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04 - Deep - Kylie Scott
04 - Deep - Kylie Scott
Este livro é fruto de tradução livre. Não vinculada à editora e portando não é
oficial.
É expressamente proibida sua venda e/ou troca em qualquer meio e de qualquer
forma.
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Tradução:Ellie Holt
Revisão: Ane Holder
SOBRE DEEP
Fique ligado a noite toda com os roqueiros sexys da Stage Dive, a série
de romance rockstar épico da Autora Kylie Scott, New York Times
bestselling, autora de Lick, Play e Lead.
Na cidade do pecado, você tem que ir com tudo ou voltar para casa...
Ben Nicholson é o único homem que alguma vez a garota comum Lizzy
Rollins se sentir completamente segura e louca de desejo ao mesmo
tempo. O problema é, Ben é o baixista irresistivelmente sexy da Stage
Dive, e, não importa o quanto Lizzy deseje de outra forma, ele só está
interessado em se divertir. Além disso, Lizzy nunca teve chance – a
menos que ela possa fazê-lo ver além do fato de ela ser a irmãzinha do
seu parceiro de banda.
***
“Você está atrasada. Venha aqui,” minha irmã, Anne, disse,
agarrando a minha mão e me arrastando através da porta. Não que eu
estivesse espiando lá de fora, me escondendo e hesitando. Muito.
“Desculpa.”
“Eu pensei que você ia me abandonar. De novo.” Ela me deu um
apertão rápido e carinhoso, então tirou o casaco dos meus ombros. Ele
foi jogado em uma cadeira próxima que já estava carregada com outros
casacos. “Todo mundo já está aqui.”
“Ótimo,” eu murmurei.
Verdade seja dita, já tinha bastante barulho lá dentro do loft
multimilionário no Pearl District.
Anne e eu não tínhamos dinheiro. Muito pelo contrário. Se não
fosse por ela me encorajando a procurar bolsas de estudos e me
apoiando financeiramente pagando pelos meus livros, etcetera, eu
nunca teria entrado na faculdade. No ano passado, porém, minha irmã
normalmente sensível e moderada se viu de alguma forma amigada
com a realeza do rock ‘n’ roll.
Eu sei, certo? Como tudo isso aconteceu ainda me confunde, de
alguma forma. Entre nós duas, eu sempre fui a que desempenhou o
papel de animada. Sempre que Anne ficava para baixo, eu a colocava
para cima de novo, preenchia o espaço com conversas e continuava
sorrindo mesmo debaixo da chuva. E agora aqui estava ela, bem na
vida e completamente apaixonada, feliz de verdade pela primeira vez
desde sempre. Isso era maravilhoso.
Detalhes sobre o romance selvagem deles variavam de vagos
para nenhum. Mas um pouco antes do natal, ela e Malcolm Ericson, o
baterista da Stage Dive (só a mais famosa banda de rock de todos os
tempos), tinham juntado as escovas de dentes. Eu agora era contada
como parte da numerosa comitiva da banda. Para ser justa, eles me
acolheram de braços abertos desde o início. Eles eram boas pessoas.
Era apenas o pensamento de vê-lo que me reduzia a uma pilha de
nervos com a super habilidade de vomitar.
“Você nunca vai adivinhar o que aconteceu.” Anne passou o braço
pelo meu, me levando em direção a mesa de jantar.
Em direção a minha destruição.
Um grupo de sete pessoas estavam sentadas com bebidas nas
mãos, rindo e conversando. Eu acho que era The National que estava
tocando baixinho no sistema de som. As velas brilhavam com luzes
pequenas e cintilantes acima da cabeça das pessoas. Minha boca
salivou apesar do meu estômago enjoado, com o cheiro de toda a
deliciosa comida que preenchia o ar. Uau, Anne e Mal foram mesmo
com tudo com a comemoração do aniversário de dois meses de
casamento.
De repente a minha calça preta justa e a túnica azul claro (um
modelo de linha solto que de forma alguma abraçaria ou marcaria a
cintura) parecia insuficiente. Apesar de que era difícil ficar glamorosa
com uma sacola plástica no bolso apenas no caso de você precisar
descarregar.
“O que aconteceu?” eu perguntei, arrastando os meus pés cada
vez mais lento.
Ela se inclinou e sussurrou teatralmente, “Ben trouxe uma
pessoa.”
Tudo parou. E eu quis dizer tudo. Meus pulmões, meus pés…
tudo.”
Uma careta passou pelo rosto de Anne. “Liz?”
Eu pisquei, voltando lentamente a vida. “Sim?”
“Você está bem?”
“Claro. Então, um, Ben trouxe alguém?”
“Você pode acreditar nisso?”
“Não.” Eu realmente não podia. Meu cérebro tinha parado, assim
como todo o resto. Não tinham outras pessoas no meu plano de falar
com Ben essa noite.
“Eu sei. Tem uma primeira vez para tudo. Eu acho. Todo mundo
está pirando um pouco, pensando que ela é boa o bastante.”
“Mas Ben não tem encontros,” eu disse, minha voz soando meio
vazia, como se fosse um eco vindo de algum lugar distante. “Ele nem ao
menos acredita em relacionamentos.”
Anne inclinou a cabeça, sorrindo ligeiramente. “Lizzie, você não
está mais apaixonadinha por ele, não é?”
“Não.” Eu deixei sair uma risada. Como se fosse possível. Ele me
desiludiu desses pensamentos idiotas, em Vegas. “Tanto é que a minha
taça está cheia e o não está pingando no chão”
“Bom.” Ela suspirou feliz.
“Lizzy!” Uma voz profunda soou.
“Hey, Mal.”
“Diga oi para a sua tia Elizabeth, filho.” Meu novo cunhado jogou
um filhote preto e branco direto para mim. Uma linguinha molhada
passou pelos meus lábios, e um hálito quente de filhote, com cheiro de
biscoito canino, foi em direção ao meu rosto.
Nada bom.
“Whoa.” Eu me inclinei para trás, tentando respirar através da
urgência de vomitar novamente. Gravidez era ótimo.
“Oi, Killer.”
“Passe-o para mim,” Anne disse. “Nem todo mundo quer beijar
um cachorro de língua, Mal.”
O homem louro e muito tatuado sorriu, entregando a bolinha de
pelos. “Mas ele é um ótimo beijoqueiro. Eu mesmo o ensinei.”
“Infelizmente, isso é verdade.” Anne colocou o filhote debaixo de
um braço, fazendo carinho na cabeça dele. “Como você está? Você disse
que estava se sentindo mal, no outro dia no telefone.”
“Tudo bem,” eu menti. Ou menti parcialmente. Depois de tudo, eu
definitivamente não estava doente.
“Você foi ao médico?”
“Não foi necessário.”
“Por que eu não marco uma consulta para amanhã, só para
garantir?”
“Não é necessário.”
“Mas –”
“Anne, relaxa. Eu estou te dizendo, eu não estou doente.” Eu dei o
meu sorriso mais brilhante. “Eu prometo, estou bem.”
“Tudo bem.” Ela colocou o filhote no chão e puxou uma cadeira
no meio da mesa. “Eu guardei um lugar para você perto de mim.”
“Obrigada.”
Então foi (comigo tentando não vomitar enquanto limpava saliva
canina do meu rosto) quando eu o vi. Ben, sentado do outro lado,
olhando direto para mim. Aqueles olhos escuros... e imediatamente
olhei para baixo. Ele não me afeta. Ele não me afeta. Eu apenas não
estava pronta para encarar isso. Essa situação entre eu e ele e aquele
quarto em Vegas e as consequências que estavam crescendo na minha
barriga.
Eu não podia fazer isso, não ainda.
“Hey, Liz,” ele disse, a voz profunda calma e casual.
“Hey.”
Sim. Eu o tinha superado. A coisa do encontro tinha me
balançado, mas agora eu tinha voltado aos trilhos. Eu apenas teria que
reprimir qualquer sentimento de infelicidade sorrateiro, e os esquecer.
Eu me aproximei, arriscando uma espiada apenas para encontra-
lo olhando para mim cautelosamente. Ele tomou um pouco de cerveja e
abaixou a garrafa, passando o polegar pela boca para limpar uma gota
perdida. Em Vegas, ele tinha gosto de cerveja, luxúria e necessidade. A
mistura mais vertiginosa. Ele tinha lábios lindos, rodeados
perfeitamente por sua barba macia. Seu cabelo tinha crescido nas
laterais raspadas e estava mais longo em cima em um corte hipster, e
honestamente, ele parecia meio desgrenhado, selvagem.
E grande, ele sempre parecia grande.
