração, guarde sua língua
até que você saiba – e deixe que aqueles de nós que a experimentam falem do
que nós conhecemos”.
Se eu fosse colocado na cadeira de testemunhas amanhã, qualquer advogado em
Londres gostaria de me ter como testemunha. Então, quando eu me levanto aqui
e declaro solenemente que centenas e mesmo milhares de vezes Deus respondeu
às minhas orações, imploro que seja aceito como uma testemunha honesta como
se fosse colocado na mais alta corte de justiça. E eu posso levar adiante, não eu
mesmo, somente, mas muitos e centenas de vocês! Irmãos, me digam, Deus ouve
orações? [Vozes da igreja: “Sim! Sim”]. Eu sei que Ele o faz e vocês, povo
santo, podem testemunhar disso também! Calmamente e deliberadamente, vocês
poderiam me contar de tantas vezes nas quais vocês clamaram ao Senhor e Ele
lhes respondeu. Eu desprezo argumentar neste quesito, pois não é algo que
deveria ser discutido. Se um homem diz que eu não tenho nenhum dos meus dois
olhos, mesmo ele falando isso, meus olhos piscariam enquanto eu o escutasse. E
se qualquer um falar, “Deus não ouve orações”, eu sinto muito pela pobre alma
que faz uma afirmativa sobre algo que ela nunca testou ou experimentou!
Deus ouve orações e porque Ele as escuta, nós iremos clamar a Ele enquanto
tivermos vida! “Por isso, todo aquele que é santo orará a Ti” – porque existe
realidade nisto e também gera um resultado abençoado! A oração move o braço
que move o mundo, apesar de que nada é posto fora do seu devido lugar por
nossa oração. O Deus que ordenou os efeitos que seguem as orações, ordenou
que as próprias orações fossem feitas – é uma parte do grande maquinário pelo
qual o mundo gira em seus eixos!
III. Não tenho mais tempo para falar sobre aquela parte de meu
discurso, apesar de que exista muito mais a ser dito. O último ponto é um
no qual gostaria de chamar sua mais séria atenção – isto é, A OCASIÃO
ESPECIAL ONDE ORAÇÃO É MAIS EFICIENTE. “Por isso, todo
aquele que é santo orará a Ti, a tempo de Te poder achar”. Existe algum
momento determinado onde Deus pode ser achado?
Bem, em geral, é no momento desta vida mortal. Enquanto você estiver vivo,
aqui, e orar a Deus, Ele tem prometido responder sua oração. Mesmo que seja a
última hora, nem hesite em orar! As palavras de Cristo são, “Aquele que buscar,
achará”. Existe uma promessa especial para aqueles que buscam ao Senhor bem
cedo, mas isso não exclui aqueles que O buscam tardiamente. Se você
verdadeiramente O procura, Ele irá ser achado por você.
Penso, também, que o tempo de achar está debaixo desta dispensação do
Evangelho. Deus sempre escutou orações, mas parece existir uma maior
liberdade fornecida a nós em oração, agora. O Trono da Misericórdia está
descoberto e o véu está partido ao meio para que nós possamos vir com santa
ousadia. Mas, além disso, existem tempos especiais para encontrar a Deus, isto
é, nas visitações de Seu Espírito . Tempos de avivamento são grandes tempos
de oração! Quantos são aqueles que são colocados em harmonia com Deus
porque se sentiram movidos a isso por um impulso celestial! Existe “um ruído de
marcha pelas copas das amoreiras” (1 Cr 14:15), assim como houve com Davi, e
eles começam a se agitar.
Concluindo, permanecerei somente neste único ponto – existem momentos
especiais para o encontro e um desses é o momento onde o pecado é
encontrado . Volte para a tradução que lhe dei anteriormente. O momento
quando você encontra seu pecado é o momento em que você encontrará Deus.
“Por que”, você diz, “é uma coisa horrível para mim o fato de encontrar meus
pecados”. Sim, é, em si mesmo, mas é o melhor momento para se encontrar
Deus! Quando seus olhos estão cegos com as lágrimas do quebrantamento, você
pode olhar melhor para o Salvador. Não diga, “Eu me encontro tão culpado e,
por isso, não tenho esperanças”. Não, em vez disso, porque você se achou tão
culpado, por isso mesmo, tenha esperança, pois o Salvador veio buscar e salvar
tais pecadores como você é! O momento, eu digo, quando o pecado nos
encontra, e quando estamos humilhados e envergonhados, é o tempo em que nós
podemos encontrar nosso Deus através de Jesus Cristo.
Dessa forma, também, o tempo de decisão é um tempo para encontrar Deus.
