Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Arquiteturas Expositivas Efemeras
Arquiteturas Expositivas Efemeras
Júri
Presidente: Prof.ª Doutora Teresa Frederica Tojal de Valsassina Heitor
Orientador: Profa. Doutora Helena Silva Barranha
Co-Orientador: Prof. Ricardo Alberto Bagão Quininha Bak Gordon
Vogais: Prof.ª Doutora Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre
Prof. Doutor Vítor Manuel de Matos Carvalho Araújo
Dezembro 2012
I
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA
II
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA
Agradecimentos
III
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA
Resumo
IV
EPHEMERAL ARCHITECTURES FOR EXHIBITIONS
TEMPORARY PAVILION IN ROME
Abstract
The present report followed the Final Project of the Master in Architecture at Instituto
Superior Técnico (Technical University of Lisbon). The project consisted in the design
of an ephemeral pavilion for exhibitions in Rome, and was developed under the
Erasmus Program, at the École Polytechnique Fédérale de Lausanne, in the second
semester of the academic year 2011/2012. This report aims to present a critical view
on the project, based on a theoretical study of ephemeral architecture in exhibition
contexts.
The singularities of the ephemeral architecture were analyzed historically and culturally
via some of their most prominent architectonic icons since the 19th century up to
nowadays. This analysis also contributed to highlight the conceptual impact of the
current social and cultural reality on the architectural work, valuing the ephemeral and
the sensorial.
The role of the architect is of the utmost importance, he is not only the generator of a
conceptual thinking connected to a cost-efficient structural system, but also the
producer of sensorial and aesthetic qualities, presenting an innovative artistic
architecture witnessed by the ephemerality of the moment.
V
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA
Índice
Agradecimentos III
Resumo IV
Abstract V
Índice VI
Introdução 1
Aspetos metodológicos 5
Programa e método 41
Contexto da intervenção 43
Capítulo 3. Conclusões 49
VI
Fontes e Bibliografia 55
VII
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA
01. 12 http://www.architecture-studio.fr/fr/projets/shn3/exposition_universelle_
2010.html [07.10.2012]
07. 15 http://www.archdaily.com/58591/uk-pavilion-for-shanghai-world-expo-2010-
heatherwick-studio/ [01.10.2012]
09. 15 http://www.archdaily.com/58591/uk-pavilion-for-shanghai-world-expo-2010-
heatherwick-studio/791_section-2-copy/ [11.12.2012]
11. 17 Idem.
12. 17 Idem.
13. 17 Idem.
15. 18 Idem.
17. 19 Idem.
VIII
Ilustração Página Fonte
22. 24 http://www.todoarquitectura.com/revista/36/36sp07_Bruno_Taut.asp
24. 25 Idem.
25. 25 http://www.foto8.com/new/online/blog/947-jorge-ribalta-on-documentary-
and-democracy [13.09.2012]
28. 27 http://bryndakirk.wordpress.com/2008/12/02/the-history-of-
architecture/floor-plan-barcelona-pavilion/ [11.12.2012]
30. 28 http://www.tu-cottbus.de/theoriederarchitektur/Wolke/eng/Subjects
/071/Frampton/frampton.htm [01.10.2012]
33. 29 http://www.visiotice.fr/ARTEMIS/hermes/hermes/rupture/duchmont.htm
[11.12.2012]
36. 31 LANZARINI, Orietta - Carlo Scarpa. L’architetto e le arti. Gli anni della
Biennale di Venezia 1948-1972. Regione del Veneto, Marsilio, 2003, p.35.
42. 37 Idem.
44. 38 Idem.
IX
Ilustração Página Fonte
46. 45 Idem.
47. 45 Idem.
48. 46 Idem.
49. 47 Idem.
X
XI
Introdução
Aspetos metodológicos
1
2
Introdução
Âmbito e objetivos do projeto de investigação
3
características elementares da obra arquitetónica – a sua durabilidade, que tende a
potenciar a sua afirmação enquanto símbolo cultural de uma sociedade. Por
conseguinte, identificam-se alguns projetos de referência, num âmbito temporário e
expositivo, contemplando diferentes programas e de diferentes escalas de
intervenção. Consideram-se, paralelamente, o desenho de uma peça de arquitetura
efémera singular e o desenho de um conjunto de arquiteturas efémeras destinadas à
celebração de um evento de carácter internacional, nas diferentes condições espaciais
que o local de intervenção pode tomar, quer seja este ao ar livre ou inserido dentro de
um edifício preexistente.
4
Aspetos metodológicos
5
Copenhaga), o Centre Georges Pompidou (Paris), o Jüdische Museum (Berlim), a
Bauhaus-Archiv (Berlim), a Neue Nationalgalerie (Berlim), o Alte Museum (Berlim) e o
Pergamon Museum (Berlim). Em Munique, na Alemanha, houve oportunidade para
visitar uma obra de arquitetura efémera, denominada Pavilion 21 Mini Opera Space,
do atelier Coop Himmelb(l)au.
6
Capítulo 1. Arquiteturas expositivas efémeras
7
8
Capítulo 1. Arquiteturas expositivas efémeras
O conceito do efémero na arquitetura contemporânea
O efémero pressupõe uma temporalidade fugaz, uma duração tão curta que a própria
criação admite a destruição. Porém, o tempo é um elemento ambíguo, não tem uma
medida exata quando traduzido em palavras. Aceitando-se que o homem é a medida
para as realidades humanas, entende-se como eterno aquilo que transcorre uma
escala de tempo impercetível ao individuo e entende-se como transitório aquilo que se
desfaz dentro da escala humana de tempo, de modo percetível2.
De certa forma, podemos dizer que toda a arquitetura é efémera: a luta contra o tempo
é, desde já, uma batalha perdida contra a erosão dos elementos, o desgaste causado
pelo clima e a destruição provocada pelo homem3. Porém, há obras mais efémeras do
que outras e o que as distingue é, sobretudo, a consciência de um tempo de vida pré-
determinado; uma obra efémera é aquela que nasce para morrer: o efémero é algo
que anuncia o seu próprio fim, renunciando ao futuro4. Assim, na linguagem poética da
sua fugacidade, a obra efémera incute-se de sentido dramático. A sua temporária
presença é intensa e resistente. A sua temporalidade torna-se visível na experiência
do instante, pois a representação da sua presença tem lugar aqui e agora. É, então,
nesta aceitação e numa certa ostentação de uma breve existência que se desenvolve
a atratividade da arquitetura efémera, surgindo frequentemente associada a eventos
ou inovações experimentais, usadas para testar processos e materiais. Os arquitetos
encontram na arquitetura efémera uma forma de expressão que permite explorar
relações entre espaço, ambiente e pessoas, visto que a maior parte destes projetos
está relacionada com propósitos de coexistência, que procuram gerar encontros
sociais, detonadores de diálogos e reflexões.
