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Pe Álvaro Negromonte - A Educação Sexual
Pe Álvaro Negromonte - A Educação Sexual
Negromonte
A EDUCAÇAO
SEXUAL
(Para pais e ffl.fueadóres)
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
1939
Livraria JOSÉ OLYMPIO Editora
Rua do Ouvidor, 110 - Rio de Janeiro
DIPRIMA.TUR
Prov. n.• 4
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
j)arecer do
amigo e filho em J. C.
a) Pe. Helder Camarq
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
INDICE
Pág;
Parecer do Pe. Helder cama1·a V
Pág.
OS EDUCADORES 31
Os pais . 31
Os professores 37
O medico 49
O confessor 53
AS INICIAÇOES CONDENAVEIS 63
Iniciação intelectual 66
Iniciação cientifica 69
Iniciação coletiva 75
NA ADOLESO:NCIA · 111
Pág.
O vício solitário 119
Manifestações sexuaes 121
Convivência necessária 122
Poluções noturnas 123
A função sexual 126
O perigo venéreo 12 8
Legitima convivência 129
Os namoros 132
Momento dificil 134
Às portas do casamento 136
Pág.
GRANDEZA E DEGRADAÇÃO DA FUNÇÃO SE-
XUAL - 1. 185
. Il• 190
Na adolescência 19 8
O moço feito . 201
Argumento moral 204
A verdo.deira ilação 206
A confissão . 241
A comunhão 244
Uma vida de piedade 246
Pág.
A FORMAÇÃO GERAL 263
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
NECESSIDADE DA EDUCAÇÃO
SEXUAL
Dividem-se as opiniões a respeito da chamada educação
sexual. São alguns a seu favor, e chegam mesmo a promo
vê-la de maneira desabrida e evidentemente prejudicial. Ou
tros lhe são contrários. Constituem, · de modo geral, a melhor
parte, do ponto de vista moral. São pessoas bem intenciona
das e cheias de sinceridade, educadas no método do silêncio,
que ainda preconizam. Quem terá razão? E' o que vamos
agora examinar.
DISCIPLINA NECESSÁRIA
OS TEMPOS MUDARAM
goso, o qual, uma vez conhecido, deve ser bem conhecido, para
evitar as desastrosas consequências a que sempre exp'õe.
Ora, é dever dos educadores preparar os homens para
viverem no seu tempo, e não nos tempos idos. O que lhes
incumbe é preparar os homens para resistirem aos perigos da
sua época, e poderem praticar a virtude, quaisquer que sejam
as dificuldades.
INCONVENIENTES DO SILÊNCIO
Insistem os antagonistas da chamada educação sexual n_a
necessidade de muita prudência nesses assuntos, que nem se
atrevem a nomear. Acham que sôbre "certas coisas" nem se
deve falar. Não vamos negar a becessidade de uma grande
prudência, e censuraremos sem medida aos que forem falar
leviana ou demasiadamente aos educandos. Porque pode ser,
e realmente tem acontecido, que muitos se tomem de amores
pela educação sexual e se excedam, ocasionando os males que
queriam evitar. Temos não somente o direito, mas o dever
de examinar aquí as vantagens da verdadeira educação sexual
e os inconvenientes do silêncio dos pais. Comecemos pelo
silêncio.
Que acham os pais a êste respeito? Pensarão por acaso
que os seus filhos continuarão a ignorar tudo porque êles não
lhes falaram? Pois se enganam enormemente. Chegará o mo
mento em que, atormentados pela natural curiosidade, os fi
lhos irão procurar fora as respostas a suas perguntas, depois
de se terem perdido em divagações perigosas que lhes excita
vam a imaginação e inquietavam o espírito, com não pequenas
repercussões na orientação moral da sua vida.
E então mal podemos imaginar os inconvenientes nas
cidos dessa iniciação de rua. Tudo lhes foi ensinado de modo
/\ EDUCAÇÃO SEXUAL 5
DESPRESTIGIA OS PAIS
Que isto aliena a confiança dos filhos, nem precisa dizer.
A outrem. êles vão se abrir, vão dizer as suas inquietações e
desassocegos. Que isto é uma diminuição para os pais, é evi
dente. Mesmo que os filhos se dirigissem às melhores pes
soas do mund? - o que também só concedemos para argu
mentar -, seria um desprestígio para aqueles que teem o di
reito natural ao coração que geraram.
Longe dessa confiança, os pais estão igualmente longe da
alma, do estado psicológico dos filhos. Ignoram o que lhes
A EDUCAÇÃO SEXUAL 7
VANTAGENS EVIDENTES
Podemos deduzí-las facilmente dos males que acima
apontamos. Sejamos, pois, mais breves. Se o silêncio ator
menta, a revelação prudente e discreta, mas satisfatória, acalma
e tranquiliza. Estão revelados os angustiosos mistérios, e todo
mistério, revelado, �e banaliza.
Se já lhe foram dados os conhecimentos necessários, por
que irem buscar ainda lá fora, em fontes malsãs, erradas, o
que tiveram em fonte pura e verdadeira ? E estão afastadas as
iniciações clandestinas.
Os pais devem falar. Para não privar os filhos da orien
tação moral a que êstes teem direito, para se poderem dirigir
entre os desejos obscuros da adolescência com a segurança es
piritual que a virtude exige. Justamente para preservar os
filhos das tentações, para armá-los contra os perigos da vida
a que vão ser jogados, é que lhes devem falar. Falem, porque
a natureza mesma exigiu sempre que se falasse , em certo mo-
8 PADRE /\, N E G ROMONTE
DADOS CONCRETOS
PERIGOSA TIMIDEZ
O êrro de muitos é ainda a falta de compreensão dos
l�mpos em que estamos vivendo. O educador tem o direito
ele lamentar os males dos tempos ; muito maior, porém, é o
lfU dever de procurar remediá-los. E para consegui-lo, pre
cl111 justamente contar com êsses males e agir sôbre êles.
·ora, enquanto a indisciplina sexual age de maneira au
daciosa e até desabrida, nós nos encrustamos . numa titniâez
lrrnzoavel. que nada realiza de positivo, antes favorece as
devastações morais da propaganda contrária. E thainamos a
12 P l\ D R E i\ . N E G R O M O N TE
LITERATURA SEXUAL
Não há quem ignore o êxito da literatura sexual.
Compreendendo que, em vista da horrível decadência
dos costumes contemporâneos e da crescente procura de livros
dêsses ternas, aí estava um veio a explorar, os homens ganan-:
ciosos multiplicaram a produção de uma literatura, que só
podemos qualificar deviclamente chamando de - pornográfica.i
A clientela é imensa. Exploram-na escritores, -editores ej
livreiros. e muitos fazem do gênero o mais forte do seu des�l
A EDUCAÇÃO SEX U A L 13
DEFORMANDO OS ESPÍRITOS
Não vamos pensar que a educação sexual, mesmo tni
nistrada dentro dos melhores princípios e pelos mais pru
dentes e seguros métodos. assegurará uma ausência absoluta
A EDUCAÇÃQ SEXUAL 15
UM SENTIDO ERRÓNEO
Tenios dificuldade em determinar o que querem certos
tratadistas da educação sexual. Quando vemos Forel e Vachet
justificando os mais feios vícios, Havelock Ellis defendendo
o nudismo, Nystrom �idicularizando (como tantos outros) a
moral cristã, Watson lastimando que o seu filho tenha apren
dido a rezar no jardim da infância, mas nada lhe tenham
22 P A D R E A. N E G R O M O N T E
O VERDADEIRO SENTIDO
Nós, porém, partimos justamente da consideração moral.
Não seria possível âesligar a função dos sentidos; mas seria
absurdo querer deixá-la simplesmente aí, sem considerar a
pessoa humana, e, na pessoa humana, a feição moral insepa
ravel de todos os atos livres.
A própria natureza nos diz para que existe o instinto :
- e nós queremos que esta finalidade seja respeitada. Diver
samente nos dous sexos, o instinto clama pela reprodução da
espécie, e ela deve, naturalmente, orientar a , questão. Fora
disto, a função é anti-natural - e a natureza mesma condena
a emoção sexual fora dos meios naturais da procriação.
E' ainda a natureza humana que exige não un\a pro
criação qualquer, como os animais, porém uma procriação que
garanta a manutenção e a educação conveniente do filho. Ora
isto não se consegue nas uniões casuais nem temporárias, mas
numa união indissoluvel e monogâmica.
Além dêstes ditames da reta razão humana, que vê assim
claramente quando não a turvaram as paixões ou os prejuízos,
temos mais a palavra de Deus nas ordenações definitivas do
Decálogo : "Guardarás castidade. Não desejarás a mulher do
próximo" .
Com isto marcamos o termo final da educação especial
que nos ocupa. Estamos, como vêem, do lado oposto. Pomos
bem alto a nossa mira. _Caminhamos para um ideal perfeita
mente humano, porque se ocupa do corpo sem desconhecer
os direitos do espírito e a soberania absoluta de Deus. Assim
como condenamos os que querem animalizar o homem, cui
dando-lhe só do corpo, lastimamos os que pensam em anjelí
zá-lo, cuidando só da alma. Cuidamos dos dous. Mas o pri
mado é sempre do espírito - a substiância específica do ho
mem. Consideramos a parte animal do homem, mas nos co-
26 P A D R E A. N E G R O M O N T E
OS PAIS
O S PROFESS ORES
ESCOLAS E COLÉGIOS
Estudamos à parte que a educação sexual há-de ser rigo
rosamente individual. Aliás estamos falando da educação, de
que a iniciação é apenas uma parte, e não a mais importante.
