Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
CORRENTE93
Vol. I No. 03
An V2, in 0° , in 4°
An. CXII da Era Thelêmica
________________________________________________________________________________________________________
R$5,00
Conteúdo
Editorial 3
Liber Porta Lvcis 6
Saudação ao Sol entrando no Signo de Leão 8
O Rito da Luxúria de Teth 10
Estabeleça em tua Kaaba um escritório 12
Uma Loja da O.T.O. na sua casa 15
Projeção Astral & o Tarot 22
Na Teia da Aranha 30
Yoga & Magia 34
Liber Librae 48
Notícias da Linha de Frente 50
Colegiado da Luz Hermética 51
Publicação registrada sob o nº 135.749 no Escritó- tensivas, seminários e cursos intensivos, prepara-
rio de Direitos Autorais do Ministério da Cul- ção e divulgação de estudos e relatórios, edições e
tura/Biblioteca Nacional. Todos os direitos reser- publicações.
vados e protegidos pela lei 9610 de 19/02/1998.
Nenhuma parte desta publicação pode ser utilizada Corrente 93 é uma publicação da SETh, Sociedade
ou reproduzida – em qual- quer meio ou forma, seja de Estudos Thelêmicos, em nome da A∴A∴, que
mecânico ou eletrônico, fotocópia, gravação, etc. – aborda temas sobre Magia, Tarot, Qabalah, Filoso-
nem apropriado ou estocado em sistema de banco fia de Thelema, Tradição Tântrica, Yoga, Āyurveda
de dados ou mídia eletrônica, sem a expressa auto- e temas conectados como Ocultismo Thelêmico.
rização do editor.
Os recursos gerados com a venda de exemplares
Contribuições e comunicações com o editor podem são integralmente reinvestidos no projeto, promo-
ser enviadas para Sociedade de Estudos Thelêmi- vendo seu desenvolvimento organizacional e téc-
cos. nico, buscando sempre oferecer melhor conteúdo.
A Sociedade de Estudos Thelêmicos é uma organi- Citações de trechos desta publicação podem ser
zação da sociedade civil com sede em Juiz de Fora, usadas, desde que mencionada à fonte e que te-
Minas Gerais. Tem como objetivo promover o de- nham autorização escrita dos autores.
senvolvimento humano através das atividades rea-
lizadas por seus movimentos organizados. Através O copyright © de todo material de autoria de Aleis-
de nosso trabalho, promovemos atividades para ter Crowley pertence à O.T.O.
elevação da consciência por meio da realização de – (http://oto.org/).
projetos sociais sustentáveis, pesquisas, aulas ex-
2
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Editorial
3
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
90. A conexão de sua linha de instrução da A∴A∴ com a O.T.O. moderna começou quando
William Breeze, seu discípulo, tornou-se o Frater Superior da Ordo Templi Orientis.
A passos de gado a comunidade thelêmica vem amadurecendo. Maturidade espiritual,
eu entendo por manter-se no seu próprio eixo ou órbita. Sucesso é a tua prova e isso basta
para nortear a busca de qualquer thelemita.
Equilibra em relação a cada pensamento seu exato oposto. Pois o Casamento destes é o
Aniquilamento da Ilusão.1
Isso traz uma reflexão para nós: O Adepto está a um passo do Abismo e a única arma mágica
que carrega é a Taça das Abominações: Com a Taça, ele persevera.2 O título que se dá ao
Cavaleiro do Santo Graal é Aquele que Persevera, pois diante do Castelo da Perdição ele man-
tém a Lança firmemente erguida, firme em sua jornada ao Castelo do Graal em Binah na
Árvore da Vida. É na Taça que ele verterá até a última gota de seu sangue. É interessante
notar que o objetivo do Adepto Maior 6°=5⌷ é a realização plena do poder3 e essa é uma
tarefa associada a fórmula mágica da Rosa Cruz, a qual ele deve aperfeiçoar para continuar
sua jornada e ela está associada ao Arcano Secreto da O.T.O., transmitido no IX° Grau. Muitas
conjecturas foram levantadas em como esse poder pode ser aumentado e controlado atra-
vés do arcano mágico da O.T.O., cujo ritual central oficial continua sendo o Safira Estrela ou
Liber XXXVI. Essa instrução encerra um mistério profundo que forja uma conexão entre os
Mundos de Atziluth e Briah através de uma fórmula mágica conhecida como ARARITA. Nos
termos práticos, pela dança de êxtase ofidiano produzida por uma série de casamentos mís-
ticos nos quadrantes do espaço constrói-se um hexagrama poderoso que é capaz de aniqui-
lar completamente a dualidade do Adepto: O uso desse Nome e Fórmula é equacionar e iden-
tificar toda ideia com seu oposto; libertando-se, assim, da obsessão de se pensar em qualquer
uma delas como «verdadeira» (e, portanto, aprisionadora). Pode-se, assim, sair completa-
mente de toda esfera do Ruach.4
Os Probacionistas em processo de aproximação com o Colegiado poderão dar conti-
nuidade a prática e outros começa-la nessa oportunidade. Enquanto o livro Os Rituais do
Tarot não fica pronto, todos os Probacionistas devem utilizar as instruções publicadas aqui
no Corrente 93 para esse propósito.
Aleister Crowley abre essa edição do Corrente 93 com Liber Porta Lvcis. Trata-se de
uma instrução oficial da A∴A∴ em Classe A. Ele explica como aqueles que atingiram a inici-
ação, compadecendo-se das trevas e da pequenez da Terra, enviam um mensageiro aos ho-
mens. É um apelo aqueles que, tendo se desenvolvido além da maioria de seus companhei-
ros, acham adequado iniciarem a Grande Obra. «Portal da Luz» é um dos títulos de Malkuth
cujo número é X.
Estabeleça em tua Kaaba um escritório é um texto que encerra os apontamentos
acerca da kiblah e kaaba espiritual que iniciamos no último número do Corrente 93.
4
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Uma Loja da O.T.O. em sua Casa foi o pontapé inicial para o segundo volume das Crô-
nicas da O.T.O. O texto traz informações sobre como montar uma Loja da O.T.O. em casa,
podendo dessa maneira comungar dos mistérios da corrente mágica que alimenta a Ordem.
Projeção Astral & o Tarot faz parte das Crônicas do Tarot, uma série de textos sobre a
utilização mágica do Tarot. Pouca informação é encontrada em como utilizar o Tarot como
feitiço, encantamento, escudo protetor, amuleto etc. Essa série de artigos tem a finalidade
de propor uma discussão acerca do Tarot na magia.
Na Teia da Aranha é um relato pessoal acerca do trabalho tifoniano de um Adepto e
de sua experiência em um dos Túneis de Seth ou Túneis Qliphíticos.
Yoga & Magia é uma cátedra especial aos Irmãos da A∴A∴. Muitos são os Irmãos da
Ordem que falham em extrair das técnicas de yoga seu sumo delicado e sublime. Esse texto,
acompanhado da vídeo-aula que já está no Canal Corrente 93 do You Tube, tem o propósito
de auxiliar os Irmãos da A∴A∴ a aprenderem administrar sua prática de yoga e magia no
dia-a-dia.
Aleister Crowley fecha o Corrente 93 com Liber Librae, uma instrução oficial da A∴A∴
em Classe B, concernente ao equilíbrio da pirâmide mágica.
Bom estudo!
5
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
LIBER PORTA LVCIS
SVB FIGVRA X
A∴A∴
PUBLICAÇÃO EM CLASSE A
6
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
18. Muitos adeptos, através dos tempos, buscaram fazê-lo; mas suas palavras foram perver-
tidas por seus sucessores, e nova e novamente, o Véu caiu sobre o Santo dos Santos.
19. A vós, que ainda vagais na Corte do Profano, nós ainda não podemos revelar tudo; mas
vós facilmente entendereis que as religiões do mundo são apenas símbolos e véus da
Verdade Absoluta. Assim também são as filosofias. Para o adepto, vendo todas estas coi-
sas de cima, parece não haver coisa alguma a escolher entre Buda e Maomé, entre o Ate-
ísmo e o Teísmo.
20. Os muitos mudam e passam; o único permanece. Assim como madeira, carvão e ferro
queimam juntos em uma única grande chama, apenas se aquela fornalha for de calor
transcendente; assim, no alambique desta alquimia espiritual, se apenas o zelator soprar
suficientemente sobre sua fornalha, todos os sistemas da terra são consumidos no Único
Conhecimento.
21. Todavia, como o fogo não pode começar com ferro somente, no início um sistema pode
ser conveniente para um buscador, outro para um outro.
22. Nós, portanto, que estamos sem as correntes da ignorância, olhamos de perto no coração
do buscador e o guiamos pelo caminho que é mais apropriado para a sua natureza, até o
final definitivo de todas as coisas, a realização suprema, a Vida que permanece na Luz,
sim, a Vida que permanece na Luz.
7
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Saudações ao Sol entrando em Leão
A Filha da Espada Flamejante
Frater ON120
Fernando Liguori
8
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
fogo, o ar e a água. Na verdade, eles são uma só função e uma só substância, podendo se trans-
formar um no outro. O mesmo acontece com o Pensamento, a Fala e o Logos: eles são todos
uma única e a mesma coisa.
Quando a Serpente segura a própria cauda com a boca, ela representa a sabedoria e o
Universo (observe aqui que o paladar é atribuído a Teth no Sepher Yetzirah), ao passo que
a mesma Serpente é descrita no Gênesis como a Tentadora. Além disso, na medida em que
ela é ígnea e fundamental Força da Vida, ela é também a Redentora. Esta é a mesma ideia
aparentemente contraditória encontrada na principal carta da matéria, O Diabo, o qual tam-
bém é Tentador e Redentor. Curiosamente, o leão às vezes é relacionado com Saturno, a
suposta morada do Diabo. A Qabalah felizmente nos permite colocar estes símbolos numa
perspectiva muito clara, pois Binah-Saturno é a causa última do diabólico aprisionamento
da matéria.
Precisamos admitir que o leão tem sido usado em tantas culturas e panteões simbóli-
cos diferentes que passou a ter significados mutuamente exclusivos. Em geral, porém, as
referências ao leão estão relacionadas com sua força física. (Esta, de qualquer forma, não é
uma carta do intelecto). A força mais poderosa que o homem pode conceber é a Luz do Sol,
o regente de Leão. E, como iremos ver, ao leão é permitido abrir o Pergaminho Sagrado do
Apocalipse. Isto significa que o Poder Solar, representado por esta carta, pode abrir os níveis
superiores da consciência além do próprio Sol (Tiphereth). No simbolismo, isto é mostrado
sobretudo graficamente por representações do Deus Solar Mitra, que tem corpo de homem
e cabeça de leão.
O simbolismo do leão sempre implica uma força bruta que pode ser usada de forma
construtiva ou destrutiva. Este é o Caminho no qual a Espada de Geburah é formada, indi-
cando que está sempre presente a possibilidade de o filósofo ser esmagado pelo poder que
invoca. Esse perigo é enfatizado, por exemplo, na história de Daniel no Covil do Leão, a qual
está estreitamente relacionada com o simbolismo desta carta. Daniel, assim como Moisés, é
um Mago (Taumaturgo) que detém o poder destrutivo dos leões por meio da pura força de
vontade.
No simbolismo da Alquimia, o leão assume três formas diferentes. Primeiro, existe o
Leão Verde, a energia da natureza antes de ser purificada e submetida à vontade. Em se-
guida, vem o Leão Vermelho, representado na carta Luxúria. Esta é a força da natureza sob
perfeito controle, aquilo que os alquimistas descreveriam como o Enxofre (Energia Solar)
combinado com Mercúrio (Vontade). Em sua descrição dessa carta Waite dá ênfase a esse
significado representando o símbolo do infinito de O Mago acima da cabeça da mulher; esta
é a força de vontade diretora do décimo segundo Caminho, aquele que Mathers chama de
Mercúrio Filosófico. Por fim, existe o Leão Velho, significando a consciência completamente
purificada, a ligação de todos os componentes da Alma com o Sagrado Anjo Guardião, que é
mais velho do que o próprio tempo.
A Luxúria representa a mais importante fórmula iniciatória que lida com o Poder da
Serpente. Esse poder é utilizado para estimular os diversos cakras ou centros de energia do
corpo. Os princípios encerrados no número (tal com são definidos acima) nos ensinam como
utilizar este poder, o que não significa sugerir que o processo é frio e distante. Ao contrário,
o título de Crowley, Luxúria, é bastante apropriado. O que está envolvido é o desenvolvi-
mento de um frenesi divino sugerido pelas instruções frequentemente repetidas: inflama-te
a ti mesmo através da Oração. Ou então, com diziam os alquimistas, o calor do forno faz a
Pedra. O calor é uma grande paixão dentro dos limites de um exercício tal como o Pilar do
Meio.
No Apocalipse de São João, um dos grandes documentos qabalísticos, está escrito que
o Leão, símbolo da Tribo de Judá (os descendentes de Davi), havia conquistado o direito de
abrir o pergaminho e romper os sete selos. Quando os selos estão prestes a ser rompidos,
porém, descobrimos que o Cordeiro tomou o lugar do Leão. O Leão, de fato, transformou-se
9
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
no Cordeiro dos Sete Olhos. Estes são os sete cakras ativados pelo poder da Serpente-Leão.
Em termos qabalísticos, isto significa que controlar perfeitamente as energias simbolizadas
pelo Leão equivale a romper os selos do Livro da Realidade acima do Abismo. Tal como O
Eremita, A Luxúria também é uma passagem para Daath.
10
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
No Norte desse Templo, duas colunas se erguem: na base da coluna direita veja o símbolo
; na base da coluna esquerda veja o símbolo (pausa).
Entre essas duas colunas, visualize o Atu XI, Luxúria, como um portal (pausa).
Na inspiração, eleve-se no corpo de luz através do Pilar do Meio. Na medida em que passa
através da esfera de Levanah em Yesod e Shemesh em Tiphereth, vá adiante até atraves-
sar o limiar prateado de Daath, parando entre Chokmah e Binah. Essa é a dimensão do
ājñā-cakra (pausa).
Execute o Sinal de Hórus (entrante) astralmente, projetando-se através do ājñā-cakra
(pausa).
Tendo atravessado esse limiar, você projetou-se para fora de sua estrutura física, para
dentro do plano astral, Yetzirah, o macrocosmo. Esse é o momento para iniciar sua jor-
nada com o corpo de luz.
Projete-se para dentro do Portal da Luxúria de Teth. Abra os olhos e os ouvidos de seu
corpo astral para que posas ver e escutar (pausa).
