Você está na página 1de 4

lOMoARcPSD|4971573

Prova 17 Março 2016, questões e respostas

Direito das Obrigações A/B/C/D (Universidade Catolica Portuguesa)

A StuDocu não é patrocinada ou endossada por alguma faculdade ou universidade


Descarregado por nothing here (meloo.2@live.com.pt)
lOMoARcPSD|4971573

DIREITO DAS OBRIGAÇÕES

AVALIAÇÃO CONTÍNUA (1ª PROVA – 17 DE MARÇO DE 2016)

DURAÇÂO: 75 MINUTOS (SEM TOLERÂNCIA)

RESPONDA COM LETRA LEGÍVEL E EM FOLHAS SEPARADAS AOS DOIS


GRUPOS DE QUESTÔES

ELEMENTOS DE CONSULTA: CÓDIGO CIVIL E ANEXO DE LEGISLAÇÂO

I – António celebrou com Bernardo um contrato de cessão de exploração da sua


pastelaria, conhecida em todo o país pelos seus famosos pastéis de nata, e emigrou
para Paris. O contrato foi celebrado através de documento escrito assinado por ambas
as partes em Janeiro de 2000, sendo na altura exigível escritura pública para celebrar
validamente o negócio. Para o efeito, António apresentou um clausulado a Bernardo,
que se limitou a assinar por confiar na honorabilidade do primeiro. Do contrato consta
que ambas as partes se comprometem a não invocar o vício de forma. Estabeleceu-se
igualmente que o cedente poderia a qualquer momento fazer cessar o contrato de
cessão de exploração, ficando a contraparte obrigada entregar o estabelecimento
comercial no prazo de 15 dias. Ao longo dos anos, Bernardo realizou avultadas obras
de melhoria na pastelaria.

1. Se António pretender regressar a Portugal e recuperar a pastelaria, poderá


Bernardo opor-se a que o primeiro invoque a nulidade do contrato por vício de
forma? 4
2. Poderá Bernardo opor-se a que António denuncie o contrato nos termos
previstos no contrato? 4
3. Se o contrato viesse a cessar, poderia Bernardo vender a Carlos a receita dos
famosos pastéis de nata? 4

II – Após breve negociação, Luís comprometeu-se a adquirir e a revender, em


exclusividade, no seu estabelecimento comercial, o café “Lote X”, comercializado
apenas pela “Grão de Café”. Nos termos do contrato, esta empresa forneceria um total
de 6.000 Kg, durante 60 meses, obrigando-se Luís a um consumo médio mensal de 100
Kg. Após ter entregado 2.000 Kg, e sem que tivesse feito novos contratos do “Lote X”,
constatou-se que a “Grão de Café” não tinha mais quantidade para entregar.

1.Caracterize segundo os critérios estudados as prestações assumidas por Luís e


pela “Grão de Café”. 3

2. Poderá ser questionada a validade do contrato? 3

Descarregado por nothing here (meloo.2@live.com.pt)


lOMoARcPSD|4971573

3.Poderia Luís, nos oito dias seguintes à celebração do contrato, invocar o art. 10º do
Decreto-Lei nº 24/2014? 2

TÓPICOS DE SOLUÇÃO

I–
1. A regra será a de que não se pode opor à invocação da nulidade. O contrato que não
observe um requisito de forma ad substantiam é nulo (art. 220.º), podendo a nulidade
ser invocada por qualquer interessado, havendo eventualmente responsabilidade pré-
contratual se uma das partes tiver violado deveres impostos pela boa-fé, maxime deveres
de informação ou de fidelidade/lealdade, na fase de formação do contrato. Como o
contrato nulo foi executado durante 16 anos, deve equacionar-se a possibilidade de
atribuir a Bernardo a indemnização dos danos positivos.

Parece estar-se, contudo, em concreto, perante uma daquelas hipóteses em que


excepcionalmente se pode considerar o pedido de declaração de nulidade abusivo por o
exercício do direito exceder manifestamente os limites impostos pela boa-fé. Mais
concretamente, uma situação de inalegabilidade formal: misto de venire contra factum
proprium e conduta anterior indevida (tu quoque), pois não só António apresentou um
clausulado fechado a Bernardo do qual constava a renúncia à invocação do vício de
forma (tu quoque), como também a conduta culposa deste parece ter conduzido
Bernardo a confiar na validade do contrato ou pelo menos na sua não invocação
(situação de confiança), com base na qual ele executou durante 16 anos o contrato
(investimento de confiança), sendo situação de confiança é imputável a António contra
quem Bernardo está a invocar o abuso (venire contra factum proprium).

Outra hipótese a considerar:


Como o contrato foi celebrado há 16 anos, também se poderia considerar existir
neutralização do direito pelas expectativas legítimas decorrentes do não exercício de um
direito pela contraparte durante um lapso razoável de tempo.

2. Há que discutir se estamos ou não perante um contrato celebrado por adesão. Em caso
afirmativo, prevendo-se expressamente a aplicação da LCCG a contratos individualizados
concluídos por adesão a clausulados pré-elaborados por uma das partes (art. 1.º, n.º2, da
LCCG) possibilidade de Bernardo invocar a nulidade da cláusula (art. 12.º do LCCG) por no
contrato se permitir a denúncia com pré-aviso insuficiente, sem compensação adequada,
quando este exigiu à contraparte investimentos avultados (art. 19.º, al. f) da LCCG).

4. Violação de um dever lateral ou acessório de conduta, mais concretamente um dever de


fidelidade/lealdade. A boa-fé entendida em sentido objetivo cria para as partes, mesmo
após a cessação do contrato, o dever de não divulgar segredos de fabrico. A venda

Descarregado por nothing here (meloo.2@live.com.pt)


lOMoARcPSD|4971573

constitui uma violação desse dever que dará origem a responsabilidade pós-contratual.
A natureza da responsabilidade pós-contratual ainda não foi lecionada.

II-
1. Segundo os critérios principais, Luís está vinculado a uma prestação de facto/coisa
material, presente, simultaneamente positiva e negativa, duradoura fracionada
(consumo durante 60 meses de 100 Kg mensais). A “Grão de Café” ficou vinculada a
uma prestação de facto/coisa material, presente, positiva, infungível e duradoura
fracionada (fornecimento durante 60 meses dos 6.000kg).

2. Independentemente de poder haver responsabilidade pré-contratual por omissão de um


dever de informação, se o contrato foi celebrado numa altura em que a “Grão de Café” já
não tinha a quantidade de café negociada o contrato deve ser considerado nulo por
impossibilidade originária objetiva (conjugação dos arts. 280º e 401º, 1 e 3).

3. Não havendo dados que nos levem a pensar tratar-se de um contrato celebrado à
distância ou fora do estabelecimento comercial (ver as definições do art. 3º do Decreto-
Lei nº 24/2014), contratos esses a que se aplica o diploma em causa, não é possível
outorgar a Luís o direito previsto no art. 10º. Mas mesmo que se tratasse, por ex., de um
contrato celebrado fora do estabelecimento comercial do fornecedor, há que constatar que
Luís não pode ser considerado consumidor.

Descarregado por nothing here (meloo.2@live.com.pt)

Você também pode gostar