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E S T R U T U R A E P R IN C IP A IS

P R O P R IE D A D E S DA IN F O R M A Ç Ã O C IE N T IF IC A
(a propósito do escopo da informática)

A.I. MIKHAILOV
A J. CHERNYI
R.S. GILYAREVSKYI

O que constitui a disciplina cientifica ou o campo cien­


tífico chamado INFORMATIKA, em russo, é uma questão que
tem preocupado os especialistas que trabalham neste e em
campos relacionados com a ciência, uma vez que as atividades de
informação científica emergiram como uma forma independente
do trabalho científico nos anos 40. Obrigatoriamente foram
feitas tentativas para resolver esta questão, expandindo e modifi­
cando ligeiramente as noções habituais formadas antes da revo­
lução científica e tecnológica. Durante quase IS anos tem-se
discutido se existe diferença essencial entre as atividades da
informação científica e as formas correspondentes do trabalho
baseado em princípios da biblioteconomia e da bibliografia; se a
única diferença está nos nomes e termos empregados; se o
âmbito e métodos destas atividades eram essencialmente dife­
rentes daqueles da Bibliografia e Biblioteconomia; e, por último,
qual seria o conteúdo do termo “documentação” (até aqui utili­
zado para designar parte das atividades de informação científica)
e se corresponde a mais do que se supunha que designasse.
Agora tais argumentos pertencem ao passado. À medida
que se acumulou e generalizou a experiência prática obtida nas
atividades de informação científica, tornou-se mais profundo o
Direitos para publicação em língua portuguesa cedidos pela Federação nqsso conhecimento sobre a própria informação científica,
brtepsaciona) de Documentação. sobre as características específicas de sua geração, transferência
«HWUJO em FID. Comitê de Estudos sobre Pesquisa de Base Teórica e utilização, sobre métodos e meios de processar informação
ijflfbrméção. Collection of papers. Moscow, All Union Institute for científica, etc. Mais importante ainda, aumentou a consciência
IMtifk and Technical Information, 1975. 192p. (FID. Publication, da extrema complexidade do fenômeno que não se coaduna
D. froblems of information science)
com os esquemas simplificados construídos à base da lógica
x formal ou do chamado “ senso comum” — o foco de todos os
preconceitos de seu tempo, como afirmou Hegel1.
Não discutiremos aqui as numerosas definições e interpre­
tações do termo “ documentação” dadas pelos diferentes espe­
cialistas em tempos diferentes. Já o fizemos exaustivamente em
outro trabalho?. Mal se podería justificar nos determos nas
várias definições e interpretações do termo “ciência da infor­
mação” dado por muitos especialistas americanos e ingleses
durante os últimos dez anos. Tem havido muitas definições e
interpretações, as mais recentes delas absorvendo o que de
melhor houve nos trabalhos anteriores e levando em conside­
ração as críticas sobre os mesmos. Portanto, deixaremos para os
futuros historiadores da Informática estudar de maneira mais
completa a evolução que o termo “ciência da informação” tem
sofrido, e examinaremos apenas algumas das definições mais
importantes e abrangentes, bem como interpretações do termo
durante os últimos cinco anos. Visto que o termo anglo-ame-
rícano “ciência da informação” pode levar alguém a interpre­
tá-lo num amplo sentido, i.e., como uma ciência que trata de
todos os tipos de informação, da informação em geral, achamos
necessário enfatizar que a palavra “ informação” aqui significa
apenas informação científica.
Agora, vamos definir informática cqnio uma disciplina
científica. Informática é uma disciplina científica que estuda a
estrutura e as propriedades gerais da informação científica, bem
como as regularidades de todos os processos de comunicação
científica.
Nesta definição gostaríamos de chamar a atenção do
seguinte:

a) Informática é uma disciplina científica e não uma


ciência independente;
b) Informática estuda a estrutura e as propriedades gerais
da informação científica, mas não de qualquer informação, nem
mesmo informação semântica;
c) Informática estuda todos os processos de comunicação
científica levados a efeito tanto pelos canais formais (i.e.,
através da literatura científica), quanto pelos canais informais
(contactos pessoais entre cientistas e especialistas, correpon-
dência, permuta de “ preprints” , etc.).

