Você está na página 1de 5

Um estudo espectral e psicoacústico do glissando pianístico

Flávia Campos Cavalcanti1, Iracele Vera Lívero2 e José Fornari3


1
Departamento de Música / IA / UNICAMP. Rua Elis Regina, 50, Cidade universitária “Zeferino Vaz”,
Barão Geraldo, Campinas, SP, CEP: 13083-854, Brasil.
2
?
3
NICS / COCEN / UNICAMP. Núcleo Interdisciplinar de Comunicação Sonora:
Rua da Reitoria, 165 - Cidade Universitária "Zeferino Vaz”,Barão Geraldo, Campinas, SP,
CEP: 13083-872, Brasil.

flaviacavalcanti@hotmail.com.br, iracele.livero@gmail.com , tutifornari@gmail.com

RESUMO
Este trabalho tem por objetivo apresentar o glissando pianístico (efeito sonoro decorrente da passagem rápida
dos dedos pelas teclas do piano) sob um ponto de vista musical, espectral e psicoacústico. Será aqui abordada a
estrutura espectral das componentes em frequências sonoras e o processo de percepção deste material sonoro
pela audição. Apresenta-se aqui uma introdução ao glissando, seguido da metodologia que consta da análise
computacional da gravação de trechos musicais onde ocorrem os glissandi (plural de glissando), da Suíte para
piano a 4 mãos Ma mère l´oye (1910) de Maurice Ravel. Este trabalho pretende colaborar para a maior
compreensão musical e acústica do glissando, permitindo que o leitor obtenha maior conhecimento sobre este
recurso tão frequentemente utilizado em obras musicais.

1. INTRODUÇÃO também se adequam à esta situação instrumental e


musical. Dentre as várias definições, pode-se
Segundo Sadie (1994: p. 373) o termo musical
encontrar algumas que afirmam que o glissando não
glissando, refere-se, de um modo genérico, ao “efeito
precisa necessariamente obedecer à regra dos graus
obtido através de um deslizamento rápido sobre as
conjuntos. Segundo os dicionaristas Tomás Borba e
teclas ou cordas.” Já segundo Leipp (1971: p. 82),
Fernando Lopes Graça (1962, Vol. I: p.575), por
este seria “uma variação contínua de frequências
exemplo, o glissando é “a passagem rápida de um
entre os limites indicados pelas notas.” Tais
dedo por sobre as cordas de qualquer instrumento,
definições situam o glissando como um efeito
especialmente a harpa, na qual se obtém (sic), por
musical construído no âmbito de duas alturas pré-
esse processo, os mais excelentes efeitos”. Referem-
definidas: a nota inicial e a final. O espaço entre
se assim ao glissando, como um efeito musical que
essas duas alturas deve ser preenchido
teve sua origem específica num instrumento e que,
progressivamente, por graus conjuntos (por todas as
posteriormente, foi generalizado para todo e qualquer
notas, em intervalos de segunda). Há, entretanto,
instrumento ou voz.
diversas outras definições para este termo, que
Os tratados de instrumentação e orquestração, em uma escala pentatônica (escala formada por cinco
geral, costumam trazer comentários mais minuciosos notas espaçadas em dois intervalos consecutivos de
sobre o glissando, específicos para cada instrumento segunda maior e uma terça menor). Como se vê,
musical, visto tratar-se de um recurso disseminado na mesmo no piano o efeito obtido pode não ocorrer por
prática orquestral, tanto sob o ponto de vista técnico graus conjuntos.
quanto expressivo. Walter Piston descreve em
detalhes o uso do glissando, entre outros, para:
harpas, trompas, tímpanos, cordas (especialmente 2. GLISSANDO E PORTAMENTO
nos harmônicos naturais das cordas mais agudas),
trombone e, em especial, para o violino (PISTON, Alguns autores definem glissando e portamento
1978). como efeitos semelhantes, que podem ser executados
tanto nos instrumentos musicais como no canto: “O
No piano, quando o glissando é construído para as glissando é um efe it o musica l obti do por
t e c l a s b r a n c a s, o s i n t e r v a l o s e x e c u t a d o s instrumentos de cordas, sopro, teclado ou piano, e
correspondem às notas diatônicas da escala de Dó consiste em saltar de uma nota a outra com pouca ou
Maior, onde os únicos semitons presentes são: Mi nenhuma distinção dos sons intermediários, em uma
natural- Fá natural e Si natural- Dó natural. Quando o espécie de longo portamento.” (DOURADO, 2008:
efeito é construído para as teclas pretas, obtém-se p. 148). Também costuma-se definir o portamento
CAVALCANTI ET AL. GLISSANDO PIANÍSTICO

