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Gèrard Rossé
E, portanto, o leitor se quer saber quem é o Espírito Santo através de Lucas, deve entender
seu trabalho, enquanto fala sobre ele e o faz agir.
No Batismo de Jesus, o Espírito desce sobre ele e uma voz celeste confirma tal identidade. De
agora em diante o Espírito Santo move os passos de Jesus que é “pleno do Espírito Santo”
(4,1-14).
E a mesma Escritura, por meioeio de Isaías, proclama, quando Jesus inaugura o seu ministério:
“O Espírito do Senhor está sobre mim” (4,18).
Na ótica do evangelista, somente Jesus, antes da sua morte, possuirá em plenitude o Espírito
Santo.
O evento que abre aos “últimos dias” e no qual o Espírito Santo vem comunicado é a morte
ressurreição de Jesus.
O Espírito Santo é em estreita relação com o Ressuscitado, e vem dado a todos os crentes. E
como para toda etapa importante no caminho da Igreja, Lucas compõe uma ampla história
para sublinhar a novidade do evento isto é do dom do Espírito.
O autor escolher a festa judaica do Pentecostes; naquele dia, o núcleo inicial da futura igreja
igreja;
encontravam-se
se todos reunidos, juntos no mesmo lugar.
Acontece o dom do Espírito Santo que Lucas apresenta como uma experiência teofânica: a
erupção na casa de um vento impet
impetuoso
uoso e a aparição de línguas de foto que pousa sobre cada
um; e o autor prossegue: Todos ficaram plenos do Espírito Santo e começaram a falar em
outras línguas como o Espírito Santo dava a eles de exprimir-se (2,4).
Note o detalhe: Lucas não escreve: todos começaram a falar em línguas, referindo-se ao
carisma da glossolalia (um falar estático e incompreensível), mas começaram a falar em outras
línguas. Tem-se a impressão que os apóstolos se tornaram poliglotas.
Em seguida Lucas se explica: cada um dos presentes (isto é a multidão que assiste a cena)
ouvia falar os apóstolos na própria língua (2,6); isto é, o Evangelho como Palavra anunciada
será compreensível em todas as línguas e nações, e, portanto acessível a cada um que a
acolhe.
O dom do Espírito Santo é o dom feito por Jesus ressuscitado a Igreja. Eram necessárias duas
condições para que o Espírito Santo pudesse ser dado em plenitude também aos discípulos: a
ressurreição de Jesus e o seu estar juntos.
O Espírito dado inaugura “os últimos dias” como Lucas faz Pedro dizer, citando o profeta
Joel: nos últimos dias, diz Deus, “infundirei o meu Espírito sobe toda carne e profetizarão os
vossos filhos e as vossas filhas...” (2,17).
Portanto a plenitude do Espírito possuído só por Jesus no Evangelho, agora vem comunicado
não somente aos apóstolos, mas a todos os crentes; é um Espírito de comunhão, e ele
inaugura os últimos dias que, para Lucas não indica mais o momento iminente do fim, mas o
tempo que dura da ascensão até a Parusia: é o tempo da missão da Igreja, da difusão da
Palavra até a extremidade da terra (1,8), conforme ao programa que o mesmo Ressuscitado
antes de ascender ao Céu deu aos apóstolos: “Mas recebereis uma força, a do Espírito Santo
que descerá sobre vós, e sereis minhas testemunhas em Jerusalém, em toda a Judéia e a Samaria, e
até os confins da terra”.
O dom do Espírito enviado pelo Ressuscitado como hóspede perene da comunidade cristã é a
grande novidade. Certamente, o Espírito age já na história de Israel e falava através da boca
dos profetas. Mas agora é o Espírito do cumprimento, que traz a término as esperas já
profetizadas.
Lucas o faz entender com uma formulação um pouco curiosa, no diálogo de Paulo com um
grupo de discípulos do Batista em Éfeso. O apóstolo pede: “Recebestes o Espírito Santo quando
abraçastes a fé”? Eles responderam: “Mas nem ouvimos dizer que haja um Espírito Santo”
(19,2).
João, no seu Evangelho, se exprime de modo igual: comentando a palavra de Jesus sobre o rio
de água viva, escreve: Isto, Jesus o diz do Espírito que haveria recebido os que acreditavam
Nele.
De fato, não tinha ainda o Espírito porque Jesus não tinha ainda glorificado (Jo 7,39). “Os
últimos dias” não são, portanto uma indicação cronológica, mas exprime a novidade
qualitativa do tempo da Igreja na história, caracterizado exatamente pelo dom do Espírito de
Deus
Lucas, portanto, construiu um amplo e solene cenário, para narrar à entrada na história da
humanidade do Espírito escatológico, enviado pelo Ressuscitado.