1
Maria João Rodrigues - O que é Arquitectura. Quimera Editores, Lda. Lisboa, 2002, p.28.
2
Daniel J. Mellado Paz - Arquitetura efêmera ou transitória. Vitruvius – arquitextos, disponível em:
http://www.vitruvius.com.br [08/03/2012]
3
Luis Fernández-Galiano - Espacios Efimeros. Arquitectura Viva, nº 141, 2011. p.3.
4
Víctor Molina Escobar – ¿Pensar lo efímero?. Arquitectura, Art i Espai Efímer. Barcelona:
Universitat Politècnica de Catalunya, 1999. Cap.1, p. 16.
9
A arquitetura tem o potencial de delimitar espaço e tempo sob uma qualidade artística
que a identifica como um símbolo. O arquiteto, na sua relação com a sociedade,
desenha uma obra como “um testemunho interpretativo do anseio social”5. E, neste
sentido, a vivência em comunidade revela-se um organismo regulador de opções
práticas e concetuais, definindo a arquitetura do seu tempo.
“Les gens ont envie de tout prendre, de tout piller, de tout bouffer, de tout manipuler. Voir,
déchiffrer, apprendre ne les affecte pas. Les organisateurs (et les artistes et les intellectuels)
sont effrayés par cette velléité incontrôlable, car ils n’escomptent jamais que l’apprentissage
des masses au spectacle de la culture.”7
5
Maria João Rodrigues, op. cit., p.35.
6
Lizandra Magon, Suzana Ribeiro - A nutrição e o consumo consciente. Pólen Editorial. São Paulo:
Instituto Akatu, 2004. Disponível em http://www.akatu.org.br/Publicacoes/Alimentos. [06.09.2012]
7
Jean Baudrillard - Simulacres et simulation. Galilée, 1981 Paris, p.106.
8
Emma Barker – Contemporary Cultures of Display. The Open University, 1999. p.17.
9
Guy-Ernest Debord - La sociéte du spectacle in The Situationist International Text Library,
Disponível em : http://library.nothingness.org
10
públicas. Exposições que surgem profundamente ligadas ao mercado de arte e
revelam, portanto, interesses capitalistas. É assim frequente a instituição que monta a
exposição procurar deliberadamente um sensacionalismo e estratégias publicitárias
para atrair inúmeros visitantes10. Esta cultura expositiva geradora de encontros sociais
vai-se fazer notar em museus, galerias ou projetos expositivos de arquitetura
temporária.
É neste limiar entre a arte e arquitetura que se insere uma via alternativa à construção
tendencialmente perene: a arquitetura expositiva efémera. Logicamente, esta corrente
não é alheia às tendências gerais da atual cultura de consumo rápido. Num contexto
económico-social cuja referência temporal se define por um ciclo acelerado de
reciclagem, troca e substituição, condicionantes de ordem económica favorecem
soluções arquitetónicas de custos menos elevados e de rápida execução. Assim,
soluções assumidamente temporárias têm sido frequentemente inseridas em
contextos expositivos, não só por princípios económicos, mas também pelas
potencialidades experimentais de inventar novas formas e explorar novos materiais.
Neste sentido, numa época assente numa existência quase nómada, deverão os
arquitetos construir para o momento e desvalorizar a posterioridade?
10
Emma Barker, op.cit., p.104.
11
Jacques Ferrier – Architecture = durable. 30 architectes, 30 projets en Île-de-France. Éditions du
Pavillon de l’Arsenal et Éditions A & J Picard. Paris, 2008, p.4.
11
aparição. De facto, o equilíbrio entre a visão técnica, sensível e humanista assenta
num respeito pelos recursos disponíveis12. Essa ligeireza fugaz está hoje presente em
muitos exemplos, que ora entram em diálogo com a cidade para sugerir novos modos
de interação social, ora buscam na natureza modelos de inteligência orgânica e
harmonia com o sentido da vida, como nota Luís Fernández-Galiano:
“Si la efemérides recuerda los jalones que marcan nuestra existencia en el tiempo, lo efímero
celebra en el espacio nuestro tránsito leve, renunciando a la duración obstinada para subrayar
en sordina la naturaleza perecedera de los cuerpos y de las fábricas.”13
12
Jacques Ferrier, op. cit., p.6.
13
Luis Fernández-Galiano, Espacios Efimeros., p.3.
14
Elena Cardini – Expo 2010 Shanghai (China). Exposições. Projecto.L’arca, N. 180 (Abril 2003)
Milão, p.68-71.
12
Uma referência nesta exposição é o Pavilhão da Dinamarca, desenhado pelos
arquitetos BIG, que se distingue pela enorme estrutura monolítica de aço. Possui uma
espacialidade ascendente ao longo da qual vão surgindo diferentes atmosferas e
atividades, permitindo ao visitante atingir, por último, um nível mais alto e panorâmico.
O conceito expositivo desenvolve-se em torno da cultura sustentável que se pratica na
organização do espaço urbano do país. O desenho em espiral desenvolve-se em torno
da emblemática estátua dinamarquesa da Pequena Sereia, como ícone nacional.
Numa atitude sustentável, a estrutura surge pintada de branco, de forma a reduzir os
ganhos de calor no Verão15.
15
Philip Jodidio - Temporary Architecture Now! Taschen, Cologne, 2011, p.95.
13
Por sua vez, o Pavilhão de Espanha, desenhado pelos arquitetos Miralles Tagliabue -
EMBT, é igualmente composto por uma estrutura de aço, mas lança-se num desenho
formal mais orgânico. As suas formas livres são desenhadas com base em tecnologias
computacionais. O revestimento em módulos de vime procura fazer alusão aos
tradicionais cestos espanhóis, propondo uma utilização original deste material, numa
escala totalmente distinta16.
Por fim, surge num âmbito de experimentação material, o Pavilhão do Reino Unido,
projetado pelos arquitetos Heatherwick Studio, constituído por uma estrutura
compósita de aço e de madeira que segura uma vasta rede de hastes de fibra ótica 17.
Em cada haste concentram-se sementes pois o objetivo desta estrutura é gerar um
banco de sementes inovador: uma estratégia original que conecta o conceito de
urbano e com a natureza. Durante o dia, as varas transparentes deixam entrar a luz
natural e à noite as fontes de luz dentro de cada haste permitem que a estrutura brilhe
e imponha a sua presença.
16
Philip Jodidio, op. cit., p.269.
17
Philip Jodidio, op.cit., p.203.
14
07. Pavilhão do Reino Unido, Expo 2010.
Genericamente a arquitetura é uma disciplina que, pela sua função prática, “satisfaz a
apetência do valor de uso” 18, preenchendo o desejo de nos sentirmos em harmonia
com o lugar, é um meio de modelação de espaço dotando-o de qualidades sensíveis.
Se a arquitetura efémera procura o êxtase do momento fazendo uso da sua liberdade
experimental para desafiar e deslumbrar o utilizador, levanta-se a questão da sua
materialização, para além de uma definição de espaço de contentor. Nos exemplos
18
Maria João Rodrigues, op. cit., p.30.