como “deslizamento”, segundo a etimologia usual Pagodes, compassos 54 – 59.


francesa (glisser). Nota-se que os termos musicais
glissando e portamento aparecem relacionados na O glissando pode ser utilizado em propostas
literatura, mas não são definidos como sinônimos, musicais diferentes, de acordo com o efeito desejado
como por exemplo em Sadie (1994: p. 373): “na voz, pelo compositor. Neste caso, entende-se a aplicação
no violino ou no trombone, tal efeito pode ser o de desse glissando como o encerramento de uma seção,
um aumento ou diminuição uniforme de altura (como assim como uma mudança de textura.
portamento) , mas para ser um autêntico glissando,
cada nota deve ser distinguível”. Assim, entende-se
aqui que o portamento consiste na passagem entre
4. ANÁLISE ESPECTRAL DO GLISSANDO
duas alturas, podendo-se ou não utilizar todas as
notas deste espaço escalar, enquanto que o glissando O espectrograma foi aqui utilizado pra evidenciar
consiste na execução de todas as notas possíveis os parciais (componentes em frequências) que
entre as duas alturas, “[...] de forma que cada nota constituem a amostra musical gravada ao piano
individual seja articulada, não importando a rapidez contendo um exemplo de glissando. O espectro deste
do ‘deslizamento’.” (SADIE, 1994: p. 373). trecho musical se apresenta como resultado das notas
fundamentais e seus parciais, assim como o tempo de
duração, a intensidade e a frequência destes. Sabe-se
3. ANÁLISE MUSICAL que o som do piano também possui componentes
aperiódicos, como os ataques e componentes
Neste trabalho, são utilizadas duas peças de aproximadamente ou quase-periódicos, como as
Maurice Ravel (1875-1937), compositor francês notas ou acordes sustentados. Por isso, o espectro dos
normalmente associado ao período musical sons do piano é contínuo e apresenta os picos das
impressionista, que compôs, em 1910, uma suíte com componentes em frequência relacionados, como os
cinco peças, intitulada M a m é r e l’oye. parciais harmônicos. Os sons inarmônicos, tais como
Primeiramente, apresenta-se a peça Laideronnette, os ruídos da gravação, também podem ser
Impératrice des Pagodes, que será utilizada para visualizados no espectrograma. A peça analisada
demonstração do glissando construído sobre uma pelo espectrograma é a Les entretiens de la Belle et
escala pentatônica, e depois, a peça Les entretiens de la Bêteii, que apresenta um Glissando na linha
de la Belle et de la Bête, que foi utilizada para superior da parte Primo, como está demonstrado na
gravação e análise espectral. A suíte é baseada em Figura 2:
histórias infantis de Charles Perrault, Madame d
´Aulnoy e Madame Leprince de Beaumont. Escrita
originalmente para piano a quatro mãos para duas
crianças, esta peça foi estreada no mesmo ano por
dois profissionais e ganhou um prêmio da Sociedade
Francesa de Composição. As cinco peças dessa suíte Figura 2 - Glissando. Ravel, Les entretiens de la Belle et
apresentam melodias modais e uso da forma de de la Bête, compassos 146 – 150.
dança, que são típicas do estilo de Ravel. O espectrograma resultante da gravação deste
A peça Laideronnette, Impératrice des Pagodesi é Glissando é mostrado na Figura 3. Este apresenta as
baseada num conto infantil de Madame d´Aulnoy, alturas definidas (notas musicais), bem como os
arquirival do mais famoso contista infantil francês da harmônicos superiores de cada nota, os sons
época, Charles Perrault. Esta peça, dividida em três inarmônicos das notas e os eventuais ruídos de
seções, tem como material o emprego da escala gravação. As alturas/notas musicais estão
pentatônica. Em alusão ao conto, Baião (2005: p. representadas pela linha ascendente do
129), relata que “[...] no piano Primo surge no espectrograma, onde podem ser vistas,
extremo agudo o desenho brilhante em arabescos e respectivamente, os inícios das notas que compõem
em legato, que muito bem poderia aludir aos esta escala: a partir da nota Si2 (f0 = 246,94 Hz) em
habitantes dos Pagodes, pessoas pequeninas feitas de direção à nota Fá6 (f0 = 2793,83 Hz), passando por
jóias, cristais e porcelanas.” todas as frequências correspondentes às
fundamentais das notas diatônicas da escala de Dó
No compasso 54, conduzindo à ultima seção, tem- maior.
se um glissando construído com o material escalar
pentatônico, que parte de Dó#4 em direção ao Dó#6,
como pode ser observado na Figura 1:

