Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Julho 2002
2
Colaboradores:
1o Ten QEM Ana Luiza Barbosa de Oliveira
Cap QEM Erick Simões da Camara e Silva
Sumário
3
4 SUMÁRIO
3 Defesa química 69
3.1 Conceitos básicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.2 Detecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.2.1 Características técnicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 72
3.2.2 Tecnologias de detecção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.2.2.1 Métodos químicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
3.2.2.2 Espectrometria de mobilidade iônica (IMS) . . . . . 74
3.2.2.3 Espectrofotometria de chama . . . . . . . . . . . . 78
3.2.2.4 Espectrometria de infra-vermelho . . . . . . . . . . 78
3.2.2.5 Espectrometria de massa . . . . . . . . . . . . . . 82
3.3 Proteção . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 82
3.3.1 Proteção individual . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.3.1.1 Proteção respiratória . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
3.3.1.2 Vestimentas de proteção . . . . . . . . . . . . . . . 101
3.3.2 Proteção coletiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 107
3.4 Descontaminação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 111
3.4.1 Descontaminação de agentes químicos . . . . . . . . . . . . . 112
3.4.1.1 Descontaminação física . . . . . . . . . . . . . . . 113
3.4.1.2 Descontaminação química . . . . . . . . . . . . . . 113
3.4.2 Equipamentos de descontaminação . . . . . . . . . . . . . . 115
3.5 Identificação e análise de agentes químicos . . . . . . . . . . . . . . 115
3.5.1 Técnicas de extração . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.5.1.1 Água . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.5.1.2 Leite . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 119
3.5.1.3 Solo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 120
3.5.1.4 Grama, tecido, couro, metais, madeira . . . . . . . 120
3.5.1.5 Alimentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.5.2 Detecção de agentes químicos de guerra por TLC . . . . . . . 121
3.5.2.1 Agentes neurotóxicos . . . . . . . . . . . . . . . . 121
3.5.2.2 Irritantes e Vesicantes . . . . . . . . . . . . . . . . 122
3.5.2.3 Agentes contendo arsênico . . . . . . . . . . . . . 123
5 Bibliografia 163
5.1 Livros . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 163
5.2 Publicações militares . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
5.3 Periódicos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
5.4 Internet . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
5.4.1 Organizações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 165
5.4.2 Fabricantes de equipamentos . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
5.4.3 Governamentais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 166
Lista de Figuras
7
8 LISTA DE FIGURAS
2.22 Fisostigmina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.23 Piridostigmina . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.24 Formação dos íons sulfônio e imônio . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.25 Alquilação do DNA . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
2.26 Soldado iraniano vítima de um ataque iraquiano com mostarda . . . . 54
2.27 Reação da Lewisita com o dimercaprol . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
2.28 Vela tóxica de adamsita (Primeira Guerra Mundial) . . . . . . . . . . 62
2.29 LSD . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.30 BZ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
11
12 LISTA DE TABELAS
Capítulo 1
13
14 CAPÍTULO 1. INTRODUÇÃO À DEFESA QUÍMICA
mitindo sua obtenção por indivíduos ou grupos organizados e seu emprego para fins
terroristas. Este fenômeno tem se destacado nos últimos anos, fazendo com que a
defesa química e biológica deixe de ser um assunto puramente militar para tornar-se
também um problema de defesa civil.
Apesar do previsto nestes tratados, vários países mantiveram pesquisas na área, es-
pecialmente Inglaterra, França e Alemanha. Estas pesquisas concentravam-se no em-
prego de agentes irritantes, como o bromoacetato de etila, utilizado em granadas france-
sas. Outros agentes também foram testados pelos alemães, em munições de artilharia.
Nenhuma destas iniciativas, entretanto, obteve bons resultados.
O primeiro ataque bem-sucedido com armas químicas foi realizado pelos alemães,
na Primeira Guerra Mundial, em 22 de abril de 1915, na cidade de Ypres, Bélgica.
Seguindo uma sugestão de Fritz Haber (Prêmio Nobel de química em 1918, mais
conhecido pelo processo de produção de amônia que leva seu nome), os alemães colo-
caram aproximadamente 5500 cilindros de cloro (por volta de 168 toneladas) em uma
linha de 6 km e esperaram até que o vento soprasse em direção às posições aliadas.
Apesar de as preparações para o ataque terem sido identificadas por observadores
aéreos ingleses, os aliados não acreditaram na viabilidade do ataque e suas tropas foram
pegas completamente de surpresa. O ataque foi tão bem sucedido que surpreendeu os
próprios alemães, que não tinham tropas suficientes na área para aproveitar o imenso
espaço criado nas linhas defensivas aliadas.
A indignação aliada com a natureza imoral do ataque alemão não impediu que in-
gleses e franceses imediatamente traçassem planos de retaliação, empregando os mes-
mos métodos. Em setembro do mesmo ano, os aliados lançaram seu primeiro ataque
com cloro contra posições alemãs em Loos. A partir de então, a guerra foi marcada por
uma competição entre o desenvolvimento de técnicas ofensivas e defensivas por ambos
os lados. Máscaras contra gases diminuiram a eficácia dos ataques com cloro, levando
ao emprego de novos agentes, mais tóxicos ou cujas propriedades físicas dificultavam
sua retenção pelas máscaras, como o fosgênio, difosgênio, cianeto de hidrogênio e
1.2. HISTÓRICO DA GUERRA QUÍMICA 15
27
28 CAPÍTULO 2. AGENTES QUÍMICOS MILITARES
e pelas mucosas das vias superiores e partículas inferiores a 1 micron chegam até os
alvéolos pulmonares.
2.1.2 Toxicocinética
A taxa de distribuição de uma toxina para os vários tecidos do corpo varia considera-
velmente, principalmente em função de diferentes taxas de perfusão (fluxo de sangue).
Tecidos com alta taxa de perfusão (coração, fígado, rins) receberão maiores doses de
toxinas.
Alguns tecidos possuem modificações fisiológicas especiais que limitam a entrada
de toxinas. Os tecidos do sistema nervoso central, por exemplo, são protegidos pelo
que é conhecido como barreira sangue-cérebro. Esta barreira é o resultado de junções
mais próximas entre as células que compõem os capilares do sistema nervoso central,
2.1. NOÇÕES DE TOXICOLOGIA 29
2.1.3 Toxicodinâmica
Grande parte das toxinas atua através de interações com alvos moleculares específicos
(biomoléculas). Alvos freqüentes incluem proteínas (enzimas, receptores, proteínas de
transporte, etc), lipídeos (membranas celulares) e ácidos nucléicos.
Inúmeras reações biológicas são catalisadas por enzimas. Em uma reação enzimá-
tica, os substratos (moléculas que participam da reação) interagem com uma região
específica da enzima, denominada sítio ativo. Uma toxina pode afetar este processo ao
dificultar o acesso do subtrato natural ao sítio ativo ou ao ligar-se à enzima de forma
a causar uma mudança conformacional que impeça seu funcionamento. Compostos
organofosforados e carbamatos, por exemplo, impedem o funcionamento de uma enzi-
ma do sistema nervoso chamada acetilcolinesterase, ao ligar-se covalentemente a seu
sítio ativo de forma a bloquear o acesso da acetilcolina, seu substrato natural.
No caso de receptores, um processo bioquímico é desencadeado pela ligação com
uma pequena molécula (ligante), como um hormônio ou neurotransmissor. Moléculas
que têm o mesmo efeito que o ligante natural são denominadas agonistas, enquanto
aquelas que não produzem uma resposta do receptor, bloqueando-o, são denominadas
antagonistas. O curare, por exemplo, é um antagonista de um tipo de receptores coli-
nérgicos (cujo ligante natural é a acetilcolina) do sistema nervoso.
A proteína de transporte mais conhecida é a hemoglobina, presente nas células
vermelhas do sange e responsável pelo transporte de oxigênio. A hemoglobina é com-
posta de quatro cadeias de aminoácidos, cada uma com uma estrutura contendo ferro
denominada grupo heme, capaz de carregar uma molécula de oxigênio. A ligação de
uma molécula de oxigênio a uma das cadeias causa uma alteração conformacional nas
cadeias restantes, que facilita a ligação de outras moléculas de oxigênio. Da mesma
forma, a saída de uma molécula de oxigênio de uma cadeia facilita a saída das molécu-
las restantes. Isto faz com que a hemoglobina carrregue e descarregue o oxigênio efi-
cientemente. Por outro lado, a hemoglobina humana tem uma afinidade pelo monóxido
de carbono 200 vezes maior que pelo oxigênio e pequenas quantidades de CO são su-
ficientes para bloquear o transporte de oxigênio. Outra alteração que pode bloquear a
ação da hemoglobina é a oxidação do átomo de ferro do grupo heme de Fe+2 para Fe+3 ,
transformando a hemoglobina em metemoglobina. Nitratos (agentes poluentes comum
em fontes de água contaminadas por fertilizantes ou esgoto) são oxidados, no sistema
gastrointestinal, a nitritos que então convertem a hemoglobina em metemoglobina. Em
adultos, a formação de metemoglobina é revertida por um sistema bioquímico que
reduz o ferro oxidado, mas este sistema não opera em crianças, tornando-os particular-
mente suscetíveis a este problema.
Membranas celulares são compostas de uma camada dupla de fosfolipídeos. Sol-
ventes orgânicos e gases anestésicos, altamente lipossolúveis, dissolvem facilmente nas
membranas do sistema nervoso e outros orgãos, causando efeitos tóxicos através da al-
30 CAPÍTULO 2. AGENTES QUÍMICOS MILITARES
O DNA é composto por unidades chamadas nucleotídeos, compostos por uma base
(adenina, guanina, citosina ou timina), um fosfato e um açúcar, sendo que a maioria
das toxinas que atacam os ácido nucléicos interagem com as bases dos nucleotídeos.
Algumas toxinas removem uma porção desta base, como o ácido nitroso, por exemplo,
que pode remover um grupo amina da adenina ou da citosina. Outras toxinas, como
o agente mostarda, atuam como agentes alquilantes, adicionando grupos alquila às
bases. Danos ao DNA que não são corrigidos pelos mecanismos naturais do organismo
podem levar a mutações e ao surgimento de câncer. Substâncias químicas que induzem
ao surgimento de câncer são denominadas carcinogênicas. Seu efeito pode ocorrer
através de danos ao DNA, que dão início ao processo, ou estimulando a progressão do
câncer nas fases seguintes de seu desenvolvimento.
