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Termodinâmica - 2020-2 - 3a Lista

Entrega até segunda, 24/03, às 18:00


Instruções
1. Essa lista contém 5 problemas para entregar, valendo nota, e outros 5 que são ‘recomendados’.
Os problemas para entregar são os pares, e estão assinalados com um asterisco (*). Sugiro não
deixar de fazer os demais, porém, não só por serem interessantes mas porque em alguns casos seus
resultados serão usados em listas futuras.
2. Em todo trabalho de casa você deve exibir todos os detalhes das soluções. De forma geral,
você não ganhará pontos se apresentar uma resposta sem mostrar o encaminhamento e/ou uma
justificativa. Sempre que isto for apropriado, deduza uma expressão algébrica primeiro e só ponha
números no último passo. Teste sempre se sua resposta faz sentido físico, verificando as unidades e
confrontando-a com casos particulares ou limites conhecidos. Escreva com suas próprias palavras,
números e raciocínios, sem copiar soluções prontas, seja de colegas, seja de solucionários.
3. Entregue sua lista em formato .pdf. Por favor identifique o arquivo com o seu nome no título.

Ex. 1 (Probabilidades em 50 jogos de Cara ou Coroa)


Você joga cara ou coroa 50 vezes com uma moeda “honesta”. A cada jogada, a face mostrada é cara (c) ou
coroa (C).
a) Quantos resultados (microestados) diferentes são possíveis para esta sequência de 50 jogadas?
b) Qual a probabilidade de se obter a particular sequência cCcCcCcC....cCcC (caras e coroas alternadas
para todas as 50 jogadas)?
c) Qual a probabilidade de se obter 25 caras e 25 coroas (em qualquer ordem)?
d) Qual a probabilidade de se obter 30 caras e 20 coroas (em qualquer ordem)?
e) Qual a probabilidade de se obter 40 caras e 10 coroas (em qualquer ordem)?
*Ex. 2 (Probabilidades em 1000 jogos de Cara ou Coroa)
Você joga 1000 vezes cara ou coroa com uma moeda “honesta”.
a) Escreva uma expressão combinatórica para a probabilidade (não a multiplicidade) de obter exatamente
500 caras e 500 coroas. Tente calcular essa expressão numa calculadora científica. O que acontece?
Por que isso acontece? (Obs: Se por acaso você tiver uma calculadora potente o suficiente para fazer o
cálculo, tente repeti-lo para 10000 moedas e 5000 caras).
b) Use a chamada “forma fraca” (isto é, menos precisa) da aproximação de Stirling
ln N ! ' N ln N − N
para calcular a probabilidade escrita no item (a). Seu resultado faz sentido? Mostre que o mesmo
problema ocorre para a probabilidade de obter exatamente N/2 caras e N/2 coroas quando se joga N
moedas.
c) Use a chamada “forma forte” (isto é, mais precisa) da aproximação de Stirling:
ln N ! ' N ln N − N + (1/2) ln(2πN ),
para calcular novamente a mesma probabilidade.
Comentário: Este exemplo ilustra como se deve tomar cuidado ao se desprezar fatores multiplicando um
número ‘grande’ ou ‘muito grande’ numa expressão onde este é dividido por outro número de magnitude
semelhante.
d) Use a forma forte da aproximação de Stirling para calcular a probabilidade de obter exatamente 600
caras e 400 coroas.
e) Use um programa de matemática potente o suficiente para calcular o valor exato da probabilidade
calculada no item anterior. (O próprio Excel / Google Planilhas serve, usando a função pre-programada
COMBIN(N,M). Lembre-se apenas de formatar a célula para usar números em notação científica) e
compare.
f) Baseado nas suas respostas aos itens c) e d), você ficaria: (i) nada surpreso/a; (ii) um pouco surpreso/a
ou (iii) muito surpreso/a se obtivesse exatamente 500 caras? E se obtivesse exatamente 600 caras?
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Ex. 3 (Distribuição de multiplicidades de um paramagneto de dois estados)


