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viverem ou são meras variantes particularizadas do princípio essencial do suum cuique tribuere,

como ocorre com o neminem laedere ou com o pacta sunt servanda, pois o não prejudicar ninguém
ou o respeitar os compromissos validamente assumidos mais não são do que formas de dar a cada
um o que lhe é devido.

Em, segundo lugar, deve notar-se que, do ponto de vista da Justiça, é mais decisiva a aplicação da
lei do que a própria lei, porquanto é então que, em concreto, o direito se realiza e o próprio de cada
um se afirma e define, o que, obviamente, não impede um juízo sobre a Justiça ou a injustiça da lei
em si.

Desta conclusão uma outra deriva: a de que, na concreta realização da Justiça, é mais decisivo o
papel do juiz do que o do legislador, da jurisprudência do que da lei. De igual modo, o costume e a
norma, e pela sua menor abstracção e generalidade, pela sua maior proximidade do concreto, pela
sua origem mais vivencial do que racional-voluntária, mais colectiva do que individual, poderá
garantir melhor do que aquela uma solução justa.

Por outro lado, esta visão de Justiça vem pôr a claro a inadequação do modo de entender a sentença
como meio processo lógico formal, como um raciocínio silogístico e chamar a atenção para que o
dizer o direito – a jurisdição – do caso concreto, o juízo de legalidade que o juiz profere, é
condicionado, precedendo em larga medida, determinado por um juízo de Justiça de natureza
intuitivo-emocional, ditado pelo sentido de Justiça.

29. Gnosiologia da Justiça

Porque a Justiça é valor, princípio, ideia ou ideal e, por isso, insubstancial, não é susceptível de ser
apreendida ou aprisionada por uma definição, na medida em que esta é sempre um pôr limites, um
marcar de contornos de uma aspecto da realidade.

Por outro lado, a sua natureza de valor, princípio, ideia ou ideal impede-a de ser objecto de um
conceito, pois é o resultado das possibilidades criadoras da razão e os valores, os princípios e os
ideais transcendem a razão e ano dependem dela na sua existência, e apenas na sua efectividade e na
sua realização parcialmente dela quedam dependentes.

O conhecimento que da Justiça alcançamos é um conhecimento concreto, existencial, um


conhecimento imediato, intuitivo e emocional, em que o sentimento inato de Justiça tem um papel
decisivo e determinante, não dispensando, porém, a colaboração ou a participação de elementos
racionais, que laboram a partir dos dados fornecidos por aquele primeiro conhecimento intuitivo-
emocional.

Sendo pois insusceptível de ser definida ou deduzida genérica e abstractamente pela razão, a Justiça
apenas pode ser intuída no caso concreto, mediante a emoção ou o sentimento avaliador ou
sentimento moral ou de Justiça, do qual, contudo, é possível dar razão, pois possui a sua verdade
que, não sendo do domínio lógico-dedutivo, não deixa de ter a validade e garantia, próprias das
“razões do coração”, da experiência imediata e da vivência dos valores.

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