→ alta toxicidade;
→ ser estável o suficiente para ser estocada por longos períodos sem se degradar
nem corroer o material onde está acondicionado;
→ resistir ao calor liberado no processo de dispersão;
→ resistir à degradação por fatores ambientais;
→ custo e facilidade de produção adequados;
2.2.1 Classificação
Os agentes químicos podem ser classificados quanto a seu emprego tático, efeito fisi-
ológico e persistência (Tabela 2.5).
Os agentes causadores de baixas incluem os agentes neurotóxicos, vesicantes, he-
motóxicos e sufocantes; agentes lacrimogênios e vomitivos são classificados como
inquietantes (largamente conhecidos como agentes de controle de distúrbios ou irri-
tantes). Pela classificação adotada pelo Exército Brasileiro, apenas os agentes psico-
químicos são enquadrados como incapacitantes, uma vez que é feita uma distinção a
partir do tipo de efeito causado (mental ou sensorial), mas encontra-se também na lit-
eratura o termo incapacitante sendo utilizado indiscriminadamente a todos os agentes
cujos efeitos sejam temporários. A divisão entre agentes causadores de baixas e in-
capacitantes é subjetiva, uma vez que um agente incapacitante pode causar baixas se
empregado em concentrações muito altas. A distinção entre os dois tipos é feita a partir
da razão entre a dose incapacitante e a dose letal. Uma classificação empregada é a de
que o agente é incapacitante se a dose incapacitante for inferior a 1/100 da dose letal.
Os agentes podem ser classificados também de acordo com a sua persistência no
ambiente. Agentes muito voláteis são denominados não-persistentes, uma vez que são
mais rapidamente dispersados. Agentes persistentes são aqueles com baixa volatidade,
podendo permanecer depositados na forma de líquido durante longos períodos, depen-
dendo das condições ambientais. Agentes não-persistentes podem ser misturados a
agentes espessantes de forma a aumentar sua persistência.
2.2. CLASSIFICAÇÃO E EMPREGO DOS AGENTES QUÍMICOS 35
2.2.2 Emprego
Armas químicas podem ser empregadas com três objetivos básicos:
→ eliminar a capacidade de combate do inimigo em uma área definida, através da
extensa e rápida produção de baixas;
→ prevenir ou retardar o acesso do inimigo a uma determinada área;
→ forçar o inimigo a empregar equipamentos de proteção individual e coletiva du-
rante longos períodos de tempo, de forma a prejudicar suas atividades.
O agente a ser empregado e a sua forma de disseminação dependerão então do ob-
jetivo específico a ser atingido. Independente da forma de emprego, o processo de
dispersão fará com que uma parte do agente seja vaporizada enquanto o restante será
espalhado na forma de gotas. As gotas maiores caem rapidamente, depositando-se so-
bre o solo e a vegetaçâo, enquanto as gotas pequenas permanecem suspensas no ar
na forma de aerossol. A mistura deste aerossol com o vapor do agente é denominada
nuvem primária. A proporção entre a nuvem primária e a contaminação da superfície
depende do tipo de agente, do método de dispersão e da altura em que a dispersão é
feita. Agentes não-persistentes formam uma maior proporção de nuvem primária que
agentes persistentes, da mesma forma que uma disseminaçâo por explosão, comparada
ao espargimento. Após a dispersão da nuvem primária, uma nuvem secundária pode
ser formada pela evaporação da contaminação da superfície.
tempo depois do ataque. Quando efeitos mais prolongados são desejados, por exemplo
para se obstruir a operação de uma base aérea, emprega-se um agente persistente.
A dispersão do agente sobre o alvo pode ser obtida pelas seguintes técnicas:
Ná década de 60, um novo conceito de munição foi desenvolvido nos EUA: a munição
binária. Devido a mudanças na política americana de guerra química, estas munições
2.2. CLASSIFICAÇÃO E EMPREGO DOS AGENTES QUÍMICOS 39
só vieram a ser produzidas, por um breve período, a partir do final da década de 80.
Em uma munição binária, o carregamento é feito com duas substâncias que, quando
misturadas, geram o agente químico desejado. As substâncias são separadas por uma
divisão que é rompida durante o vôo, de forma a produzir o agente in situ. Apesar do
produto desta reação não apresentar o mesmo grau de pureza que o agente carregado da
forma tradicional, resultando em uma menor carga útil, este conceito apresenta grandes
vantagens na parte de segurança de manuseio e estocagem.
Figura 2.10: Munição binária, com vista do cilindro interno onde é colocado um dos
reagentes
GA Tabun
GB Sarin
GD Soman
GE -
GF -
VX -
VE -
VG -
VM -
GA GB GD VX
Ponto de ebulição (o C) 247,5 147 167-200 298
Ponto de fusão (o C) -50 -57 -42 -51
Densidade - líquido (g/cm3 ) 1,07 1,09 1,02 1,01
Densidade - vapor (ar=1) 5,6 4,9 5,6 9,2
Volatilidade (mg/m3 ) 610 22.000 3.900 10,5
(25o C) (25o C) (25o C) (25o C)
mina seguida da perda dos grupos cianeto e etoxi (figura 2.12). Em condições básicas,
o cianeto é deslocado preferencialmente. O ataque por outros agentes nucleofílicos
procede de forma similar.
2.3.4 Tratamento
A base do tratamento médico da intoxicação por agentes neurotóxicos é a adminis-
tração de antídotos específicos. Devido à rapidez de ação destes agentes, os antídotos
são empregados em seringas autoinjetoras, de forma que possam ser administrados
pela própria vítima ou por um companheiro aos primeiros sinais de intoxicação (figu-
ras 2.16, 2.17).
Atualmente, os antídotos empregados dividem-se em três componentes:
Código Fórmula
HD
HN1
HN2
HN3
na cidade de Ypres na Bélgica, daí o nome yperita dado pelo franceses à mostarda de
enxofre. Até o fim da guerra, 120.000 britânicos (alguns autores sugerem 400.000)
foram vítimas de ataques com gás mostarda, porém a mortalidade foi baixa (em torno
de 2-3%), a maioria causada por inalação dos vapores. Devido à sua grande eficiência,
sendo responsável por mais baixas do que todos os outro agentes utilizados na Primeira
Guerra Mundial, o HD ficou conhecido como "Rei dos Gases" ou "Rei dos Gases de
Batalha".
O nome mostarda foi dado pelos soldados devido ao cheiro semelhante a alho,
raiz forte ou alho poró. É importante não confundir o agente mostarda com o óleo
de mostarda, alil isotiocianato, que por acaso também é vesicante. O código militar
H é às vezes empregado de forma geral para todas as mostardas, mas na verdade ele
corresponde à mostarda de enxofre impura (~70% de pureza) produzida pelo processo
Lewistein. O código H vem de Hunstoffe (abreviado para HS e mais tarde H), ou
coisa alemã, como os Aliados primeiro a denominaram. O código HD corresponde à
mostarda purificada por destilação. HN é utilizado para denominar as mostardas de
nitrogênio. Durante a Primeira Guerra, os alemães se referiam à mostarda de enxo-
fre como LOST, as iniciais dos químicos envolvidos na síntese do agente, Lommel e
Steinkopf. Além disso, as granadas alemães contendo mostardas eram marcadas com
uma cruz amarela ou schwefellost, daí sua outra denominação em alemão.
O HD já foi utilizado como tratamento para psoríase e vendido sob o nome comer-
cial de Psoriasin pela empresa Malco. Por outro lado, a mostarda de nitrogênio HN2
foi utilizada na quimioterapia de certos tipos de câncer e comercializada pela Merck
sob o nome de Mustargen.
2.4.1.3 Tratamento
Não existem antídotos específicos e a terapia se limita ao tratamento dos sintomas. A
primeira coisa a ser feita é remover o paciente da fonte de contaminação e em seguida
2.4. AGENTES VESICANTES 53
realizar a descontaminação com terra de Fuller ou lavar com solventes orgânicos como
querosene por cerca de 30 minutos, ou ainda utilizar soluções de cloroamina. No caso
dos olhos, devem ser lavados com solução salina ou água.
Para tratar o eritema e as bolhas, utiliza-se remédios como Caladril e anti-histamí-
nicos, para aliviar a coceira, cortisona e para a dor, pode-se utilizar desde paracetamol
a morfina. É importante combater focos de infecção que podem trazer complicações
graves, para tal é comum a utilização de sulfadiazina de prata.
No caso de contaminação dos olhos, a chave é a descontaminação imediata. Caso
se passem mais que cinco minutos após a exposição a descontaminação é praticamente
inútil. O tratamento das lesões oculares inclui irrigação com solução salina, aplicação
de vaselina para evitar que as pálpebras fiquem coladas e aplicação de antibióticos.
Quanto aos sintomas do aparelho respiratório, administra-se codeína para a tosse e
antibióticos. Muitas vezes são necessários estimulantes da medula óssea para combater
sua depressão.
Os dados sobre efeitos carcinogênicos provêm de estudos nas fábricas inglesas e
alemãs que demostraram um grande aumento da incidência de câncer de pulmão entre
os trabalhadores. No entanto, não existem evidências para o caso de exposição aguda.
2.4.2 Arsenicais
Os agentes arsenicais (tabela )foram introduzidos pelos alemães visando penetrar nas
máscaras contra gases, causando irritação e levando à retirada das máscaras.
L Lewisita
ED Etildicloroarsina
MD Metildicloroarsina
PD Fenildicloroarsina
2.4.2.3 Tratamento
Até os anos 40, o único tratamento para contaminação com agentes arsenicais era
aplicar peróxido de hidrogênio na pele e lavar com água e sabão. Foi nessa época
que foi introduzido o BAL (British Anti-Lewisite), constituído de dimercaprol em um
veículo adequado. Quando usado minutos após a exposição evita ou diminui a gravi-
dade das lesões. Infelizmente não estão mais disponíveis preparações comerciais de
BAL para aplicação nos olhos e pele. Preparações de BAL para estes fins podem ser
feitas em caso de emergência utilizando-se 5 a 10% de dimercaprol em óleo vegetal.