Para um paramagneto de dois estados grande (N  1), a função de multiplicidade terá um pico muito
agudo ao redor de N↑ = N/2.

a) Use a aproximação de Stirling (completa) para estimar a altura do pico da distribuição de multiplici-
dades
b) Derive uma fórmula para a função de multiplicidade nas vizinhanças deste pico, em termos do parâmetro
x ≡ N↑ − N/2. Use as mesma técnicas usadas no texto/aula no caso dos dois sólidos de Einstein (aprox.
de Stirling e a aproximações à função ln discutidas no Ex. 1 acima). Cheque que
q o valor dessa expressão
2
em x = 0 coincide com o resultado do item (a). Solução: Ω(x) = 2N e−2x /N 2

c) Qual a largura do pico dessa função de multiplicidade?


d) Suponha que você jogue cara-ou-coroa 1000 vezes. Adaptando a expressão encontrada no item (b),
determine: qual a probabilidade (não a multiplicidade) de obter exatamente 500 caras? Ou 600 caras?
Compare com os resultados do Ex. 2.
e) Escreva uma expressão, na forma de uma integral, para a probabilidade de obter mais do que um
certo número Nc de caras ao jogar N moedas. Calcule numericamente esta probabilidade para os casos
onde N = 1.000.000 e Nc = 501.000, 502.000 e 505.000. Você precisará usar um programa capaz de
fazer integração numérica (p. ex: www.wolframalpha.com).

* Ex. 4 (Estado de maior multiplicidade de dois sólidos de Einstein)


A expressão para a multiplicidade de um sólido de Einstein no limite de altas temperaturas (q  N  1)
N
é Ω(N, q) = eq N . Considere dois sólidos de Einstein A e B fracamente acoplados, no limite de altas
temperaturas. O sólido A tem NA osciladores, e o sólido B tem NB osciladores. O número total de unidades
de energia qtot = qA + qB está fixado.
Neste exercício você vai provar que o estado de maior multiplicidade (o estado mais provável) é de fato
aquele no qual
qA qB
= , (1)
NA NB
isto é, no qual a energia está distribuída de modo que a energia por oscilador é a mesma nos 2 sólidos.
qB NA
a) Podemos sempre escolher expressar qA na forma qA = NB + x, onde x pode variar. Escreva qA e qB
como funções de qtot e x
b) Escreva o logaritmo da multiplicidade Ω do sistema composto dos dois sólidos, como função de qtot e
x. (Dica: você deve procurar uma expressão na forma <cte> + f (x), onde cte é independente de x.
Não é necessário se preocupar com essa constante).
c) Mostre finalmente que ln Ω (e portanto também Ω) é máximo quando x = 0, ou seja, quando a equação
acima é satisfeita.

Ex. 5 (Estimativa grosseira da entropia)


Quer seja para um gás ideal monoatômico, quer para um sólido de Einstein no limite de altas temperaturas,
a entropia é dada por N k multiplicado por um logaritmo. Este logaritmo em geral é um número muito menor
que N , portanto, se tudo o que você quer é uma estimativa de ordem de grandeza, você pode desprezá-lo e
considerar apenas S ' N k. Isto é, a entropia, em unidades fundamentais (nas quais a constante k vale 1),
é da ordem de grandeza do número N de partículas no sistema. Esta conclusão é de fato verdadeira para
a maioria dos sistemas (com algumas exceções importantes a baixas temperaturas, quando as partículas se
comportam de forma mais ordenada).
Então, só por diversão, faça uma estimativa grosseira da entropia dos seguintes sistemas: um livro de física
(cerca de um kilograma de compostos de carbono); um boi (600 kg de água); o Sol (2 × 1030 kg de plasma
de hidrogênio ionizado em prótons e elétrons).
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* Ex. 6 (Multiplicidades de sólidos de Einstein)