Estágio 6: Encerramento
Retraia a consciência no ājñā-cakra novamente, retornando através de Daath, Tiphereth
e Yesod a Malkuth (pausa).
Quando sentir seu corpo na esfera da sensação, abra os olhos, levante-se e execute o Ri-
tual do Pentagrama (banindo).
Anote tudo em seu diário mágico.
11
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Estabeleça em tua Kaaba um escritório
Frater ON120
Fernando Liguori
12
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
sem seiva de cascas podres. Um religioso irá acreditar que precisa de um lugar físico para
ter acesso a Deus. Um católico vai à igreja se encontrar com Deus, pois supostamente ali é
sua casa. No entanto, para todo thelemita, não existe deus senão o homem. Não se trata de
um axioma que denigre a posição de Deus em relação ao homem, mas ao contrário, é uma
injunção que concorda com a lei hermética de que assim como é acima também é abaixo.
Este é um princípio hermético que se acredita ter sido transmitido diretamente por Hermes
Trismegistus nas palavras: aquilo que está abaixo é como aquilo que está acima, aquilo que
está acima é como aquilo que está abaixo para a proeza do milagre da substância única. Isso
significa que nenhum thelemita precisa de algo externo a si mesmo para estar em contato
com Deus. Uma vez que o homem foi feito a imagem de Deus, cada um de nós deve se focar
na meta de se tornar um duplo de Deus na Terra, vivendo no plano dos discos como um
Deus. E como Thelema propõe que isso seja feito? Através da construção e harmonização da
Árvore da Vida no interior de cada um, um trabalho que Crowley concebeu através do sis-
tema mágico e místico da A∴A∴.
Dessa maneira, o trabalho no sistema da A∴A∴ trata-se da construção de um cubo ao
redor de nossa Pedra Negra interior, um trabalho que começa na construção da pirâmide na
ocasião do Ritual de Iniciação do Neófito. Trata-se, portanto, da construção da Casa de Deus
mencionada em O Livro da Lei I:57, que é o nosso próprio corpo físico. Dessa maneira, o
corpo de cada thelemita é sua Kaaba, representada pelo quadrado mágico em Cada um dos
Graus da A∴A∴, no caso de um Neófito: 1°=10⌷.
No sistema de iniciação proposto pela A∴A∴ dois são os eventos mágico-espirituais
mais importantes: o primeiro é o Conhecimento & a Conversação com o Sagrado Anjo Guar-
dião na esfera de Tiphereth e o segundo é o Cruzamento do Abismo, que ele deve vencer a
fim de residir permanentemente no Castelo do Santo Graal na esfera de Binah. No primeiro
evento, o jovem Adepto deve buscar o auxílio de seu daimon particular, que então o irá guiar
entre os impulsos do desejo e as volições da vontade em direção a vastidão dos golfos negros
de Nuit. Neste processo, seu daimon ou Sagrado Anjo Guardião irá auxiliar o Adepto no em-
prego bem-sucedido da Verdadeira Vontade, a Pedra Negra dentro da Kaaba. No segundo
evento, entretanto, o Adepto deve cruzar o Abismo e residir permanentemente em sua Pe-
dra Negra ou Verdadeira Vontade.
Uma vez que a Kaaba é o próprio corpo físico como um templo ou veículo divino, do que se
trata, exatamente, deste escritório estabelecido na Kaaba?
Um escritório, independentemente de sua natureza, é onde trabalhamos com assun-
tos triviais da vida sem ânsia de resultado, onde tudo deve ser bem feito, com estilo de negócio.
Por essa injunção de O Livro da Lei III:41, entende-se um trabalho feito de maneira eficiente,
ordenada, sem perda de tempo ou energia. Uma vez que aqui tratamos de assuntos espiri-
tuais conectados ao sistema de iniciação thelêmico, o negócio estabelecido em nosso escri-
tório é da mesma natureza de nossa Verdadeira Vontade, que deve ser empregada de forma
diligente. Sucesso é tua prova: não discutas; não convertas; não fales em demasia!6 Em outras
palavras, nesse escritório se estabelece a regra da Vontade, noção que norteia cada um de
nós thelemitas na escolha madura entre os desejos desmedidos do complexo ego-persona-
lidade e a Verdadeira Vontade.
De outra maneira, o escritório ainda é um estado lúcido e prístino iluminado pela Es-
trela do Adepto. A Luz (LVX) dessa Estrela atrai muitas mariposas, seus alunos na jornada
13
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
da alma. Por sua característica prístina, a Luz que ilumina o caminho de muitos também
queima. Eles irão precisar de luz para que possam iniciar sua jornada de forma segura e
nesse processo o Adepto precisa ser cauteloso e zeloso para não se distrair da realidade que
representa e vive. Seus estudantes são atraídos por essa luz no intuito de serem instruídos
a encontrar seu caminho também para a luz. Nesse processo o Adepto terá a oportunidade
de examinar sua própria Árvore da Vida da perspectiva do estudante, podendo dessa ma-
neira ajustar arestas e cortar galhos velhos e carcomidos. Quer dizer, pode revisar seu tra-
balho mágico a fim de terminar ordálios que por ventura não foram concluídos.
A evolução nos Graus da A∴A∴ pode ser comparada a escalada de uma montanha. Em
Uma Estrela à Vista Crowley menciona que nenhuma consecução é oficialmente reconhecida
pela A∴A∴ a não ser que o inferior imediato da pessoa em questão tenha sido preparado para
substituí-la. Embora essa não seja uma regra amplamente aplicada, como dito em uma nota
desse mesmo documento, cada Adepto deve se manter amorosamente conectado a seu
aluno, da mesma forma que um alpinista experiente sobe a montanha na frente de outros
alpinistas menos experientes, conectado com eles por uma corda. Ele deve sempre se preo-
cupar em manter a corda relativamente tencionada ao mesmo tempo com certa folga. Isso
significa que ocorre entre Preceptor e aluno um fluxo contínuo de ajustamento que equilibra
a subida de ambos através dos Graus da Ordem. Esse tipo de ajustamento só ocorre em uma
relação conhecida no hinduísmo como paramparā, palavra sânscrita que significa sucessão
discipular, onde o Guru tem a oportunidade de transmitir a seu discípulo o darśam da Cor-
rente Mágica.
O processo de se estabelecer a Kaaba e seu escritório ocorre no Grau de Amante, onde
se inicia um entendimento novo acerca do universo. Crowley disse que o sistema thelêmico
de iniciação divide-se em três etapas, que constituem uma apenas: os membros da Ordem
Externa devem ser testados na labuta do trabalho e na dor; os membros da Ordem Interna
devem ser testados no intelecto e os membros da Ordem Secreta devem ser testados no
espírito.7 Quando na Ordem Interna ou Grau de Amante, o Adepto deve estabelecer a Lei de
seu próprio Universo no qual sua Estrela é o centro. É nesta etapa que a Kaaba é estruturada
e seu escritório é estabelecido de maneira apropriada.
Dessa maneira, o Outer College Brasil definiu que apenas Adeptos Menores (internos)
poderão começar a instruir Probacionistas na A∴A∴. É quando o Escritório é estabelecido
como uma extensão da Kaaba, escolhendo um nome derivado do conteúdo de O Livro da Lei
como o estabelecimento de uma zona de poder da A∴A∴. Isso só pode ocorrer somente
quando o Adepto se estabelece em si mesmo, definindo a Lei que sua Estrela traz ao Mundo.
Geralmente ele confecciona um talismã ou até mesmo um mapa astrológico como emblema
dessa tarefa. Concluindo essa etapa, o Adepto está apto a abrir seu Escritório.
Cada Escritório da A∴A∴ é estabelecido como uma extensão da Kaaba que é o próprio
Adepto e portanto solidificada sob as bases de sua Verdadeira Vontade. Sucesso é a tua
prova!
14
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Uma Loja da O.T.O. na sua casa
Frater ON120
Fernando Liguori
P ara muitos thelemitas que têm um primeiro contato com Thelema, fazer parte das
duas maiores organizações espirituais que difundem essa Filosofia é um sonho de
consumo. Eu me refiro a A∴A∴ e principalmente a misteriosa O.T.O., Ordo Templi
Orientis. No Brasil é mais fácil ter acesso a A∴A∴, uma vez que existem pelo menos
três linhas de transmissão de chancelarias distintas. No entanto, a O.T.O. só possui três cor-
pos locais nas cidades do Rio de Janeiro, Belo Horizonte e São Paulo. Uma vez que a O.T.O.
não promove iniciações a distância, para ser iniciado o Candidato deve se dirigir a um desses
corpos locais. Mas nem todo thelemita do Brasil pode se deslocar para receber essas inicia-
ções. Para estes, participar da O.T.O. é um sonho distante.
Nas edições de O Olho de Hoor eu me propus a publicar um ensaio dividido em partes
chamado O Magista Thelêmico: a Iniciação em Casa & o Caminho do Adepto Solitário. Para
escrever esse ensaio eu estou me baseando na minha experiência pessoal como praticante
de Thelema através das fórmulas mágicas fornecidas pela A∴A∴ e O.T.O. há vinte anos. Não
é necessário, no entanto, estar afiliado a nenhuma dessas organizações para ser thelemita.
Na verdade, muitos são da A∴A∴ e nem sabem disso. Thelema deve começar no seu coração
e para ser um thelemita o primeiro requisito é reconhecer a doutrina expressa em O Livro
da Lei como um sistema mágico de iniciação pessoal, passando dessa forma a viver estabe-
lecido na Lei de Thelema como referência de estilo de vida e filosofia prática. Tendo aceitado
O Livro da Lei sem o desejo de alterá-lo, o Candidato pode começar a definir-se como um
thelemita. Mas este é só o primeiro passo e precisamos ir além.
Embora a O.T.O. seja uma comunidade de thelemitas, Thelema é melhor aplicada no
contexto de busca pessoal e essa era uma das maiores preocupações de Crowley quando
formulou o sistema de iniciação da A∴A∴, eliminando os problemas que comumente apare-
cem em um trabalho espiritual coletivo. Dessa maneira, cada thelemita pode levar para den-
tro de sua casa todo o simbolismo da O.T.O., a fim de praticá-lo de forma independente no
contexto da família. Em sua casa você pode montar uma Loja da Ordem para celebrar a Missa
Gnóstica – o rito central da O.T.O., praticado tanto público quanto fechado, que transmite
através de seu simbolismo o segredo central da Ordem, guardado no Soberano Santuário da
Gnose, IX° Grau – os Ritos de Eleusis etc.
A necessidade de explorar esse tema nasceu dos ritos de auto iniciação baseados nos
Rituais de Iniciação da O.T.O. escritos por Crowley que eu, Rodrigo Duque, Tarcísio Oliveira
e Euclydes Lacerda produzimos juntos para versão brasileira da O.T.O.
No início de 1998, Euclydes nos apresentou o projeto da Tradição Brasileira da O.T.O.
«Parzival XI° - Aster IX°». Impelido pela influência de Kenneth Grant, Euclydes queria res-
taurar o verdadeiro poder de iniciação da O.T.O. revisando os Rituais de Grau e o sistema
como um todo. Sua intenção era alinhar a O.T.O. com a cultura tântrica sem perder as carac-
terísticas templárias de iniciação. Sua inspiração, além das ideias de Kenneth Grant, foram
às teorias formuladas por J. Edward Cornelius que, na época, editava uma revista – Red
Flame – através de sua linha da A∴A∴. Cornelius criticou severamente o sistema de iniciação
da O.T.O. moderna, propondo uma revisão nos rituais. Sua intenção – assim como Grant em
15
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
suas trilogias – era reestabelecer os Mistérios da Espiritualidade Feminina na Ordem. Por
isso e outras desavenças envolvendo a A∴A∴ Cornelius foi expulso da O.T.O. em março de
2000, o ano e o mês em que eu fui admitido a O.T.O. no Grau de Minerval.
Diferente de Grant que dissolveu toda estrutura maçônica da Ordem criando uma es-
pécie de fusão – que não deu certo – entre a A∴A∴ e a O.T.O. para constituir sua O.T.O. Tifo-
niana (hoje Ordo Typhonis), Lacerda manteve a estrutura de iniciação para sua O.T.O. Brasi-
leira, com todos os Graus da Ordem.
Nós revisamos e reescrevemos muitas passagens nos rituais de Crowley, deixando-os
adequados a iniciação das mulheres na Ordem. Esse trabalho levou quase dois anos. Mas no
fim de 1999 a O.T.O. Tradição Brasileira estava com todos os rituais revisados e uma Loja
montada para executá-los, o Templo do Sol.
Para elucidar os mistérios contidos nos Rituais de Iniciação da O.T.O., que encerram
todo o simbolismo dos Graus da Ordem eu venho produzindo as Crônicas da O.T.O., publica-
das como Rituais, Documentos & a Magia Sexual da O.T.O.
Inspirado na escrita desses dois ensaios, O Magista Thelêmico e o segundo volume das Crô-
nicas da O.T.O., decidi tecer algumas palavras sobre o estabelecimento de uma Loja em casa
para esse número do Corrente 93. As ideias que se seguem nasceram de horas de instrução
com Euclydes Lacerda e Tarcísio Oliveira, meu Superior direto na A∴A∴ e Líder da O.C.T.,
Ordem dos Cavaleiros de Thelema. Nós idealizamos um regime de Lojas Familiares para a
tradição brasileira da O.T.O., mas que depois foram adotadas para O.C.T. por um breve perí-
odo de tempo.
Uma Loja da O.T.O. tem a função principal de conectar um grupo de pessoas interes-
sadas em viver como thelemitas, um grupo de pessoas que orientam ou norteiam suas vidas
pelas premissas expostas em O Livro da Lei. Em um contexto familiar, você pode convidar
parentes e até amigos próximos para participar da Missa Gnóstica junto a sua esposa e fi-
lhos. É uma condição ideal que todos os membros da família estejam em acordo e trabalhem
para o estabelecimento da Loja familiar. Isso significa que a esposa e os filhos devem parti-
cipar de todas as atividades sociais da Loja: rituais, classes de instrução hermética, práticas
de yoga, festas, comemorações, celebrações, workshops e até sacramentos como casamen-
tos e batismos, caso o empreendimento cresça de maneira próspera. A Loja funcionará,
dessa maneira, como um Clã, envolvendo um grupo fechado de pessoas que se respeitam e
se reconhecem como buscadores.