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Informática é uma disciplina social, uma vez que estuda j
fenômenos e regularidades inerentes apenas à sociedade humana.
Assim, um dos principais objetos de pesquisa da Informá­
tica é a estrutura da informação cientifica, que é ligada á classifi­
cação desta última. Esta estrutura é claramente hierárquica, e
tem aspectos tanto semântico quanto formal. 0 exame de
ambos estes aspectos mostra que quanto maior o nível de hierar­
quia, mais específica a estrutura da informação científica. No
que se refere ao conteúdo, V.S. Siforov distingue as seguintes
subdivisões dentro da estrutura da informação científica:
1) informação sobre fatos científicos (classe A);
2) informação sobre hipóteses científicas, conceitos e
teorias que elucidam e combinam a totalidade dos fatos cientí­
ficos e interação entre eles (Classe B);
3) informação que combina a totalidade dos fatos cientí­
ficos, hipóteses, conceitos, teorias e leis que formam o funda­
mento de uma determinada ciência ou campo de conhecimento
(Classe C);
4) informação que reflete e forma, uma abordagem
comum do conhecimento e transformação do mundo que nos
cerca, i.e., informação ao nível de hierarquia do Weltanschauung
(Classe D)3.
Deve-se salientar que a estrutura semântica da informação
científica é bastante relativa e não claramente expressa. Os
mesmos fragmentos da informação científica podem conter
informação de classes diferentes. Levanta-se também a questão
de até onde se justifica o uso do termo “ informação factográ-
fica’’ que se difundiu ultimamente. Contudo, na estrutura
semântica da informação científica muitos fatos são inseparavel­
mente ligados a hipótese, conceitos qu teorias. Uma vez que a
informação factográflca se contrapõe à informação documen­
tá ria , seria mais correto chamá-la conceitual-factográflca.
Acreditamos, contudo, que contrapor informação factográflca à
informação documentária não faz sentido, e que o papel desem­
penhado pela chamada informação factográflca é injustificada-
mente exagerado.
A estrutura formal da informação científica é tão hierár­
quica quanto semântica. Os níveis mais inferiores desta hierar­
quia são comuns a toda a informação semântica, na qual se
podem distinguir sons, letras, palavras, frases, complexos semân­
ticos e obras completas. Contudo, nos níveis mais elevados da

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hierarquia, quando manejando documentos científicos e,
INFORMAÇÃO
especialmente, seus fluxos, temos que lidar com especificidades
peculiares apenas à informação científica.
O racional que existe por trás dos documentos científicos,
os meios e métodos de sua disseminação, e a utilização da infor­
mação científica estão todos dentro das regularidades especí­
ficas que dirigem o desenvolvimento da ciência. A literatura SOCIAL NÃO-SOCIAL
científica e técnica - o mais elevado nível de hierarquia na
estrutura formal da informação científica — embora possuindo
todos os atributos formais da obra literária, representa um fenô­
meno social único que está inteiramente dentro da esfera da
comunicação científica. SEMÂNTICA NÃO-SEMÂNTICA
Muitas das propriedades da informação científica exami­
nadas mais adiante, tais como não-continuidade, dispersão e enve­
lhecimento estão intimamente ligados à sua estrutura. Os
aspectos semântico e formal da estrutura da informação cien­
tífica estão também interligados de maneira definitiva. Cada
CIENTIFICA NÃO-CIENTÍFICA
uma das classes semânticas acima citadas de informação cientí­
fica gravita em direção a tipos definidos de documentos científi­ Fig. 1 - Esquema de classificação dicotômica de tipos de
cos e se reflete na estrutura formal de acordo com certas regras, informações
embora não muito restritas.
As propriedades de informação científica podem ser não-continuidade e cumula ti vidade; independência de seus cria­
compreendidas apenas por sua comparação com as propriedades dores, envelhecimento e dispersão.
gerais da informação. Contudo, o estudo desta questão está num
estágio inicial, quando é até mesmo impossível se inclinar por 1. Inseparabilidade da informação científica de seu suporte
qualquer esquema geralmente aceito para classificar tipos dife­ físico.
rentes de informação. Partindo do que se disse acima sobre as
relações entre a informação científica, lógica (semântica) e A informação científica é de natureza ideal (não-material).
social, acreditamos que, para os propósitos limitados da tenta­ Contudo, não pode existir sem algum revestimento material,
tiva de descrição das principais propriedades da informação nem pode ser separada de seu suporte físico. “Informática é um
científica seja suficiente nos determos qo esquema de classifi­ todo que inclui um suporte físico e semântico’’, escreve
cação dicotômica de alguns tipos de informação mostrados na G.Klaus 4 informação científica é como um reflexo, no espelho,
Fig. 1. de algum objeto, um reflexo que existe se houver um espelho.
De todas as propriedades peculiares à informação selecio­ Esta propriedade é inerente a todos os tipos de infor­
namos doze que, acreditamos, são essenciais, e as organizamos mação, e não apenas à informação científica. Isto se deve ao
do mais geral para o mais específico. Estas propriedades iricluem fato de que a informação não existe sem reflexo (e vice-versa);
o seguinte: inseparabilidade da informação científica de seu nem pode existir sem outros atributos de matéria-movimento,
suporte físico; não-aditividade, não-comutatividade e não-asso- espaço, tempo, etc. Reflexo é a influência de um sistema mate­
ciatividade da informação científica; presença do valor; natureza rial sobre ou& ü, levando ao estabelecimento de identidade rela­
social; natureza semântica e linguística (lógica); independência tiva entre esthà sistemas quando as diferenças interiores do
da linguagem que é expressa no suporte material e a partir dele; sistema de reflexão correspondem àqueles do sistema refletido^.