Quando injetado intramuscular o BAL atenua os efeitos sistêmicos.
O BAL se liga mais fortemente ao arsênico da lewisita que as enzimas, diminuindo,
assim, sua biodisponibilidade e regenerando enzimas. No entanto, também é irritante
para a pele e pode causar hipertensão, taquicardia e impressão de constrição no peito.
Mas todos estes sintomas passam em algumas horas.
Código Fórmula
AC HCN
CK CNCl
AC CK
Ponto de ebulição (o C) 25,7 12,8
Ponto de fusão (o C) -13,4 -6,9
Densidade - líquido (g/cm3 ) 0,7 1,18
Densidade - vapor (ar=1) 0,94 2,1
Volatilidade (mg/m3 ) 1.080.000 (25o C) 2.600.600 (12o C)
é feita por enzimas que convertem o cianeto em tiocianato, que é muito menos tóxico.
Existem evidências de detoxificação também por oxidação e combinação com cobal-
aminas endógenas. Como resultado, a toxicidade dos cianetos é fortemente dependente
da concentração e baixas concentrações podem ser suportadas indefinidamente, sem
acumulação no corpo.
2.5.2 Antídotos
Vários antídotos para a intoxicação por cianetos são conhecidos. Apesar de apre-
sentarem bons resultados em estudos experimentais, são limitados pela pouco tempo
disponível para sua administração, em razão da ação rápida dos cianetos. Três princí-
pios são empregados: o aumento da detoxificação enzimática natural do corpo; ligação
direta do cianeto ou ligação indireta do cianeto.
O aumento da detoxificação do cianeto pode ser feito através da administração
de enzimas exógenas ou de compostos doadores de enxofre, que é utilizado na trans-
formação do cianeto em tiocianato pelas enzimas do corpo (especialmente a enzima
rodanese). Este tipo é o mais empregado, sendo o tiosulfato de sódio o antídoto mais
comum.
Entretanto, este método reduz os níveis de cianeto no sangue de forma muito lenta
e é em geral utilizado como complemento a outro antídoto, em geral um gerador de
metemoglogina.
A ligação direta do cianeto livre no sangue pode ser feita com metais pesados de
baixa toxicidade, especialmente ferro e cobalto. O cobalto, por exemplo, é geralmente
empregado na forma de um complexo com EDTA.
A ligação indireta do cianeto é feita através da formação de metemoglobina, que
é indesejável em condições normais mas possui alta afinidade pelo cianeto. A mete-
moglobina é formada pela oxidação do Fe+2 presente na hemoglobina a Fe+3 , for-
mando um complexo com o cianeto que é gradualmente revertido, em função dos
mecanismos naturais do corpo de reversão da metemoglobina a hemoglobina. Em
razão disso, os geradores de metemoglobina são geralmente complementados por um
segundo antídoto, quase sempre o tiosulfato de sódio. Os geradores de metemoglobina
mais empregados atualmente são o nitrito de amila e o 4-dimetilaminofenol (DMAP).
CG Fosgênio COCl2
DP Difosgênio ClCO2 CCl3
PS Cloropicrina CCl3 NO2
Mundial, o fosgênio causou o maior número de mortes (~85%). Difosgênio foi pro-
duzido para contornar a proteção oferecida pelos primeiras máscaras, já que o difos-
gênio se decompõe a fosgênio e clorofórmio, que destruía os filtros da época per-
mitindo a passagem do fosgênio.
2.6.2 Tratamento
O tratamento da exposição a fosgênio consiste principalmente em repouso e adminis-
tração de oxigênio. Medicamentos complementares utilizados incluem esteróides, cuja
ação está provavelmente relacionada à inibição da resposta inflamatória à irritação, é
antibióticos. Hexametilenotetramina (HTM) pode ser usado como profilaxia, mas não
tem efeito se administrado após a exposição. A descoberta de que HMT neutraliza
o fosgênio foi feita pelos russos, durante a Primeira Guerra Mundial, e foi usada em
equipamentos de proteção da época.
2.7. AGENTES VOMITIVOS 61
Código Fórmula
DA
DC
DM
2.8.1 Emprego
Como estes agentes são relativamente insolúveis em soluções aquosas e pouco voláteis
a temperatura ambiente, eles precisam ser dispersados em aerossóis finos de duas for-
mas possíveis, em recipientes pressurizados ou em cartuchos explosivos. Ambos geram
partículas de diâmetro médio na faixa de 0,5-2,0 µm.
Recipientes pressurizados contém o agente dissolvido em mistura de um solvente
e um propelente gasoso. Além da versão conhecida comercialmente como Mace, que
contém 30 mL de CN a 1% em uma mistura de hidrocarbonetos e freon, outras versões
2.9. AGENTES PSICOQUÍMICOS 63
Código Fórmula
CN
CS
CR
2.9.1 Estimulantes
Cocaína, anfetaminas, nicotina, cafeína e substâncias epiletogênicas como estricnina
e metrazol estão incluídas entre os estimulantes. Nenhum dos estimulantes conven-
cionais tem potência suficiente para ser dispersado na forma de aerossol e na reali-
dade, os efeitos podem ser contrários ao desejado, fazendo com que o combatente lute
2.9. AGENTES PSICOQUÍMICOS 65
2.9.2 Depressores
Existem várias drogas consideradas depressoras do sistema nervoso central, mas nen-
huma é muito promissora como agente psicoquímico devido a sua baixa potência, pos-
suir dose incapacitante muito próxima da dose letal ou apresentar efeitos colaterais
perigosos.
2.9.3 Psicodélicos
O membro mais conhecido deste grupo é a dietilamida do ácido d-lisérgico (LSD-25).
Esta substância foi de grande interesse militar (e de muitas pessoas) desde os anos 50.
Muitos testes foram realizados entre 1959 e 1965. O LSD é extremamente potente
(dose incapacitante: 2,5mg/kg), porém produz um comportamento imprevisível mas
coordenado. Por exemplo, apesar de não ser capaz de seguir uma série de instruções ou
se concentrar em uma tarefa complexa, um indivíduo é capaz de atirar com uma arma
de forma precisa o suficiente para ser perigoso. Companhias bem treinadas se tornaram
totalmente desorganizadas em testes com doses orais de 200mg. Não existem antídotos
completos, benzodiazepínicos e fenotiazinas são antagonistas apenas parciais. Estudos
mostraram que a dose letal é 1000x maior que a dose incapacitante.
2.9.4 Alucinógenos
São drogas que em certas doses produzem efeitos clínicos desejados, porém em doses
maiores causam delírio. Delírio é uma síndrome incapacitante que envolve alucinações,
66 CAPÍTULO 2. AGENTES QUÍMICOS MILITARES
Figura 2.30: BZ
Defesa química
3.2 Detecção
Detetores de agentes químicos podem ser usados em dois modos básicos de operação:
69
70 CAPÍTULO 3. DEFESA QUÍMICA
→ Autonomia - equipamentos portáteis têm sua autonomia limitada por seu con-
sumo de energia e conjunto de baterias. No caso de equipamentos montados
em instalações fixas ou viaturas, este fator é geralmente irrelevante mas pode
ser crítico no caso de interrupções não programadas no fornecimento de ener-
gia. Materiais de consumo empregados pelo equipamento (filtros, etc) também
afetam sua autonomia.
3.3 Proteção
O objetivo fundamental da proteção química é impedir ou minimizar o contato, e con-
seqüente exposição, do indivíduo com um contaminante presente no ambiente. Sempre
que possível, a utilização de equipamentos de proteção coletiva especificamente proje-
tados, como barracas, abrigos e viaturas, é mais conveniente que o uso de equipamentos
de proteção individual (EPI), devido ao menor impacto na capacidade operacional do
usuário. Obviamente, para operações militares isto não é sempre possível, devendo as
atividades serem planejadas de forma a permitir a utilização periódica dos equipamen-
tos de proteção coletiva, para que o usuário possa se recuperar do desgaste resultante
do uso prolongado de EPIs.
3.3. PROTEÇÃO 83
Equipamentos provedores de ar utilizam uma fonte externa de ar, que pode ser
uma linha alimentada por compressores especiais ou cilindros portáteis (SCBA - self-
contained breathing apparatus). Neste último caso, o sistema pode ser aberto ou
fechado. No sistema aberto, o ar exalado é liberado para o ambiente, sendo este o
tipo mais comum e barato, disponível em vários modelos. Estes cilindros podem ser
de diferentes pressões (150, 200 ou 300 bar) e fabricados de aço, composite (alumínio
+ fibra de vidro) ou fibra de carbono, com autonomias que variam de 30 minutos a 1
hora (figura 3.35). Em um sistema fechado o ar exalado é recirculado através de um
circuito que remove o dióxido de carbono e regenera o oxigênio do ar.
Uma característica importante dos equipamentos de proteção respiratória é a pressão
mantida no interior da peça facial. Quando esta pressão é inferior à pressão atmos-
férica durante o período de inalação, o equipamento é dito de pressão negativa (ou de
demanda) e apresenta uma maior susceptibilidade à entrada do ar contaminado pelas
frestas da peça facial. Quando a pressão é mantida em níveis acima da atmosférica
durante todo o ciclo respiratório, o equipamento é dito de pressão positiva (ou pressão
de demanda) e oferece um grau maior de proteção.
O grau de proteção oferecido por um equipamento é quantificado por seu fator de
proteção (FP), definido como:
de testes de vedação, onde diferentes tamanhos e modelos de peça facial são avaliados
de forma a se identificar qual apresenta o melhor fator de proteção para cada indivíduo.