16
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Cada Loja, ainda, pode desenvolver seu próprio sistema de iniciação, o que é até mais
adequado. Os Rituais de Iniciação da O.T.O. podem ser utilizados para invocar a egrégora da
Ordem. Para a tradição brasileira da O.T.O., nós adotamos uma revisão desses rituais deixa-
dos por Crowley e os adaptamos para que pudessem permitir a adequada presença de mu-
lheres e para que servissem de rituais auto-iniciatórios. Aqui é preciso esclarecer, mais uma
vez como tenho feito nas Crônicas da O.T.O., que os Rituais de Iniciação deixados por
Crowley são inadequados a participação feminina, uma vez que transmitem o mistério do
Falo. Para corrigir esse erro, nós fizemos algumas alterações nos rituais de Crowley, possi-
bilitando a participação plena de mulheres nos mistérios transmitidos pela Ordem.
Mas este não se trata de um empreendimento fácil. Uma Loja Familiar funcionando a
pleno vapor costuma ter atividade cinco dias por semana. É preciso ter muita disciplina e
foco pois muitas vezes o banheiro, a cozinha, os quartos, a sala e até o quintal se tornarão
centro de treinamento, abadia, templo, monastério etc. E ainda, muito trabalho. A mesa de
jantar precisa virar altar para a cerimônia da noite. O altar da cerimônia precisa voltar a ser
mesa de jantar para todos comerem pela manhã. As bandeiras dos quadrantes devem entrar
e sair da parede, armas mágicas têm de ser mantidas consagradas e guardadas, colunas de-
vem trocar de lugar com sofás, bancos e cadeiras segundo a rotina da casa e da Loja. Nesse
processo, sua casa se tornará uma zona de poder e é preciso se manter sempre no eixo para
suportar essa roda de energia se movimentando de maneira equilibrada.
Essa é uma maneira muito apropriada de se praticar o ocultismo, pois ele se torna
algo vivo e palpável. Ao entrar em sua casa, não se trata apenas de uma casa: você está en-
trando em um templo. Mas não se trata somente de um templo, mas de uma escola de inici-
ação. Da mesma maneira que o caminho se faz caminhando, aprende-se melhor magia ensi-
nando magia. Você notará que ao ensinar algo para alguém, está em primeiro lugar ensi-
nando para si mesmo. E o mais importante: muitas vezes você só saberá o que precisa saber
sobre um assunto quando o ensinar para alguém.
Por volta de 2008 e.v. eu decidi permanecer um período de tempo estudando e prati-
cando a Tradição Esotérica Oriental. Desse ano até 2012 e.v. eu mantive um centro tântrico
de iniciação em minha casa, no seio da família. Era o início do Instituto Kaula. Naquele perí-
odo não se tratava de um instituto, mas de uma zona de poder de treinamento espiritual,
escola de tantra, yoga e āyurveda. Nós oferecíamos terapias ayurvédicas como massagem,
agni-hotra ou cerimônia do fogo, um ritual tradicional hindu, além de cursos e workshops
em várias áreas que envolvem o yoga. Foi um intenso período de trabalho onde só tirei férias
de cinco dias no fim de cada ano. No entanto, foi o período que mais estive imerso na Tradi-
ção Oriental. Mas a experiência necessária para esse trabalho eu obtive anos antes, na época
da Loja Shaitan-Aiwaz.
A Loja Shaitan-Aiwaz (de 2003 a 2008 e.v.) foi uma universidade em minha jornada e
o Espaço Kaula Yoga (2008 a 2012 e.v.) foi minha especialização. O sistema de iniciação que
escolhi operar na Loja Shaitan-Aiwaz era a cosmovisão tifoniana de Kenneth Grant e minha
intenção era aterrar no Brasil a mesma corrente canalizada por Grant no período da Loja
Nova Ísis. No Templo da Loja nós executávamos muitas operações de Alta Magia e incursões
astrais nos Túneis de Seth. Nos trabalhos da Loja Shaitan-Aiwaz nós acreditávamos estar
operando com a Corrente Seth-Sírus. A Loja ainda realizava iniciações para abertura de ou-
tras zonas de poder que funcionassem na mesma corrente e de 2004 a 2007 e.v. cinco célu-
las desse trabalho foram inauguradas no Brasil em cinco estados diferentes. Os trabalhos da
Loja Shaitan-Aiwaz foram encerrados definitivamente em uma cerimônia mágica realizada
em 2009 e.v.
17
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Templo da Loja Shaitan-Aiwaz.
Dessa maneira, se você pensa não poder ter acesso a corrente mágica da O.T.O. porque ela
está longe de você, está enganado. Através dos rituais de auto-iniciação reescritos por Eu-
clydes Lacerda, da execução sistemática da Missa Gnóstica e dos Ritos de Eleusis você pode
aterrar a egrégora da Ordem e trabalhar com ela de forma independente, no contexto fami-
liar. Mas veja bem, através desse trabalho você pode estabelecer uma conexão mágica com
a corrente espiritual da O.T.O., no entanto, será inapropriado que você se diga membro do
corpo de afiliados da Ordem. Para isso, você deve procurar uma Loja, Oásis ou Acampa-
mento na intenção de se tornar um membro efetivo. A finalidade dessa epístola é conscien-
tizar você, leitor do Corrente 93, de que o acesso a corrente mágica da O.T.O. não está limi-
tado a uma patente assinada. Dessa maneira, caso não possa estar entrando em contato com
um corpo local da O.T.O., você pode estabelecer em sua casa a sua própria Loja da Ordem,
com acesso direto ao influxo espiritual que a alimenta. O primeiro passo é este: aceitar a Lei
de Thelema e a doutrina transmitida pelo O Livro da Lei e todo o cânone thelêmico, se pro-
pondo a viver um estilo de vida que esteja em harmonia com os códices de Thelema.
O segundo passo é se aprofundar completamente nos mistérios da Ordem. Existem
inúmeros sites e artigos que tratam da história e estrutura iniciática da O.T.O. Compre livros
que tratam dos assuntos e interesses da Ordem. Tudo o que você precisa saber sobre a O.T.O.
está publicado. Todos os segredos, todas as palavras de passe e todo o simbolismo dos ritu-
ais, tudo, absolutamente tudo, está publicado. Entre em contato com membros e entusiastas
da Ordem, participe de fóruns sociais e esteja por dentro dos trabalhos da comunidade the-
lêmica de sua região e do mundo.
18
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Ademais, o verdadeiro segredo da O.T.O., aquele que realmente faz a diferença, nunca
foi escrito em um lugar que a visão do homem possa ver ou sua mão possa tocar. O verda-
deiro segredo da O.T.O. deve ser buscado nos planos internos. Vale sempre lembrar que a
O.T.O. é uma Ordem de Mistérios Menores. Na tradição da A∴A∴, uma Ordem de Mistérios
Menores é conhecida pelo termo de Ordem Externa. Dessa maneira, cada thelemita deve
buscar estar vinculado a fonte que alimenta a egrégora da O.T.O. e essa fonte reside na Or-
dem Secreta ou Colegiado dos Magus, a Ordem da Estrela de Prata. Dessa maneira, a O.T.O.
opera como um veículo cuja finalidade é construir uma comunidade de thelemitas e o rito
principal utilizado nessa função é a Missa Gnóstica.
Se na sua casa existe espaço para acomodar algumas pessoas sentadas, ofereça classes
de instrução pelo menos uma vez por semana. Estude os tópicos abordados e esteja prepa-
rado para perguntas. Faça uma boa divulgação de seu trabalho. Coloque panfletos em livra-
rias esotéricas. Abra fóruns de debate no Facebook e circule informativos contendo um bom
material de pesquisa. Formule também um manifesto declarando as intenções de sua Loja e
caso queira coloque seu endereço para que as pessoas possam entrar em contato.
Nunca desmarque uma classe de instrução. Caso apenas uma pessoa participe, dê a
aula assim mesmo, como se estivesse falando para dez ou quinze pessoas. Eleja um texto
base ou livro para suas cátedras. Por exemplo, para começar você pode utilizar o Livro de
DuQuette, A Magia de Aleister Crowley ou ainda as duas edições publicadas de O Olho de
Hoor. Atualmente eu tenho ministrado aulas de formação em yoga para um grupo de thele-
mitas em minha casa (Loja) e as venho publicando no canal do You Tube do Corrente 93.
Você pode ministrar aulas de Tarot e Qabalah, Astrologia, Yoga e Magia. Há um universo a
ser explorado por você e quanto mais se esforçar para ensinar, mais se esforçará para estu-
dar e aprender. O crescimento e a evolução espiritual só ocorrem por meio da cooperação,
nunca através da competição. Ajude outros thelemitas como você a compreenderem os fun-
damentos de Thelema. Permita que seus familiares, esposa e filhos participem de suas cáte-
dras. Em pouco tempo, se o seu trabalho for sincero e se você tiver firmeza de propósito, um
clã será formado por uma comunidade de pessoas. Nesse caminho, uma Ordem autêntica
está no processo para se formar.
Eu gostaria de dividir alguns apontamentos com você. Eu os tenho aprendido por
vinte anos no contesto de Lojas familiares e penso que serão úteis à sua jornada como Mes-
tre de Loja:
19
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Tenha uma classe de instrução sistemática e consistente. Mesmo com poucas pes-
soas comparecendo, não desista. Em pouco tempo suas reuniões ficarão conhecidas.
Não estenda muito o tempo nessas reuniões. Uma hora basta. Trinta minutos de ins-
trução e trinta minutos de perguntas e respostas. Cursos e workshops podem ter o
tempo maior, mas em instruções semanais as pessoas não costumam ter muito
tempo.
Comece suas instruções com uma prática meditativa. Se o público for receptivo, re-
alize o Ritual Menor do Pentagrama e se possível, o Ritual do Pilar do Meio. É muito
importante que todos os participantes executem juntos a Cruz Qabalística para um
alinhamento coletivo dos corpos sutis. Se todos puderem se concentrar no Ritual do
Pilar do Meio, ainda melhor. Mas caso você não possa realizar esses dois rituais por
conta de seu público – e em aulas inaugurais isso é muito comum – apenas conduza
uma visualização para um relaxamento coletivo e um estado de mente mais concen-
trado por parte de todos os que participarem.
Seja sempre muito pontual. Comece e termine no horário proposto. Tenha flexibili-
dade, mas também exija disciplina. Alunos com mais de quinze minutos de atraso
não devem atrapalhar o curso da cátedra.
Esteja preparado para falar para todo tipo de ocultistas, estudantes iniciantes ou
avançados. Não procure utilizar palavras ou linguajar difícil e muito técnico. Use ter-
mos mais comuns e faça constantes analogias com os sistemas de crença dos parti-
cipantes.
Nunca pense em ganhar dinheiro com suas classes de instrução. Procure tirar dessas
classes apenas o suficiente para sustenta-la, um montante que dê para pagar o chá
e as bolachas que irá oferecer. Estabeleça dois períodos para pedir aos participantes
que contribuam com seus esforços. Eles podem ser no início e no fim de cada instru-
ção. R$5 de cada participante já é o suficiente para pagar a manutenção de suas cá-
tedras. Pessoalmente, costumo cobrar um valor simbólico de R$11 para cada classe
de instrução, que envolve não apenas a teoria ou conhecimento intelectual, mas pelo
menos uma prática qabalística de teurgia seguida de meditação.
Antes de cada classe de instrução, limpe bem a sua casa. É o mínimo a fazer por seus
estudantes. Se você não pode limpar a sua casa antes da chegada de seus estudantes,
também não pode banir uma criatura maléfica de seu templo. Ademais, uma casa
limpa e organizada demonstrará a todos que a prática sadia do ocultismo produz
equilíbrio, organização, zelo, comprometimento e disciplina.
Não ofereça guloseimas ou fast food em suas cátedras. Chá verde é ótimo para esti-
mular a concentração. Procure biscoitos mais naturais, sem açúcar e os distribua
moderadamente. É melhor que ofereça no início apenas o chá e deixe para o fim os
biscoitos. Antes de práticas meditativas e ritualísticas não é bom comer nada.
Procure distribuir em papel o assunto tratado na classe de instrução. Caso seja um
livro que esteja estudando, tire cópias das páginas para seus estudantes e permita
que cada um leia um pouco durante a instrução. Isso irá criar um senso de coopera-
ção e auxiliará alguns sonolentos a despertarem.
Caso você vá fazer um ritual coletivo, permita que seus estudantes participem ativa-
mente do mesmo, fazendo invocações, banimentos, abertura de portais etc.
Faça a magia acontecer, quer dizer, não fale apenas de magia, mas realize-a na frente
de seus alunos. Consagre talismãs, ensine-os a fazer de roupas simples túnicas má-
gicas, realize com eles projeções astrais nos Caminhos da Árvore da Vida e sugira
que todos façam uma prática semanal na mesma hora, como telepatia por exemplo.
Esteja intensamente envolvido no desenvolvimento mágico-espiritual de seus alu-
nos. Cobre relatórios de práticas e tenha conversas profundas com eles acerca da
Filosofia de Thelema e como ela pode ser aplicada no dia-a-dia.
20
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Um dos grande problemas em Thelema é encontrar um professor que seja apto a ensinar e
que queira de verdade e com compromisso ensinar. Quando eu fui admitido a O.T.O. no Gau
de Minerval, não tive nenhum suporte por parte da liderança. Na época, a desculpa que se
ouvia era que os Minervais deveriam buscar as respostas. É verdade, cada um deve buscar
por si mesmo as respostas e ninguém tem obrigações de revela-la a você. No entanto, uma
das funções principais da O.T.O. é formar uma comunidade de thelemitas. Isso envolve não
apenas cuidado com os membros, mas zelo com o processo espiritual de cada um. Sem esse
zelo por parte do Mestre da Loja, os estudantes não criam laços permanentes e verdadeiros
com a corrente mágica e sem isso não há egrégora. Quando uma comunidade está sendo
criada, deve haver algo que os uma. Trata-se de um elo verdadeiramente fraterno de amor
entre os irmãos e isso é impossível de ser descrito em palavras, salvo a sensação de ternura
e conforto que produz em nossos corações.
21
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Projeção Astral & o Tarot
Frater ON120
Fernando Liguori
A projeção astral é uma das tarefas do Neófito 1°=10 A∴A∴ que deve empreen-
der esforços em obter um controle científico da natureza e dos poderes de meu
próprio Ser.8 De acordo com Liber 185, que trata das tarefas de cada Grau na
A∴A∴, o Neófito deve aperfeiçoar todas as lições encontradas em Liber O vel Ma-
nus et Sagittae e mais precisamente, a execução da magia cerimonial e o domínio
do pano astral.