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Isto ocorre precisamente porque a teoria marxista-leninista do I leva à realização do propósito). Isto também pode se aplicar, de
reflexo é a base metodológica para a análise do conceito de alguma forma, ao mundo animal, se ‘ propósito ’ for entendido
informação. num sentido mais amplo (sem necessariamente ligá-lo a uma
atividade consciente). Na natureza inanimada não há propósito
2. Não-aditividade, não-comutatividade e não-associatividade algum, portanto, a informação não tem qualquer valor ali.” 7
da informação científica. A citação acima deve ser ligeiramente esclarecida. Acredi­
tamos que a noção de propósito (em sentido amplo) pode-se
A informação científica não possui tais propriedades aplicar - com certas reservas e restrições - não apenas ao
com o aditividade, comutaüvidade e associatividade. V.l. mundo animal mas também às plantas. Isto é, a toda a natureza
Siforov6 foi o primeiro a chamar a atenção para estas caracterís­ animada.
ticas. Isto significa que a informação científica contida numa Por outro lado, a diversidade é a base e o pré-requisito l
mensagem não é apenas a soma total dos elementos de infor­ para o aparecimento de valor. Se a mesma informação for de 1
mação científica (por exemplo, de palavras) que formam a men- , igual valor para o receptor, não possui qualquer valor.8 O con­
sagem, que estes elementos não podem ser organizados numa ceito de valor é alheio à teoria de iníformação de Shannon pois,
mensagem, numa ordem aleatória e grupados em combinações de acordo com esta teoria, dados que não diminuem a incerteza
diferentes sem distorcer o conteúdo da mensagem. Evidente­ (isto é, com valor zero) não são considerados como informação.
mente, todos os tipos de informação social possuem tais caracte­ Assim, a informação científica, junto com todos os outros
rísticas, enquanto que alguns tipos de informação não-social não tipos de informação social e biológica, tem valor. Contudo, falta
as possuem. tal propriedade à informação que circula na natureza inanimada.
' F'
3. Valor da informação científica
4. Natureza social da informação científica
O valor ou utilidade da informação em geral é sua caracte­
rística pragmática que afeta o comportamento do receptor desta A fonte de informação científica é a atividade cognitiva
informação e seu controle sobre a tomada de decisão. Quanto do homem e da sociedade humana como um tod<j. Fenômenos e
mais esta informação facilita o alcance das metas do receptor, leis da natureza, sociedade e pensamento são percebidos por
mais valiosa é para ele. Em outras palavras, a informação adquire toda a sociedade humana e não por indivíduos ou grupos de
valor somente após ter sido incluída na relação: receptor de iJ indivíduos. “Comunicação” , salientou N. Wiener, “é o cimento I
informação-informação objeto do controle. - »■ da sociedade. A sociedade não consiste simplesmente numa j!
Dessa abordagçm de conceito de valor da informação multiplicidade de indivíduos, que se encontram apenas na luta I
infere-se que.somente' a informação usada para fins de controle pela vida e para fins de procriação, mas num jogo íntimo destes J
(gestão, govefíio; administração) possui valor. Isto pressupõe indivíduos num organismo maior. A sociedade tem memória |
seleção da informação recebida, que só pode ser feita por seres própria, muito mais duradoura e mais variada que a memória de
humanos. Portanto, valor em geral, e valor de informação, em um indivíduo que pertence a ela” 9
particular, têm existência com o aparecimento dos seres vivos, e Ao contrário de alguns tipos de informação social (por
só existe para eles. exemplo, estética) e todos os tipos de informação não-social, os
“É importante notar” , escreve A.D. Ursul, “que todas as tipos de informação semântica são, na sua totalidade, sociais por if
tentativas para determinar o valor da informação estão ligadas à natureza. Em relação a isto deve-se notar que, de acordo com A. *
noção de propósito. Esta noção geralmente caracteriza a ativi­ Moles, a informação estética é intraduzível e se refere não ao
dade humana e o funcionamento de dispositivos cibernéticos aos sistema universal de símbolos mas ao repertório do conheci­
quais o homem determina um propósito (ou um programa que mento comum a um certo transmissor e a um certo receptor. /