Um piercing prateado na lateral do nariz e ele estava usando uma
camisa xadrez verde, o botão de cima aberto para mostrar o pescoço
grosso e a borda da tatuagem de rosa negra. Jeans caros e botas pretas
acompanhavam. Tirando o casamento em Vegas, e mais tarde aquela
noite no meu quarto, eu nunca o tinha visto sem jeans.
Eu te garanto, não tem nada de mal nesse homem nu. Tudo era
como tinha que ser e mais ainda. De fato, ele parece bastante com um
sonho virando realidade.
Meu sonho.
Eu engoli, ignorando meus mamilos rígidos enquanto eu afastava
a memória e a mandava para onde ela tinha que ficar. Junto com as
canções da Hannah Montana, as histórias dos personagens de Vampire
Diaries, e outras coisas inúteis e informações potencialmente perigosas
que eu reuni ao longo do tempo. Nada disso importava mais. A sala
ficou quieta. Que estranho.
Ben puxou o colarinho da blusa, e se moveu no seu assento.
Por que diabos ele estava olhando para mim?
Talvez porque eu ainda estava olhando para ele. Merda. Meus
joelhos desistiram e eu caí na cadeira com um baque surdo. Eu mantive
os meus olhos baixos porque olhar para baixo era seguro. Contanto que
eu não olhasse para ele ou para o seu encontro, eu me manteria fina e
elegante. O jantar não poderia durar mais de três ou quatro horas. Sem
preocupações.
Eu meio que levantei a mão em cumprimento. “Oi, pessoal.”
Oi e olás e suas variações foram ditos.
“Como você está, Liz?” Ev perguntou, de um lugar mais abaixo na
mesa. Ela estava sentada ao lado do seu marido, David Ferris, o
guitarrista e compositor da Stage Dive.
“Ótima.” Merda. “E você?”
“Bem.”
Eu respire fundo e sorri.
“Excelente.”
“Você tem estado ocupada com a faculdade?” Ela pegou um
prendedor e amarrou o cabelo louro em um rabo de cavalo. Deus
abençoe a garota. Ao menos não era só eu mantendo isso casual. “Nós
não te vemos desde o natal.”
“Sim, ocupada.” Vomitando e dormindo na maior parte do tempo.
Gestando. “Aulas e essas coisas, você sabe.”
Normalmente eu tinha uma história interessante a contar sobre
os meus estudos em psicologia.
Hoje, nada.
“Certo.” Seu marido passou um braço em volta dos ombros dela e
ela se virou e sorriu para ele, olhos amorosos e nossa conversa
esquecida.
O que era ótimo para mim.
Eu passava a ponta da minha bota para lá e para cá no chão,
olhando para a direita e para a esquerda e para qualquer lugar que não
para frente. Eu brinquei com a bainha da minha túnica, enrolando um
fio perdido no meu dedo até ele ficar roxo. Então eu o soltava. Isso
provavelmente não era bom para o grão de feijão. Amanhã eu
precisaria começar a aprender coisas sobre bebês. Ir a fundo, porque
me livrar do grão de feijão... não era para mim.
A acompanhante riu de alguma coisa que ele disse e eu senti uma
dor aguda dentro de mim. Provavelmente gases.
“Aqui.” Anne encheu a taça na minha frente com vinho branco.
“Oh. Obrigada.”
“Experimente,” ela disse com um sorriso. “É doce e meio que
tonificante. Eu acho que você vai gostar.”
Meu estômago virou do avesso só com o pensamento. “Talvez
mais tarde. Eu bebi um pouco de água bem antes de eu chegar. Então...
eu não estou com muita sede agora.”
“Tudo bem.” Seus olhos se estreitaram enquanto ela me dava
aquele-sorriso-estranho. O qual muito logo se transformou em uma
linha infeliz. “Você parece um pouco pálida. Você está bem?”
“Com certeza!” Eu assenti, sorrindo, e me virando para a mulher
que estava do meu outro lado antes que Anne me arrastasse ainda
mais no assunto. “Oi, Lena.”
“Lizzy. Como você está?” A morena curvilínea segurava a mão do
seu parceiro, Jimmy Ferris, o vocalista principal da Stage Dive. Ele
sentou na cabeceira da mesa, resplandecendo em um terno que sem
dúvida foi feito a mão. Quando ele me viu ele me deu um daqueles
cumprimentos de queixo que os garotos pareciam ser especializados.
Isso dizia tudo. Ou ao menos dizia tudo quando tudo que eles queriam
dizer era Hey.
Eu devolvi o cumprimento. E todo esse tempo eu podia sentir
Anne pairando ao meu lado, a garrafa de vinho ainda na mão e a
preocupação de irmã mais velha crescendo, arranhando o chão e se
preparando para atacar. Eu estava muito ferrada. Anne tinha me criado
desde os catorze anos, quando nosso pai deixou a nossa mãe cuidando
da gente – que um dia apenas foi para a cama e não se levantou de
novo. Desde então a necessidade de educar de Anne saiu um pouco do
controle. O que quer que ela diga sobre o grão de feijão eu não quero
nem pensar. Não vai ser bonito.
Mas um problema de cada vez.
“Tudo bem, Lena,” eu disse. “E você?”
Lena abriu a boca. O que quer que ela estava prestes a dizer,
entretanto, foi perdido com o repentino soar de uma bateria e uma
guitarra insanamente alta. Pareceu como se o inferno estivesse
explodido ao nosso redor. O Armageddon tinha chegado.
“Baby,” Anne gritou para o seu marido. “Nada de metal durante o
jantar! Nós conversamos sobre isso.”
O dito “baby”, Malcolm Ericson, parou de mover a cabeça na
cabeceira da mesa. “Mas, Pumpkin –”
“Por favor.”
O baterista revirou os olhos e, com um estalar de dedos, silenciou
a tempestade que saia do sistema de som. Meus ouvidos ficaram em
silêncio.
“Cristo,” Jimmy murmurou. “Tem hora e lugar para uma merda
dessas. Tipo nunca quando eu estiver por perto, tá?”
Mal olhou por sobre o nariz para o homem elegante. “Não seja
tão rígido, Jim. Hemorrhaging Otter faria uma maravilhosa
apresentação de abertura.”
“Você está falando sério, porra? Esse é o nome deles?” David
perguntou.
“Deliciosamente inventivo, não?”
“Só tem uma forma de dizer isso,” David disse, com o nariz
enrugado de desgosto. “E Ben já escolheu um ótimo número de
abertura.”
“Eu nem ao menos votei.” Mal resmungou.
“Cara.” Ben lançou uma mão irritada no ar. “Tudo o que vocês
querem é ficar com as suas mulheres. Eu vou precisar de algumas
pessoas depois do show para eu conversar e beber uma cerveja, então
eu fui em frente e escolhi. Aguente.”
Resmungo amargo de Mal.
Ev apenas sacudiu a cabeça. “Uau. Hemorrhaging Otter. Isso
realmente é único.”
“O que você acha, babe?” Jimmy virou para Lena.
“Isso é nojento. Eu acho que eu vou vomitar.” A mulher engoliu
forte, seu rosto ficando cinza. “Eu quero dizer, eu acho que realmente
vou.”
Huh. E então, ugh, eu conhecia aquele sentimento.
“Merda.” Jimmy começou a esfregar as costas dela com
movimentos frenéticos.
Sem uma palavra, eu coloquei a minha sacola plástica de vômito
sobressalente na mão dela. Solidariedade entre amigas, etcetera.
“Obrigada,” ela disse, muito feliz para se preocupar em perguntar
porque eu tinha uma delas no meu bolso em primeiro lugar.
“Ela teve um problema estomacal antes do natal.” Com a mão
livre, Jimmy encheu o copo de Lena com água e deu para ela. “Continua
bagunçando com ela.”
Eu congelei.
“Eu pensei que tivesse passado,” Lena disse.
“Você terá que ir ao médico. Basta de desculpas, nós não estamos
tão ocupados assim.” Jimmy deu um beijo suave na lateral do rosto
dela. “Amanhã, tá?”
“Okay.”
“Parece sábio,” Annie disse, batendo no meu ombro.
Puta merda.
“Você tem estado doente também, Lizzy?” Lena perguntou.
“Vocês deveriam experimentar chá verde com gengibre,” uma
voz disse do outro lado da mesa.
Uma voz feminina.
Maldição, era ela. A acompanhante.
“Gengibre gera calor e ajuda a acalmar um estômago irritado.
Que outros sintomas vocês têm?” ela perguntou, me fazendo afundar
imediatamente no meu assento.
Ben pigarreou. “Sasha é naturopata.”
“Eu pensei que você tinha dito que ela era dançarina,” Anne
disse, seu rosto se contorcendo ligeiramente.
