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UC Eletiva de Língua Portuguesa – Guto – ___/10/2020

Nome:__________________________________________________________Nº___

“A vida tem a cor que você pinta.”


Mário Bonatti

“Um galo sozinho não tece uma manhã: “Todo discurso dialoga com outro discurso e
ele precisará sempre de outros galos. toda palavra é cercada de outras palavras.”
De um que apanhe esse grito que ele
e o lance a outro; de um outro galo
(Bakhtin)
que apanhe o grito de um galo antes
e o lance a outro; e de outros galos
que com muitos outros galos se cruzem “Neles [enunciados], existe uma dialogização
os fios de sol de seus gritos de galo, interna da palavra, que é perpassada sempre pela
para que a manhã, desde uma teia tênue, palavra do outro, é sempre e inevitavelmente
se vá tecendo, entre todos os galos.
[...].” também a palavra do outro.”
João Cabral de Melo Neto, Tecendo a manhã
(Fiorin)

Anotações:____________________________
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“É preciso estabelecer algumas diferenças entre o conceito de interdiscursividade com outros termos afins que às vezes
são apresentados em análises interdiscursivas. A intertextualidade, por exemplo, apresenta um grau de semelhança
considerável com o interdiscurso, porém é necessário considerar onde atua cada um. Assim como o interdiscurso, a
intertextualidade requerer que o interlocutor consiga entender o que está escrito/dito e o que está apenas implícito: no
entanto, compreende-se que essa composição está mais limitada à esfera textual, ao passo que o interdiscurso extrapola
os limites do texto, invadindo a fala e outros meios de comunicação. [...]. Para ele, a intertextualidade fica reservada
apenas para os casos em que a relação discursiva é materializada em textos. Isso significa que quando há intertextualidade
pode-se pressupor que há interdiscursividade, mas que o contrário não é verdadeiro.”

CUNHA, Maurício Josué Fernandes da. Propósitos da interdiscursividade. Língua Portuguesa: conhecimento prático.
São Paulo, ano 8, ed. 69, p. 54-59, fev./mar. 2018.

“Minha terra tem palmeiras,


Onde canta o Sabiá;
“Do que a terra mais garrida
As aves, que aqui gorjeiam,
Teus risonhos, lindos campos têm mais flores Não gorjeiam como lá.
‘Nossos bosques têm mais vida’ Nosso céu tem mais estrelas,
‘Nossa vida" no teu seio "mais amores’” Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Joaquim Osório Duque Estrada Nossa vida mais amores.”
Gonçalves Dias
Caso do Vestido

Carlos Drummond de Andrade

Mas a dona nem ligou. Andei pelas cinco ruas,


Nossa mãe, o que é aquele Então vosso pai, irado, passei ponte, passei rio,
vestido, naquele prego?
me pediu que lhe pedisse, visitei vossos parentes,
Minhas filhas, é o vestido a essa dona tão perversa, não comia, não falava,
de uma dona que passou.
que tivesse paciência tive uma febre terçã,
Passou quando, nossa mãe? e fosse dormir com ele... mas a morte não chegava.
Era nossa conhecida?
Nossa mãe, por que chorais? Fiquei fora de perigo,
Minhas filhas, boca presa. Nosso lenço vos cedemos. fiquei de cabeça branca,
Vosso pai evém chegando.
Minhas filhas, vosso pai perdi meus dentes, meus
Nossa mãe, dizei depressa chega ao olhos,
que vestido é esse vestido. pátio. Disfarcemos. costurei, lavei, fiz doce,