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“Pode-se compará-lo” , conclui A. Moles, “a conceito de infor­ fôrma da existência e expressão do pensamento, é um atributo
mação pessoal” .10 somente de seres humanos e da sociedade humana.14
A totalidade do conhecimento científico acumulado por A semântica da informação científica é muito mais
toda a Humanidade sobre fenômenos e leis do mundo exterior e I
mutável do que a linguagem, sua forma de expressão. Pode
sobre a atividade espiritual dos homens é, freqüentemente, mesmo perder contacto com a realidade e ganhar relativa inde­
chamada de tesouro humano (Gr. thesauros; Lat. thesaurus; pendência. Por exemplo, a matemática usa algumas noções e
tesouro, riqueza, estoque). Este termo foi introduzido na litera­ valores ( v/ - i 1, conceito de espaço-tempo com mais de quatro
tura moderna sobre lingüística e informática pelo grupo de estu­ dimensões, etc.) que não são o resultado de retlexão direta de
dos lingüísticos de Cambridge (Grã Breatanha), em 195611. objetos reais15
Durante o Renascimento, os tesouros eram, freqüentemente, Assim, qualquer informação científica é semântica, mas
enciclopédias que continham todo o conhecimento básico nem toda informação semântica é científica. Há muitos tipos de
acumulado pela Humanidade, ao tempo em que estas enciclo­ informação semântica circulando na sociedade humana (por
pédias foram compiladas. Exemplos de tais enciclopédias são exemplo, estética, gerencial, comunal, etc.) que não pertencem à a
Les livres du Tresor , escrito em francês pelo professor de informação científica.
Dante, Brunetto Latini (1220-1294) de Florença, e Alhazen’s
Thesaurus on Optics , co m p ila d o pelo físico árabe
Ibn-al-Haisam (965-1039 AD) conhecido no Ocidente como 6. Natureza lingüística da informação científica
Alhazen (a primeira publicação foi em 1572; numa tradução
latina: “Opticae thesaurus Alhazeni arabis libri septem, nunc Já foi salientado que a informação científica caracterizada v
primum editi. . . Basileae, 1572”). A natureza social da infor- do ponto de vista do conteúdo é semântica (conceituai). Daí, J
mação científica deve ser levada em consideração ao se deter­ quanto à expressão, a simples informação científica é lingüísticag*
Í minar seu valor. por natureza, pois conceitos são formados como um resultado
do pensamento universalizado e abstrato, e o pensamento
abstrato só existe devido à linguagem. “Cada palavra (discur- j I
5. Naturezajemántica da informação científica so)” , enfatizou V. I. Lênine, “já universaliza. Os sentidos mos- ]
tram a realidade; pensamento e palavra - o universal” 17 '
A informação científica é semântica. Isto significa que é A linguagem aqui é um sistema de símbolos de natureza
, conceituai, pois são os conceitos que compõem o significado de física que serve como meio de comunicação, pensamento e
j palavras e generalizam as características dos objetos e fenô- expressão humanos (sic). A linguagem pode ser natural e arti-l
: menos. A palavra “semântica” caracteriza a informação cientí- ficial. A liguagem natural é usada na vida diária, e é uma forma
v' fica do ponto de vista de seu conteúdo, mas não da forma ou do de expressar idéias e meios de comunicação entre pessoas. A
revestimento material (plano da expressão). i linguagem artificial é criada pelas pessoas (sic) para atender a
A Enciclopédia Filosófica define a informação semân­ necessidades específicas (por exemplo, a linguagem de símbolos
tica como especificações do conceito “informação” , do ponto matemáticos, a linguagem de fórmulas estruturais de compostos
de vista de seu conteúdo (significado)12. De acordo com o j químicos, uma linguagem de recuperação de informação, etc.18
sociólogo francês A. Moles a informação semântica é baseada na j Deve-se enfatizar que a linguagem é um fenômeno social ine-
lógica universal; é estruturada, articulável e traduzível numa J «ente apenas à sociedade humana. Os sistemas de símbolos
j| língua estrangeira.13 Segue-se destas definições e do acima men­ usados no mundo animal não são considerados como linguagens.
cionado que apenas a informação (social) pode ser semântica, De acordo com nossa definição a informação científica é \|
visto que os conceitos não existem, e não podem existir sem um lógica. A palavra “lógica” deve ser compreendida não só no >
revestimento lingüístico, ao passo que a lingWagem, sendo uma sentido de que a^hformação científica é o resultado do proces- ,

