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CURSO BÁSICO DE

PRODUÇÃO DE CERVEJA
CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA SUMÁRIO

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................................................................................ 03

PREPARATIVOS .............................................................................................................................................................................. 04

Lista de equipamentos ............................................................................................................................................................... 04

INSUMOS ........................................................................................................................................................................................ 05

Água ................................................................................................................................................................................................. 05

Malte ................................................................................................................................................................................................ 06

Lúpulo ............................................................................................................................................................................................. 06

Levedura ......................................................................................................................................................................................... 07

PROCESSOS ..................................................................................................................................................................................... 08

Moagem .......................................................................................................................................................................................... 08

Mostura .......................................................................................................................................................................................... 08

Clarificação .................................................................................................................................................................................... 11

Fervura ............................................................................................................................................................................................ 11

Separação do trub, resfriamento e areação .......................................................................................................................... 12

Fermentação ................................................................................................................................................................................. 13

Maturação, clarificação e envase ............................................................................................................................................. 13

Limpeza e sanitização ................................................................................................................................................................. 14

CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................................................................................................. 15

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CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA INTRODUÇÃO

INTRODUÇÃO

A produção de cerveja em casa pode ser um hobby muito prazeroso, o processo como um todo é mais fácil do que
parece. Algumas coisas são fundamentais: um pouco de conhecimento, organização (separação prévia dos
ingredientes, checagem dos equipamentos, anotações durante a execução) e paciência.

Através da produção de cerveja em casa você pode explorar toda sua criatividade, fazer novas amizades e descobrir
um universo fascinante.

Uma excelente leitura é o livro How To Brew: Everything You Need to Know to Brew Great Beer Every Time, John J.
Palmer, 2017. Nele você vai encontrar informações completas sobre todas as etapas de produção, processos de
sanitização, receitas e discussão sobre estilos. Infelizmente ainda temos pouca literatura sobre o assunto em
português.

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CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA PREPARATIVOS

PREPARATIVOS

Lista de equipamentos
Em um primeiro momento pode parecer que necessitamos de muitas coisas para produzir nossa própria cerveja,
porém vocês vão perceber que a maioria dos equipamentos são baratos e fáceis de serem adquiridos.

1: Filtro de água com carvão ativo 12: Papel de pH ou pHmetro


2: Balança 13: Densímetro
3: Moinho de grãos 14: Refratômetro
4: Panela cervejeira 15: Chiller
5: Fundo falso 16: Erlenmeyer
6: Fogareiro 17: Bomba de oxigenação
7: Colher cervejeira 18: Balde de fermentação
8: Escumadeira 19: Airlock
9: Jarra plástica grau alimentício 20: Arrolhador
10: Termômetro 21: Tampinhas
11: Iodo e placa de toque 22: Garrafas

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CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA INSUMOS

INSUMOS

Água
Mais de 90% da cerveja é formada por água. Temos duas possibilidades para obtenção de água: a primeira é a
aquisição de galões de água e a utilização das informações do rótulo sobre a sua composição mineral para elaboração
das receitas; a segunda é utilização de água tratada - neste caso é necessário a utilização de filtros para remoção do
cloro, pois o mesmo vai gerar off flavors na cerveja. O perfil correto de minerais na água vai colaborar para uma melhor
conversão dos amidos, fermentação saudável, clarificação e equilíbrio entre o caráter maltado ou lupulado que se
deseja obter na cerveja.

Cinco minerais são importantes para o perfil final da cerveja:

Cálcio
Participa em processos enzimáticos, acelera a clarificação da cerveja e ajuda na
regulação do pH quando associado a carbonato (aumentado o pH).

Sódio
Em baixas concentrações aumenta a sensação de dulçor na cerveja.

Cloreto
Destaca o malte e também traz sensação de dulçor para cerveja, este íon
também é importante em processos enzimáticos.

Magnésio
Participa em processos enzimáticos, em altas concentrações traz um amargor
acentuado para cerveja.

Sulfato
Semelhante ao magnésio vai destacar o amargor da cerveja.

Dicas
- Mantenha o fluxo baixo durante a filtragem, permitindo a retenção completa do cloro.

- A água de Campo Grande é muito leve, com baixa concentração de minerais, sendo ideal para produção de cervejas claras.