Considere um sólido de Einstein com N osciladores e energia total U = q, onde  é a energia de cada
‘degrau’ de cada oscilador. Considere ainda o limite N, q  1, mas sem supor nenhuma relação específica
entre os valores de N e q.
a) Usando a aproximação de Stirling, mostre que a multiplicidade do sólido de Einstein vale
 q  N s
q+N q+N N
Ω(N, q) = (2)
q N 2πq(q + N )

b) Considere agora um par de sólidos de Einstein, cada um com N osciladores, e com energia total
Utot = 2N  distribuída entre eles. Quantos macroestados existem para este sistema combinado?
c) Adapte o resultado do item (a) para encontrar o número total de microestados (a multiplicidade total)
deste sistema combinado. Dica: Basta considerar o sistema inteiro como um único sólido de Einstein
com N 0 = 2N osciladores e q = 2N ! Não jogue fora o termo com a raiz quadrada, vamos precisar dele !
d) Como já sabemos, o macroestado mais provável para este sistema é aquele no qual ambos os sólidos
tem metade da energia total. Use novamente o resultado do item (a) para obter uma expressão para
a multiplicidade deste macroestado. Você deve obter um valor muito semelhante ao do item anterior -
exceto pelo termo na raiz quadrada.
e) O resultado do item (d) te diz a altura do ‘pico’ da distribuição de multiplicidades. O resultado do
item (c) te diz a área total dessa distribuição. Podemos usar esses números para obter a largura deste
pico, i.e., o tamanho da faixa de valores de qA que tem probabilidade não desprezível. Basta assumir,
numa aproximação grosseira, um pico retangular contendo toda a probabilidade, de modo que a área
total deve ser a altura vezes a largura. Verifique que a largura obtida dessa forma coincide, a menos de
um fator numérico constante, com o valor obtido na aula usando a aproximação gaussiana. Este valor
corresponde a qual fração do número total de macroestados, obtido no item (b)?

Ex. 7 (Entropia de Mistura de gases - caso mais geral)


Considere um sistema contendo respectivamente Na e Nb átomos de dois gases monoatômicos distintos a
e b, num recipiente com paredes externas isolantes. Inicialmente os gases estão em equilíbrio térmico mas
separados por uma barreira, ocupando volumes respectivos Va e Vb . A barreira é então removida, de modo 1 of 3
que os gases possam se misturar.
Calcule a entropia de mistura para esse sistema em termos das frações x = Nb /N e y = Vb /V , onde
N = Na + Nb eTermodinâmica 1/2016 Trabalho
V = Va + Vb são respectivamente de de
o número total Casa 4 e o volume total.
átomos
Você deve encontrar
Entrega até segunda, 06/06,
∆Smistura = −Nàsk18:00.
[x ln y + (1 − x) ln(1 − y)] . (3)
Verifique que esta expressão se reduz àquela encontrada na aula para o caso x = y = 1/2.
1. Usando um modelo idealizado de misturas, considere dois sólidos cristalinos, A e B,
compostos
* Ex. 8 (Entropia de átomosdediferentes,
de misturas sólidos) Fe e Sn, ocupando sítios de uma rede cristalina, com NA e
Considere dois sólidos cristalinos, A e B, compostos respectivamente de átomos de tipos diferentes, por ex-
NBsólidos
átomos, respectivamente. ON número total de átomos é N = NA + NB . Os dois sólidos são
emplo Fe e Sn. Os contêm respectivamente A e NB átomos, ocupando todos os sítios das respectivas
redes cristalinas.postos
Todosem contatodoe os
os átomos átomos
mesmo tipo se
sãodifundem entre Suponha
indistinguíveis. os dois saltando aleatoriamente
agora que, de um para
quando os sólidos
outro sítio da rede cristalina.
são postos em contato, os átomos podem difundir de um sólido para o outro, saltando aleatoriamente entre
sítios da rede cristalina. Após um tempo suficientemente longo, estarão completamente misturados (fig.).

a) Qual a multiplicidade Ω do sistema antes


A) Qual a multiplicidade Ω do da mistura
sistema ocorrer? devido
composto E depois? Isto é, Isto
à mistura? quantos arranjosarranjos
é, quantos
diferentes existem dos NA e NB átomos entre os N = NA + NB sítios cristalinos em cada caso?
diferentes existem dos NA e NB átomos entre os N sítios cristalinos?