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áamento e generalização de dados (informação) pelo pensa­ informação estética está organicamente ligada à linguagem em
mento abstrato-lógico dos homens, mas também como sinônimo que está expressa, e portanto teoricamente esta informação não
da palavra “linguística" (Gr. “ Logos” - palavra, noção, idéia,, pode ser traduzida em qualquer outra “linguagem", porque esta
razão). outra linguagem não existe.21
•A informação científica não existe, nem pode existir, sob
forma pura divorciada da linguagem. O pensamento está insepa­ 8. Não-continuidade dã informação científica
ravelmente a ela ligado, pois “as idéias não podem existir divor­
ciadas da linguagem” 19, salientou Marx. Noutra obra ele Esta propriedade não é peculiar a todos os tipos de infor­
escreveu: “ Desde o início o ‘espírito’ se aflige com a maldição mação. Os dados obtidos no processo do conhecimento sensorial
do ‘fardo’ da matéria, que aqui se faz presente na forma de também podem ser contínuos (por exemplo, leituras de instru­
camadas agitadas de ar, sons, em suma, linguagem!’20 Somente mentos).
devido à sua natureza linguística a informação científica pode A não-continuidade, que é uma propriedade da infor­
ser registrada nos diversos suportes físicos com o objetivo de mação semântica, tem suas próprias peculiaridades na informa­
transmití4a no espaço e tempo. ção científica. A contradição dialética da informação científica
A natureza linguística é peculiar não só à informação examinada acima, que, por um lado, não depende da linguagem i
científica, mas também a todos ps outros tipos de informação em que é expressa nem do seu suporte físico e, por outro lado, é I
humana (social), exceto para alguns tipos de informação esté­ inseparável deles, leva igualmente à natureza dual danão-con-|
tica. Mas a informação não-social é de outra natureza. tinuidade da informação científica.
Para usar termos linguísticos pode-se dizer que a não-con-
tinuidade é diferente no plano da expressão e no plano semân­
7. Independência da informação científica da linguagem e do tico. No plano da expressão, os itens de informação científica ;
suporte físico ^ ■"■ °\ ! c- são palavras, frases e excertos de texto. No plano semântico são t
*l noções, declarações, descrições de fatos, hipóteses, conceitos,
, A informação científica não depende da linguagem na teorias, leis e ensinamentos.
qual é expressa. O significado da lei da gravidade não muda Pode-se distinguir um terceiro, o chamado aspecto formal |
quando expresso em latim, inglês ou chinês, ou quando escrito da não-continuidade. Visto que a alienação da informação cien­
na forma da fórmula bem-conhecida. A informação científica tífica de seus criadores não é contínua mas discreta, e tem lugar
não é afetada pelos suportes físicos usados para sua transfe­ na forma de atos criativos relativamente completos e materiali­
rência no espaço e no tempo. Por exemplo, um único texto zados, uma obra pode ser considerada um quantum de infor­
pode ser registrado em fita magnética, datilografado, manuscrito mação. Uma obra científica é o resultado de uma atividade
ou emitido pelo rádio. Entretanto, qualquer um desses registros cognitiva intencional, que é logicamente completa e materia­
CCTteiiinfopBacao científica de jp ial valor semântico- lizada. Quando registrada em forma escrita, uma obra científica
flTmvariância da informação científica em relação às âetom a um documento científico.
línguas em que está expressa a aos seus suportes físicos, não é Deve-se enfatizar, entretanto, que um documento cientí-
uma característica universal de qualquer tipo de informação. Por Ü » ; como unidade de um trabalho científico e suporte material
exemplo, a informação estética depende consideravelmente da •^jjytptnt está registrado, não pode ser considerado uma unidade
linguagem em que está expressa, e do suporte físico. JÉfc%formação científica; possui uma forma bastante diferente
O homem não recebe a mesma informação estética s SfifPílMte-continuidade ligada à sua natureza material. Aqui ficam
quando lê a tragédia Hamlet em inglês e nas diversas tradu- ‘ÇÜPittidência as palavras, os sinais de pontuação, linhas, páginas,
çOes russas, ou quando vê ou ouve as diversas adaptações da HWgs, microfilmes, bem como blocos de papel contínuo ou fita
tragédia para o palco, cinema ou rádio. A. M ies acredita que a magnética, etc.» •

