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I - A e B, casados, são proprietários de um prédio rústico que está onerado com uma
servidão de passagem constituída a favor do terreno confinante, propriedade de C.
Tendo decidido vender o seu terreno, C telefonou a A, perguntando sobre o seu
interesse em adquirir o terreno, ao que A respondeu não ter de momento desafogo
financeiro bastante para realizar essa compra. Dois meses mais tarde, C vendeu o
terreno a D pelo preço de 30 000€ (preço declarado na escritura), bastante inferior ao
valor real do prédio. Entretanto informado sobre a realização da venda, B pretende
haver para si o prédio pelo preço declarado na escritura. Seria procedente esta
pretensão de B? 6
III - António prometeu €500,00 a quem encontrasse o cavalo de Maria, que fugiu
quando esta se encontrava internada no hospital. Dois dias depois, Carlos, amigo de
Maria, apesar de não ter conhecimento da promessa feita por António, encontrou o
cavalo e decidiu alimentá-lo até que Maria recuperasse. O cavalo destruiu um dos
estábulos de Carlos. Este decidiu inscrever-se num concurso hípico com o cavalo de
Maria e ganhou um prémio de €50.000. Na sequência do concurso, o cavalo ficou
lesionado em virtude da inexperiência de Carlos.
TÓPICOS DE CORREÇÃO
I – Conforme previsto no art. 1555.º, n.º 1, CC, o proprietário do prédio onerado com
servidão legal de passagem tem direito de preferência no caso de venda do prédio
dominante. A e B são pois titulares de um direito legal de preferência. O obrigado à
preferência, C, teria de comunicar aos titulares do direito o projeto de venda e as
cláusulas do contrato (art. 416.º CC). Apesar de A ter dito que não poderia comprar o
imóvel, a verdade é que, além de ser discutível que uma renúncia antecipada deste teor
possa isentar o obrigado da comunicação do projeto de contrato, B seu cônjuge
manteria o respetivo direito, visto que nada é dito quanto a uma atuação em nome ou
por conta do cônjuge (art. 419.º CC e 1035.º CPC). B poderia pois haver para si o prédio,
devendo para o efeito intentar uma ação de preferência segundo previsto no art. 1410.º
CC. A simulação do preço é oponível ao titular do direito de preferência que teria de
depositar o preço real e não apenas o preço declarado na escritura.
II -Entre Joaquim e o fabricante foi celebrado, nos termos do art. 443º, um contrato a
favor de terceiro (Luís). O promitente (o fabricante) e o promissário (Joaquim) agem
com a intenção de outorgar a Luís o direito de exigir a entrega da máquina. Tendo
cumprido, e bem, o fornecedor não pode, contudo, invocar vícios da relação de valuta
(entre Joaquim e Luís) mas só da relação de cobertura (argumento retirado da
interpretação do art. 449º). Como, no momento da compra e venda entre Joaquim e
Luís a máquina ainda não existia, a propriedade transfere-se de acordo com o regime
respeitante aos bens futuros, ou seja, nos termos do nº 2 do art. 408º (eficácia real
diferida).