É uma novidade radical em relação ao tempo, que precede a vinda de Jesus no mundo, e que
liga estritamente a comunidade cristã ao Jesus ressuscitado.
E este Espírito vem imediatamente caracterizado como Potência, comunicada aos apóstolos,
para testemunhar a Palavra, até a extremidade da terra.
Observa-se que a história do Pentecostes não termina narrativamente com o discurso de Pedro
e o seu apelo a conversão, mas com a menção do crescimento em número dos crentes:
“Aqueles, pois, que acolheram sua palavra, fizeram-se batizar.
E acrescentaram-se à eles aquele dia, cerca de três mil pessoas” (2,41); segue um sumário que
apresenta um quadro da vida da comunidade: “Eles mostravam-se assíduos ao ensinamento dos
apóstolos, à comunhão fraterna, à fração do pão e às orações... todos que tinham abraçado a fé
reuniam-se e punham tudo em comum...” (2,42ss).
O autor sagrado liga a história de Pentecostes também aos efeitos do dom do Espírito: a
comunhão fraterna, a vida de unidade vivida numa igreja nascida da Palavra.
A inteira seção narrativa se apresenta então como uma unidade literária que vê o Espírito
Santo a obra e na Palavra testemunhada que reuni os crentes em comunidade, e a origem da
koinonia fraterna na sua dimensão espiritual e material.
Vocês entenderam que, nos Atos, o Espírito Santo é essencialmente a serviço da difusão da
Palavra. Escreve Marguerat: “Nenhum autor do N.T. diz tão fortemente o papel fundador do
Espírito que constrói a Igreja come uma comunidade missionária e lhe dá a sua unidade” (p. 173).
E pouco antes: “O Espírito em Lucas é uma Espírito inaugurador, é o agente dos inícios, das
criações da comunidade, dos impulsos que fazem nascer a Igreja” (p. 153).
1
Daniel MARGUERAT, in La première histoire du christianisme. Les Actes des Apôtres, “Lectio Divina” 180, Labor et
Fides/Cerf, Genève/Paris 1999, pp. 149 ; me refiro a este estudo.
O Espírito Santo não espera que Pedro supere os seus temores e se decida batizar-lhes; Ele
tem sempre a iniciativa..., também para ajudar Pedro a abrir-se sem medo ao universal! Uma
cena igual se reproduz em Éfeso quando Paulo batiza discípulos do Batista: “E quando
Paulo lhes impôs as mãos, o Espírito Santo veio sobre eles e falavam em línguas e profetizavam”
(19,6).
Repete-se toda vez o mesmo fenômeno (carismático) como em Pentecostes. Fala-se de boa
vontade de “pequena Pentecostes”.
E toda vez Lucas escreve que falavam em línguas e profetizavam, em sintonia com a profecia
de Joel citado por Pedro em Pentecostes: e profetizarão os vossos filhos e as vossas filhas.
Como comenta Marguerat: “O Espírito não conduz a êxtases, mas a comunicação de uma
palavra”.
O Espírito é a Força que deve ajudar os apóstolos a realizar o programa que o Ressuscitado
lhes deu: Ele é a serviço do testemunho dos apóstolos de Jerusalém atém aos confins da terra.
Como Jesus durante o seu ministério, agora também os discípulos são “plenos de Espírito
Santo” e conduzidos por Ele nas suas atividades.
Precisa dizer que Ele se mostra particularmente ativo na missão de Paulo o apóstolo das
nações.
Se inicialmente, Lucas apresenta o Espírito, sobretudo como a força dada para testemunhar,
com a missão do apóstolo das nações, ele num certo sentido toma corpo, se torna pessoa
ativa: toma decisões, escolhe, fala, dirige, guia os autores humanos, os move rumo novas
etapas.
E uma etapa é a história da primeira missão organizada em terra pagã, segundo os Atos, a
assim chamada primeira viagem missionária (At 13-14). Escreve o autor: “Celebrando eles o
culto em honra do Senhor e jejuando, disse-lhes o Espírito Santo: Separai para mim Barnabé e
Saulo, para a obra à qual os destinei” (13,2).
Como vêem, é o Espírito Santo que decide e escolhe os missionários; é sempre uma ação em
plena liberdade, mais também sempre eclesial.