Vários métodos podem ser usados para o teste de vedação. Para máscaras de uso
civil, usadas em ambientes menos tóxicos, são geralmente empregados fumaça irri-
tante ou óleo de banana, cuja penetração na máscara é facilmente identificada pelo
usuário. Estes testes dão somente um resultado qualitativo. Para uso militar, técnicas
mais sofisticadas precisam ser utilizadas, que geram um valor quantitativo para o fa-
tor de proteção da peça facial em teste. Equipamentos portáteis simples utilizam as
partículas em suspensão no ar ambiente (figuras 3.36, 3.37) ou criam um vácuo con-
trolado no interior da máscara. Para testes em laboratórios é utilizada uma câmara
especial selada onde a atmosfera é contaminada de forma controlada com hexafluoreto
de enxofre, cuja concentração no interior da máscara é medida enquanto o indivíduo
realiza uma série de tarefas.
98 CAPÍTULO 3. DEFESA QUÍMICA
Figura 3.36: Equipamento portátil para teste de vedação em máscaras militares M41
(TSI - EUA)
→ Natureza do risco;
→ Concentração dos contaminantes;
→ Limite de tolerância;
→ Natureza do trabalho a ser realizado no local em questão;
→ Tempo de uso do equipamento;
→ Stress físico e psicológico resultante;
→ Teste de vedação;
→ Características físicas e funcionais do equipamento, bem como suas limitações.
Características operacionais:
→ a máscara deve ser projetada de forma a permitir seu uso contínuo por no mínimo
24h e possuir dispositivo de bebida acoplável ao cantil;
→ perda sonora;
Além disso, o material da máscara deve ser não-magnético, atóxico, de fácil descon-
taminação e permitir sua estocagem por longos períodos.
→ sistema de refrigeração;
→ proteção auditiva;
É importante notar que nenhum material existente é capaz de oferecer proteção contra
todas as substâncias químicas e suas combinações, nem contra uma exposição de longa
duração.
Em operações militares são geralmente empregados dois tipos de vestimentas. U-
nidades regulares utilizam um uniforme cujo tecido é impregnado com carvão ativado,
juntamente com luvas e sobre-botas de borracha butílica. Este uniforme oferece pro-
teção limitada a baixas concentrações, uma vez que, por ser permeável, depende da
adsorção do agente pelo carvão ativado. Sua capacidade de descontaminação é lim-
itada e, mesmo que não seja exposto a um agente químico, deve ser descartado após
poucos meses de uso em razão da saturação do carvão ativado pela umidade do ar
(figuras 3.42, 3.43).
3.3. PROTEÇÃO 103
→ tratamento de feridos;
→ atividades de comando e controle;
→ manutenção de equipamentos.
Em situações onde a tropa precisa operar em campo aberto, sujeita a uma atmosfera
contaminada, o uso de abrigos permite o descanso periódico e retirada dos equipamen-
tos de proteção individual, de forma a minimizar os efeitos do uso prolongado destes
equipamentos. No caso de viaturas que possam vir a trafegar em ambientes contamina-
dos, um sistema de proteção coletiva permite que sua tripulação opere de forma mais
confortável e eficiente.
Contudo, a proteção coletiva não presta-se apenas para situações militares. Qual-
quer construção onde exista um sistema que impeça a entrada de agentes químicos e
que proporcione as condições mínimas para que as pessoas possam passar períodos de
tempo também são denominadas proteção coletiva. Estes abrigos podem ser empre-
gados na proteção de uma população civil, especialmente quando esta população não
dispõe de equipamentos de proteção individual.
Em uma situação de emergência pode-se improvisar abrigos que funcionam como
uma forma simples de proteção coletiva, minimizando os efeitos deletérios dos agentes
químicos. Uma proteção preliminar contra agentes químicos na forma líquida ou então
na forma de aerossóis e gases em baixas concentrações pode ser obtida apenas com um
telhado, bem como com uma cobertura em uma viatura.
108 CAPÍTULO 3. DEFESA QUÍMICA
Caso a vedação seja quebrada (por exemplo, quando for necessário entrar ou
sair da viatura), existe a possibilidade de vestir as máscaras individuais que são
alimentadas com ar filtrado. Este sistema une as vantagens dos dois sistema
mostrados anteriormente.
Em todos os sistemas, exige-se a necessidade de filtros, para proporcionar a purificação
do ar contaminado. Estes filtros devem ter as mesmas características daqueles apresen-
tados no capítulo sobre proteção individual, tendo como única diferença a sua maior
capacidade (figuras 3.49, 3.50).
3.4 Descontaminação
A descontaminação é definida como a redução ou remoção dos agentes químicos ou
biológicos de forma que não sejam mais perigosos. Os agentes podem ser removidos
através de meios físicos ou neutralizados quimicamente (detoxificação).
A descontaminação de material (equipamento individual, viaturas, etc) também é
fundamental para se limitar a exposição aos agentes. No caso de contato direto com
112 CAPÍTULO 3. DEFESA QUÍMICA
→ descontaminação de material
Somente líquidos ou sólidos podem ser retirados da pele, portanto não é necessário
descontaminar a pele em casos de exposição a vapores, sendo importante apenas sair
do ambiente com atmosfera contaminada.
A descontaminação física da pele, isto é, a remoção dos contaminantes deve ser
a primeira medida a ser tomada em caso de exposição, tendo em vista que nenhum
descontaminante é capaz de neutralizar agentes químicos que já penetraram na pele.
Além disso, a neutralização não é instantânea. Desta forma, enquanto o descontami-
nante age a penetração do agente pode continuar. O mais importante não é o método
de descontaminação utilizado, mas o quão rápida foi realizada esta descontaminação.
→ Enxágüe com água ou soluções aquosas: neste método, a remoção física através
da formação de micelas ou diluição predomina sobre a hidrólise dos agentes. É
preferível lavar a pele com grandes quantidades de água do que com soluções de
hipoclorito, que sensibiliza a pele e pode permitir a entrada de agente ainda não
neutralizado.
→ Enxágüe com água ou água e sabão: tanto água doce quanto água salgada re-
movem os contaminantes tanto através da ação mecânica quanto através da hi-
drólise lenta. Entretanto, dada a baixa solubilidade e pequena taxa de hidrólise
da maioria dos agentes químicos, os efeitos predominantes da água ou soluções
de água e sabão são a remoção física e a diluição. Se não houverem outro meios
de descontaminação disponíveis, estas são opções viáveis.
→ Oxidação: Uma das reações mais importantes de descontaminação é a cloração
oxidativa dos agentes por substâncias químicas capazes de liberar cloro quando
em solução, como por exemplo, hipoclorito e cloroamina. Quanto mais alcalino
o pH maior a quantidade de cloro livre em solução. Para descontaminação da
pele deve-se utilizar uma solução com 0,5% de hipoclorito em solução e para
equipamentos, 5%.
→ Hidrólise: A hidrólise química pode ser ácida ou básica. No caso de agentes
químicos a hidrólise ácida é negligível. A hidrólise alcalina dos agentes organofos-
forados é iniciada pelo ataque nucleofílico da hidroxila ao átomo de fósforo. A
taxa de hidrólise depende da estrutura química do agente, pH, temperatura, sol-
vente e presença de catalisadores. Em geral, hipoclorito em meio alcalino é
capaz de hidrolisar mostardas e VX. Uma das desvantagens deste método é que
a maioria dos agentes alcalinizantes são muito corrosivos e atacam a pele e certos
materiais.
Existem vários tipos de descontaminantes químicos, muitos deles vendidos como mis-
turas prontas. A seguir listaremos os descontaminantes mais comuns e suas formu-
lações.
3.5.1.1 Água
Amostras de água apresentam particularidades com relação à estabilidade dos agentes
químicos. O VX é uma amina com pka de 8,6, logo somente é extraído com solventes
orgânicos como diclorometano em pH alcalino. Porém, nestas condições os agentes
da série G são hidrolisados imediatamente. Logo é necessário fazer duas extrações,
sendo a primeira para extrair os agentes da série G, seguida de alcalinização visando
a extração dos agentes da série V. As mostardas de enxofre não dissolvem em água
e sua hidrólise é relativamente rápida, mas é possível fazer uma emulsão de gotas de
mostarda em água.
Procedimento de extração:
→ Colete a fase inferior em um vidro com tampa contendo uma pequena quantidade
de sulfato de sódio. Não descarte a fase aquosa.
→ Adicione uma ou duas espátulas de carbonato de sódio. Faça nova extração com
10mL de diclorometano e colete a fase orgânica no mesmo recipiente utilizado
para o primeiro extrato.
3.5.1.2 Leite
O leite contém grandes quantidades de proteína (caseína) além de gotas de gordura
em suspensão coloidal. Assim, a adição de diclorometano pode causar precipitação.
120 CAPÍTULO 3. DEFESA QUÍMICA
3.5.1.3 Solo
Assim como para água, as amostras de solo precisam ser alcalinizadas para possibilitar
a extração dos agentes da série V. Além disso, o tabun é muito instável no solo e não
é possível extraí-lo. Também é importante lembrar que amostras de solo podem conter
resíduos de pesticidas que também são inibidoras da acetilcolinesterase e aparecem na
placa de TLC.
Procedimento de extração:
→ Transfira a fase orgânica para o mesmo recipiente utilizado para a primeira ex-
tração
3.5.1.5 Alimentos
Esta técnica se aplica tanto para alimentos não gordurosos como vegetais, açúcar,
macarrão, farinha de trigo, assim como para aqueles gordurosos como queijo, man-
teiga e carne.
Procedimento de extração:
→ Caso o solvente seja totalmente absorvido pela amostra, adicione mais 50mL de
diclorometano e agite por mais 1 minuto.
Tópicos complementares
125
126 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
Porém, os trabalhos foram iniciados com o foco voltado para a aprovação de uma
Convenção que proibisse o uso de armas biológicas. A maior parte do trabalho diplomático
visando costurar um tratado de proibição de armas químicas e biológicas foi adminis-
trado pelo Comitê de Desarmamento das Dezoito Nações (ENDC), um corpo esta-
belecido em Genebra em 1961 com responsabilidade de administrar negociações de
desarmamento multilaterais. Os membros deste corpo foram aumentando durante os
anos, fazendo com que este grupo passasse a ser chamado, primeiro de Conferência do
Comitê de Desarmamento (CCD), e então de Comitê de Desarmamento e, finalmente,
de Conferência de Desarmamento (CD).