Figura 1 - Glissando. Ravel, Laideronnette, Impératrice des


CAVALCANTI ET AL. GLISSANDO PIANÍSTICO

unidade (no sentido que, ao ouvir um glissando em


andamento rápido, tem-se a impressão de se ouvir
um único som), onde não se pode detectar
exatamente cada nota, pelo contrário, ouve-se um
“escorregamento” de alturas e identifica-se apenas o
sentido, se ascendente ou descendente.
Estudos sobre percepção visual revelaram que
algumas princípios de agrupamento são universais e
inatos ao ser humano, conhecidos como “princípios
gestálticos da percepção”, que não se limitam
somente ao domínio visual, mas se aplicam a todas
as áreas perceptivas. Estes princípioes teriam sido
incorporados ao modo de operar do cérebro, para
solucionar os problemas perceptivos dos seres vivos.
(SLOBODA, 2008, p.204).
O fato de ouvir-se o glissando como uma entidade
sonora, identificando apenas a sua direcionalidade,
pode ser explicado pelos princípios gestálticos de
proximidade e pela “lei da boa continuidade”. A
proximidade influencia diretamente no processo de
Figura 3 - Espectrograma resultante da gravação do
agrupamento por alturas, mesmo quando as alturas
trecho musical da peça Les entretiens de la Belle et de la estão separadas por saltos, são ajustadas de acordo
Bête (duração da gravação: 4s). O retângulo número 1 com a sua proximidade intervalar e organizadas em
(meio, acima) demarca os inarmônicos e os retângulos duas melodias diferentes se for o caso, mas
número 2 (esquerda) e número 3 (direita) retratam os preservando a percepção contínua chamada de
ruídos de fundo da sala.
streaming. (in http://goo.gl/1Bg6Rw).
Os parciais harmônicos aparecem acima da linha
A “lei da boa continuidade” explica que há a
principal, com a frequência correspondente aos tendência em agrupar-se as alturas por sequências
múltiplos inteiros da frequência fundamental, tais escalares. Por exemplo, no caso de duas melodias
como: 2f0 , 3f0 e 4f0. O primeiro parcial deste trecho diferentes, ainda que uma nota musical esteja mais
musical localiza-se na frequência de 493,88Hz e próxima intervalarmente da primeira melodia, poderá
corresponde ao segundo harmônico da primeira nota ser assimilada à segunda melodia através da “lei da
da escala, que é Si 3 ( f0 =246,94Hz). Devido à boa continuidade”, isto é, pela maneira que o nosso
extensão das frequências descritas pelo eixo vertical, ouvido organiza as alturas procurando uma boa
continuidade sequecial. Neste caso, o princípio da
apenas os harmônicos de frequência igual ou inferior boa continuidade sobrepuja o princípio de
