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ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS

PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

Sara Joana Ferreira Carnide

Relatório de Projeto para obtenção do Grau de Mestre em


ARQUITETURA

Júri
Presidente: Prof.ª Doutora Teresa Frederica Tojal de Valsassina Heitor
Orientador: Profa. Doutora Helena Silva Barranha
Co-Orientador: Prof. Ricardo Alberto Bagão Quininha Bak Gordon
Vogais: Prof.ª Doutora Maria Alexandra de Lacerda Nave Alegre
Prof. Doutor Vítor Manuel de Matos Carvalho Araújo

Dezembro 2012
I
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

II
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

Agradecimentos

Ao Arq. Patrick Berger pela transmissão de experiências e conhecimentos, no âmbito


das críticas de projeto, e à Arqª. Isabelle Valazza pela persistência no
acompanhamento prático do projeto.

À Profª. Doutora Helena Barranha, pela orientação, especialmente pelos


conhecimentos partilhados e pela constante dedicação e incentivo.

Ao Arq. Ricardo Bak Gordon, pelas conversas e sentido crítico.

A todos os professores e colegas que me influenciaram e entusiasmaram na


descoberta do gosto pela arquitetura, ao longo da minha formação académica.

Às minhas amigas, companheiras de aventuras, viagens e aprendizagens.

À minha família, em especial aos meus pais, pelo apoio incondicional.

III
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

Resumo

O presente relatório foi desenvolvido no seguimento do trabalho de Projeto Final, no


Mestrado Integrado em Arquitetura do Instituto Superior Técnico. O projeto, que
consistiu na conceção de um pavilhão expositivo efémero, em Roma, foi desenvolvido
no segundo semestre do ano letivo 2011/2012, na École Polytechnique Fédérale de
Lausanne, no âmbito do Programa Erasmus. O relatório tem como objetivo central
desenvolver uma reflexão crítica sobre o projeto, baseado num estudo teórico sobre
arquitetura efémera em contextos expositivos.

Através do enquadramento histórico e cultural da arquitetura efémera, apoiado em


exemplos de obras que se destacam como ícones arquitetónicos, desde o séc. XIX até
ao presente, produziu-se uma reflexão e uma sistematização sobre as especificidades
arquitetónicas de intervenções temporárias. Afigurou-se ainda fundamental
compreender a influência da atual realidade social e cultural na conceptualização de
valores provisórios e sensoriais da obra arquitetónica.

Destaca-se o papel do arquiteto, não só enquanto gerador de um pensamento


conceptual aliado a um sistema estrutural económico e eficaz, mas também como
produtor de qualidades sensíveis e estéticas numa arquitetura inovadora de evidente
valor artístico, celebrada pelo testemunho do instante.

Palavras-chave: arquitetura efémera; pavilhão; exposição; museu; cenografia; evento.

IV
EPHEMERAL ARCHITECTURES FOR EXHIBITIONS
TEMPORARY PAVILION IN ROME

Abstract

The present report followed the Final Project of the Master in Architecture at Instituto
Superior Técnico (Technical University of Lisbon). The project consisted in the design
of an ephemeral pavilion for exhibitions in Rome, and was developed under the
Erasmus Program, at the École Polytechnique Fédérale de Lausanne, in the second
semester of the academic year 2011/2012. This report aims to present a critical view
on the project, based on a theoretical study of ephemeral architecture in exhibition
contexts.

The singularities of the ephemeral architecture were analyzed historically and culturally
via some of their most prominent architectonic icons since the 19th century up to
nowadays. This analysis also contributed to highlight the conceptual impact of the
current social and cultural reality on the architectural work, valuing the ephemeral and
the sensorial.

The role of the architect is of the utmost importance, he is not only the generator of a
conceptual thinking connected to a cost-efficient structural system, but also the
producer of sensorial and aesthetic qualities, presenting an innovative artistic
architecture witnessed by the ephemerality of the moment.

Key words: ephemeral architecture; pavilion; exhibition; museum; scenography; event.

V
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

Índice

Agradecimentos III

Resumo IV

Abstract V

Índice VI

Índice e créditos das ilustrações VIII

Introdução 1

Âmbito e objetivos do projeto de investigação 3

Aspetos metodológicos 5

Capítulo 1. Arquiteturas expositivas efémeras 7

O conceito do efémero na arquitetura contemporânea 9

Pavilhões de exposições: breve síntese histórica 22

Expansão dos limites físicos do museu 35

Capítulo 2. Projeto final: pavilhão temporário em Roma 39

Programa e método 41

Contexto da intervenção 43

Partido conceptual e proposta 44

Capítulo 3. Conclusões 49

VI
Fontes e Bibliografia 55

Anexos: projeto final 63

01. Enunciado e programa

02. Contexto do local de intervenção

03. Seleção das arquiteturas do catálogo de exposição

04. Desenhos técnicos

05. Fotografias das maquetes

VII
ARQUITETURAS EXPOSITIVAS EFÉMERAS
PAVILHÃO TEMPORÁRIO EM ROMA

Índice e créditos das ilustrações

Ilustração Página Fonte

01. 12 http://www.architecture-studio.fr/fr/projets/shn3/exposition_universelle_
2010.html [07.10.2012]

02. 13 JODIDIO, Philip - Temporary Architecture Now! Taschen, Cologne, 2011,


p.95.

03. 13 © Iwan Baan http://www.archdaily.com/57922/denmark-pavilion-shanghai-


expo-2010-big/ [11.12.2012]

04. 13 Idem, ibidem.

05. 14 Idem, p.269.

06. 14 Idem, p.275.

07. 15 http://www.archdaily.com/58591/uk-pavilion-for-shanghai-world-expo-2010-
heatherwick-studio/ [01.10.2012]

08. 15 © Daniele Mattioli http://www.archdaily.com/58591/uk-pavilion-for-


shanghai-world-expo-2010-heatherwick-studio/ [01.10.2012]

09. 15 http://www.archdaily.com/58591/uk-pavilion-for-shanghai-world-expo-2010-
heatherwick-studio/791_section-2-copy/ [11.12.2012]

10. 17 Sara Carnide, 2012.

11. 17 Idem.

12. 17 Idem.

13. 17 Idem.

14. 18 © Philippe Ruault http://www.serpentinegallery.org [01.10.2012]

15. 18 Idem.

16. 19 © John Offenbach http://www.serpentinegallery.org [01.10.2012]

17. 19 Idem.

18. 20 © 2012, by Herzog & de Meuron and Ai Weiwei


http://www.serpentinegallery.org [01.10.2012]

19. 20 © Iwan Baan http://www.serpentinegallery.org [01.10.2012]

20. 23 http://afflictor.com/wp-content/uploads/2010/04/eh.png [01.10.2012]

VIII
Ilustração Página Fonte

21. 23 © Arch. Phot. Paris / CNMHS. BARKER, Emma - Contemporray Cultures of


Display. Yale University Press/The Open University, New Haven/London,
1999, p.106.

22. 24 http://www.todoarquitectura.com/revista/36/36sp07_Bruno_Taut.asp

23. 25 http://www.paris-architecture.info/PA-032.htm [11.12.2012]

24. 25 Idem.

25. 25 http://www.foto8.com/new/online/blog/947-jorge-ribalta-on-documentary-
and-democracy [13.09.2012]

26. 26 ZIMMERMAN, Claire – Mies Van der Rohe1886-1969. A Estrutura do


Espaço. Taschen, Abril 2010, p.40.

27. 27 ZIMMERMAN, Claire – Mies Van der Rohe1886-1969. A Estrutura do


Espaço. Taschen, Abril 2010, p.43.

28. 27 http://bryndakirk.wordpress.com/2008/12/02/the-history-of-
architecture/floor-plan-barcelona-pavilion/ [11.12.2012]

29. 28 © FLC/ADAGP http://www.fondationlecorbusier.fr/corbuweb/morpheus.


aspx?sysId=14&IrisObjectId=7185&sysLanguage=fr-fr&itemPos=1&sys
ParentId=14&clearQuery=1 [11.12.2012]

30. 28 http://www.tu-cottbus.de/theoriederarchitektur/Wolke/eng/Subjects
/071/Frampton/frampton.htm [01.10.2012]

31. 28 http://toddtarantino.com/hum/achorripsis.html [29.09.2012]

32. 28 http://www.gilles-arnaud-sphere.com/?p=2176 [11.12.2012]

33. 29 http://www.visiotice.fr/ARTEMIS/hermes/hermes/rupture/duchmont.htm
[11.12.2012]

34. 30 Arquivo histórico Wanda Svevo-Fundação Bienal de São Paulo:


http://vejasp.abril.com.br/materia/bienal-historia-livro [02.10.2012]

35. 30 KLÜSSER, Bernd; HEGENWISCH, Katharina (eds.) - L’Art de l’Exposition.


Une documentation sur trente expositions exemplaires du XXe siècle,
Editions du Regard, Paris, 1998, p.214.

36. 31 LANZARINI, Orietta - Carlo Scarpa. L’architetto e le arti. Gli anni della
Biennale di Venezia 1948-1972. Regione del Veneto, Marsilio, 2003, p.35.

37. 32 Idem, p.77.

38. 32 Idem, p.93.

39. 32 Idem, p.147.

40. 33 Idem, p.150.

41. 37 MoMA - http://www.arcspace.com/architects/maltzan/moma/ [21.10.2012]

42. 37 Idem.

43. 38 Sara Carnide, 2012.

44. 38 Idem.

IX
Ilustração Página Fonte

45. 43 Sara Carnide, 2012.

46. 45 Idem.

47. 45 Idem.

48. 46 Idem.

49. 47 Idem.

X
XI
Introdução

Âmbito e objetivos do projeto de investigação

Aspetos metodológicos

1
2
Introdução
Âmbito e objetivos do projeto de investigação

O presente trabalho de investigação, intitulado Arquiteturas expositivas efémeras:


pavilhão temporário em Roma, foi desenvolvido no seguimento do trabalho da
disciplina de Projeto Final, no Mestrado Integrado em Arquitetura do Instituto Superior
Técnico. O projeto, que consistiu na conceção de um pavilhão expositivo efémero, em
Roma, foi desenvolvido no segundo semestre do ano letivo 2011/2012, na École
Polytechnique Fédérale de Lausanne, no âmbito do Programa Erasmus. O relatório
tem como objetivo central o desenvolvimento de uma abordagem crítica sobre o
projeto, baseado num estudo teórico sobre arquitetura efémera em contextos
expositivos, realizado posteriormente ao exercício. Deste modo, analisa-se o que
caracteriza uma obra de arquitetura efémera, enumerando as suas especificidades no
campo do projeto de arquitetura, contemplando uma contextualização histórica e uma
breve síntese de alguns casos paradigmáticos.

A arquitetura efémera tem adquirido uma importante presença na cultura


contemporânea, traduzindo uma busca por respostas rápidas a necessidades
transitórias. Surge, portanto, associada ao conceito de evento, entendido como veículo
de dinamização cultural na sociedade contemporânea. Não obstante a sua ação
temporária, num contexto expositivo, trata-se de um tipo de arquitetura cuja
potencialidade para dinamizar um lugar se tem imposto como via alternativa ao
conceito tradicional de exposição temporária, inserida em instituições museológicas.
Deste modo, pretende-se compreender o conceito de efemeridade, estudando a sua
relação com a sociedade contemporânea e a sua influência no projeto arquitetónico,
enquanto meio de divulgação, exposição de ideias, experimentação, criação de
ambientes sinestésicos e interação com o público. Procura-se um entendimento das
exigências do desenho de uma peça com este carácter, quer ao nível formal, quer
através do estudo material ou económico, em conformidade com o espírito de
inovação e divulgação característico da sociedade atual. Neste sentido, identificam-se
projetos emblemáticos de arquitetos de referência, assim como polos de concentração
de arquitetura efémera, como são as feiras internacionais de arte e de arquitetura.