15
anteriores, a arquitetura efémera revela-se exatamente por este meio, pois há um
programa com espaços de estada e de encontro social, cujas exigências técnicas
limitam a modelação espacial e formal. Por outro lado, no desenho de um espaço sem
programa, de uma obra que configura espaço numa pura criação artística, a peça
arquitetónica quase se transforma numa escultura vivencial colocando-se a seguinte
interrogação: poderá a arquitetura efémera ser mutuamente um elemento de pura
contemplação e um definidor de espaço?
16
devido a esta tensão de esmagamento provocada pelo rebaixamento do teto. Com
efeito, o arquiteto recorre ao impacto volumétrico como meio de controlo da atenção
nos elementos expostos.
17
Num outro tipo de intervenções arquitetónicas temporárias, a uma escala menor e
numa linha distinta de reflexão arquitetónica, desenvolve-se o paradigmático programa
da Serpentine Gallery, situada em Kensington Gardens, em Londres. Destaca-se pelo
seu forte sentido experimental, promovendo formas ousadas que não seriam viáveis
em edifícios permanentes19. Este ambicioso programa tem sido palco para
experimentações arquitetónicas internacionais assinadas por arquitetos de referência:
nas edições anteriores, desde 2000, participaram arquitetos como Zaha Hadid, Daniel
LIbeskind, Toyo Ito, Cecil Balmond, Oscar Niemeyer, Alvaro Siza, Eduardo Souto
Moura, Olafur Eliasson, Frank Ghery, SANAA, etc. As três últimas intervenções foram
desenhadas em 2010, 2011 e 2012 respetivamente por Jean Nouvel, Peter Zumthor e
Herzog & de Meuron.
Jean Nouvel apresenta um projeto em vermelho vivo, num contraste com o verde do
parque e também numa referência nostálgica às imagens icónicas britânicas das
cabines telefónicas tradicionais. Numa composição de estruturas metálicas suspensas
dramaticamente com materiais leves, nomeadamente tecido e policarbonato, o edifico
é construído por grandes toldos retráteis e uma parede autoportante inclinada de
grande dimensão, gerando formas geométricas ousadas20. O arquiteto encarou este
19
Philip Jodidio – Temporary Architecture Now!. Taschen, Cologne 2011. p.21.
20
Jean Nouvel – Serpentine Gallery, disponível em : http://www.serpentinegallery.org/
18
desafio desenhando um sistema versátil de espaços que se adaptam a necessidades
momentâneas, proporcionado pela inteligente escolha de materiais. Joga ainda com a
potencialidade da duração temporária do pavilhão, ao utilizar uma cor intensa que
tende a fascinar o observador mas, que mais dificilmente seria aceite num edifício
perene, sobretudo porque toda a iluminação do espaço interior é condicionada por
esta tonalidade.
“Qualidade arquitectónica só pode significar que sou tocado por uma obra. (…) Entro num
edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fracção de segundo sinto o que
é. A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona
de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver.”21
21
Peter Zumthor – Atmosferas. Entornos arquitectónicos. As coisas que me rodeiam. Editorial
Gustavo Gili, Barcelona, 2006, p.11.
19
Seguindo a sua pura visão, Peter Zumthor procurou enfatizar aspetos sensoriais e
espirituais da experiencia arquitetónica, através da escolha precisa dos materiais,
numa manipulação da luminosidade, sombras e escala. A construção foi feita a partir
de uma armação leve de madeira, envolvida com tecido forte e revestida com uma
pasta preta misturada com areia.
No presente ano, 2012, com os arquitetos Jacques Herzog & Pierre de Meuron, o
programa propõe uma exposição sobre os anteriores pavilhões da Serpentine Gallery,
desde a sua estreia em 2000. O projeto ganhou forma sob uma plataforma de
cobertura, situada a 1,5m do solo e suportada por doze colunas, correspondentes a
cada pavilhão em exposição22. Numa qualidade sensível e experimental, os arquitetos
metaforizam o programa proposto numa abordagem arqueológica, onde os visitantes
são convidados a olhar abaixo da superfície do parque. O interior do pavilhão é, então,
revestido em cortiça, um material sustentável e com boas características sonoras.
.
19. Vista aérea do pavilhão da Serpentine Gallery,
2012.
22
Herzog & de Meuron – Serpentine Gallery, disponível em : http://www.serpentinegallery.org/
20
Os projetos expostos neste capítulo são detentores de formas de expressão e
especificidades programáticas diferentes. Enquanto as Exposição Universais têm
como atração principal pavilhões nacionais que se exibem numa atitude ousada e
propagandista, a Bienal de Arquitetura de Veneza exibe uma coleção de arquitetura
contemporânea de referência através de uma linguagem sensível à modelação de
espaço de exposição e, por outro lado, a Serpentine Gallery, a uma escala menor,
combina num gesto concetual a componente programática com um sentido
experimental. Todavia, apesar das diferentes motivações, todos os projetos
correspondem a arquitetura efémera expositiva, revelando princípios projetuais
semelhantes. Primam pela importância dada ao elemento estrutural, numa ação clara,
unimaterial e, muitas vezes, modular. Alcançam um teor de experimentação formal e
material expressamente distinto de obras construídas em permanência, não só pelas
vantagens da sua existência temporária, onde os materiais não vivem o suficiente para
se degradarem, como pela liberdade programática que não exige determinados
elementos obrigatórios em construções permanentes, como ventilações mecânicas,
isolamentos sonoros e acústicos, espaços de apoio técnico, etc. Numa exploração de
novos territórios demonstram também a consciência de um desenvolvimento
sustentável. São obras marcadas pela impressão do instante, optando por um sistema
lógico e claro de construção, capaz de transmitir uma perceção emocional dirigida a
uma consciência conceptual comunicativa. Procuram a mais direta forma de controlar
emoções e o subconsciente do utilizador. Em síntese, a arquitetura efémera é tanto
modeladora de espaço e tempo como de sensações, recorrendo sobretudo à
componente contemplativa, num controlo da natureza sensível dos visitantes.
21
Pavilhões de exposições: breve síntese histórica
“Originating from greenhouse construction, the glass palaces of the first industrial exhibitions in
London, Munich and Paris, built from standardized parts, conveyed to their fascinated
contemporaries the first impressions of new orders of magnitude and of constructional
principles. They revolutionalized visual experience and altered the spectators’ concept of space,
as dramatically as the railway changed the passengers’ concept of time.”23
Com o desenvolvimento tecnológico do final do séc. XVIII, a era do ferro e do aço traz
grandes inovações construtivas. O vigor do desenvolvimento económico atribui uma
iniciativa ao mundo da indústria e dos negócios que se traduz numa dinâmica de
produção em série e num progresso técnico, influenciando relações sociais, valores
culturais e uma profunda transformação na arquitetura24. Num período em que se
desenvolve uma nova mentalidade, novas aspirações, novos processos e novos
materiais, cria-se uma era de experimentação arquitetónica. O séc. XIX, marcado pelo
sucesso tecnológico como um novo ponto de partida rumo ao cosmopolitismo da
cultura é o momento de afirmação do museu enquanto programa arquitetónico
autónomo, dando também lugar ao aparecimento das grandes exposições
internacionais – “manifestações coletivas que atraem as atenções sobre a nova
arquitetura, fortalecendo a sua dimensão internacional” 25.