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Uma obra cientifica não precisa necessariamente tomar a O que precisava, há cem anos atrás, ser explicado numa
forma de um documento escrito. Entretanto, também neste caso seqüência completa de palestras, pode sê-lo, agora, em poucos
pode ser considerada uma parte da informação cientifica. Um minutos, com a ajuda de duas ou três fórmulas. Deve-se salien­
discurso, relatório ou conferência feitos diante de uma audiência tar, entretanto, que a informação científica nos diferentes
i possuem sua própria não-continuidade semântica na forma de campos do conhecimento possui uma cumulatividade desigual.
peças, e sua não-continuidade material na forma de períodos A cumulatividade é mais aparente nas ciências exatas e naturais,
retóricos caracterizados pela ênfase e divididos por pausas. tais como matemática, física e química, que têm uma linguagem
formalizada altamente desenvolvida e usam regras bastante
rígidas para as saídas de informação. Na maioria das Ciências
9. Cumulatividade da informação científica Sociais e nas Humanidades esta propriedade da informação
científica é menos pronunciada.
Cumulatividade é uma propriedade importante da infor­ A concentração da informação no tempo e a transição do
mação científica. Está ligada a uma das principais regularidades conhecimento científico para níveis mais altos de abstração
do desenvolvimento da ciência - sua continuidade e internacio- também estão intimamente ligados à cumulatividade. Este fenô­
nalismo. Se cada cientista, os cientistas de cada país e época meno leva a uma diminuição no volume de informação cientí­
tivessem que acumular o conhecimento necessário, de maneira fica produzido pelas gerações anteriores. Entretanto, mal se nota
independente,e descobrir as leis de novo, a ciência mal poderia este decréscimo quando se compara com o crescimento expo­
se desenvolver em taxas rápidas. As realizações dos cientistas de nencial de nova informação científica. A Fig. 2 mostra a concen­
^todo mundo e de todas as gerações anteriores são a base em que tração da informação científica no tempo.
se fundamenta o trabalho dos cientistas contemporâneos.
Portanto, é natural que cada geração de cientistas se
engaje não só na obtenção de novos dados científicos mas ainda
na sistematização, avaliação e generalização da informação cien­
tífica produzida por seus colegas e predecessores, a fim de
tomar esta informação tão acessível quanto possível não só para
seus contemporâneos mas também às novas gerações de cientis­
tas. Isto é, permite uma apresentação mais concisa e generali­
zada. Com o tempo, tudo que é secundário e sem importância é
descartado, e o que é básico e principal é expresso de uma
maneira simples e breve.
“Mesmo os próprios descobridores parecem, às vezes,
incrivelmente densos, bem como inexplicavelmente maravi­
lhosos. Talvez se pudesse esperar do tratado de Maxwell, sobre
eletricidade e magnetismo, um pronunciamento vigoroso e
simples a respeito do grande passo dado por ele. Em vez disso, - Concentração da informação científica no tempo
está embaralhado com todas as espécies de assuntos menores #4 i. •)
que uma vez pareceram importantes, de sorte que um leitor §*>' A - fa to s c ie n tíf ic o s ; B - hipóteses científicas,
simples tem que procurar muito tempo até enctíntrar o fato {f «aseeitos, teorias; C - totalidade de hipóteses, conceitos,
pnginal e tom ar a expressá-lo de maneira simples e familiar para teorias e leis que formam os fundamentos de uma determinada
nós. É certo, entretanto, que Maxwell expôs seu caso de maneira ciência ou campo de conhecimento; D - informação cientí-
muito clara, em outro lugar2 2 fica de natureza da Weltanschauung. ,

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10. Independência da informação científica de seus criadores que Sadi Camot não teve condições de terminar foi redesço-
berto mais tarde por Clausius, Kelvin e Boltzmann. Muito pelo
' Depois de ser gerada, a informação científica se toma

/
..contrário, o que não foi expresso por um artista nunca mais será
independente de seus criadores numa extensão maior do w reencontrado: a “Sinfonia Inacabada” de Schubert permanece
que outros tipos de informação social. É óbvio que no que se m inacabada; do mesmo modo a “Adoração dos Magos” de
refere à informação não-social é tolice insistir nesta propriedade. f Leonardo da Vinci, no Museu Uffízzi de.Florença (felizmente,
Principalmente na informação social, também esta propriedade is nenhum “ restaurador” ainda tocou nela, ousando assassiná-la
só pode ser examinada em relação àqueles tipos em que a insti­ como a muitas outras peças de Museu).? 3
tuição da autoria foi historicamente estabelecida; por exemplo,
nas atividades políticas, no trabalho artístico e científico e
técnico, e na obra literária como um todo. Numa extensão 11. Envelhecimento da informação científica
muito menor, as relações de autoria são peculiares à adminis­
tração, economia, comércio e outros campos do esforço humano A idade da informação, científica, que é tão óbvia à pri­
onde circulam grandes fluxos de informação social diversa. meira vista é, na verdade, difícil de compreender. Estamos
Esta propriedade /da informação científica se reflete no acostumados à noção de idade de documentos científicos;
fato de que a forma de expressar as verdades científicas não tem aprendemos até a medí-la por períodos durante os quais uma