- Água com maior concentração de cloretos vai destacar os aromas maltados e água com maior concentração de sulfato vai
destacar o amargor da cerveja.

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Malte
Diversos cereais podem ser maltados, como a cevada, trigo e centeio e utilizados na produção de
cerveja. O processo consiste em uma pré-germinação do grão, seguida de secagem em diferentes
temperaturas. A malteação gera maltes com diferentes colorações, graus de caramelização e
poder enzimático (também conhecido como poder diastático).

Alguns estilos aceitam a inserção de grãos não malteados como a aveia, trigo, arroz e milho ou
ainda outros adjuntos como sacarose, maltose e fontes de amidos. O malte é o responsável por
algumas características sensoriais da cerveja como notas de grãos, pão, caramelo, frutas escuras,
tostado, torrado, defumado e queimado.

Dicas
- Maltes mais claros tem maior poder diastático.

- Maltes mais escuros tendem a diminuir o pH da cerveja, sendo normalmente necessária a correção
da água.

- Quando se utiliza grandes quantidades de trigo (> 30%) pode ser necessária a utilização de casca de
arroz para garantir uma boa filtragem do mosto.

- Quando se utiliza aveia ou outros adjuntos com grande quantidade de β-glucanos é recomendada a
utilização de uma rampa para quebra de glucanase durante a mosturação (45ºC de 15-30 min.).

- Os maltes devem ser armazenados bem embalados em ambientes frescos, secos e livres de
umidade.

Lúpulo
O ingrediente mais famoso da cerveja. Planta originária da Europa que hoje é cultivada com sucesso em diversas
partes do mundo, inclusive no Brasil. São encontradas centenas de variações no mercado, podendo ser classificada de
uma maneira geral como lúpulos de amargor e/ou aroma. Algumas características são importantes, como sua
concentração de α-ácido (amargor), perfil e concentração dos óleos essenciais (aroma).

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O lúpulo pode trazer uma vasta gama de aromas e sabores a cerveja, como cítrico, terroso, floral, gramíneo, ervas,
pinho, condimentos e resina. Estas informações podem ser encontradas facilmente na internet ou em livros sobre o
assunto.

A inserção do lúpulo pode ocorrer em todas as etapas do processo de produção, desde a mosturação até a maturação,
como regra geral podemos definir as adições nas etapas inicias (mosturação e início da fervura) como principais
responsáveis pelo amargor e nas etapas finais como responsáveis pelo aroma e sabor.

Dicas
- A utilização de lúpulos com menor teor de co-humuleno vai gerar um amargor mais agradável.

- Cervejas com adição de lúpulos após a fermentação possuem uma baixa estabilidade e devem ser consumidas brevemente.

- As características sensoriais dos lúpulos podem ser preditas pela sua origem: normalmente lúpulos da Alemanha ou Europa
oriental apresentam um caráter muito suave e agradável com notas florais e herbais; lúpulos Ingleses trazem um caráter
herbal, terroso e algumas vezes resinoso; já lúpulos Americanos, Australianos e Neozelandeses terão um aroma frutado,
cítrico e/ou resinoso muito característico.

- Armazene sempre os lúpulos no freezer para evitar sua degradação, acarretando em perda do aroma, poder de amargor e
a produção de aroma indesejável como queijo envelhecido.

Levedura
Verdadeiras responsáveis pela produção da cerveja, são as leveduras que transformam os açúcares em álcool,
gerando durante este processo diversos aromas e sabores como frutado, banana, cravo, especiarias, celeiro, couro e
pão. As leveduras também podem gerar aromas indesejados como manteiga, maçã verde, sulfuroso e medicinal.
Assim o sucesso de uma boa cerveja vai estar diretamente ligado com uma fermentação saudável.

Assim como os lúpulos, encontramos centenas de cepas de leveduras no mercado. Uma classificação ampla permite
dividir estas cepas em lagers (leveduras de baixa fermentação, Saccharomyces pastorianus), mais neutras e com
excelente atenuação e ales (leveduras de alta fermentação, Saccharomyces cerevisiae), mais aromáticas e com variável
taxa de atenuação. Uma regra geral é que leveduras com baixa floculação apresentam uma maior atenuação e
temperatura mais altas de fermentação gerem mais aromas frutados.

