Cibernética? A palavra bruscamente duas esferas até agora independentes,
se torna moda. Provàvelmente destro e mais, até opostas; entre a matemá nará o têrmo “ atômico” , que, por sua tica e a filosofia, entre as máquinas e vez, suplantou o “ eletrônico” , palavra a vida. Enormes quantidades de co que já havia relegado “ elétrico” e nhecimentos se haviam acumulado em “ automático” , expressões hoje já des cada pólo. E, de pronto, fazendo-se valorizadas. aproximar ambos os pólos, se produ ziu uma chispa. A sua luz, o negro Não passa dia sem que se leiam as abismo, que acreditávamos existir en mágicas sílabas de “ robot” . Não há tre a matéria e o espírito, se nos re jornais ou revistas que não se ocupem vela um nôvo mundo. de cérebros artificiais, de máquinas que pensam. E, todo leitor, ainda que De pronto, as margens da ciência, mais refratário às superficiais noticias conhecidas desde tempos atrás, ficam dos jornais, se interessa e até se iluminadas com nôvo resplendor. apaixona por êsses artefatos que re Tudo partiu do simples pensamento volucionaram a noção de máquina. de que a vida pode, senão explicar-se, pelo menos focalizar-se com raciocí Existe atualmente uma nova disci plina que nos promete a maior revo nio, experiências e caráter matemático. lução, tanto no terreno da filosofia, Contudo, essa idéia não é nova, pois como no da ciência. E esta revolução Claude Bernard, de quem tantos pon tos de vista triunfam na cibernética nasceu também da guerra. Se a outra revolução fêz estalar a bomba atômi em geral, escreveu: “ Os órgãos não são outra coisa que aparelhos mecâni ca. o certo é que a cibernética estala cos e físicos, criados pelo organismo. por si mesma. Êsses mecanismos são mais comple Não se veja nesta frase um simples xos do que os corpos brutos, mas não efeito de estilo, senão uma verdade diferem dêles quanto às leis que re profunda. A revolução atômica só al gem seus fenômenos. Essa a razão cança o domínio da Técnica e não pela qual podem ser submetidos às fêz senão conduzir à confirmação ex normas teóricas e estudar-se pelos perimental das teorias físicas e quími mesmos métodos” . cas, lentamente elaboradas desde mui to tempo atrás. PESQUISAS E ESTUDOS
A revolução cibernética se desen Norbert Wiener, professor de mate
rola, todavia, com rapidez assombrosa, mática do Instituto de Tecnologia de detonante. A deflagração surgiu entre Massachusetts, em mesa-redonda com cientistas da Universidade de Harvard, gem parece desempenhar um papel entre os quais, o médico, professor essencial no sistema nervoso, ambos Arturo Rosenblueth, em reuniões rea investigadores se encontraram no co lizada em Boston, USA, nos últimos ração do problema a desenvolver: in anos que precederam à última guerra, tegrar em um mecanismo uma função lamentavam que a especialização cres normal do homem. cente impedia o intercâmbio de pon De modo simples, podemos dizer tos de vista entre técnicos de forma que o “ feed-back” é um dispositivo ção diferentes. que produz um efeito sôbre uma de Mas os que deviam criar a ciberné suas causas e que permite, desta sor tica, ao procurar uma ponte entre te, que tal efeito alcance um deter as respectivas ciências, teriam perma minado fim: as diferenças entre o efei necido em terreno de especulações to real e o efeito ideal se traduzem em teóricas, se a guerra não lhes tivesse uma energia que volta a introduzir-se no suscitado a solução de um problema mecanismo e que sempre tende a anu prático: Dado um avião inimigo, como lar as diferenças que dela tenham nas alcançá-lo à DCA (Defesa Contra Ata cido. Um antepassado dêsses “ feed- ques)? backs” foi o regulador de bolas de Watt, mediante o qual Watt, procura Para estudar o problema foram en va regular a velocidade de sua máqui carregados o próprio Wiener, bem co na a vapor. mo Julian Bigelow, outro matemático, para que, no plano de preparativos Nosso corpo proporciona automàti- de guerra, concebessem uma máqui camente seu esfôrço ao trabalho que na que regulasse por inteiro os tipos deve realizar (“ feed-back” ), e assim da DCA. Essa máquina devia, pois, ter regulamos automàticamente nossos em conta a reação humana do pilôto, gestos em função de seus fins. livre dentro de certos limites e devia Em 1945, ao fim da guerra, publi substituir a reação humana do arti caram informes, até então secretos, lheiro que observava o avião. Em su acêrca do aparelho de predição que, ma, se tratava de dois sistemas ner entretanto, não lograram construir. vosos que formavam parte de um pro Wiener, nesta época, teve oportunidade blema de mecânica. de püblicamente expor suas idéias no Instituto de Tecnologia de Massachu- A cibernética nasceu virtualmente setts e, posteriormente, juntamente naquele dia e iria ser a ciência que, com Rosenblueth, continuaram as ex justamente, aproxima a mecânica e a periências, algumas delas praticadas neurologia. na medula espinhal de um gato, para Para resolver o que chamavam um efeitos de avaliação de reflexos. Por problema de “ predição curva” , Wie fim, por via dupla de uma experiência ner e Bigelow pensaram em principio e de uma abstração, chegaram a in em inspirar-se no analisador de Bush, terpretar os reflexos (clônus), que es mas logo foram tentar a solução no tão ligados por uma função logarítmi- que os especialistas de servomecanis- ca ao número de pulsações transmiti mos chamam de “ feed-back” ou mon das pelos nervos que conduzem à ex tagem em reação. Como tal monta citação. Posteriormente, Wiener, indo à Fran gua Francesa, definia Cibernética co ça, conheceu