Tratássemos, portanto, da iniciação feita em classe pelo pro
fessor, diríamos desde logo, com absoluta segurança, que deve
ser regeitada.
Mas · o professor, embora não seja o encarregado direto
desta educação, embora não seja a pessoa inteiramente em
condições de fazê-la, tem nela o seu papel não pequeno. E '
o da formação geral - base e garantia de toda a educação
sexual. E', pois, indireta a ação do professor. E só poderia
ser direta em casos excepcibnais, em que êle agiria individual
mente sôbre o aluno, prevalecendo-se, sem dúvida, da autori
dade de mestre, mas já quasi em carater particular.
Em classe o grande dever é a formação da vontade, a
preocupação de fazer o aluno dirigir a vida pelos interesses
elevados do espírito, a convicção prática de que somos espe
cificamente homem na medida em que dominamos os instin
tos, o amor ao ideal de uma vida pura, o sentido das respon
sabilidades sociais decorrentes das atitudes individuais, a fir-
38 P A D R E A. N E G R O M O N T E
*
**
Nos colégios a questão sexual toma aspectos ainda mais
sérios. A idade sobrecarrega os perigos, e o internato os mul
tiplica. Digam os bons pais de família as horríveis surprezas
que tiveram éom os filhos, inocentes, ao partirem de casa, e
corrompidos, ao voltarem do colégio. Mesmo nos colégios
católicos existem males - infinitamente menores que nos lei
gos - e principalmente nos colégios masculinos. Sei que
muitos educadores se preocupam com a existência dêsses males,
mas não sei se acertam com os verdadeiros remédios.
A psico-patología sexual confere aqui muito de perto
com a experiência. .Os sexologistas falam de certos vícios que
êles chamam - de compensação. Quando os meninos se vêem
comprimidos ; quando são demasiadamente cerceados nas suas
vontades ; quando o mundo exterior lhes parece extremamente
duro ; quando exper-irnentam a sensação de ser infelizes, en
tregam-se muitas vezes ao vício solitário , como uma compen
sação à vida que estão levando. Assim é que vamos encontrar
vítimas do desgraçado costume· "numerosos melancólicos que
procuram na emoção venerea um exutório à hipertensão de
que sofrem" (2) A mesma verificação se fez para os difíceis
de educar. O Padre Vic:,llet, de insuspeita autoridade, lembra
que êste vício tem proporções consideráveis nos colégios de ri-
*
**
Para os colégios femininos o problema varia um pouco.
As conversas equívocas e maliciosas tornam entre as mocinhas
maior incremento do que entre os moços. As chamadas ami
zades particulares, praga dos colégios de meninas, derivam a
rniudo para carinhos perigosos à virtude. A preocupação se
xual é verdadeiramente absorvente entre meninas de colégios.
As mínimas cousas, as mais simples e banais, elas referem às
cousas sexuais. Dr. René Allendy ( 1 ) refere uma série de
fatos. Numa sala de mocinhas, não se pode falar em amor,
em pecado original, etc. sem despertar malícia. Alguns colé
gios teem mesmo urna gíria, uma "língua" em que as palavras
vulgares significam cousas impuras. Isto .nem devemos gene
ralizar, nem desconhecer.
Daí resulta que os pais devem advertir as filhas dos pe
rigos advindos da amizade de companheirâs sentimentais e
o· MÉDICO
Acham alguns que o médico terá a necessária autoridade.
Realmente, como médico, êle goza de uma autoridade que
falta ao simples conferencista. Mas o excesso de conhecimen
tos e de técnica prejudica enormemente a ação dos médicos em
geral. Se se trata de preleção pública, é evidente que ainda é
mais prejudicial que a do simples conferencista - pedagogo.
Porque o médico usa de termos duros que ferem demasiado a
sensibilidade dos jovens, causando-lhes muito mais o mal do
que o bem. Aliás, toda ação coletiva neste particular é con
denavel e contra-indicada.
Mas se tomamos o facultativo, o médico da família, de
vemos confessar que, embora êle não seja a pessoa indicada
para fazer a educação sexual. pode prestar excelentes serviços.
Como cuidado preliminar, tem êle de excluir, o mais possível
a sua posição de técnico : - nada de anatomia, de fisiologia,
de higiene sexual como elemento primeiro da educação. Ponhà
em jôgo os seus conhecimentos da psicologia, do tempera
mento do seu jovem cliente. Tenha o cuidado de falar sem
pre com aquela seriedade que os pais usam ao tratar do as
sunto. Não se precipite, nem se apresse, mas vá a passo lento,
vendo a impressão das suas palavras no ouvinte. Insinue-se
à confiança. E assim há-de ser precioso au}:ifiar dos pais , no-
50 ·p A DR E A. N E GR O M O N T E
dade. Mas vale dar a falta como cousa natural, e obter a con
fissão - fazendo, depois, as ponderações que o caso 'ditar.
Essas ponâerações requerem também habilidade. Se os
meios apontados para a emenda tomam aspectos extraordiná
rios e heróicos, mais se consegue dar impressão da impossibi
lidade da virtude que da exequibilidade da emen"da.
INICIAÇÃO INTELECTUAL
INICIAÇÃO CIENTÍFICA
*
**
Mais condenáveis seriam essas m1c1ações, se as fizessem
demasiadamente cedo. Não devemos confundir ignorância com
inocência, mas devemos saber os males que um conhecimento
A E D U C A Ç ÃO S E X U AL 71
*
**
Se por higiene sexual entenderem os cuidados físicos que
se devem tomar para garantir mais facilmente o adolescente
contra as arremetidas do instinto, não há ninguém de bom
senso que a não apláuda.
Desta higiene faz parte a escolha da alimentação. Nisto , ,
não somente os devemos acostumar a ser moderados - o que
é sempre de reais vantagens para o organismo - como lhes
devemos poupar tudo que produza irritações capazes -de se
refletirem no funcionamento do aparêlho genital. E' de boa
higiene fugirem dos alimentos ricos em gordura, do excesso
de carne, dos condimentos, das bebidas alcoolicas, do abuso
do café, do fumo, como de tudo o que possa trazer irritações
locais, sempre perigosas à castidade.
A higiene geral individual, se não deve chamar especial
atenção para os órgãos sexuais, não pode nem deve excluí-los.
A E D U C A Ç Ã O S � X: U: AL 73
INICIAÇÃO COLETIVA
NATURALMENTE
E' contra esta atitude que devemos dizer a primeira pa
lavra. Um ar misterioso, como quem fala de cousas pecami
nosas ou indecentes, seria embaraçante e desastroso para o
educando. As cousas devem ser ditas sem rodeios, sem preo
cupações, com desembaraço e naturalidade. Devemos falar das
cousas sexuais corno falamos das demais cousas. Ninguém
estranhe. Porque ou não devíamos dizer ou devemos dizer
assim. O contrário seria despertar malícia, aguçar a curiosi
dade, prejudicando os interesses da educação. Quanto maior
for o mistério de que envolvermos as nossas palavras, tanto
maior será também a curiosidade que elas despertarão nos
educandos.
82 P A D R E A. N E G R O M O N T E
NÃO MENTIR
NO MOMENTO OPORTUNO
O mistério da vida preocupa desde cedo as crianças de
várias formas. Em pequeninos, é a curiosidade inocente, que
se satisfaz com muito pouca cousa. Nos adolescentes as curio
sidades são legítimas ; - umas necessárias pelo próprio de
senvolvimento fisiológico ; outras por conta do estado psico
lógico, das inquietações da idade. E' outra condição da boa
educação sexual dizer as cousas prontamente. E' o melhor
modo de calmar as curiosidades, extinguindo-as. Quando fo
rem perguntados, não protelem os pais demasiadamente a res
posta. As vezes, a circunstância não permite responder. E'
por exemplo, o caso de estarmos em pre�ença de outros que
não podem ou não devem ainda ouvir o que iríamos respon
der. Mas, logo que estivermos sós com o interrogante, res
ponderemos cabalmente.
Pode acontecer também que, no momento, não esteja o
educador em condições de dar a resposta exigida. Mas se o
educando está acostumado a ouvir dele a verdade e toda a
verdade, se contentará em saber que, depois, tudo lhe será
dito.
"Meu filho, agora eu não tenho tempo de te explicar
isto, porque precisa de uma explicação mais longa. Mas de
pois eu te explicarei" . E' que faltava ao educador o modo de
dizer, ou mesmo o .conhecimento da questão - e esta demora
lhe dá tempo para refletir ou estudar. Não precisa dizer que
a dilação não deve ser longa, e, na primei_ra oportunidade, a
explicação será dada.
Com um procedimento assim os pai� satisfarão as curio
sidades naturais dos filhos em tempo, evitando que êles vão
a outras fontes, ou que entretenham perigosamente a imagi
nação e transtornem a excitavel sensibilidade de adolescentes.
86 P A O R E A. N E G R O M O N T E
COM DISCREÇÃO
DE MODO GERAL
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
QUANDO FAZER A EDUCAÇÃO
SEXUAL
Não confundimos - e já chamamos a atenção para isto
- e nem queremos que se confunda ignorância com inocência.