Numa primeira etapa do trabalho, analisa-se a situação da sociedade contemporânea,


em termos socioculturais, de modo a enquadrar o conceito de efémero e compreender
de que forma este influencia conceptualmente a arquitetura, contrariando uma das

3
características elementares da obra arquitetónica – a sua durabilidade, que tende a
potenciar a sua afirmação enquanto símbolo cultural de uma sociedade. Por
conseguinte, identificam-se alguns projetos de referência, num âmbito temporário e
expositivo, contemplando diferentes programas e de diferentes escalas de
intervenção. Consideram-se, paralelamente, o desenho de uma peça de arquitetura
efémera singular e o desenho de um conjunto de arquiteturas efémeras destinadas à
celebração de um evento de carácter internacional, nas diferentes condições espaciais
que o local de intervenção pode tomar, quer seja este ao ar livre ou inserido dentro de
um edifício preexistente.

Procura-se, desta forma, compreender o significativo desenvolvimento que a


arquitetura efémera tem sofrido nas últimas décadas, através do enquadramento da
sua evolução histórica no âmbito das grandes exposições internacionais, recorrendo a
exemplos de intervenções marcantes e elucidativas das premissas da arquitetura
enquanto meio de experimentação de novos materiais e tecnologias. Numa
abordagem mais genérica sobre a arquitetura enquanto suporte de processos
expositivos, evidencia-se, ainda, a necessidade de expor para além dos limites físicos
da instituição museológica.

Numa segunda fase, é apresentado o Projeto Final do Mestrado Integrado em


Arquitetura, que corresponde a um pavilhão efémero para a zona da colina do Pincio,
em Roma, cujo programa prevê o desenvolvimento cenográfico de uma exposição de
peças arquitetónicas. Inclui-se, portanto, no presente relatório, o respetivo enunciado,
a metodologia projetual, o enquadramento físico, o conceito-base e, finalmente, a
formalização material e estrutural, a partir dos quais se desenvolve uma reflexão
crítica que tem em conta, também, os comentários e sugestões apresentados pelos
professores de projeto. Esta análise, por sua vez, cruza os conhecimentos adquiridos
através do exercício de projetar uma arquitetura efémera expositiva, com a
consciência das exigências conceptuais, metodológicas e construtivas desta tipologia
da arquitetura, identificando equívocos e possibilidades de desenvolvimento posterior
sobre o projeto apresentado.

4
Aspetos metodológicos

A metodologia seguida para esta investigação desenvolveu-se, sobretudo, em torno de


uma pesquisa bibliográfica. Numa primeira fase, esta recolha direcionou-se para uma
abordagem mais geral e histórica sobre o tema de exposições e de museus, onde o
extenso arquivo da Biblioteca de Arte da Fundação Calouste Gulbenkian se revelou
fundamental. De seguida, perante a necessidade de delimitação temática, fez-se a
consulta de uma bibliografia mais específica e, portanto, mais reduzida sobre a
arquitetura efémera e a sua génese. A análise bibliográfica incluiu livros e webpages
em português, inglês, francês, espanhol e italiano.

Importa ainda referir que a recolha bibliográfica decorreu também em ambiente


académico, nomeadamente na biblioteca do Instituto Superior Técnico e na biblioteca
de École Polythenique Fédérale de Lausanne. A possibilidade de recorrer a consultas
de documentos e imagens online foi também importante, sobretudo na aquisição de
informações sobre eventos a decorrer, que ainda não se encontram documentados em
livros.

Entre a vasta bibliografia analisada, os textos que se desenvolvem ao longo do


presente trabalho, partilham uma visão sobre a arquitetura efémera que distingue
particularmente o ponto de vista teorizado pelos autores contemporâneos Luís
Fernández-Galiano, Victor Molina Escobar e Rui Barreiros Duarte. Por sua vez, a
análise do contexto cultural e expositivo atual é apoiada, maioritariamente, pela obra
de Emma Barker e Paula Marincola, enquanto a reflexão sobre o legado histórico de
processos e arquitetura expositivas se sustenta em autores como Frank Werner e
Bernd Klüsser, que teorizam sobre o ato de expor com fundamentos históricos.

Viagens internacionais realizadas ao longo do percurso académico de arquitetura,


onde foi possível contactar com intervenções efémeras ou expositivas tornam-se,
agora, relevantes num processo de consolidação de ideias e desenvolvimento de um
espírito crítico. Evidenciam-se, assim, as deslocações a Espanha - Expo de Zaragoza
e exposições da Fundació Joan Miró e do Museu Nacional d’Art de Catalunya
(Barcelona). Bem como as visitas a diversos espaços museológicos na Holanda,
Dinamarca, França e Alemanha, destacando-se, entre outros exemplos, o
Rijksmuseum (Amesterdão), o Louisiana Kunstmusuem (Humlebæk, perto de

5
Copenhaga), o Centre Georges Pompidou (Paris), o Jüdische Museum (Berlim), a
Bauhaus-Archiv (Berlim), a Neue Nationalgalerie (Berlim), o Alte Museum (Berlim) e o
Pergamon Museum (Berlim). Em Munique, na Alemanha, houve oportunidade para
visitar uma obra de arquitetura efémera, denominada Pavilion 21 Mini Opera Space,
do atelier Coop Himmelb(l)au.

A permanência na Suíça, em termos de espaços expositivos, favoreceu o


conhecimento direto do Vitra Museum, em Basel, e do Kunsthaus Museum, em
Zurique. Foi ainda, fundamental a realização de uma viagem a Roma, tomando
contacto com a cultura fascinante da cidade onde teria lugar o projeto final, a analisar
no presente relatório. Contudo, revelou-se como a jornada mais significativa, a ida à
Bienal de Arquitetura de Veneza, em 2012, pela possibilidade de contacto com
exemplos de referência histórica e contemporânea, ilustrativos da temática em análise.

6
Capítulo 1. Arquiteturas expositivas efémeras

O conceito do efémero na arquitetura contemporânea

Pavilhões de exposições: breve síntese histórica

Expansão dos limites físicos do museu

7
8
Capítulo 1. Arquiteturas expositivas efémeras
O conceito do efémero na arquitetura contemporânea

“A temporalidade – qualificação do tempo – a noção de presente, a memória de passado e a


aspiração de futuro dão ao tempo uma qualidade estética que é fundamento na liberdade
humana.”1

O efémero pressupõe uma temporalidade fugaz, uma duração tão curta que a própria
criação admite a destruição. Porém, o tempo é um elemento ambíguo, não tem uma
medida exata quando traduzido em palavras. Aceitando-se que o homem é a medida
para as realidades humanas, entende-se como eterno aquilo que transcorre uma
escala de tempo impercetível ao individuo e entende-se como transitório aquilo que se
desfaz dentro da escala humana de tempo, de modo percetível2.

De certa forma, podemos dizer que toda a arquitetura é efémera: a luta contra o tempo
é, desde já, uma batalha perdida contra a erosão dos elementos, o desgaste causado
pelo clima e a destruição provocada pelo homem3. Porém, há obras mais efémeras do
que outras e o que as distingue é, sobretudo, a consciência de um tempo de vida pré-
determinado; uma obra efémera é aquela que nasce para morrer: o efémero é algo
que anuncia o seu próprio fim, renunciando ao futuro4. Assim, na linguagem poética da
sua fugacidade, a obra efémera incute-se de sentido dramático. A sua temporária
presença é intensa e resistente. A sua temporalidade torna-se visível na experiência
do instante, pois a representação da sua presença tem lugar aqui e agora. É, então,
nesta aceitação e numa certa ostentação de uma breve existência que se desenvolve
a atratividade da arquitetura efémera, surgindo frequentemente associada a eventos
ou inovações experimentais, usadas para testar processos e materiais. Os arquitetos
encontram na arquitetura efémera uma forma de expressão que permite explorar
relações entre espaço, ambiente e pessoas, visto que a maior parte destes projetos
está relacionada com propósitos de coexistência, que procuram gerar encontros
sociais, detonadores de diálogos e reflexões.

1
Maria João Rodrigues - O que é Arquitectura. Quimera Editores, Lda. Lisboa, 2002, p.28.
2
Daniel J. Mellado Paz - Arquitetura efêmera ou transitória. Vitruvius – arquitextos, disponível em:
http://www.vitruvius.com.br [08/03/2012]
3
Luis Fernández-Galiano - Espacios Efimeros. Arquitectura Viva, nº 141, 2011. p.3.
4
Víctor Molina Escobar – ¿Pensar lo efímero?. Arquitectura, Art i Espai Efímer. Barcelona:
Universitat Politècnica de Catalunya, 1999. Cap.1, p. 16.

9
A arquitetura tem o potencial de delimitar espaço e tempo sob uma qualidade artística
que a identifica como um símbolo. O arquiteto, na sua relação com a sociedade,
desenha uma obra como “um testemunho interpretativo do anseio social”5. E, neste
sentido, a vivência em comunidade revela-se um organismo regulador de opções
práticas e concetuais, definindo a arquitetura do seu tempo.

Na sociedade contemporânea, onde prevalecem tendências capitalistas, incita-se uma


necessidade intensa de consumo instigada por todo um jogo enérgico de marketing e
publicidade. Desvenda-se numa busca pela satisfação de necessidades supérfluas,
sustentada por uma mentalidade de descarte e troca. Os objetos tornam-se
rapidamente obsoletos, valorizando-se o provisório e o entusiasmo pela novidade, em
detrimento da durabilidade. Apontam-se, então, como os principais veículos de
incentivo a um modelo de economia liberal, que progride até hoje, a industrialização e
a inovação tecnológica6. Profundas transformações se fizeram sentir no modo de estar
e atuar do individuo e da comunidade, influenciando, inevitavelmente, também o
espaço cultural que, numa sociedade saturada por imagens e comunicação, passa a
ser dominado pela simulação, como observa Jean Baudrillard:

“Les gens ont envie de tout prendre, de tout piller, de tout bouffer, de tout manipuler. Voir,
déchiffrer, apprendre ne les affecte pas. Les organisateurs (et les artistes et les intellectuels)
sont effrayés par cette velléité incontrôlable, car ils n’escomptent jamais que l’apprentissage
des masses au spectacle de la culture.”7

Numa atmosfera cultural que tende para a excitação do momento, para a


dramatização e para o espetáculo - “Spectacle is a key concept for analyzing the
condition of an art in the era of mass media.”8 – desenvolve-se uma retórica sensorial
que levanta a questão da subordinação da arte e da cultura à publicidade e ao
consumismo. Enfatizam-se as imagens como um meio ilusório, numa forma de
domínio teatral e sedução do espetador até à submissão9. Com efeito, o entendimento
contemporâneo da arte é construído e comunicado sobretudo através de exposições

5
Maria João Rodrigues, op. cit., p.35.
6
Lizandra Magon, Suzana Ribeiro - A nutrição e o consumo consciente. Pólen Editorial. São Paulo:
Instituto Akatu, 2004. Disponível em http://www.akatu.org.br/Publicacoes/Alimentos. [06.09.2012]
7
Jean Baudrillard - Simulacres et simulation. Galilée, 1981 Paris, p.106.
8
Emma Barker – Contemporary Cultures of Display. The Open University, 1999. p.17.
9
Guy-Ernest Debord - La sociéte du spectacle in The Situationist International Text Library,
Disponível em : http://library.nothingness.org

10
públicas. Exposições que surgem profundamente ligadas ao mercado de arte e
revelam, portanto, interesses capitalistas. É assim frequente a instituição que monta a
exposição procurar deliberadamente um sensacionalismo e estratégias publicitárias
para atrair inúmeros visitantes10. Esta cultura expositiva geradora de encontros sociais
vai-se fazer notar em museus, galerias ou projetos expositivos de arquitetura
temporária.

É neste limiar entre a arte e arquitetura que se insere uma via alternativa à construção
tendencialmente perene: a arquitetura expositiva efémera. Logicamente, esta corrente
não é alheia às tendências gerais da atual cultura de consumo rápido. Num contexto
económico-social cuja referência temporal se define por um ciclo acelerado de
reciclagem, troca e substituição, condicionantes de ordem económica favorecem
soluções arquitetónicas de custos menos elevados e de rápida execução. Assim,
soluções assumidamente temporárias têm sido frequentemente inseridas em
contextos expositivos, não só por princípios económicos, mas também pelas
potencialidades experimentais de inventar novas formas e explorar novos materiais.
Neste sentido, numa época assente numa existência quase nómada, deverão os
arquitetos construir para o momento e desvalorizar a posterioridade?