Freymann, diretor das mo o nome dado por Ampère, a par edições Herman e, depois de algumas te da política que se ocupa dos meios dificuldades, conseguiu em 1948 pu de governar. É certo que êsse senti blicar um livro em colaboração com do não se manteve. Technology Press, sendo a edição SIGNIFICADO DO TÊRMO francesa publicada em inglês e, segun do consta, foi sucesso de livraria com Segundo a Enciclopédia Barsa (Edi 21.000 exemplares vendidos. ção 1964), Cibernética constitui o es Êsse livro teve como titulo a nova tudo do controle e da comunicação palavra “ cibernética” , mas, tendo em nos animais e nas máquinas. vista a ambivalência doutrinária da Acrescenta que são objetos de es palavra, resolveu adotar como titulo tudos cibernéticos os assuntos apa final: “ Cybernetics or Control and co- rentemente os mais diversos, tais co munlcation in the Animal and the Ma- mo: o mecanismo do sistema nervoso chine.” dos animais; a programação das mo ORIGEM DO TÊRMO dernas máquinas de computação ele trônica; os sistemas automáticos de Os filósofos e matemáticos do gru controle de produção; a auto-regula- po de Wiener se sentiam incomodados gem das máquinas; a teoria das infor pela falta de um vocábulo que tradu mações; o processamento de dados zisse corretamente o estudo do con- etc. trôle e da comunicação nos animais e nas máquinas. Tôdas as palavras STAFORD BEER, cientista inglês, propostas carregavam demasiadamen definia Cibernética como a “ Ciência te sôbre a máquina ou sôbre a vida, do controle dentro de qualquer aglo sendo mister, em troca, que ela pre merado, visto como um todo orgâni- . _ i» cisamente expressasse a dualidade da CO . nova ciência. LOUIS COUFFIGNAL, matemático Assim, Wiener foi obrigado a forjar francês, a define como “ a arte de as um têrmo artificial neo-grego. Foi a segurar eficácia à ação” . palavra “ Cibernética” , derivada de “ kubernetes” , pilôto de navio e, por CONSIDERAÇÕES FINAIS extensão, governante de um país. A voz despertava bem a idéia de mando, A importância de tais estudos pode de condução, e, além disso, apresen ser medida em têrmos de verdadeira tava a vantagem de ter, através do revolução a ser introduzida pelas má latim “ gubernator” , a mesma raiz que quinas, ainda nesta metade do século “ governor” , palavra com a qual Watt XX. havia designado o seu regulador. A primeira revolução de sérias con Julgam que o têrmo Cibernética seqüências sociais ocorreu no século constitui para a língua inglêsa um neo- passado, quando o trabalho muscular logismo, embora o mesmo não acon humano foi substituído pelo das má teça para a língua francesa, uma vez quinas a vapor e pelas máquinas tér que LITTRÉ, em seu Dicionário da Lín micas constantemente aperfeiçoadas. Quando foram introduzidos sistemas Informação (1910), de Ronald Fisher; automáticos de contrôle, como o re estudos de Hartley e o conceito de gulador de Watt, anteriormente cita decisão por êle introduzido (1928); do, e outros mecanismos que permi os modelos mecânicos de Von Neu- tem às máquinas cumprir um deter man (1942); as tartarugas mecânicas minado programa prèviamente deter que copiavam certos comportamentos minado, nova e importante modifica humanos, inclusive o condicionamento ção experimentou a técnica industrial. de reflexos (1946); artigos do fisioio- gista Louis Lapicque e do matemático Mas êsses programas foram neces- Louis Couffignal sôbre mecânica com sàriamente planejados e executados parada das máquinas e dos animais pelo homem. O futuro, porém, reserva (1948); o modêlo para cérebro, inven às máquinas funções muito mais im tado e construído por Ross Ashby; os portantes, que nos autorizam a desig estudos de Shannon sôbre Teoria da nar os novos engenhos a surgir como informação (1951); e tôda uma enor máquinas inteligentes. me massa de colaborações modernas De fato, essas máquinas desempe- onde se interpretam processos lógicos; rão funções características da inteli estudos médicos; problemas de lin gência humana, pois serão construí guagem e de comunicação; conheci das de forma a poderem planejar seus mentos de engenharia, de máquinas, próprios programas, reformulados e de eletrônica; métodos científicos, par aperfeiçoados, de acôrdo com o pro ticularmente da Física e da Estatísti gresso da humanidade. Assim a má ca; além de muitos outros que salien quina autômato do futuro estará em tam o grande alcance da Cibernética, condições de produzir sòzinha os pró mas que tornam difícil uma adequada prios produtos já adaptados aos avan definição, mesmo porque as presentes ços do momento em que êles serão linhas não têm maiores pretensões, se usados. não apenas dar uma ligeira tintura da Finalmente devemos acrescentar que, quilo que se pode entender por “ c i além da obra de Wiener (1948), o apa bernética", baseado em leitura da recimento sucessivo de outras contri obra de Pierre de Latil, “ El Pensa- buições anteriores e posteriores à c i miento A rtificial” (Introducción a Ia tada obra contribuiu para que a Ci Cibernética), traduzido para o espa bernética tomasse forma. Assim pode nhol do original francês, bem como mos citar: Mecânica dos Fenômenos do livro “ A CIBERNÉTICA” , de Louis Fundados sôbre Analogia (1907), de Couffignal, e de contribuições da Enci I. Petrovitch; Psicologia e Energética clopédia Barsa (Edição 1964). (1909), de Charles Henry; Teoria da Boletim Informativo do D.N.P.V.N. - 1970.
Universo quântico e sincronicidade. A visão antrópica. As coincidências significativas. O inconsciente coletivo. O papel das pandemias no caminho evolutivo humano.