à 1800Hz podem ser visualizados neste proximidade. (SLOBODA, 2008, p. 209).
espectrograma. Nota-se que da metade para o fim do
gráfico aparecem listras no eixo horizontal. Esse fato No caso do glissando analisado espectralmente
neste trabalho, o fato das notas serem próximas em
ocorre devido à disposição das cordas no piano, que frequência facilita a percepção por “boa
não possuem abafadores para as notas musicais com continuação” (in http://goo.gl/1Bg6Rw).
frequências superiores a 1300 Hz e por isso ressoam
Este efeito ocorre devido ao tipo de articulação
livremente ao serem percutidas. Os sons inarmônicos utilizada para a execução do glissando pianístico. O
correspondem a todas as linhas que aparecem no toque utilizado para executar-se o piano, articulando
gráfico que não são correspondentes às frequências as notas, uma por uma, numa busca pela
múltiplas inteiras da fundamental, sendo que nesse transparência musical, é trocado pelo escorregar dos
espectrograma os parciais mais relevantes são os dedos, unhas ou até mesmo da parte inferior da
harmônicos, enquanto os inarmônicos aparecem em palma de mão, para que se obtenha maior agilidade
linhas mais sutis como pode ser visto abaixo da linha no movimento que produzirá o glissando. Dessa
forma, as notas não são individualmente distinguíveis
principal, no primeiro retângulo, referente ao âmbito e a sensação de continuidade e unidade se faz
de frequências correspondente a .f0=783Hz até presente através do mascaramento auditivo,
f0=1396Hz, aproximadamente. Os ruídos podem ser fenômeno sonoro e auditivo onde “o limiar de
observados nos retângulos 2 e 3 do espectrograma. audibilidade de um som é deslocado pela presença de
São representados por diversos pequenos pontos, e outro som” (NEPOMUCENO, 1994).
se referem às componentes em frequência do “ruído No mascaramento temporal a audibilidade de um
de fundo” da sala, que foram registrados pelo primeiro som é dificultada pela presença de um
gravador antes e depois da execução do glissando. segundo som quando ambos são próximos em tempo
ou altura, sendo que, o fenômeno ocorre mais
facilmente quando as frequências encontram-se
próximas uma da outra, mesmo que estejam em um
5. A PERCEPÇÃO AUDITIVA DO baixo nível de pressão sonora. Ou seja, o segundo
GLISSANDO som produzirá mascaramento em relação ao primeiro
som, ao elevar o limiar de audibilidade deste.
Embora seja uma sequência escalar, o glissando (NEPOMUCENO, 1994).
produz um efeito de continuidade e até mesmo de
CAVALCANTI ET AL. GLISSANDO PIANÍSTICO