“Uma performer burlesca,” a mulher corrigiu. “Eu faço ambas as
coisas.”
Yeah, eu não tinha nada.
Uma cadeira raspou o chão, e então Sasha estava de pé, olhando
para mim. Qualquer esperança de evitar e/ou ignorar a presença dela
me escapou. Cabelo de Bettie Page pintado em um azul vibrante, muito
legal. Cristo, ela tinha que agir como se realmente soubesse? Eu
poderia lidar com uma cabeça de vento, mas não com isso. A mulher
era linda e inteligente, e eu era apenas uma garota estúpida que foi lá e
engravidou. Que peninha.
Eu sorri sombriamente. “Oi.”
“Algum outro sintoma?” ela repetiu, o olhar indo de mim para
Lena.
“Ela tem estado muito cansada,” Jimmy disse. “Toda vez desmaia
assistindo TV.”
“Verdade.” Lena franziu o cenho.
“Lizzy, você disse que perdeu algumas aulas, não foi?” Anne
perguntou.
“Algumas,” eu admiti, não gostando da direção que esse assunto
estava tomando. Hora de um movimento suave. “De qualquer forma,
como estão os planos para a turnê? Vocês devem estar excitados. Eu
estou excitada. Vocês já começaram a fazer as malas, Anne?”
Minha irmã só piscou para mim.
“Não?” Talvez uma explosão súbita de diarreia verbal não fosse a
resposta.
“Espere. Você tem estado doente, Liz?” Ben perguntou, sua voz
profunda suavizando levemente. Talvez fosse só a minha imaginação.
“Um...”
“Talvez você tenha o mesmo problema estomacal da Lena,” ele
disse. “Quantas aulas você perdeu?”
Minha garganta fechou. Eu não poderia fazer isso. Não aqui e
agora na frente de todo mundo. Eu deveria ter fugido para Yukon em
vez de ter vindo aqui essa noite. Eu não estava pronta para isso.
“Liz?”
“Não, eu estou bem,” eu arquejei. “Tudo bem.”
“Um, olá,” Anne disse. “Você disse que estava enjoada as últimas
semanas. Se eu não estivesse longe eu teria te arrastado para o
médico.” E graças a Deus ela estava em sua segunda lua de mel com
Malcolm no Havaí.
Descobrir sobre o grão de feijão com Anne do meu lado teria sido
como assistir o quarto cavaleiro do apocalipse entrando na cidade.
Terror, lágrimas, caos – todas essas coisas e mais. Definitivamente não
era a minha melhor ideia de paz.
A acompanhante, Sasha, fixou seu olhar inquisidor para uma
Lena ainda engasgada.
“Mais alguém teve isso?” ela perguntou.
“Eu acho que não.” Anne olhou a mesa de cima a baixo, vendo
várias cabeças balançando. “Apenas Lena e Lizzy.”
“Nós estamos bem,” Ev disse.
“Estranho,” Anne disse. “Liz e Lena não se encontraram desde o
casamento. Já faz dois meses agora.”
Murmúrios de concordância.
Meu coração começou a correr. O meu e o do grão de feijão.
“Bem, eu acho que ambas deveriam fazer um teste de gravidez,”
Sasha anunciou, voltando para o seu assento.
Um momento de silêncio atordoado.
“O quê?” Eu balbuciei, o pânico me atravessando. Não aqui, não
agora, e com certeza não desse jeito, porra. A bile subiu pela minha
garganta, mas eu a engoli de volta, procurando pela segunda sacola de
vômito.
A sobrancelha de Ben franziu e tosses e engasgos começaram dos
outros. Mas antes que alguém pudesse comentar, um barulho estranho
e estridente saiu de Lena.
“Não,” ela chorou, a voz muito alta e determinada. “Não, eu não
estou. Você retire isso.”
O esfregamento de costas de Jimmy ficou enlouquecido. “Baby,
acalme-se.”
Ela não se acalmou. Em vez disso, ela apontou um dedo tremente
para a estranha indesejável a nossa volta. “Você não tem ideia do que
você está falando, porra. Eu não sei, talvez você foi atingida na cabeça
por um desses grandes fãs de danças chiques ultimamente ou algo do
tipo. Tanto faz. Mas você... você não poderia estar mais errada.”
“Okay, vamos nos acalmar um pouco.” Ben levantou as mãos em
protesto.
Sasha ficou quieta.
“Lizzy?” O dedo da minha irmã foi de encontro ao meu ombro,
muito firme. “Não tem nenhuma chance, certo? Eu quero dizer, você é
mais esperta que isso. Você não seria tão estúpida.”
Minha boca abriu, mas não saiu nada.
De repente, Lena agarrou a sua barriga.
“Jimmy, no seu carro do lado de fora do casamento da minha
irmã. Nós não usamos nada.”
“Eu sei,” ele disse baixinho, o rosto perfeito branco como a neve.
“A vez que fodemos contra a porta, uma noite antes de você ir embora.
A gente esqueceu também.”
“Sim.”
“Seus peitos estão bastante sensíveis.” Com uma mão, Jimmy
esfregou a boca. “E você estava reclamando que o seu vestido não
estava servindo no outro dia.”
“Eu pensei que fosse apenas as tortas.”
Eles olharam um para o outro enquanto todo mundo olhava para
eles. Eu tinha certeza absoluta que eles tinham esquecido há muito
tempo que eles tinham plateia para todos esses detalhes íntimos. Como
um jantar comemorativo, esse se tornou em um inferno de um drama,
e oh Deus, o horror disso. Minha cabeça começou a girar.
“Lizzy?” Anne perguntou de novo.
Okay, isso não era bom. Eu realmente não deveria ter vindo. Mas
como diabos eu iria saber que Ben traria uma vidente ginecológica? Os
cantos da minha visão começaram a borrar, meus pulmões
trabalhando em excesso. Eu não podia ter ar o bastante. Não querendo
soar paranoica, mas eu aposto que a vaca daquela Sasha tinha roubado
tudo. Não importa. A coisa mais importante era não entrar em pânico.
Talvez eu pudesse pular pela janela.
“Liz,” uma voz disse. Uma diferente dessa vez, profunda e forte.
Por mais que eu tenha imaginado eu e Ben tendo essa conversa,
não foi dessa forma. Não essa noite, antes de eu processar isso tudo
sozinha. Hora de ir.
“Lizzy?”
Também, uau, se esse era o resultado de ter um sexo
maravilhoso eu nunca mais faria isso de novo. Nem mesmo sexo
medíocre. Nada. Eu poderia até mesmo descartar a masturbação, só no
caso. Você não poderia ser cuidadosa demais. Um ataque aleatório de
esperma poderia estar em qualquer lugar, apenas esperando para
colocar uma garota em problemas.
Eu fiquei de pé, as mãos suadas na mesa para me ajudar. “Eu
tenho que ir.”
“Hey.” Uma mão grande pegou o meu queixo. Linhas apareceram
entre as sobrancelhas de Ben, ao lado da sua boca. Mas você apenas
poderia ter um vislumbre delas através da sua barba, a insinuação. O
homem não estava feliz, e era muito justo. “Está tudo bem, Liz. Nós
vamos resolver isso –”
“Eu estou gravida.”
Uma pausa. “O quê?”
“Eu estou grávida, Ben.”
O silêncio que seguiu ecoou nas minhas orelhas, um barulho
triste sem fim como algo saído de um filme de terror.
Ben estava curvado sobre a mesa, respirando com dificuldade. Eu
acho que eu olhei para ele procurando por força, mas agora ele parecia
tão mal quanto eu.
“Você está grávida?” A voz de Anne cortou o silêncio. “Lizzy, olhe
para mim.”
Eu olhei, apesar de não ser fácil. Meu queixo não parecia
inclinado a ir na direção desejada, e quem poderia culpa-lo?
“Sim,” eu disse. “Eu estou.”
Ela ficou terrivelmente parada.
“Eu sinto muito.”
“Como você pôde? Oh Deus.” Por um momento ela fechou os
olhos com força, depois os abriu de novo. “E por que você está dizendo
a ele?”
“Boa pergunta.” Cada vez mais lentamente, Mal levantou do seu
assento e começou a andar para o outro lado da mesa.
“Por que ela contou a você, Benny?”
“Liz e eu precisamos conversar.” O olhar de Ben foi para Mal, sua
mão caiu do meu rosto. “Cara.”
“Você não,” Mal disse, sua voz baixa e letal enquanto a tensão na
sala virou para uma coisa bem pior.
“Acalme-se.”
“Eu te disse para ficar longe dela. Não disse? Ela é a irmã da
minha garota pelo amor de Cristo.”
Ben se ergueu. “Eu posso explicar.”
“Merda,” David murmurou.