No Colegiado da Luz Hermética, que pera como uma Ordem a Serviço da A∴A∴, muita
ênfase é dada a projeção do corpo de luz e a exploração sistemática das mais diversas áreas
do plano astral. Já no período de probação, ao Candidato é solicitado executar uma série de
jornadas no plano astral utilizando os Atus do Tarot de Thoth. Uma vez que a magia enochi-
ana e a exploração nos 30 Aethyrs tem um papel fundamental no corpo de iniciação do Co-
legiado, todo Candidato tem que empreender esforços em desenvolver a habilidade de se
projetar no corpo de luz.
Existem muitos livros populares que tratam da projeção astral. Infelizmente, a maio-
ria deles traz informações muito precárias e às vezes bem equivocadas acerca deste traba-
lho. No meu livro Curso de Filosofia Oculta (Vol. I) eu tratei de uma série de leis importantes
pelas quais a magia opera. Uma dela foi: a criação nos planos espirituais leva a criação no
plano físico. A magia não age através de casualidade sobrenatural. Ao contrário, ela opera
de acordo com leis naturais. A Tradição Oculta ensina que para haver criação no nível físico,
seja qual for, primeiro ela tem de ter existência em um plano não físico, de natureza espiri-
tual, comumente chamado de plano astral. O corpo físico é uma manifestação do corpo astral
e tudo o que existe no plano astral naturalmente se manifesta no plano físico. Os rituais de
magia são construídos na intenção de influenciarem o plano astral. Eventualmente, como re-
sultado de uma execução bem-sucedida, os efeitos do ritual se materializam no plano físico.
Os magistas, portanto, sabem como utilizar a ciência da construção dos rituais de maneira a
cravejar sua vontade na matéria protoplasmática astral. Assim, por meio do ritual, eles po-
dem usar a magia para criar o que desejam no plano físico.
Uma maneira muito simples de observar essa lei da magia atuando naturalmente em
nossas vidas é através dos sonhos. Todos nós em algum momento de nossas vidas já passa-
mos pela experiência de ver acontecer algo no plano físico que sonhamos anteriormente. A
tradição ensina que os sonhos acontecem no plano astral e estão conectados ao nosso sub-
consciente. Dessa maneira, o subconsciente é a conexão entre o plano astral e o mundo fí-
sico. Qualquer ideia ou vontade lançada ao subconsciente automaticamente está sendo cra-
vada na luz astral protoplasmática e eventualmente ela irá se manifestar no plano físico.
Assim, usando a faculdade mental da concentração ou visualização pura, repetidamente
projetando situações que gostaríamos que se realizassem no plano dos discos na forma de
imagens no subconsciente, estamos construindo e estabilizando essas projeções no plano
astral. Uma vez compreendido essas ideias simples, surgem as indagações:
22
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Como projetar meu corpo de luz?
Como explorar o plano astral?
Uma vez que eu esteja no plano astral, como criar naquela região eventos que se
manifestem no plano físico?
Eu irei procurar sanar essas dúvidas brevemente, mas antes, gostaria de fazer três aponta-
mentos importantes sobre a projeção do corpo de luz que penso serem importantes nessa
etapa de nosso estudo.
1. A projeção astral é algo muito comum. Todos nós projetamos naturalmente o corpo
de luz, seja a noite quando estamos dormindo ou mesmo no estado de vigília,
quando nos encontramos sonhando acordados. Assim, não se trata de uma faculdade
ainda a ser desenvolvida. Antes disso, trata-se de aperfeiçoar a consciência de saída
ou projeção do corpo de luz. Isso leva ao segundo apontamento.
2. É necessário certo nível de vontade. Até que a projeção astral seja algo que aconteça
conscientemente, é necessária uma vontade profunda para que isso ocorra. É neste
ponto que muitos Néofitos da A∴A∴ falham em sua tarefa, pois até que esse poder
de se projetar conscientemente seja aperfeiçoado, a meta deve ser esforçar-se para
desenvolvê-lo e isso implica em atenção ou devoção total a causa. A projeção deve
se tornar neste período a meta única do universo! Isso leva ao terceiro apontamento.
3. Visualização é a chave. Existem três maneiras de projetar o corpo de luz. Uma delas
é visualizar uma imagem de si mesmo ou duplo astral. Quando a visualização for
nítida e firme o suficiente, o magista deve então, através do poder de sua vontade,
transferir sua consciência ao duplo astral e a partir daí projetar-se através dos Atus
de Tahuti, portais, véus etc. e explorar o plano astral. Esse é o método que o Colegi-
ado da Luz Hermética ensina e foi amplamente desenvolvido em minha obra Os Ri-
tuais do Tarot, que ainda está em fase de construção. A segunda maneira é aquela
explorada pelos xamãs. Através da assunção de formas animalescas o magista pro-
jeta-se astralmente para a região que deseja explorar, geralmente com o auxílio da
identificação animista através do som rítmico de tambores e a utilização de peles,
pelos, chifres e pinturas corporais. A terceira maneira, recomendada para magistas
que são proficientes na primeira, é projetar-se astralmente para a região que deseja
explorar como se estivesse pulando diretamente para dentro dela. Aqui é necessário
que o magista já tenha construído conexões firmes com o plano astral. Essas duas
últimas técnicas eu desenvolvi completamente em meu livro As Árvores da Eterni-
dade, que também está em fase de construção.
Uma vez que o magista tenha desenvolvido proficiência na técnica de projetar o corpo de
luz, é necessário um plano de viagem. Para fazer isso, portanto, é preciso um mapa do local
que ele deseja explorar e esse mapa é conhecido na Tradição de Mistérios do Ocidente como
a Árvore da Vida.
A Árvore da Vida é um diagrama com dez esferas arranjadas de forma equilibrada
com vinte e dois caminhos as conectando. Essas esferas irão funcionar como estações ou
pontos de parada e partida que representam diferentes níveis e formas de energia. Cada
uma delas é assim uma área ou nível distinto no plano astral e o acesso a elas são os cami-
nhos. Estes caminhos são representados pelos Arcanos Maiores do Tarot através dos quais
o magista irá se projetar no plano astral.
Sucintamente, o que se segue é uma prática simples que pode ser empreendida por
qualquer Estudante dos Mistérios.
23
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Prática
Estágio 1: Preparação
Escolha um lugar onde não será incomodado.
Queime um incenso que goste, mas preferivelmente utilize um aroma que tenha conexão
com a área que deseja explorar.
Sente-se confortavelmente em uma cadeira.
Se você precisa de um som para criar um ambiente que facilite sua projeção, escolha uma
música calma e relaxante e se certifique que ela continuará se repetindo até o fim da
prática.
Estágio 2: Ritual do Pentagrama
Frente ao Norte, realize o Ritual do Pentagrama (invocando).
Estágio 3: Declaração
Após a execução do Ritual do Pentagrama, ainda de pé, declare o objetivo de sua prática.
(Por exemplo, se a sua intenção é curar-se de alguma mazela, diga: Minha intenção é atin-
gir a esfera de Hod, para que os seres de luz da Medicina de Mercúrio possam auxiliar na
cura de minha doença.)
Estágio 4: Relaxamento
Confortavelmente, relaxe todo o seu corpo, mas permaneça firme na postura.
Inspire profundamente.
Expire prolongadamente.
A cada expiração, relaxe mais o seu corpo.
Se permita sentir o peso do corpo sentado sobre a cadeira.
(Continue realizando respirações bem profundas até que esteja completamente calmo e re-
laxado.)
Estágio 5: Visualização
Com os olhos fechados, visualize seu duplo astral se formando a sua frente.
O duplo astral deve ser uma imagem perfeita de si mesmo, vestido com as vestes da arte.
A visualização tem de ser perfeita.
Estágio 6: Transferência
Agora, com cada fibra de vontade de seu corpo, transfira sua consciência ao seu duplo
astral.
Nessa transferência existe uma mudança real na percepção e você poderá senti-la com
facilidade, caso a transferência seja positiva.
Abra seus olhos.
Neste momento você irá ver através de seu duplo astral e algumas coisas podem aconte-
cer:
a. Não aconteceu. A transferência de consciência não deu certo. Neste caso, encerre a
prática com o Ritual do Pentagrama (banindo) e tente novamente em um ou dois
dias.
b. Aconteceu. Surpresa! Ao abrir os olhos você consegue ver o plano astral. Essa pri-
meira visão pode assustá-lo um pouco e caso isso aconteça, sua consciência retor-
nará automaticamente ao corpo físico. Com o treino sistemático você conseguirá
permanecer mais tempo no plano astral e esse deve ser um dos objetivos de sua
prática.
c. Estabilidade. Com o treino sistemático você será capaz de manter a calma e estabi-
lizar a estrutura de seu corpo de luz no plano astral, podendo continuar a experi-
ência.
Estágio 7: Exploração
Observe tudo ao seu redor com muito cuidado.
24
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Se você deseja que algo aconteça, isso deve acontecer. Se sua intenção é deslocar-se no
plano astral, você deve fazê-lo com facilidade. Se a sua intenção é criar algo no plano
astral, como seu templo astral por exemplo, poderá fazê-lo com facilidade.
(A criação do templo astral é importante, pois ele será o primeiro local que o magista irá
assim que projetar seu corpo de luz para então, a partir dali, explorar outras regiões do
plano astral. Este também será o último lugar que o magista irá antes de retornar sua cons-
ciência ao corpo físico.)
Estágio 7: Retorno e conclusão
Para finalizar a prática, retorne pelo mesmo caminho que iniciou.
O ver seu corpo físico, transfira a consciência para ele, sentando-se em seu colo na ca-
deira.
Permita que o duplo astral se funda com o corpo físico.
Respire profundamente e abra os olhos.
Execute o Ritual do Pentagrama banindo e anote tudo em seu diário mágico.
Uma das maiores dificuldades relatadas por Neófitos que começam seus trabalhos mais sé-
rios com a projeção do corpo de luz são os bloqueios que surgem nos Caminhos. Como eu
falei acima, esses bloqueios são de dois tipos.
Por conta do estilo de vida ocidental, o corpo físico e demais corpos sutis se encon-
tram deveras intoxicados. Neste caso, o magista deve empreender um sādhanā (prática es-
piritual) que purifique seus corpos. Esse sādhanā envolve a execução diária de exercícios
psicofisiológicos, invocações e orações, purificações, consagrações e comunhões sacramen-
tais. Além de uma dieta adequada em áreas como alimentação, sono e sexo para o refina-
mento dos sentidos.
Muitos Neófitos relatam que algumas vezes não conseguem penetrar ou passar a um
nível mais sutil porque encontram portais pelos quais não podem seguir adiante. Neste caso,
pode haver um grupo de entidades bloqueando o Caminho. A Tradição Oculta ensina que a
25
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
chave para desbloquear essa passagem no Caminho é o nome do guardião da esfera que o
magista está tentando acessar. O guardião de cada esfera é seu Arcanjo. Começando da es-
fera mais densa, Malkuth, subindo a Árvore da Vida temos:
10. Sandalphon
9. Gabriel
8. Michael
7. Haniel
6. Raphael
5. Khamael
4. Tzadkiel
3. Tzaphkiel
2. Ratziel
1. Metatron
O nome de cada Arcanjo, portanto, dá acesso ao próximo nível ou esfera. Cada esfera dá
acesso a outros Caminhos ou Atus de Tahuti através do qual o magista deverá continuar sua
jornada na Árvore da Vida. Quando a imagem da carta estiver estabilizada com nitidez, o
magista deve se projetar para dentro da carta entoando o nome do Arcanjo da esfera que
deseja atingir.
Cada nível ou sephirah da Árvore da Vida corresponde a uma variedade distinta de
conceitos e nem todos os níveis são apropriados a todas as técnicas de magia. A maneira
mais adequada de absorver todos os conceitos arranjados na Árvore da Vida é através da
experiência direta com cada sephirah e caminho, visitando-os com seu corpo de luz. O que
segue são algumas correspondências atribuídas a cada sephirah:
Yesod [Lua]: viagens seguras, reconciliações, casa, família, clarividência, sonhos, fei-
tiçaria.
Hod [Mercúrio]: negócios, sucesso comercial, sucesso acadêmico, adivinhação, li-
vros, artigos e escritos em geral, pechinchar, medicina, cura, mente, comunicação.
Netzach [Vênus]: beleza, amor, prazer, arte, música, festas, afrodisíacos, aromas e
perfumes.
Tiphereth [Sol]: amizade, saúde, harmonia, sorte, paz, rejuvenescimento, promoção,
espiritualização, iluminação, poder transcendental.
Geburah [Marte]: conflitos, caça, energia e vitalidade, cirurgiões e cirurgias, dentista,
polícia, guerras e conflitos, agressão, violência, força física, coragem, política, deba-
tes, competição, luxúria, atletismo.
Chesed [Júpiter]: especulação, jogos, saúde e prosperidade, liderança, ambição, car-
reira, materialismo, pobreza.
Binah [Saturno]: velhice, reencarnação, conhecimento esotérico, herança, términos.
Chokmah [Netuno]: poderes psíquicos, magnetismo, eletricidade, TV, rádio e ci-
nema.
Kether [Plutão]: ideias distantes, futuro distante, ideação, invenções, radiações.
Você notará que essas correspondências são simples em demasia. Isso porque neste ensaio
estou levando em consideração os atributos mais comuns de cada esfera quando associada
ao Tarot. Para um estudo mais profundo acerca dessas correspondências, veja o meu livro
Os Rituais do Tarot.
Utilizando as correspondências acima: suponha que você deseja melhorar as condi-
ções de sua carreira profissional. Projete seu corpo de luz até a esfera de Tiphereth com a
26
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
finalidade de trazer para sua vida mais harmonia e equilíbrio. Depois vá até a esfera de Hod
com a finalidade de trazer para sua vida mais capacidade de comunicação e expressão.
Neste ponto você já é capaz de perceber a importância do desdobramento astral e
incursões nos Caminhos da Árvore da Vida, principalmente sendo um Aspirante a Sagrada
Ordem A∴A∴. É no pano astral que o magista aprenderá os segredos espirituais e a partir de
onde ele poderá fazer mudanças em sua vida. Como Neófito da A∴A∴ ou um membro do
Colegiado da Luz Hermética, suas primeiras incursões astrais são simples explorações. Pro-
cure observar tudo ao seu redor. Descubra caminhos ocultos, criptas secretas, bibliotecas
etc. Você pode levar seu corpo de luz onde quiser. Basta querer ir e magia acontece.
Suponha que você deseja auxiliar na cura de um amigo. Primeiro pergunte a ele se
você pode enviar-lhe uma energia de cura através de mecanismos espirituais. Após obter a
autorização dele – e não antes disso – projete seu corpo de luz até a esfera de Hod. Uma vez
que tenha chegado lá, visualize a imagem de seu amigo sendo curado com uma brilhante
energia de cura na cor azul. Lembre-se, uma vez que você criou algo no plano astral, logo ela
deve se manifestar no plano físico. No fim da prática, diga a imagem para retornar a sua
fonte levando com ela a energia de cura. Sobre o trabalho com cores, veja meu ensaio nesta
mesma série de Crônicas do Tarot: Feitiços através do Tarot.