Na fermentação também podem ser utilizadas outras leveduras, como as do gênero Brettanomyces responsáveis pelas
principais características de alguns estilos belgas como Lambic e Red Flanders, trazendo desde aromas frutados,
remetendo a abacaxi e frutas de caroço, como notas de couro e celeiro (conhecidos como “funk”). Além disso, alguns
estilos como Catharina Sour e Berliner Weiss necessitam a utilização de Lactobacillus para a produção de acidez.

Dicas
- Taxas corretas de inoculação, adição de nutrientes e oxigenação aliadas a um correto processo de sanitização vão garantir
uma fermentação eficaz do mosto.

- Leia o perfil aromático, resistência ao álcool e capacidade de atenuação da levedura antes da elaboração da receita.

- Lactobacillus são sensíveis à presença de lúpulo.

- Controle de temperatura é fundamental para uma fermentação “limpa” e produção de aromas desejados

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CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA PROCESSOS

PROCESSOS

Moagem
A moagem dos grãos é uma etapa chave para produção de uma cerveja de qualidade, ela deve permitir a liberação
dos açucares do grão e enzimas sem fragmentar as cascas em excesso. Existem dois modelos de moinho no mercado:

Moinho Corona
Baixo custo, por abrasão, relativamente eficaz, porém de difícil regulagem.

Moinho de rolos
Custo mais elevado, promove uma moagem mais adequada, sendo de fácil regulagem (ajuste adequado varia de
0,9-1,4 mm entre os rolos).

Cevada malteada. A: grãos íntegros, B: grãos moídos de maneira ideal.

Dicas
- Um teste rápido para avaliar a moagem adequada dos grãos é pesar 100 gramas dos grãos, moer e medir o volume ocupado
pelos mesmos em uma proveta. Ideal – 250-270 ml.

- Condicionar o grão com água 10 minutos antes da moagem (borrifando o grão de maneira uniforme com 2% de água),
melhorará o processo de filtragem do mosto pela diminuição da fragmentação das cascas.

Mostura
A mostura é processo de conversão dos amidos presentes nos grãos em açucares fermentáveis. O controle deste
processo é fundamental para atingirmos as características desejadas na cerveja. O tempo da mostura vai variar de 30
até 120 minutos e deve ser ajustado pela velocidade de conversão dos amidos. Existem diversas variáveis que podem
ser controladas durante esta etapa.

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Relação água/grão
Esta relação vai variar dependendo da configuração do equipamento. De uma maneira geral a relação ideal é de 2,7 L
: 1 Kg (água/grão). A utilização de uma relação maior de água como 4 - 5 L : 1 Kg vai aumentar o tempo de conversão
do amido pela diluição das enzimas, por outro lado permite uma menor utilização de água para lavagem ou até
eliminação desta etapa, evitando a extração de fenóis e taninos.

pH
O pH ideal para a mostura varia entre 5,4 e 5,6, nesta faixa a ação das enzimas conversoras de amido será maximizada,
aumentando a velocidade de conversão e rendimento final.

Dicas
- O pH se representa por uma escala logarítmica de 1-14, assim o pH de 5,0 é dez vezes mais ácido que o pH 6,0.

- O ajuste do pH da água pode ser feito através da utilização de ácidos (ácido lático ou fosfórico - diminuir) ou Carbonato de
cálcio (aumentar).

- O pH final da cerveja vai estar relacionado com a sensação de frescor, o ideal é este pH ficar entre 4,2 e 4,5.

- Água de lavagem com pH maior que 6,0 vai extrair uma maior quantidade de fenóis e taninos, conferindo adstringência a
cerveja.

- A adição de malte acidificado, cada 1% vai reduzir o pH em cerca 0,1.

Temperatura
O controle e uniformidade da temperatura são muito importantes para manter as enzimas ativas e garantir a
conversão completa do amido, quebra de proteínas, glucanos e liberação de polifenois. Neste processo estão
envolvidos diferentes grupos de enzimas, que vão atuar em temperaturas diferentes, as principais responsáveis pela
conversão dos amidos são a β-amilase e α-amilase. A escolha das rampas vai depender do tipo de grão utilizado e
estilo de cerveja a ser produzido.