“Não. Não, você não pode, Benny. Eu te pedi para deixa-la em paz,
porra. Você me prometeu que ela estava fora dos limites.”
Atrás de Ben, David Ferris ficou de pé, assim como Jimmy no final
da mesa. Tudo isso aconteceu muito rápido.
A acompanhante de Ben, Sasha, a dançarina burlesca de cabelo
azul, pareceu entender finalmente a tempestade de merda que ela
anunciou. Talvez ela não fosse tão vidente assim. “Nós deveríamos ir.
Ben?”
Ele nem ao menos olhou para ela, seu olhar estava colado em
Mal.
“Você é como um irmão para mim, Benny. Um dos meus amigos
mais próximos. Mas agora ela é minha irmãzinha. Me diga que você não
fez isso.”
“Mal, cara –”
“Não depois de você ter me dado a sua palavra. Você não faria
isso, não comigo.”
“Parceiro, acalme-se,” David disse, se movendo para tentar ficar
entre os dois. “Vamos falar sobre isso.”
Ben era quase uma cabeça mais alto que Mal, definitivamente
maior, mais forte. Isso não importava. Com um grito de batalha, Mal se
lançou em direção ao homem. Eles caíram juntos no chão, rolando e
lutando, punhos voando. Foi uma bagunça. Eu fiquei de pé, a boca
aberta. Alguém gritou, uma mulher. O cheiro acobreado de sangue
pairou no ar e a urgência de vomitar foi quase demais, mas não tinha
tempo para isso.
“Não!” eu gritei. “Não, por favor.”
Eu fiz isso, então eu teria que consertar isso. Eu coloquei um
joelho na mesa antes de mãos prenderem os meus braços, me
segurando não importando o quanto eu lutasse.
“Mal, não!”
David e Jimmy tiraram Mal de cima de Ben, arrastando o homem
lutando para o outro lado da sala.
“Eu vou te matar, porra,” Mal gritou, seu rosto uma mistura de
vermelhos de fúria e sangue. “Me soltem!”
Mais sangue caia do nariz de Ben, traçando uma trilha para o seu
queixo. Mas ele não fez nada para para-lo. Lentamente, o homem
grande ficou de pé, e o olhar em seu rosto me partiu em duas.
“Você disse que não iria atrás dela.”
“Ele não foi,” eu atirei, ainda de pé com um joelho na mesa e as
mãos de Anne nos meus braços. “Ele não queria nada comigo. Eu o
persegui. Foi tudo eu. Eu sinto muito.”
O silêncio caiu e eu estava rodeada por rostos perplexos. E um
par de ensanguentados.
“Eu praticamente o persegui. Ele nunca teve uma chance.”
“O quê?” Mal fez uma careta, uma pálpebra inchando a um ritmo
alarmante.
“É minha culpa, não de Ben. Fui eu que fiz isso.”
“Liz.” Com um suspiro pesado, Ben baixou a cabeça.
Os dedos nos meus braços deram um pequeno puxão. Eu me virei
para olhar a minha irmã.
“Me explique isso.”
CAPÍTULO UM
QUATRO MESES ATRÁS
***
***
Ben: Não tem ninguém para fazer um som e o cenário musical da sua
cidade é uma merda nas segundas.
Lizzy: Nunca. Tente o The Pigeon. Um amigo vai para as suas sessões
livres.
Ben: Eu estou lá. :)
Lizzy: ===V=^=={@}
Ben: Outro teste psicológico?
Lizzy: Não. É uma rosa. Eu trabalhei nela a manhã inteira.
Lizzy: Bem... por uns minutos entre as aulas.
Ben: Linda.
Lizzy: :) Por que nós não tomamos um café?
Lizzy: Desculpa eu perdi a sua ligação mais cedo. Boa sorte com o seu
encontro com a Lena essa noite.
Lizzy: Na verdade, isso é mentira. Eu não quis dizer nada disso.
Lizzy: Sobre o seu encontro. Não sobre ter perdido a sua ligação.
Lizzy: Agora eu estou me sentindo culpada porque a Lena é legal pra
cacete. Eu vou parar de agir feito louca e ir encontrar um amigo no
Steel. É isso.
***
***
***
“Não.”
“O que você quer dizer com não?” Anne perguntou, o rosto
incrédulo.
“Não. Eu não vou explicar o que aconteceu entre eu e Ben para
você.” Ela apenas piscou.
“É pessoal.” Eu fiquei erguida, apesar de me sentir a cinco
centímetros do chão. “Eu só quero que você saiba que eu o persegui,
não o contrário. Eu tinha sentimentos por ele e eu agi com base neles.
Fim da história.”
Então eu acho que eu explicaria o que aconteceu entre nós. Ao
menos um lado da triste história. Esperemos que o suficiente para
salvar a banda. Bom Deus, o meu orgulho estava em frangalhos, lá no
chão.
Mal não me olhava nos olhos, e o nariz de Ben ainda estava
sangrando. Incrível. Que bagunça. Todo o jantar tinha degenerado para
uma bagunça de sangue espalhado, briga do rock’n’roll, múltiplo-
anúncio-de-bebês. Minha culpa. Eu deveria ter lidado com isso de outra
forma. Não que eu tivesse alguma ideia de como eu faria isso, mas
mesmo assim. Sem dúvida alguma ideia genial iria bater às duas da
manhã. Todos os meus novos amigos e família se reuniram para
assistir a explosão.
Merda.
“Eu sinto muito,” eu disse e segui para a porta. Eu peguei o meu
casaco e saí.
***
Um barulho de batida.
Eu abri uma pálpebra. Na escuridão o alarme marcava 3:18 da
manhã em um verde brilhante. O que diabos? A batida continuou,
seguido pelo som de vozes abafadas.
Uma era alta e agressiva, a outra muito mais calma. Eu me
levantei e acendi a luz da sala, tropeçando para a porta da sala. Quem
quer que fosse apenas teria que me ver de meias, moletom velho e uma
camiseta muito grande. Longe do calor da cama, arrepios cobriam os
meus braços.
“Liz?” uma voz familiarmente áspera ordenou. “Abra a porta.”
Eu fiz como o ordenado, bocejando e esfregando os meus olhos
ao mesmo tempo.
“Uau. Você está uma bagunça.”
“É,” Ben disse, oscilando ligeiramente.
Ele ficou de pé na maior parte por causa da ajuda de David, um
braço grande jogado sobre os ombros do outro homem. O cabelo caía
pelo seu rosto, combinado com a barba meio que parecia uma cruza do
pé grande com o Primo It. Através das mechas escuras, olhos
vermelhos olhavam para mim. Oh, e antes que eu esqueça, ele também
fedia como se ele tivesse tomado banho em um barril de cerveja,
usando um sabonete com essência de Whisky. Adorável.
“Desculpe por isso,” o guitarrista disse, meio que arrastando Ben
pelo apartamento. “Ele insistiu em vir aqui.”
“Tudo bem.”
“No sofá?” David Perguntou, o rosto enrugado pelo esforço.
“Ah, tem que ser na cama, por favor. Ele é grande demais para o
sofá.”
“Seria bom se o seu estúpido rabo acordasse no chão.” David
suspirou.
“Deixa eu ajudar.” Eu escorreguei sob o outro braço de Ben,
tentando levar um pouco do seu peso. Cristo, o homem poderia
envergonhar um urso no departamento de massa muscular.
“Hey, docinho,” o gigante bêbado disso.
“Oi, Ben.” Eu agarrei a sua mão, segurando firme. “Como está se
sentindo?”
“Ótimo.” Ele riu.
“Eu vou primeiro,” David disse, guiando nós três de lado para que
pudéssemos passar pela porta do meu quarto.
“Okay. Vá devagar.”
“Tá.”
Operação Arrastar o Filhinho de Papai Bêbado para a Cama foi
um sucesso. Exceto quando Ben meio que tropeçou na metade do
caminho. Ele foi para frente, sua testa batendo no umbral. Eu juro que
eu senti a estrutura sacudir. Definitivamente tinha um amassado na
moldura de madeira.
“Ai,” ele disse, meio que contemplativamente.
David só riu.
“Merda. Você está bem?” eu perguntei, tentando puxar o cabelo
de sobre o seu rosto para ver, enquanto tentava mantê-lo para cima e
esperançosamente a salvo de qualquer dano. “Ben?”
“Ele está bem. O cara tem a cabeça mais dura que eu já vi. Uma
vez quando éramos crianças nós fomos apedrejados em cima do
telhado da minha casa. Ben caminhou direto pela borda. Nós
estávamos todos pirando, mas na hora que chegamos lá embaixo ele já
tinha subido na bicicleta e ido para casa. O grande idiota é basicamente
indestrutível.”