Agora, suponha que você deseja auxiliar um amigo a encontrar um emprego. Após
obter a permissão dele, como no caso anterior, projete o corpo de luz até a esfera de Netzach
e lá visualize a imagem de seu amigo sendo banhado em uma luz púrpura, adquirindo sabe-
doria e magnetismo. Como anteriormente, diga a imagem para retornar a sua fonte levando
com ela a energia magnética.
Esses são alguns exemplos práticos sobre a utilização do Tarot e a projeção astral. Em
suas incursões astrais, você travará contato com inúmeras criaturas espirituais: elementais,
cascões, vampiros, zombeteiros, desencarnados, mestres e guias espirituais, espíritos guar-
diões etc. Na intenção de conhecer o máximo possível das inúmeras regiões do astral, pro-
cure interagir com cada criatura. Não procure verbalizar palavras. Comunique-se apenas
através da mente. Para isso, é requerido certo controle das volições cognitivas e a prática da
meditação sistemática auxilia muito nesse processo de sutilização e direcionamento das
energias da mente.
Mas no trato com qualquer criatura espiritual é preciso cuidado. Você deve se armar
com símbolos especiais através dos quais consegue estabelecer certo nível de controle so-
bre qualquer criatura do plano astral. Saber de onde qualquer criatura vem e com que au-
toridade ou autorização ela se manifesta é muito importante. Lucidez é requerida nesse pro-
cesso. Da mesma maneira que você não escutaria os aconselhamentos financeiros de um
falido, também não levará em consideração os conselhos amorosos de uma entidade ou in-
teligência que se apresente como representante da falange dos seres de Marte. Dessa ma-
neira, tome todas as medidas cabíveis para apurar a natureza das criaturas com que trava
qualquer tipo de comércio.
Muitos Neófitos da A∴A∴ insistem nas projeções nas esferas da Árvore da Vida e é fácil
perceber o porquê. Como indicado acima, as esferas são consideradas plataformas de che-
gada e partida, mas também são zonas de poder onde certos tipos de técnicas de magia po-
dem ser aplicados. Dessa maneira, são áreas ou níveis no plano astral onde facilmente é
possível travar contato com distintas expressões de criaturas espirituais. Neste caso, os
Neófitos costumam utilizar os Arcanos Maiores do Tarot apenas como portais para ingresso
e egresso das esferas na Árvore da Vida. Essa aplicação dos Arcanos Maiores é inestimável
e traz muitos benefícios para o magista.
No entanto, se olharmos para as esferas ou sephiroth como padrões estáticos de ener-
gia, os Caminhos que os conectam representam mudanças nos padrões dessa energia. A ex-
ploração de cada Caminho, dessa maneira, provê uma compreensão mais ampla e profunda
27
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
de cada Arcano Maior. Por exemplo, a projeção astral nos Caminhos da Árvore da Vida au-
xilia no entendimento das mudanças nos padrões de energia entre os planetas, conferindo
um aprofundamento maior no Tarot e na arte da adivinhação.
Caso queira aprofundar suas incursões astrais você pode ainda utilizar os Arcanos
Menores e também as cartas de corte. O diagrama da Árvore da Vida logo abaixo demonstra
a distribuição dos Arcanos Menores em todas as esferas. Então temos:
A tradição qabalística sugere ainda a existência que quatro mundos ou planos divididos nos
naipes do Tarot:
Através dos Arcanos Menores e Cartas de Corte você pode projetar o corpo de luz a qualquer
um desses níveis ou planos distintos no astral, descobrindo a multiplicidade e universali-
dade de cada esfera da Árvore da Vida.
Vamos a alguns exemplos. Suponha que você deseje experimentar mais paz interior
no seu dia-a-dia. Neste caso, poderia utilizar o Seis de Bastões. A esfera de Tiphereth asso-
cia-se a paz, equilíbrio e harmonia. Bastões relaciona-se ao Mundo Arquetípico, evocando a
ideia de equilíbrio universal e paz incondicional. O Príncipe de Bastões também pode ser
utilizado, evocando a ideia de uma pessoa que traz ou ensina essa paz, equilíbrio e harmo-
nia.
Suponha que deseje melhorar suas finanças. Você pode projetar o corpo de luz utili-
zando o Quatro de Copas a fim de encontrar uma solução criativa na esfera de Netzach. Ou
você pode querer desenvolver mais perspicácia em seus estudos projetando o corpo de luz
através do Oito de Espadas, pedindo as inteligências daquele plano em visão astral para lhe
auxiliarem nos seus projetos acadêmicos.
Assim, todas as cartas do Tarot podem ser utilizadas para o desenvolvimento do au-
toconhecimento e domínio do plano astral em seus quatro planos distintos. Projete-se atra-
vés dos Arcanos Maiores entoando o nome dos arcanjos para ter acesso a cada nível e con-
tinue a jornada através dos Arcanos Menores e Cartas de Corte.
Mas existem algumas considerações importantes que devem ser levadas em conside-
ração. Por exemplo, se você deseja adquirir um carro, mas não tem dinheiro nem para se
manter ou pagar as contas, muito dificilmente o universo deixará um carro à sua disposição.
Portanto, comece por baixo, focando-se em resolver problemas mais fundamentais e neces-
sariamente urgentes, caso contrário pode se decepcionar.
28
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Outra consideração é o karma. Alguns magistas tem uma noção equivocada acerca do
karma. Essa palavra não pode ser confundida com destino. Um karma ruim não necessaria-
mente significa que você está destinado a experimentar solidão, pobreza ou azar. Antes
disso, significa que existem algumas lições que precisa aprender ou superar. Dessa maneira,
se você executa algum ritual e ainda continua passando pelos mesmos problemas que pri-
meiro fizeram você a praticá-lo, pode ser devido a processos kármicos. Sugiro que consulte
o Tarot sobre o seu karma a fim de descobrir meios para ajustar-se e então superar os obs-
táculos que impedem a magia de funcionar.
A terceira e última consideração, para finalizarmos, é sobre a natureza da magia. A
magia acontece o tempo todo em nossas vidas, vinte e quatro horas por dia, sete dias por
semana, todos os meses e todos os anos. Se você executa algum trabalho de magia no astral
para prosperidade, por exemplo, mas passa o resto do dia reclamando sobre contas a pagar,
dificuldades financeiras etc., significa que está usando a maior parte de seu tempo disponí-
vel para enviar mensagens a seu subconsciente que contradizem completamente o objetivo
de sua magia, ou seja, você está fazendo magia contra si mesmo. Dessa maneira, o magista
deve estar sempre alerta contra pensamentos negativos, tóxicos e degradantes que são pro-
jetados na superfície da mente. Aqui, sua atitude deve ser a mesma de suas práticas medi-
tativas: ele deve apenas observar o pensamento negativo sem julgá-lo ou até mesmo intera-
gir com ele, em uma atitude de testemunha. Nestas condições, lúcido, ele é capaz de trocar
o sentido da mensagem, visualizando a si mesmo de maneira positiva e entusiasmada.
A magia como estilo de vida é uma visão distinta do universo e produz uma interação
também distinta com o mundo, um encantamento não dualista que rasga o véu da percepção
ilusória e distancia a mente do magista da consciência de separação com o mundo.
29
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Na Teia da Aranha
Frater ON120
Fernando Liguori
turar na vida rural por medo do mundo acabar. Ele vive até hoje isolada no alto da montanha, a águia na pedra.
30
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
lâmpadas queimadas em Assiah. Estas cascas são constituídas dos elementos mais grossei-
ros dos outros três mundos e comportam forças extraordinariamente perturbadoras. Não
são espíritos no verdadeiro sentido da palavra, mas receptáculos sem rumo que procuram
em vão se preencher com a luz primordial. No entanto, a luz primordial não se manifesta em
Assiah da forma sutil que se manifesta nos outros três mundos. Por conta disso, as Qliphoth
são desprovidas de energia pura, tornando-se, por assim dizer, vácuos desestruturados que
buscam sugar o máximo de luz possível dos habitantes de Assiah, o que inclui a todos nós.
Portanto, as Qliphoth manifestam as qualidades avessas/contrárias dos outros três
mundos acima. Assim, o que uma vez foi Kether, a pura essência da unidade, agora se mani-
festa como Thaumiel, Gêmeos de Deus. O nome significa «gêmeo» ou «deus gêmeo». Repre-
sentado por dois príncipes malignos, Thaumiel apresenta a polaridade máxima da duali-
dade. Como as duas faces de Jano, os dois príncipes malignos olham e direções contrárias.
Thaumiel é a inversão total dos princípios de Kether. Da mesma maneira, a harmonia repre-
sentada por Tiphereth encontra sua total oposição em Thagirion, Litígio. O nome significa
«disputa» ou «discórdia». A parte de todas as associações mitológicas, Thagirion representa
a natureza antinomiana que opera contra as leis que regem o universo e a criação. Cada
Qlipha recebe um nome pejorativo devido sua ação, uma antítese da ordem estabelecida
pelas Sephiroth no momento da criação.
As Qliphoth são, portanto, o dejeto da criação. Uma anti-estrutura demoníaca na Ár-
vore da Vida, no entanto, essencial ao processo de criação. Seus habitantes são criaturas
titânicas, gigantescas que executam o trabalho sujo de construir e sustentar o mundo mate-
rial como o percebemos. A Tradição Oculta diz que eles são perigosos quando estão desor-
denados, descontrolados, ignorados ou não são conhecidos. De fato, muito daquilo que acre-
ditamos ser nós mesmos, quer dizer, o corpo, a mente e a personalidade, pode ser considerado
receptáculos qliphóticos da essência sutil e incompreendida que representa nossa verdadeira
identidade.
Examinando as obras de Grant, ele nunca mencionou qualquer adepto que tenha ido
além dos Túneis de Seth, transcendendo a vacuidade destes golfos e coroando a Grande
Obra. Isso é de se colocar uma pulga atrás da orelha. Todos os relatos de Grant, sejam nas
trilogias ou em suas novelas, acabam em fenômenos sobrenaturais inexplicáveis ou são in-
terrompidos abruptamente.
Minha relação com as ideias de Grant e principalmente, seu sistema de magia, come-
çou a mudar no Solstício de Verão de 2012 e.v., quando em um trabalho de projeção astral
no Túnel de A’ano’nin me deparei na cripta de iniciação de Aossic-Aiwass, onde ele estava
preso e amarrado nas teias da Grande Deusa OKBISh, afogado na mitologia que criou para
si. Essa experiência me levou a conclusão de que Grant, a
despeito do que muitos pensam, não coroou sua obra.
Em meu livro As Árvores da Eternidade (ainda em
processo de escrita) onde trato dos Túneis de Seth, explico
um pouco sobre cada uma das sentinelas dos túneis:
31
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
tem de viajar para a terra oriental da madrugada para recuperá-lo (note que Orion per-
deu a visão através de um ato sexual transgressivo). O olho aqui também se refere a
abertura uretral pela força sexual de A’ano’nin: Samael recuperando sua visão e virili-
dade sexual, embora a iluminação obtida tenha se dado pela transmissão de Thagiriron,
a esfera qliphothic do Sol Negro.
Na ocasião dessa experiência eu não estava trabalhando com nenhuma fórmula ocidental
de magia. Minha prática estava mais concentrada na feitiçaria tântrica do Śrī Vidyā. Na ver-
dade, eu estava completamente envolvido com a prática diária do Śrī-devī-khaḍgamālā-sto-
traṃ, um hino ritualístico de adoração a Śakti que envolve o magista em uma cápsula-áurica
de proteção. Khaḍga significa espada e mālā traduz-se por guirlanda. Dessa forma, é tido
que aquele que executa essa prática ganha uma guirlanda de espadas da Mãe Divina.
Na execução desse ritual, o magista projeta o corpo de luz em cada um dos triângulos
do Śrī-Yantra ou Śrī-Cakra, símbolo que representa o corpo da Śakti Universal, as Árvores
da Eternidade ou os Cabelos de Nuit. É a representação geométrica da Deusa Suprema, um
yantra composto de câmaras a serem visitadas pelo corpo de luz, cada uma mais secreta que
a anterior, arranjadas ao redor de um ponto (bindu) central, o coração do yantra, onde a
Deusa, na forma de Khamśvārī reside em coito eterno com seu Amado Śiva na forma de
Khameśvāra.
Na medida em que o corpo de luz atravessa as câmaras secretas em direção ao centro
do yantra, o magista deve reverenciar cada sentinela, um total de 98 yoginīs representando
aspectos distintos da Grande Deusa. Ele movimenta-se das extremidades do yantra e dire-
ção ao centro no sentido anti-horário em um processo denominado samhārakrama, o mé-
todo da dissolução no qual ele internaliza cada yoginī na intenção de assimilar em si cada
aspecto da Deusa.
Eu pretendo publicar esse ritual na íntegra no
Gnose Tifoniana (Vol. II) que ainda estou acabando de es-
crever. A cada fase da lua, o ritual deveria ser executado
de uma maneira distinta, na intenção de reverenciar as-
pectos diferentes da Deusa. Trata-se de um ritual da tra-
dição śākta, cujo Absoluto é adorado na forma da Mãe Di-
vina. Dessa maneira, uma tradição consistentemente tifo-
niana.
Śakti é um outro termo para devī (deusa) que signi-
fica poder, denotando energia. Mas não energia no sen-
tido negativo ou positivo. A tradição śākta não acredita na
polarização de devī. Ela é a Eterna Creatrix. Os śāktas di-
zem que tudo é energia, quer dizer, todas as coisas são
apenas aspectos da Grande Deusa.
Śiva, visualizado em cópula constante com devī, é a
consciência estática energizada pela Śakti, o que produz
o fenômeno da criação do universo. O amor de Śakti, con-
duzido sob vontade, é a causa e essência de toda criação. Dessa maneira, o magista deve
visualizar Śiva e Śakti em coito. A Deusa permanece eternamente no estado de orgasmo cri-
ativo que anima Śiva, derramando sobre ele seus kālas. Através desse ritual (sādhanā) o
magista pode acessar esse estado de bem-aventurança eterno da Deusa, quando será por
Ela banhado através de seu doce cheiro.