Alguns permanecem indecisos – eles não decidiram se irão viver para o mundo e
perecer, ou buscar a Cristo e viver eternamente. Mas quando o Espírito de Deus
vem sobre você e você diz a si mesmo, “Eu devo encontrar Jesus Cristo, eu devo
buscar perdão e tomar posse da vida eterna. Dê-me Cristo, ou eu morrerei”, você
poderá tê-Lo! Deus prometeu que se nós O buscarmos de todo nosso coração,
Ele será encontrado por nós. Quando você está decidido por Deus
completamente e intensamente, este será para você um momento de encontro
com Ele.
Assim será quando você vir até Deus em total submissão. Alguns de vocês ainda
não abaixaram suas armas de rebelião. Vocês não podem se reconciliar com
Deus enquanto sua espada ainda está em sua mão – abaixe isto, homem! Alguns
de vocês têm finas penas em seus capacetes e vocês vêm até Deus como grandes
capitães – tirem essas penas! Ele irá te aceitar em trapos, mas não em belas
roupas! Ele irá te receber se você vier confessando seu pecado, mas não se
vangloriando de seus supostos méritos. Abaixe-se ao próprio pó! Se renda a
Deus! Ó, que Sua misericórdia faça a todos nós flexíveis como o salgueiro diante
de Seu Majestoso Poder! Então assim teremos paz com Cristo.
Acredito que é um tempo de encontro quando você vem a se concentrar. Tenho
conhecido homes, às vezes, que dizem com santa determinação, “Estou resoluto
que encontrarei Cristo. Encontrarei salvação e tudo pode acabar-se até que eu
encontre salvação. Subirei para meu quarto, fecharei a porta e só sairei de novo,
quando houver encontrado o Senhor”. Quando toda alma é dobrada para
encontrar Cristo, então o Senhor aparecerá rapidamente, e este será um tempo de
encontro com Ele!
Mas, especialmente, é um tempo de encontro quando o coração, enfim, confia
completamente e implicitamente ao Cordeiro de Deus que tira o pecado do
mundo. Você descobrirá que Deus te encontrou quando você estiver acabado
consigo mesmo e tomado o sangue e a justiça de Cristo para ser a única
esperança de sua alma! Deus os guie a isso, queridos ouvintes, neste exato
momento!
Sei que existem alguns de vocês que estão buscando o Senhor. Existem alguns
que ultimamente começaram a se encontrar com grande ansiedade. Espero que
você não demore neste estado ansioso, mas que você o ultrapasse por confiar-se
em Cristo! É um fim maravilhoso para a ansiedade quando você tem Alguém
para confiar e quando sua confiança está em Alguém. Agora, confie em Jesus!
Ele irá salvar-te! Sim, Ele te salva no mesmo momento em que você crer Nele, e
Ele nunca te deixará ir, mas irá te trazer para Sua Alta Glória!
OS DOIS GUARDAS: ORAR E VIGIAR
Pregado em Julho de 1890
No mais extremo limite de Jó, ele clamou pelo Senhor. O desejo mais
ardente de um afligido filho de Deus é, mais uma vez, ver a face do seu Pai. Sua
primeira oração não é, “Ah, se eu pudesse ver meus filhos restaurados das presas
do túmulo, e que minha propriedade fosse trazida de volta das mãos do ímpio!”.