David nos direcionou para a lateral da cama. “Okay, pode solta-
lo.”
Eu soltei, e o pai do meu filho ainda não nascido foi de cara no
colchão. Ao menos foi um pouso macio. Ainda assim, ele ficou deitado
completamente imóvel, sem contar o movimento das molas. Deus, eu
espero que não o tenhamos matado acidentalmente. Se nós tivéssemos,
ao menos a negligência não tinha sido intencional.
Eu agarrei um dos seus tênis e o sacudi. “Ben, você ainda está
respirando?”
Um resmungo do homem na cama. Nada mal, valia como sinal de
vida.
“Não se preocupe,” David disse. “Ele está bem. Apenas o deixe
dormir.”
Eu assenti, e ao mesmo tempo franzindo o cenho.
“Você está bem com isso?” David perguntou, as mãos nos
quadris. “Eu posso enviar Sam aqui se você quiser. Ele está acabando
de cuidar de Mal pelo que eu ouvi.”
“Não precisa, obrigada. Ele está bem? Mal?”
Seu olhar amaciou. “Desmaiou como esse aqui, aparentemente.”
Sério, que bagunça. Anne e Mal provavelmente nunca mais
falarão comigo novamente. Bem, Anne iria, mas ela era minha irmã,
então ela teria que me perdoar, eventualmente. Mal era uma situação
completamente diferente. O pensamento de perder sua boa opinião e a
sua afeição fácil doeu profundamente. Consequências eram uma vaca.
Realisticamente, entretanto, eu não poderia me imaginar fazendo
qualquer coisa diferente mesmo sabendo que Mal e Anne ficariam
putos. Quer dizer, eu já sabia disso e nem por isso eu parei. Poucos
amantes azarados e mais adultos deveriam ser permitidos a sair com
quem eles quisessem. Talvez se eu soubesse que a noite iria resultar no
grão de feijão... eu não sei. Só tinha uma coisa que eu tinha certeza:
sexo nada mais era que caos e confusão. Era oficial.
Eu esfreguei os meus olhos. “Você deve me odiar.”
Dave franziu o cenho. “O quê? Por quê?”
“Por causar de todo esse problema.” A vontade de mexer os
braços em derrota foi enorme, mas eu resisti. Por agora. Em vez disso,
eu me ocupei tirando os sapatos de Ben dos seus pés. De jeito nenhum
eles entrariam em contato com os meus lençóis.
“Eu presumo que você não precisou apontar uma arma para a
cabeça de Ben para que ele transasse com você?” O cara me observou
sem piscar, o rosto incrivelmente sério.
“Um, não.”
David deu de ombros. “Aí está.”
“Isso não é ter uma visão um pouco simples demais da situação?”
Ele sorriu. “Na minha experiência, essas merdas são muito mais
simples quando você aceita. E quando isso tem a ver com o coração,
você decide o que é importante e você fica bem. Simples. Ben quis estar
aqui. Não pense que eu não tentei faze-lo mudar de ideia. O filho da
mãe insistiu.”
Talvez. “Imagino o que a nova namorada dele iria achar da sua
teoria.”
“É.” Ele estremeceu, sua boca aberta em uma dor imaginária. “Eu
vou deixar isso para vocês dois resolverem. Mas tente não se estressar.
Pode não ser bom para o Ben Junior.”
“Certo.” Eu revirei os olhos e joguei o tênis de Ben no chão. “Mas
como isso vai afetar a banda, com os dois brigando?”
Levou um tempão para ele responder. “Eu sinceramente não sei.”
Porra.
“Boa noite. Eu vou trancar a porta quando sair.” Ele levantou
uma mão em saudação. “Ligue para Ev se você precisar de alguma
coisa.”
“Obrigada, David.”
A porta da frente se fechou atrás dele, me deixando sozinha com
Ben. Ele estava desmaiado ao longo da minha cama queen size. Ben
estava na minha cama de verdade.
Puta merda. Eu ainda não sabia o que fazer com essa informação.
Uma pena que não tinha nada além de caixas e bagunça no quarto
extra. Não que eu não o quisesse perto. Meu coração não era tão
sensível. Já era tempo de eu começar a tomar decisões seguras quando
tinha a ver com ele. Mesmo no passado.
“Hey,” eu me deitei no colchão sacudindo a perna dele. “Role para
lá.”
Um grunhido.
“Vamos lá, garotão. Se mova. Você está ocupando a cama toda.”
Murmuro incoerente.
Isso não estava funcionando, e de jeito nenhum eu iria dormir no
sofá. Eu tirei uma meia e dei um puxão no seu dedão.
“Ben. Acorda.”
Em câmera lenta, ele se agitou, levantando a cabeça desgrenhada
e olhando em volta.
“Role para lá.”
“O qu –” ele se virou, se mexendo como foi solicitado. Ele piscou e
sorriu e pareceu descontente com o mundo. Uma linha vermelha
irregular dividia a sua testa. Tanto faz o que David tenha dito, aquilo
tinha que estar doendo. “Lizzy?”
“Acertou de primeira.”
“Como eu cheguei aqui?”
“David acabou de te trazer, lembra?”
Ele coçou a barba. “Uh. Okay.”
“Você precisa se mover, você está ocupando todo o quarto.”
Confuso, ele se apoiou nos cotovelos e olhou em volta. “Essa é a
sua cama?”
“Sim.”
“Nós fizemos…” ele levantou uma sobrancelha sugestivamente.
“Não, eu já aprendi a minha lição, muito obrigada.”
“Tem certeza?” ele me deu um sorriso vacilante. “Poderia ser
divertido.”
“É, parece que você teve diversão o suficiente para nós dois essa
noite, parceiro.”
“Talvez.” Ele contemplou o algodão fino da minha camisa por um
bom tempo, um canto da sua boca se movendo para cima.
“Hey, você não está usando soutien.”
“Cala a boca e se mova, Ben.”
Um grunhido. “Tudo bem.”
Levou o que pareceu uma eternidade para ele torcer o corpo e
rolar e finalmente colocar a sua cabeça enorme no travesseiro. No meu
lado favorito, maldição. Tanto faz. Eu deitei de costas ao lado dele,
mantendo uma distância legal, divertida e celibatária entre nossos
corpos só no caso de ele decidir tentar e conseguir. Dormir mais seria
muito bom.
Para cultivar o grão de feijão, eu precisava descansar de verdade.
Minhas pernas estavam pesadas, letárgicas, minha cabeça cheia de
merda.
“Nós poderíamos nos abraçar,” ele sugeriu, as palavras se
arrastando e borrando na ideia bêbada idiota. Cara, se ele estivesse
mais um pouquinho sóbrio eu estaria em cima dele. Um abraço agora,
me deixando saber que tudo ficaria bem, parecia sublime. Um desejo
bobo e infantil, eu sei. As coisas já eram complicadas o bastante. “Eu
não tentaria nada, juro.”
“Boa dupla negativa. Não, Ben.”
Um gemido de frustração.
“Vai dormir.”
O mundo parecia parado, quase perfeitamente quente. Um carro
passou do lado de fora e o vento soprava pelo prédio. Todo mundo
deveria estar adormecido a essa hora. Eu estudei a marca de água no
teto, as sombras lançadas pelo velho abajur no meu criado mudo. Por
alguma razão, estar sozinha com ele na escuridão parecia perigoso
demais. A luz poderia ficar acesa.
“Eu vou ser pai,” ele disse, os olhos fechados.
Todo o meu corpo ficou tenso instantaneamente. “Foi o que eu
ouvi.”
“Não tinha planejado ter filhos.”
“Você não tinha?”
“Não.”
Bêbado ou não, ele soava tão preciso, tão certo. Foi como uma
adaga no meu coração, a dor era esmagadora. Doía respirar. “Nem
mesmo quando você fosse um pouco mais velho?”
Um balançar forte da cabeça em negativa.
Bem.
Eu não sabia o que dizer. Minha garganta se fechou e os meus
olhos arderam. Ele tinha menos escolha em se tornar um pai do que eu.
Nós dois fomos jogados nisso, e tinham outros planos além dois meus
sendo interrompidos. Ainda assim, não era o corpo dele que estava
sendo implodido, para todos os efeitos. Não que eu não tivesse a opção
de acabar com a gravidez. Eu podia fazer isso, mas eu não queria. Meu
coração tinha decidido e não tinha volta. Ainda assim, era difícil não
ficar amargurada e se sentir traída com o anúncio dele. Eu nem ao
menos tinha o luxo de estar apta a ficar cega pela bebida. E acredite em
mim, lidar com tudo isso sóbria era um saco. Minha parte racional
cuspiu tantas desculpas plausíveis e razoáveis para ele – ele estava
surpreso, ele estava bêbado, dê uma chance a ele de pensar nas coisas,
bla bla bla.
