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LIÇÃO 05 - DISCIPULADO - SANTIDADE - UMA VISÃO DE DEUS – I Pe 1.

13-15
INTRODUÇÃO
A busca por uma vida de acordo com o padrão bíblico de santidade, ao que
parece, é uma luta atemporal. Uma luta eterna que só se findará no dia da gloriosa
vinda do Senhor.
Os tempos podem ter mudado; a igreja e as pessoas também, contudo a
exigência divina acerca da conduta da vida dos cristãos ainda é a mesma que foi
feita aos israelitas na ocasião da peregrinação rumo à terra prometida:
“Consagrem-se e sejam santos, porque eu sou santo” (Lv 20.7).
Jesus, no sermão do monte, elevou essa exigência ao declarar: “Sejam
perfeitos como perfeito é o Pai celeste de vocês” (Mt 5.48).
Para mostrar a relevância desse padrão bíblico de santidade John Stott
escreveu: “O chamado que Cristo nos faz é novo, não apenas porque é uma
ordem para sermos ‘perfeitos’, mais do que ‘santos’, mas também por causa da
descrição que faz do Deus que devemos imitar”.1
Ao que parece maior dificuldade que impede o homem de alcançar tal meta, a saber, uma vida de
santidade, não é o mundo que jaz em pecado, mas o pecado residente no próprio homem, e dessa forma ele
encontra toda sorte de obstáculos em sua busca por uma vida santa, Rm 7.17-20.

1. SANTIDADE – CONCEITOS EQUIVOCADOS


a) Moralismo
Notadamente, alguns cristãos se destacam por sua postura moral, seu comportamento ético,
honestidade, firmeza de caráter e palavras. Espera-se exatamente isso de cada cristão. No entanto uma
pessoa não precisa ser necessariamente cristã para ter essas qualidades, Mt.19.16-22.
b) Ativismo religioso
Geralmente se confunde santidade com ativismo religioso. Tendemos a qualificar as pessoas como
santificadas na medida em que elas assumem cargos ou se envolvem nas mais diversas atividades do
templo. Servir a Deus é resultado de um coração voluntário e uma vida consagrada. Ativismo religioso não
pode ser sinônimo de vitalidade espiritual e em muitos casos é sintoma de que alguma coisa não está bem,
Lc 10.38-42.
c) Experiências Espirituais
Outra prática que se percebe em nossos dias é igualar a santificação com experiências espirituais. O
relacionamento com Deus é marcado por experiências individuais. Entretanto ninguém pode ser rotulado
como mais ou menos santo pela qualidade e tipos de experiências. Um exemplo disto é à igreja de Corinto.

2. OS ASPECTOS BÍBLICOS DA SANTIDADE


a) No Antigo Testamento - A Palavra hebraica usada para se referir ao que é santo é “qadosh”, cujo
significado básico é “separar dentre outras coisas”.
Na Bíblia encontramos o povo de Deus consagrando de tudo: pessoas (Ex 22. 31); vestes sacerdotais
(Ex 29. 29); campos (Lv 27. 21); ofertas (Dt 12. 26); dinheiro e utensílios (Js 6. 19); animais (2 Cr 29. 33); o
dia (Ne 8. 9); lugares (Jr 31. 40). Isso mostra que devemos consagrar todas as coisas a Deus em um ato de
fé e de busca da vontade Dele. A palavra também se refere a uma separação de cunho moral e ético que
distinguiria o povo de Israel dos demais, Lv 11.44-45.
b) No Novo Testamento - No Novo Testamento a palavra é “hagios”. Essa palavra é usada para
descrever a santificação dos crentes em dois sentidos: O primeiro é a separação da prática do pecado deste
mundo; O segundo é a consagração ao serviço de Deus.