Não, o primeiro e mais alto clamor é, “Ah, se eu soubesse onde O poderia achar
– Aquele que é o meu Deus! Que eu pudesse chegar ao Seu tribunal!”. Os filhos
de Deus correm para casa quando a tempestade chega. É o instinto adquirido do
céu o fato de que uma alma graciosa busque abrigo de todas as suas
enfermidades debaixo das asas de Jeová. “Aquele que fez de Deus o seu
refúgio”, deve servir com o título de um verdadeiro crente. Um hipócrita,
quando sente que foi atingido por Deus, ofende-se com a aflição e, como um
escravo, foge de seu mestre que o açoitou; mas não é assim com o verdadeiro
herdeiro do Céu, ele beija a mão que o esmagou, e busca abrigo da vara no peito
do próprio Deus que se zangou com ele. Você observará que o desejo de ter
comunhão com Deus é intensificado pela falha de todas as outras formas de
consolação. Quando Jó, primeiramente, viu seus amigos à distância, ele pode ter
produzido uma esperança em seu conselho gentil e na sua sensibilidade
compassiva, em que eles poderiam reduzir o espinho de sua tristeza; mas eles
não demoraram muito falando e ele já havia chorado em amargura, “Miseráveis
consoladores são todos vocês!” (Jó 16:2 – King James). Eles colocaram sal em
suas feridas; atiraram combustível nas chamas de sua tristeza; adicionaram o fel
da sua repreensão no absinto de suas aflições. Nos raios de sol de seu sorriso,
eles já haviam se aquecido anteriormente, e agora eles ousam lançar trevas sobre
sua reputação – coisa muito desprezível e imerecida. Ai do homem cujo vinho o
engana com vinagre, e seu travesseiro zomba dele com espinhos! O patriarca deu
as costas aos seus desgostosos amigos e olhar para cima ao trono celestial, assim
como um viajante dá as costas para seu odre e se dirige com toda velocidade ao
poço. Ele se despede das esperanças terrenas e clama, “Ah, se eu soubesse onde
achar o meu Deus!”. Meus irmãos e irmãs, nada nos ensina mais da preciosidade
do Criador do que quando nós aprendemos sobre o vazio de todas as outras
coisas. Quando você for atravessado pela frase, “Maldito o homem que confia no
homem, e faz da carne o seu braço” (Jr 17:5), então irá beber indizíveis doçuras
vindas da segurança divina, “Bendito o homem que confia no Senhor, e cuja
confiança é o Senhor.” (Jr 17:7). Dar as costas com desprezo amargo às colmeias
terrenas, onde não se acha nenhum mel, mas sim afiados ferrões, te fará
regozijar-te Nele cuja Palavra fiel é mais doce que o mel e o favo.
Além disso, observa-se que apesar de um homem se apressar a buscar a
Deus em sua tribulação, e correr com toda velocidade por causa da falta de
gentileza de seus companheiros, ainda assim a graciosa alma é deixada sem a
confortável presença de Deus. Esta é a pior de todas as tristezas; o texto é um
dos mais profundos gemidos de Jó, mais profundo do que qualquer um que ele
teve relacionado com a perda de seus filhos e sua propriedade: “Ah, se eu
soubesse onde O poderia achar!”. A pior de todas as perdas é perder o sorriso de
Deus. Ele agora teve um antegosto da amargura do choro de seu Redentor,
“Deus meu, Deus meu, por que me desamparaste?”. A presença de Deus é
sempre com o Seu povo em um sentido, até onde Ele almeja sustentá-los
secretamente, mas nem sempre eles desfrutam da manifestação da Sua presença.
Como a noiva em Cantares, eles buscam o seu amado por toda a noite sobre a
cama, eles O buscam mas não O encontram; e apesar de eles acordarem e
procurarem por toda cidade, eles não O descobrirão, e a pergunta será repetida
vez após vez, “Vistes aquele a quem ama a minha alma?” (Ct 3:3). Você pode ser
um amado de Deus, e ainda assim não ter nenhuma consciência desse amor em
sua alma. Você pode ser precioso ao Seu coração como o próprio Jesus Cristo, e
mesmo assim por um pequeno momento Ele o desamparará – e em uma pequena
ira Ele pode Se esconder de você. Mas, caros amigos, em tempos assim o desejo
das almas dos crentes reúne mais intensidade do fato da luz de Deus ser retida.
Em vez de dizer com orgulhosos lábios, “Bem, se Ele me abandonar, eu seguirei
sem Ele; se eu não posso ter Sua confortável presença, eu lutarei o melhor que
puder para seguir em frente”, a alma diz, “Não, Ele é minha própria vida; eu
tenho que ter meu Deus. Vou morrer, vou afundar em profundo lamaçal onde não
há fundo, e nada a não ser o braço de Deus pode me salvar”. A alma graciosa se
direciona com um zelo dobrado para achar o seu Deus, e envia seus gemidos,
suas súplicas, seus soluços e suspiros para o Céu mais frequentemente e
fervorosamente, “Ah, se eu soubesse onde O poderia achar!”. Distância ou
trabalho são como o nada; se a alma somente soubesse para onde ir, brevemente
ela atravessaria tal distância. Ela não faz nenhum cálculo sobre montanhas ou
rios, mas, sim, votos de que se ela soubesse aonde, ela iria até o Seu trono.
Minha alma, em sua fome, quebraria muralhas de pedra, ou escalaria todos os
parapeitos do Céu para alcançar o seu Deus, e mesmo que houvesse sete infernos
entre eu e Ele, ainda assim eu enfrentaria as chamas se pudesse alcançá-Lo –
nada me assustaria se eu tivesse uma probabilidade de uma última vez em Sua
presença sentindo o prazer de Seu amor. Este, parece-me, ser estado mental no
qual Jó pronunciou estas palavras que estão diante de nós.