Apesar da intenção primária da arquitetura efémera apontar para a pura vivência do


instante, privilegiando o evento, toda a experimentação plástica, formal e até social da
intervenção, inspira uma estratégia de análise e reflexão sobre matérias, espaço e
forma, importantes ao desenvolvimento da construção e do desenho arquitetónico.

Noutra perspetiva, identifica-se na arquitetura contemporânea uma propensão para


uma economia de matérias, uma geometria simples, uma estrutura repetitiva e uma
sobriedade técnica, apontando para uma transformação arquitetónica que se descola
da forma eterna e perene e progride para um sistema de reciclagem11. Com efeito, em
termos práticos, a arquitetura temporária concretiza-se perante o arquiteto como o
desafio de transformar muito com pouco. O conceito de efemeridade descreve-se
numa tendência de técnicas de fazer mais com menos, numa constante evolução em
direção ao uso mais rentabilizado de matéria, energia e tempo. Atitudes que se
refletem numa real preocupação ambiental, minimizando o rasto físico da sua

10
Emma Barker, op.cit., p.104.
11
Jacques Ferrier – Architecture = durable. 30 architectes, 30 projets en Île-de-France. Éditions du
Pavillon de l’Arsenal et Éditions A & J Picard. Paris, 2008, p.4.

11
aparição. De facto, o equilíbrio entre a visão técnica, sensível e humanista assenta
num respeito pelos recursos disponíveis12. Essa ligeireza fugaz está hoje presente em
muitos exemplos, que ora entram em diálogo com a cidade para sugerir novos modos
de interação social, ora buscam na natureza modelos de inteligência orgânica e
harmonia com o sentido da vida, como nota Luís Fernández-Galiano:

“Si la efemérides recuerda los jalones que marcan nuestra existencia en el tiempo, lo efímero
celebra en el espacio nuestro tránsito leve, renunciando a la duración obstinada para subrayar
en sordina la naturaleza perecedera de los cuerpos y de las fábricas.”13

Numa abordagem da arquitetura efémera a grande escala, surgem eventos


intimamente ligados a projetos de planeamento urbano, com o intuito de melhorar a
cidade, não só durante estes eventos mas, sobretudo, após o seu desaparecimento.
Concentrando diversos pavilhões temporários sob um propósito comum, desenvolvem-
se meios de proliferação de novos polos culturais em contextos preexistentes. Refira-
se, como exemplo, a recente Feira Mundial de 2010, em Xangai, que integrou um
programa de reestruturação urbana designado para apaziguar problemas como
densidade urbana, congestionamento de tráfego, poluição e sobrepovoamento. O
projeto, desenhado pelos arquitetos franceses Architecture Studio, desenvolveu-se em
torno da intenção de inserir elementos do ambiente natural no espaço urbano,
respeitando a história e a cultura da cidade, construindo um novo sistema de fluxos
composto por percursos, pontes e canais numa estratégia paisagística14. Neste
ambiente, surgem pavilhões que procuram representar os seus países, numa atitude,
de certo modo, publicitária e competitiva, onde a ousadia arquitetónica propende a
alcançar elevados valores económicos. No entanto, sob o tema “Cidade melhor, vida
melhor”, o evento promove a atitude de cada país no âmbito do desenvolvimento
urbano sustentável.
01. Montagem gráfica do ambiente da Expo em
Xangai, 2010.

12
Jacques Ferrier, op. cit., p.6.
13
Luis Fernández-Galiano, Espacios Efimeros., p.3.
14
Elena Cardini – Expo 2010 Shanghai (China). Exposições. Projecto.L’arca, N. 180 (Abril 2003)
Milão, p.68-71.

12
Uma referência nesta exposição é o Pavilhão da Dinamarca, desenhado pelos
arquitetos BIG, que se distingue pela enorme estrutura monolítica de aço. Possui uma
espacialidade ascendente ao longo da qual vão surgindo diferentes atmosferas e
atividades, permitindo ao visitante atingir, por último, um nível mais alto e panorâmico.
O conceito expositivo desenvolve-se em torno da cultura sustentável que se pratica na
organização do espaço urbano do país. O desenho em espiral desenvolve-se em torno
da emblemática estátua dinamarquesa da Pequena Sereia, como ícone nacional.
Numa atitude sustentável, a estrutura surge pintada de branco, de forma a reduzir os
ganhos de calor no Verão15.

02. Pavilhão da Dinamarca, Expo 2010.

03. Atmosfera interior do pavilhão da Dinamarca,


Expo 2010.

04. Sistema estrutural do pavilhão da Dinamarca,


Expo 2010.

15
Philip Jodidio - Temporary Architecture Now! Taschen, Cologne, 2011, p.95.

13
Por sua vez, o Pavilhão de Espanha, desenhado pelos arquitetos Miralles Tagliabue -
EMBT, é igualmente composto por uma estrutura de aço, mas lança-se num desenho
formal mais orgânico. As suas formas livres são desenhadas com base em tecnologias
computacionais. O revestimento em módulos de vime procura fazer alusão aos
tradicionais cestos espanhóis, propondo uma utilização original deste material, numa
escala totalmente distinta16.

Por fim, surge num âmbito de experimentação material, o Pavilhão do Reino Unido,
projetado pelos arquitetos Heatherwick Studio, constituído por uma estrutura
compósita de aço e de madeira que segura uma vasta rede de hastes de fibra ótica 17.
Em cada haste concentram-se sementes pois o objetivo desta estrutura é gerar um
banco de sementes inovador: uma estratégia original que conecta o conceito de
urbano e com a natureza. Durante o dia, as varas transparentes deixam entrar a luz
natural e à noite as fontes de luz dentro de cada haste permitem que a estrutura brilhe
e imponha a sua presença.

05. Planta e corte do pavilhão de Espanha, Expo


2010.

06. Pavilhão de Espanha com revestimento em


vime, Expo 2010.

16
Philip Jodidio, op. cit., p.269.
17
Philip Jodidio, op.cit., p.203.

14
07. Pavilhão do Reino Unido, Expo 2010.

08. Pormenor do interior do pavilhão do Reino


Unido, Expo 2010.

09. Corte do pavilhão do Reino Unido, Expo 2010.

Genericamente a arquitetura é uma disciplina que, pela sua função prática, “satisfaz a
apetência do valor de uso” 18, preenchendo o desejo de nos sentirmos em harmonia
com o lugar, é um meio de modelação de espaço dotando-o de qualidades sensíveis.
Se a arquitetura efémera procura o êxtase do momento fazendo uso da sua liberdade
experimental para desafiar e deslumbrar o utilizador, levanta-se a questão da sua
materialização, para além de uma definição de espaço de contentor. Nos exemplos

18
Maria João Rodrigues, op. cit., p.30.

15
anteriores, a arquitetura efémera revela-se exatamente por este meio, pois há um
programa com espaços de estada e de encontro social, cujas exigências técnicas
limitam a modelação espacial e formal. Por outro lado, no desenho de um espaço sem
programa, de uma obra que configura espaço numa pura criação artística, a peça
arquitetónica quase se transforma numa escultura vivencial colocando-se a seguinte
interrogação: poderá a arquitetura efémera ser mutuamente um elemento de pura
contemplação e um definidor de espaço?

Procurando responder à problemática levantada, observam-se exemplos de


intervenções expositivas, no âmbito da Bienal de Arquitetura em Veneza, em 2012,
que contemplam modelos ilustrativos desta componente contraditória. A peça
arquitetónica de Álvaro Siza Vieira, no Giardino delle Vergini, evoca a escala humana
das ruas de Veneza, para enquadrar e desenvolver novas configurações em torno das
árvores e das plantas do jardim. É uma obra inspiradora, que modela um pedaço de
jardim através de um simples jogo de muros e cor, criando uma zona contemplativa de
profunda experiência emocional. Aqui, não existe um programa concreto, todavia
abstratamente pode dizer-se que o programa se consubstancia na contemplação da
própria escultura arquitetónica, tal como no espaço que esta peça configura, não
deixando por isso, de ser arquitetura.

No âmbito de intervenções efémeras que desafiam a vivência tradicional dos espaços


arquitetónicos, surgem ainda ações que decorrem dentro de edifícios pré-existentes e,
portanto, através da inserção de determinados elementos estruturais ou decorativos
modelam e reorganizam o espaço interior, dotando-o de novas qualidades sensíveis.
Ainda na Bienal de Arquitetura de Veneza de 2012, surge a intervenção da arquiteta
Zaha Hadid que, numa composição de modelações abstratas, suspensas ao nível do
olhar dos visitantes, desenvolve um jogo de luz e sombras que definem a atmosfera
sensível de toda a sala, funcionando ainda numa composição em que se podem
observar projetos de arquitetura e uma estrutura metálica de grande dimensão. De
facto, estas peças suspensas apresentam-se como esculturas de contemplação, mas
o forte contraste branco/preto que as envolve, assim como o jogo de sombras que
projetam, provocam uma experiência emocional tão intensa que é fator caracterizador
daquele espaço. No fundo definem espaço através do seu impacto visual e
psicológico. Sob outra perspetiva, aparece a intervenção de Valerio Olgiati que, com
uma configuração de espaço mais evidente, na medida em que desenvolve uma
grande estrutura suspensa, reduz drasticamente a altura da sala. Dispõe uma serie de
fotografias sobre uma mesa para onde a atenção do visitante é imediatamente focada

16
devido a esta tensão de esmagamento provocada pelo rebaixamento do teto. Com
efeito, o arquiteto recorre ao impacto volumétrico como meio de controlo da atenção
nos elementos expostos.

10. Intervenção de Siza Vieira na Bieneal de


Veneza, 2012.

11. Enquadramento da vegetação na intervenção


de Siza Vieira na Bineal de Veneza, 2012.

12. Intervenção de Zaha Hadid na Bieneal de


Veneza, 2012.

13. Intervenção de Valerio Olgiati na Bieneal de


Veneza, 2012.

17
Num outro tipo de intervenções arquitetónicas temporárias, a uma escala menor e
numa linha distinta de reflexão arquitetónica, desenvolve-se o paradigmático programa
da Serpentine Gallery, situada em Kensington Gardens, em Londres. Destaca-se pelo
seu forte sentido experimental, promovendo formas ousadas que não seriam viáveis
em edifícios permanentes19. Este ambicioso programa tem sido palco para
experimentações arquitetónicas internacionais assinadas por arquitetos de referência:
nas edições anteriores, desde 2000, participaram arquitetos como Zaha Hadid, Daniel
LIbeskind, Toyo Ito, Cecil Balmond, Oscar Niemeyer, Alvaro Siza, Eduardo Souto
Moura, Olafur Eliasson, Frank Ghery, SANAA, etc. As três últimas intervenções foram
desenhadas em 2010, 2011 e 2012 respetivamente por Jean Nouvel, Peter Zumthor e
Herzog & de Meuron.

14. Exterior do pavilhão da Serpentine Gallery,


2010

15. Cafetaria do pavilhão da Serpentine Gallery,


2010

Jean Nouvel apresenta um projeto em vermelho vivo, num contraste com o verde do
parque e também numa referência nostálgica às imagens icónicas britânicas das
cabines telefónicas tradicionais. Numa composição de estruturas metálicas suspensas
dramaticamente com materiais leves, nomeadamente tecido e policarbonato, o edifico
é construído por grandes toldos retráteis e uma parede autoportante inclinada de
grande dimensão, gerando formas geométricas ousadas20. O arquiteto encarou este

19
Philip Jodidio – Temporary Architecture Now!. Taschen, Cologne 2011. p.21.
20
Jean Nouvel – Serpentine Gallery, disponível em : http://www.serpentinegallery.org/

18
desafio desenhando um sistema versátil de espaços que se adaptam a necessidades
momentâneas, proporcionado pela inteligente escolha de materiais. Joga ainda com a
potencialidade da duração temporária do pavilhão, ao utilizar uma cor intensa que
tende a fascinar o observador mas, que mais dificilmente seria aceite num edifício
perene, sobretudo porque toda a iluminação do espaço interior é condicionada por
esta tonalidade.