Se as crianças "sabidas" são entre nós, e talvez no mundo in
teiro, a mesma cousa que crianças corrompidas é porque a
errada orientação até agora seguida deixou que -elas fôssem
saber essas cousas em fontes corrutoras. Se lhes tivessem mi
nistrado de modo devido os necessários conhecimentos, êstes
não lhes teriam tisnado a candura. E', pois, errôneo o parecer
daqueles que chamam ao conhecimento das cousas referentes
à produção di vida, destruição dos sentimentos de inocência.
Mas já dissemos também e insistimos nisso como em·
cousa essencial que a instrução não é virtude. Não foi, por
tanto, sem razão que firmamos a necessidade da formação,
acima de qualquer iniciação propriamente dita.
PRECOCIDADE CONDENAVEL
O Santo Padre Pio XI co�denou, na sua monumental
encíclica sôbre a educação da juventude, a iniciação sexual
precoce. ( 1 )
AS ANTECIPAÇOES
Mesmo que fôsse facil entre nós levar a ignorância até
os limites da idade e a natureza agisse normalmente, chegaria
o momento em que é necessário falar. Mas não tenhamos ilu
sões a êste respeito. Não é mais possível manter a salutar
ignorância, guarda e ·preservativo da inocência infantil. As
crianças muito cedo se põem em perigosos contatos com o ci
nema, as revistas ilustradas, os cartazes, as conversas levianas
de casa, a semi-nudez das praias e piscinas, a companhia de
outras crianças "sabidas" e mal acostumadas. Assim, a in
quietação sexual, que s6 devia chegar com a puberdade, ante
cipou-se em grande velocidade às vezes.
A. EDUCAÇÃO SEXUAL 95
EM QUE IDADE ?
Muitos pais querem sempre que lhes precisemos a idad>'
em que deverão falar aos filhos. Eis o que não podemos fa
zer. Depende de cada caso em particular.
De um modo geral, poderemos repetir o que se disse da
educação em geral. A Mons. Dupanloup perguntou certa
dama quando deveria começar a educação do filho.
Que idade êle tem ? indaga o grande educador.
- Três anos, excelência .
100 PADRE � N E GROMON T E
O MOMENTO DE FALAR
RESPONDER AS PERGUNTAS
Poderia parecer que estamos caindo em contradição, por
que dissemos acima que a iniciação precoce é um mal, e agora
a estamos prescrevendo às crianças de qualquer idade. Não
há contradição. Aliás ficou dito que se comece a iniciação
logo que a ignorância p.ão seja mais possível. Ora, se as per
guntas aparecem é porque já existe a necessidade de saber. Já
não é mais precoce. Agora, se os pais não falarem, as crianças
procurarão por si mesmas as respostas, preocupando-se com o
problema - o que é de boa pedagogia evitar.
Mesmo que a pergunta não tenha sido ditada pela na
tureza da criança, mas por uma circunstância exterior (alguma
cousa que ela viu ou ouviu ) , pouco importa. Está feita, e
precisa ser respondida. Já não é precoce para o educador,
'1"02 P A DR E A. N E G R O M O N T E
A ORIGEM DO BÉBÉ
Nos mistérios da vida, uma das primeiras cousas que
preocupam as crianças é a origem dos bébés. Apareceu mais
um irmãozinho em casa ou na casa de um vizinho ou parente.
A criançada manifesta pelo fato uma alegria incontida. Mas
é também C? momento de saírem as perguntas. Querem saber
de onde veio, quem trouxe, quem mandou. Em geral, as res
postas são umas tantas mentiras, que muitos reputam ingê
nuas, mas são realmente prejudiciais. Como a parteira é in
dispensavel nesses momentos, explicam às crianças que ela
trouxe o bébé dentro da maleta. As vezes, o bébé foi encon-
trado no jardim, quando a mamãe foi colher rosas. A história
da cegonha tem pouco curso entre nós.
São evidentes os males de tal procedimento. Os pais se
dão por muito satisfeitos porque na hora se livraram de uma
dificuldade. Não vêem as dificuldades ainda -maiores - oh !
incomparavelmente maiores ! - quando as crianças virem que
,i,oram enganadas, e, por isso, perderem a confiança nos pais.
A EDUC AÇÃO SEXUAL 1 03
A FAMÍLIA NUMEROSA
Nas famílias numerosas há uma grande facilidade para
tudo isto. Na vida comum- dos irmãos e irmãs, sob a direção
sábia e vigilante dos pais, as cousas se vão r�velando natural
mente, sem curiosidades, com o respeito familiar e sem ma
lícia, conforme é costume entre irmãos. As maternidades se
sucedem - e todos vêem aquilo com muita naturalidade e
respeito, compreendendo porque foi que a mamãe adoeceu
quando veio mais um irmãozinho. Ainda melhor quando'll
mãe fala com simplicidade do nascimento dos filhos. "Quan-
1 06 P A D R E A. N E G R O M O N T E
AS OPORTUNrDADES
rizam as faces. E' qpe o menino sente que começa a ser ho
mem, e a menina, que começa a ser moça.
E' também nesta idade que êles, sentindo o despertar do
sexo, notam a grande diferença que existe, pressentem que
foram feitos um para o outro, e, embora sentindo a mútua
atração, se afastam. E' verdade que se procuram, mas não
com as ..intimidades e os folguedos da inffincia. Querem ver
e ser vistos, mas a uma certa distância. Entram em jôgo os
artifícios para atrair as atenções.
Nesta fase da vida a Providência Divina guarda de modo
especial os segredos da conservação da espécie. Ao impulso
natural do desenvolvimento físico, a curiosidade romperia bru
talmente o véu de todos os mistérios, se um contraforte não o
resguardasse. :Êste contraforte é o pudor, que, na puberdade,
se desenvolve notavelmente. E' a proteção natural às im
pressões muito vivas e chocantes das realidades sexuais inte
riores e exteriores.
, Pois bem. Até mesmo êste pudor, anteparo divino às
súbitas manifestações do poderoso instinto, cria dificuldades
à educação. :Êle aumenta o retraimento, obriga à timidez, im
põe o silêncio, com o tom de urna autoridade quasi insupe
ravel. Ao lado do grande bem que faz à vida mor.ai do ado
lescente, refreia a confiança entre pais e filhos -o único am
biente que pode garantir a perfeita educação sexual.
O Cônego Lyttelton e o Padre Fonsagrives ( 1 ) atri
buíram êsse retraimento dos adolescentçs à simples ausência
da iniciação na infância. Refutando-os, extremou-se também
o -admiravel Chauvin, que teve em conta apenas o estado psi
cológico do adolescente. ( 2 ) Parece-me que, mais urna vez,
:�i,�;i
( 1 ) Ver brespectivamente : " Éducation de l'enfant ", e " Éducation
de la :pureté ".
( 2) Cfr. " La preservation morale de l'enfant ".
1 14 P A D R E A. NEGROMONTE
(1) Cit. por Dr. Pasteau - " Comment faire l'initiation sexuelle ? "
O PAI E O FILHO
111 ulheres acertam, sem ninguém saber por que. Nem elas
mesmas sabem. Nas mães é o coração que afirma, quando
Ne trata dos filhos. E mesmo que não queiram acreditar
(quando as coisas não são boas) , já tinham advinhado. O
pai não pode dispensar um semelha1_1te orientador. Os seus
avisos são verdadeiros marcos no caminho.
RESPEITAR O ORGANISMO
O VÍCIO SOLITÁRIO
bondade, para lhe voltar a inteira confiança nos pais. E' tam
bern ne�essário levantar-lhe e sustentar-lhe o moral abatido,
porque muitas vezes êles querem se corrigir e não conseguem.
Isto lhes dá a deprimente impressão de já serem escravos do
miseravel vício, do qual pensam que não s� poderão mais
libertar.
A cura se fará com remédios naturais e sobrenaturais.
Um regime alimentar não excitante, os banhos frios, os exer
cícios físicos, os passeios ao ar livre, obrigam a uma ligeira
fadiga e levam ao sono. Evite-se tratar o menino com rigor
e exigencias, que irritam e entristecem - o que pode levar
de novo ao vício, por urna espécie de compensação. Não
tendo outro prazer na vida, procuram aquele. Mas urna dis
creta vigilância é necessária; como tarnbern o é, de quando em
quando, urna palavra de estímulo que escore o esfôtço daquela
vontade enfraquecida.
Aqui entra, corno elemento de cura ide primeira ordem,
essencial, indispensavel, a frequência aos sacramentos. Neste
momento, um bom confessor, esclarecido e acolhedor, enér
gico e , moderado, tem um papel inestimavel, que é necessário
não esquecer. E' igualmente de muito bom aviso que o joven
volte sempre ao mesmo confessor, que lhe ficará conhecendo
o organismo espiritual.
Apesar do valor que teem em si os argumentos morais,
a experiência ensina que os de ordem fisiológica impressionam
mais. Se o paciente persiste no vício, vale a pena levá-lo ao
médico, cuja palavra tem no assunto uma autoridade de grande
pêso e pode impressioná-lo beneficamente.
Devem saber os pais que não é somente na puberdade
que aparece a masturbação. Teem aparecido casos de grande
precocidade. São excepcionais, e não tão faceis de perceber-se.
São mais frequentes crianças de 8 e de 1 O anos entregues a
essa perversão. Lutaremos sempre com a dificuldade de con-
A EDUCAÇÃO SEXUAL 121
MANIFESTAÇÕES SEXUAIS
Aumentam na puberdade as preocupações com as coisas
sexuais. O que na infância era visto sem maiores preocupa
ções toma agora uma importância enorme. Impressiona.