A imersão nos mistérios do Śrī Vidyā me levaram a estabelecer uma conexão entre as
câmaras de iniciação do yantra e os túneis sethianos nas raízes da Árvore. Essa conexão me
possibilitou corrigir alguns erros de Kenneth Grant em minha prática pessoal. No livro
Gnose Tifoniana (Vol. I) eu falei um pouco acerca desse ritual.
32
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Ao acessar umas das câmaras qliphóticas do yantra, tive uma das experiências mais
reveladoras acerca do trabalho de Kenneth Grant. A passagem que se segue é um extrato
das anotações que fiz após a experiência:
Me lembro de ter entrado no palácio do Rei. Seu Trono era a própria cabeça e quando
sentado, seus cortesões lhe circundavam. O chão aos meus pés começou a se desfazer e
não obstante o meu desespero, empunhei minha Espada e corri em direção ao Rei. Mas
o Rei cai morto e seus cortesões se tornam serpentes sobre ele, sem remorso. Eu senti-
me em paz com a Espada. Eu estava preparado, finalmente, para caminhar pelo corpo
de Nuit, chamejante com o brilho das estrelas.
[...] Eu desci pelas escarpas até chegar em uma cripta cheia de escuridão, viva pela
presença de alguma criatura. Era possível sentir um forte odor vindo de valas mais pro-
fundas. Velada pela escuridão profunda existe uma rede invisível de criaturas, caminhos
e mundos. Uma visão maravilhosa acompanhada de uma sensação horrível. Recusando
ceder ao medo que me aterrorizava naquele momento, caminhei cripta adentro no es-
curo, cruzando o limiar da passagem em direção as trevas.
Uma vez lá dentro, não tive dúvidas de que havia acessado a cripta de iniciação do
Clã Grant ou Grant’s Grimoire como ele se referia a ela. Lá encontrei Aossic-Aiwass, fa-
lando línguas estranhas, palavras grotescas e sons macabros sem sentido nenhum para
mim, preso pelas criaturas sombrias de sua própria mtologia. Eu podia sentir a nítida
presença de um vampiro, nem besta e nem homem. Em seguida, grandes quantidades
de criaturas sombrias começaram a sair da escuridão das paredes. Eram pontos nodais,
constelações de força, vigas transversais que sustentavam toda a Rede de OKBISh da
raiz ao topo da Árvore. A sensação que eu experimentei foi que aqueles fantasmas das
sombras iriam me prender ali para sempre. Foi quando decidi empunhar minha Espada,
mas quando percebi, em minha mão direita eu empunhava um vajra.13 Apontada para
baixo, na minha mão esquerda, estava a Espada Flamejante. Frime nessa hora que co-
mecei a entoar uma invocação a Nodens, o Dragão das Profundezas. Foi quando Aossic-
Aiwass me olhou e disse: Eu estou aqui por causa de minha Chi-Ro.14
Esse evento foi acompanhado por inúmeras mudanças em minha vida pessoal. Um casa-
mento de cinco anos com uma alta-iniciada chegou ao fim e um novo capítulo na minha
busca espiritual – dentro da A∴A∴ – se abriu. Kenneth Grant sabia que o Solstício de Verão
de 2012 e.v. seria uma data importante para muitos iniciados, um período de transição e
ajuste teria seu início nesse tempo de poder, que coincidiu com o fim de um grande ciclo
aeônico e, portanto, o início de outro, segundo o calendário maia
13 Um objeto ritualístico utilizado tanto nos tantras hindu e budista e significa tanto um trovão quanto um dia-
mante. É um símbolo da força e virilidade espiritual, um poder representado pela união yogī dos princípios mas-
culino e feminino.
14 Chi-Ro significa espada e segundo Kenneth Grant é um símbolo do Aon de Zain, um tempo através do qual o
33
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Yoga & Magia
Frater ON120
Fernando Liguori
É a minha vontade explicar o assunto do Yoga em uma linguagem clara, sem recorrer a
jargão ou à enunciação de hipóteses fantásticas, com o intuito de que essa grande ciên-
cia possa ser integralmente compreendida como de universal importância. Pois, como
todas as coisas grandiosas, ela é simples; mas, como todas as coisas grandiosas, ela é
mascarada por um pensar confuso; e, com muita frequência, desprestigiada por maqui-
nações da desonestidade.15
O tema de hoje é sobre a aplicação das práticas de yoga na rotina da vida diária
dentro do contexto da prática mágica e mística da A∴A∴. Quando o Estudante pro-
cura instruções sobre o yoga com seu Superior direto na Ordem, uma das primei-
ras e quem sabe a dúvida mais frequente é como incluir na minha prática diária
as técnicas de yoga ensinadas por Mestre Therion? Ou ainda, como vou incluir a prática do
yoga em minha vida, com o tempo tão apertado? A partir disso inúmeras coisas passam pela
cabeça: tenho de acordar bem cedo para praticar yoga, mas para isso tenho de mudar meu
estilo de vida, tenho de mudar meus padrões, tenho de mudar isso, tenho de mudar aquilo?
Isso cria uma contenda interna e o resultado é um estado de confusão mental muito grande.
Existem alunos que seguem à risca o que aprendem com seu Instrutor, executando suas
práticas e rituais diários uma ou duas horas por dia. Contudo, com o tempo a inspiração e a
motivação diminuem, outros fatores e situações começam a invadir o horário das práticas e
talvez após alguns meses ou semanas, quem sabe um ano, o Probacionista ou Neófito aban-
dona o sādhanā.
No início o Probacionista ou Neófito não precisa tentar praticar tudo o que o seu Ins-
trutor ensina, mas ao contrário, deve-se tentar integrar o que se aprendeu no dia-a-dia,
como um remédio em cápsulas que vai sendo administrado ao longo do dia, na medida em
que o tempo permite e quando o estado de espírito for apropriado. A mente deve estar em
uma condição correta para que o máximo benefício seja extraído da prática espiritual. As téc-
nicas que o yoga oferece para o aperfeiçoamento interior devem ser administradas com dis-
cernimento. Muitos Estudantes, inclusive alunos de outros Instrutores de linhas diferentes
também já me perguntaram: eu pratico relaxamento todos os dias após minhas práticas que
incluem os rituais, postura e meditação, bem cedo quando acordo, está correto? Eu sempre
digo a mesma coisa: é correto praticar o relaxamento após as práticas da manhã, mas é uma
prática inapropriada para ser feita de dia.16 Portanto, com a orientação correta, cada Estu-
dante vai ajustando individualmente sua prática, segundo suas possibilidades, ânimo e na-
tureza interior. Assim, veja o que é possível praticar diariamente, semanalmente, mensal-
mente e anualmente. Dessa maneira é possível construir um ano de programa de práticas.
34
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Naturalmente, após um ano de execução ininterrupta do sādhanā, o programa irá mudar e
é possível acompanhar o progresso e o avanço aos estágios mais avançados da magick.17
Mas como esse programa diário pode começar? Quais são os pequenos períodos do
dia em que é possível executar alguma prática de yoga e superar as condições e estados em
que o corpo, a mente e as emoções estão enfrentando devido a sua interação com o mundo
exterior? O que se segue é um conjunto de orientações que podem ser aplicados a qualquer
Estudante, Probacionista e Neófito da A∴A∴ da maneira mais adequada possível.
Mantra matinal
A rotina do dia deve começar com o mantra-sādhanā. A primeira coisa a ser feita ao acordar
é a entoação do mahā-mantra thelêmico 93 vezes: A ka dua | Tuf ur biu | Bi aa chefu | Dudu
ner af na nuteru. O mantra significa: Ultimal Unidade demonstrada! Adoro Teu poder. Teu
sopro forte, Deus supremo, terrível flor do nada, Que fazes com que os deuses e que a morte
Tremam diante de Ti: Eu, eu adoro a ti! Mas porque o programa diário deve começar com a
entoação desse mantra? Pela manhã o cérebro está relaxado por conta do período que ficou
em descanso. A mente, por não ter tido contato com os dramas do dia-a-dia, está calma e
tranquila, em paz e relaxada.
A prática é feita dessa maneira: assim que acordar, antes de sair da cama, assuma uma
postura meditativa, de maneira que seu corpo possa estar relaxado, ao mesmo tempo em
que imóvel e bem confortável, como indicado em Liber E. Ao assumir a postura você notará
uma leve sonolência, um estado onde você não se encontra completamente desperto. Nesse
estado entre o sono e a vigília, sonolento, o subconsciente está ativo.
De um lado nós temos o estado de vigília, cuja faculdade consciente está completa-
mente integrada e envolvida com as experiências sensoriais. Do outro lado nós temos o in-
consciente, cuja faculdade inconsciente está completamente desconectada das experiências
sensoriais. O subconsciente está no meio, atuando como um elo de conexão entre o estado
de vigília ou consciência e o inconsciente profundo, como a fonte onde a mente pode ser for-
talecida e energizada, a criatividade pode ser desenvolvida e a positividade adquirida. É o
subconsciente que deve ser protegido das influências que vêm do exterior, assim como das ten-
dências negativas e destrutivas que brotam do interior.
De acordo com a filosofia thelêmica, o subconsciente é o assento e a fonte da energia
mental. É no subconsciente que o poder da Vontade é fortemente desenvolvido. Utilizar a
mente subconsciente pode modificar e alterar os padrões de comportamento e pensamento.
A mente consciente do estado de vigília é redundante porque sua percepção é unilateral:
existe a pessoa e o mundo e nada mais. Essa conexão unilateral não permite que o poder da
Vontade se desenvolva. A vida apresenta inúmeras ocasiões onde podemos fazer afirmações
positivas ou resoluções «saṅkalpa» a fim de se conquistar algo ou atingir metas. O ano novo
thelêmico, por exemplo, é uma dessas ocasiões onde muitos thelemitas fazem planos para o
ano que irá começar. Eles dizem: A partir de primeiro de janeiro vou levar a cabo minha prá-
tica durante todo o ano. Tenho certeza absoluta que você leitor já passou por uma situação
assim. A pergunta que tenho a fazer então é: você foi capaz de sustentar sua prática por todo
o ano? Talvez uma semana ou quinze dias, no máximo um mês. Mas em abril você retorna
17 Em seu sistema, Crowley organizou uma estrutura sólida e coesa a partir de uma gama distinta de correntes
mágicas e místicas do Ocidente e Oriente sob o termo de Magick, na finalidade de proporcionar um modo mais
eficiente para se descobrir e colocar em prática a Verdadeira Vontade. Note que os textos e livros da Sociedade
de Estudos Thelêmicos não utilizam a letra k em palavras como mágica ou mesmo a palavra magick em meus
escritos. Em português não há o porquê disso. No Brasil a palavra magia «magick» é distinta da palavra mágica.
Magia se trata da Antiga Ciência e Arte dos Magi; mágica, por outro lado, se trata da arte do ilusionismo. Ademais,
não existe nenhuma referência onde Aleister Crowley tenha utilizado esse tipo de ortografia em qualquer de
seus escritos.
35
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
aos velhos padrões de comportamento, aos velhos hábitos tóxicos e viciados. Isso indica que
a conexão que existe entre você, o meio ao seu redor e o mundo externo como um todo dissipa
as faculdades e drena as energias da mente, não permitindo que o seu saṅkalpa, afirmação ou
resolução germine e cresça, pois a mente está distraída e dissipada, bem como a vontade está
enfraquecida. Assim, a mente consciente do estado de vigília é redundante porque apenas
interage com o mundo dos sentidos. Ela não nos inspira a desenvolver uma qualidade mais
sutil de vida. Da mesma maneira, a mente inconsciente também é redundante, pois não te-
mos acesso a ela e quando temos, estamos dormindo, impossibilitando o trabalho com seus
aspectos sutis. Contudo, nós temos acesso ao subconsciente. O estado de sonolência que ex-
perimentamos ao acordar pela manhã é o subconsciente no qual os sentidos não estão com-
pletamente absortos, envolvidos ou em atividade com o mundo exterior e nem estamos des-
conectados completamente dele, como no sonho sem sonho, por exemplo. Nessa hora nos
encontramos entre o consciente e o inconsciente.
O subconsciente tem um poder transformador. Eu comecei a fazer alguns experimen-
tos com meu filho, na ocasião em que veio passar suas férias comigo. Como ele ainda é muito
novo e fico bastante tempo sem vê-lo, costumamos dormir juntos. Nessa ocasião, seu sono
estava agitado e ele se debatia muito na cama, acabando por me acertar alguns socos e pon-
tapés. Na manhã seguinte eu perguntei a ele: Filho, por que você fica chutando tanto a noite,
enquanto está dormindo? Ele não soube me responder por que nem sabia que chutava tanto
durante o sono. Assim, a fim de acessar a mente subconsciente dele, iniciei alguns experi-
mentos com o yoga-nidrā, plantando sementes sem que ele pudesse perceber. A condução
do experimento se dava assim: cinco a dez minutos após ele cair no sono, eu o sacudia gen-
tilmente para que ele pudesse abrir os olhos e fechar novamente. Nesse estado eu sabia que
ele se encontrava com o subconsciente aberto, pois estava entre o estado de vigília e o sono
profundo. Nesse momento, comecei a plantar cinco saṅkalpas, repetindo cada um onze ve-
zes. Conduzi o experimento no curso de duas semanas. No final da primeira semana ele já
estava dormindo tranquilamente e não mais transpirava em excesso. O mais impressio-
nante, durante o dia ele começou a estar mais atento e pacífico e a noite, procurou dormir
mais cedo por si mesmo, o que não acontecia antes.
A yoga-nidrā atua na mente subconsciente. Na prática é possível experimentar um
estado onde não estamos dormindo ou despertos. A sensação é de que estamos conscientes
o tempo todo, mas não é possível recordar as instruções do Instrutor do início ao fim da
prática. Isso significa que as instruções foram direto ao subconsciente. É como se elas con-
tornassem a mente consciente entrando direto no subconsciente. Se elas tivessem passado
pela mente consciente seria possível lembrar as palavras do Instrutor: mantenha consciên-
cia total da perna direita e de todas as sensações que ela experimenta ou qualquer outra vi-
sualização que ele estivesse ensinando. Contudo, não existe consciência de suas instruções
ou do estado de sono, embora não estivéssemos dormindo.
Quando acordamos pela manhã o subconsciente está ativo. Esse é o momento correto
para fazer a resolução «saṅkalpa» do mahā-mantra thelêmico. Essa resolução é como se-
mente que plantamos no chão e ali esquecemos para que possam germinar naturalmente.
Portanto, após plantar o saṅkalpa é necessário esquecê-lo, da mesma maneira que fazemos
com um sigilo mágico.
