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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

Registro: 2021.0000498313

ACÓRDÃO

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação Cível nº


1035370-22.2020.8.26.0002, da Comarca de São Paulo, em que é apelante BANCO PAN
S/A, é apelada MARIA ELIZA DA COSTA SILVA LIMA.

ACORDAM, em sessão permanente e virtual da 15ª Câmara de Direito Privado


do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: Deram parcial
provimento ao recurso, com determinação, de ofício. V.U., de conformidade com o voto
do relator, que integra este acórdão.

O julgamento teve a participação dos Desembargadores ACHILE ALESINA


(Presidente sem voto), JAIRO BRAZIL FONTES OLIVEIRA E VICENTINI BARROSO.

São Paulo, 28 de junho de 2021.

ELÓI ESTEVÃO TROLY


Relator
Assinatura Eletrônica
PODER JUDICIÁRIO
TRIBUNAL DE JUSTIÇA DO ESTADO DE SÃO PAULO

15ª Câmara de Direito Privado

Apelação Cível nº 1035370-22.2020.8.26.0002

Apelante: Banco Pan S/A


Apelado: Maria Eliza da Costa Silva Lima
Comarca: São Paulo
Juiz(a): Anderson Cortez Mendes
Voto nº 7998

Apelação. Ação revisional de contrato bancário.


Financiamento de veículo. Sentença de parcial procedência.
Recurso da parte ré.
1. Sentença. Dispositivo. Denominação equivocada da parte ré.
Evidente erro material. Recurso provido nesse ponto, para corrigir
o dispositivo.
2. Seguro prestamista. Instituição financeira que não demonstrou
ter oportunizado à parte autora a livre escolha de seguradora de
sua preferência. Venda casada (art. 39, inc. I, do CDC). Ilegalidade
da cobrança. Precedente do STJ (REsp nºs 1.639.259/SP e
1.639.320/SP).
3. Indébito. Correção monetária. Data da assinatura do contrato.
Descabimento. Termo inicial na data dos efetivos desembolsos,
pena de se caracterizar enriquecimento sem causa.
4. Sentença reformada. Recurso parcialmente provido, para
correção de erro material na sentença, determinando-se, de
ofício, a incidência da correção monetária, sobre o indébito, a
partir dos efetivos desembolsos.

Trata-se de apelação interposta contra a r. sentença, que


julgou parcialmente procedente ação revisional de financiamento de veículo, para: (a)
declarar a abusividade do seguro prestamista; (b) condenar a parte ré ao refazimento dos
cálculos do financiamento, mediante compensação ou repetição de eventual indébito, de
forma simples, com atualização monetária, segundo a Tabela Prática do TJSP, desde a data

Apelação Cível nº 1035370-22.2020.8.26.0002 - São Paulo - Voto nº 7998 - R 2


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da celebração do contrato, e com juros moratórios de 1% ao mês, a contar da citação; (c)


condenar a parte autora ao pagamento das custas, despesas processuais e honorários
advocatícios fixados em 10% sobre o valor da causa, corrigido desde o ajuizamento da
ação pela tabela prática do TJSP, com juros moratórios a partir do trânsito em julgado (fls.
165/181).

A parte ré, ora apelante, nota que o dispositivo da sentença


indicou como ré instituição financeira diversa, e aduz a legalidade do seguro prestamista,
motivo por que pleiteia a retificação do polo passivo e improcedência do pedido (fls.
183/196).

Vieram aos autos contrarrazões (fls. 200/202).

Recurso tempestivo, preparado e regularmente processado.

Sem oposição ao julgamento virtual.

É o relatório.

1. De fato, constou, no dispositivo da sentença, a condenação


de Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S.A. (fl. 180), pessoa jurídica alheia ao
processo, caracterizando-se, porém, mero erro material, que fica corrigido, para constar
Banco Pan S/A.

2. No que se refere ao seguro de proteção financeira, o


Superior Tribunal de Justiça, fixou entendimento que aproveita ao presente caso pela
essência de seu fundamento: “A inclusão desse seguro nos contratos bancários não é
vedada pela regulação bancária, até porque não se trata de um serviço financeiro,
conforme manifestou o BCB em seu parecer, litteris: (...) No caso da presente afetação, os
contratos celebrados nos dois recursos representativos encaminhados a esta Corte
Superior dispõem sobre o seguro de proteção financeira como uma cláusula optativa. (...)
Apesar dessa liberdade de contratar, inicialmente assegurada, a referida cláusula

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contratual não assegura liberdade na escolha do outro contratante (a seguradora). Ou


seja, uma vez optando o consumidor pela contratação da seguradora integrante do mesmo
grupo econômico da instituição financeira, não havendo ressalva quanto à possibilidade
de contratação de outra seguradora, à escolha do consumidor [...]” (STJ, 2ª Seção,
Recursos Especiais nºs 1.639.259/SP e 1.639.320/SP, Rel. Min. Paulo de Tarso
Sanseverino, j. em 12/12/2018).

Na hipótese dos autos, parte ré não comprovou, em sua


contestação (fls. 77/87), a contratação por instrumento em apartado, do que se conclui que
o seguro foi contratado diretamente na cédula de crédito bancário (fl. 21), e sem campo
específico para a escolha de outras seguradoras da preferência da parte autora, o que
caracteriza, por si só, o abuso da oferta (art. 39, inc. I, do CDC), motivo porque o valor do
seguro (R$ 855,00 fl. 21) deve ser devolvido à parte autora.

3. Quanto à correção monetária sobre o valor a ser


restituído, o termo inicial deve ser fixado na data dos efetivos desembolsos, e não a
data da assinatura do contrato, sob pena de enriquecimento sem causa da mutuária.

4. Portanto, dá-se parcial provimento ao recurso, apenas


para correção de erro material na sentença, nos termos acima expostos, com
determinação, de ofício, para que a correção monetária fixada na sentença -- matéria de
ordem pública cognoscível de ofício por força do art. 404 do Código Civil -- incida a partir
dos efetivos desembolsos, e não da data da assinatura do contrato, sob pena de
enriquecimento ilícito da mutuária.

Diante do ínfimo provimento do recurso da parte ré, mantém-


se os ônus sucumbenciais tais como fixados na sentença, inclusive honorários advocatícios,
já considerado o trabalho advocatício nesta fase recursal.

Destaca-se que a eventual oposição de embargos de


declaração manifestamente protelatórios pode motivar condenação do embargante ao
pagamento de multa sobre o valor atualizado da causa, não isenta pelo benefício de justiça

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gratuita, nos termos do artigo 1.026, § 2º do Código de Processo Civil.

Para o fim de interposição de recursos aos Tribunais


Superiores, consideram-se prequestionadas as matérias alegadas pelas partes, sendo
desnecessária a menção do preceito legal ou constitucional, conforme já decidiu o Superior
Tribunal de Justiça (REsp nº 88.365/SP, 4ª T., rel. Min. Ruy Rosado de Aguiar, j. em
14.5.1996).

Ante o exposto, dá-se parcial provimento ao recurso, com


determinação de ofício.

Elói Estevão Troly


Relator

Apelação Cível nº 1035370-22.2020.8.26.0002 - São Paulo - Voto nº 7998 - R 5

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