23
Jürgen Habermas – The challenge of the nineteenth century to architecture. cit. por Neil Leach -
Rethinking Architecture. London: Routledge Editions, 2004, p.217.
24
Gérard Monnier –História da Arquitectura. Publicações Europa-América. Presses Universitaires de
France, 1994, p.130.
25
Idem, p.134.
26
Luis Fernández-Galiano – Espacios efímeros., p.3.
22
Em 1851, no contexto da primeira Exposição Universal, surge o Crystal Palace de
Londres, erguido por Joseph Paxton, que se apresentou como um transparente
espaço neutro cuja estrutura em grelha permitia uma construção em série. Tomando a
forma de uma enorme galeria envidraçada ortogonal, de três níveis, introduz num novo
conceito de espaço que, desde logo, se tornou uma referência na história da
arquitetura expositiva, representando um ideal oposto ao debate do museu que ocorria
naquela altura e constituindo um modelo de inspiração para alguns dos museus mais
importantes da segunda metade do séc. XX27.
“O Crystal Palace não era tanto uma forma particular quanto um processo de construção
tornado manifesto como sistema total, desde a conceção, a fabricação e os transporte iniciais
até a construção e o desmonte finais.”28
27
Luis Fernández-Galiano – El arte del museo. Museos de Arte, AV, Monografias 71, 1998, p.5.
28
Kenneth Frampton - História Crítica da Arquitetura Moderna. Martins Fontes: São Paulo 2008, p.
31.
23
Depois do sucesso da exposição internacional em Inglaterra, seguem-se cinco
exposições em França, entre 1855 e 1900, onde se destaca a Exposição Universal de
Paris, em 1889, notável sobretudo pela concretização física dos progressos na
engenharia através da Torre Eiffel. Inicialmente construída para ser temporária,
acabou por se transformar num ícone nacional.
29
Conceito derivado de agitação e propaganda, descrevendo formas de arte que expressam uma
explícita mensagem política.
24
23. Alçado do Pavilhão Soviético de Konstantin
Melnikov para a Exposition Internationale des Arts
Decoratifs de 1925, Paris.
25
construído para ser efémero, mas utilizou materiais como betão armado, aço, e
mármore, enunciando uma opção contraditória. Estará Mies van der Rohe a pôr em
causa o princípio da verdade dos materiais?
Segundo Mies van der Rohe, a arquitetura autêntica é aquela que expressa a sua
época, que utiliza os materiais, os processos e a tecnologia que marcam a civilização
em que se insere30. O Pavilhão de Barcelona é, de facto, honesto na representação do
seu tempo e numa opção formal e material que, motivada pela limpidez do sistema
construtivo, exibe a sua elegância, representando o seu país com distinção. Todavia,
opõe-se à essência dos princípios efémeros de rentabilização económica, fácil
montagem/desmontagem e reciclagem. Provavelmente, porque o que movia as
opções arquitetónicas desse tempo, não corresponde à visão contemporânea da
arquitetura efémera e das suas especificidades projetuais. Com efeito, a veracidade
construtiva que, no Modernismo, se ligava à racionalidade dos materiais, não faz mais
sentido numa época em que estes alcançam inúmeras potencialidades estruturais e
estéticas31. Como declarou Luis Fernandez-Galiano, “hoje em dia não há uma
preocupação tão direcionada para o debate estilístico como no Modernismo e no Pós-
modernismo, mas sim em como fazer uma arquitetura mais eficaz, mais útil e com
menos meios”32. O Pavilhão de Barcelona, demolido em 1930, foi reconstruído em
1986 devido à sua importância como ícone arquitetónico do séc. XX, respeitando-se
as características e materiais da construção original33.
30
Moisés Puente - Conversas com Mies Van der Rohe. Certezas americanas.Editorial Gustavo Gili,
SL, Barcelona, 2006, p.89.
31
Jacques Ferrier, op. cit., p.2.
32
Entrevista no âmbito do Congresso Internacional de Arquitetura y Sociedade “Arquitectura: más
por menos”, vídeo disponível em: http://www3.arquitecturaviva.com.
33
The Fundació Mies van der Rohe, disponível em: http://www.miesbcn.com/en/documentation.html
[10.10.2012]
26
27. Interior do Pavilhão de Barcelona, fotografia
posterior a 1986.
34
Keneth Frampton, op. cit., p.276.
35
Frank Werner - Hans Dieter Schaal In-Between: exhibition architecture. 1ª ed. Fellbach:
Edition Axel Menges, 1998. p.16.
36
Le Corbusier, disponível em: http://www.gilles-arnaud-sphere.com/?p=2176
27
29. Pavilion des Temps Nouveaux, 1937.
28
33. Estudo da exploração formal do Pavilion
Philips, 1958.
37
Carlos Basualdo – The Unstable Institution in: MARINCOLA, Paula – What Makes a Great
Exhibition? Philadelphia: Philadelphia Exhibitions Initiative, 2007. p.55.
29
normalmente selecionados como representantes do seu país38. Assim, sendo eventos
desenvolvidos à escala mundial, têm o potencial para colocar a sua cidade e país no
mapa da cultura moderna.
Depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma tentativa de ligação com a arquitetura
moderna e internacional pré-guerra, procurando por sua vez aumentar os padrões de
qualidade39. Assim, nos anos 50 e 60, grandes eventos chamaram a atenção para a
história ocidental numa tentativa de unir a Europa. De facto, as necessidades
intelectuais e mentais do período pós-guerra na Alemanha ocidental tiveram alguma
influência no desenvolvimento e na estrutura de diversas exposições, nomeadamente
a Documenta de Kassel, a partir de 1955. Foi “um produto feliz da Guerra Fria”40,
respondendo simultaneamente à necessidade da Alemanha se atualizar no campo
artístico e “deixar para trás os dolorosos excessos do nazismo”41.
38
Emma Barker - Contemporary Cultures of Display, Yale University Press/The Open University,
New Haven/London, 1999. p106.
39
Frank Werner, op. cit., p.16.
40
Carlos Basualdo, op.cit., p. 56.
41
Idem, ibidem.
30
Paralelamente, fazendo a ponte para o contexto italiano, assiste-se ao
desenvolvimento da linguagem moderna de expor. Carlo Scarpa foi uma referência no
desenvolvimento do espaço expositivo, revelando o potencial da encenação artística.