1
STOTT, John. A Mensagem do Sermão do Monte. São Paulo: ABU-Editora. 2008, p. 123.
Hoekema conceituou: “Santificação é a operação graciosa do Espírito Santo, que envolve a nossa
participação responsável, por meio da qual, como pecadores justificados, ele nos liberta da corrupção do
pecado, renova toda a nossa natureza segundo a imagem de Deus e nos habilita a viver uma vida que é
agradável a ele”.2

3. O AUTOR E OS MEIOS DE SANTIFICAÇÃO3


A santificação é efetuada pela operação imediata do Espírito Santo na vida dos crentes. É feita por
diversos meios, que o Espírito Santo emprega.
a) A Palavra de Deus - A Escritura apresenta todas as condições objetivas para exercícios e atos
santos. Ela é útil para estimular a atividade espiritual apresentando motivos e incentivos, e nos dá direção
para essa atividade por meio de proibições, exortações e exemplos, Jo 17.17; 1 Pe 1.22; 2.2.
b) Os Sacramentos - Simbolizam e selam para nós as mesmas verdades que são expressas
verbalmente na Palavra de Deus, e podem ser considerados como uma palavra em ação, contendo uma viva
representação da verdade, que o Espírito Santo torna ocasião para santos exercícios.
- Batismo, Rm 6.1-9; 1 Co 12.13; 1 Pe 3.21.
- Santa Ceia, Mt 26.26-28; I Co 11.23-26.
c) Direção Providencial - As providências de Deus, quer favoráveis quer adversas, muitas vezes são
poderosos meios de santificação. Em conexão com a operação do Espírito Santo mediante a Palavra, elas
agem em nossos afetos naturais. Devemos ter em mente que a luz da revelação de Deus é necessária para a
interpretação das Suas orientações providenciais, Jr 10.23; Pv 20.24; Sl 25.12-14.

4. OS TRÊS TEMPOS DA SANTIFICAÇÃO


Stott pregou: “Há três perspectivas: passado, presente e futuro. Todas apontam na mesma direção: há
o propósito eterno de Deus, pelo qual fomos predestinados; há o propósito histórico de Deus, pelo qual
estamos sendo transformados pelo Espírito Santo; e há o propósito final ou escatológico de Deus, pelo qual
seremos semelhantes a ele, pois o veremos como ele é. Estes três propósitos — o eterno, o histórico e o
escatológico — se unem e apontam para um mesmo objetivo: a conformação do homem à imagem de
Cristo”.4
a) Santificação Passada (propósito eterno) significa que o crente já foi posicionalmente separado
em Cristo, Rm 8.29-30. Esta santificação é uma realidade eterna e está baseada numa nova posição
espiritual que o Cristão tem em Jesus Cristo. Os crentes de Corinto não estavam sem pecado, e apesar disso
foram chamados de santos e foi escrito que foram santificados (1 Co. 1.2, 30).
b) Santificação Presente (propósito histórico) indica o processo pelo qual o Espírito Santo
gradualmente muda a vida do crente para dar vitória sobre o pecado. Esta é a santificação prática. Este
processo atual de santificação nunca acaba nesta vida (1 Jo 1.8-10). O Cristão precisa resistir ao pecado até
ser levado deste mundo através da morte ou na volta de Cristo.
c) Santificação Futura (propósito escatológico) é a perfeição que o crente vai desfrutar na
ressurreição (1 Ts 5:23). Na vinda de Cristo, cada crente receberá um corpo novo que estará sem pecado. O
Cristão não terá mais de resistir ao pecado ou de crescer para a perfeição. Sua santificação estará completa.
Ele estará inteira e eternamente separado do pecado e para Deus.

Para Concluir:
O desafio da vida cristã leva-nos a desejar sermos santos na presença de Deus. Nesta busca,
precisamos disciplinar-nos numa constante comunhão com Deus através de uma prática devocional. Deus
nos chamou para a santificação (I Ts 4.7) deu-nos a ordem de santificar-nos (I Pe 1.15).
a) A leitura da Bíblia e a meditação em seu ensino, Sl 119.9-16.
b) A oração é indispensável ao crescimento espiritual e à santificação, Sl 139.23-24.
c) A adoração a Deus, no culto público, é indispensável, Hb 10.19-25
d) A autodisciplina ou o domínio de si mesmo é algo indispensável na busca da santidade, I Co 11.31-
32.
e) O companheirismo cristão é outro elemento muito forte, Hb 12.14-15.

2
HOKEMA, A. Salvos pela graça: a doutrina bíblica da santificação. São Paulo: Cultura Cristã. 2002, p. 189
3
BERKHOF, Loius. Teologia Sistemática. Campinas, SP: Editora Luz Para o caminho. 1990, p. 539
4
STOTT, John. O Paradigma: Tornando-nos mais Semelhantes a Cristo. Sermão pregado na Convenção de Keswick em 17/07/2007. Tradução: F. R.
Castelo Branco. Outubro 2007.

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