Quando jogamos uma semente no chão devemos deixá-la para que a natureza siga seu
curso. Se plantarmos uma semente no solo e todos os dias reviramos a terra para ver se
brotou, não daremos a chance para que ela germine e cresça. É necessário esquecê-la ali
para que naturalmente possa germinar. Essa é a ideia por trás do saṅkalpa ou pensamento
positivo: deve-se formulá-lo e plantá-lo no subconsciente e em seguida esquecê-lo. Este é o
propósito do mantra-sādhanā pela manhã. Este é um horário importante porque o subcons-
ciente está completamente ativo. As ondas alfa estão predominantes na mente e a primeira
36
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
impressão que entra determina sua condição e estado para o resto do dia. Se o mantra é en-
toados após o banho eles não terão serventia. As sensações, sentimentos, emoções e crenças
se precipitam na superfície da mente e fazem um grande mexido dentro dela.
A maioria das pessoas acorda pela manhã com o despertar do relógio. O primeiro som
que escutam é o alarme e por conta disso todo o seu dia é comprometido por um zumbido
interior que vibra na mente, consciente ou não. No domingo, para quebrar o condiciona-
mento semanal, as pessoas preferem acordar tarde, tomar café na cama e ler o jornal. É
como se a pessoa continuamente jogasse pedras em um lago causando pequenas ondas, dei-
xando a mente em um estado de tormenta perpétua. Entoar o mantra enquanto o subconsci-
ente ainda está ativo permite que a mente sustente um estado pacífico. Antes que a mente se
torne ativa e suas energias dissipadas deve-se plantar o saṅkalpa do mantra. Mas qual é esse
saṅkalpas?
Ao finalizar a entoação 93 vezes do mahā-mantra thelêmico, faça um saṅkalpa para
aquisição de sabedoria e entendimento. Qualquer pessoa pode obter conhecimento, mas
poucos adquirem sabedoria e entendimento, duas qualidades fundamentais na vida. Não a
habilidade de saber ou criatividade intelectual, mas a habilidade de entender. Após o
saṅkalpa entoe o mahā-mantra mais onze vezes. Quando completar a entoação mais onze
vezes, faça outro saṅkalpa para aquisição de força interior para enfrentar o mundo com po-
sitividade e otimismo e superar as angústias e as doenças: a angústia da mente e a doença
do corpo. Após o saṅkalpa entoe mais onze vezes o mahā-mantra.
Com proficiência, essa prática dura no máximo dez minutos. Após a entoação do man-
tra o dia começa. Se levante, faça seus procedimentos de limpeza e purificação, se vista e
prepare-se para enfrentar o dia.
Os thelemitas que executam este mantra-sādhanā pela manhã permanecem otimistas,
positivos, criativos e lúcidos durante todo o dia. O mantra revigora a mente e atua como um
escudo protetor contra influências negativas. Ele mantém a mente focada diante das preo-
cupações, aflições e problemas do dia-a-dia. Portanto, essa é a medicina número um: entoe
o mahā-mantra de Thelema como sādhanā diário, sempre pela manhã, ao acordar. Essa é a
primeira cápsula do remédio prescrito pelo Dr. Frater ON120.
Siga estes passos:
Rituais matinais
Os rituais matinais devem começar logo após a entoação do mahā-mantra thelêmico. Nor-
malmente o Probacionista executa o Ritual Menor do Pentagrama e o Ritual Menor do He-
37
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
xagrama, banindo e invocando. Nessa prática ele ainda executa as saudações solares conhe-
cidas como Liber Resh. Caso deseje, ele pode optar por executar diariamente o Ritual da Es-
trela de Sangue e o Ritual da Marca da Besta para trabalhar aterrando a corrente mágica
thelêmica. Como o Probacionista ainda não está confeccionando nenhuma arma mágica e
como o Neófito ainda está trabalhando seu Pantáculo, muitos Estudantes perguntam se é
possível executar esses rituais sem a utilização de robe ou armas mágicas. Outra dúvida fre-
quente é se esses rituais têm de ser executados somente dentro de um templo equipado, em
um círculo mágico etc.
A resposta é não! O Estudante pode adaptar esses rituais com tranquilidade da melhor
maneira possível. Por exemplo: a execução de Liber Reguli, originalmente, pede a utilização
de um altar, sino e baqueta mágica. Caso o Estudante não tenha nada disso, ele pode começar
a praticar este ritual sem nada, utilizando apenas suas mãos, imaginação, vontade e sua vi-
sualização no processo. Veja o vídeo no Corrente 93 onde eu ensino a fazer esses rituais de
maneira simples e fácil.
A terceira dose do remédio prescrito pelo Dr. Frater ON120 é āsana e prāṇāyāma. Após fazer
sua higiene pessoal, executar suas purificações e rituais diários, faça āsana e prāṇāyāma
antes do café da manhã. A maioria dos Estudantes têm dúvida sobre quais as posturas exe-
cutar no curso do sādhanā. No currículo da A∴A∴ não existe nenhuma referência a posturas
dinâmicas de yoga. Todas as instruções deixadas por Crowley são específicas quanto a es-
colha de uma postura a ser executada e aperfeiçoada. Isso permanece! No entanto, acredito
que a prática de algumas posturas simples será de total benefício ao Probacionista, Neófito
ou Zelator.
Muitos de meus Estudantes escolhem algumas posições – nem sempre adequadas a
sua estrutura – e as praticam por algum tempo. Cansados da monotonia da repetição, em
pouco tempo escolhem outras posturas e se esquecem de terminar o trabalho com as ante-
riores. Isso é falta de continuidade de propósito no programa do sādhanā. Na falta de conti-
nuidade, os efeitos são apenas físicos, atuando nos músculos e articulações.
De uma perspectiva thelêmica, apenas cinco āsanas são consideradas importantes
para uma pessoa normal que busca por bem-estar geral e que não esteja tentando superar
alguma dificuldade, problema ou doença. Imagine, por um momento, todos os movimentos
essenciais que seu corpo faz ao longo do dia. De quantas maneiras distintas é possível mo-
vimentar o corpo durante as atividades do dia? Alongamento, flexão para frente, para trás e
para os lados. Torção. Estes são os movimentos essenciais que seu corpo executa durante o
dia. Existem posturas que auxiliam a equilibrar o corpo e
elas deveriam ser praticadas bem cedo pela manhã.
Quando dormimos a noite, devido à falta de movimento,
certos ácidos como o láctico se acumulam em diferentes
partes do corpo e esse acúmulo provoca rigidez. O corpo
precisa ser liberado e para isso seus movimentos essenci-
ais devem ser executados.
Tadāsana
38
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
são muito úteis para abrir as articulações, alongar os músculos, expandir os nervos e os ór-
gãos internos e aumentar a circulação sanguínea. Nessa expansão, a respiração torna-se
mais fácil e a rigidez nas articulações, ombros e costas se dissipa. O movimento dessa pos-
tura deve ser feito em dez repetições no mínimo, de maneira lenta, controlada e regulada. A
cada novo movimento o corpo deve tentar alongar um centímetro a mais.
Lembre-se, se você quer benefícios físicos, os āsanas têm de ser executados dinamica-
mente. Quando as posturas são feitas de forma dinâmica, afetam a estrutura muscular, óssea
e nervosa. Se você busca resultados mais sutis, prânicos, então os āsanas têm de ser executados
de maneira vagarosa, com concentração e consciência. Cada movimento deve ser observado e
compreendido. Nenhuma postura deve ser executada mecanicamente.
Tiryaka-tadāsana
Kati-cakarāsana
39
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
acontece sentando-se de forma correta somente, pois mesmo tentando sentar-se correta-
mente, ainda sim, a postura pode ser inapropriada. Você pode puxar os glúteos para endi-
reitar os ísquios, projetar o peito para fora e expandir as vértebras dizendo, agora estou
sentado corretamente, com as costas eretas, mas em verdade isso não é uma tarefa tão fácil
assim porque ninguém tem a estrutura da coluna completamente ereta.
Devido ao movimento da torção, kati-cakarāsana realinha toda coluna para que seu
alinhamento natural seja devolvido. Uma vez que a espinha retorna a sua forma natural,
seus complexos nervosos carregam os impulsos aos órgãos e cérebro de maneira muito
branda. A postura promove uma conexão e coordenação perfeita entre os impulsos nervo-
sos, o cérebro e os órgãos.
É possível criar diferentes efeitos na espinha mantendo as pernas fechadas ou aber-
tas. Quando as pernas estão afastadas, o efeito da torção é mais intenso na parte de baixo da
coluna, na região da cintura. Quando as pernas estão próximas, o efeito da torção abrange
toda extensão da coluna, afetando o corpo todo. Com o tempo, é possível sentir os músculos
e articulações sendo torcidos e comprimidos. A postura provê quantidade extra de sangue
fresco em todas as partes do corpo, proporcionando uma sensação de leveza e energização.
Seguindo na sequência dos movimentos essenciais da coluna, passamos a flexão e re-
troflexão, que podemos executar através do sūrya-namaskāra.
Sūrya-namaskāra
40
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Postura 1: Prāṇamāsana (postura da saudação)
Mantenha os olhos fechados.
Permaneça de pé com os dois pés unidos.
Suavemente dobre os cotovelos e uma as palmas das mãos em
frente ao peito em namaskāra-mudrā, mentalmente oferecendo
homenagem ao sol, fonte de toda vida.
Relaxe todo o corpo.
Respiração: Respire normalmente.
Consciência: Físico: na área do peito. Espiritual: no anāhata-
cakra.
Benefícios: Estabelece um estado de concentração e tranquili-
dade e preparação para prática que se inicia.
Mantra: Oṃ mitraya namaḥ (saudações para aquele que é
amigo de todos).
41
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Postura 4: Aśwa-saṃcalanāsana (postura do ca-
valo em movimento)
Coloque as palmas das mãos no solo ao lado dos pés.
Leve a perna direita para trás tanto quanto possível e
toque o solo com os de-dos do pé.
Ao mesmo tempo dobre o joelho esquerdo, mantendo
o pé esquerdo no solo na mesma posição. Mantenha
os braços alongados.
Na posição final, o peso do corpo deve estar apoiado
em ambas as mãos, no pé esquerdo, joelho e dedos do pé direito.
A cabeça deve estar inclinada para trás, a coluna arqueada e o olhar dirigido para cima, no
ponto entre as sobrancelhas (śāmbhavī-mudrā).
Respiração: Inspire ao esticar a perna direita para trás.
Consciência: Físico: no alongamento da coxa até o peito ou no ponto entre as sobrancelhas.
Espiritual: no ājñā-cakra.
Contraindicações: O alongamento total não é aconselhado para pessoas que tenham pro-
blemas nos joelhos ou tornozelos.
Benefícios: Esta postura tonifica os órgãos abdominais e produz um bom alon-gamento na
região lombar. Fortalece os quadris, as pernas, os tornozelos e os pés, além de induzir o
equilíbrio do sistema nervoso.
Mantra: Oṃ bhanave namaḥ (saudações àquele que ilumina).
42
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Consciência: Físico: no arqueamento da região lombar e na região abdominal. Espiritual:
no maṇipūra-cakra.
Contraindicações: Pessoas com problemas sérios nas costas, pressão alta ou problemas
cardíacos não devem fazer esta prática.
Benefícios: Esta postura fortalece os músculos das pernas e dos braços, desen-volve o peito
e exercita a região da coluna entre as omoplatas.
Mantra: Oṃ puṣne namaḥ (saudações para o doador de força).
43
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Respiração: Expire enquanto executa o movimento.
Mantra: Oṃ śavitre namaḥ (saudações ao senhor da criação)
Posturas 13-24: As 12 posturas do sūrya-namaskāra são repetidas duas vezes para com-
pletar a execução de um ciclo. As posturas de 1 a 12 formam a primeira metade. Na segunda
metade as posturas são repetidas com duas pequenas mudanças: na postura 16, ao invés de
levar o pé direito para trás, leve o esquerdo. Na postura 21, dobre a perna direita e traga o
pé direito entre as mãos.
Conclusão: Ao completar cada ciclo, abaixe os braços e relaxe o corpo concen-trando-se na
respiração até que ela volte ao normal. Ao terminar a prática realize śavāsana por alguns
minutos. Isso permitirá que os batimentos cardía-cos e a respiração retornem ao normal e
relaxará todos os músculos.
Duração: Para benefícios espirituais, praticar de três a doze ciclos lentamente. Para bene-
fícios físicos, praticar de três a doze ciclos rapidamente. Iniciantes devem praticar primeiro
de dois a três ciclos e aumentar uma execução a cada duas ou três semanas, evitando a fa-
diga. Estudantes avançados podem executar um número maior de ciclos, entretanto qual-
quer esforço deve ser evitado. Em casos especiais, uma prática diária de 108 ciclos pode ser
realizada para purificação, mas somente sob a orientação de um professor competente. Para
balancear os doṣas, o Estudante deve levar em consideração sua constituição individual e
executar as posturas em concordância com ela.
Sarvāṅgāsana
44
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Estas são as posturas adequadas a uma pessoa comum a fim de se manter o bem-estar
e a saúde física. Para essas pessoas não há a necessidade de outras posturas. A execução
delas não passa de quinze minutos. Essa é a prática diária de āsanas. Outras posturas podem
ser inclusas e isso fica a seu critério. Mas para manutenção da estrutura física, remoção de
tensões, rigidez e dores, regulação do fluxo sanguíneo e ativação do fluxo energético nos
cakras, essas posturas são o suficiente.
Embora o yoga não seja terapia, ele promove saúde e bem-estar, proporcionando um
corpo energizado e leve. Quando a saúde aumenta, inúmeras doenças podem ser evitadas.
Após a execução dos āsanas inicia-se o prāṇāyāma. No senso comum, exercícios res-
piratórios são chamados de prāṇāyāma, mas isso é incorreto. Prāṇāyāma é um nível, um
estágio onde o magista despertou e tem controle total sobre o prāṇa. A práticas respirató-
rias oferecidas pelo yoga são chamadas de prāṇa-nigraha. A palavra nigraha significa con-
trole. Portanto, controle do prāṇa. Como a respiração é a conexão mais próxima que temos
com o prāṇa, podemos dizer que prāṇa-nigraha eleva a capacidade pulmonar e o controle
da extensão da respiração.
Seguindo a prática de posturas, um exercício respiratório é importante.
Nāḍī-śodhana-prāṇāyāma
Após a prática de posturas e respirações, tome seu café da manhã e comece o dia. Vá estudar,
trabalhar, cumprir suas obrigações e deveres. À noite, quando chegar cansado após um dia
duro de atividades, vá direto para seu quarto ou um lugar adequado para execução de seu
sādhanā e faça uma prática curta de yoga-nidrā por dez minutos. Você pode contar sua res-
piração de trás para frente, do cem ao um. A cada expiração você se empenha em relaxar
mais o corpo. Se essa prática for executada com atenção, em dez minutos o corpo estará
descansado das tensões acumuladas ao longo do dia.