Preocupa. Absorve. Deixa vestígios fortes e duradouros. As
vigílias são então perigosíssimas. Juntam-se carne e espírito
para as excitações. Os pensamentos fervilham noite e dia. O
rapazinho passa das preocupações conciêntes aos sonhos. Agi
ta-se com as atitudes dos namorados que vê enlaçados na rua.
Aparecem-lhe desejos, que já não são vagos e indecisos, mas
se orientam para a vida da espécie - e a ideia da mulher o
persegue. Sente-se acompanhado pelo "eterno feminino" .
Tudo isto s e lhe reflete fatalmente no corpo. Aparecem,
com grande fréquência, as ereções, devidas a causas físicas ou
psicológicas. O jovem deve saber o que isto é e o que vale.
São coisas naturais e sem importancia à noite, por causa da
1 22 P AD R E A. N E G RO M O N T E
CONVIVENCIA NECESSÁRIA
POLUÇÕES NOTURNAS
• A FUNÇÃO SEXUAL
Chegados a esta altura da idade e da iniciação, é tempo
de falar com toda clareza da função sexual como tal e de sua
finalidade. Deus criou estes órgãos para, por meio deles, ga
rantir a perpetuidade do gênero humano. Por bem dizer, êles
pertencem mais á espécie do que 3:0 individuo, porque existem
em função dela e não dele. Eis porque o individuo só tem o
direito de usá-los para o fim a que Deus os destinou. Mas
Deus organizou a procriação humana dentro do rnatrimônio
uno e indissoluvel, tal corno o requer a própria natureza do
homem. Por isso, só no matrimônio . e para os fins naturais
o homem tem direito á função sexual. Fora disto, a função
A E D U C A Ç ÃO SE X U AL 1 27
O PERIGO VENÉREO
Por mais otimistas que sejamos, por mais que desejemos
a absoluta continencia dos moços, a regra geral, infelizmente,
não é esta. Faço questão de sermos realistas. Vivemos numa
sociedade enormemente corrompida, em que o moço padece
imensas dificuldades para se conservar um homem casto.
Mesmo que tenha tido uma boa formação - o que tambem
não é frequente - o ambiente lhe proporciona tantos con
vites á imoralidade, que raros são os que se guardam do mal.
E' verdade que hoje os moços puros são muito mais nume
rosos, porém ainda continuam a ser uma exceção, dizêmo-lo
com tristeza. Em face disto, é sempre de temer que o rapaz,
arrastado pelas ocasiões que lhe veem ao encontr o, tentado
pelos convites e mesmo pelas zombarias dos companheiros, ou
levado pelos impulsos fortes da paixão tumultuosa, faça as
suas nefastas experiências. Eis porque será oportuno falar
lhe tambem claramente do perigo venéreo.
Já ficou acentuaão que é sem bases morais uma educação
feita em vista desses perigos. Não estamos incidindo no êrro
que condenamos. Não baseamos nisto a educação sexual que
defendemos. A melhor prova é que já chegamos a êsse ponto
sem acenar com êsses males. Não fazemos ?isto um elemento
básico, mas o reputamos uma fôrça a mais, um auxiliar para
a castidade. O moço já sabe que deve ser casto, e por que
altos motivos morais e mesmo fisiológicos. Não faz mal que
A EDUCAÇÃO SEXUAL 1 29
LEGITIMA CONVIVENCIA
Como sempre, o moço se sente inclinado à convivencia
com as mocinhas. Vem, desde o início da puberdade, acen
tuando-se esta inclínação. Alguns pais acham graça nos sai
mentas do rapazola, embora não achem a mesma graça quan
do se trata das filhas. Outros, principalmente as mães, se
opõem a essa convivencia e procuram impedí-la. A uns como
aos outros falta razão. A convivência é natural, e a dema
siada separação dos sexos resulta contra-producente. Não será
por separarmos rapazes e moças que lograremos uma indife
rença mútua, para cuja realização seria necessária a transfor-
1 30 P ADRE A. N E G R O M ONTE
OS NAMôROS
Seria bom que o rapaz, advertido pelo pai dos inconve
nientes do namôro, deliberasse deixá-lo para o momento opor
tuno. Mesmo porque as mães, cuidadosas das filhas, não lhes
facilitariam ensejas desmoralizantes. Mas como andamos longe
do ideal ! E' bem diverso o que se dá. O namôro virá, muito
mais cêdo até que seria para esperar. O ambiente em que se
vive, despertando e exc,itando artificial e prematuramente o
instinto, leva até as crianças a frequentações que só deviam
existir como preparação imediata para o casamento.
Um pai cuidadoso não deixará o filho entregar-se a esses
desatinos. Enganam-se os que reputam êsses flirts inofensivos,
como os que teem na conta de cousas inevitaveis nessa idade.
Precisamente por serem nessa idade e serem flirts, são_ inter
ditos e perigosos. De fato, se ainda não podem pensar em
casamento, essas relações servem apenas para desatar-lhes a
paixão, incendiar a imaginação, transtornar o sentimento.
O moço, excitado pelo pensamento, pela lembrança, pela
figura, pelo desejo da namorada, começa a perder o domínio
de si mesmo, no momento justo em que devia empregar todas
as forças para assegurá-lo. Enquanto se lhe enfraquece a von
tade, vão se robustecendo as tendências inferiores. Os seus
interesses, os seus estudos, os seus deveres cedem caminho á
paixão crepitante. E' a preocupação. O tempo do estudo,
como o do trabalho ou está tomado pela presença ou pela
lembrança da namorada. Horas inteiras passa debruçado sôbre
os livros, sem conseguir ler uma página, porque o pensamento
está longe. E, se leu, não sabe o que leu.
A paixão crescente lhe domina o espírito. Os desejos
impuros queimam-se as veleidades de pureza. A tendencia se
xual governa-lhe o espírito e os atos. E' facil vêr como a
mentalidade dêste pobre joven está pansexualizada. Ainda
A EDUCAÇÃO SEXUAL 1 33
MOMENTO DIFICIL
Mas há de chegar, afinal, o momento em que o moço
queira realmente escolher aquela que será mais tarde a mãe dos
seus filhos. Emprego propositadamente esta expressão, em
lugar da corrente - companheira da vida. E' que logo aqui
deveremos dar a entender que o casamento não é cousa que in
teresse simplesmente aos cônjuges, mas é feito em vista de um
fim superior, não puramente individual mas social. O moço
deve estar bem compenetrado disto, para buscar no matrimô
nio não a satisfação dos sentidos, mas a geração dos filhos.
Em vista disto - cousa, aliás, tão razoavel - a escolha
dá esposa devia ser feita a sangue frio, calculadamente, e não
como é feita por aí, ao acaso dos encontros, ou por critérios
ainda mais desprezíveis. Nem me digam que é cousa impos
sível. Pois, sendo o homem muito mais forte, menos senti
mental e mais raciocinador, ser-lhe-ia mais facil dominar-se e
escolher a donzela mais em condições de lhe dar uma progénie
s ã qe corpo e pura de espirita. Questão de querer, e querer de
verdade, empregando os meios para isto. Não seria tão difícil.
Bastava escolher primeiro a joven e depois namorá-la.
Talvez pareça ingenua esta opinião. Não faltará mesmo
quem a ridicularize. "Cousa de padre! Bem se vê que nunca
amou . " Serã0- possivelmente os defensores do exame pré
nupcial 1 . Ora, será muito mais facil, incomparavel, infi
nitamente mais facil conseguir uma escolha a sangue frio do
que impedir um casamento nas vésperas.
De qualquer maneira, insistimos em que o namôro se dê
quando ambos estiverem em condições de se casar. E o moço
que sentir maiores dificuldades para guardar a castidade de .
solteiro não deve protelar muito o casamento. Enganam-se os
que pensam que para esses o noivado é um remedia. O noi
vado tem sido, ás ·vezes, um meio de conduzir alguns moços
A EDUC AÇÃO S E X U A L 135
AS PORTAS DO CASAMENTO
O pai que educou realmente o seu filho não o deixará ir
agora para o casamento sem lhe dizer uma palavra sobre a
vida conjugal. Que o moço não fique pensando que tudo lhe
será permitido no matrimônio, mas saiba que dentro das três
finalidades do sacramento - geração de filhos, remedio á con
cupiscencia e demonstração do amor conjugal - êle pode usu
fruir tranquilo os seus direitos de espôso.
Isto um bom pai deve dizer ao filho, em qualquer hipó
tese. Se este moço não foi casto antes do matrimônio, arrisca
se a novas faltas em face das exigências da moral conjugal. Se,
a6 contrario, foi um puro, precisa de uma iniciação pre-nup
cial, não no sentido de uma experiencia sexual condenada pela
moral, mas de uma palavra clara e franca.
Conheço o caso de uma senhora que tomou á parte o
futuro genro na vespera do casamento e pediu que tratasse
com respeito e muita moderação a filha que ela lhe ia entregar
no dia seguinte. Era isto que o pai devia dizer ao filho, para
evitar o desgôsto que tantas jovens padeceram e ainda outras
padecerão com as realidades um tanto brutais com que não
contavam, e lhes causaram tantas decepções, chegando mesmo
a tragédias.
Além disso o pudor feminino tem delicadezas que o ho
mem deve conhecer. Basta, de certo, uma bôa formação geral
�ara evitar excessos.