Tendo desenvolvido uma sensibilidade particular para a criação de intervenções
espaciais expositivas, “interpreta as evidências do passado como series de objetos
que ele transforma em heróis ou dramas épicos das suas próprias composições”42.
Muitas das suas intervenções ocorreram no âmbito da bienal de Veneza, desde
composições efémeras dentro de edifícios pré-existentes até mesmo à realização do
projeto de arquitetura de pavilhões. Tanto em 1948, na 14ª Bienal, para a exposição
Paul Klee (1879-1940), como na 15ª Bienal para a exposição do manifesto na Ala
Napoleonica, em 1950, Scarpa concebeu uma composição cenográfica que se
baseava na recriação do espaço interior das salas de exposição onde rebaixou a
altura das paredes através de um tecido e numa dinâmica de painéis: numa primeira
exposição desenvolveu um jogo em planta, em zigzag, com painéis verticais e
horizontais revestidos por veludo branco e preto, numa segunda centrou-se numa
disposição de painéis verticais sobre paredes cobertas por tecido43.
Ainda em 1950, projetou o pavilhão do livro, que se dividia num jogo trapezoidal
pontuado por treliças na zona expositiva e numa construção mais contida de alvenaria
para a zona de venda de livros44. Mais tarde, na 17ª Bienal (1954), apresentou o
pavilhão da Venezuela cujo desenho procura um espaço versátil que se modela
consoante o ambiente pretendido e é dividido em três espaços principais. Dois são
salas expositivas de planta semelhante e outro corresponde a uma entrada coberta
por uma laje de betão que pode ser fechado45. Em ambas as suas construções
arquitetónicas há uma preocupação com a obtenção de uma iluminação quase
exclusivamente natural.
42
Frank Werner, op.cit., p.20.
43
Orietta Lanzarini - Carlo Scarpa. L’architetto e le arti. Gli anni della Biennale di Venezia 1948-
1972. Regione del Veneto, Marsilio, 2003, p34 e 76.
44
Idem, p.92.
45
Orietta Lanzarini, op. cit., p.148.
31
37. Espaço expositivo da Ala Napoleonica na 15ª
Bienal de Veneza, 1950.
32
40. Planta do pavilhão da Venezuela.
Com a proliferação dos sistemas de comunicação, atenta-se nos anos 60, a uma
crescente obsessão pela imagem e publicidade, numa dimensão consumista que,
segundo Ekkehard Mai, provoca uma erosão da preservação e mediação da cultura,
integrando as exposições de arte no mercado económico de entretenimento
industrial46. Em meados dos anos 70, “uma nova vanguarda desponta adotando
claramente a fixação da memória, chamando a História como experiência vivencial”47.
Num mundo de informação mediatizada, de simulação e de impressões fugazes, os
objetos ganham uma atração, efeito da sua materialidade, tangibilidade e
disponibilidade. Ser capaz de dimensionar as coisas com as mãos, ter a escala real
em frente aos olhos, promete sensações que nem o ponto de vista virtual sobre o
mundo proporcionado pela televisão pode satisfazer.
46
Frank Werner, op. cit., p.8.
47
Maria João Rodrigues, op. cit., p.91.
48
Frank Werner, op. cit., p. 25.
33
sua crescente independência em relação ao museu como instituição, quer a nível
organizacional quer a nível financeiro e simbólico.
34
Expansão dos limites físicos do museu
A arte contemporânea está, hoje em dia, intrinsecamente ligada ao ato de expor, que
por sua vez responde e é moldado pelo contexto sociocultural. No início do séc. XX as
exposições temporárias ganharam relevância cultural e, desde então, têm sofrido
evoluções ao nível conceptual, organizacional e cenográfico, dentro e fora de museus.
Com a autonomização do desenvolvimento museológico surgem inúmeras ideias de
como a arte e o colecionismo devem ser apresentados e acondicionados em espaços
específicos49. Neste sentido, a arquitetura expositiva vai inevitavelmente continuar a
progredir e a apresentar novas soluções. Tem-se verificado pois, uma conquista de
independência das exposições, que ganham vida fora de instituições museológicas,
muitas vezes através da arquitetura efémera.
Segundo Herman Lübbe, nos anos 80, as exposições e feiras de arte e arquitetura vão
usufruir do museu como instituição complementar50. O museu, como instituição
permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, conserva, comunica
e expõe testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, com fins de
estudo, educação e fruição51. Assim, se no museu tendem a prevalecer as vertentes
de colecionismo, preservação e exposição, quando falamos de intervenções
expositivas efémeras entende-se uma dinâmica e uma energia espacial que, através
de atitudes inovadores de encenar e expor, desenha uma atmosfera atrativa entre as
obras de arte, o espaço e o visitante. Componente espacial que, de acordo com
Sigfried Giedion, seduz e assenta no domínio do elemento sinestésico, num jogo de
sensações e experimentação que conquista ao longo do percurso de exposição 52.
Efetivamente, as feiras e exposições temporárias agem, frequentemente, no âmbito
das correntes mais recentes de pensamento, procurando inovar e desafiar a perceção
dos espectadores. Por outro lado, os museus procuram garantir uma qualidade
expositiva estável.
49
Werner Oechslin – A arquitectura de museus: um tema fundamental da arquitectura
contemporânea. Conceitos. Projetos. Edificios.
50
Herman Lübbe - Zeit-Verhältnisse: Zur Kulturphilosophie des Fortschritts. cit. por Frank Werner,
op. cit., p.6.
51
Definição de museu elaborada pelo ICOM, disponível em: www.icom-portugal.org/
52
Sigfried Giedion - Raum, Zeit, Architektur: Die Entstehung einer neuen Traditiom. cit. por Frank
Werner, op. cit., p.6.
35
Segundo Walter Benjamin o museu apresenta-se como a instituição de carácter
histórico que arquiva e classifica os objetos de arte, enquanto as exposições e feiras
de arte e arquitetura procuram induzir experiências didáticas e conduzir à fruição de
públicos alargados53. Contudo, em ambos os casos existe uma tarefa genuína e
fundamental, que se sustenta numa apresentação autêntica e efetiva, como meio de
fazer a organização do conhecimento pelas limitações das suas especificidades,
tornando-o prático e acessível. É importante perceber que, apesar das diferenças
conceptuais e arquitetónicas inerentes a espaços expositivos dentro ou fora do museu,
existe sempre um processo expositivo comum, influenciado pelas exigências culturais
da sociedade. De facto, apesar do progresso e alteração da natureza das exposições
e o crescimento de novos tipos de projetos de exposição fora do museu, a dinâmica da
arte contemporânea vai implicar espaços independentes54. Apesar de museus e
exposições de grande escala terem um maior impacto em formar novas audiências
criticas para o futuro, é através dos espaços independentes que a ligação entre os
museus, as exposições internacionais e as galerias comerciais pode ser influenciada e
os valores de mercado alterados.