Em 2011, apresentou-se o conceito de uma sala contemplativa de um jardim dentro de


um jardim, num refúgio ao ruído e tráfego londrino, como um espaço interior onde se
podia sentar, caminhar e observar as flores. Peter Zumthor tinha como finalidade
apresentar um corpo físico e, simultaneamente, um objeto de experiencia emocional:

“Qualidade arquitectónica só pode significar que sou tocado por uma obra. (…) Entro num
edifício, vejo um espaço e transmite-se uma atmosfera e numa fracção de segundo sinto o que
é. A atmosfera comunica com a nossa percepção emocional, isto é, a percepção que funciona
de forma instintiva e que o ser humano possui para sobreviver.”21

16. Núcleo contemplativo do pavilhão da


Serpentine Gallery, 2011.

17. Espaço de transição entre o exterior e o interior


do pavilhão da Serpentine Gallery, 2011.

21
Peter Zumthor – Atmosferas. Entornos arquitectónicos. As coisas que me rodeiam. Editorial
Gustavo Gili, Barcelona, 2006, p.11.

19
Seguindo a sua pura visão, Peter Zumthor procurou enfatizar aspetos sensoriais e
espirituais da experiencia arquitetónica, através da escolha precisa dos materiais,
numa manipulação da luminosidade, sombras e escala. A construção foi feita a partir
de uma armação leve de madeira, envolvida com tecido forte e revestida com uma
pasta preta misturada com areia.

No presente ano, 2012, com os arquitetos Jacques Herzog & Pierre de Meuron, o
programa propõe uma exposição sobre os anteriores pavilhões da Serpentine Gallery,
desde a sua estreia em 2000. O projeto ganhou forma sob uma plataforma de
cobertura, situada a 1,5m do solo e suportada por doze colunas, correspondentes a
cada pavilhão em exposição22. Numa qualidade sensível e experimental, os arquitetos
metaforizam o programa proposto numa abordagem arqueológica, onde os visitantes
são convidados a olhar abaixo da superfície do parque. O interior do pavilhão é, então,
revestido em cortiça, um material sustentável e com boas características sonoras.

18. Interior do pavilhão da Serpentine Gallery,


2012.

.
19. Vista aérea do pavilhão da Serpentine Gallery,
2012.

22
Herzog & de Meuron – Serpentine Gallery, disponível em : http://www.serpentinegallery.org/

20
Os projetos expostos neste capítulo são detentores de formas de expressão e
especificidades programáticas diferentes. Enquanto as Exposição Universais têm
como atração principal pavilhões nacionais que se exibem numa atitude ousada e
propagandista, a Bienal de Arquitetura de Veneza exibe uma coleção de arquitetura
contemporânea de referência através de uma linguagem sensível à modelação de
espaço de exposição e, por outro lado, a Serpentine Gallery, a uma escala menor,
combina num gesto concetual a componente programática com um sentido
experimental. Todavia, apesar das diferentes motivações, todos os projetos
correspondem a arquitetura efémera expositiva, revelando princípios projetuais
semelhantes. Primam pela importância dada ao elemento estrutural, numa ação clara,
unimaterial e, muitas vezes, modular. Alcançam um teor de experimentação formal e
material expressamente distinto de obras construídas em permanência, não só pelas
vantagens da sua existência temporária, onde os materiais não vivem o suficiente para
se degradarem, como pela liberdade programática que não exige determinados
elementos obrigatórios em construções permanentes, como ventilações mecânicas,
isolamentos sonoros e acústicos, espaços de apoio técnico, etc. Numa exploração de
novos territórios demonstram também a consciência de um desenvolvimento
sustentável. São obras marcadas pela impressão do instante, optando por um sistema
lógico e claro de construção, capaz de transmitir uma perceção emocional dirigida a
uma consciência conceptual comunicativa. Procuram a mais direta forma de controlar
emoções e o subconsciente do utilizador. Em síntese, a arquitetura efémera é tanto
modeladora de espaço e tempo como de sensações, recorrendo sobretudo à
componente contemplativa, num controlo da natureza sensível dos visitantes.

21
Pavilhões de exposições: breve síntese histórica

“Originating from greenhouse construction, the glass palaces of the first industrial exhibitions in
London, Munich and Paris, built from standardized parts, conveyed to their fascinated
contemporaries the first impressions of new orders of magnitude and of constructional
principles. They revolutionalized visual experience and altered the spectators’ concept of space,
as dramatically as the railway changed the passengers’ concept of time.”23

Com o desenvolvimento tecnológico do final do séc. XVIII, a era do ferro e do aço traz
grandes inovações construtivas. O vigor do desenvolvimento económico atribui uma
iniciativa ao mundo da indústria e dos negócios que se traduz numa dinâmica de
produção em série e num progresso técnico, influenciando relações sociais, valores
culturais e uma profunda transformação na arquitetura24. Num período em que se
desenvolve uma nova mentalidade, novas aspirações, novos processos e novos
materiais, cria-se uma era de experimentação arquitetónica. O séc. XIX, marcado pelo
sucesso tecnológico como um novo ponto de partida rumo ao cosmopolitismo da
cultura é o momento de afirmação do museu enquanto programa arquitetónico
autónomo, dando também lugar ao aparecimento das grandes exposições
internacionais – “manifestações coletivas que atraem as atenções sobre a nova
arquitetura, fortalecendo a sua dimensão internacional” 25.

A modernidade exalta o efémero como uma expressão de transformações técnicas e


sociais e utiliza pavilhões de exposições internacionais como laboratórios e manifestos
de um mundo em mutação, usufruindo da sua breve vida para celebrar estas
mudanças e as suas formas provisórias para explorar novos territórios26. Assim, os
primeiros edifícios temporários, destinados às grandes feiras, sobressaem pelo seu
caráter experimental, possibilitando o ensaio de novos materiais e técnicas de
construção, refletindo a atmosfera competitiva e propagandista que se faz sentir ao
nível social e político.

23
Jürgen Habermas – The challenge of the nineteenth century to architecture. cit. por Neil Leach -
Rethinking Architecture. London: Routledge Editions, 2004, p.217.
24
Gérard Monnier –História da Arquitectura. Publicações Europa-América. Presses Universitaires de
France, 1994, p.130.
25
Idem, p.134.
26
Luis Fernández-Galiano – Espacios efímeros., p.3.

22
Em 1851, no contexto da primeira Exposição Universal, surge o Crystal Palace de
Londres, erguido por Joseph Paxton, que se apresentou como um transparente
espaço neutro cuja estrutura em grelha permitia uma construção em série. Tomando a
forma de uma enorme galeria envidraçada ortogonal, de três níveis, introduz num novo
conceito de espaço que, desde logo, se tornou uma referência na história da
arquitetura expositiva, representando um ideal oposto ao debate do museu que ocorria
naquela altura e constituindo um modelo de inspiração para alguns dos museus mais
importantes da segunda metade do séc. XX27.

“O Crystal Palace não era tanto uma forma particular quanto um processo de construção
tornado manifesto como sistema total, desde a conceção, a fabricação e os transporte iniciais
até a construção e o desmonte finais.”28

20. Interior do Crystal Palace.

21. Exposição Universal de Paris com o Pavilhão


Alemão e Soviético frente a frente, fotografia de
1937.

27
Luis Fernández-Galiano – El arte del museo. Museos de Arte, AV, Monografias 71, 1998, p.5.
28
Kenneth Frampton - História Crítica da Arquitetura Moderna. Martins Fontes: São Paulo 2008, p.
31.

23
Depois do sucesso da exposição internacional em Inglaterra, seguem-se cinco
exposições em França, entre 1855 e 1900, onde se destaca a Exposição Universal de
Paris, em 1889, notável sobretudo pela concretização física dos progressos na
engenharia através da Torre Eiffel. Inicialmente construída para ser temporária,
acabou por se transformar num ícone nacional.

Também o irreverente pavilhão de vidro de Bruno Taut se transformou num marco


arquitetónico. Construído em 1914, para a Exposição Werkbund em Colónia, salienta-
se pela sua cúpula prismática de aparência cristalina que confere ao interior uma aura
teatral resultante de interessantes jogos de luz.

22. Pavilhão de vidro de Bruno Taut, 1914.

Depois da Primeira Guerra Mundial, num contexto de instabilidade e revoluções


políticas, os pavilhões e as respetivas exposições são frequentemente utilizados para
expressar mensagens ideológicas. Nesse sentido, a União Soviética, desenvolveu
instalações e exposições de teor “agit-prop”29 como o pavilhão de Konstantin Melnikov,
em madeira e vidro, para a Exposition Internationale des Arts Décoratifs de 1925, em
Paris, e o pavilhão de El Lissitzky na International Press Exhibition de 1928, em
Colónia. Impressionantes, pelo seu poder narrativo e iconográfico, foram o ponto de
partida para toda uma sucessão de exposições de teor propagandista, na Europa.

29
Conceito derivado de agitação e propaganda, descrevendo formas de arte que expressam uma
explícita mensagem política.

24
23. Alçado do Pavilhão Soviético de Konstantin
Melnikov para a Exposition Internationale des Arts
Decoratifs de 1925, Paris.

24. Fotografia do alçado lateral do Pavilhão


Soviético de Konstantin Melnikov em 1925, Paris.

25. Exposição no Pavilhão Soviético El Lissitzky


na International Press Exhibition de 1928, Colónia.

A Exposição Internacional de Barcelona, em 1929, que pretendeu dar a conhecer os


progressos tecnológicos da indústria catalã, foi também um meio de introduzir, em
Espanha, as correntes vanguardistas internacionais que, então, emergiam. Tal foi o
caso do Pavilhão da Alemanha, desenhado por Ludwig Mies van der Rohe, que
apresentava uma planta livre, com um traçado regular de oito colunas, assente nos
princípios de racionalismo e minimalismo por ele defendidos. Foi um pavilhão

25
construído para ser efémero, mas utilizou materiais como betão armado, aço, e
mármore, enunciando uma opção contraditória. Estará Mies van der Rohe a pôr em
causa o princípio da verdade dos materiais?

Segundo Mies van der Rohe, a arquitetura autêntica é aquela que expressa a sua
época, que utiliza os materiais, os processos e a tecnologia que marcam a civilização
em que se insere30. O Pavilhão de Barcelona é, de facto, honesto na representação do
seu tempo e numa opção formal e material que, motivada pela limpidez do sistema
construtivo, exibe a sua elegância, representando o seu país com distinção. Todavia,
opõe-se à essência dos princípios efémeros de rentabilização económica, fácil
montagem/desmontagem e reciclagem. Provavelmente, porque o que movia as
opções arquitetónicas desse tempo, não corresponde à visão contemporânea da
arquitetura efémera e das suas especificidades projetuais. Com efeito, a veracidade
construtiva que, no Modernismo, se ligava à racionalidade dos materiais, não faz mais
sentido numa época em que estes alcançam inúmeras potencialidades estruturais e
estéticas31. Como declarou Luis Fernandez-Galiano, “hoje em dia não há uma
preocupação tão direcionada para o debate estilístico como no Modernismo e no Pós-
modernismo, mas sim em como fazer uma arquitetura mais eficaz, mais útil e com
menos meios”32. O Pavilhão de Barcelona, demolido em 1930, foi reconstruído em
1986 devido à sua importância como ícone arquitetónico do séc. XX, respeitando-se
as características e materiais da construção original33.

26. Vista do exterior do Pavilhão de Barcelona,


fotografia de 1929.

30
Moisés Puente - Conversas com Mies Van der Rohe. Certezas americanas.Editorial Gustavo Gili,
SL, Barcelona, 2006, p.89.
31
Jacques Ferrier, op. cit., p.2.
32
Entrevista no âmbito do Congresso Internacional de Arquitetura y Sociedade “Arquitectura: más
por menos”, vídeo disponível em: http://www3.arquitecturaviva.com.
33
The Fundació Mies van der Rohe, disponível em: http://www.miesbcn.com/en/documentation.html
[10.10.2012]

26
27. Interior do Pavilhão de Barcelona, fotografia
posterior a 1986.