Assim como dissemos da mulher, digamos <JUe o homem
A EDUCA ÇÃO S EXUAL 13 7,
poderia aceitar. Não cabe aqui urna exposição dos males mes
mos físicos do neo-maltusianisrno, quando é certo que não lhe
faltam nem lamentaveis cor.sequencias psíquicas. ( 1 )
Mas o marido tem, como é evidente, o claro e grave dever
de respeitar a saude e o bem moral da esposa. E deve pensar
que, se a esposa não tem coragem de lhe resistir --. como aliás
é o dever - nem de se separar dele - há uma outra separação
que se dará infalivelmente : a do espirita e do coração.
Só uma sólida educação, só uma bem feita formação
moral, só um completo domínio de si mesmo, só uma visão
elevada do matrimônio, uma grande delicadeza para com a
esposa e um grande amor aos filhos, tudo isto firmado e dou
rado pelo esclarecido e vivido sentimento será capaz de esta
belecer no lar aquela sonhada felicidade, que prouvera a Deus
fôsse mais frequente.
EM LUGAR DO PAI
Até a puberdade, os filhos - meninos e meninas - es
tiveram todos aos cuidados maternos. Aí, o rapazinho, cioso
do seu sexo, rião quererá mais se dirigir à mãe. O pai, que
tivera até então um papel secundário, passa a ter o primeiro,
140 P A DRE � N E GROMON T E
A ENTRADA NA PUBERDADE
DIFERENÇA TOTAL
Já dissemos, ao falarmos do moço, a importância das
glândulas sexuais para o organismo. Vimos c;omo todas as
atividades humanas lhes estão, em grande parte, subordina
das. Vejam bem : - todas as atividades humanas, e não só
as atividades fisiológicas. Não nos podemos demorar no as
sunto ; mas há experiências feitas nos animais, e observações
feitas nos homens. A ablação das glândulas sexuais dá aos
animais machos, como daria ao homem, caraterísticas femini
nas, e vice-versa. Os pêlos dos bois, por exemplo, em deter
minadas raças, é semelhante aos das vacas. Nos frangos cas
trados as penas tomam desenvolvimento diferente das do galo,
a crista e as barbelas não crescem, perde-se o instinto com
bativo, o c�nto desaparece ou se assemelha ao mero cacarejar
A EDUCAÇÃa S E X U AL 1 43
ADVERT�NCIA NECESSÁRIA
E' com o funcionamento dos ovários que se dá o fenô
meno da menstruação. Varia um pouco a idade em que isto
possa aparecer. Entre nós, graças ao clima, vem sempre um
pouco mais cedo: cêrca dos 12 'anos. Há casos excepcionais
de vir muito antes - mesmo aos 8 anos. Mas, excepcionais.
Quando passar dos 1 6 anos já convem consultar o médico : é
para suspeitar uma anomalia.
A mãe deve estar muito atenta, em qualquer caso, para
não deixar que a filha seja surpreendida pelo fenômeno. A
surpreza seria grande e desagradavel, podendo ter efeitos muito
mais graves do que muitas imaginam.
Sei que muitas mães ainda estão vítimas de prejuízos
nesse particular. Por cousa alguma quererão falar disto à sua
filha. Peço-lhes que procurem se lembrar dos transes angus
tiosos por que passaram ou da mestra que tiveram para os cui
dados indispensáveis ao fenômeno. Envês de aprenderem isto
com elevação e respeito dos lábios da própria mãe e -recostadas
carinhosamente . sôbre o coração materno, foram aprender no
fundo da casa, duma criada sem elevação, por entre garga
lhadas desmoralizantes. O próprio Balzac já tinha observado
que tudo o que a mãe procurou severa e cuidadosamente cons
truir na filha até esta idade, uma simples criada destroi com
uma palavra ou com um gest�. Queixem-se de si mesmas as
mães, se as filhas não foram preparadas :com dignidade, se
não encaram o fenômeno com elevação. Vejam, por exemplo,
o tom de zombaria com que as moças falam do assunto, corno
se fôsse uma ridicularia, ou o falso pudor de outras que re
putam como verdadeiramente imoral e pecaminosa uma sim
ples alusão a isto. A culpa é das mães que deixaram as filhas
ser instruídas por quem não tem capacidade moral, ou as dei
xaram entregues aos próprios devaneios.
A EDU CAÇÃO SEXUAL 1 45
Imaginem também os sobressaltos da pobre mocinha, se
o fenômeno lhe sobrevem sem que ela saiba de que se trata.
Aquela perda do precioso líquido da vida é mesmo para assus
tá-la. De onde vem ? Que terá acontecido ? Falar à mamãe
- ela não falará, se não, estiver acostumada a falar essas cousas
à mamãe. Consultar o médico - nem llie passa pela cabeça,
senão como um espantalho, uma terrível ameaça cuja vergonha
ela já começa a sentir, apavorada com a demora do estranho
mal.
Uma estatística feita por Filt na Inglaterra ( 1 ) revela
que 25 % das moças não tinham sido preparadas, tendo por
isto muitas experimentado grandes sustos, com ataques ner
vosos, com providências prejudiciais à saude física e mental.
Entre nós, creio que a porcentagem será imensamente maior,
porque são raríssimas as que tiveram a felicidade de ser devi
damente avisadas.
São inúmeros os testemunhos de senhoras, cuja entrada
na puberdade constituiu uma verdadeira tragédia, cheia de ina
pagáveis vestígios. Demos textualmente o depoimento de En
gelman, cujas observações foram muito numerosas nos Esta
dos Unidos : - "São em grande número as senhoras a quem
o medo, a excitação nervosa, a exposição ao frio fizeram doen
tes durante a puberdade. Nada mais natural do que a mo
cinha, surpreendida por uma perda de sangue, súbita e inex
plicavel, procurar fazer cessar a hemorragia que ela supõe pro
vir de algui:n ferimento. E' frequente nesses casos, o emprêgo
da água fria e de compressas frias. Algumas tentam deter o
fluxo com banhos frios, como aconteceu a uma donzela, que
se tornou depois uma mãe doentia, tendo sofrido durante
anos, por causa dessa imprudência. A terrível experiência não
A PALAVRA MATERNA
ALGUNS CUIDADOS
E' preciso que a mocinha comece desde cedo a conhecer
o próprio organismo, para saber respeitá-lo. Quando ela sou
ber a importância enorme do bom funcionamento ovariano e
os seus reflexos, também saberá respeitar e estimar, no seu de
vido valor, o fenômeno mensal que o regula. Importa, pois,
que a mãe ensine à filha como se há-de portar, não só durante
aqueles dias, mas sempre, para garantir a saude.
A jovem suportará com relativa facilidade as privações
dos divertimentos (bailes, esportes, excursões) , dos gostos pes
soais ; fugirá das emoções ; tomará precauções contra o frio, a
variação da temperatura, a chuva ; poupar-se-á trabalho ex
cessivo, cansaço ; submeter-se-á ao repouso e à tranquilidade
durante aqueles poucos dias - quando estiver bem infor
mada do bem que tudo isto lhe fará e dos males que uma sim
ples imprudência lhe poderá acarretar.
Se a mãe lhe dissesse que as insônias, as tristezas ,em
que ela fica sem saber por que, o cansaço que sente sem m9-
tivo, a inapetência, a variabilidade de !ânimo, a prisão de ven
tre, a palidez, o estado da pele, as dores de cabeça, e até óu
tros males mais graves lhe podem ser. trazidos por suas im
prudências, logo a interessada tomaria as precauções tão pre
ciosas quão fáceis e benéficas.
Os médicos estão hoje aconselhando um verdadeiro re
pouso da moça, principalmente da adolescente, durante os
dias da menstruação. Na Inglaterra, no� Estados Unidos e
mesmo entre nós já há quem advogue para as moças as férias
mensais, individuais, segundo a época de cada uma, quer para
as alunas quer para as professoras e demais funcionárias. So
mos de opinião que os pais não deveriam nunca deixar as fi
lhas jovenzinhas fazer concursos, provas e exames, se elas es
tiverem neste período de atividade funcional.
A EDUCAÇÃO SEXUAL 149
O ORGANISMO DA MULHER
ELA E �LE
Mais tarde, chegará, porém, inevitavelmente, o tempo
dos namoro�. Fazem mal as mães que se opõem terminante
mente a que as filhas namorem. Tenho ouvido, a êste res
peito, uma réplica irrespondível : - "E mamãe não namo
rou ?" E lá se vai a autoridade materna. Se fazem mal as que
alcovitam as filhas, também erram as que assumem em face
delas um papel de promotor público. Como sempre, a vir
tude está no meio.
A filha sabe que a mãe não se oporá a um namôro bem
orientado, para o casamento - desde que isto se faça dentro
dos limites da graça divina, da moderação, do bom nome.
E a mãe deve ser a primeira a ter noticia de uma simpatia
assun.
Os livros que ti:atam da preparação das moças para o ca
samento estão cheios de conselhos a êste respeito, e dos peri
gos das relações frequentes, estreitas, levianas, para ficarmos
nos menores males :Êsses livros são numerosos e encon
tradiços. ( 1 )
Deixamos um pouco ao largo o assunto que nos levaria
longe, para dizer apenas uma cousa que em nenhum deles
encontrei. E' a diferença entre a moça e o rapaz. A mulher
é muito mais calma, muito mais tranquila, muito mais sen
timental. A bem poucas interessa e preocupa direta e energi
camente a vida sexual. Nas suas leviandades com o rapaz
querem apenas acariciar e ser acariciãdas. Salvas as exceções,
passam muito pouco além dêsse desejo. Por isso mesmo levam
tão longe as suas facilidades. E' que não sabem que estão com
elas acendendo no rapaz uma fogueira de concupiscência.