Minhas filhas, mas o corpo Nossa mãe, não escutamos minhas mãos se
ficou frio e não o veste. pisar de pé no degrau. escalavraram,
meus anéis se dispersaram,
O vestido, nesse prego, Minhas filhas, procurei
está morto, sossegado. aquela mulher do demo. minha corrente de ouro
pagou conta de farmácia.
Nossa mãe, esse vestido E lhe roguei que aplacasse
tanta renda, esse segredo! de meu marido a vontade. Vosso pais sumiu no mundo.
O mundo é grande e
Eu não amo teu marido, pequeno.
Minhas filhas, escutai
palavras de minha boca. me falou ela se rindo.
Um dia a dona soberba
Mas posso ficar com ele me aparece já sem nada,
Era uma dona de longe,
vosso pai enamorou-se. se a senhora fizer gosto,
pobre, desfeita, mofina,
só pra lhe satisfazer, com sua trouxa na mão.
E ficou tão transtornado,
se perdeu tanto de nós, não por mim, não quero
homem. Dona, me disse baixinho,
não te dou vosso marido,
se afastou de toda vida,
se fechou, se devorou, Olhei para vosso pai,
os olhos dele pediam. que não sei onde ele anda.
Mas te dou este vestido,
chorou no prato de carne,
bebeu, brigou, me bateu, Olhei para a dona ruim,
os olhos dela gozavam. última peça de luxo
que guardei como lembrança
me deixou com vosso berço,
foi para a dona de longe, O seu vestido de renda,
de colo mui devassado, daquele dia de cobra,
da maior humilhação.
mas a dona não ligou.
Em vão o pai implorou. mais mostrava que escondia
as partes da pecadora. Eu não tinha amor por ele,
ao depois amor pegou.
Dava apólice, fazenda,
dava carro, dava ouro, Eu fiz meu pelo-sinal,
me curvei... disse que sim. Mas então ele enjoado
beberia seu sobejo, confessou que só gostava
lamberia seu sapato. Sai pensando na morte,
mas a morte não chegava.
de mim como eu era dantes. comeu, limpou o suor,
Me joguei a suas plantas, era sempre o mesmo homem,

fiz toda sorte de dengo, comia meio de lado


no chão rocei minha cara, e nem estava mais velho.

me puxei pelos cabelos, O barulho da comida


me lancei na correnteza, na boca, me acalentava,

me cortei de canivete, me dava uma grande paz,


me atirei no sumidouro, um sentimento esquisito

bebi fel e gasolina, de que tudo foi um sonho,


rezei duzentas novenas, vestido não há... nem nada.

dona, de nada valeu: Minhas filhas, eis que ouço


vosso marido sumiu. vosso pai subindo a escada.

Aqui trago minha roupa


que recorda meu malfeito
Texto extraído do livro "Nova
de ofender dona casada Reunião - 19 Livros de
pisando no seu orgulho. Poesia", José Olympio
Editora - 1985, pág. 157.
Recebei esse vestido
e me dai vosso perdão.

Olhei para a cara dela,


quede os olhos cintilantes?

quede graça de sorriso,


quede colo de camélia?

quede aquela cinturinha


delgada como jeitosa?

quede pezinhos calçados


com sandálias de cetim?

Olhei muito para ela,


boca não disse palavra.

Peguei o vestido, pus


nesse prego da parede.

Ela se foi de mansinho


e já na ponta da estrada

vosso pai aparecia.


Olhou pra mim em silêncio,

mal reparou no vestido


e disse apenas: — Mulher,

põe mais um prato na mesa.


Eu fiz, ele se assentou,
Amante não tem lar Ele te ama de verdade
E a culpa foi minha
Marília Mendonça Minha responsabilidade eu vou resolver
Não quero atrapalhar você
Só vim me desculpar
Eu não vou demorar E o preço que eu pago
Não vou tentar ser sua amiga É nunca ser amada de verdade
Pois sei que não dá Ninguém me respeita nessa cidade
Amante não tem lar
Você vai me odiar Amante nunca vai casar
Mas eu vim te contar
Que faz um tempo E o preço que eu pago
Eu me meti no meio do seu lar É nunca ser amada de verdade
Ninguém me respeita nessa cidade
Sua família é tão bonita Amante não vai ser fiel
Eu nunca tive isso na vida Amante não usa aliança e véu
E se eu continuar assim
Eu sei que não vou ter