Mas que tudo isso se foda. Que ele se foda.
Eu meio que já esperava o pior, estar nessa sozinha. Agora eu
sabia. Ele já tinha me desapontado duas vezes, isso não era uma
surpresa. Nada tinha mudado, nada mesmo. Eu deslizei a mão na
minha barriga, espalhando os meus dedos sobre o monte suave que
estava ali. Deve ter sido só a minha imaginação, mas eu podia senti-la
se formando lá, crescendo. Nós ficaríamos bem. Nós iríamos lidar com
isso.
“Eu não queria casar,” ele continuou. “E crianças, elas precisam
de estabilidade e essas merdas. Tempo, energia, todas essas coisas.”
“Verdade.” Minha voz soou vazia, um eco sem emoção.
Ao menos eu tinha o apartamento pago por um futuro próximo.
Reece poderia sem dúvida me usar mais na loja. Eu tinha sorte.
Provavelmente seria melhor se eu saísse da faculdade e começasse a
economizar. Dado o número de dias que eu tinha perdido aula por
causa do enjoo matinal, minhas notas não iriam subir de qualquer
forma. Eu engoli em seco.
“Eu gosto da minha vida do jeito que ela é,” ele disse, a voz se
enrolava.
“É, eu também.” Eu dei um tapinha na minha barriga. “Me
desculpe, Bean.” (NT. Na verdade, a Lizzy chama o feto de Bean, traduzi
como grão de feijão anteriormente, mas já que virou um apelido,
manterei Bean (Feijão)
“Gosto da minha liberdade. Poder pular em um avião e ir fazer
música com um amigo ou tocar no seu novo álbum. As coisas eram
perfeitas do jeito que estavam.”
“Hmm.”
“Eu não poderia ficar longe de você.”
“Por que não?” eu perguntei, honestamente curiosa.
“Eu não sei. Você só... você ficava na minha cabeça.”
“E outras mulher não ficavam?”
“Não como você.”
“Não?” Possivelmente o menino bêbado estava de volta querendo
sexo. Já que o meu coração ficava estúpido no minuto que ele aparecia,
era difícil de dizer.
Ele expirou forte. “Eu queria você, mas... você era minha amiga
também. Quer dizer, minha amiga de verdade. Você não queria nada
além de mim. Falar comigo, passar tempo...”
Silêncio.
“Eu sabia que você queria mais, mas você não insistia. Eu senti
sua falta quando você se foi e eu não podia falar merda com você, falar
com você sobre as coisas.”
Minha vez de suspirar.
“Liz?”
“Sim?”
“O que nós vamos fazer?” ele pareceu quase com medo.
Eu desisti e rolei para o lado, tudo para vê-lo melhor. Se ao
menos o perfil dele fosse mais feio. Em vez disso, o nariz dominante e
os lábios macios pareciam quase majestosos de alguma forma. Filho da
mãe. Eu me aproximei, o estudando. Pálpebras fechadas, os lábios
selados. A sua testa tinha suavizado com o repouso, a curva
pronunciada das suas maçãs do rosto. Eu nunca tinha realmente me
cansado de olhar para ele. Todos os velhos sentimentos passaram por
mim, só que agora tinha mais. Muito mais. Um pedacinho dele e meu
estava crescendo dentro do meu corpo, criando uma conexão
permanente entre nós. Isso era meio que aterrorizante. Eu imaginava
se teria seus olhos ou a sua boca.
O quarto permaneceu em silêncio.
“Ben?”
Eu esperei, mas ele não disse mais nada, sua respiração caiu num
ritmo padrão e profundo. Então o ronco começou. Eu recuei de
surpresa. Puta que pariu. Ele tem que estar de sacanagem. Eu cobri a
minha cabeça com o travesseiro, resistindo a tentação de sufoca-lo com
ele. Uma motosserra duelando até a morte seria mais silencioso que a
comoção que estava saindo pela sua região nasal.
“Ben,” eu gritei no travesseiro, dando um grito ou dois de
frustração, e mais algumas lágrimas.
Esse cara e eu, nós estávamos condenados desde o início.
***
***
***
Eu ainda estava no banheiro, arrumando o meu cabelo e
aplicando um pouco de corretivo e rímel para melhorar aquela coisa de
brilho, quando eu ouvi Ben e Sam conversando na sala. Não que eu
quisesse ouvir. Só meio que aconteceu.
“Com Mal do jeito que ele é, a banda já está em xeque,” Ben disse.
“Eu só não tenho certeza se deveríamos adiciona-la a mistura.”
Espera, eles estavam falando sobre mim?
Mas eu basicamente já estava vivendo e viajando com todo
mundo. Isso não fazia sentido.
“Eu amo a Martha, mas todos sabemos como ela é,” Ben
continuou.
“As coisas estão mais estáveis agora. Talvez seja bom para ela,”
Sam disse. “Além disso, ela não vai conseguir se recompor lá por conta
própria, agindo como a rainha das festas de Nova Iorque e queimando
tanto dinheiro.”
“Eu não sei.”
Sam fez um som de humph. “Ela ainda cuida dos papéis de vez em
quando. Da perspectiva de segurança, seria mais fácil ter todo mundo
na mesma órbita, se não debaixo de um teto. As notícias sobre a
gravidez irão sair eventualmente. Seria bom manter todo mundo perto.
Esse é o meu único ponto.”
“Tem certeza que a sua preocupação com Martha não é mais
pessoal que isso?”
“Não sei sobre o que você está falando sr. Nicholson.”
Eu vaguei naquela direção, curiosa, interrompendo uma
competição de encarar muito masculina. “Oi, meninos. Problemas?”
Ben sacudiu a cabeça. “Para que servem as irmãs se não para
foder com a sua vida de vez em quando, não é?”
“Apenas pense nisso.” Sam deu um tapinha no ombro dele, indo
em direção a porta. “Até mais tarde, senhorita Rollins.”
“Tchau.” Eu me virei para o meu namorado, dei um puxão
carinhoso em sua camisa, e o puxei para perto para um beijo.
“Alguma coisa que precisemos conversar?”
“Não.” Ele me deu um sorriso suave e um beijo ainda mais suave.
Seguido por uma batida calorosa na bunda. “Vá fazer as suas coisas de
menina. Eu vou encontrar Jim para uma corrida.”
Eu tentei um movimento na sua bunda, mas perdi por quase uma
milha. “É, é melhor você correr, camarada.”
Ele riu todo o caminho para a porta. Eu segurei o sorriso besta no
meu rosto pelo mesmo tempo.
***
***
***
Os bastidores não tinham mudado muito. Várias pessoas
ocupadas e equipamentos. Sem rebuliço nós passamos pela segurança,
um dos homens de Sam aparecendo as minhas costas. Ninguém nos
questionou uma vez que ele estava lá. Vaughan se encarregou da minha
bagagem – mais no caso eu tentei pega-la mais para ser útil, eu acho.
Eu nunca imaginei estar nessa posição novamente – ter acesso a todas
as áreas, ser escoltada pelos corredores e pelas escadas para o lado do
palco. Eu não era mais uma namorada. Eu não era nada.
Então do que diabos isso se tratava? A banda estava tocando
“Last Back,” um hit do próximo álbum. Anne, Ev e Lena estavam do
outro lado do palco, muito estranho. Eu estava sozinha, exceto por uns
caras do som e Pam, a fotógrafa da turnê. Ela era uma mulher legal,
casada com Tyler, um dos engenheiros de som. Eles estão com a banda
há anos.
Quando Anne me viu, ela inclinou a cabeça com curiosidade, me
dando um aceno. Eu acenei de volt, mas fiquei parada. A música
começou com um crescente de explodir os ouvidos e terminou com um
staccato frenético. Um ruído alto me estremeceu dos tornozelos a
coluna. Os fãs foram a loucura.
“Senhoras e senhores,” Jimmy ronronou, no seu modo de líder, de
pé em frente e ao centro do palco. Vestido de calças pretas com uma
camisa de botões preta, os punhos estavam enrolados revelando um
pouco das suas tatuagens. “Temos uma coisa especial para vocês essa
noite.”
Vários gritos vieram do estádio. Eu cobri as minhas orelhas, mas
era muito tarde. Puta merda. Dentro da minha barriga, a sensação de
aperto voltou.
Huh.
“Benny-boy, o nosso baixista, tem uma coisinha que ele gostaria
de dizer.”
E eu estava tentando muito não olhar para ele. Meu rosto estava
frágil, meus olhos quentes e duros. Ele entregou o seu baixo favorito, o
Gibson Thunderbird, para um roadie. Seu olhar desviou de mim
enquanto ele ia para o microfone. Ele sabia que eu estava lá. Mesmo na
escuridão fora dos holofotes, ele me viu.
