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II
1. Por que é que o instituto da “neutralização do direito” (Verwirkung ou suppressio)
deve ser aplicado restritivamente? 1
2. Em execução do contrato de prestação de serviços que celebrara com um reputado
centro de investigação científica, Anabela colaborou numa publicação científica
elaborada por este centro. Seis meses depois de ter cessado, por vontade de
Anabela, o aludido contrato de prestação de serviços, uma editora de publicações
científicas vem propor a Anabela que esta coordene uma obra de investigação
semelhante àquela em que Anabela participara enquanto prestadora de serviços do
centro. O centro de investigação considera que o comportamento de Anabela é
desleal e quer pôr-lhe cobro. Terá direito? 3
III
1. Distinga uma promessa unilateral de uma preferência convencional. 1
IV
1.Será possível aplicar à sub-rogação o disposto no artigo 585º do CC? 1
2.Querendo ser recordado na sua terra natal, Miguel, emigrado há vários anos
em França, decidiu comprar um quadro a uma conhecida pintora, Benedita,
nomeando, nesse momento, o museu da sua terra titular do direito a receber a
pintura. Como Benedita também era natural da mesma cidade, o quadro, no
valor de 100.000€, foi vendido por 20.000.
a)Identifique a dupla estrutura contratual utilizada no negócio entre Miguel e
Benedita. 2
b)Em que momento é que o museu ficou proprietário do quadro? 1
c)Poderia o museu exigir com êxito a entrega do quadro na hipótese de Miguel
não pagar os 20.000€? 1
TÓPICOS DE SOLUÇÃO
I
1. A voluntariedade do ato gestório (mesmo do não profissional) e a intervenção,
impedindo a atuação de outras pessoas mais capazes podem justificar uma
avaliação abstrata da culpa.
2. a) Surge, nesta hipótese, um problema de concurso de responsabilidade, visto que
a omissão do dever de cuidado pela sociedade que explora o campo de golfe poderia
constituir quer um ilícito contratual – foi celebrado um contrato atípico para
utilização de instalação e equipamento desportivo, tendo sido violado o dever
lateral de aviso/informação e de cuidado com a pessoa da outra parte, art. 762.º,
n.º 2, CC – quer um ilícito extracontratual – a omissão do dever de aviso ou vedação
da área perigosa corresponde a um ilícito especialmente previsto na lei, no art. 486.º
CC, mais exatamente violação de um dever de prevenção do perigo. O problema de
concurso de responsabilidade contratual e extracontratual pode ser solucionado
essencialmente com base em dois critérios distintos: teoria do cúmulo (ação híbrida;
opção; duas ações) e teoria do não cúmulo (doutrina da consunção). A aplicação do
regime da responsabilidade contratual é mais vantajosa para o lesado visto que
define uma presunção de culpa (art. 799.º, n.º 1). Todavia, admitindo-se que a
instalação e equipamento desportivo podem constituir uma coisa perigosa, chegar-
se-ia à mesma solução por via da aplicação do art. 493.º, n.º 1, CC. 2
b) É sabido que a culpa é apreciada segundo o critério do bom pai de família, em
face das circunstâncias de cada caso (487.º CC) e que inclui não apenas a deficiência
da vontade mas também a deficiência da conduta (inabilidade para o desempenho
de certa tarefa). De qualquer modo, aplicando-se o regime da responsabilidade
contratual (poderia considerar-se igualmente o concurso de responsabilidade)
presumir-se-ia a culpa do devedor [agora é Aníbal que utiliza material pertencente
à outra parte sem o cuidado devido]. Para ilidir a presunção de culpa Aníbal teria de
alegar e provar que usou a devida diligência e que os danos causados ficaram a
dever-se a força maior, facto de terceiro ou imputável à outra parte.
II
III
1.Ambas as figuras são contratos e nas duas só existe uma pessoa obrigada e que deve
assinar o acordo. Na promessa unilateral o promitente vinculado obriga-se a celebrar o contrato-
prometido (por ex., uma compra e venda) se a contraparte assim o desejar. Na preferência
convencional, o obrigado não se vincula a contratar, mas a, se contratar, dar primazia, em
igualdade de condições, ao titular do direito.
2. a) O caso não nos revela como ocorreu o acidente, conhecendo-se algumas circunstâncias que
envolveram o acidente e sabendo-se, apenas, que Artur, presumivelmente, é comissário de Z,
conduzindo, na altura, no exercício das suas funções, e que Jorge é um detentor. É preciso,
ainda, não confundir responsabilização (à luz do CC) com reparação (neste caso, a cargo de uma
Seguradora). Não podemos entender que o acidente esteve, pura e simplesmente, relacionado
com o risco ou com a culpa, havendo, pois, que colocar várias hipóteses, a saber:
(i) Jorge pode responsabilizar o comissário Artur por culpa provada ou presumida (arts. 487º,1,
503º,3 e Assentos 1/83 e 3/94)) e Z, pelo menos pelo risco ou na sua qualidade de comitente
(art. 500º), demandando a Seguradora deste com base nos arts. 15º e 64º do DL nº 291/2007,
(ii) Se o comissário afastar a presunção de culpa, irá responder Z como detentor (art. 503º,1),
caso não possa ser aplicado o art. 505º (seria necessário provar-se que a colisão ficou a dever-
se apenas à conduta de Jorge) e sendo ainda de considerar a possível aplicação do art. 506º
(contribuição do veículo de Jorge para os danos);
(iii) Não conduzindo o veículo como comissário, Artur responderia com base na parte final do
art. 503º,3, sendo possível ser aplicado o art. 506º (contribuição do risco associado ao veículo
do lesado Jorge);
(iiii) Caso Jorge prove a culpa de Artur (respondendo o comitente com base no art. 500º), pode
vir a ser provada uma eventual culpa do lesado Jorge (arts. 570º e 506º,2). Esta culpa pode, até,
afastar uma culpa presumida de Artur.
b) Relativamente aos danos no veículo de Z, é duvidoso que possa funcionar a culpa presumida
de Artur (o Assento 1/83 fá-la valer nas relações entre o comissário e o lesado). A melhor solução
é Z provar a culpa de Jorge, e este provar a culpa de Artur para o efeito da aplicação do art. 571º
(consideração de Z como lesante e lesado). A prova por Z das culpas de Artur e de Jorge
conduziria ao mesmo resultado, pois a culpa de Artur repercute-se no lesado Z. Estando Artur a
conduzir fora do exercício das funções, é plausível serem ambos (Artur e Jorge)
responsabilizados pelo risco (arts. 506º e 507º), assim como Z pode tentar provar a culpa
exclusiva de Jorge.
c) Júlia não teve culpa, nem sequer pode ser corresponsabilizada pelo risco. Como lesada (art.
504º,1), ela pretende que Artur, Z e Jorge respondam solidariamente, e desde logo, por culpa
presumida. Acontece que só Artur pode ser responsabilizado com esse fundamento, pois,
quanto a Jorge, a sua culpa tem que ser provada (Assento1/80) e o comitente Z não responde
por culpa presumida.
IV
1.Só é possível aplicar à sub-rogação legal e à sub-rogação voluntária pelo credor. Quanto à sub-
rogação voluntária pelo devedor é necessário que este tenha informado o terceiro da existência
do meio de defesa.
2.a) Entre o promissário Miguel e a promitente Benedita foi celebrado um contrato a favor de
terceiro (o Museu). Atendendo à circunstância de o preço (da relação de cobertura) ser muito
inferior ao valor do quadro parece estarmos, também, perante uma doação mista.