28. Planta do Pavilhão de Barcelona de Mies Van


der Rohe.

Também o arquiteto do movimento moderno Le Corbusier, contribuiu para o legado da


arquitetura expositiva efémera. Em 1937, em parceria com Pierre Jeanneret, no
âmbito da Exposição Mundial de Paris, desenha o Pavillon des Temps Nouveaux
construído como uma grande tenda, cuja estrutura metálica suporta um revestimento
em lona, apresenta uma evidente conexão entre a construção temporária e os
materiais. O programa consistia na realização de um espaço expositivo para
apresentação das novas ideias da arquitetura e do urbanismo moderno. Este pavilhão
funcionou como um protótipo experimental, cuja estrutura suspensa por cabos
inspiraria a capela Ronchamp, perto de Belfort, em França, construída em 195034.
Mais tarde, em 1958, Le Corbusier desenhou o Pavilion Philips para a Exposição
Internacional de Bruxelas, com uma forma desafiante, edificado com uma pele de
betão armado. Assim, dando aso a uma desenvoltura formal que advém da exploração
da natureza do material, assinala o carácter de experimentação da arquitetura com
efeitos temporários35: “Je ne ferai pas de pavillon ; je ferai un poème électronique avec
la bouteille qui le contiendra. La bouteille sera le pavillon.”36.

34
Keneth Frampton, op. cit., p.276.
35
Frank Werner - Hans Dieter Schaal In-Between: exhibition architecture. 1ª ed. Fellbach:
Edition Axel Menges, 1998. p.16.
36
Le Corbusier, disponível em: http://www.gilles-arnaud-sphere.com/?p=2176

27
29. Pavilion des Temps Nouveaux, 1937.

30. Espaço expositivo interior do Pavilion des


Temps Nouveaux , 1958.

31. Pavilion Philips, 1958.

32. Construção do Pavilion Philips, 1958.

28
33. Estudo da exploração formal do Pavilion
Philips, 1958.

A par do desenrolar destas tendências arquitetónicas de vanguarda, reveladas em


arquitetura efémera, implementa-se ainda na passagem do séc. XIX para o séc. XX
uma nova mentalidade expositiva. Não só os pavilhões efémeros se desenvolviam ao
sabor das evoluções técnicas, como também, o pensamento cenográfico. Concebem-
se exposições de Arte e Arquitetura como as Bienais de Veneza, Sydney e São Paulo
na sequência do legado das feiras e exposições universais, que fizeram a ponte entre
o séc. XIX e os dias de hoje. A Bienal de Veneza foi realizada, pela primeira vez no fim
do séc. XIX (1895). Depois de mais de cinco décadas, e duas guerras, é criada a
Bienal de São Paulo (1951). No breve intervalo de 15 anos desde 1984, até ao fim do
século, mais de 15 bienais internacionais foram estabelecidas, incluindo Istambul
(1998), Lyon (1992), Santa Fé (1995), Gwangju (1995), Joanesburgo (1995), Xangai
(1996), Berlim (1996) e Montreal (1998)37. Embora as circunstâncias por detrás destas
exposições sejam muito diversas, envolvem normalmente competições e podem ter
um impacto considerável na influência e reputação dos artistas envolvidos, que são

37
Carlos Basualdo – The Unstable Institution in: MARINCOLA, Paula – What Makes a Great
Exhibition? Philadelphia: Philadelphia Exhibitions Initiative, 2007. p.55.

29
normalmente selecionados como representantes do seu país38. Assim, sendo eventos
desenvolvidos à escala mundial, têm o potencial para colocar a sua cidade e país no
mapa da cultura moderna.

Depois da Segunda Guerra Mundial, houve uma tentativa de ligação com a arquitetura
moderna e internacional pré-guerra, procurando por sua vez aumentar os padrões de
qualidade39. Assim, nos anos 50 e 60, grandes eventos chamaram a atenção para a
história ocidental numa tentativa de unir a Europa. De facto, as necessidades
intelectuais e mentais do período pós-guerra na Alemanha ocidental tiveram alguma
influência no desenvolvimento e na estrutura de diversas exposições, nomeadamente
a Documenta de Kassel, a partir de 1955. Foi “um produto feliz da Guerra Fria”40,
respondendo simultaneamente à necessidade da Alemanha se atualizar no campo
artístico e “deixar para trás os dolorosos excessos do nazismo”41.

34. Pavilhão na Avenida Paulista, em 1951, para a


primeira bienal de São Paulo.

35. Espaço expositivo da Documenta de Kassel,


1955.

38
Emma Barker - Contemporary Cultures of Display, Yale University Press/The Open University,
New Haven/London, 1999. p106.
39
Frank Werner, op. cit., p.16.
40
Carlos Basualdo, op.cit., p. 56.
41
Idem, ibidem.

30
Paralelamente, fazendo a ponte para o contexto italiano, assiste-se ao
desenvolvimento da linguagem moderna de expor. Carlo Scarpa foi uma referência no
desenvolvimento do espaço expositivo, revelando o potencial da encenação artística.
Tendo desenvolvido uma sensibilidade particular para a criação de intervenções
espaciais expositivas, “interpreta as evidências do passado como series de objetos
que ele transforma em heróis ou dramas épicos das suas próprias composições”42.
Muitas das suas intervenções ocorreram no âmbito da bienal de Veneza, desde
composições efémeras dentro de edifícios pré-existentes até mesmo à realização do
projeto de arquitetura de pavilhões. Tanto em 1948, na 14ª Bienal, para a exposição
Paul Klee (1879-1940), como na 15ª Bienal para a exposição do manifesto na Ala
Napoleonica, em 1950, Scarpa concebeu uma composição cenográfica que se
baseava na recriação do espaço interior das salas de exposição onde rebaixou a
altura das paredes através de um tecido e numa dinâmica de painéis: numa primeira
exposição desenvolveu um jogo em planta, em zigzag, com painéis verticais e
horizontais revestidos por veludo branco e preto, numa segunda centrou-se numa
disposição de painéis verticais sobre paredes cobertas por tecido43.

Ainda em 1950, projetou o pavilhão do livro, que se dividia num jogo trapezoidal
pontuado por treliças na zona expositiva e numa construção mais contida de alvenaria
para a zona de venda de livros44. Mais tarde, na 17ª Bienal (1954), apresentou o
pavilhão da Venezuela cujo desenho procura um espaço versátil que se modela
consoante o ambiente pretendido e é dividido em três espaços principais. Dois são
salas expositivas de planta semelhante e outro corresponde a uma entrada coberta
por uma laje de betão que pode ser fechado45. Em ambas as suas construções
arquitetónicas há uma preocupação com a obtenção de uma iluminação quase
exclusivamente natural.

36. Planta da cenografia da exposição Paul Klee


na 14ª Bienal de Veneza, 1948.

42
Frank Werner, op.cit., p.20.
43
Orietta Lanzarini - Carlo Scarpa. L’architetto e le arti. Gli anni della Biennale di Venezia 1948-
1972. Regione del Veneto, Marsilio, 2003, p34 e 76.
44
Idem, p.92.
45
Orietta Lanzarini, op. cit., p.148.

31
37. Espaço expositivo da Ala Napoleonica na 15ª
Bienal de Veneza, 1950.

38. Planta do pavilhão do livro de Scarpa, 1950.

39. Fotografia do interior do pavilhão da Venezuela


de Scarpa,1954.

32
40. Planta do pavilhão da Venezuela.

Com a proliferação dos sistemas de comunicação, atenta-se nos anos 60, a uma
crescente obsessão pela imagem e publicidade, numa dimensão consumista que,
segundo Ekkehard Mai, provoca uma erosão da preservação e mediação da cultura,
integrando as exposições de arte no mercado económico de entretenimento
industrial46. Em meados dos anos 70, “uma nova vanguarda desponta adotando
claramente a fixação da memória, chamando a História como experiência vivencial”47.
Num mundo de informação mediatizada, de simulação e de impressões fugazes, os
objetos ganham uma atração, efeito da sua materialidade, tangibilidade e
disponibilidade. Ser capaz de dimensionar as coisas com as mãos, ter a escala real
em frente aos olhos, promete sensações que nem o ponto de vista virtual sobre o
mundo proporcionado pela televisão pode satisfazer.

Neste seguimento, as exposições efetuadas na base de uma planificação cenográfica


tornam-se mais frequentes. Procura-se mais do que uma simples mostragem dos
objetos. As exposições já não são vistas como apresentações de história de arte,
valorizando antes o trabalho autónomo da arte e celebrando-a na sua unicidade, em
direção à discussão pública. Neste contexto, apontam-se diversos projetos como a
trilogia expositiva no Centres Georges Pompidou, em Paris, “Paris-Berlin” (1978),
“Paris-Moscow” (1979) e “Paris-Paris” (1991). Ou por outro lado, Hans Hollein trouxe
duas das mais significantivas exposições europeias com temas históricos e culturais:
“The Turks at the gates of Vienna. 1683-1983”, em 1982, e “Dream and reality, Vienna
1870-1930” em 198448. Esta mudança cultural no mundo das exposições reflete-se na

46
Frank Werner, op. cit., p.8.
47
Maria João Rodrigues, op. cit., p.91.
48
Frank Werner, op. cit., p. 25.

33
sua crescente independência em relação ao museu como instituição, quer a nível
organizacional quer a nível financeiro e simbólico.

34
Expansão dos limites físicos do museu

A arte contemporânea está, hoje em dia, intrinsecamente ligada ao ato de expor, que
por sua vez responde e é moldado pelo contexto sociocultural. No início do séc. XX as
exposições temporárias ganharam relevância cultural e, desde então, têm sofrido
evoluções ao nível conceptual, organizacional e cenográfico, dentro e fora de museus.
Com a autonomização do desenvolvimento museológico surgem inúmeras ideias de
como a arte e o colecionismo devem ser apresentados e acondicionados em espaços
específicos49. Neste sentido, a arquitetura expositiva vai inevitavelmente continuar a
progredir e a apresentar novas soluções. Tem-se verificado pois, uma conquista de
independência das exposições, que ganham vida fora de instituições museológicas,
muitas vezes através da arquitetura efémera.

Segundo Herman Lübbe, nos anos 80, as exposições e feiras de arte e arquitetura vão
usufruir do museu como instituição complementar50. O museu, como instituição
permanente, ao serviço da sociedade e do seu desenvolvimento, conserva, comunica
e expõe testemunhos materiais do homem e do seu meio ambiente, com fins de
estudo, educação e fruição51. Assim, se no museu tendem a prevalecer as vertentes
de colecionismo, preservação e exposição, quando falamos de intervenções
expositivas efémeras entende-se uma dinâmica e uma energia espacial que, através
de atitudes inovadores de encenar e expor, desenha uma atmosfera atrativa entre as
obras de arte, o espaço e o visitante. Componente espacial que, de acordo com
Sigfried Giedion, seduz e assenta no domínio do elemento sinestésico, num jogo de
sensações e experimentação que conquista ao longo do percurso de exposição 52.
Efetivamente, as feiras e exposições temporárias agem, frequentemente, no âmbito
das correntes mais recentes de pensamento, procurando inovar e desafiar a perceção
dos espectadores. Por outro lado, os museus procuram garantir uma qualidade
expositiva estável.

49
Werner Oechslin – A arquitectura de museus: um tema fundamental da arquitectura
contemporânea. Conceitos. Projetos. Edificios.
50
Herman Lübbe - Zeit-Verhältnisse: Zur Kulturphilosophie des Fortschritts. cit. por Frank Werner,
op. cit., p.6.
51
Definição de museu elaborada pelo ICOM, disponível em: www.icom-portugal.org/
52
Sigfried Giedion - Raum, Zeit, Architektur: Die Entstehung einer neuen Traditiom. cit. por Frank
Werner, op. cit., p.6.