Jimmy deu um aperto em seu ombro e então um passo para trás.
Ben moveu a mão para cima para pegar o microfone, mas seus olhos
estavam nos meus, seu rosto de lado para o público. Eu não deveria ter
vindo. O suor escorria das minhas mãos, de dentro dos meus punhos
cerrados. Muito mais do que o ar da noite pudesse dar conta. Tudo
ficaria bem. Isso não é nada especial, com certeza. Somente uma
variação estranha de uma despedida de um astro do rock. Esses caras,
eles sempre fazem as coisas grandes. Talvez seja uma canção de me-
desculpa-que-tudo-foi-a-merda para mim. Que doce.
Ben usava as típicas botas pretas, jeans e a velha camisa cinza
com o nome de uma banda. Seu uniforme de sempre. Cara, se ele ao
menos parasse de me encarar. Era como se ele me mantivesse imóvel.
Eu não podia me mexer, não podia respirar.
“Hey,” ele disse, sua voz enchendo o ar da noite, no entanto
ampliada mais de mil vezes. Mais uma vez o público enlouqueceu.
Alguém começou a cantar o seu nome, gritando eu te amos e coisas
assim. Quem no inferno poderia competir com isso? Cambada de
aduladores. A adoração de um público dessa magnitude. Eu nunca tive
uma chance.
“Eu sei que tiveram um monte de merdas nos jornais
ultimamente, fofocas sobre eu virar pai.” O cabelo escuro longo do topo
da sua cabeça tinha escapado do estilo que ele sempre usava. E caia
pelo seu rosto, mechas agarrando na sua barba. “Eu queria acertar as
coisas essa noite.”
Mais entusiasmo do público. Confusão geral para mim. Isso tudo
poderia ser feito sem a minha presença. Facilmente. Inferno, ele
poderia ter uma coletiva com a imprensa amanhã, quando eu estivesse
do outro lado do país, lambendo as minhas feridas e reconstruindo a
minha vida. Por que isso? Minhas emoções já tinham sido moídas o
bastante. Eu me virei para sair, mas Vaughan segurou o meu braço, me
prendendo.
“Dê mais um minuto,” ele disse.
“Oh pelo amor de Deus porra.” Eu me virei, não segurando o meu
temperamento. Nem ao menos me desculpando por ter xingado. A
porra do Ben Nicholson. Ele não poderia apenas ir se foder, poderia?
Sim ele poderia caralho. Nenhuma única porra de outra palavra
poderia ser usada para englobar todo o processo.
Eu olhei para trás para encontra-lo olhando direto para mim, os
olhos escuros me queimando, apesar da distância. A porra de um
minuto, é tudo o que ele vai ter. E eu tenho a maldita certeza que pela
forma dos meus lábios ele sabia disso também.
“Eu te amo, Lizzy,” ele disse.
Tudo parou. Era como se o mundo estivesse segurando a
respiração. Eu sei que eu estava, atordoada.
“Eu fui a porra de um idiota por não te dizer antes.” Sua mão
apertou o microfone, as linhas de tensão estavam fundas em seu rosto.
“Merda estava tudo indo tão rápido e eu... eu fiquei assustado.”
Falando sobre fazer uma declaração pública. Puta merda. O
momento de silêncio se dissolveu, e a gritaria e os assovios do público
quase engoliram as suas palavras. Enquanto eu, eu mal podia acreditar
nos meus ouvidos.
“Você pode ter o meu tempo, e você pode ter a minha atenção,”
ele disse, as palavras lentas e deliberadas. “Docinho, você pode ter
qualquer porra que quiser, eu prometo. O que você precisar. Nada mais
de segurar, nada mais de medo. E se você ainda sentir que você tem
que pegar aquele voo essa noite, então nós vamos fazer isso juntos.”
Eu respirei fundo, como se o meu corpo precisasse urgentemente
disso. Os pontos brancos recuaram e eu o vi claramente mais uma vez,
de pé em frente a mim, me oferecendo tudo. Eu balançava ligeiramente,
a sensação de aperto por dentro mais forte dessa vez, mais definitiva.
Vaughan e o cara da segurança cada um agarrou um braço, me
levantando.
Ben atravessou o palco como um raio na minha direção, me
agarrando cuidadosamente pela cintura e me colocando no palco, sob o
calor das luzes brilhantes. Eu podia ouvir o público gritar, mas eles
pareciam distantes, em outro mundo.
“O que está errado?” Ben perguntou, os olhos em pânico.
“Ela está mexendo,” eu disse, uma mão em seu ombro e a outra
na minha barriga. “Ela está mexendo, Ben. Eu a senti mexer. Nosso
bebê.”
Ele enterrou o rosto no meu cabelo, me mantendo perto,
segurando o meu peso. “Eu não sabia o que era isso antes, mas é ela.
Não é incrível?”
“É, isso é bárbaro.”
“Sua voz estava tão alta, ela deve ter ouvido e reconhecido.” Eu
sorri para ele com espanto.
Ele me tirou do chão, me segurando no alto e me levando em
direção ao centro do palco. “Isso é ótimo, Liz. De verdade. Mas,
docinho, eu preciso saber se você me ouviu também.”
Lentamente, eu assenti, colocando a palma da minha mão em seu
rosto, contra a aspereza da sua barba. “Eu ouvi você.”
“E o que você diz?”
Eu tirei um minuto, pensando sobre isso. Decisões grandes, de
mudar a vida merecem ao menos um segundo de contemplação. “Nós
não precisamos pegar aquele avião.”
“Okay,” ele expirou com força, sorrindo.
“E eu te amo também.”
Seu sorriso esticou sua barba.
“Eu sei que eu vou foder com as coisas de vez em quando, mas
apenas fique comigo, okay? Eu não quero fazer merda sem você. Eu
não quero estar nos lugares que você não está. Não é mais quem eu
sou.”
“Nós vamos trabalhar nisso.”
“É. Nós vamos.” Ele cobriu meus lábios com os dele, me beijando
com abandono.
“Todo mundo,” Ben disse no microfone, sua voz mais uma vez
enchendo o estádio. “Essa é a minha garota, Liz. Digam oi. Nós vamos
ter um bebê.”
E foi isso.
EPÍLOGO
“Tire! Isso! De! Mim!”
“Okay, docinho,” Ben disse, segurando a minha mão suada e
tensa. “Apenas respire.”
“Não me chame de docinho. Foi o seu pênis que fez isso.”
Dra. Peer, a obstetra, olhou para mim por cima da borda da sua
máscara facial, os olhos nada impressionados com o drama. Imbecil.
Não era ela que estava deitada na cama com as penas para cima nos
ganchos, com a vagina exposta para a porra do mundo todo ver, era?
Não. Não, ela não estava. Eu estava. E toda essa coisa de trabalho de
parto já estava rolando há vinte e uma horas agora, então alguma coisa
realmente precisava ser feita o quanto antes. Quando tinham feito
quinze horas, eu desisti e pedi por uma peridural. A melhor coisa de
todos os tempos. Mas agora o efeito estava desaparecendo. Minha
felicidade já tinha desaparecido há muito tempo.
“Você pode fazer isso, eu sei que pode,” disse a incrível
enfermeira da maternidade, Amy.
“Você já fez isso?” Eu rosnei.
“Bem... não.”
Eu deixei os meus olhos responderem.
A mulher deu um passo para trás.
“Calma,” Anne disse, bravamente segurando a minha outra mão.
“Liz, a cabeça do seu bebê parece estar alojada no canal,” a dra.
Peer disse. “Ela não está mostrando nenhum sinal de angústia ainda.
Então nós poderemos continuar como estamos fazendo, e esperar para
empurra-la do modo antigo, ou você pode nos deixar ajudar com uma
extração a vácuo.
“Eu li sobre isso.” Meus olhos ficaram no blip-blip-blip da tela
que monitorava os batimentos cardíacos do bebê.
“É perigoso?” Ben perguntou.
“Todo procedimento tem um risco, mas é mínimo. Geralmente a
cabeça da criança só vai ter um pequeno inchaço, alguma coisa como
uma bolsa de sangue, no topo da sua cabeça por uns dias. Nada mais.”
“O que você quer fazer, docinho? Quer continuar mais um
pouco?” Ele pegou um pano molhado e limpou o meu rosto encharcado
de suor.
“Eu estou tão cansada,” eu chorei. “Por que a sua cabeça é tão
grande? Se sua cabeça não fosse tão grande isso não estaria
acontecendo.”