Cálice Cálice
Chico Buarque Criolo
Compositor: Gilberto Gil/Chico Buarque

Pai, afasta de mim esse cálice Como ir pro trabalho sem levar um tiro
Pai, afasta de mim esse cálice Voltar pra casa sem levar um tiro
Pai, afasta de mim esse cálice
Se as três da matina tem alguém que frita
De vinho tinto de sangue
E é capaz de tudo pra manter sua brisa
Como beber dessa bebida amarga Os saraus tiveram que invadir os botecos
Tragar a dor, engolir a labuta Pois biblioteca não era lugar de poesia
Mesmo calada a boca, resta o peito Biblioteca tinha que ter silêncio,
Silêncio na cidade não se escuta E uma gente que se acha assim muito sabida
De que me vale ser filho da santa
Melhor seria ser filho da outra
Há preconceito com o nordestino
Outra realidade menos morta
Tanta mentira, tanta força bruta Há preconceito com o homem negro
Há preconceito com o analfabeto
Como é difícil acordar calado Mas não há preconceito se um dos três for rico, pai.
Se na calada da noite eu me dano
Quero lançar um grito desumano A ditadura segue meu amigo Milton
Que é uma maneira de ser escutado
A repressão segue meu amigo Chico
Esse silêncio todo me atordoa
Atordoado eu permaneço atento Me chamam Criolo e o meu berço é o rap
Na arquibancada pra a qualquer momento
Ver emergir o monstro da lagoa Mas não existe fronteira pra minha poesia, pai.
Afasta de mim a biqueira, pai
De muito gorda a porca já não anda Afasta de mim as biate, pai
De muito usada a faca já não corta Afasta de mim a cocaine, pai
Como é difícil, pai, abrir a porta
Pois na quebrada escorre sangue,pai.
Essa palavra presa na garganta
Esse pileque homérico no mundo
De que adianta ter boa vontade Pai
Mesmo calado o peito, resta a cuca Afasta de mim a biqueira, pai
Dos bêbados do centro da cidade Afasta de mim as biate, pai
Afasta de mim a coqueine, pai.
Talvez o mundo não seja pequeno Pois na quebrada escorre sangue.
Nem seja a vida um fato consumado
Quero inventar o meu próprio pecado
Quero morrer do meu próprio veneno
Quero perder de vez tua cabeça
Minha cabeça perder teu juízo
Quero cheirar fumaça de óleo diesel
Me embriagar até que alguém me esqueça
Canção do exílio
Minha terra é a Penha,
Gonçalves Dias
o medo mora aqui.
Minha terra tem palmeiras,
Todo dia chega a notícia Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
que morreu mais um ali. Não gorjeiam como lá.
Nossas casas perfuradas Nosso céu tem mais estrelas,
Nossas várzeas têm mais flores,
pelas balas que atingiu.
Nossos bosques têm mais vida,
Corações cheios de medo Nossa vida mais amores.

do polícia que surgiu. Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer eu encontro lá;
Se cismar em sair à noite, Minha terra tem palmeiras,
já não posso mais. Onde canta o Sabiá.

Pelo risco de morrer Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
e não voltar para os meus pais. Em cismar sozinho, à noite
Mais prazer eu encontro lá;
Minha terra tem horrores
Minha terra tem palmeiras,
que não encontro em outro lugar. Onde canta o Sabiá.

A falta de segurança é tão grande, Não permita Deus que eu morra,


Sem que eu volte para lá;
que mal posso relaxar. Sem que disfrute os primores
Que não encontro por cá;
“Não permita Deus que eu morra”,
Sem qu'inda aviste as palmeiras,
antes de sair deste lugar. Onde canta o Sabiá.

Me leve para um lugar tranquilo,

onde canta o sabiá


Propaganda
Jorge & Mateus
Ela queima o arroz
Quebra copo na pia
Tropeça no sofá, machuca o dedinho
E a culpa ainda é minha
Ela ronca demais
Mancha às minhas camisas
Dá até medo de olhar
Quando ela 'tá naqueles dias
É isso que eu falo com os outros
Mas você sabe que o esquema é outro
Só faço isso pra malandro não querer crescer o
olho
'Tá doido que eu vou
Fazer propaganda de você
Isso não é medo de te perder, amor
É pavor, é pavor
'Tá doido que eu vou
Fazer propaganda de você
Isso não é medo de te perder, amor
É pavor, é minha cuido mesmo, pronto e acabou
Ela queima o arroz ('cê tem cara, viu)
Quebra copo na pia
Tropeça no sofá, machuca o dedinho
E a culpa ainda é minha
Ela ronca demais
Mancha às minhas camisas
Dá até medo de olhar
Quando ela 'tá naqueles dias
É isso…

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