Ele fala no contexto de uma liturgia; também na história sucessiva do concílio de Jerusalém, as
decisões são tomadas em comum.
São sempre para manter unidos estes elementos: plena liberdade do agir inovador do Espírito
que não pode ser manipulado, mais sempre também no contexto da Igreja.
Paulo e companheiros (Silas e Timóteo) querem dirigir-se a oeste rumo a Éfeso, mais o
Espírito Santo os impede de falar a Palavra na Ásia.
Então se dirigem rumo ao norte: tentavam chegar a Bitínia, mais o Espírito de Jesus não os
permitiu. Então, ultrapassada a Mísia, desceram em Trôades (16,6-8).
Lucas dá a impressão que os missionários não sabiam aonde ir, sem finalidade precisa.
Na realidade o Paulo histórico tinha uma finalidade bem precisa em mente: ir a Europa onde
funda as igrejas de Filipe, Tessalônica e Corinto.
Mas o autor dos Atos, para sublinhar a importância da chegada do Evangelho na Europa, que
inculcar no leitor que a decisão de passar na Europa corresponde exatamente ao querer divino,
e não é devida a qualquer caso ou capricho humano.
Em resumo é o Espírito Santo o verdadeiro promotor da missão; e a história narrada por Lucas
se faz história da salvação.
Lucas fez o possível para narrar esta viagem para Jerusalém em synkrisis com o caminho de
Jesus da Galileia a Jerusalém.
Como Jesus, Paulo, inocente, se dirige com decisão rumo um destino de sofrimento na cidade
santa onde será preso pelos judeus e entregue aos pagãos, como Lucas faz dizer ao Espírito
por meio do profeta Àgabo (21,11).
Como Jesus também na última ceia, o apóstolo faz um discurso de adeus aos presbíteros de
Éfeso e anuncia: agora eis que, conquistado pelo Espírito, estou indo a Jerusalém, não
sabendo aquilo que lá me poderá acontecer. Sei somente que o Espírito Santo de cidade em
cidade, me adverte que me espera correntes e tribulações (20,23ss).
Paulo se sente conquistado isto é acorrentado pelo Espírito Santo como um prisioneiro
obrigado a ir onde não gostaria.
Talvez o autor sagrado queira recordar ao leitor Saulo o perseguidor que quer conduzir os
seguidores de Jesus acorrentados a Jerusalém (9,2).
Agora é o apóstolo, ex-perseguidor, que vem acorrentado (pelo Espírito Santo) e arrastado
para o sofrimento. Lucas gosta destes contrastes.
O narrador insiste sobre a constante presença do Espírito neste caminho de sofrimento, não
somente porque tal presença faz entender que o destino de Paulo não é um destino absurdo,
mas é conforme ao querer divino como aquele de Jesus, mas o Espírito faz entrar este
caminho do apostolo em comunhão com aquele de Cristo, assim que no aos pagãos (cf.
26,23).
2
Antonio LANDI, “Avvinto dalla Spirito” (At 20,22). Paulo e o Espírito nos Atos dos Apóstolos, in Riv. Bib, testemunho
de Paulo, servo sofredor, Jesus ressuscitado continua a anunciar a luz ao povo e. 64(2016), pp. 447ss., sobretudo pp.
460ss.
Precisa também dizer que Lucas não teme as contradições (aparentes). De um lado, o autor
insiste sob o destino de sofrimento que o Espírito Santo impõe ao apóstolo como querer divino,
todavia quando Paulo chega a Tiro (21,4), os crentes da cidade, sempre inspirados pelo
Espírito Santo suplicam Paulo de não ir a Jerusalém! Portanto o mesmo Espírito que impulsiona
o apóstolo a ir ao encontro do seu destino de sofrimento em Jerusalém impulsiona a
comunidade de Tiro a impedir Paulo de ir à cidade santa.
Ele segue um método literário aonde o protagonista da história vai decididamente e com
coragem rumo a morte, enquanto os seus amigos se esforçam em vão para desiludi-lo.
Serve para sublinhar a coragem ou a fatalidade do herói que assume o seu destino até o
fundo.
Numa situação de sofrimento e de angústia, são presente, e em tensão, como duas vontades
diante uma da outra, e cada uma é boa, mas prevalece a vontade superior.
Assim Paulo. Mediante o Espírito testemunha Cristo não somente com a palavra, mas com a
vida.
Em resumo, para concluir, parece que o Espírito Santo é o verdadeiro autor na obra lucana, do
início ao fim.
Ele é ativo desde a concepção de Jesus no início do evangelho, até o final do livro de Atos.