35
Segundo Walter Benjamin o museu apresenta-se como a instituição de carácter
histórico que arquiva e classifica os objetos de arte, enquanto as exposições e feiras
de arte e arquitetura procuram induzir experiências didáticas e conduzir à fruição de
públicos alargados53. Contudo, em ambos os casos existe uma tarefa genuína e
fundamental, que se sustenta numa apresentação autêntica e efetiva, como meio de
fazer a organização do conhecimento pelas limitações das suas especificidades,
tornando-o prático e acessível. É importante perceber que, apesar das diferenças
conceptuais e arquitetónicas inerentes a espaços expositivos dentro ou fora do museu,
existe sempre um processo expositivo comum, influenciado pelas exigências culturais
da sociedade. De facto, apesar do progresso e alteração da natureza das exposições
e o crescimento de novos tipos de projetos de exposição fora do museu, a dinâmica da
arte contemporânea vai implicar espaços independentes54. Apesar de museus e
exposições de grande escala terem um maior impacto em formar novas audiências
criticas para o futuro, é através dos espaços independentes que a ligação entre os
museus, as exposições internacionais e as galerias comerciais pode ser influenciada e
os valores de mercado alterados.

“We have seen how the number and range of exhibitions has grown, the growing tension
between spectacle and contemplation and between public and private sectors, and how within a
culture of exhibitions the inter-relation between different kinds of value are expressed. Equally,
we have seen how the types of spaces and buildings have been influenced by artists own
initiatives, by their resistance to the commercial and museum sectors. A central phenomenon
has been the relationship between new art and new institutions: each has helped to change the
other.” 55

Verifica-se a crescente adesão ao desenvolvimento de exposições para além dos


limites físicos do museu, ora através da criação de polos complementares, ora pela
ocupação de espaços alternativos aos edifícios institucionais. Aponta-se, por exemplo,
The Museum of Modern Art (MoMA) em Nova Iorque que, desde 2002 a 2005, no
decorrer da reconstrução das suas instalações em Manhattan, transferiu algumas
exposições para um pavilhão temporário desenhado pelo arquiteto Michael Maltzan,
em cooperação com o arquiteto Scott Newman. O espaço de exposições temporário,
denominado MoMA QNS, apropriou-se de um antigo edifício industrial onde os

53
Walter Benjamim, cit. por Neil Leach - Rethinking Architecture. London: Routledge Editions, 2004,
p.20.
54
Emma Barker, op. cit., p. 126.
55
Idem, ibidem.

36
arquitetos procuraram unificar a natureza temporária do projeto com o contexto urbano
preexistente, a identidade do público e a voz do museu, num desenho de espaços
excecionais ora para a arte, ora para o público56. Com a reabertura do MoMa, em
Manhattan, o MoMa QNS foi adaptado para albergar um centro de estudos e o arquivo
de obras de arte.

41. Fachada do pavilhão MoMa QNS, em Long


Island City.

42. Interior do pavilhão MoMa QNS, desenvolvido


para contextos expositivos.

Num outro registo, a nível nacional, identifica-seo Museu Nacional de Arte Antiga
(MNAA) em Lisboa que, em 2012, criou, também, espaços expositivos fora do edifício
museológico. O processo desenvolveu-se no âmbito do projeto A Arte Chegou ao
Colombo, referente a uma coleção de obras da temática Construir Portugal, Arte da
Idade Média. Para tal, foi desenhada uma peça de arquitetura efémera que, instalada
no interior do Centro Comercial Colombo, definia um espaço que procurava desafiar

56
Michael Maltzan Architecture, MoMA QNS - Arcspace, disponível em: http://www.arcspace.com/
architects/maltzan/moma/ [21.10.2012]

37
os utilizadores da zona comercial a conhecer um pouco mais sobre arte. Esta é,
portanto, “uma iniciativa que pretende levar o património artístico ao encontro dos
públicos, de uma forma única e inovadora, proporcionando uma experiência
enriquecedora aos visitantes do espaço comercial”57. As obras de arte, desde pintura,
escultura e outras artes decorativas foram expostas num pavilhão de madeira,
desenhado pela arquiteta Manuela Fernandes.

43. Pavilhão efémero por Manuela Fernandes no


Centro Comercial Colombo, Lisboa, 2012.

44. Estrutura de madeira numa estratégia de


transparência.

57
Museu Nacional de Arte Antiga expõe no Centro Colombo, disponível em: http://activa.sapo.pt/
vida/lazer/2012/04/02/museu-nacional-de-arte-antiga-expoe-no-centro-colombo

38
Capítulo 2. Projeto final: pavilhão temporário em Roma

Programa e método

Contexto da intervenção

Partido concetual e proposta

39
40
Capítulo 3. Projeto final: pavilhão temporário em Roma
Programa e método

No âmbito da disciplina de Théorie et Critique du Project na École Polytechnique


Fédérale de Lausanne, sob a tutela do arquiteto Patrick Berger, foi proposto o
exercício de desenho de um pavilhão efémero, associado à apresentação de uma
exposição de arquitetura58.

A primeira etapa do desenvolvimento do projeto passou pela apreensão da


importância da curadoria na sociedade contemporânea e, assumindo o papel de
curador, perante o vasto catálogo apresentado, faz-se a seleção das obras a expor.
Estas consistiam em maquetes e painéis explicativos e dividiam-se em três tipos:
arquitetura animal (colmeias, termiteiras, ninhos, etc.), arquitetura vernacular (iglôs,
tipis, shabonos, etc.) e arquitetura clássica (o Coliseu de Roma, a Villa Rotonda, a
Coluna de Trajano, etc.)59. O enunciado previa a capacidade de interligar e dispor os
três temas segundo um conceito cenográfico.

Uma vez que o projeto teria lugar num jardim semi-privado, que se desenvolve sobre a
colina do Pincio, na cidade de Roma, fez-se uma viagem a Itália, com o intuito de
conhecer, não só com o espaço a intervir, mas também a cultura italiana, procurando
compreender os interesses e as expectativas dos potenciais visitantes da exposição.
Deste modo, a etapa seguinte exigia um olhar atento ao contexto de implantação e a
conceção de um sistema territorial, um sistema espacial e um sistema construtivo do
museu efémero a projetar. O sistema territorial previa as diversas ligações ao sítio:
percursos, clima, perspetivas visuais e a relação simbólica com a nova construção. O
sistema espacial relacionava-se com a disposição e distribuição do programa do
museu, correspondendo a uma proposta cenográfica já pensada na etapa anterior. Por
sua vez, o sistema construtivo requeria uma reflexão sobre o princípio de produção e
de economia associado ao tema cenográfico do pavilhão, tendo em conta materiais,
montagem, desmontagem e transporte. Era ainda fundamental considerar a duração
prevista, para o pavilhão, de um semestre.

58
Consultar enunciado e programa do exercício no Anexo 01.
59
Consultar o catálogo da exposição no Anexo 03.

41
O programa previa cerca de 2000 m2 de superfície bruta, incorporando uma zona de
receção e bengaleiro, uma pequena biblioteca, uma cafetaria, um espaço de vendas,
estacionamento exterior e uma área expositiva com cerca de 1500 m2. Neste espaço
expositivo deveriam ser incorporadas quatro salas de projeção e todo o equipamento
necessário para expor maquetes e painéis explicativos.

A metodologia do exercício de Projeto Final incluía, ainda, uma otimização do plano


estrutural e das escolhas construtivas e, finalmente, a concretização da identidade
visual desta intervenção efémera, através de uma imagem capaz de representar a
vivência do espaço interior e comunicação do edifício com a envolvente.

Este projeto foi elaborado sob uma ação, de certo modo, intuitiva, uma vez que a
pesquisa elaborada previamente ao projeto foi escassa. O processo de avaliação
distribuiu-se por cinco etapas de apresentação ao professor responsável pela
disciplina, na EPFL, ao longo de doze semanas, sendo que a crítica final contou com a
presença de um júri constituído por seis arquitetos, de diferentes nacionalidades.
Combinando essa análise final com a pesquisa teórica desenvolvida no âmbito do
presente trabalho, posterior à realização do exercício de projeto, bem como
discussões do tema com os orientadores deste relatório, pretende-se, desenvolver
uma reflexão crítica, explicitando de que modo se poderia ter explorado mais o
potencial do pavilhão projetado, enquanto expressão de uma arquitetura expositiva
efémera.

42
Contexto da intervenção

Em Roma, na colina do Pincio, num jardim testemunho de uma época passada,


previa-se a construção de um museu temporário que deslumbrasse. Procurava-se,
aqui, desenvolver um projeto que respeitasse o espaço físico do jardim e que, embora
sem deixar vestígios físicos, tivesse a capacidade de valorizar e dinamizar aquele
lugar, durante o seu breve tempo de existência.

45. Jardim na colina do Pincio, Roma.

Este jardim tem por si só uma identidade marcada pelos seus próprios percursos e
acessos60. Destaca-se a presença de diversas espécies vegetais, de vários tamanhos,
expondo uma hierarquia entre os diferentes níveis deste espaço exterior. É
fundamental, ainda, perceber a influência da envolvente, ora num sentido divergente,
ora convergente. Isto é, num sentido de divergência, pode-se salientar a perspetiva
visual deslumbrante a que se pode aceder neste jardim, assente numa colina, em
direção à cidade clássica de Roma e aos seus testemunhos de épocas passadas.
Por outro lado, a influência convergente da envolvente interliga-se com os espaços e
os marcos culturais que rodeiam este sítio, apontando caminhos que potenciam a
descoberta a uma eventual intervenção no jardim. Entre os ícones históricos de
arquitetura, situados nas imediações do jardim, surgem: a Vila Médicis, um palácio do
séc. XIX embelezado por um conjunto de jardins planeados ao detalhe, e a Escadaria
de Trinità dei Monti do séc. XVIII, que conduz, no seu topo, à Igreja da Trinidad e a
uma perspetiva visual fascinante sobre a cidade.

60
Ver fotografias do local de intervenção no Anexo 02.

43
Partido conceptual e proposta

Na elaboração do projeto, interpretou-se o conjunto das peças do catálogo expositivo,


como a tradução de uma evolução arquitetónica que assenta nos primórdios de uma
ação instintiva de sobrevivência, no ambiente natural de uma determinada
comunidade. Sugere-se, assim, uma adaptação ao ambiente natural e humano que a
inscreve e, de certa forma, uma adaptação ao genius loci61 do lugar. Neste sentido,
criou-se um critério de organização e interligação dos três tópicos de arquitetura a
expor - arquitetura animal, arquitetura vernacular e arquitetura clássica62 - através da
identificação do elemento natural base que influenciou a construção, quer seja num
sentido material, estrutural, ornamental ou formal. Surgem, então, a água, a terra, a
rocha e a vegetação como os temas orientadores da construção cenográfica da
exposição. Neste jogo temático da atmosfera cenográfica pretende-se incitar uma
reflexão, por parte do visitante, sobre a questão da adaptação na arquitetura: Será que
a arquitetura se adapta ao meio natural? Será que o lugar se adapta à arquitetura?
Será que ambas as vertentes confluem numa complementaridade?

Assim, a procura de uma disposição expositiva que apresentasse, sequencialmente os


temas de cada grupo de obras, conduziu à formalização do pavilhão numa volumetria
horizontal.

Em resposta ao programa organizaram-se, então, quatro núcleos expositivos, onde se


apresentam as obras selecionadas do catálogo suportadas por maquetes, painéis e,
pontualmente, por projeções audiovisuais. Num quinto núcleo, correspondente ao
programa complementar, foi criado um espaço de consulta e leitura de livros, uma
cafetaria, uma loja e espaços de acolhimento ao público como a receção, bengaleiro e
instalações sanitárias.

A implantação estratégica no meio deste espaço exterior está relacionada com a


possibilidade do visitante poder usufruir do jardim nas entrelinhas da exposição e
redesenhar percursos pedonais que integrem os núcleos expositivos, fazendo
referência a elementos naturais do mesmo. O seu posicionamento vem,
intencionalmente, dividir a área ajardinada em duas zonas com um carácter distinto

61
A expressão genius loci, no âmbito da arquitetura, diz respeito ao conjunto de características
socioculturais, arquitetónicas, de linguagem e de hábitos que caracterizam um lugar.
62
Consultar o catálogo da exposição no Anexo 03.

