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Prova 30 Junho, questões e respostas

Direito das Obrigações A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa)

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Direito das Obrigações


30.06.2017
Duração: 2h30m
Cotação: I. – 7v. ; II. 9v. ; III. – 4v.

I.
No dia 30 de Janeiro de 2016, por escrito particular assinado por ambos, Manuel prometeu
vender a Nuno ou a terceiro que este indicasse um determinado terreno de pinhal e eucaliptos,
por 120 000 euros. Manuel recebeu imediatamente 12 000 euros e ficou acordado que a escritura
de compra e venda seria realizada em 15 de Maio de 2016. No dia 3 de Fevereiro, Nuno enviou
um fax a Manuel comunicando-lhe que o imóvel ficaria para o seu primo Xavier, proprietário
rural e nesse momento ausente de férias no Brasil. Entretanto, em 27 de Março de 2016, Manuel,
sem qualquer procuração de Teresa, sua sobrinha, comprou uma quinta em que esta estava
interessada.

a) Poderia Xavier, legitimamente, recusar-se a realizar a escritura?


As partes celebraram um contrato-promessa unilateral substancial e formalmente válido
(art. 410º, n.º2) que constitui também um contrato para pessoa a nomear (art. 452.º).
Neste caso, para que o terceiro venha a substituir Nuno é necessário que a nomeação seja
feita mediante declaração por escrito ao outro contraente no prazo de cinco dias (art.
453.º, n.º1). A declaração de nomeação só produz efeitos relativamente a Xavier, se este
ratificar o contrato ou existir procuração anterior (art. 453.º, n.º2). Não estando este
último pressuposto verificado, Xavier sempre se poderá recusar a cumprir, porque o
contrato não produz efeitos relativamente a ele. Por outro lado, mesmo que venha a
ratificar, como Nuno não se vinculou a comprar, também Xavier não estará obrigado a
fazê-lo (art. 455, n.º1).
b) Qual o valor do contrato-promessa, no caso de o proprietário do terreno, no dia 30 de
Janeiro, ser Zulmira?
A este contrato devem aplicar-se as regras do contrato prometido (princípio da
equiparação), exceto aquelas que pela sua razão de ser não se devam considerar extensivas
ao contrato-promessa (art. 410.º, n.º2). O art. 892.º, de acordo com o qual a venda de
bens alheios deve ser considerada nula, não é extensível ao contrato-promessa, porquanto
a referida disposição existirá em razão dos efeitos reais do contrato de compra e venda
(art. 879.º, a) que não se produzem por meio do contrato-promessa.

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c) Ficará Teresa proprietária da quinta na data da escritura? A quem poderá ser exigido o
pagamento do preço?
Manuel agiu como gestor de negócios (art. 464.º).
Tratando-se de uma gestão não representativa, será Manuel a adquirir a propriedade da
quinta e só a ele poderá ser, em princípio, exigido o pagamento do preço (art. 471.º, última
parte remete para as regras do mandato sem representação).
No caso de a gestão ser representativa, Teresa adquirirá a propriedade se ratificar o
negócio, mas só a partir desse momento ficará á vinculada ao pagamento do preço. Se
não houver ratificação de Teresa, o pagamento do preço não pode ser exigido a esta nem
a Manuel, porquanto o negócio não vincula nenhum deles (art. 471.º, primeira parte).

d) Se Manuel quisesse presentear Teresa com essa quinta, que contrato deveria ter celebrado
para que Teresa ficasse proprietária na data da escritura de compra?
Manuel teria, neste último caso, de celebrar um contrato a favor de terceiro através do
qual é possível transmitir um direito real (art. 443.º, n.º2) a um terceiro
independentemente da sua aceitação (art. 444.º, n.º1).

II.
António contrata com Bernardo, construtor naval, a construção de um pequeno barco de
recreio. Quando estava ainda no estaleiro de Bernardo, a embarcação caiu, ferindo Carlos,
interdito por anomalia psíquica e que tinha escapado à vigilância do enfermeiro responsável. O
acidente ocorreu porque Carlos tentou, descuidadamente, empurrar o barco, que não se
encontrava devidamente estabilizado. Carlos acabou por ver os seus ferimentos agravados porque
o hospital não tinha sangue para a transfusão necessária.
Depois de recuperado, imediatamente após sair do hospital (quando atravessava a via em
frente ao hospital), Carlos foi atropelado por Dália que conduzia o carro da empresa. Dália estava
de férias, tendo autorização para utilizar o veículo durante as férias. Do acidente resultaram danos
em Carlos e também em Eva, amiga de Dália, que lhe tinha pedido boleia para o emprego. Em
resultado do acidente, o computador de Eva ficou completamente destruído.

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a) Carlos pretende responsabilizar António, Bernardo, e o enfermeiro por todos os danos


sofridos. Terá sucesso? Equacione a responsabilidade de cada um e respetivo fundamento. 4v.