Enzima Faixa de Ideal Desnaturação*


Temperatura
-glucanase 35-55ºC 45ºC 60ºC
Proteinase 50-59ºC 58ºC 68ºC
-amilase 54-66ºC 64ºC 71ºC
-amilase 66-71ºC 70ºC 77ºC

*A desnaturação das enzimas é um processo irreversível.

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Dicas
- O teste do iodo serve para monitorar a conversão do amido em açucares, a coloração escura indica a presença de amidos.

- A utilização de uma rampa de proteinase, pode melhorar a formação e retenção de espuma (indicada para grãos com alto
teor de proteína).

- A β-amilase vai produzir um mosto mais fermentável, pois a enzima gera como subproduto a maltose, enquanto a α-amilase
vai produzir um mosto menos fermentável (gerando como principal subproduto dextrinas) trazendo mais corpo para a
cerveja. Assim, de uma maneira geral temperatura mais baixa de mosturação (62-65ºC) vai gerar um mosto mais fermentável,
uma cerveja mais atenuada e com menor corpo.

- Temperatura acima de 78ºC vão extrair uma maior quantidade de fenóis e taninos, conferindo adstringência a cerveja.

- A geleificação do amido da cevada acontece a temperaturas acima de 65ºC, este processo é fundamental para as enzimas
terem acesso ao amido e realizarem sua conversão.

- Cálcio, cloreto e zinco são catalizadores das enzimas β e α-amilase.

- A β-amilase tem menor estabilidade e mesmo a temperaturas baixas vai ter a maioria de suas moléculas degradadas em
cerca de 30 minutos.

- A temperatura de 72ºC permite a liberação de glicoproteínas, que são importantes para a formação e retenção da espuma.

- Iniciar a mostura acima de 60ºC e evitar a oxigenação do mosto impedem a ação da polifenol oxidase, melhorando a
estabilidade sensorial e coloidal da cerveja.

- Como sugestão é indicado um tempo máximo para cada rampa de 40 minutos; tempos maiores do que este não melhoram
a eficiência do processo.

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Clarificação
Ao final da conversão dos açúcares o mosto deve ser clarificado através de circulação, durante este processo é
importante manter a temperatura em 78ºC para diminuir a viscosidade, aumentar a velocidade de filtração e evitar e
extração de amidos e polifenois. A clarificação pode ser feita de maneira manual (com uma jarra e escumadeira) ou
com a utilização de bombas próprias.

Após a clarificação o mosto primário deve ser transferido para a panela de fervura e o bagaço lavado para remoção
dos açúcares residuais. Este processo dura cerca de 1-2 horas e garante um maior rendimento e boa estabilidade
coloidal da cerveja.

Dicas:

- Utilizar água com pH entre 3,8 e 4,2 para a lavagem dos grãos evita a extração de polifenois e ajusta o pH da fervura para
cerca de 5,0-5,3.

- A lavagem do bagaço deve ser feita até uma densidade mínima de 1,010, abaixo disto serão extraídos produtos indesejados.

Fervura
A fervura normal tem uma duração de 60-70 minutos e deve ocorrer com uma taxa de evaporação de 8-10 %. Ela vai
desempenhar diversos papeis no processo de produção da cerveja e é importante que durante toda esta etapa a
panela fique destampada. Durante os 20 minutos iniciais vão ocorrer a quebra e evaporação do Dimetilsulfeto (DMS),
que se não removido trará um aroma de milho ao produto final.

A fervura vigorosa pode aumentar a coloração da cerveja, pelo desenvolvimento de reações de Maillard, a qual
também promoverá uma redução do pH do mosto. A fervura vigorosa promove a complexação de proteínas com
polifenois e sua precipitação (causadores de turvação na cerveja). Será durante esta fase que ocorrerá a extração e
isomerização dos α-ácidos dos lúpulos, responsáveis pelo amargor da cerveja (medidos em IBU - International
Bitterness Unit), estes compostos são isomerizados proporcionalmente ao tempo que permanecem expostos a altas
temperaturas.

Características do lúpulo quanto ao sabor, aroma e amargor durante a fervura.