De acordo com experimentos de Scharf (1970) e frequência da fundamental. “Dessa forma, efetua-se
outros autores, os tons graves têm um efeito de u m rastreamento da fundamental com relação ao
mascaramento sobre uma banda crítica de espectro que se faz objeto da escuta.” (MENEZES,
frequências mais extensa do que os tons agudos,
conforme disposto na Tabela 1: 2003: p. 111).
O cérebro não concede a mesma importância a
Tabela 1 – Exemplos da extensão do mascaramento dos todos os harmônicos percebidos, por deduzir a altura
tons musicais - adaptada por Scharf, 1970 (SLOBODA,
2008, p. 227). de um som composto a partir de modelos
Frequência Nota musical do Intervalo musical harmônicos. Nota-se, então, uma região dominante,
aproximada do tom mascarado aproximado de onde se situam harmônicos privilegiados pela
tom mascarado mascaramento
(Hz) percepção do cérebro. Segundo experimentos, essa
região se situa mais ou menos de 500 Hz a 2000 Hz,
110 A2 Oitava
sendo que a sensação de altura definida de um som é
220 A3 Quinta justa determinada principalmente pelos harmônicos que se
440 A4 Terça menor situam nesse âmbito dominante.
880 A5 Segunda maior
Para Schaefferiii, a massa tônica refere-se à
1660 A6 Segunda menor percepção de altura fixa e reconhecível dos
harmônicos e a massa complexa se relaciona à
Nota-se que o âmbito escalar em que se encontra o percepção de altura fixa e não-reconhecível dos
glissando escolhido para a análise (Figuras 2 e 3) inarmônicos e dos ruídos. Para Menezes (2003: p.
encontra-se nessa mesma região demonstrada pela 130), esses termos podem ser substituídos através de
tabela acima, onde os sons mais agudos exercem uma revisão terminológica, para uma melhor
mascaramento sobre outros sons que estejam em uma compreensão: o termo massa tônica é substituído por
relação intervalar a partir de segundas maiores e
segundas menores. No glissando analisado neste fusão tônica para fazer jus à maneira como os
trabalho tem-se que tanto tempo como altura harmônicos são percebidos, isto é, por fusão, como
contribuem para a ocorrência do mascaramento visto anteriormente. E o termo massa complexa
sucessivo em todas as notas da sequencia escalar permanece inalterado, por fazer referência à
formadora do glissando. percepção da estrutura harmônica aperiódica. Caso a
fusão tônica o u a massa complexa varie em
6. DISCUSSÃO f r e q u ê n c i a , s e j a p o r glissandos o u p o r
Através do glissando gravado e analisado no saltos/intervalos, tem-se, segundo Schaeffer, perfis
espectrograma (referente às Figuras 2 e 3), pode-se melódicos. Os glissandi são considerados perfis
investigar como ocorre o processo de recepção, melódicos contínuos por apresentarem uma variação
percepção e interpretação das componentes de frequencial que não põe em risco a percepção dos
frequência pelo sistema auditivo e pelo cérebro. sons, sendo que a percepção dos harmônicos dá-se
por meio de um aglomerado de frequências que
Segundo Menezes (2003: p. 107), embora o ouvido deduz a identificação de uma única altura (a
deduza da escuta de todos os componentes senoidais fundamental), enquanto a percepção dos inarmônicos
um único som de altura definida, pode-se enfocar a e dos ruídos ocorre como uma massa, onde há a
escuta em alguns harmônicos, de acordo com as escuta “difusa” dos sons, ou como uma textura, no
condições a que este isolamento perceptivo esteja caso dos ruídos.
submetido. Conforme o mesmo autor (2003: p.107-
108): “A habilidade em distinguir sons puros como
componentes de sons compostos varia de pessoa para
pessoa e segundo as condições às quais se submete à 7. CONCLUSÃO
escuta, mas, como quer que seja, vários experimentos Neste trabalho, o glissando pianístico foi tratado
comprovaram que um harmônico que seja superior sob um ponto de vista musical, acústico e
ao oitavo componente da série harmônica natural de psicoacústico, visando: o esclarecimento de sua
um som tônico somente poderá ser discernido pela constituição, segundo as definições dadas por
maioria das pessoas – quando consegue sê-lo – após diversos autores e dicionaristas, uma análise musical
um considerável esforço intelectual.” de um trecho da peça Laideronnette, Impératrice des
Pagodes, como exemplificação de uma construção
O ouvido interno ao receber esse amálgama de
escalar exótica para o glissando, neste caso, com a
sons, efetua uma análise das frequências de seus
escala pentatônica, uma análise espectral da peça Les
parciais e envia ao cérebro sinais distintos relativos
entretiens de la Belle et de la Bête, onde tratou-se
aos sete ou oito primeiros harmônicos, sendo que os
diretamente do fenômeno acústico no que se refere à
demais não serão reconhecidos pelo cérebro
identificação e localização das componentes
separadamente. O ouvido humano realiza o processo
frequenciais das notas no espectrograma e uma
d e fusão, onde a altura percebida de uma nota é
investigação acerca dos processos de recepção,
deduzida de todos os harmônicos, resultando na
percepção e interpretação das notas musicais
percepção de um único som, que corresponde à
CAVALCANTI ET AL. GLISSANDO PIANÍSTICO