Embora armas químicas e biológicas tenham sido tratadas freqüentemente como
um único assunto, ao final dos anos sessenta ficou claro que a proibição completa de ar-
mas biológicas estava mais adiantada para ser implementada, enquanto que a proibição
completa sobre as armas químicas ainda continha uma série de pontos polêmicos. Os
negociadores de Genebra concordaram então em criar primeiramente uma Convenção
para a proibição de armas biológicas, que gerou a adoção pelo CCD, em 1971, de uma
convenção de desarmamento biológico. A Convenção da Proibição do Desenvolvi-
mento, Produção e Armazenamento de Armas Bacteriológicas (biológicas) e Toxinas
e sua Destruição foi aprovado então pela Assembléia Geral das Nações Unidas, tendo
sido aberta para assinatura no dia 10 de abril de 1972, entrando em vigor no dia 26 de
março de 1975.
A Convenção de Armas Biológicas pode ser vista como o primeiro passo para esta-
belecer uma proibição geral de armas químicas. O artigo IX desta Convenção continha
um compromisso dos Estados-partes para continuar as negociações para alcançar uma
proibição efetiva no tocante às armas químicas. Porém, a Convenção de proibição de
armas biológicas não teve eficácia, uma vez que não havia sido definido um regime de
verificação, sendo que estas negociações somente foram retomadas após a conclusão
da Convenção para proibição de armas químicas e ainda não chegaram a um fim.
4.1.3 A CPAQ
A Convenção sobre a Proibição do Desenvolvimento, Produção, Estocagem e Uso
de Armas Químicas e sobre a Destruição das Armas Químicas Existentes no Mundo
(CPAQ) teve o papel fundamental de possibilitar a eliminação destas armas de destru-
ição em massa, corrigindo e aperfeiçoando os mecanismos existentes no Protocolo de
Genebra. A Convenção proíbe o desenvolvimento, produção, aquisição, armazena-
mento, transferência e uso de todas as armas químicas. A Convenção exige que todos
os Estados-partes destruam qualquer arma química que possuam e qualquer instalação
4.1. LEGISLAÇÃO INTERNACIONAL 129
res da OPAQ, porém, dentro de regras com respeito a tempo de permanência e locais
que devem ser inspecionados.
As providências para as inspeções inopinadas revestem-se de uma série de cuidados
para evitar que informações tecnológicas, comerciais e científicas que não têm ligação
com os propósitos da Convenção sejam reveladas, intencional ou não intencionalmente.
4.1.4.2 Tabela 2
Nesta tabela estão incluídas as substâncias químicas que apresentam grau de toxici-
dade letal ou incapacitante, podendo desta forma ser utilizadas como armas químicas.
Além disso estão presentes as substâncias que podem servir como precursoras em uma
das reações químicas da fase final de formação de substâncias químicas pertencentes
à tabela 1 e da própria tabela 2. Além disso é necessário que estas substâncias não
sejam produzidas em larga escala para os fins não proibidos pela Convenção (como in-
seticidas, herbicidas, lubrificantes e alguns produtos farmacêuticos). Além do exemplo
do tiodiglicol pode-se citar o caso do DMMP, que é precursor na síntese de agentes
neurotóxicos mas que também é utilizado na formulação da espuma de poliuretano.
4.1.4.3 Tabela 3
Para pertencer à tabela 3 é necessário que a substância química já tenha sido utilizada
como arma química. Contudo, deve ser produzida em grandes quantidades comerciais
para os fins não proibidos pela Convenção, como inseticidas, herbicidas, tintas, lu-
brificantes, dentre outros usos. Dentre as substâncias químicas presentes nesta tabela
encontra-se o fosgênio e cianeto de hidrogênio, que podem ser utilizados como ar-
mas químicas, porém apresentam aplicações na manufatura de certos polímeros. Tri-
etanolamina, que é um precursor para a produção de mostarda de nitrogênio, também
tem aplicação na produção de detergentes, bem como na indústria de lubrificantes.
Além das substâncias químicas pertencentes às três tabelas acima mencionadas, a
Convenção mantém uma relação de substâncias químicas sujeitas à verificação, princi-
palmente compostos orgânicos que contenham fósforo, enxofre ou flúor.
→ Conselho Executivo
→ Secretariado
→ Africa: 9
→ Asia: 9
→ Europa Oriental: 5
Além disso, uma cadeira é preenchida por revezamento entre as regiões da Ásia, América
Latina e Caribe.
A Secretaria é responsável pela implementação das tarefas da Organização, além
de disseminar informações para os Estados-partes na implementação da Convenção.
132 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
Os Estados-partes que possuem armas químicas também têm que prover os planos
gerais para a destruição de tais armas. Depois de fazer estas declarações iniciais, os
Estados-partes submetem relatórios anuais das atividades declaradas que foram rea-
lizadas no ano anterior, como também as atividades planejadas para o ano seguinte.
Também devem ser informadas exportação e transações de importação que envolvem
substâncias químicas controladas pela Convenção.
As informações declaradas pelos Estados-partes são verificadas então pela OPAQ
através de inspeções rotineiras. As inspeções são levadas a cabo para verificar a pre-
cisão da informação submetida e assegurar que as atividades dos Estados-partes estão
em conformidade com a Convenção.
Os grupos de inspeção desfrutam de imunidade diplomática tendo composição var-
iável, sendo que o mais comum é variar de 4 até 16 integrantes, dependendo do tipo de
planta que é inspecionada e no tipo de inspeção.
Caso as circunstâncias do local de inspeção impossibilitem que as amostras sejam
analisadas no próprio local, estas amostras são enviadas para laboratórios especial-
mente designados para análise. Estes laboratórios são localizados em Estados-partes
que ofereceram os serviços à OPAQ. Durante o ano de 1999 sete laboratórios foram
submetidos a testes de proficiências, tendo sido aprovados. Até o ano de 2002 não
existe laboratório credenciado pela OPAQ na região da América Latina.
134 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
ação Russa e os Estados Unidos - terão um custo combinado na destruição dos estoques
de $20 bilhão, atualmente.
A maioria dos custos de destruição é gerado pela necessidade de se ter tecnologia
de ponta para assegurar que os riscos para as pessoas e para o ambiente sejam míni-
mos em todas as fases na passagem, preparação e abertura das munições, bem como
durante a remoção e destruição destes agentes químicos. As instalações utilizadas para
a destruição destes agentes químicos devem ser altamente especializadas.
Existem duas tecnologias que são utilizadas para a destruição de agentes químicos
de guerra: a incineração direta dos agentes, e a neutralização. Contudo, as pesquisas
para o desenvolvimento de outros métodos continua, sendo permitido que cada Estado-
parte utilize o método de destruição que melhor lhe convier, desde que assegure que
o método satisfaça os padrões ambientais rígidos, que a destruição será completa e
irreversível e que a técnica permita verificação adequada.
Os Estados Unidos estão prosseguindo no processo de destruição de seus estoques,
tendo começado antes da entrada em vigor da Convenção. A Federação russa sinali-
zou que necessitará de ajuda internacional para efetuar um cronograma adequado de
destruição. Diversos Estado-partes já iniciaram efetivamente esta ajuda, como a Fin-
lândia, a Alemanha, os Países Baixos, a Suécia e os Estados Unidos, além de outros
Estados que expressaram a vontade de contribuir.
A destruição das armas químicas abandonadas é especialmente difícil e potencial-
mente perigosa. A necessidade de manipulação manual, aliada à dificuldade de pre-
cisar as características químicas destas munições geram dificuldades práticas de maior
monta, comparativamente às munições químicas mais recentes.
4.1.10 Legislação
Uma das exigências mais importantes para cada Estado-parte é adotar medidas que
proíbam que as pessoas físicas e jurídicas empreendam qualquer atividade proibida
pela Convenção. Cada Estado-parte é obrigado não só a criar legislação penal a este
respeito, mas também criar uma legislação que coíba atividades proibidas pela Con-
venção aos seus cidadãos, independente do local onde eles estejam.
Para que a Convenção seja implementada de forma satisfatória, é previsto a exis-
tência de uma Autoridade Nacional em cada Estado, com a finalidade de servir de
elo entre o Estado-parte e a OPAQ. A Autoridade Nacional pode ser uma agência e-
xistente, um departamento do governo ou um órgão novo criado especificamente para
esta finalidade. Normalmente são enviadas todas as notificações de inspeções e outras
informações importantes diretamente da sede de OPAQ para as Autoridades Nacionais
dos Estados-partes.
→ Ministério da Justiça
→ Ministério da Defesa
→ Ministério da Fazenda
→ Ministério das Relações Exteriores
→ Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
→ Ministério da Ciência e Tecnologia
tegoria de armas químicas como biológicas, sendo banidas por estas duas convenções.
As armas biológicas são fundamentalmente diferentes das armas químicas no que
diz respeito ao seguinte:
Agentes líquidos podem ser originados por fermentação, cultura de tecidos ou a partir
de embriões de frango. Estes líquidos incluem bactérias, suas toxinas, vírus e rick-
éttsias e têm características comuns.
A cor dos agentes líquidos pode variar significativamente. A maioria dos agentes
biológicos provenientes de fermentação apresentam coloração que varia de âmbar a
marrom e opaca. Agentes provenientes de ovos de frangos podem apresentar a cor de
gema de ovo, quando todo seu conteúdo foi processado ou levemente rosado a ver-
melho, quando somente o embrião foi processado. As toxinas também apresentam
estas mesmas variações de coloração.
4.3. INTRODUÇÃO À DEFESA BIOLÓGICA
Tipo Nome Ação Dose efetiva Profilaxia/tratamento
Bactérias Bacillus anthracis Incubação: 1 a 6 dias 8,000 a 50,000 es- Tratável, se antibióticos forem ad-
(antraz) Duração da doença: 1 a 2 dias poros ministrados antes do início dos sin-
Taxa de mortalidade extremamente alta tomas. Vacina disponível
Yersinia pestis (peste Incubação: 2 a 10 dias 100 a 500 organis- Tratável, se antibióticos forem
bubônica) Duração da doença: 1 a 2 dias mos administrados dentro de 24 ho-
Taxa de mortalidade variável ras antes do início dos sintomas.