O NOIVADO
A ÚLTIMA PREPARAÇÃO
Noiva, com as instruções até agora recebidas, a moça se
prepara, na castidade positiva e concíente, para o casamento
que não tarda. Até hoje, na grande maioria dos casos, as mo
ças teern ido para o matrirnônio na completa ignorância do
que êle realmente seja, a menos que se trate dos lamentáveis
acontecimentos que acima referimos. Aquí. mais urna vez,
confundiram-se a inocência e a ignorância. Já hoje, porém,
alguns querem que à candidata se diga tudo, inclusive minu
ciosidades técnicas E: precisas sôbre o próprio ato conjugal.
Como sempre, falta razão aos extremos.
A mãe não pode deixar a filha ir para o rnatrimônio na
absoluta ignorância do que se vai passai. E' preciso que ela
saiba o que é "dom dos corpos" . que o cas.tmento não é uni
camente uma união de almas, mas que "o homem . se umra
à sua mulher : e serão dous numa só carne" ( 1 ) E' tempo
de lhe dar o sentido preciso das atrações v3.gas e mais ou menos
indefinidas que ela tem experimentàdo de certo. E' necessário
que saiba que a união sexual é condição indispensavel da
transmissão da vida.
Agiria mal a mãe que tudo lhe calasse a êste re�peito,
sob o desarrazoado pretexto de um falso pudor, - como a
que recomendasse apenas deixar-se guiar pelo marido, entre
gando-a dêste modo aos caprichos ou perversões dos homens,
que nem sempre teem sabido respeitar a inocência das esposas.
Além disso, esta ignorância tão completa poderia dar lugar
- como tantas vezes tem dado - a surpresas desagradabilís
simas, criando dificuldades à vida conjugal e doméstica. Po
deríamos referir casos de esposas que não se quiseram sujeitar
à vida conjugal, ou de outras, muito mais numerosas, que·
A MATERNIDADE
NA BÍBLIA
( 1 ) Eis um- dos motivos pelos quais a Igreja Católica não põe
indistintamente a Bíblia em todas as mãos. As vezes, o leitor, conforme
a sua condição ou icl.de, encontra mais motivo de escândalo que de edi-
164 P A D RE � NE OR O MON T E
O LIVRO DE TOBIAS
E', porém, no Livro de Tobias, que a educação sexual
tem a sua verdadeira consagração na Bíblia. Alí estão todos
os seus característicos, nas mais perfeitas minúcias. Tudo o
que exigimos dos pais em relação aos filhos neste ramo da
educação, Tobias fez com o seu filho. Remeto o leitor ao
livro sagrado. Se já o leu, vê-lo-á agora sob êste aspecto, que,
de certo, lhe escapou. Se não o leu ainda, aproveite para ver
que tesouros perde quem não se dá à leitura da Sagrada
Escritura.
Antes de tudo, o velho pai estava em condições de edu
car. Era fiel a Deus, amante da virtude, que êle mais ensi
nava pelo exemplo que pelas palavras. Tinha coragem para
a virtude. Tinha coragem de ficar sozinho, mesmo quando
todos os outros capitulavam na adoração dos deuses de ouro.
Quando se entregava a suas atividades caritativas, nem lhe
faltaram as censuras, nem os insultos de estranhos e da pró
pria espôsa. Continuou a fazer o bem, superando as dificul
dades do meio, mostrando quanto o seu ânimo estava tem
perado.
As primeiras preocupações com o filho não foram as
iniciações sexuais, de que muitos andam por aí esperando mi
lagres impossíveis. Não. "Ensinou-lhe, desde a infância, a
temer a Deus e a se abster de todo pecado" Foi a preocupa
ção do santo temor de Deus. Não queria que o filho se man
chasse de pecadó algum. E' inutil, aliás, querer evitar apenas
um pecado, deixando todos os outros reinarem soberanos no
coração.
Ao lado dêste santo temor, o cuidado positivo da pie
dade. "Bendize ao Senhor em todo o tempo, e pede-lhe que
dirija os teus passos" "Serve ao Senhor na verdade e procura
fazer sempre o que lhe é agradavel" Esta piedade não é uma
A EDUC AÇÃO S EXUAL 167
AS TRADIÇÕES DA IGREJA
Os que acharem que à Igreja repugna falar dessas coisas�._
desconhecem o seu espírito e as suas tradições. Desconhecem ;
mesmo o seu modo de rezar. A verdade é que a Igreja trata
dêsses assuntos com a mesma liberdade das Escrituras Sagra
das, no pé de igualdade das coisas altas e santas, porque tudo
é puro para os que são puros, corno lembra S. Paulo.
A Igreja não pode desconhecer a fôrça sexual. porque a
religião envolve a vida toda. Além disso, a santidade da
função entrou nos planos divinos, de que a Igreja é guardiã.
A necessidade de ensinar os mistérios da fé obriga a
pensar no problema da geração. Que é a Incarnação? Corno
se deu? Quem não sabe a Ave-Maria? "bendito é o fruto
do vosso ventre" Rezar isto, sem lhe saber a significação?
TEND:F.NCIA NATURAL
Trata-se, como se vê, de uma tendência natural. Por
ela os homens - homem e mulher - se inclinam para deter-
INSTINTO PODEROSO
UNIÃO NECESSÁRIA
DIFERENÇA PSICOLÓGICA
( 1 ) Gen. 3. 20.
(2) Gen. 2. 18.
( 3 ) Mat. 1 9. 6.
A ED U C A Ç ÃO S E X U A L 1 87
põe, e lhe pôs nos braços urna lindíssima criança, a mais linda
que V. imaginar, e lhe disse : - "Eis aí um filho que Deus
lhe manda! " Que ideal! Sem os incômodos da gravidez, sem
as dôres do nascimento, sem despezas com médico, sem sobres
saltos, um filhinho, mandado diretamente por Deus. No pri
meiro instante, um deslumbramento. Nos primeiros dias, um
encanto. E depois . o cansaço, o aborrecimento. "Mas por
que, perguntará V., para mim êste pequeno e não para o meu
visinho, por exemplo, que tem muito mais recursos e facili
dades do que eu? Para Fulana seria até um divertimento, que
ela tem pouco o que fazer. Mas para mim? ! " E lá se iria o
pobre pequeno, enjeitado . - Ah! isto não, direis vós. E
aduzireis como argumento que conheceis muitas mães que re
petem essas mesmas palavras, mas nunca enjeitaram, e nunca
se desfariam dos seus filhos. Bem, mas é preciso ver a dife
rença : êstes são filhos, foram gerados por elas, formados das
suas entranhas, fibra por' fibra, o coração lhes palpitou mezes
a fio bem perto do coração ; estão unidos, estreitamente liga
dos. O outro, não ; foi trazido pelo anjo .
Mas _suponhamos que, para obedecer a Deus, - quantos
se inclinariam a esta obediência? - a criança fôsse aceita.
Tudo ia mais ou menos bem. Mas, quasi de repent�. o pe
queno começa a se mostrar desobediente, preguiçoso, insupor
tavel. Por causa dele, despezas, preocupações, aborrecimentos.
Ao bem que lhe fazem os "pais" , responde com descaso e in
gratidões. Esperam que passe a crise, mas a cousa piora. Aos
quinze anos - teria chegado a tanto? - desperdiçado, inu
til, mas arrogante e ingrato, passa das desobediências, das
zombarias aos maus tratos.
Quem continuaria a suportar êste menino, que nenhum
laço natural prende ao lar? Mas há um laço espiritual, dir
se-á. Muito fraco, por si só, para prender os homens, que são
A EDUCAÇÃO S EXUAL 189
II
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br
POSSIBILIDADE DA CASTIDADE
NA ADOLESC�NCIA
São poucos os inimigos da castidade dos adolescentes.
Alguns não se pejam de justificar o vício solitário, a pretexto
de que só os excessos são prejudiciais aos meninos. Mesmo
desprezando os argumentos morais, de pequ_ena valia,· ou de
nenhuma, para semelhantes homens, a própria ciência dirá os
males produzidos pelas perdas seminais dos mocinhos, cujo
organismo em formação deve economizar todas as fôrças ne
cessárias ao próprio crescimento. :ele não pode tirar de si para
dar a outrem o que ainda lhe é necessário. Isto é lei biológica.
A EDUCAÇÃO SEXUAL 1 99
(1) Uma perda seminal vale uma perda de · sangue vinte vez.es
maior.
(2) Dr. A. Herzen - Science et Moralité.
200 PAD RE A NE GRO M O N TE
O MOÇO FEITO
ARGUMENTO MORAL
A VERDADEIRA ILAÇÃO
*
**
Concluindo êste capítulo, que nem precisava ser tão lon
go, porque os outros livros o tratam com bastante largueza.
devemos advertir que uns confundem dificuldade com impos
sibilidade. Os educadores fariam mal, muito mal, em apre
sentar aos jovens a castidade corno virtude facil. E' difícil. A
tendência é forte e não serão os fracos que poderão detê-la.