Mas nós não podemos parar neste ponto, pois o objeto do discurso desta
manhã nos direciona a irmos além. Parece que o objetivo de Jó, desejando a
presença de seu Deus, é que ele pudesse orar a Ele. Ele havia orado, mas ele
gostaria de orar como se estivesse na presença de Deus. Ele deseja apelar como
se estivesse diante de alguém que poderia o ouvir e ajudar. Ele ansiava expor seu
próprio caso diante do trono do Juiz Imparcial, diante da própria face do Todo
Sábio Deus; ele apelaria desde as cortes menores, onde seus amigos julgavam
um julgamento incorreto, até ao Tribunal do Rei – a mais alta Corte do Céu – lá,
disse ele, “Exporia ante ele a minha causa, e a minha boca encheria de
argumentos”.
Neste último verso Jó nos ensina como ele pretendia apelar e interceder
a Deus. Ele iria, se fosse possível, revelar os segredos de sua câmara privada, e
desvendar a arte da oração. Aqui nos somos admitidos na associação dos
suplicantes; à nós é mostrada a arte e o mistério da apelação; nós somos aqui
ensinados a bendita produção artesanal e científica da oração, e se nós podemos
nos colocar como aprendizes de Jó nesta manhã, pela próxima hora, e pudermos
receber uma lição do Mestre de Jó, podemos adquirir grande habilidade na
intercessão para com Deus.
Existem duas coisas aqui apresentadas como sendo necessárias em
oração – expor nossa causa, e encher nossa boca de argumentos. Nós deveremos
falar destas duas cosias e então se nós tivermos aprendido a lição, um resultado
abençoador irá ser produzido.
I. Primeiro, É NECESSÁRIO QUE NOSSO CASO SEJA
EXPOSTO PERANTE DEUS.
Bem, nós devemos sempre orar porque nós sempre temos algum pecado
a confessar, nós sempre temos alguma coisa boa para bendizer a Deus e nós
sempre temos alguma necessidade a ser suprida. Devo admitir que eu nunca
estivesse em uma condição em que não precisei orar. Aquele que está no fundo
do vale deve orar para que ele seja capaz de subir a montanha. Aquele que está
no topo da montanha precisa orar duas vezes mais para que sua cabeça não se
torne tonta – e para que ele não caia de sua alta posição. Aquele que não tem
deve orar até que ele tenha e aquele que tem deve orar para que ele seja
abençoado nesta posse. Se seu copo está vazio, ore ao Senhor para que o encha.
Se seu copo está cheio, ore ao Senhor que mantenha suas mãos firmes para que
você não derrame o que dentro está. Se você não consegue enxergar seu
caminho, ore para que Deus lhe guie. Se você puder olhar o seu caminho, ore a
Deus para que Ele o ajude a segui-lo. Você é jovem? Ore para que Deus o ajude
com os pecados da juventude. Você está no meio de sua vida? Ore para que Deus
o ajude no meio do caminho, onde as tribulações são muito numerosas. Você está
quase no Céu com sua idade? Ore para que você entre no Paraíso orando.
“Os homens devem sempre orar”. É sempre um dever oficial por uma ou
outra dessas razões. Homens sempre devem orar porque Deus os manda orar.
“Orai sem cessar”, é um comando curto e grosso. Não tem dar a volta por este
texto, “Orai sem cessar”. Ele está amarrado dentro do coração do Primeiro
Mandamento da Lei de Deus – “Amarás, pois, ao Senhor teu Deus de todo o teu
coração, e de toda a tua alma, e de todo o teu entendimento, e de todas as tuas
forças” (Mc 12:30).
“Os homens devem sempre orar”. É sempre a mais sábia coisa que eles
podem fazer. “Os homens devem sempre orar”. É, algumas vezes, a única coisa
que eles podem fazer. “Os homens devem sempre orar”, ou então eles querem
tirar o assunto das mãos de Deus. “Os homens devem sempre orar”, pois ele
sempre necessitam da ajuda de Deus, quer eles acreditem nisso ou não.
III. Não irei entrar em outras razões, apesar de elas serem
muitas para esta obrigação, mas devo concluir notando A ALTERNATIVA
– “Os homens devem sempre orar, e nunca desfalecer”.
[1]
Uma máquina de oração é uma roda onde símbolos de orações são escritos ou pregados nela, e à
medida que o vento sopra, a roda gira. Os religiosos que usam tal coisa acreditam que a cada volta
que a roda dá, todas as orações ali escritas foram realizadas aos seus ídolos.
[2]
Hugh Latimer foi um pregador inglês que se uniu aos reformadores, até ser preso e por fim
queimado na fogueira pela igreja Católica Romana.