Vacina disponível
Tabela 4.2: Principais agentes biológicos
Brucella suis (brucelose) Incubação: 5 a 60 dias 100 a 1,000 organis- Tratável com antibióticos. Não há
2% taxa de mortalidade mos vacina disponível
Rickéttsias Coxiella burnetti (febre Q) Incubação: 2 a 14 dias 10 organismos Tratável com antibióticos
Duração da doença: 2 a 14 dias Vacina disponível
Taxa de mortalidade de 1%
Vírus Vírus da Varíola Incubação: média de 12 dias 10 a 100 organismos Tratável se vacinas forem admin-
Duração da doença: várias semanas istradas cedo.
Taxa de mortalidade de 35% para indiví- Quantidades limitadas de vacina
duos não vacinados disponíveis.
Vírus da encefalite eqüina Incubação: 1 a 5 dias 10 a 100 organismos Não existe terapia específica.
venezuelana Duração da doença: 1 a 2 semanas Vacina disponível.
Baixa taxa de mortalidade
Vírus da febre amarela Incubação: 3 a 6 dias 1 a 10 organismos Não existe terapia específica.
Duração da doença: 1 a 2 semanas Vacina disponível
Taxa de mortalidade de 5%
Vírus do Ebola Incubação: 4 a 16 dias Não existe vacina disponível.
Duração da doença: morte em 7 -16 dias
Taxa de mortalidade: 50-90%
Toxinas Saxitoxina (produzida Tempo de ação: minutos a horas 10 microgramas por
por algas azul-verdes co- Duração da doença: fatal após de inalação quilograma of peso
141
mumente ingeridas por de dose letal corporal
moluscos e mexilhões)
Toxina botulínica (pro- Tempo de ação: 24 a 36 horas .001 micrograma por Tratável com antitoxina, se admin-
duzida pela bactéria Duração da doença: 24 a 72 horas quilograma de peso istrada cedo. Vacina disponível.
Clostridium botulinum) Taxa de mortalidade de 65% corporal
Ricina (obtida a partir de Tempo de ação: poucas horas 3 a 5 microgramas Não há antitoxina ou vacina
mamona) Duração da doença: 3 dias por quilograma de disponível
Taxa de mortalidade alta peso corporal
Enterotoxina estafilocócita Tempo de ação: 3 a 12 horas 30 nanogramas por Não há terapia específica ou vacina
B (produzida pelo Staphylo- Duração da doença: até 4 semanas pessoa disponível.
coccus aureus)
142 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
4.3.2 Histórico
As armas biológicas não são um flagelo moderno, tendo sido utilizadas desde a antigüi-
dade. Como exemplos de táticas de guerra biológica antiga, podemos citar o envene-
namento da água, atirando-se cadáveres de animais e pessoas dentro de poços e outras
fontes de água e a utilização de cadáveres de vítimas da peste bubônica para iniciar uma
epidemia entre o inimigo. O envenenamento da água foi usado em várias guerras desde
a idade média até o século XX. Outro exemplo é a entrega de roupas contaminadas por
varíola para os nativos da América do Sul, durante o século XV.
As táticas de guerra biológica se tornaram mais sofisticadas durante o século XX.
Existem vários relatos de uso de armas biológicas pelos alemães durante a Primeira
Guerra Mundial. Estes relatos citam a tentativa de exportar gado e cavalos contamina-
dos com Bacillus anthracis (o agente causador do antraz) e Pseudomonas pseudoma-
llei, causadora de doença no gado e humanos, para os EUA e outros países; tentativas
de espalhar cólera na Itália e peste negra em São Petersburgo, na Rússia; além de fru-
tas, chocolates e brinquedos contaminados atirados por aviões alemães sobre cidades
da Romênia, como Bucareste. Todas as alegações foram negadas pelos alemães e não
há provas conclusivas de nenhum destes relatos.
Durante a Segunda Guerra Mundial e até o início dos anos 70, surgiram várias
acusações de uso de armas biológicas contra o Japão, Alemanha, Inglaterra e Estados
Unidos. Com exceção dos japoneses, nenhuma outra acusação contra estes países foi
realmente comprovada
O Japão foi acusado de lançar grãos contaminados com peste bubônica sobre 11
cidades chinesas, o que causou uma epidemia nunca antes registrada neste locais. O
Japão possuía duas unidades dedicadas às armas biológicas. A unidade 731 usou pri-
sioneiros de guerra como cobaias para experimentos com antraz, botulismo, brucelose,
cólera, desinteria, gangrena gasosa, infecções menigocócitas, peste bubônica e tetrodo-
toxina. Acredita-se que cerca de 3000 prisioneiros de guerra, coreanos, mongóis, ame-
ricanos, soviéticos, ingleses e australianos morreram durante experimentos ou foram
sacrificados quando não eram mais necessários. A unidade 100 era responsável pela
contrução de armas biológicas. Ao final da guerra, vários pesquisadores que trabalha-
4.3. INTRODUÇÃO À DEFESA BIOLÓGICA 143
ram nestas unidades foram anistiados pelos Estados Unidos em troca dos resultados e
dados das pesquisas conduzidas por eles.
As pesquisas médicas alemães, durante a Segunda Guerra, incluíram a infecção
deliberada de prisioneiros com Rickettsia prowazeki, R. mooseri, vírus da hepatite A
e malária. Porém ao final da guerra, não houve nenhuma acusação formal contra a
Alemanha neste sentido.
Também nesta época, a Inglaterra iniciou pesquisas para a adaptação de munições
para utilização com cargas biológicas. Foram testadas granadas de artilharia contendo
esporos de antraz em uma ilha próxima à costa escocesa, a Ilha de Gruinard. Para
verificar a viabilidade dos esporos, ovelhas eram amarradas em cercas de madeira e as
granadas eram lançadas próximas a elas. Em três dias as ovelhas começavam a mor-
rer. Apesar dos esforços para descontaminação, os esporos remanescentes dos testes
mantiveram a ilha inabitável por quase 50 anos. Em 1986, uma empresa inglesa rece-
beu meio milhão de libras para descontaminar a ilha de cerca de 1100km2 . A solução
encontrada foi despejar 280 toneladas de formaldeído diluídas em 2000 toneladas de
água do mar em toda a extensão da ilha. Em 24 de abril de 1990, o ministro da defesa
inglês foi até a ilha e retirou a placa que proíbia o desembarque na ilha, demonstrando
que o local estava completamente descontaminado.
Os Estados Unidos também mantiveram um programa de armas biológicas e muitos
dos padrões de biossegurança utilizados atualmente em laboratórios nível 3 e 4, foram
desenvolvidos no Forte Detrick, onde havia uma planta piloto para produção de agentes
biológicos que empregava 3800 militares e 100 civis, no ano de 1943. Os esforços de
produção se concentraram principalmente em antraz e toxina botulínica, no entanto, tu-
laremia, brucelose, pseudomonose e psitacose também foram estudados. Agentes que
atacam plantas também foram pesquisados e havia planos para dizimar as plantações
japonesas. As pesquisas americanas nos anos 40 e 50 envolveram testes de campo
que incluiram testes de vulnerabilidade ao ar livre e contaminação de sistemas de dis-
tribuição de água urbanos com microorganismos vivos supostamente inofensivos, em
várias grandes cidades americanas.
Em 3 de abril de 1979, um vazamento no Instituto Soviético de Microbiologia
e Virologia causou a morte de 66 civis por inalação de esporos de antraz e infectou
várias outras pessoas com Bacillus anthracis. Durante anos o governo soviético negou
que o incidente estivesse relacionado à uma liberação acidental de antraz a partir da
instalação militar de pesquisa. Entretanto, em 1992, o então presidente da Rússia,
Boris Yeltsin, admitiu o acidente.
Em 1978, um exilado búlgaro chamado Georgi Markov foi atacado em Londres
com uma arma disfarçada de guarda-chuva. Esta arma foi utilizada para injetar uma
pequena esfera de metal no tecido subcutâneo de sua perna, enquanto ele esperava
pelo ônibus. Dez dias depois ele morreu e na autópsia foi encontrada a esfera, que
era perfurada de forma que pudesse ser preenchida com algum material. O assassi-
nato, conforme revelado mais tarde, foi planejado pelo governo búlgaro com tecnologia
fornecida pela União Soviética.
A maneira exata com Markov foi assassinado foi descorberta graças a uma segunda
utilização da arma guarda-chuva, desta vez na França contra outro dissidente búlgaro,
Vladimir Kostov. Ele estava saindo do metrô em Paris, quando sentiu uma dor aguda
nas costas e ao se virar viu um homem com um guarda-chuva correndo. Graças ao
tecido grosso da roupa de Kostov, a esfera não penetrou até o tecido subcutâneo e
permaneceu em seu corpo por duas semanas até que ele ficasse sabendo do acontecido
com Markov a esfera fosse retirada. A esfera era feita de uma liga exótica de irídio e
platina, preenchida com ricina e selada com cera projetada para derreter com o calor
144 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
do corpo. Para sorte de Kostov isso não ocorreu. Além destes pelo menos 6 outros
assassinatos com ricina ocorreram nos últimos anos.
Apesar das forças de coalisão não terem sofrido nenhum ataque com armas não
convencionais durante a operação Tempestade no Deserto, as inspeções subseqüentes
da ONU revelaram que o Iraque possuía várias armas biológicas em condições de em-
prego:
→ 166 bombas (100 contendo toxina botulínica, 50 com antraz, 16 com aflatoxina);
→ 25 mísseis Scud (13 contendo toxina botulínica, 10 com antraz, 2 com aflatox-
ina);
→ granadas de artilharia
O antraz é uma zoonose causada pela bactéria gram-positiva Bacillus anthracis e ocorre
em animais selvagens e domesticados, principalmente herbívoros, incluindo, cabras,
ovelhas, gado, cavalos e suínos. O termo vem do grego anthrax, que significa "carvão"
- provavelmente "em brasa" - e servia para designar, ao mesmo tempo, as pústulas
avermelhadas sobre a pele causada pelo bacilo e um tipo de rubi de notável coloração
sangüínea.
Os humanos são contaminados através do contato com animais infectados ou seus
produtos. Existem três rotas de entrada no corpo: cutânea, respiratória e gastrointesti-
nal. A rota de contágio mais comum é a cutânea e a patologia subseqüente á facilmente
curada com antibióticos. As formas gastrointestinal e respiratória são mais raras, sendo
esta última extremamente letal se não tratada rapidamente.