“We have seen how the number and range of exhibitions has grown, the growing tension
between spectacle and contemplation and between public and private sectors, and how within a
culture of exhibitions the inter-relation between different kinds of value are expressed. Equally,
we have seen how the types of spaces and buildings have been influenced by artists own
initiatives, by their resistance to the commercial and museum sectors. A central phenomenon
has been the relationship between new art and new institutions: each has helped to change the
other.” 55
53
Walter Benjamim, cit. por Neil Leach - Rethinking Architecture. London: Routledge Editions, 2004,
p.20.
54
Emma Barker, op. cit., p. 126.
55
Idem, ibidem.
36
arquitetos procuraram unificar a natureza temporária do projeto com o contexto urbano
preexistente, a identidade do público e a voz do museu, num desenho de espaços
excecionais ora para a arte, ora para o público56. Com a reabertura do MoMa, em
Manhattan, o MoMa QNS foi adaptado para albergar um centro de estudos e o arquivo
de obras de arte.
Num outro registo, a nível nacional, identifica-seo Museu Nacional de Arte Antiga
(MNAA) em Lisboa que, em 2012, criou, também, espaços expositivos fora do edifício
museológico. O processo desenvolveu-se no âmbito do projeto A Arte Chegou ao
Colombo, referente a uma coleção de obras da temática Construir Portugal, Arte da
Idade Média. Para tal, foi desenhada uma peça de arquitetura efémera que, instalada
no interior do Centro Comercial Colombo, definia um espaço que procurava desafiar
56
Michael Maltzan Architecture, MoMA QNS - Arcspace, disponível em: http://www.arcspace.com/
architects/maltzan/moma/ [21.10.2012]
37
os utilizadores da zona comercial a conhecer um pouco mais sobre arte. Esta é,
portanto, “uma iniciativa que pretende levar o património artístico ao encontro dos
públicos, de uma forma única e inovadora, proporcionando uma experiência
enriquecedora aos visitantes do espaço comercial”57. As obras de arte, desde pintura,
escultura e outras artes decorativas foram expostas num pavilhão de madeira,
desenhado pela arquiteta Manuela Fernandes.
57
Museu Nacional de Arte Antiga expõe no Centro Colombo, disponível em: http://activa.sapo.pt/
vida/lazer/2012/04/02/museu-nacional-de-arte-antiga-expoe-no-centro-colombo
38
Capítulo 2. Projeto final: pavilhão temporário em Roma
Programa e método
Contexto da intervenção
39
40
Capítulo 3. Projeto final: pavilhão temporário em Roma
Programa e método
Uma vez que o projeto teria lugar num jardim semi-privado, que se desenvolve sobre a
colina do Pincio, na cidade de Roma, fez-se uma viagem a Itália, com o intuito de
conhecer, não só com o espaço a intervir, mas também a cultura italiana, procurando
compreender os interesses e as expectativas dos potenciais visitantes da exposição.
Deste modo, a etapa seguinte exigia um olhar atento ao contexto de implantação e a
conceção de um sistema territorial, um sistema espacial e um sistema construtivo do
museu efémero a projetar. O sistema territorial previa as diversas ligações ao sítio:
percursos, clima, perspetivas visuais e a relação simbólica com a nova construção. O
sistema espacial relacionava-se com a disposição e distribuição do programa do
museu, correspondendo a uma proposta cenográfica já pensada na etapa anterior. Por
sua vez, o sistema construtivo requeria uma reflexão sobre o princípio de produção e
de economia associado ao tema cenográfico do pavilhão, tendo em conta materiais,
montagem, desmontagem e transporte. Era ainda fundamental considerar a duração
prevista, para o pavilhão, de um semestre.
58
Consultar enunciado e programa do exercício no Anexo 01.
59
Consultar o catálogo da exposição no Anexo 03.
41
O programa previa cerca de 2000 m2 de superfície bruta, incorporando uma zona de
receção e bengaleiro, uma pequena biblioteca, uma cafetaria, um espaço de vendas,
estacionamento exterior e uma área expositiva com cerca de 1500 m2. Neste espaço
expositivo deveriam ser incorporadas quatro salas de projeção e todo o equipamento
necessário para expor maquetes e painéis explicativos.
Este projeto foi elaborado sob uma ação, de certo modo, intuitiva, uma vez que a
pesquisa elaborada previamente ao projeto foi escassa. O processo de avaliação
distribuiu-se por cinco etapas de apresentação ao professor responsável pela
disciplina, na EPFL, ao longo de doze semanas, sendo que a crítica final contou com a
presença de um júri constituído por seis arquitetos, de diferentes nacionalidades.
Combinando essa análise final com a pesquisa teórica desenvolvida no âmbito do
presente trabalho, posterior à realização do exercício de projeto, bem como
discussões do tema com os orientadores deste relatório, pretende-se, desenvolver
uma reflexão crítica, explicitando de que modo se poderia ter explorado mais o
potencial do pavilhão projetado, enquanto expressão de uma arquitetura expositiva
efémera.
42
Contexto da intervenção
Este jardim tem por si só uma identidade marcada pelos seus próprios percursos e
acessos60. Destaca-se a presença de diversas espécies vegetais, de vários tamanhos,
expondo uma hierarquia entre os diferentes níveis deste espaço exterior. É
fundamental, ainda, perceber a influência da envolvente, ora num sentido divergente,
ora convergente. Isto é, num sentido de divergência, pode-se salientar a perspetiva
visual deslumbrante a que se pode aceder neste jardim, assente numa colina, em
direção à cidade clássica de Roma e aos seus testemunhos de épocas passadas.
Por outro lado, a influência convergente da envolvente interliga-se com os espaços e
os marcos culturais que rodeiam este sítio, apontando caminhos que potenciam a
descoberta a uma eventual intervenção no jardim. Entre os ícones históricos de
arquitetura, situados nas imediações do jardim, surgem: a Vila Médicis, um palácio do
séc. XIX embelezado por um conjunto de jardins planeados ao detalhe, e a Escadaria
de Trinità dei Monti do séc. XVIII, que conduz, no seu topo, à Igreja da Trinidad e a
uma perspetiva visual fascinante sobre a cidade.
60
Ver fotografias do local de intervenção no Anexo 02.
43
Partido conceptual e proposta
61
A expressão genius loci, no âmbito da arquitetura, diz respeito ao conjunto de características
socioculturais, arquitetónicas, de linguagem e de hábitos que caracterizam um lugar.
62
Consultar o catálogo da exposição no Anexo 03.
44
em relação ao espaço interior do pavilhão. Assim, a nordeste, virado para a pendente
do terreno, o pavilhão e o jardim denotam uma proximidade física e visual reforçada
pela presença de elementos que remetem para os temas em exposição (como o
espelho de água, ou o arco de pedra, ou a grande concentração de vegetação, ou
mesmo a expressão do terreno); por outro lado, a sudoeste o pavilhão vira-se para
Roma, num enfiamento visual longínquo, afastando-se fisicamente do jardim, mas
fazendo referência à importância do meio histórico onde se insere.