Í
nenhum papel significativo em sua utilização posterior. Esta parte da informação cessa de ser utilizada. Entretanto, o fato de
forma, como se viu acima, muda constantemente no processo de que as obras de Arquimedes, Newton ou Lomonosov serem rara­
acumulação da informação científica. Uma das características mente citadas agora não significa que a informação que contêm
] ’ específicas do trabalho científico é que existe um único mundo tenha se tom ado obsoleta.
í de descobertas para os pesquisadores. Portanto, quando um Estritamente falando, o envelhecimento completo só
í pesquisador faz uma descoberta, esta é excluída para sempre ocorre na informação científica que, com o aparecimento de
* dentre as possíveis descobertas para o resto dos pesquisadores. nova informação científica, mostra ser errada e deixa de refletir
A independência da informação científica dos seus criado­ adequadamente os fenômenos e regularidades do mundo
res, que é característica da informação científica, toma-se cada material, sociedade humana e pensamento, isto é, deixa de ser
vez mais óbvia quando se compara a informação científica com informação científica. Deste ponto de vista V.I. Siforov24 está
a informação estética. As relações de autoria são muito aparen­ çerto dizendo que a informação científica dá classe “B” está
tes em ambos os tipos de informação. Contudo, enquanto a obra is exposta ao envelhecimento, e que as classes “A” e “C” (de
de arte está para sempre ligada a seu criador, a informação cien- wdo com sua classificação de tipos de informação científica,
/ tífica, logo após ser disseminada, torna-se relativamente inde- Fig. 2) - estão menos expostas. Na verdade, os fatos cientí-
I peçdente tanto de seu criador como da obra em que pela os principais dogmas das disciplinas científicas e campos
I primeira vez aconteceu. Deve-se acrescentar, ainda, que o grau conhecimento são refutados muito mais raramente do que as
' dessa independência aumenta com o tempo. " teses científicas, conceitos ou teorias.

Í
“A ciência quer ser humana, não individual” , escreveu L. li Contudo, quando se fala do envelhecimento da infor-
Brillouin; “Ela é feita de uma rede de conhecimento válida para jêítãçãõ científica, o que geralmente se quer tratar não é de seu
toda a Humanidade e acumulada coletivamente’’/N isto é dife­ JJCOmpkto envelhecimento, mas de uma apresentação, de forma
rente da arte, que é uma criação individual. O artista pode viver M fpgfel «Ura e restrita, comprimida e universalizada no processo de
e desenvolver-se. Van Gogh e Gauguin foram completamente informação científica. Assim, o envelhecimento da

Í
ignorados enquanto vivos; criaram um isolamento aboluto. O informação científica está intimamente ligado com sua cumula-
cientista coopera na construção de um monumento coletivo, tividade discutida acima. Isto é precisamente o que quiz dizer N.
para o qqg| contribui com algumas pedras e algum concreto. O Wiener quando escreveu que a razão principal doljBnvelheci-
I mento da informação não é o, tempo em si mas a geração de
J nova informação.25
Deve-se salientai ainda que o envelhecimento da infor­
mação cientifica interage de maneira complexa e indireta com o
envelhecimento das obras cientificas nas quais foi expressa pela
primeira vez. A disseminação da informação cientifica é um
complexo social cujos mecanismos ainda não foram adequada­
mente explorados. No caminho do criador paia os usuários
potenciais um trabalho cientifico sofre peripécias complexas.
Com toda probabilidade, a tradução de trabalhos cientificos
noutra lingua e sua republicação facilitam não apenas a dissemi­
nação mais ampla, mas são, também, parte importante do meca­
nismo que retarda o envelhecimento das obras cientificas. O
mecanismo assegura “longevidade” e disseminação mais ampla
da informação cientifica mais valiosa, na forma em que foi
produzida pelo próprio criador.

12. Dispersão da informação científica


A dispersão da informação cientifica por numerosas obras
/cientificas está diretamente ligada com sua não-continuidade,
/ cumulatividade, independência dos criadores e envelhecimento.
f. Esta propriedade encontra expressão no fato de que, mudando
sua expressão lingüistica, unidades semânticas idênticas de infor­
mação científica - noções, declarações, descrições de fatos,
hipóteses, conceitos, teorias, leis, ensinamentos - são usadas em
obras científicas diversas de maneiras diferentes e em contextos
diferentes.
Originariamente agrupados por seus criadores, de acordo
catk a lógica interior das obras em que foram publicada? pela
primeira vez, ou disseminadas por algum outro meio, estas
noções, hipóteses, etc. adquirem, subseqüentemente, uma vida
nova nas obras científicas de outros autores. Lá são ordenadas
eiitre outras unidades semânticas de informação científica intro­
duzidas na comunicação científica por estes autores, ou extraí­
das deles a partir de outras fontes de informação científica, e
portanto têm um sentido diferente. A dispersão da informação
científica é condicionada pelos processos de diferenciação e
integração que são regularidades importantes do desenvolvi­
mento datÜência.