O antraz cutâneo causa bolhas que se rompem deixando uma úlcera necrótica que
se torna negra após alguns dias; a mortalidade é baixa, cerca de 1% nos casos tratados.
Os indivíduos infectados também apresentam febre, dor de cabeça e mal estar.
O antraz gastrointestinal resulta da ingestão de carne animal mal cozida. O sin-
tomas iniciais são pouco específicos e incluem náusea, vômitos, febre e diarréia. A
mortalidade pode chegar a 50%, mesmo com tratamento.
O antraz respiratório é de grande interesse militar devido ao seu grande potencial
de transformação em arma biológica. Os sintomas são muito semelhantes a uma gripe
comum e se não forem administrados antibióticos antes do início destes sintomas a taxa
de mortalidade é de quase 100%.
O fato do antraz formar esporos extremamente resistentes quando exposto ao ox-
igênio do ar o torna uma excelente arma biológica. Os esporos de antraz são resistentes
o suficiente para serem lançados e dispersados com granadas de artilharia e podem
sobreviver no solo por centenas de anos. Um ataque com antraz pode tornar cidades
inteiras inabitáveis por décadas.
4.3. INTRODUÇÃO À DEFESA BIOLÓGICA 145
4.3.3.2 Peste
A peste é uma zoonose causada pela bactéria gram-negativa Yersinia pestis. Três pan-
demias desta doença foram resposáveis por mais mortes do que qualquer outro agente
infeccioso. A primeira pandemia ocorreu no Império Bizantino durante o governo de
Justiniano I (541-542 AD) e causou a morte de 100 milhões de europeus e 40% da po-
pulação de Contantinopla. A segunda pandemia, conhecida como peste negra, ceifou a
vida de 24 milhões de pessoas entre os anos de 1346 e 1352 e talvez de mais 20 milhões
no fim do século XIV. A peste continuou até 1720 e cerca de 30 a 60% das populações
das cidades principais da Europa sucumbiram durante o século XV ao XVIII. A ter-
ceira pandemia de peste surgiu na China em 1894 e se alastrou pelo mundo através dos
meios de transportes modernos. A peste se espalhou pelo mundo até 1925 quando um
controle sanitário eliminou a grande população de ratos que havia nas cidades.
Três formas de peste existem: a pneumônica, quando a bactéria infecta os pulmões;
a bubônica (mais comum), quando a bactéria entra através da pele, causando inchaço
das glândulas linfáticas; a septicêmica, quando a bactéria se multiplica no sangue. A
bactéria da peste existe em reservatórios naturais tais como ratos silvetres e urbanos e
é transmitida por um tipo de pulga. O homem pode ser infectado também pelo contato
direto com animais infectados, ou, muito raramente, com secreções infectadas de outras
pessoas.
O Japão bombardeou a China várias vezes durante a Segunda Guerra Mundial com
bombas de barro contendo pulgas infectadas com peste. Estas bombas continham uma
estranha mistura de grãos de arroz, trigo, papéis, chumaços de algodão.
4.3.3.3 Tularemia
4.3.3.4 Brucelose
Esta doença é causada por bactérias do gênero Brucella, que são cocobacilos não es-
poríferos, aeróbios e gram-negativos. A brucelose é uma zoonose de grandes animais,
principalmente gado, camelos, caprinos e ovinos. É transmitida pela ingestão de pro-
dutos de origem animal contaminados ou durante o seu abate (via transcutânea). No
entanto, este patógeno também é altamente infeccioso por via respiratória. Os sintomas
da brucelose são muito semelhantes a qualquer gripe, o que dificulta a identificação da
doença que não é mortal na maioria dos casos quando tratada.
Os EUA desenvolveram granadas contendo B. suis que foram testadas em campo
durante os anos de 1944 e 1945, utilizando animais como alvo.
146 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
Família Filoviridae
Os vírus Ebola e Marburgo pertencem a esta família de vírus que possuem uma
aparência exótica semelhante a um filamento quando observados em um microscópio
eletrônico.
O vírus Marburgo foi reconhecido pela primeira vez em 1967, quando um surto
letal ocorreu entre os técnicos de um laboratório expostos a sangue e tecidos de maca-
cos importados de Uganda na cidade alemã de Marburgo. Ocorreram infecções se-
cundárias de médicos e familiares dos trabalhadores. Dos 31 infectados, 9 morreram.
O vírus Marburgo tem sido associado com casos isolados e geralmente fatais de febre
hemorrágica entre residentes e turistas no sudeste da África.
O vírus Ebola foi descoberto em 1976 associado a um surto explosivo em peque-
nas comunidades no Sudão e no Zaire. Estes surtos independentes envolveram vírus
serologicamente diferentes, o surto de Ebola-Zaire infectou 277 pessoas das quais 257
morreram (mortalidade de 92%); das 280 pessoas infectadas pelo Ebola-Sudão, 148
pessoas morreram (53% de mortalidade). Em 1989, uma terceira variedade de Ebola
surgiu na cidade de Reston, Virgínia, associada a um surto de febre hemorrágica entre
macacos cynomolgus importados das Filipinas. Centenas de macacos foram infecta-
dos. Outros surtos envolvendo outras variedades de vírus Ebola ocorreram na Costa
do Marfim em 1994, Gabão em 1995 e um surto maior de Ebola-Zaire com 75% de
mortalidade que envolveu 300 pessoas no Zaire em 1995.
Muito pouco se sabe a respeito da história natural dos filovírus, até o momento não
foi localizado nenhum reservatório natural ou vetor artrópode.
Família Flaviviridae
Os vírus desta família são responsáveis pela febre amarela e dengue, ambas trans-
mitidas por mosquitos. Também são os agentes causadores da doença da floresta de
Kyasanur, na Índia, e da febre hemorrágica de Omsk, na antiga União Soviética, am-
bas transmitidas por carrapatos.
4.3.3.6 Varíola
Os poxvírus são DNA vírus encapsulados, sendo o vírus da varíola o membro mais
famoso desta família (Poxviridae). Este vírus só infecta humanos, de forma que um
controle de casos e vacinação agressiva permitiu a erradicação deste vírus no final
da década de 70. O último surto endêmico de varíola ocorreu na Somália em 1977
e o último caso registrado foi de um técnico de laboratório que adquiriu a doença
ao manipular o vírus, em 1978. Em 1980, a OMS (Organização Mundial de Saúde)
declarou erradicada a varíola.
Desde de 1983, existem apenas dois detentores do vírus da varíola aprovados e
inpecionados pela OMS: o CDC (Centro de Controle de Doenças), nos EUA e os Lab-
oratórios Vector na Rússia.
A varíola tem sido usada como agente de guerra biológico desde os primórdios da
humanidade, entretanto, sua utilização como agente biológico permanece controversa.
Dada a disponibilidade do vírus vaccinia para a produção da vacina contra varíola e sua
facilidade de administração, talvez e seu uso tenha uma efeito limitado. Por outro lado,
a varíola apresenta alta taxa de infecção por aerossol, não existem doses de vacina
suficientes para uma epidemia generalizada e a população não vacinada é crescente.
Além disso, é relativamente fácil produzir este vírus em grandes quantidades.
148 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
4.3.3.8 Febre Q
A febre Q é uma doença causada pelo microorganismo Coxiella burnetti, similar a
rickéttsias, com baixa virulência (capacidade de causar a morte do hospedeiro) e alta
infecciosidade, um único microorganismo é capaz de iniciar uma infecção. Apesar da
C. burnettii ser incapaz de crescer e se multiplicar fora das células hospedeiras, ela
forma esporos altamente resistentes às práticas comuns de assepsia: calor, pressão,
dessecação e substâncias antissépticas. Isto permite que estes esporos sobrevivam por
longos períodos em ambientes extrememente inóspitos, o que associado à infecção
através da inalação de aerossóis infectados, torna a febre Q um forte candidato a arma
biológica.
Apesar da grande infecciosidade, a doença associada a febre Q é incapacitante e
benigna, a maioria dos infectados se recupera mesmo sem tratamento.
Surtos de febre Q ocorreram várias vezes durante durante a Segunda Guerra Mundial
e mais recentemente, na Guerra do Golfo, todos eles associados ao contato com ani-
mais domésticos: camelos, cabras, ovelhas, etc, que são os reservatórios naturais da
Coxiella burnetti.
4.3.3.9 Botulismo
As toxinas produzidas pelas bactérias do gênero Clostridium são as substâncias mais
tóxicas conhecidas pela ciência. A LD50 da toxina botulínica é 1ng/kg. O C. tetani
e o C. botulinum são bactérias anaeróbias esporíferas comumente encontradas no solo
no mundo inteiro. A toxina tetânica é tão tóxica e o contato de humanos com ela tão
comum que justifica os custos da vacinação em massa das crianças. Por outro lado,
envenenementos por toxina botulínica são bastante raros.
O tétano é conhecido desde a antigüidade, geralmente associado a infecções em
feridas enquanto o botulismo vez se tornou uma ameaça pública com o advento da
conservação de alimentos (enlatados e embutidos). Atualmente, os métodos de conser-
vação de alimentos eliminaram os riscos de envenenamento por botulismo, estando a
maioria dos casos atuais relacionados a conservas caseiras e alimentos preparados em
restaurantes.
4.3. INTRODUÇÃO À DEFESA BIOLÓGICA 149
4.3.3.10 Ricina
A ricina, encontrada nas sementes da mamona (Ricinis communis), é uma das toxinas
vegetais mais potentes e fáceis de produzir. Sua toxicidade é conhecida desde tempos
antigos e vários casos de envenenamento foram descritos. A grande disponibilidade
desta toxina, um subproduto da produção de óleo de rícino, associada a sua estabilidade
térmica torna a ricina um atraente agente de guerra, apesar da sua toxicidade ser 1000
vezes menor que a da toxina botulínica.
Apesar da ricina ser tóxica através de várias rotas de entrada, sua ação é mais rápida
através da inalação Neste caso, a ricina causa morte por edema pulmonar e sua presença
é identificada nos tecidos corporais por ELISA.