[3]
John Knox foi o principal reformador escocês. Enfrentava diretamente os reis e rainhas de sua
época por se ligarem a igreja Católica Romana. A rainha da Escócia, Maria, afirmava que tinha
mais medo das orações de John Knox do que de um exército de milhares de homens.
[4]
Spurgeon matinha um orfanato para meninos inicialmente e depois, através de ofertas, conseguiu
abrir outro orfanato destinado à meninas.
[5]
A rua Downing é a rua onde se instalam os principais ministros da Inglaterra.
[6]
Os tártaros usavam rodas onde colocavam símbolos ou orações e à medida que o vento girava as
pás dessas rodas ou moinhos de vento, eles acreditavam que suas orações eram feitas.
[7]
Wimbledon é um distrito da Grande Londres, onde competições de tiro eram realizadas. Nos dias
atuais, essas competições ainda existem, porém as competições mais famosas neste distrito são os
campeonatos de tênis.
[8]
Uma referência aos Filactérios, pequenas caixas que continham pequenas partes da Escritura. Os
judeus amarravam essas caixas na testa e no braço para mostrar que guardavam a Palavra do
Senhor.
[9]
O sentido da palavra é uma devoção só de nome, mas cujo interior do homem não é
verdadeiramente transformado.
[10] Esta versão é aquela usada por Spurgeon e a mesma não possui tradução equivalente em
português.
[11]
“Não a nós, Senhor”.
[12]
É uma expressão em inglês usada para homens que pelos próprios esforços se fizeram homens
ricos, grandes ou famosos.
[13]
A Rua Cheapside era uma rua de comércios da cidade de Londres.
[14]
Provérbio inglês.
[15]
Esta é a versão usada por Spurgeon, a qual não possui uma tradução igual no português.
[16]
Rowland Hill era um famoso pregador britânico.
[17]
Samuel Coleridge foi um poeta inglês.
[18]
Issac Watts foi convidado por Thomas Abney para que morasse nas dependências da família
Abney e Watts permaneceu morando com esta família até a sua própria morte em 1748.
[19]
‘Porção do Cesto’ é uma expressão em inglês dada a mulheres que recebem muitos presentes de
seu pai.
[20]
Considerado um dos mais importantes teólogos puritanos e conhecido como “teólogo do
pecado”, pois expunha com muita abrangência e profundidade sobre a questão do pecado. É tido
como um dos maiores teólogos reformados de todos os tempos. Recomendo muito que as obras
deste puritano sejam adquiridas por você, leitor.
[21]
Possivelmente este texto só pode ser encontrado na versão da Bíblia que era usada) por
Spurgeon.
[22]
Nunca pense que pode pedir a Deus qualquer coisa só porque acha que está usando o
nome de Cristo. Nossos pedidos para o Senhor devem ser sempre para suprir necessidades
que Ele prometeu que seriam supridas. Não pense você que pode obter do Senhor coisas para
esbanjar em seus prazeres. Miserável o homem que pensa assim. (Nota do Editor).
[23]
As filhas da figura mitológica Danaus, como a lenda conta, eram em número de cinquenta e
foram casar com outros cinquenta homens, porém os mataram na noite de seus casamentos. Dessa
forma, elas foram condenadas tomar jarros de água furados e encher um grande recipiente também
furado. Esta lenda mostra uma atividade completamente fútil e sem fim.
[24]
Sísifo foi outro personagem da mitologia grega que por ser um enganador, tanto de homens
quanto de deuses, foi condenado pelos deuses gregos a carregar montanha acima uma pedra enorme
de mármore e sempre que chegava perto do topo, uma força irresistível a empurrava novamente
para o pé do monte, fazendo com que ele houvesse de realizar todo o trabalho novamente por toda
eternidade.
[25]
Nó Górdio, segundo uma lenda, era um nó impossível de ser desatado. A lenda conta que quem
desatasse o nó, iria dominar toda a região da Ásia Menor. Alexandre, o grande, ao se deparar com o
nó, o cortou com sua espada. A expressão em inglês significa resolver um problema de uma forma
muito simples.
[26]
George Muller foi um grande evangelista e diretor de um orfanato onde pôde cuidar de mais de
dez mil crianças.
[27]
A oração em secreto é aquela onde você está sozinho diante de Deus, onde não há ninguém para
escutar suas palavras além do Senhor. Se alguém não ora sozinho diante de Deus, não pode falar
que conhece a Ele e nem que tem comunhão com Ele. [N.E.]
[28]
Neste culto havia um grupo de crentes que seria batizado.