Se não quiser contar sua respiração, você pode fazer a rotação da consciência por todo
o corpo. Sem precisar aplicar todo processo da yoga-nidrā, apenas deite-se em śavāsana,
feche os olhos e comece a visualizar as diferentes partes do corpo e a partir daí relaxe-as.
Faça a rotação da consciência pelo corpo da mesma maneira como se faz na yoga-nidrā. Um
ciclo basta. Ao terminar dê início aos seus afazeres noturnos: cuidar da família, jantar, as-
sistir TV, ir a algum aniversário etc.
45
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Meditação antes de dormir
À noite, antes de dormir, faça pelo menos dez minutos de meditação. Para uma pessoa co-
mum, o mais indicado é a combinação de duas técnicas meditativas: antar-mouna e ajapa-
japa.
Antar-mouna
Ajapa-japa
Toda noite, antes de se deitar, analise seu dia, desde a hora em que acordou até o presente
momento. O que você fez? Como você lidou com as pessoas, circunstâncias e situações?
Quando você sentiu raiva? Quando você se sentiu confuso? Quando você se sentiu depri-
mido, para baixo? Observe cada momento do seu dia, hora a hora. Se você encontrou pro-
blemas em se comunicar com alguém, sem consciência de culpa ou julgamento, pense: se eu
passar por essa situação de novo existe uma maneira mais efetiva de lidar com ela? Nesse
caminho, observe suas respostas e reações a cada situação vivida no dia. Essa análise leva
apenas cinco minutos. No curso do tempo você notará uma melhora no comportamento de
sua mente e isso afetará suas respostas às situações da vida de uma maneira muito mais
refinada. Essa análise é feita após a meditação, deitado na cama, pouco antes de dormir. Isso
é essencial para limpar a mente de todas as impressões tóxicas acumuladas durante o dia.
46
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Conheça a si mesmo: análise SWAN
Uma vez por semana, quando tiver tempo livre, pegue quatro folhas de papel e sente-se so-
zinho em um lugar quieto. Em uma das folhas escreva, sob a sua perspectiva, as suas virtu-
des e qualidades. Em outra escreva as suas fraquezas e limitações. Em outra folha escreva
as suas aspirações, ambições e expectativas. Na quarta folha escreva as suas necessidades
reais, não aquelas que supõe, mas suas necessidades reais para sobreviver, para ser feliz.
Desenvolva, com o tempo, essas quatro listas. Não dá para fazê-lo em apenas um dia. Estou
trabalhando nas minhas faz meses. A cada semana eu avalio todas as listas. Apago aponta-
mentos e escrevo outros: não, fiz uma análise equivocada, isso não é real; é melhor apagar e
substituir por isso. Portanto, analise as suas listas com cautela. Isso levará tempo: um, dois
ou três meses, até mais. Dessa maneira, será capaz de identificar traços na sua personali-
dade que ainda não conhecia. Poderá ver com mais clareza suas fraquezas e limitações, mas
também olhará com mais cuidado para suas virtudes. Quando passar por alguma situação
no dia-a-dia onde terá de se confrontar com suas fraquezas e limitações, estará mais prepa-
rado para lidar com a situação e cultivar a qualidade oposta, quer dizer, a virtude que se
opõe a fraqueza e limitação.
Você deve analisar cuidadosamente quais os erros cometidos para tentar corrigi-los.
Isso é jñāna-yoga. Não se trata da questão quem sou eu?, sou divino?, também posso transfor-
mar água em vinho ou caminhar sobre as águas? Não é isso. Trata-se de uma análise acurada
sobre si mesmo para identificar os pontos fracos e corrigilos, pois eles entravam seu desen-
volvimento e criatividade.
Quando terminar as listas, pegue um item, por exemplo, a inferioridade e trabalhe
com ele por uma semana. Selecione uma fraqueza e uma virtude. Observe em que momento
a fraqueza lhe afeta e em que momento cultiva e pratica a virtude. Isso é o que Swāmi Ni-
ranjan chamou de «Princípio SWAN»: virtude [strength], fraqueza [weakness], ambição [am-
bition] e necessidade [need]. É uma prática jñāna-yogī onde cultivamos análise e reflexão
escrevemos os traços de nosso caráter e mentalidade atual. Trabalhe com cada traço indivi-
dualmente e se em um ano você conseguiu trabalhar um traço por mês, então em doze me-
ses terá superado doze condições limitantes e adquirido doze virtudes ou qualidades. Tra-
balhe com um item de cada vez e aprenda a gerenciá-lo. A análise SWAN deve ser feita uma
vez por semana para que possa conhecer melhor a si mesmo.
47
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
LIBER LIBRÆ
SVB FIGVRA XXX
A∴A∴
PUBLICAÇÃO EM CLASSE B
0. Aprende primeiro, ó aspirante à nossa antiga Ordem, que o Equilíbrio é a base da Alma.
Se tu próprio não tiveres uma firme fundação, em que te firmarás para dirigir as Forças
da Natureza?
1. Sabe, então, que, como o Homem nasce neste mundo entre a escuridão da Natureza e o
embate de forças antagônicas, assim teu primeiro esforço deve ser procurar a Luz atra-
vés da reconciliação destas forças. Portanto, tu, que tens provações e apuros nesta vida,
alegra-te neles, porque neles existe força, e por meio deles será aberto um Caminho para
aquela Divina Luz.
2. Como poderia ser de outro modo, Ó homem cuja vida é apenas um instante na Eternidade,
uma gota no Oceano do Tempo? Como poderias purgar tua alma das escórias da Terra,
se tuas provações não fossem tantas?
3. É somente agora que a vida Espiritual se baseia em perigos e dificuldades? Não foi sempre
assim com os Sábios e Hierofantes do Passado? Eles foram perseguidos, torturados e
atormentados pelos homens, e através disto suas Glórias foram aumentadas. Regozija-
te, portanto, Ó Iniciado em Nossa Santa Hermética Ordem, pois quanto maiores tuas pro-
vações, maior será o teu Triunfo.
4. Quando os homens te perseguirem e falarem infâmias de ti, não disse o Mestre “Abenço-
ado Sejas”? Entretanto, Ó Irmão, não permitas que tuas Vitórias te tragam Vaidade, pois
com o crescimento do Conhecimento deve vir crescimento de Sabedoria. Aquele que sabe
pouco pensa saber muito, porém aquele que sabe muito compreendeu sua própria igno-
rância. Conheces um homem que se envaidece do próprio Conhecimento? Espera mais
Sabedoria de um tolo do que dele!
5. Não te apresses em condenar o erro alheio. Como poderias saber se tu no lugar dele re-
sistirias às tentações? E, mesmo que assim fosse, por que desprezar aquele que é mais
fraco do que tu? Que tu estejas certo disto: que na injúria e na auto-virtude está pecado.
Perdoa portanto o pecador, mas não encorajes o pecado.
6. O Mestre não condenou a adúltera, mas não a encorajou a cometer o adultério. Tu, por-
tanto, que desejas poder Mágico, estejas certo de que tua Alma é firme e constante, pois
é bajulando tua fraqueza que o mal ganhará poder sobre ti. Sê humilde perante Teu Deus,
mas não temas nem homem nem espírito. Temer é fracassar e o iniciador deste fracasso.
7. Portanto, não temas os Espíritos, mas sejas firme e gentil com eles, pois não tens o direito
de despreza-los e nem de repreende-los, pois se não agires assim te encaminharás para
o pecado. Comanda e Bane os Demônios. Amaldiçoa-os pelos Grandes Nomes de Deus, se
48
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
assim for necessário, mas não zombes e nem os despreze, pois se o fizeres seguramente
cairás em erro.
8. O homem é aquilo que ele faz de si mesmo, dentro dos limites fixados pelo destino que
herdou; ele é uma parte da humanidade. Seus atos afetam não somente a si próprio, mas
também àqueles com os quais está em contato, para o bem ou para o mal.
9. Nem adores nem negligencie teu corpo físico, que é tua temporária conexão com o mundo
externo e material. Portanto, deixa que teu equilíbrio mental esteja acima das perturba-
ções causadas por eventos materiais. Restringe as paixões animais e fortifica as aspira-
ções mais altas: as emoções são purificadas pelo sofrimento .
10. Faz o bem por amor ao bem, não por recompensas, não por gratidão e não por simpatias.
Se tu fores verdadeiramente generoso, não procurarás bajulações e expressões de grati-
dão. Lembra-te que força desequilibrada é o mal, que severidade desequilibrada nada
mais é que crueldade e opressão, mas que também Misericórdia desequilibrada é fra-
queza que atrairá o mal.
11. A Verdadeira Oração é mais ação que palavras; é Vontade. Os Deuses não farão mais para
um homem o que seus Próprios Poderes podem fazer por si, se ele cultiva Sabedoria e
Vontade. Lembre-se que esta Terra nada mais é que um átomo no Universo, e que tu
mesmo nada mais és que um átomo sobre ela. E mesmo se te tornares um Deus desta
Terra, ainda assim serias um átomo entre muitos outros.
12. Mesmo assim, desenvolvem auto-respeito.
13. Para obteres Poderes Mágicos, aprende a controlar o pensamento. Admite somente
ideias que estão em harmonia com o fim desejado, e não qualquer ideia vaga e contradi-
tória que se apresente. Pensamento fixo é um meio para um fim; portanto observa com
atenção ao poder do pensamento silencioso e da meditação.
14. O ato material nada mais é que a expressão externa do pensamento, portanto foi dito
que o pensamento da Tolice é pecado. O pensamento é o início da ação; e se um pensa-
mento volúvel pode produzir efeito, o que não poderá fazer o pensamento concentrado?
15. Portanto, como já foi dito, estabelece-te firmemente no equilíbrio das forças, no centro
da Cruz dos Elementos, aquela Cruz de cujo Centro a Palavra Criadora foi pronunciada
na aurora do nascimento do Universo.
16. Como é dito no Grau do Theoricus: “Sê pronto e ativo como os Silfos, mas evita frivoli-
dade e capricho. Sê enérgico como as Salamandras, mas evita irritabilidade e ferocidade.
Sê flexível e atento às imagens como as Ondinas, mas evita ociosidade e inconstância. Sê
laborioso e paciente como os Gnomos, mas evita grosseria e avareza”.
17. Assim, desenvolverás gradualmente os poderes da Alma e estarás apto a comandar os
espíritos e os elementos. Pois se usares os Gnomos para satisfazeres tua avareza, não
mais os estarás comandando, mas eles o comandarão. Serias capaz de abusar das puras
criaturas da Criação de Deus para satisfazeres teus desejos por Ouro? Abusarias das cri-
aturas do Fogo Vivo para servirem tua cólera e ódio? Violarias a pureza das Almas das
Águas para alcovitar tua luxúria e deboche? Forçarias os Espíritos da Brisa da tarde para
ministrar tua tolice e capricho? Sabe que assim tu apenas atrairás o mal e não o bem, e
que este mal terá poder sobre ti.
18. Em Verdadeira Religião, não existe sectarismo. Portanto, cuida-te, para que não blasfe-
mes o nome pelo qual teu Irmão reconhece Deus; pois se assim o fizeres em Júpiter, tu
blasfemarás hwhy, e em Osíris, hw#vhy.
19. Pede e te será dado. Procura e acharás. Bate e abrir-se-te-á.
49
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Notícias da Linha de Frente
Curso de Meditação
Para fazer seu cadastro ou para se inscrever como ouvinte no curso, entre em contato com
o editor do Corrente 93.
Robes de qualidade
50
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Colegiado da Luz Hermética
HOMEMDATERRA
Colegiado da Luz Hermética
Probacionista 0°=0⌷
Neófito 1°=10
Currículo do Neófito:
Zelador 2°=9⌷
O Zelador é um Iniciado do Segundo Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corres-
ponde a Yesod na Árvore da Vida e o Elemento Ar. O Sinal de Zelador é o Sinal de Lilith-
Astaroth.
51
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
Currículo do Zelador:
Prático 3°=8⌷
O Prático é um Iniciado do Terceiro Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau corres-
ponde Hod na Árvore da Vida e o Elemento Água. O Sinal do Prático é o Sinal de Ísis a Mãe
das Estrelas.
Currículo do Prático:
Filósofo 4°=7⌷
O Filósofo é um Iniciado do Quarto Grau do Colegiado da Luz Hermética. Este Grau equivale
Netzach na Árvore da Vida e o Elemento Fogo. O Sinal de Filósofo é o Sinal de Tifon.
Currículo do Filósofo:
O Dominus Liminis é um Iniciado do Quinto Grau do Colegiado da Luz Hermética que está
no período probatório para entrar na Segunda Ordem R.R. et A.C. Este Grau corresponde ao
Caminho de Pé na Árvore da Vida, conhecido na Ordem como O Portal. O Sinal do Dominus
Liminis é o Sinal da Caveira de Ossos Cruzados.
52
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3
4. Ritual Enochiano do Elixir da Vida
5. Pathworking: Caminho 26 (Ayin), 25 (Samekh) e 24 (Nun).
6. Scrying no Aethyrs 24 (NIA).
Caso tenha interesse em participar da Ordem, envie uma carta em PDF seguindo as instru-
ções:
1. Faça um breve relato sobre sua busca espiritual. Estudos, práticas e a relevância
desse processo na magia e no ocultismo.
2. Faça uma lista de vinte livros que já estudou na área da magia e ocultismo em geral;
cite os mais relevantes em sua iniciação e faça uma breve resenha do livro mais im-
portante para você.
3. Na carta, coloque todos os seus dados: endereço (físico e eletrônico), data de nasci-
mento, afiliação, profissão, telefone e anexe uma cópia de seu CPF, RG e compro-
vante de residência.
Toda a comunicação da Ordem se dá através de documentos em PDF via e-mail e por correio
convencional.
Após o envio de sua aplicação de afiliação, a Ordem irá notificá-lo em cinco ou dez dias, após
a avaliação de seu pedido. Se ele atender os nossos requisitos, você será admitido ao período
probatório, devendo manter uma prática espiritual sistemática por um período de um ano,
com entradas diárias no diário mágico.
Sua aplicação de afiliação pode ser enviada por e-mail, em PDF. Caso queira enviar carta via
correios, escreva para:
a Secretária,
Av. Barão do Rio Branco, 3652/14, Passos
Juiz de Fora – MG
36025 020
srikulacara@gmail.com
53
Sociedade de Estudos Thelêmicos Corrente 93 No. 3