45
Concebe-se, então, um pavilhão flutuante marcado por duas grandes lajes63. No
espaço, criado entre estas duas linhas estáticas, procurou desenvolver-se um sistema
dinâmico que servisse as exigências cenográficas e funcionais da exposição. Com
este propósito desenhou-se o protótipo de um módulo tridimensional que, consoante a
sua posição no solo, poderia funcionar como fachada/muro, limitando o
enquadramento visual e possibilitando a afixação de informação, ou como
mesa/suporte, para colocar as peças a expor. O módulo poderia ainda converter-se
em local de repouso para o visitante ou, num abrigo/nicho, de modo a possibilitar a
suspensão das peças que assim o exigiam ou mesmo criar zonas de menos
luminosidade, facilitando a projeção de vídeos.
Esta peça modular seria construída através de uma estrutura interna coberta por um
padrão em vime, fazendo referência a uma arquitetura que utiliza os materiais da
natureza. O transporte destas peças seria facilitado pela possibilidade de encaixe dos
módulos uns sobre os outros. Em termos espaciais, este módulo permite criar uma
continuidade dinâmica pela sua possível fixação ao módulo seguinte, desenhando
zonas de diferentes dimensões e carácter64. Definem-se, assim, zonas mais fechadas,
para a proteção das peças expostas, e zonas mais abertas para o jardim, como a
cafetaria ou a biblioteca. Contudo, não só pela escolha material desta peça como pelo
63
Ver fotografias das maquetes no Anexo 05.
64
Desenhos técnicos consultáveis no Anexo 04.
46
facto do pavilhão funcionar como um prolongamento do jardim, evitando-se uma
separação constante e massiva entre o espaço de exposição e o exterior, através do
contacto com os sons, as temperaturas e os odores do jardim, há uma constantemente
referência à natureza e à simbiose entre esta e a arquitetura, remetendo para o tema
cenográfico adotado.
65
Richard Weston – Materiales, forma y arquitectura. Blume, Barcelona, 2003, p.16.
47
48
Capítulo 3. Conclusões
49
50
Conclusões
“A arquitectura é certamente uma arte espacial, […] mas a arquitectura também é uma arte
temporal.” 66
Sendo a sociedade atual marcada por uma sobrevalorização dos valores económicos
e por um ambiente de transitoriedade, onde a substituição material se dá a um ritmo
acelerado, a arquitetura sofre uma metamorfose em direção a uma nova abordagem
do projeto. A arquitetura efémera é, por conseguinte, frequentemente entendida como
uma resposta a necessidades momentâneas. Apesar de sobressair pelo seu carácter
de experimentação formal e material, a arquitetura efémera desenvolve-se, cada vez
mais, em simbiose com uma ética ambiental. O arquiteto reflete sobre a possível
reutilização dos materiais, sobre o meio de transporte, a facilidade de execução e os
processos de montagem/desmontagem, minimizando impactos ambientais futuros.
Deste modo, na conciliação da atitude sustentável com o desenho arquitetónico,
promove-se uma escolha estrutural simples e repetível, capaz de responder às
exigências programáticas e ilustrar o partido concetual, numa ação clara e inovadora.
66
Peter Zumthor – Atmosferas. Entornos arquitectónicos. As coisas que me rodeiam. Editorial
Gustavo Gili, Barcelona, 2006, p.43.
51
opção em termos económicos, dada a facilidade de transporte, de fragmentação em
peças padronizadas e pelo facto de a montagem e desmontagem não implicar o
recurso a maquinaria pesada, constata-se que exigiu um grande número de apoios
verticais.
Sendo a imagem pretendida, para o ambiente interior, uma longa galeria retilínea
dominada por um gesto dinâmico continuo, que apresenta e dispõe as peças de
arquitetura do catálogo predefinido, assim como enquadra a perspetiva visual sobre a
envolvente, nota-se alguma inconsistência na adoção de colunas que, na sua
verticalidade, quebram a profundidade do gesto linear. Daqui, conclui-se que é
fundamental alcançar um equilíbrio entre o gesto concetual, a técnica e o princípio de
economia. Com efeito, nem sempre a melhor opção é a mais económica: por vezes, a
escolha de um material de custo mais elevado, que responde mais eficazmente ao
partido concetual, acaba por se revelar mais adequada. O desafio consiste, assim, em
escolher um material viável para uma estrutura que, ao mesmo tempo, é
suficientemente modular para o seu fácil transporte e enuncia claramente ao partido
concetual. Eventualmente, no caso em análise, uma boa opção seria escolher um
material mais eficiente na configuração do espaço, apesar de menos económico, como
uma estrutura metálica, por exemplo, num sistema de vigas vierendeel.
52
salientou-se como fulcral a qualidade dos espaços expositivos que advém da sua
planificação cenográfica. A conjugação entre o discurso expositivo interior e o partido
conceptual global do projeto apresentam-se, assim, como uma via para atingir uma
sedutora singularidade arquitetónica.
É de salientar que o estudo teórico pôs em evidência o valor artístico, como veículo
gerador de impressões sensíveis no utilizador, numa ação de deslumbramento,
favorecida por uma imagem mediática que apela ao êxtase do instante. Para tal, é
importante a definição clara do partido concetual, materializado em opções estruturais
e materiais. Deve haver uma interligação clara entre o lugar, o conceito adotado, o
programa proposto e a estrutura. Todavia, é de referir que, na arquitetura
contemporânea, importa considerar ainda uma componente relacionada com um
desenvolvimento sustentável. Consciência esta que não prevalecia na exploração dos
novos materiais e tecnologias construtivas do séc. XIX e início do séc. XX, em que a
racionalização construtiva e a verdade dos materiais remetia para um encontro entre
forma e estrutura. Presentemente, tendo em conta o grande leque de opções materiais
e de técnicas construtivas, a preocupação da veracidade material em relação à
exigência programática é o ponto de partida do desenvolvimento estrutural, consoante
se fala de uma obra construída em permanência ou em transitoriedade. A procura de
fazer mais com menos traduz-se, agora, no princípio base do projeto de arquitetura
efémera.
53
racional, numa eficácia económica e ambiental, tendo em vista um futuro sustentável.
O projeto de uma arquitetura expositiva efémera reside, então, na harmonização
destes múltiplos fatores através de um gesto artístico claro e unificado.
54
Fontes e Bibliografia
55
56
Bibliografia
BLAU, Eve; KAUFMAN, Edward - Architecture and its Image: four centuries of
architectural representation. S/l: Centre Canadien d’Architecture, 1989. ISBN 978-0-
262-02289. 380p.
FEIREISS, Kristin (ed.) - The Art of Architecture Exhibitions. 1ª ed. Rotterdam: NAi
Publishers,2001. ISBN 90-5662-204-8. 160p.