44
em relação ao espaço interior do pavilhão. Assim, a nordeste, virado para a pendente
do terreno, o pavilhão e o jardim denotam uma proximidade física e visual reforçada
pela presença de elementos que remetem para os temas em exposição (como o
espelho de água, ou o arco de pedra, ou a grande concentração de vegetação, ou
mesmo a expressão do terreno); por outro lado, a sudoeste o pavilhão vira-se para
Roma, num enfiamento visual longínquo, afastando-se fisicamente do jardim, mas
fazendo referência à importância do meio histórico onde se insere.

46. Modelo de implantação à escala 1:500.

47. Variações esquemáticas do funcionamento do


módulo.

45
Concebe-se, então, um pavilhão flutuante marcado por duas grandes lajes63. No
espaço, criado entre estas duas linhas estáticas, procurou desenvolver-se um sistema
dinâmico que servisse as exigências cenográficas e funcionais da exposição. Com
este propósito desenhou-se o protótipo de um módulo tridimensional que, consoante a
sua posição no solo, poderia funcionar como fachada/muro, limitando o
enquadramento visual e possibilitando a afixação de informação, ou como
mesa/suporte, para colocar as peças a expor. O módulo poderia ainda converter-se
em local de repouso para o visitante ou, num abrigo/nicho, de modo a possibilitar a
suspensão das peças que assim o exigiam ou mesmo criar zonas de menos
luminosidade, facilitando a projeção de vídeos.

48. Modelo do espaço interior do museu à escala


1:200.

Esta peça modular seria construída através de uma estrutura interna coberta por um
padrão em vime, fazendo referência a uma arquitetura que utiliza os materiais da
natureza. O transporte destas peças seria facilitado pela possibilidade de encaixe dos
módulos uns sobre os outros. Em termos espaciais, este módulo permite criar uma
continuidade dinâmica pela sua possível fixação ao módulo seguinte, desenhando
zonas de diferentes dimensões e carácter64. Definem-se, assim, zonas mais fechadas,
para a proteção das peças expostas, e zonas mais abertas para o jardim, como a
cafetaria ou a biblioteca. Contudo, não só pela escolha material desta peça como pelo

63
Ver fotografias das maquetes no Anexo 05.
64
Desenhos técnicos consultáveis no Anexo 04.

46
facto do pavilhão funcionar como um prolongamento do jardim, evitando-se uma
separação constante e massiva entre o espaço de exposição e o exterior, através do
contacto com os sons, as temperaturas e os odores do jardim, há uma constantemente
referência à natureza e à simbiose entre esta e a arquitetura, remetendo para o tema
cenográfico adotado.

Estruturalmente, apresenta-se um sistema em madeira. Não só este é um dos


materiais de construção mais universais como é ligeiro e versátil65. Para a construção
das lajes seriam utilizados painéis de fibra de madeira reforçados, estáveis em todas
as direções, dimensionados em 15m por 2,5m. Surgem suportados por um sistema de
colunas posicionados aleatoriamente, mas de modo a haver sempre um apoio estável
para a cobertura. Pontualmente seria introduzido um cabo de aço obliquamente na
vertical, entre colunas, para assegurar o contraventamento da estrutura.

49. Fotomontagem representando a atmosfera do


espaço interior do museu.

A apreciação do júri na apresentação final do projeto, em Lausanne, apontou para um


conflito entre o sistema de colunas e a dinâmica do módulo cenográfico, numa
sobreposição de gestos contraditórios. Sendo, portanto, mais interessante a
possibilidade de obter uma maior liberdade espacial dominada apenas pela peça
modular. Para tal, foi sugerida a opção de utilizar o próprio módulo como elemento
estrutural do pavilhão. Em adição, foi ainda posta em questão a opção de implantação
do pavilhão ou talvez do jogo horizontal do módulo, pois sentiu-se uma perda de
continuidade do jardim, no sentido perpendicular ao pavilhão.

65
Richard Weston – Materiales, forma y arquitectura. Blume, Barcelona, 2003, p.16.

47
48
Capítulo 3. Conclusões

49
50
Conclusões

“A arquitectura é certamente uma arte espacial, […] mas a arquitectura também é uma arte
temporal.” 66

A arquitetura efémera é uma arquitetura condicionada pelo tempo da sua existência,


mas igualmente geradora de espaço e forma, respondendo às correntes de
pensamento da sociedade em que se insere. Apesar das diferentes abordagens,
interpretações e configurações que sofreu ao longo dos tempos, é hoje, valorizada
pelo seu carácter aberto e experimental. Efetivamente, numa época em que a cultura e
as exposições públicas são alvo de interesse global, a arquitetura efémera, enquanto
evento, materializa muitas destas ações, surgindo como uma obra de valor artístico
potenciadora de encontros sociais, estimulando o diálogo e a reflexão. Numa
atmosfera sensorial associada a uma deliberada composição espacial, celebra o
instante, como o testemunho da comunicação arquitetónica.

Sendo a sociedade atual marcada por uma sobrevalorização dos valores económicos
e por um ambiente de transitoriedade, onde a substituição material se dá a um ritmo
acelerado, a arquitetura sofre uma metamorfose em direção a uma nova abordagem
do projeto. A arquitetura efémera é, por conseguinte, frequentemente entendida como
uma resposta a necessidades momentâneas. Apesar de sobressair pelo seu carácter
de experimentação formal e material, a arquitetura efémera desenvolve-se, cada vez
mais, em simbiose com uma ética ambiental. O arquiteto reflete sobre a possível
reutilização dos materiais, sobre o meio de transporte, a facilidade de execução e os
processos de montagem/desmontagem, minimizando impactos ambientais futuros.
Deste modo, na conciliação da atitude sustentável com o desenho arquitetónico,
promove-se uma escolha estrutural simples e repetível, capaz de responder às
exigências programáticas e ilustrar o partido concetual, numa ação clara e inovadora.

Tendo em conta os exemplos analisados ao longo da pesquisa teórica, identifica-se


como uma fragilidade do projeto final uma opção estrutural pouco clara e eficaz. Tal
como o júri de Lausanne referiu, evidenciou-se uma certa sobreposição de gestos
contraditórios. Com efeito, embora a madeira, como material estrutural, seja uma boa

66
Peter Zumthor – Atmosferas. Entornos arquitectónicos. As coisas que me rodeiam. Editorial
Gustavo Gili, Barcelona, 2006, p.43.

51
opção em termos económicos, dada a facilidade de transporte, de fragmentação em
peças padronizadas e pelo facto de a montagem e desmontagem não implicar o
recurso a maquinaria pesada, constata-se que exigiu um grande número de apoios
verticais.

Sendo a imagem pretendida, para o ambiente interior, uma longa galeria retilínea
dominada por um gesto dinâmico continuo, que apresenta e dispõe as peças de
arquitetura do catálogo predefinido, assim como enquadra a perspetiva visual sobre a
envolvente, nota-se alguma inconsistência na adoção de colunas que, na sua
verticalidade, quebram a profundidade do gesto linear. Daqui, conclui-se que é
fundamental alcançar um equilíbrio entre o gesto concetual, a técnica e o princípio de
economia. Com efeito, nem sempre a melhor opção é a mais económica: por vezes, a
escolha de um material de custo mais elevado, que responde mais eficazmente ao
partido concetual, acaba por se revelar mais adequada. O desafio consiste, assim, em
escolher um material viável para uma estrutura que, ao mesmo tempo, é
suficientemente modular para o seu fácil transporte e enuncia claramente ao partido
concetual. Eventualmente, no caso em análise, uma boa opção seria escolher um
material mais eficiente na configuração do espaço, apesar de menos económico, como
uma estrutura metálica, por exemplo, num sistema de vigas vierendeel.

Outra possível abordagem ao projeto poderia partir do princípio que o elemento


modular é o conceito base de toda a composição espacial: arquitetónica e cenográfica.
Considerando a sugestão do júri em utilizar o próprio módulo como elemento estrutural
do pavilhão, evidenciou-se, desde logo, uma dificuldade de compatibilização com o
sentido horizontal do gesto arquitetónico. Ao funcionar como apoio das peças a expor,
mais do que como plano vertical, a estrutura modular tocaria muito pontualmente na
cobertura, não sendo suficiente para a sustentar. No entanto, com o intuito de enfatizar
mais a questão do museu efémero como uma peça expositiva, em si mesma, poderia
ser interessante criar uma dinâmica tridimensional, configurando, sobre uma
plataforma plana, todo um jogo modular delimitador de espaço que, na sua ambição
técnica, poderia funcionar pontualmente como cobertura.

Releva-se também importante, no âmbito do projeto arquitetónico, a imagem que se


apreende da composição material global. No caso em análise, optou-se por materiais
completamente distintos para o pavilhão e para a configuração do interior. Segundo o
princípio de economia, faria sentido que a escolha material fosse idêntica, não só isso
geraria uma sensação de maior unidade global como rentabilizaria o investimento.
Com efeito, na análise da evolução histórica de arquiteturas expositivas efémeras,

52
salientou-se como fulcral a qualidade dos espaços expositivos que advém da sua
planificação cenográfica. A conjugação entre o discurso expositivo interior e o partido
conceptual global do projeto apresentam-se, assim, como uma via para atingir uma
sedutora singularidade arquitetónica.

Decerto também fundamental no desenho arquitetónico é a implantação do projeto no


lugar. A este respeito, o júri levantou a questão de uma possível perda de continuidade
no jardim, pela integração do pavilhão no centro do mesmo. Apesar de ser viável,
como opção projetual, fazer a divisão do jardim em duas zonas, o posicionamento do
pavilhão poderia ser repensado, no sentido de explorar melhor a linguagem efémera
que o define. Por exemplo, se fosse posicionado logo na zona de entrada do jardim, e
não tão discretamente no centro, poderia ser mais convidativo para quem passa na
rua ou, por outro lado, se fosse implantado tirando partido da pendente acentuada da
colina, poderia funcionar como um elemento marcante visto, ao longe.

É de salientar que o estudo teórico pôs em evidência o valor artístico, como veículo
gerador de impressões sensíveis no utilizador, numa ação de deslumbramento,
favorecida por uma imagem mediática que apela ao êxtase do instante. Para tal, é
importante a definição clara do partido concetual, materializado em opções estruturais
e materiais. Deve haver uma interligação clara entre o lugar, o conceito adotado, o
programa proposto e a estrutura. Todavia, é de referir que, na arquitetura
contemporânea, importa considerar ainda uma componente relacionada com um
desenvolvimento sustentável. Consciência esta que não prevalecia na exploração dos
novos materiais e tecnologias construtivas do séc. XIX e início do séc. XX, em que a
racionalização construtiva e a verdade dos materiais remetia para um encontro entre
forma e estrutura. Presentemente, tendo em conta o grande leque de opções materiais
e de técnicas construtivas, a preocupação da veracidade material em relação à
exigência programática é o ponto de partida do desenvolvimento estrutural, consoante
se fala de uma obra construída em permanência ou em transitoriedade. A procura de
fazer mais com menos traduz-se, agora, no princípio base do projeto de arquitetura
efémera.

Verifica-se que, por um lado, as arquiteturas expositivas efémeras traduzem um


pensamento artístico, que busca a inovação e a exuberância, numa experimentação
de espaço sensorial que comunica com a perceção emocional do utilizador,
dominando o instante, numa analogia com o mundo eufórico da imagem e do
espetáculo. Por outro lado, procura-se uma adaptabilidade funcional, que remete para
uma linguagem de reaproveitamento material e para um sistema estrutural metódico e

53
racional, numa eficácia económica e ambiental, tendo em vista um futuro sustentável.
O projeto de uma arquitetura expositiva efémera reside, então, na harmonização
destes múltiplos fatores através de um gesto artístico claro e unificado.

54
Fontes e Bibliografia

55
56
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espanhol de Anna Maria Pujol i Puigvehí e Esteve Riambau i Sauri, col. “Biblioteca de
arquitectura”, Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 1980 (ed. em inglês Princeton
University Press, Nova Jersey, 1976).