Responsabilidade de António? António não é comitente de Carlos, porque contrato é de


empreitada e o empreiteiro age com autonomia, não segundo as ordens ou instruções do dono
da obra. António não responde.
Responsabilidade de Bernardo? Não há responsabilidade objectiva, nem haverá
presunção de culpa (ponderação da eventual aplicação do art. 493.º, n.º 1, do Código Civil);
responsabilidade nos termos gerais do art. 483.º. Culpa de Bernardo: negligência, violação de um
dever geral de prevenção do perigo. Uma vez assente a responsabilidade de Bernardo, haverá que
ponderar o contributo da culpa do lesado (e, eventualmente, do seu representante legal) para a
produção dos danos (arts. 570.º e 571.º).
Responsabilidade do enfermeiro? Omissão do dever de vigilância, mas culpa não se
presume (não se aplica o art. 491.º porque não se trata de danos causados a terceiro, mas sofridos
pelo próprio incapaz). Fundamento contratual e extracontratual (art. 486.º). Poderá também aqui
ponderar-se o contributo da culpa do lesado.
Extensão da responsabilidade a todos os danos? Questão de causalidade adequada. Não
haverá dúvidas relativamente aos ferimentos causados pela queda do barco; os danos decorrentes
da falta de sangue no hospital parecem ainda poder considerar-se consequência adequada do
acidente, em particular à luz da formulação negativa da teoria da causalidade adequada.

b) Quem responderá e com que fundamento pelos danos infligidos a Carlos e Eva pelo
acidente? Poderiam os sujeitos referidos em a) ser também responsáveis pelos danos sofridos por
Carlos em consequência do atropelamento? 3v.+1v.

Dália está a utilizar o carro da empresa, mas nas suas férias, ainda que com autorização.
Deve entender-se que adquiriu a direcção efectiva do veículo, mas que a sua entidade patronal
não a perdeu, pelo que ambos poderão responder ao abrigo do disposto no art. 503.º, n.º 1, do
Código Civil.
Assim, Dália não responde como condutor comissário (não recai sobre ela uma presunção
de culpa) mas responderá nos termos gerais do art. 483.º, se tiver agido com culpa, por todos os
danos causados a Carlos e a Eva, ou responderá objectivamente, solidariamente com a entidade

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patronal, com fundamento na mencionada norma do art. 503.º, n.º 1, no caso de não ter agido
com culpa.
Deverá ser demandada a companhia seguradora (arts. 15.º, n.º 1, e 64.º, n.º 1, do DL n.º
291/2007, de 21 de Agosto).
Respondendo Dália e a entidade patronal objectivamente, e sendo Eva transportada
gratuitamente (à luz do critério relevante, face ao disposto no art. 504.º, n.º 3), não será ressarcida
pela destruição do computador.
Os sujeitos referidos na alínea a) não serão responsáveis pelas consequências do
atropelamento à saída do hospital, porque não parece que possam considerar-se consequência
adequada do primeiro acidente.

III.

1.No âmbito de uma campanha de publicidade para lançamento de uma nova linha de
produtos, a «Tons de Azul, Lda.», empresa de produtos cosméticos, implantou um outdoor fixo de
grandes dimensões num terreno abandonado e não cultivado, propriedade de João. Dois meses
depois, João decidiu reclamar da «Tons de Azul, Lda.» o pagamento da utilização do espaço no
seu terreno, alegando que o valor “normal” de arrendamento do mesmo até aquela data seria de
1500 €. A sociedade entende que nada deve a João: além de desconhecer que o terreno era
propriedade de João, não lhe causara prejuízo com a colocação do outdoor. Veio ainda a provar-se
que João não fazia do terreno qualquer utilização económica, nem tinha planos de utilização do
mesmo durante o período em que em que o outdoor ali esteve afixado.
Terá fundamento a pretensão de João? A ser devida alguma prestação pecuniária pela
«Tons de Azul, Lda.», como será calculado o seu valor? 2v+1v.

Enriquecimento sem causa. Enunciar e analisar os pressupostos: (i) enriquecimento; (ii) à custa
de outrem; (iii) sem causa justificativa (cf. art. 473º). A obrigação de restituir, conforme
estabelecido no art. 474º do Código Civil, tem carácter subsidiário. Intromissão ou ingerência em
bens alheios em que não há prejuízos para o titular da coisa ou do direito - teoria do conteúdo de
afectação ou destinação dos bens absolutamente protegidos. Embora a empresa não tenha
diminuído o património de João, usou um direito absolutamente protegido deste (o direito de
propriedade) para enriquecer o seu próprio património, pelo que o enriquecimento é considerado
como obtido à custa de outrem.

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O art. 479º impõe ao enriquecido a obrigação de restituir: (i) tudo quanto se tenha obtido; (ii) à
custa do empobrecido (ou, se a restituição em espécie não for possível, o valor correspondente).
O enquecimento consiste na "diferença, para mais, entre a situação em que o património do
enriquecido se encontra (situação real) e a situação em que se encontraria, não fora a deslocação
patrimonial operada (situação hipotética)". Estando em causa o enriquecimento por intervenção
ou por intromissão, o sentido destas palavras "à custa do empobrecido" tem sido interpretado de
de acordo com duas orientações: a empresa só teria de restituir o valor normal da utilização do
terreno, ou seja, €1500 por mês, que era o valor do arrendamento ou a empresa teria de restituir
a João, em princípio, todos os lucros obtidos por intermédio da utilização do terreno para fins
publicitários.
2. Por acordo verbal, Jorge emprestou a Luís a quantia de 18000€. Durante 7 anos, Luís pagou
os juros convencionados, mas vem agora exigir a sua devolução com fundamento na nulidade do
contrato. Seria legítimo o pedido de declaração de nulidade? 1,5v.

A conduta de Luís configura abuso de direito, nos termos do artigo art. 334.º. Analisar os
pressupostos e a modalidade de abuso de direito aqui em causa: considerava-se que na resposta a
indicação de venire contra factum proprium ou supressio, como modalidades do abuso de direito.
Preenchidos os pressupostos do abuso de direito, os efeitos serão a inibição do exercício do
direito e o eventual dever de indemnizar.

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