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Podemos categorizar a adição do lúpulo em três etapas durante a fervura, as adições de lúpulos no início (que
permanecerão fervendo por 40-60 minutos) vão ser responsáveis pela maioria do amargor da cerveja. Adições
intermediárias (20-10 minutos) pelo sabor e adições finais (10-0 minutos) pelo aroma. Assim, uma distribuição do
lúpulo ao longo da fervura vai trazer complexidade à cerveja. Na figura anterior se encontra uma representação destas
adições ao longo da fervura.

Dicas
- O início da contagem do tempo nesta etapa só deve ocorrer após a fervura realmente começar.

- O lúpulo continuará gerando amargor enquanto a temperatura do mosto estiver acima de 90°C.

- Uma técnica de adição conhecida como First Wort Hopping, que consiste na inserção do lúpulo de amargor ainda durante a
transferência do mosto primário, gera um sabor mais acentuado e uma amargor mais suave ao produto final.

- Durante a adição do lúpulo ocorre formação excessiva de espuma e pode ocorrer transbordamento.

- Caso o rendimento da mosturação tenha sido abaixo do calculado o ajuste final do extrato pode ser realizado com extrato
de malte seco (DME). Também podemos adicionar açúcar (no máximo 10%), porém teremos um aumento da atenuação da
cerveja e diminuição do corpo.

Separação do trub, resfriamento e areação


Após o final da fervura devemos ter muito cuidado com a sanitização, pois os riscos de contaminação são muito
grandes. No final da apostila são demostrados alguns produtos utilizados na sanitização.

O Trub é composto basicamente por proteína coaguladas e complexadas com polifenois, lipídeos e resíduos de lúpulo.
Ele pode ser removido a quente e a frio, recomenda-se a remoção completa do trub quente e 50% do trub frio. Para
remoção do trub quente utilizamos a técnica de wirlpool, que consiste em rotacionar o mosto com uma colher
cervejeira e deixar o mesmo descansando por 15-30 minutos antes da drenagem para resfriamento. Após a remoção
do trub o mosto deve ser resfriado o mais rápido possível, evitando o mosto permanecer em temperaturas entre
20-40°C onde poderá ocorrer contaminações. O mosto deve ser resfriado à uma temperatura cerca de 2°C abaixo da
temperatura que se deseja fermentar.

O resfriamento pode ser realizado com chiller de imersão, normalmente feito com tubos de cobre, inox ou alumínio;
ou trocadores de calor, que permitem a passagem de água e mosto ao mesmo tempo sem se misturarem, gerando um
resfriamento eficaz.

A aeração do mosto é necessária para multiplicação das leveduras, sendo desejadas concentrações de oxigênio entre
8-15 ppm; podemos utilizar bombas de aquário com filtro microbiológico ou oxigênio puro.

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Dicas
- Cuidado para não aerar o mosto durante o rotacionamento do mesmo.

- A utilização de aditivos como Irish Moss nos 15 minutos finais da fervura ajuda na sedimentação do trub.

- Quanto mais baixa a temperatura melhor a absorção do oxigênio.

- A aeração pode ser substituída com sucesso pela adição de uma gota de azeite de oliva extra virgem.

Fermentação
Etapa mais importante no processo de produção, nesta etapa podemos utilizar leveduras secas ou liquidas, sendo
importante seguir as recomendações do fabricante quanto à temperatura e taxa de inoculação. Alguns sites (como
brewer's friend) calculam a taxa de inoculação de maneira bastante precisa.

Dicas
- Pode ser realizado um teste rápido de atenuação, removendo 200-250 ml do mosto já inoculado com a levedura e mantendo
em um temperatura alta 25-30°C, desta maneira podemos saber com exatidão qual será a atenuação final aparente,
decidindo com mais precisão inserção de lúpulos e início da maturação.

- Os principais problemas apresentados na fermentação ocorrem por falta de controle de temperatura e baixa taxa de
inoculação (underpitching). O excesso de leveduras, chamado de overpitching, também gera problemas, porém para que isto
ocorra são necessárias adições de leveduras superiores a 4 vezes maior que a taxa recomendada, o que na prática
dificilmente ocorrerá.

- Certifique-se que o mosto está realmente frio antes de adicionar a levedura.

- A fermentação normalmente dará sinal de atividade entre 24-48 horas após a inoculação, isto pode ser observado pelo
movimento do airlock.