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Não será exagero dizer que a dispersão da informação
científica é a pedra angular de todas as atividades de informação
científica, e o estudo desta propriedade é um problema preemi­
nente que a Informática enfrenta. Até agora a dispersão tem sido
estudada a nível macro - foram formuladas as regularidades que
governam a dispersão de publicações científicas em periódicos.
O estudo da dispersão da informação científica no nível micro —
nível dos fatos e idéias - pode levar à descoberta das leis básicas
da informática.
Assim, acreditamos que foram examinadas as propriedades
mais importantes da informação científica. Seu estudo preli- '
minar tornou possível definir com mais precisão a correlação
entre a informação científica e outros tipos de informação
semântica e social. Isto testemunha o fato de que as proprie­
dades da informação científica são bastante específicas para se
tomarem objeto de pesquisa da informática.
O grau desta especificidade é ilustrado na Tabela 1 que
resume os pontos comuns das propriedades da informação cien­
tífica, acima citadas, e aquelas peculiares a outros tipos de infor­
mação. Certamente, esta tabela é aproximada e relativa. Com
toda a probabilidade, alguns tipos de inforriiação semântica e
não-social são também não-contínuos; certos tipos de informação
não-científica também são, numa extensão maior ou menor,
independentes de seus criadores, e estão expostos ao envelheci­
mento e à dispersão. Estas propriedades, contudo, não são tão
essenciais para essas informações quanto para a informação cien­
tífica.
Naturalmente, nossa breve análise das principais proprie­
dades da informação científica não tom a supérfluo seu estudo
mais'Completo. Estamos convencidos de que tal estudo não só
facilitará um exame mais profundo das principais propriedades e
características da informação científica - este conceito focal de
informática - mas também promoverá uma compreensão
melhor de quais são, realmente, os principais objetos de pesquisa
desta disciplina científica.
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17. Ibid. V .38,p. 277
18. Enciclopédia Filosófica, V.5 (Linguagem). Moscou, “Enci­
clopédia Soviética” Editores, 1970.p.604. Dicionário Filo­
sófico (Linguagem). Moscou, Politizdat Editores, 1968. p.
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edtowa, 1963, p. 88 (em russo) -
S O B R E B IB L IO T E C O N O M IA , D O C UM EN TAÇÃO
E C IÊ N C IA DA IN F O R M A Ç Ã O

JESSE H. SHERA

Em fins do século XIX, quando Otlet e La Fontaine esta­


beleceram as bases de uma grande bibliografia universal de todos
os documentos registrados em forma documental, não fizeram
mais do que atualizar e dar novo impulso a um movimento que
datava pelo menos da época de Johann Tritheim e Konrad
Gesner. Os dois amigos não tinham, provavelmente, consciência
de quanto eram antigas as origens de sua obra, nem da ampli­
tude da mudança que, apesar de suas vicissitudes posteriores,
iniciaram. Embora o objetivo que visassem fosse organizar e ,
indexar a massa de conhecimentos registrados em qualquer
forma que pudessem aparecer, tiraram da biblioteconomia suasj
técnicas e estratégia fundamentais. Começaram a preparar a sua
bibliografia universal utilizando os catálogos de biblioteca do
tipo tradicional e escolheram o Sistema Decimal de Dewey
como base de sua classificação. No entanto, não só se propu­
nham a fazer um trabalho completo, mas também submeter os
materiais bibliográficos a uma análise de contéudo mais pro­
funda do que a até então feita pelos bibliotecários e, para dife­
renciar sua atividade da Biblioteconomia, deram-lhe o nome de
Documentação.Desse modo começou, na Biblioteconomia, um
cisma que ainda não terminou.
Menos de vinte anos depois de La Fontaine e Otlet terem
Direitos para publicação em língua portuguesa cedidos pelo UNESCO
Bulletin for Libraries. iniciado o seu trabalho, John Cotton Dana, que havia destacado
os serviços que as bibliotecas podem prestar às empresas comer­
Publicado em UNESCO Bulletin for Libraries, 22 (2): 58-63, ciais e industriais, setor que na sua opinião era insuficientemente
March/April 1968. atendido pela Biblioteconomia e que criou na Biblioteca Pública

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