formadoras do glissando, assim como de seus REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


parciais harmônicos, inarmônicos e ruídos. [1] BAIÃO, Débora Batista. Ma Mère L’Oye:
O experimento espectral contribuiu para a os (des)limites da Interpretação. Belo
visualização do amálgama de sons que compõem o Horizonte, 2005. 165 p. Dissertação de
glissando, o que permite uma compreensão básica da mestrado. UFMG, Belo Horizonte, 2005.
constituição sonora das alturas musicais, cujo estudo [2] BORBA, Tomás & LOPES-GRAÇA,
poderá ser aprofundado futuramente por outros F e r n a n d o , Dicionário de Música
pesquisadores que queiram trabalhar neste tema, e a (Ilustrado), Edições Cosmos, 1962, Lisboa,
abordagem psicoacústica possibilitou a compreensão Portugal.
dos processos de recepção e interpretação, com [ 3 ] DOURADO, Henrique A., Dicionário de
ênfase em explicar as razões pelas quais o glissando termos e expressões da música, Ed. 34,
é percebido como uma única entidade sonora. 2004, São Paulo, Brasil.
Discutiu-se também a maneira como os parciais e [ 4 ] GUILLAUME, Phillippe, Musique et
ruídos podem ser ouvidos, chegando-se ao resultado acoustique : de l´instrument à l´ordinateur,
de que a noção de altura sonora pertence a todos os Hermès Science, 2005, Paris, França.
elementos formadores do glissando: os parciais [ 5 ] LEIPP, Emile, Acoustique et musique,
harmônicos, parciais inarmônicos e aos ruídos Masson, 1971, Paris, França.
presentes na gravação. Entretanto, não se pode [ 6 ] MENEZES, Flo, Acústica musical em
afirmar que estes elementos serão percebidos palavras e sons, Ateliê, 2003, Cotia, Brasil.
auditivamente, pelo fato de que a percepção musical [7] NEPOMUCENO, Luíza A. de. Elementos
ser estritamente relacionada a diversos fatores de acústica física e psicoacústica, Edgard
subjetivos. Blücher, 1994, São Paulo, Brasil.
[8] PISTON, Walter, Orchestration, 8ª Ed.
A partir dos resultados obtidos nesta pesquisa, Victor Gollancz, 1978, Londres, Inglaterra.
pode-se antever novos trabalhos voltados para a área [9] PURWINS, Hendrik; BLANKERTZ, Benja-
psicoacústica e cognitiva do glissando, no sentido min; OBERMAYER, Klaus, Computing
prático e teórico, visando, por exemplo, a coleta de Auditory Perception, Organised sound,
amostras experimentais nas quais os pesquisadores 2000, Berlin, Germany. Disponível em:
poderão reunir grupos de músicos e não músicos, de http://goo.gl/1Bg6Rw. Acesso em 26 de fe-
modo a avaliar como os ouvintes reagem ao vereiro de 2015.
identificar um glissando, o que percebem quando o [10] SADIE, Stanley (Ed.), Dicionário Grove
ouvem e a que o relacionam, podendo assim de Música, Edição Concisa, Jorge Zahar
contribuir para uma melhor compreensão dos Editor, 1994, Rio de Janeiro, Brasil.
processos perceptuais, cognitivos e emocionais que [ 1 1 ] SLOBODA, John A. (Ed.), A mente
se relacionam ao glissando. musical: psicologia cognitiva da música,
tradução de Beatriz Illari e Rodolfo Illari,
Eduel, 2008, Londrina, Paraná, Brasil.

Você também pode gostar