Maturação, clarificação e envase


Etapas finais de produção. A maturação visa “arredondar” os aromas da cerveja, ocorrendo normalmente em 5-20 dias
após o final da fermentação, dependendo do estilo da cerveja. Nesta etapa a cerveja deve ser mantida em contato com
a levedura para que compostos indesejáveis sejam reabsorvidos e biotransformados (o aumento de 3-5ºC durante
esta etapa vai acelerar o processo). Após a maturação a cerveja é clarificada com o auxilio de baixas temperaturas,
(próximo de 0ºC, baixar no máximo 5ºC por dia), assim facilitando a sedimentação de leveduras e outros compostos
que poderão turvar a cerveja.

Depois de clarificada, a cerveja finalmente está pronta para ser envasada. Este envasamento pode ser realizado em
barris com carbonatação forçada ou pela adição de novos açucares fermentáveis à garrafa, chamado de primming.

O primming, mais comum entre os cervejeiros caseiros, é um processo simples que consiste na adição de açucares
direto na garrafa de envase (normalmente de 4-8 g/l). Estes açucares serão refermentados entre 7-14 dias gerando gás
carbônico.

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Dicas
- Nesta etapa é fundamental o cuidado com a sanitização, as garrafas e tampinhas devem ser sanitizadas previamente, assim
como mangueiras e outros materiais utilizados.

- Certifique-se que a fermentação está finalizada antes de baixar a temperatura.

- Cuidado com a dosagem do açúcar no primming, o excesso pode gerar explosões.

- Durante o envase evite incorporação de oxigênio na cerveja.

- Após a refermentação é recomendado manter as cervejas refrigeradas para evitar degradação.

- As cervejas sempre deverão ser mantidas em pé.

Limpeza e sanitização
Os cuidados com a sanitização são fundamentais para todos os equipamentos e utensílios utilizados na fase fria
(fermentadores, mangueiras, chiller, garrafas, tampinhas). Na verdade, no ambiente homebrew conseguimos realizar
apenas uma desinfecção, que consiste na redução parcial dos microorganismos (normalmente por processos
químicos).

Um dos desinfectantes mais utilizados é o álcool 70%, que age de maneira rápida não sendo necessário enxague após
seu uso (basta deixar o mesmo evaporar), a contra indicação é que o mesmo pode ressecar plástico e borrachas.

Outros dois desinfectantes, muito populares, são o Iodofor e o ácido peracético. O iodofor apresenta o melhor
custo-benefício e pode ser utilizado sem enxague na concentração máxima de 25 ppm, sua eficácia só é atingida com
um tempo de contato mínimo de 1 minuto (cuidado que pode manchar mangueiras e fermentadores de plástico). O
ácido peracético, apesar de muito eficiente requer cuidados especiais pelo fato de ser corrosivo (pode danificar
panelas de alumínio e causar lesões na pele), seu preparo vai depender da concentração adquirida, assim
recomendamos seguir as instruções da embalagem; a principal desvantagem é que são necessários 10 minutos para
que o utensílio esteja desinfectado.

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CURSO BÁSICO DE PRODUÇÃO DE CERVEJA CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dicas
- Evite correntes de ar no local de produção, elas carreiam microrganismos.

- Dê preferência à superfícies lisas e de fácil limpeza.

- Limpe e sanitize seu equipamento e utensílios antes de iniciar a brassagem.

CONSIDERAÇÕES FINAIS
Agora você tem algumas ferramentas que vão te ajudar na produção de sua própria cerveja, lembre-se sempre de
anotar todas as informações durante a produção e se alguma coisa der errada não desista, o prazer de ter sua própria
cerveja é muito recompensador.

Um programa que pode te auxiliar muito na produção de cerveja é o BeerSmith®, apesar de não ser gratuito seu custo
é bastante acessível, nele você encontra diversas receitas e ferramentas para calcular os mais variados parâmetros
necessários para se fazer uma cerveja de qualidade.

Mãos à obra!

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CURSO BÁSICO DE
PRODUÇÃO DE CERVEJA

Autorizada a divulgação e reprodução desde material


didático para fins não comerciais.

Elaboração: Carlos Carollo


Revisão: Thiago Wormsbecher e Amanda Galdi Boaretto
Diagramação: Thiago Wormsbecher e Cristiano Valim

Realização:

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