“Desculpa,” ele murmurou. Pelas últimas catorze horas, Ben tinha
parado de tentar se defender. Provavelmente fosse melhor. Eu não
estava sendo razoável.
“Eu me sinto muito mal.” Eu chorei mais um pouco.
“Vai vir outra contração em breve,” Anne anunciou, olhando o
monitor.
“Srta. Rollins, por que nós não nos preparamos para a extração,
só no caso?” Perguntou a sempre tão calma Dra. Peer.
“Okay.” Mais um pouco de choro.
“Oh meu Deus do céu,” disse a voz da última pessoa na face da
terra que eu tinha o interesse em lidar nesse momento. “O quê está
acontecendo aqui? Você tem ideia do quanto isso é chato, ficar
esperando essa criança aparecer?”
“Martha, você não pode ficar aqui,” Ben disse entre dentes, dando
um olhar mortal para a sua irmã.
“Cai fora, cadela,” Anne disse, sempre tão eloquente.
A mulher vagou para o lado da minha cama, evitando a visão dos
batimentos da minha menina orgulhosamente na tela, com um olhar de
desgosto no rosto perfeito. “Liz. Cristo, você está uma bagunça.”
Ben apertou a sua mandíbula. “Martha –”
Ela colocou a mão no braço do irmão, olhando para ele. “Relaxa.
Eu tenho um papel importante aqui que todo mundo pode concordar
que eu estou apta a levar a cabo. Eu estou aqui para aguentar o abuso.
Acho que nesse momento você deve estar precisando de energia para
isso. E dado que eu podia ouvir os gritos dela da sala de espera...”
“Contração chegando,” Anne avisou novamente.
“Tira essa puta tensa do meu campo de visão,” eu disse.
“É o melhor que você consegue?” Martha bocejou tão
delicadamente. “Eu achei que você seria uma garotinha muito mal
humorada a essa altura.”
“Você é a pior pessoa para estar aqui.”
“Oh por favor, ela disse, sentando do meu lado e afagando o meu
ombro. “Você estava distribuindo xingamentos para Ben e Anne, e eles
são santos comparados a mim. Deixe sair.”
“Deus você é um saco.”
“Eu sei, eu estive sentada lá fora por horas, no meio das fraldas
fedorentas e do choro das anjinhas gêmeas de Jimmy. E se a sua filha
for um pouco como elas, pode me tirar da lista de babá.” Com as mãos
nos quadris, ela olhou me olhou de cima.
“Como se eu fosse permitir que a minha filha ficasse em qualquer
lugar perto de você sem supervisão,” eu rosnei.
“Mas os nomes são fofos. Lori e Jean. Muito mais legal do que o
que você escolheu. Eu realmente tenho pena dessa criança durante os
seus anos escolares.
“Porra, eu te odeio!” Eu gritei, e cada polegada minha se esticou,
caindo com as minhas últimas reservas de força, levando tudo de mim.
“Me diz alguma coisa que eu não saiba!”
“Você sabe a razão pela qual você pensou que eu nunca assinaria
aquele contrato?” Eu fiquei furiosa. “Porque você tem a miserável
condição de acreditar que o resto do mundo é interesseiro e egoísta
como você. Isso se chama projeção.”
“É mais do que isso,” ela disse. “Curta e grossa. Eu acho que você
vai dar uma boa psiquiatra afinal das contas.”
“Psicóloga!”
“Tanto faz,” ela deu de ombro. “Você pode pôr isso em qualquer
termo chique de faculdade que você quiser, mas você ainda não tem
nada pelo que eu ouvi dizer.”
“Sam está apaixonado por você, sua vaca idiota e indigna,” eu
grunhi.
Seu rosto ficou em branco. “O quê?”
“Se você fosse menos sem noção e auto-obcecada você teria
reparado há anos.”
“Empurra,” Anne disse, os dedos apertados na minha mão.
“Vamos lá, docinho,” Ben disse. “Você pode fazer isso.”
A Dra. Peer e Amy esperaram entre as minhas pernas abertas por
algum acontecimento. Todo mundo na porra da sala cantava na mesma
sintonia: empurra.
Mas foi Martha que fez o melhor para chegar no meu rosto, tendo
aparentemente se recobrado do choque. “Chega de moleza, Liz. Tire
essa criança de dentro de você. Agora.”
“Eu estou tentando!”
“Tente com mais força, sua preguiçosa! Empurra!” Ela gritou
atrás de mim. “Vamos lá!”
“Argh!” Minha pobre e inocente vulva se abriu terrível, horrível e
anormalmente. E então plop, o resto do corpo do meu bebê escorregou
para os braços da Dra. Peer. Um momento mais tarde, um choro muito
chateado encheu o ar, pequenos punhos de bebê batendo.
Meu bebê. Oh uau.
Eu deitei aliviada, apenas tentando recuperar o fôlego. Anne
estava chorando. Ben estava olhando para a nossa filha recém-nascida
maravilhado. Martha estava me dando um sorriso de satisfação. Vaca.
“Sabia que você só precisava de um pouco de motivação,” ela
disse, olhando as suas unhas perfeitas. “Raiva e ódio alimentados tem
sua utilidade, sabe?”
“Sem noção,” eu sussurrei para ela, tanto quanto a minha
completa falta de energia permitiam. Nós duas sorrimos. Eu realmente
não sei por quê.
O pediatra fez uma verificação rápida do nosso bebê enquanto o
pós-parto era executado. Oh uau é. Nunca mais. Nunca jamais.
Provavelmente.
“Senhoras, eu apresento a vocês Gibson Thunderbird Rollins-
Nicholson.” Ben carinhosamente colocou o meu bebê enrolado e
gritando nos meus braços.
“Hey, baby. Está tudo bem.” Oh meu Deus.
O calor dentro de mim, o amor puro me enchendo e entornando.
Ele se acalmou, o ruído estridente se transformando em um pequeno
eu-acabei-me-coloque-as-fraldas. Um pequeno nariz e uma pequena
boca, e dois olhos azuis puxados olhando para mim. Um pouquinho de
cabelo louro escuro. “Olhe para você. Você é maravilhoso.”
“Ele não é?” Ben disse, deixando Gibson envolver um dedo
minúsculo em volta de um dois seus muito maiores.
“Ele é um ele,” eu disse, um pouco assustada. “Uau.”
“Eu estava imaginando quando você ia entender isso.”
“E eu tinha tanta certeza que você seria uma menina.” Eu sacudi a
cabeça.
“Ele é perfeito.” Anne olhou para ele com absoluta adoração.
Estranho o bastante, Martha também. Eu nunca jamais imaginei
ver o seu rosto tão suave e afetado.
“Nós vamos dar a ele o nome do seu baixo favorito?” eu
perguntei.
“Se você não se importar.” Ben inclinou para frente, dando um
beijo na minha testa. “Bom trabalho, docinho. Você arrasou.”
“Desculpe eu estar tão infernal.”
Ele riu. “Não importa.”
“Gibson Thunderbird Rollins-Nicholson.” Eu acariciei com um
dedo a sua bochechinha suave e doce. “Você é amado.”
“Palavras mais verdadeiras nunca foram ditas,” Anne disse,
dando um apertão no meu ombro. “Nós vamos deixar vocês um pouco
sozinhos.”
“Certo. Até mais. Bebê legal.” Martha seguiu a minha irmã, as
sobrancelhas para baixo e um olhar pensativo no rosto. A boa médica e
a enfermeira tinham feito o mesmo. Obrigada Deus pelo silêncio. Para
pensar, depois de todos esses meses sendo cuidadosa com o meu
linguajar, tudo o que ele ouviu ao entrar no mundo foi profano. Oh
bem. Uns ganham, outros perdem.
“Eu amo você,” Ben disse, aninhando o meu rosto.
“Eu amo você também.” Eu me virei, beijando a ponta do seu
nariz. “Nós somos uma família agora.”
Ele sorriu. “Lizzy, você tem sido a minha família desde o dia que
eu te conheci. Minha melhor amiga. Minha amante. Você agora vai fazer
isso oficial e ser minha esposa também?”
Gibson começou a chorar, a pequena cabeça tentando virar e –
procurando alguma coisa para sugar, provavelmente. Deus, ele era
incrível. Tão lindo.
“Aqui.” Ben me ajudou a muda-lo de posição, abrindo o colarinho
da minha camisola para dar acesso aos meus seios. “Acho que eu vou
ter que compartilha-los por um tempo.”
“Um nobre sacrifício.”
Uma mão acariciando as costas do filho, e a outra amaciando a
bagunça do meu cabelo, Ben olhou para mim. “Você não respondeu a
minha pergunta. Você vai se casar comigo?
Eu sorri por entre lágrimas de felicidade. “Oh sim. Eu gostaria
muito disso.”