Você está na página 1de 3

Universidade Federal do Ceará

Sociologia I - prof.ª Monalisa Soares


Aluno: Eduarda Nogueira Oliveira da Silva

Diário de Imaginação Sociológica

- Motivo da escolha do tema

O tema do meu diário consiste sobre a necessidade de convívio social do ser


humano, a importância desse convívio e da sociabilidade para o desenvolvimento pessoal.
Durante a pandemia, com o isolamento social, pude perceber, em diversas ocasiões, as
lamentações de pessoas próximas a mim sobre o estresse e tensão que o isolamento social
impôs. A ausência de afeto e de interações com o mundo externo durante a quarentena me
trouxe à tona a ideia de Aristóteles de que o homem é um ser social, um animal político, que
necessita viver em sociedade, pois faz parte de sua natureza. Então, fui observando que,
cada vez mais, colegas e amigos próximos acabavam se reunindo, mesmo que longe:
através da tecnologia. Jogos online ​multiplayer ​de fácil jogabilidade (“​Ludo​”, “​Among ​Us​”,
“​Gartic​”), além das múltiplas salas de conversa no ​Discord,​ aplicativo de comunicação de
voz, foram ficando cada vez mais conhecidos e utilizados, o que foi, aos poucos,
despertando minha curiosidade e me instigando a estudar essa indispensabilidade do social
cada vez mais.

- Modos artísticos de relatar o tema

A sociabilidade e a solidão não é algo discutido há pouco tempo. Abordado desde a


Bíblia até os livros atuais, além de ser apresentado, mesmo que indiretamente, em filmes,
tive que ler algumas coisas pra poder comentar melhor e com mais propriedade.
Sob diversas ocasiões, foi inevitável reler o livro “O Dilema do Porco Espinho”, do
professor Leandro Karnal, tendo em vista seu inegável repertório sociocultural. A origem do
título do livro vem de uma metáfora criada por Arthur Schopenhauer, um filósofo alemão,
que associou os problemas de convivência humana com porcos-espinho durante o inverno,
que se aglomeravam devido ao frio, mas que se afastavam após se machucarem nos
espinhos um dos outros. Essa comparação entre os porcos-espinho e as relações humanas
é desenvolvida ao explicar que as ligações socioafetivas trazem desconforto e dor, mas que
são necessárias. Sem vínculos, existe o frio. O dilema do porco espinho nada mais é do que
uma discussão sobre o equilíbrio entre o social e o isolado.
Esse livro me permitiu enxergar o inverso da sociabilidade: a solidão, como ela é
vista negativamente e, principalmente, evitada. “Não é bom que o homem esteja só; Farei
para ele alguém que o auxilia e o corresponda” (Gn 2, 18). Essa negatividade sobre a
solidão é abordada em diversas fontes, direta ou indiretamente, nas quais o isolamento é
frequentemente relacionado à insanidade. No cinema, “​O Farol​”, do diretor Robert Eggers,
estreado em 2019, mostra, indiretamente, como o isolamento é estressante. Os dois
personagens principais da obra, Thomas Wake e Ephraim Winslow, vivem e trabalham em
um farol localizado numa ilha remota da Nova Inglaterra, sozinhos. A convivência em
reclusão ocasiona atritos, fazendo com que, aos poucos, os protagonistas questionem suas
respectivas sanidades, levando-os a um final trágico. “​O Náufrago​” também aproxima o
indivíduo solitário da loucura, onde o único meio de socialização do personagem Chuck
Noland, preso em uma ilha inabitada após sofrer um acidente aéreo, é uma bola de vôlei, a
qual batiza como Sr. Wilson e com a qual mantém conversas constantes até ser resgatado.
Existe a hipótese da necessidade de pertença, desenvolvida pelo psicólogo Roy
Baumeister e o professor Mark Leary, que sugere que “os seres humanos têm uma
necessidade básica de formar e manter pelo menos uma quantidade mínima de relações
interpessoais positivas, significativas e duradouras”, pois através dos vínculos sociais ocorre
a aquisição de uma identidade social. O pesquisador e professor de psicologia da
Universidade de Chicago, John Cacioppo, relaciona a necessidade de pertencimento à
teoria de evolução de espécies de Charles Darwin, quando vínculos e laços significavam
sobrevivência. Quem era isolado, morria. A solidão, enquanto dor física, foi um mecanismo
de defesa criado durante a ancestralidade humana para produzir uma mudança de
comportamento e ser agregado socialmente, o que torna compreensível a aversão a esse
sentimento e a busca incansável pela socialização.

- Modos científicos de relacionar o tema

George Simmel, sociólogo alemão, traz um conceito de sociedade paralelo à


hipótese da necessidade de pertença. Para Simmel, uma sociedade existe a partir do
momento em que seus atores sociais - os indivíduos - criam relações de interdependência
ou estabelecem contatos e interações sociais de reciprocidade, não existindo limites
temporais ou de fronteiras. Ele afirma "[...] O pertencimento geográfico e fisiológico,
determinado pelo terminus a quo, é substituído aqui de maneira a mais radical pela síntese
do ponto de vista da finalidade, do interesse interno e do objetivo, pelo interesse individual".
Socialização e quebra de fronteiras: é inevitável pensar na Internet. Um sistema
global de computadores interconectados, permitindo a existência de contato entre pessoas
geograficamente distantes e de contato com culturas, hábitos e interações com outras
realidades, fortalecendo a ideia de sociedade de Simon. O interesse interno vincula o ator
social à sua identidade social.
O professor Leandro Karnal comenta em seu livro que a Internet, enquanto
mediadora de relações, pode ser a resposta final ao Dilema do Porco Espinho. Na internet,
nunca estamos verdadeiramente sozinhos: estamos cercados por pessoas e informações.
Existe a possibilidade de nos comunicarmos com quem quisermos, na hora que quisermos.
Mas, se as interações doerem, como os espinhos dos porcos-espinho, estamos a “um
clique” de nos afastarmos. Bloquear, ignorar, fingir que não viu, foram as maneiras citadas
de como fugir de interações indesejáveis. O mesmo meio comunicativo em que existe um
desespero incansável de aceitação e encaixe, que pode auxiliar os atores sociais a
encontrar e definir sua identidade social, pode excluí-los.

- Comentário Final

“Trabalhadores de todo o mundo, uni-vos!”. A última frase de O Manifesto Comunista


sempre me chamou atenção, antes mesmo de eu ler o livro por completo, saber o conteúdo
das páginas ou me interessar a estudar sociologia. A primeira vez que escutei essas
palavras foi durante uma aula de história no segundo ano do ensino médio, e eu nem
estava, de fato, atenta à aula. Mas por algum motivo, a sentença me fisgou, e desde então,
ela ainda me intriga, mas não especificamente pela ideia de uma revolução comunista. O
que me

Você também pode gostar