Há uma continência facil, em temperamentos frios ou doentes :
PARA A SAUDE
O primeiro argumento é o da saude. A castidade faz
mal. Indiretamente, se quiserem, e diretissimarnente para quem
pode ver, já provamos que não. Porque nos falece autoridade,
demos o parecer de numerosos médicos e educadores, professo
res de universidades, membros de sociedades científicas. Nin
guém pensará que êsses homens aconselhariam alguma coisa·
nociva à saude. Nos testemunhos citados da!. 4 grandes cole
tividades há referências expressas ao prejuízo, que é por todos
êles condenado.
Sabemos que, a-pesar-disso, muitos continuarão a dizer
o que quiserem, atendendo mais a inconfessáveis desígnios do
que à voz incorruptível da verdadeira ciência. Outros ainda
duvidarão : os argumentos são apresentados de tal modo
A própria exposição dos pretensos males bastaria para
urna refutação cabal. São verdadeiras contradições. Uns di
zem que a continência super-excita ; outros que atrofia. Uns
que reduz à frieza ; outros que leva à erotomania. Uns que
estagna a função dos órgãos ; outros que obriga a aberrações.
Destroem-se uns aos outros, dando-nos pouco trabalho inte
lectual de refutá-los, é verdade, mas fazendo um mal horrível
aos pobres moços que lhes dão ouvidos.
Entre todas, a balela mais corrente é a das psicastenias.
Do simples nervosismo à loucura, atravessando toda a escala
das perturbações psíquicas, a castidade é acusada de produzir.
Poderíamos repetir aquí mil testemunhos de médicos eminen
tes. Não é preciso, porque andam muito citados nos livros
mais em voga sôbre o assunto. ( 1 ) São unânimes. Alguns
chegam a empregar expressões bem fortes. O dr. Good fala
PARA O ESPÍRITO
Os defensores da incontinência nunca aceitam discussão
no plano do espírito. Encaram o homem do simples aspécto
corporal, como se não passáss�os de animais, e êles de vete
rinários. E' que no plano espiritual sabem de antemão que a
discussão lhes será esmagadoramente desvantajosa.
Se o físico beneficia com a castidade, muito mais o es
pírito. O homem casto revigora corpo e espírito. Aquela
214 P AD R E A . N E G R O M O N TE
PARA A PROLE
LUTA NECESSARIA
AS PEQUENAS COUSAS
AS CIRCUNSTANCIAS INDIVIDUAIS
Embora os perigos sejam de todos, nem todos a.s pade
cem da mesma maneira. Guardemos bem isto, que explicará
muita coisa em nossa vida. Os temperamentos variam com as
pessoas. Cada homem reage diferentemente diante da mesma
causa. Além disso, cada homem difere de si mesmo, de acôrdo
com as circunstâncias. A idade, o estado de espírito, as de-
dicar o santo doutor que na fuga das ocasiões está quasi toda a
vitória. Sirva a lição. Queremos ensinar a castidade aos nossos
educandos? Ensinemos-lhes a fugir das ocasiões.
a) Máus companheiros. São os máus companheiros dos
piores estôrvos à virtude. São mais terríveis que as do dernô
nio, as suas seduções. Ao diabo mais facilmente se resiste que
ao máu companheiro. :êste tem feitiços, que aquele ignora. As
suas zombarias são temíveis. O prestígio de que gozam é ca
paz de desacreditar o moço que lhes resistiu, junto aos demais
compa:iheiros. As suas palavras entram de fato pelos ouvidos.
Os seus epítetos fazem tremer. As suas perseguições apavoram.
As suas atitudes são afoitas, e tanto mais afoitas quanto os
bons são covardes. ( 1 ) E . o respeito humano é um fato.
Mas, apesar-de-tudo, os máus companheiros devem ser evita
dos. Devem ser fugidos como leprosos.
b) Más conversas. Fugindo-lhes, evitou-se um segundo
tropêço : as más conversas. E' urna das pragas da mocidade.
Da simples leviandade à mais grosseira obcenidade costumam
ir as conversações dos moços que não sabem prezar a sua digni
dade. Nem para os gracejos, nem para os momentos graves,
nem muitas vezes para as coisas sagradas abrem exceções. Do
mal que produzem nem se pode imaginar a extensão. Além do
que as profere, atingem tantas almas quantas as ouviram ; e
destas ainda existem as que vão propagá-las. Sobram razões
ao Apóstolo para proibir · aos Efésios que tenham relações com
quem as pronuncia. E' por demais evidente que elas corrom
pem os bons costumes, depravam os corações, rebaixam os sen
timentos, povoam as mentes de idéias impuras, cortam as azas
do espírito, acostumam os pobres moços a uma lamentavel
atmosfera de que sentem dificuldade de sair. Aos que fazem
(1) Leã-0 XIII escreveu que nada estimula tanto a audacia dos
máus como a timidez dos bons.
A E D U C A Ç ÃO SE XUAL 229
( 1 ) L'art de vivre.
(2) J. Jeannel - La Prostitution.
234 P AD R E A. N E GROM O N TE
A CASTIDADE INTERIOR
A CONFISSÃO
Sendo o mais eficaz dos remédios espirituais, é o primeiro
que apresento. E não vou provar que é instituição divina, nem
que é facil, nem vou desfazer os prejuízos correntes contra ela.
Há muita coisa escrita sôbre isto, e o lugar não é bem êste
livro. A verdade é que nenhum outrq meio vale a confiss.ão
sacramental.
Dissemos acima que o conhecimento de si mesmo é uma
das condições essenciais para acertar o caminho da castidade.
Pois nada ensina melhor o homem a conhecer-se do que a prá
tica da confissão. A necessidade do exame de conciência obriga
o penitente a mergulhar dentro de si, a sondar não apenas os
atos, mas os pensamentos, os desejos e as intenções. O que
há-de mais secreto em nós sobe á tona. A nossa realidade apa
rece, sem o perigo das ilusões em que constantemente vivemos.
Dos benefícios da confissão poderemos dar mil testemu
nhos de ordem natural. Médicos e educadores sem religião a
preconizam. Um ímpio como Voltaire disse : "A confissão
deve ser considerada como o maior freio dos crimes ocultos"
Hoje em dia, até em nome do freudismo se aconselha a con
fissão, para desfazer os recalques.
Mas, passemos aos efeitos. sobrenaturais. Purifica a alma.
Livre do pecado mortal, caminha com desembaraço pelos ca
minhos da virtude. Isto não é apenas uma frase : é urna rea
lidade. Digam os que se confessam se não é verdade que depois
da confissão sentem muito ma-ior facilidade para vencer-se.
Sentem mais elevação do que nunca. Sentem horror ao mal
que praticaram e o detestam, fugindo dele. Quem não vê que
isto é uma garantia âos bons costumes? E'. Ainda mais por
que não somente perdoa os pecados, mas fortalece a alma con
tra os perigos futuros.
Não argumentem coin as recaídas. Não; porque é claro
242 P A D R E A. N E G R O M O N T E
A COMUNHÃO
Estamos em pleno terreno sobrenatural. A presença real
de Nosso Senhor Jesús Cristo na Eucaristia é um dógma. E'
praticamente o dógma central da Igreja Católica. E ainda mais
praticamente para a vida cristã. De modo que a comunhão é
a união do homem com Cristo real e perfeito como está no
céri. Bastava dizer isto para ter dito tudo. Na comunhão nós
nos "misturamos com Deus " , como disse afoitarnente S. João
Crisóstomo. Comum união ou comunhão : íntima, perfeita,
inteira. A Pessoa de Cristo se une a. nós. Cristo se faz nosso
alimento espiritual.
Comemos a sua Carne, mas ao inverso dos outros ali
mentos, não é Ela que se muda em nós, somos nós que nos
mudamos nEla, como diz S. Agostinho. Por alguns instantes
temos em nós o próprio Sangue, a própria Carne de N. Se
nhor, sob as aparências da Hóstia Consagrada. Precisa dizer
de quanto é capaz êste contato ? Como urna chama divina sa
neia tudo o que toca : pensamentos, desejos, afetos. Purifica
as fontes mesmas do nosso sêr e agir.
Consumidas as espécies de pão, desaparece a__ presença real
de Cristo, mas ficam os efeitos : "Quem come a minha carne
e bebe o meu sangue, permanece em mim e eu nele" . ( 1 ) Esta
permanência vai realizando a nossa mudança em Cristo. E'
uma verdadeira convivência espiritual. Como em toda convi
vência, vamos apanhando os modos de pensar, de querer, de
agir daquele com quem convivemos.
Já devemos estar purificados, porque a Comunhão exige
o estado de graça ; mas nos restam as perigosas raízes do mal.
e essas vão sendo destruídas pela Comunhão. O organismo es'
piritual, revitalizado, vai corrigindo as inclinações viciosas da
O PECADO DE IMPUREZA
Já ficou dito qual a grandeza da função sexual. Partici
pação do poder criador, com imensas responsabilidades sociais,
nada tem de pecaminoso em si mesma, e só os abusos e depra
vações são pecados, e pecados tanto mais graves quanto mais
quando fez, não sabia. Pois bem : não pecoü, porque não
tinha conhecimento da coisa corno matéria de pecado. - Um
terceiro caso. A pessoa fez uma coisa que, em si, é matéria para
pecado mortal ; mas pensava que era pecado venial. S-ó depois
veio a saber que o pecado era mortal. De agora por diante,
se ela repetir a ação, é pecado mortal, porque ela já sabe;. mas
àquele primeiro foi apenas pecado venial, pr,>rque ela o conhecia
como venial.
Há casos mais difíceis de discernir. Quando praticou a
ação, estava entre dormindo e acordada. A matéria é grave.