PUENTE, Moisés (ed.) - Conversas com Mies Van der Rohe. Certezas
americanas.Editorial Gustavo Gili, SL, Barcelona, 2006. ISBN 978-84-252-2093-7. 96p.

RICO, Juan Carlos - Museos, Arquitectura, Arte. Los espacios expositivos, Sílex,
Madrid, 1999.

RODRIGUES, Maria João Madeira - O que é Arquitectura. Quimera Editores, Lda.


Lisboa, 2002.

SCHULZ-DORNBURG, Julia – Arte y Arquitectura: nuevas afinidades. Barcelona:


Gustavo Gili, 2000. ISBN 84-252-1778. 144p.

WERNER, Frank.R. - Hans Dieter Schaal In-Between: exhibition architecture. 1ª ed.


Fellbach: Edition Axel Menges, 1998. ISBN 978-393-069-8714. 192 p.

WESTON, Richard – Materiales, Forma y Arquitectura. Blume/Naturart editora ISBN


978-8495939470, 2003.

ZIMMERMAN, Claire – Mies Van der Rohe1886-1969. A Estrutura do Espaço.


Taschen, Abril 2010. ISBN 9783836513210. 96p.

ZUMTHOR, Peter – Atmosferas. Entornos arquitectónicos. As coisas que me rodeiam.


Editorial Gustavo Gili, Barcelona, 2006. ISBN 978-84-252-2169-9. 76p.

59
Dissertações académicas

BANDEIRA, Pedro Jorge Monteiro – Arquitectura Como Imagem, Obra Como


Representação: subjectividade das imagens arquitectónicas. Doutoramento em
Arquitectura, Universidade do Minho, 2007.

BARRANHA, Helena Silva. – Arquitectura de Museus de Arte Contemporânea em


Portugal – da intervenção urbana ao desenho do espaço expositivo. Doutoramento em
Arquitectura, Faculdade de Arquitectura da Universidade do Porto, 2008.

COSTA, Ana Patrícia Barros – Arquitectura em Exposição. Mestrado em Estudos


Curatoriais, Faculdade de Belas Artes da Universidade de Lisboa, 2009.

DUARTE, Rui Barreiros – A arquitectura do efémero. Dissertação para doutoramento,


Universidade Técnica de Lisboa, Faculdade de Arquitectura, 1992.

HERBST, Hello – pelos salões das bienais, a arquitetura ausente dos manuais:
expressões da arquitetura moderna brasileira expostas nas bienais paulistanas (1951-
1959). Doutoramento para o Programa de Pós-Graduação da Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, Universiddae de São Paulo, 2007.

RIBEIRO, Maria Joana Gil – O museu como lugar urbano. Rutura ou Continuidade.
Mestrado em Arquitetura, Instituto Superior Técnico, 2009.

SABOEIRO, Joana Cristina Passarinho da Costa – Lugares Mutáveis. Arquitectura e


Cenografia do Teatro O Bando. Mestrado em Arquitectura, Instituto Superior Técnico,
2010.

Sítios da Internet consultados

Archdaily – Architecture Website, disponível em: http://www.archdaily.com/


[20.09.2012]

Activa - Museu Nacional de Arte Antiga expõe no Centro Colombo, disponível em:
http://activa.sapo.pt/vida/lazer/2012/04/02/museu-nacional-de-arte-antiga-expoe-no-
centro-colombo [05.10.2012]

Akatu - Consumo consciente para um futuro sustentável. Disponível em


http://www.akatu.org.br/Publicacoes/Alimentos. [06.09.2012]

Arquitetura Viva – Revistas de Arquitectura, disponível em: http://www.arquitecturaviva


.com/Default.aspx [01.10.2012]

60
Congresso Internacional de Arquitetura y Sociedade “Arquitectura: más por menos”,
CNN, disponível em: http://www3.arquitecturaviva.com/Videonoticia-entrevista%20
Galiano.htm [01.10.2012]

Dezeen Magazine, disponível em: http://www.dezeen.com/ [01.09.2012]

Domus Magazine, disponível em: http://www.domusweb.it/index.cfm [01.09.2012]

Fahrenheit magazine, disponível em: http://www.fahrenheitmagazine.com [11.09.2012]

Michael Maltzan Architecture, MoMA QNS - Arcspace, disponível em:


http://www.arcspace.com/architects/maltzan/moma/ [21.10.2012]

Serpentine Gallery, disponível em: http://www.serpentinegallery.org [20.08.2012]

The Fundació Mies van der Rohe, disponível em: http://www.miesbcn.com/


en/documentation.html [10.10.2012]

The Situationist International Text Library, disponível em : http://library.nothingness.org


[14.10.2012]

Vitruvius - arquitextos, disponível em: http://www.vitruvius.com.br [08/03/2012]

http://www.dysturb.net/2008/aaron-betsky-to-curate-the-11th-venice-architecture-
biennale-2008/ [05.09.2012]

http://toddtarantino.com/hum/achorripsis.html [13.09.2012]

http://aworldtowin.net/reviews/futurism.html [13.09.2012]

http://www.foto8.com/new/online/blog/947-jorge-ribalta-on-documentary-and-
democracy [13.09.2012]

http://toddtarantino.com/hum/achorripsis.html [29.09.2012]

http://www.realtokyo.co.jp/docs/en/column/review/bn/review_003_en/ [30.09.2012]

http://afflictor.com/wp-content/uploads/2010/04/eh.png [01.10.2012]

61
http://vejasp.abril.com.br/materia/bienal-historia-livro [02.10.2012]

http://www.architecture-studio.fr/fr/projets/shn3/exposition_universelle_2010.html
[07.10.2012]

http://www.todoarquitectura.com/revista/36/36sp07_Bruno_Taut.asp [25.10.2012]

http://www.gilles-arnaud-sphere.com/?p=2176 [11.12.10.2012]

http://www.visiotice.fr/ARTEMIS/hermes/hermes/rupture/duchmont.htm [11.12.10.2012]

http://www.fondationlecorbusier.fr/corbuweb/morpheus.aspx?sysId=14&IrisObjectId=71
85&sysLanguage=fr-fr&itemPos=1&sysParentId=14&clearQuery=1 [11.12.10.2012]

http://bryndakirk.wordpress.com/2008/12/02/the-history-of-architecture/floor-plan-
barcelona-pavilion/ [11.12.10.2012]

62
Anexos: projeto final

63
01. Enunciado e programa
Architectures Semestre 2 : 2012 EPFL ENAC IA UTA Professeur Patrick Berger
Exposition éphémère dʼarchitectures humaines et animales
Etapes des rendus
Rendu I 6 mars Sélection – point de vue - Scénographie Echelle libre et 1 200
Tout le jour Seul les 1'500 m2 dʼexposition sont à considérer pour ce premier rendu
Il sʼagit de travailler comme un commissaire dʼexposition, dʼopérer une sélection dans le catalogue
fourni et dʼimaginer quels sont les ensembles, les liens qui peuvent servir de propos à cette
exposition. Programmation de lʼexposition.
- idée sur la sélection des objets du catalogue, les ensembles
et liens entre les 3 architectures (rôle de commissaire dʼexpo) planche explicative libre
- idée scénographique : disposition et circulation dessin filaire (trait n/b)
- idée constructive (fabrication, références) esquisse trait n/b
- plans et coupes de la salle dʼexposition 1 :200 (trait n/b)
- maquette de la salle dʼexposition 1 :200 matière libre

Rendu II 27 mars Site - Programme – Construction (3=1) Echelle 1 200


Tout le jour Schéma représentant une idée pour chacun des 3 systèmes de manière indépendante
- système territorial : idée de liens et dʼimpact p.r. au site
(flux, climat ,vues, signe construit…)
- système dʼespace : Disposition/distribution de lʼensemble du
programme associé à lʼidée scénographique
er
du 1 rendu
- système constructif : axonométrie du principe de fabrication
et dʼéconomie en relation avec lʼidée scénographique
et représentative du pavillon
(matériaux, mise en œuvre, assemblage…)
- plan de situation 1 :500
- plans, coupes 1 :200 (trait n/b)
- maquette de situation (masse dans le site) 1 :500 (blanc/blanc)
- maquette du pavillon 1 :200

Rendu III 17 avril Structure – Matérialisation (avec Prof. Aurelio Muttoni) Echelle 1 100
Tout le jour Optimisation des 3 systèmes par lʼaffirmation du plan structurel et des choix constructifs
- système constructif : principe de fabrication et dʼéconomie
en relation avec lʼidée scénographique et représentative
du pavillon (matériaux, mise en œuvre, assemblage…) axonométrie (trait n/b)
- plan de situation 1 :500 (trait n/b)
- plans, coupes, élévations exprimant le parti structurel 1 :200 (trait n/b)
- maquette dʼimplantation 1 :500 (blanc/blanc)
- maquette structurelle (physique, matériau représentatif) 1 :100
- maquette partielle du principe constructif 1 :50

Rendu IV 8 mai Représentation Echelle 1 100


Tout le jour Représentation du parti du projet, des choix constructifs et de sa matérialité
Expression du signe construit
- plan de situation 1 :500 (trait n/b)
- plans, coupes, façades 1 :200 (trait n/b)
- vue intérieure exprimant le parti pris scénographique libre (vue perspective)
- vue extérieure exprimant le signe construit en rapport au site libre (vue perspective)
- maquette dʼimplantation 1 :500 (blanc/blanc)
- maquette du pavillon 1 :100
- maquette partielle exprimant le parti 1 :50

Rendu V 29 / 30 mai Critique finale planches A0


- à préciser
PROGRAMME POUR UNE EXPOSITION TEMPORAIRES D'ARCHITECTURES

hall & réception 150 m²


WC
vestiaires
casiers
caisse

boutiques & bibliothèque 100 m²

caféteria 150 m²
desk
cuisine
terrasse extérieur -> jardin

zone exposition 1500 m²


maquettes > se référer au catalogue des maquettes

planches > croquis


> relevés
> dessins d'architectes ou de biologiste ou ethnologues 300 m²
> textes explicatifs, etc

4 salles de projections 4m x 6m

espace polyvalent 100 m²

salles de séminaires
2 salles à 50 m2 à l'Institut Sacré-Coeur

laboratoires / ateliers
4 salles à 50 m2 à l'Institut Sacré-Coeur

vestiaires du personnel
à l'Institut Sacré-Coeur

local du gardien 15 m²
wc
infirmerie

local technique selon projet

jardins selon projet

plan(s) d'eau selon projet

parking extérieur 20 places

*TOTAL SURFACE BRUTE 2015 m²

*TOTAL SURFACE AVEC CIRCULATION X 1.5 3022.5 m²

*= sans les surfaces des jardins, du / des plan(s) d'eau et du parking


02. Contexto do local de intervenção
03

02

01

06

05
04

01 02 Villa Medici |03 Villa Borghese |04 Escadaria N 0 5 10m

05 06 Piazza di Spagna
Sara Carnide, 2012
03. Seleção das arquiteturas do catálogo de exposição

Na ilustração que se segue constam imagens identificativas das obras arquitetónicas


contempladas na seleção do catálogo expositivo, apresentado no enunciado do projeto
final. As mesmas aparecem organizadas segundo a temática cenográfica desenvolvida
como conceito base de organização da exposição. Conforme definido na metodologia
do projeto, surgem dispostas pelos temas de Água, Terra, Vegetação e Rocha, que
correspondem ao elemento natural que influenciou a construção de cada peça
arquitetónica, quer seja num sentido material, estrutural, ornamental ou formal.

As peças a expor tomam forma através de maquetes e painéis explicativos e dividem-


se em três tipos: arquitetura animal (colmeias, termiteiras, ninhos, etc.), arquitetura
vernacular (iglôs, tipis, shabonos, etc.) e arquitetura clássica (o Coliseu de Roma, a
Villa Rotonda, a Coluna de Trajano, etc.).
04. Desenhos técnicos
N 0 5 10m
0 1 5 10m
N
01 5 10m
05. Fotografias de maquetes
Sara Carnide, 2012
Sara Carnide, 2012

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