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Prova 29 Março 2017, questões e respostas

Direito das Obrigações A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa)

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Direito das Obrigações


Teste de avaliação contínua
Data: 29.03.2017
Duração: 75 minutos
Cotação das perguntas: I. 8 valores; II. 7 valores; III. 5valores

I.

Em Janeiro de 2017, Carlos celebrou com Diamantino um contrato através do qual se


comprometeu a vender e aquele último a comprar uma fração autónoma de um prédio
situado na Avenida Diogo Botelho. O referido imóvel só foi, contudo, adquirido por Carlos
em Fevereiro de 2017. O contrato-promessa foi celebrado por documento particular
assinado por Carlos e Diamantino.

1.Poderá Carlos recusar-se a celebrar o contrato prometido, invocando que o contrato-


promessa é inválido?

R: O documento particular que titule a celebração do contrato-promessa de transmissão


onerosa de um direito de propriedade sobre uma fração autónoma de um edifício
constituído em propriedade horizontal deve conter o reconhecimento presencial das
assinaturas dos promitentes e a certificação, pela entidade que realiza o reconhecimento,
da existência da respetiva licença de utilização. [1v.] Apesar de o contrato-promessa ser
nulo (art. 220.º), por inobservância das formalidades previstas no art. 410.º, n.º3, Carlos
só poderia invocar a sua omissão se esta tivesse sido culposamente causada por
Diamantino (promitente-comprador). [1v.]
O facto de Carlos ter adquirido a propriedade da coisa depois da celebração do contrato-
promessa não põe em causa a validade deste negócio porquanto o contrato-promessa
não produz o efeito translativo da propriedade (desvio ao princípio da equiparação, cfr.
art. 410.º, n.º 1, CC) [1v.]

2.Imagine que, três meses após a conclusão do contrato-promessa, a referida fração
autónoma foi efetivamente vendida por Carlos a Diamantino, tendo as partes
convencionado que o preço seria pago trinta dias depois e que, só nesse momento,
Diamantino passaria a ser proprietário do imóvel. Poderá Carlos resolver o contrato por
falta de pagamento do preço? A resolução será oponível a Eduardo que adquiriu o imóvel a
Diamantino?

R: Uma vez que os contraentes convencionaram a reserva de propriedade a favor do


vendedor até ao cumprimento da obrigação do comprador, o contrato de compra e venda
pode ser resolvido por falta de pagamento do preço, apesar de a coisa ter sido entregue a
Diamantino (arts. 409.º, n.º1, e 886.º, CC). [2v.]
A resolução será oponível a Eduardo desde que a cláusula de reserva de propriedade
tenha sido registada (art. 409.º, n.º2, CC) [1]

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3.Carlos informou Diamantino que o contrato de compra e venda tinha de ser feito por
escritura pública, porque a lei não admitia que este contrato fosse celebrado com outra
forma. Se e com que fundamento poderá Diamantino exigir a Carlos que o reembolse dos
custos adicionais que teve de suportar por causa da informação errada que lhe foi
transmitida por este?

R: O contrato de compra e venda celebrado é válido e eficaz, devendo colocar-se a


hipótese de responsabilidade de Carlos pelos danos causados a Diamantino por
incumprimento de um dever lateral ou acessório de conduta de
informação/esclarecimento fundado no princípio da boa-fé e com sustento legal no art.
227.º CC (responsabilidade pré-contratual). [2v.]

II.

Acedendo a solicitação insistente, José aceitou inscrever-se num curso de culinária


ministrado pela empresa “Escola dos Ingredientes”. Para o efeito, assinou um documento
que lhe foi apresentado pela referida empresa, nas instalações desta, do qual constavam as
condições da realização do curso.

a)Tendo pensado melhor no assunto, José decide comunicar à Escola dos Ingredientes, 10
dias depois, que afinal já não quer frequentar o curso. Poderá José libertar-se do contrato
por esta via?

R: O contrato entre a «Escola dos Ingredientes» e José é um contrato celebrado entre uma
empresa e um consumidor (os serviços a prestar pela primeira não se destinam a uso
profissional de José), pelo que é um contrato em que se faz sentir com maior intensidade a
necessidade de proteção da parte mais débil. [1] Porém, não existe um direito geral de livre
resolução ou de arrependimento do consumidor[1], estando este apenas consagrado em
alguns diplomas legais, como é o caso do que disciplina os contratos celebrados à distância
ou fora do estabelecimento — o que não sucede na situação em apreço[1]. Não existe, por
isso, esta possibilidade de desvinculação livre por parte de José. [0,5]

b)Uma das cláusulas do contrato exigia que, para a inscrição no curso, os alunos teriam de
adquirir um conjunto de facas de cozinha negociadas pela escola. Classifique a relação
assim estabelecida entre os dois contratos. Esclareça se esta cláusula seria ou não válida.

R: A cláusula contratual referida faz depender a prestação do serviço de ensino da


aquisição de um outro bem, um conjunto de facas. Estabelece, pois, uma relação de
coligação entre dois contratos, tomando um como pressuposto da realização/execução do
outro. Haveria coligação negocial com dependência unilateral. [2] Conforme resulta dos
arts. 9.º, n.º 6, LDC e 27.º, n.º 1, DL n.º 24/2014 (práticas proibidas), a cláusula é inválida,
porquanto se veda ao fornecedor ou prestador de serviços a consumidor fazer depender o

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fornecimento de um bem ou a prestação de um serviço da aquisição ou da prestação de


outro. [1,5]

III.

1.Poderá Filipe, por contrato celebrado com Guilherme, seu vizinho, de delicada saúde,
obrigar-se perante este a “não fazer barulho” durante as horas da sesta?

R: Sim, conforme previsto no art. 398.º, n.º 2, CC, a prestação não necessita de ter valor
pecuniário, [1,5v.] bastando que corresponda a um interesse do credor digno de proteção
legal [1v.].

2. Rui pagou a Sílvia uma dívida já prescrita (na ignorância desse facto). Poderia Rui, tendo
acabado de ser esclarecido sobre a prescrição, exigir a restituição do valor pago a Sílvia?

R: Não há repetição do indevido, podendo o credor (Sílvia) conservar a prestação efetuada


em cumprimento da obrigação prescrita (arts. 403.º e 304.º, n.º 2, CC) [1,5v.] que é uma
obrigação natural (arts. 402.º e 304.º, n.º 1, CC).[1v.]

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