B) Qual é a entropia da mistura? Suponha NA, NB>> 1. Mostre que esta é a mesma fórmula que
você deduziu no trabalho de casa da última semana. (Você pode agora entender porque não há
entropia de mistura quando todos os átomos são idênticos?)
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b) Suponha NA , NB  1. Qual é o ganho de entropia do sistema misturado? Mostre que esta é a


mesma expressão que é obtida fazendo x = y na Eq. (3). (Note que aqui não estamos necessariamente
assumindo x = 1/2).
c) Como seus cálculos mudariam se os átomos do mesmo tipo fossem todos distinguíveis uns dos outros?

Ex. 9 (Entropia de um Buraco Negro)


Um buraco negro é uma região do espaço onde a gravidade é tão intensa que nada, nem mesmo a luz,
pode escapar. Jogar algo em um buraco negro é, portanto, um processo irreversível, pelo menos no sentido
cotidiano da palavra. De fato, ele é irreversível também no sentido termodinâmico da palavra: adicionar
massa a um buraco negro aumenta sua entropia. Ocorre que não há meio de dizer, pelo menos para quem
está do lado de fora, que tipo de matéria foi usada para criar um buraco negro. Portanto, a entropia de um
buraco negro deve ser maior que a entropia de qualquer tipo de matéria concebível que teria sido usada em
sua formação. Sabendo disso, não é difícil estimar a entropia de um buraco negro.

a) Use análise dimensional para mostrar que um buraco negro de massa M deve ter um raio da ordem de
GM
c2 , onde G é a constante universal da gravitação e c é a velocidade da luz. Calcule o raio aproximado
de um buraco negro de massa igual à massa solar (M = 2 × 1030 kg).
Obs: O chamado raio de Schwarzschild, que define o horizonte de eventos, i.e., a distância do centro do
buraco negro abaixo da qual é impossível qualquer coisa escapar, vem a ser igual a exatamente o dobro
dessa estimativa.
b) No espírito do Ex. 7 acima, explique por que a entropia de um buraco negro deve ser, em unidades
fundamentais, da ordem do número máximo de partículas que poderia ter sido usado para criá-lo.
c) Para criar um buraco negro de uma dada massa M com o maior número possível de partículas, deve-
mos usar partículas com a menor energia possível: fótons de grande comprimento de onda (ou outra
partícula também sem massa, cuja energia só depende de seu comprimento de onda E = hc/λ). Mas
o comprimento de onda não pode ser maior que o tamanho do buraco negro. Portanto, considere que
a energia total dos fótons seja M c2 e estime o número máximo de fótons que poderia ter sido usado
para criar um buraco negro de massa M . A menos de um fator 8π 2 , seu resultado deve concordar com
a fórmula exata para a entropia de um buraco negro, obtida em 1973 por Stephen Hawking através de
um cálculo muito mais difícil:
GM 2
SBN = k.8π 2
hc

d) Calcule a entropia de um buraco negro de massa igual à do nosso Sol, e compare-a com a entropia do
próprio Sol, conforme estimada no Ex. 7 acima. Comente.
e) Mostre que a equação acima pode também ser escrita na forma SBN = C ∗A, onde A é a área superficial
do buraco negro (não o seu volume!), e C é uma constante que depende apenas das constantes universais
G, c e h e um fator numérico. Essa famosa relação foi apontada pelo físico Jakob Bekenstein, e até hoje
há um debate sobre seu real significado em termos de uma multiplicidade microscópica.

* Ex. 10 (Processos Irreversíveis)


Descreva três dos seus processos irreversíveis favoritos, de tipos diferentes.
Para cada um deles, explique de forma qualitativa (sem cálculos) por que a entropia do universo aumenta.

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