FERNÁNDEZ-GALIANO, Luis – “El arte del museo”. Museos de Arte. AV, Monografias
71, 1998.
57
HUGHES, Philip - Exhibition Design. 1ª ed. London: Laurence King Publishing Ltd,
2010. ISBN 978-1-85669-640-1. 224 p.
JODIDIO, Philip - Temporary Architecture Now! Taschen, Cologne, 2011. ISBN 978-3-
8365-2327-1. 416 p.
KARP, Ivan; LAVINE, Steven - Exhibiting Cultures: poetics and politics of museum
display. Washington DC: Smithsonian Books, 1991. ISBN 978 156 098 0216. 480p.
KWON, Miwon - One Place After Another: site-specific art and locational identity.
Cambridge, Massachusets: MIT Press, 2004 (1ª Ed. 2002). ISBN 978-0-262-61202-9.
218 p.
LANZARINI, Orietta - Carlo Scarpa. L’architetto e le arti. Gli anni della Biennale di
Venezia 1948-1972. Regione del Veneto, Marsilio, 2003. ISBN 88-317-8386-6. 249 p.
LEACH, Neil (ed.) - Rethinking Architecture. London: Routledge Editions, 2004. ISBN
0- 415-12826-9. 409 p.
O’DOHERTY, Brian - Inside the White Cube: the ideology of the gallery space.
Berkeley, LA, London: University of California Press, 1999. ISBN 978-0-520-22440-9.
113 p.
58
OBRIST, Hans Ulrich - A Brief History of Curating. Zurich: JRP Ringier, 2010. ISBN
978-3-905829-55-6. 243p.
PUENTE, Moisés (ed.) - Conversas com Mies Van der Rohe. Certezas
americanas.Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2006. ISBN 978-84-252-2093-7. 96p.
RICO, Juan Carlos - Museos, Arquitectura, Arte. Los espacios expositivos, Sílex,
Madrid, 1999.
59
Dissertações académicas
HERBST, Hello – pelos salões das bienais, a arquitetura ausente dos manuais:
expressões da arquitetura moderna brasileira expostas nas bienais paulistanas (1951-
1959). Doutoramento para o Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universiddae de São Paulo, 2007.
RIBEIRO, Maria Joana Gil – O museu como lugar urbano. Rutura ou Continuidade.
Mestrado em Arquitetura, Instituto Superior Técnico, 2009.
Activa - Museu Nacional de Arte Antiga expõe no Centro Colombo, disponível em:
http://activa.sapo.pt/vida/lazer/2012/04/02/museu-nacional-de-arte-antiga-expoe-no-
centro-colombo [05.10.2012]
60
Congresso Internacional de Arquitetura y Sociedade “Arquitectura: más por menos”,
CNN, disponível em: http://www3.arquitecturaviva.com/Videonoticia-entrevista%20
Galiano.htm [01.10.2012]
http://www.dysturb.net/2008/aaron-betsky-to-curate-the-11th-venice-architecture-
biennale-2008/ [05.09.2012]
http://toddtarantino.com/hum/achorripsis.html [13.09.2012]
http://aworldtowin.net/reviews/futurism.html [13.09.2012]
http://www.foto8.com/new/online/blog/947-jorge-ribalta-on-documentary-and-
democracy [13.09.2012]
http://toddtarantino.com/hum/achorripsis.html [29.09.2012]
http://www.realtokyo.co.jp/docs/en/column/review/bn/review_003_en/ [30.09.2012]
http://afflictor.com/wp-content/uploads/2010/04/eh.png [01.10.2012]
61
http://vejasp.abril.com.br/materia/bienal-historia-livro [02.10.2012]
http://www.architecture-studio.fr/fr/projets/shn3/exposition_universelle_2010.html
[07.10.2012]
http://www.todoarquitectura.com/revista/36/36sp07_Bruno_Taut.asp [25.10.2012]
http://www.gilles-arnaud-sphere.com/?p=2176 [11.12.10.2012]
http://www.visiotice.fr/ARTEMIS/hermes/hermes/rupture/duchmont.htm [11.12.10.2012]
http://www.fondationlecorbusier.fr/corbuweb/morpheus.aspx?sysId=14&IrisObjectId=71
85&sysLanguage=fr-fr&itemPos=1&sysParentId=14&clearQuery=1 [11.12.10.2012]
http://bryndakirk.wordpress.com/2008/12/02/the-history-of-architecture/floor-plan-
barcelona-pavilion/ [11.12.10.2012]
62
Anexos: projeto final
63
01. Enunciado e programa
Architectures Semestre 2 : 2012 EPFL ENAC IA UTA Professeur Patrick Berger
Exposition éphémère dʼarchitectures humaines et animales
Etapes des rendus
Rendu I 6 mars Sélection – point de vue - Scénographie Echelle libre et 1 200
Tout le jour Seul les 1'500 m2 dʼexposition sont à considérer pour ce premier rendu
Il sʼagit de travailler comme un commissaire dʼexposition, dʼopérer une sélection dans le catalogue
fourni et dʼimaginer quels sont les ensembles, les liens qui peuvent servir de propos à cette
exposition. Programmation de lʼexposition.
- idée sur la sélection des objets du catalogue, les ensembles
et liens entre les 3 architectures (rôle de commissaire dʼexpo) planche explicative libre
- idée scénographique : disposition et circulation dessin filaire (trait n/b)
- idée constructive (fabrication, références) esquisse trait n/b
- plans et coupes de la salle dʼexposition 1 :200 (trait n/b)
- maquette de la salle dʼexposition 1 :200 matière libre
Rendu III 17 avril Structure – Matérialisation (avec Prof. Aurelio Muttoni) Echelle 1 100
Tout le jour Optimisation des 3 systèmes par lʼaffirmation du plan structurel et des choix constructifs
- système constructif : principe de fabrication et dʼéconomie
en relation avec lʼidée scénographique et représentative
du pavillon (matériaux, mise en œuvre, assemblage…) axonométrie (trait n/b)
- plan de situation 1 :500 (trait n/b)
- plans, coupes, élévations exprimant le parti structurel 1 :200 (trait n/b)
- maquette dʼimplantation 1 :500 (blanc/blanc)
- maquette structurelle (physique, matériau représentatif) 1 :100
- maquette partielle du principe constructif 1 :50
caféteria 150 m²
desk
cuisine
terrasse extérieur -> jardin
4 salles de projections 4m x 6m
salles de séminaires
2 salles à 50 m2 à l'Institut Sacré-Coeur
laboratoires / ateliers
4 salles à 50 m2 à l'Institut Sacré-Coeur
vestiaires du personnel
à l'Institut Sacré-Coeur
local du gardien 15 m²
wc
infirmerie
02
01
06
05
04
05 06 Piazza di Spagna
Sara Carnide, 2012
03. Seleção das arquiteturas do catálogo de exposição