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Que poder tem a literatura na representação da

história?

Acredito que o maior de todos. Primeiro, por ser perene, ao contrário da efemeridade da
palavra pronunciada. Segundo pela eterna questão: a arte imita a vida ou a vida imita a
arte? Não importa de onde vem a imitação. Independe de a arte ser retrato real ou
ficcional, uma é reflexo da outra. Ambas compartilham o mesmo material: o humano.

Não há mesmo em Harry Potter leituras que não sejam políticas, sociais. Porque é
aspecto intrínseco humano. O humano vive em sociedade, é político por definição. Para
mim toda arte é engajada. Esse conceito não pode ser pensado como gueto dentro do
produto artístico, qualquer que seja tal produto. Se falarmos de pessoas, iremos tratar de
dores, amores, sociedade, cultura, costumes, preconceitos, etc. Mesmo em histórias de
amor há isso, vide Romeu e Julieta. Há um fator social, financeiro, feminista em
Titanic, o filme. Em Rei Leão há Hamlet. Star Wars é recheado de referências ao
nazismo. Depende só da profundidade da leitura.

Finalmente respondendo às perguntas.

Contudo, como ficam os sujeitos que estão à margem, como os povos Africanos
colonizados por Portugal?

Ficam em uma situação de reféns. Reféns do poder econômico, reféns do preconceito. E


dependendo de heróis como Mia Couto ou Pepetela que resolvem por total empatia
narrar às histórias desses oprimidos. Apesar de pertencerem ao que chamam de lugar de
fala.

As versões que conhecemos são narradas por quem?

Acredito que pelos dominantes. Por que não é assim que funciona? Conta a história
aquele que ganha a guerra.

Pontos de vistas de vitoriosos são perigosos, pois ao narrarem a vitória, para valorizá-la
devem ter um inimigo que seja imensamente forte, cruel, bárbaro. Se subjugarem um
fraco, a vilania muda de lugar. Então mais uma vez a guerra de narrativa acaba tendo
um lugar no discurso histórico. “Eu matei, pois eles eram bárbaros, horrorosos,
verdadeiros monstros”. No lugar de “Eu matei para roubar o ouro, estuprar as
mulheres, comer a comida.” É isso que vejo. Uma guerra de narrativas para amenizar as
atrocidades de um povo sem voz que fica a mercê.

É triste ver esse fato acontecer todo dia. No menino negro da favela que leva um tiro
antes de qualquer coisa. E é sempre o culpado. Ou da mulher estuprada que provocou o
estupro por causa da roupa.
Acho que esse é o poder: Denúncia, Perpetuação do registro e criação do debate. Fazer
pensar usando como meio a arte. Utilizar a introspecção, a imersão da leitura para
desenvolver a empatia.

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