Foi pecado mortal? Se o estado era realmente êste, de serni
vigília, houve também uma semi-conciência, e portando não
houve pecado mortal, o qual supõe um "consentimento per
feito" A questão é saber qual era realmente o estado. - Ou
tros se preocupam demasiadamente com terem sentido certa
satisfação. Pecaram ? Só por isto, não. E' lembrar sempre
as 3 condições. Faltando urna, não há pecado mortal. A ma
téria era grave ; eu tinha conhecimento disto ; mas não consenti.
A vontade é tudo, corno se vê. Desde que eu não queira, não
há pecado. Ora, sentir é ato da sensibilidade, e não da vontade.
Em compensação, outro dirá : "Eu fiz, sabia que era
pecado ; mas não tive intenção de agravar a Deus" Mas não
precisa esta intenção. Se precisasse, muito poucos homens peca
riam, porque esta é realmente urna intenção rara. Basta a
desobediência voluntária para constituir o pecado. A desobe
diência é, por sua natureza, injuriosa a Deus. Esta intenç·ão de
agravar a Deus aumentaria desmesuradamente a malícia do
pecado.
Resumindo : é sempre pecado mortal procurar diretamente
a luxúria. Os atos que não levam diretamente à luxúria não
são pecados mortais. Uma leitura não muito excitante, urna
conversa menos decente, etc., não são pecados mortais. São
veniais. Que devem ser evitados, nem precisa dizer. Não só
A E D U C A Ç ÃO S E X U A L 253
POR PENSAMENTO
( 1) Hoornaert, o. e.
254 P A D R E A. N E GROM O N T E
AS RELATIVIDADES
Nem sempre os pecados acompanham imediatamente as
causas. Estas, às vezes. costumam incubar as faltas, que depois
aparecem. São corno as sementes que já teem em si os frutos,
mas demoram em produzí-los. - Outras vezes, a pessoa con
fessa que não queria o efeito, mas pôs a causa. Artifícios da
paixão. Astúcias do inimigo das almas. - A responsabilidade
é a mesma. Quem quer a causa quer o efeito. Quem é a causa
da causa é a causa do causado, dizem os filósofos.
Os jovens devem t�r em vista êste princípio, quando teem
de _agir em determinadas circunstâncias. As causas não pro
duzem sempre os mesmos efeitos. Produzem-nos diferentes nas
diferentes pessoas. corno os produzem diferentes na mesma pes
soa em condições diferentes. - Vamos a um exemplo, que es
clarecerá melhor as duas coisas. Um moço quer saber se pode
beijar a noiva. Vamos conceder que êste beijo nenhum ma.l
lhe faça no momento; mas depois o deixa a sonhar. A imagi
nação exaltada o arrasta, e êle cae no pecado. - Ainda que o
moço se desculpe, porque a beijou na presença dos pais, êste
beijo é pecaminoso, porque é fonte de pecados. Ou êle se des
culpe porque um outro jovem lhe disse que beija a noiva e não
peca. O outro não peca ; mas êle peca.
As causas de pec;1do, como vemos. sendo as mesmas para
todos, variam para cada indivíduo. De modo geral, as que
provocam sempre efeitos mãus são más, essencialmente más.
As outras serão só acidentalmente más, conforme as circunstân
cias. E' certo, entretanto, que aquilo que determina um pecado
tem a mesma gravidade e malícia do pecado. E esta gravidade
é proporcionada à fôrça com que a causa impulsiona para o
pecado. Por exemplo : foi um olhar máu. Em que medida
êsse olhar é pecado ? Se êle levou apenas a um pecado venial,
foi venial ; mas foi mortal, se produziu um pecado mortal. E
256 P A D R E A. N E G R O M O N T E
para que êle produzisse UJ?i pecado mortal entra e m: jogo uma
porção de suposições. Foi de perto ou de longe? Rápido ou
demorado? por simples curiosidade oü por malícia ? para uma
figura ou para uma pessoa? por si mesmo, mais ou menos ex
citante? que efeito se podia esperar dele? Tudo isto são cir
cunstâncias a medir. ( 1 )
Podemos julgar daquí os males que fazem as modas in
decentes. Quantos moços serão levados ao pecado pelas vestes
indecentes das �enhoras e senhoritas? "Conta as estrelas, se
podes" Não constituirá isto um pecado? Mas, de certo,
pois que é causa de pecado. - Dirão, para excusas, que êsses
pecados são alheiõs. A excusa não vale: uma causa de pecados
alheios chama-se escândalo, o qual também pode constituir um
pecado mortal, se leva a pecados mortais, como uma causa a
seu efeito. E' o caso _das modas. Nem precisa perder tempo
em discutir isto. (2) De fato, muitas, muitíssimas escapam
dêsse pecado por leviandade. Ficam apenas no pecado de imo
déstia, a que também não é possível escapar quem se veste com
EXAGEROS CONDENÁVEIS
A tendência sexual é a que maiores estragos tem produ
zido na humanidade. E' facil de compreender que os homens,
arrastados pela sua impetuosidade, pusessem a serviço indivi
dual o prazer que Deus só lhes concedeu como um estímulo e
uma compensação dos trabalhos prestados à espécie. Soltos os
258 P A D R li A . N E GR O M O N T E
" fraqueza da carne " de muita_ misericórdia com 'os arrependidos que
11
chorando, correm a seus pés divinos para implorar perdão das surprezas
da carne e da fraqueza dos sentidos ". P. Hoornaert, o. c.
A E D UC A Ç Ã O S E X U A L 261
....*
Michelet, que ninguém achará suspeito, disse que para ser
forte, é preciso ser puro. Invertemos-lhe a palavra para dizer
que é preciso ser forte para ser puro. O homem forte deve ser,
portanto, a preocupação do educador. Se olhamos para os
nossos jovens, mesmo de relance, o que logo vemos é a fra
queza do carater. Uma vontade fraca à mercê das paixões;
uma sensibilidade exagerada em procura de confôrto : - eis
os jovens de nossos dias. E' contra isto que precisamos reagir.
A EDUCAÇÃO SEXUAL 265
O QUE PENSAM
A enorme influência do. modo de pensar dos pais sôbre
os filhos exige uma grande correção de idéias. O que pensa
rem os pais sôbre a castidade, pensarão os filhos. A questão
é complexa e abrange muitas atividades. O próprio conceito
de vida está empenhado nela. Os nossos modos de pensar
saem espontâneos em nossas conversas, sem possibili<lade de
controle na intimidade do lar, onde vivemos à vontade, sem
o policiamento social das reuniões de fora. Em casa, pensamos
em voz alta, dizemos o que sentimos. A alma nos vem para
as palavras, tal qual realmente existe. E os filhos nos obser
vam, ouvem, bebem as palavras, sorvem os pensamentos, im
pregnam-se dos nossos sentimentos.
Que pensam os pais sôbre o problema sexual? Ainda
quando não querem falar diretamente aos filhos do assü�to,
porque acham vergonhoso, ou não sabem o que irão dizer,
o tema é tão frequente que mal se pode im'3ginar. São os fatos
do dia, estampados na imprensa. Que disse o pai ,aôbre o
moço que se desgarrou ? Justificou-o, talvez. Para o pai,
aquilo são coisas da mocidade, inevitáveis. Quer dizer que
a possibilidade da castidade é uma balela. Outras vezes, é a
ridicularia sôbre um rapaz puro, como se a pureza fôsse uma
incapacidade. Atribuíram até à continência do jovem as per
turbações de saude que padeceu. E as vantagens da castidade
passam para o mundo das fábulas perigosas. E os filhos estão
ouvindo tudo isto, e tirando as suas conclusões.
Outros chegam a maiores dislates. Dizem abertamente
que não querem "maricas" em casa. Sabemos de casos em que
o pai mandou o filho se corromper no meretrício, dando-lhe
dinheiro para a sinistra empreitada. Até de mães tenho ou
vido essas teorias, na presença dos filhos !
A questão tem outras feições. Que pensam os pais da
A 1! D U C A Ç Ã O S E X U A L 275
O QUE FAZEM
A EDUCAÇÃO DIRETA
Diretamente, do ponto de vista da educação sexual, os
pais estão assim divididos : os que não sabem fazê-la, mas a
desejam ; os que a fazem erradamente ; os que não a querem
fazer.
Aos que estão fazendo erradamente cremos ter apre
sentado aquí elementos para emendarem a orientação. Su
pondo - nem outra coisa é de supor dos pais - que são
bem intencionados, pedimos-lhe que fixem como finalidade
da educação sexual a guarda dá castidade, · e empreguem os
meios que conduzem" a isso. Já mostraram uma grande co
rajem em começar essa educação específica, diante da qual a
imensa maioria dos pais teem recuado.
Os que não querem dar aos filhos uma educação sexual,
também estão errados. São igualmente bem intencionados.
Mas os antigos prejuízos, em que foram educados, fazem jul
gar como indecentes essas coisas, indignas de ser o objeto das
conversas de pais a filhos. Também a êsses cremos que êste
livro oferece argumentos capazes de convencer as pessoas de
facil compreensão e boa vontade. Se êles não querem que os
filhos se corrompam, não pensem que conseguirão com o si
lêncio. Não. Pelo contrário. êsse silêncio será o mais pode-
2 78 �AD R 5 � N � d R O MON T E
COLABORAÇÃO NECESSÁRIA
http://alexandriacatolica.blogspot.com.br