4.3.3.11 Enterotoxinas
4.3.3.12 Micotoxinas
4.3.4.3 Quimiluminescência
→ Smart Cycler Real-Time Thermal Cycling System For Biowarfare Agent Detec-
tion (Cepheid) - Este é um equipamento de PCR automático, com utilizações
tanto na área de guerra biológica, quanto de monitoramento ambiental e forense.
Resultados inequívocos de identificação de agentes biológicos são obtidos em 20
minutos. É possível correr até 16 amostras com diferentes programas ao mesmo
152 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
tempo com até 4 organismos alvo por amostra. O equipamento inclui um lap-
top, acessórios para preparação de amostras e mala para transporte. Com este
equipamento é possível identificar Bacillus anthracis, Clostridium botulinum,
Francisella tularensis e Yersinia pestis.
É similar ao laboratório de nível 1 e é adequado para trabalho com agentes que apre-
sentam risco moderado para pessoal e meio ambiente. As principais diferenças entre o
nível 1 e 2 são:
Nível Agentes
2 Escherichia coli, Salmonella, Vibrio cholerae (cólera), vírus da dengue
3 Hantavírus, Yersinia pestis, Francisella tularensis
4 Ebola, Marburgo, Sabiá
No caso de vírus são necessárias substâncias que agem especificamente nas membranas
lipídicas, nas proteínas ou no ácido nucléico. Assim, temos três classes de agentes anti-
virais:
A tabela 4.4 mostra os efeito de vários desinfetantes nos diferentes tipos de microor-
ganismos.
dos vírus e das células vegetativas das bactérias patogênicas são eliminados em
poucos minutos com temperaturas da ordem de 50 a 70o C, ao passo que os es-
poros das algumas bactérias necessitam de 100o C. Assim, uma esterilização ra-
zoável é obtida com aplicação de soluções alcalinas mornas por 10 minutos.
Ainda assim alguns patógenos somente são esterilizados com vapor úmido a
cerca de 130o C. Logo, caso não se tenha certeza sobre qual tipo de contaminante
biológico está presente deve-se optar por este último método ou autoclavagem.
O vapor úmido possui uma ação esterilizante maior que o vapor seco pois a água
participa das reações de inativação de proteína e, além disso, o vapor úmido
penetra mais rapidamente em materiais porosos.
→ Radiação. A radiação ultravioleta proveniente do Sol possui um certo efeito
desinfetante associado a secagem. Outras radiações gama, alfa, beta ou feixe de
nêutrons também possuem ação descontaminante, no entanto, é difícil padronizar
um procedimento de desinfecção baseado em irradiação.
4.4 Terrorismo
As informações necessárias à produção de agentes QB são de domínio público há dé-
cadas, mas apenas recentemente sua utilização por grupos terroristas tornou-se provável,
devido ao surgimento de um novo tipo de terrorista.
Tradicionalmente, a motivação destes grupos tem sido de natureza política. Para
atingir este tipo de objetivo, como a independência de uma região ou derrubada de
um governo, eles dependem de reconhecimento e apoio da parcela da sociedade a qual
"representam" e, se possível, de outros grupos/países simpatizantes com sua causa.
Desta forma, o nível de violência empregado em suas ações é relativamente limitado
pelo que é considerado aceitável por seus "colaboradores". Além disso, os efeitos ex-
tremos da utilização de armas de destruição em massa poderiam distrair a atenção do
público da causa defendida pelo grupo, assim como levar a uma concentração de es-
forços da comunidade internacional contra o grupo responsável e seus patrocinadores.
Este tipo de efeito foi observado após os atentados de 11 de setembro de 2001.
Entretanto, a partir de meados da década de 80, tem sido observado um aumento
de incidentes envolvendo grupos ou indivíduos motivados por ideologias de extrema
direita, ódio racial, fanatismo religioso ou filosofias apocalípticas. Estes grupos não
têm pretensões políticas e não buscam o o apoio de nenhuma parcela da sociedade
além de seus próprios integrantes. Desta forma, são mais propensos a atos extremos de
violência, onde o objetivo é maximizar o número de baixas e causar o maior impacto
psicossocial possível.
Um representante famoso desta nova safra de terroristas é a seita religiosa Aum
Shinrikyo (Verdade Suprema), responsável por vários ataques utilizando agentes quími-
cos no Japão. A Aum Shinrikyo foi fundada em 1984 por Shoko Asahara, tendo
atingido, segundo estimativas, entre 40.000 e 60.000 membros e US$1 bilhão em re-
cursos. Estes recursos viabilizaram seus esforços de aquisição de agentes químicos
e biológicos, incluindo a produção de sarin, VX, antraz e a tentativa de obtenção de
amostras do vírus Ebola.
4.4. TERRORISMO 159
→ Na década de 80, a polícia francesa descobriu uma casa em Paris utilizada pelo
Exército Vermelho para a cultura e estocagem de Clostridium botulinum, mi-
croorganismo produtor da toxina botulínica;
→ Vários incidentes foram registrados nos Estados Unidos, nas décadas de 80 e 90,
envolvendo tentativas de produção e utilização de ricina por grupos de extrema
direita;
tratamento das vítimas foi variado, de acordo com os sintomas, já que a informação so-
bre a identidade do agente não foi imediatamente comunicada aos inúmeros hospitais
envolvidos.
Às 12:50h unidades especializadas em defesa química das Forças Armadas foram
acionadas, realizando a descontaminação dos trens em conjunto com as equipes "Haz-
Mat" dos bombeiros. Apenas por volta das 23:00h, o último paciente foi transportado
da estação de metrô para o hospital. Ao todo, 131 ambulâncias e outras viaturas das
equipes "Haz-Mat" foram utilizadas no transporte dos feridos e aproximadamente 280
hospitais e clínicas na região de Tóquio receberam pacientes intoxicados.
Em 23 de março de 1995, a polícia japonesa invadiu instalações da Aum Shinrikyo
por todo o país. Uma grande quantidade de vários compostos químicos foi confiscada.
A maioria era de substâncias utilizadas na produção de sarin, VX, gás mostarda e
armas biológicas. Não foi encontrado sarin. Aparentemente, a seita destruiu todo o seu
estoque com o objetivo de eliminar provas. Entretanto, a polícia encontrou produtos
da decomposição de sarin nos equipamentos e no solo vizinho. Os integrantes da seita
envolvidos nos ataques foram presos e condenados a penas variadas.
162 CAPÍTULO 4. TÓPICOS COMPLEMENTARES
Capítulo 5
Bibliografia
5.1 Livros
1. Taylor, C.L.; Taylor Jr., L.B. Chemical and Biological Warfare. Franklin
Watts, Nova Iorque, 1992.
3. Stine, K.E.; Brown, T.M. Principles of Toxicology. CRC Press, Boca Raton,
1996.
4. Somani, S.M. Chemical Warfare Agents. Academic Press, San Diego, 1992.
6. Marrs, T.C.; Maynard, R.L.; Sidell, F.R. Chemical Warfare Agents: Toxicol-
ogy and Treatment. John Wiley & Sons, Chichester, 1996.
9. Sidell, F.R.; Takafuji, E.T.; Franz, D.R. Medical Aspects of Chemical and Bi-
ological Warfare. Office of the Surgeon General, Walter Reed Army Medical
Center, Washington, 1997.
11. Danon, Y.L.; Shemer, J. Chemical Warfare Medicine: Aspects and Perspec-
tives from the Persian Gulf War. Gefen, Jerusalem, 1994.
163
164 CAPÍTULO 5. BIBLIOGRAFIA
13. Cecil, P.F. Herbicidal Warfare: The Ranch Hand Project in Vietnam. Praeger,
Nova Iorque, 1986.
14. World Health Organization. Health Aspects of Chemical and Biological Weapons.
WHO, Genebra, 1970.
15. Eiceman, G.A.; Karpas, Z. Ion Mobility Spectrometry. CRC Press, Boca Ra-
ton, 1994.
16. Chemical and Biological Information Analysis Center. Worldwide NBC Mask
Handbook. CBIAC, Edgewood, 1992.
18. Storella, M.C. Poisoning Arms Control: The Soviet Union and Chemical/Biological
Weapons. Institute for Foreign Policy Analysis, 1984.
19. The Aspen Strategy Group. Chemical Weapons and Western Security Policy.
1987.
20. Dando, M. A New Form of Warfare: The Rise of Non-lethal Weapons. Brassey’s,
Londres, 1996.
22. Cole, L.A. Clouds of Secrecy: The Army’s Germ Warfare Tests over Popu-
lated Areas. Rowman & Littlefield, Totowa, 1988.
23. Crone, H.D. Banning Chemical Weapons. Cambridge University Press, Cam-
bridge, 1992.
24. Murphy, S.; Hay, A.; Rose, S. No Fire, No Thunder: The Threat of Chemical
and Biological Weapons. Monthly Review Press, Nova Iorque, 1984.
26. ter Haar, B. The Future of Biological Weapons. Center for Strategic and Inter-
national Studies, Washington, D.C., 1991.
27. Spiers, E.W. Chemical and Biological Weapons: A Study of Proliferation. St.
Martin’s Press, Nova Iorque, 1994.
28. Cole, L.A. The Eleventh Plague: The Politics of Biological and Chemical
Warfare. W.H. Freeman, Nova Iorque, 1997.
29. Finnish Institute for the Verification of the Chemical Weapons Convention. Method-
ology and Instrumentation for Sampling and Analysis in the Verification of
Chemical Disarmament (22 volumes). Verifin, Helsinque.
5.2. PUBLICAÇÕES MILITARES 165
5.3 Periódicos
1. The CBW Conventions Bulletin - http://www.fas.harvard.edu/~hsp/bulletin.html
5.4 Internet
5.4.1 Organizações
1. Organization for the Prohibition of Chemical Weapons - http://www.opcw.org
10. Joint Bradford - SIPRI Chemical and Biological Warfare Project - http://www.brad.ac.uk/acad/sbtwc/
5.4.3 Governamentais
1. DERA - Defence Evaluation and Research Agency - http://www.dera.gov.uk/
2. Office of the Special Assistant for the Gulf War Illnesses - http://www.gulflink.osd.mil/