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REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO

MERCADO DE PEIXE DE MACAÉ/RJ:


entre o valor de Comunidade e a Paisagem
Programa de Pós-graduação em Arquitetura

Monique Ferraz Vieira


orientadora: Ethel Pinheiro
Mestrado em Projeto e Patrimônio

novembro
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO

MONIQUE FERRAZ VIEIRA

REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM


MACAÉ/RJ: entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
REVITALIZATION OF THE PIER SLIP OF THE MUNICIPAL FISH
MARKET IN MACAÉ / RJ: Amidst the Value of Community
and Cultural Landscape

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ


Novembro| 2020

i
MONIQUE FERRAZ VIEIRA

REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM


MACAÉ/RJ: entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural

Dissertação de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-


Graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como
etapa necessária a obtenção de título de Mestre em Ciências
em Arquitetura na área de Projeto e Patrimônio.

Orientadora: Profa. Dra.Ethel Pinheiro Santana

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ


Novembro | 2020

ii
CIP - Catalogação na Publicação

Ferraz Vieira, Monique


FM744r Revitalização do Cais do Mercado de Peixe de
Macaé/RJ: entre o valor de Comunidade e a Paisagem
/ Monique Ferraz Vieira. -- Rio de Janeiro, 2020.
274 f.

Orientador: Ethel Pinheiro Santana.


Dissertação (mestrado) - Universidade Federal do
Rio de Janeiro, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, Programa de Pós-Graduação em Arquitetura,
2020.

1. Mercado do Peixe Macaé. 2. Comunidad


Paisagem. 4. Projeto. I. Pinheiro Santana, Ethel,
orient. II. Título.

Elaborado pelo Sistema de Geração Automática da UFRJ com os dados fornecidos


pelo(a) autor(a), sob a responsabilidade de Miguel Romeu Amorim Neto - CRB-7/6283.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM
MACAÉ/RJ: entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural

MONIQUE FERRAZ VIEIRA

Orientadora: Profa. Dra.Ethel Pinheiro Santana

Dissertação de Mestrado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Arquitetura, Faculdade de


Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio de Janeiro, como etapa necessária à obtenção de
título de Mestre em Ciências em Arquitetura na área de Projeto e Patrimônio.

Aprovada por:

______________________________
Presidente, Profa. Dra. Ethel Pinheiro Santana

_____________________________
Profa. Dra. Andrea Queiroz Rego

_____________________________
Profa. Dra. Denise de Alcântara Pereira

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ


Novembro | 2020

iii
A todas as figuras simbólicas
que contribuíram para que eu
pudesse ver além dos meus olhos:
meus pais e sogros e seus
“jeitinhos”, Natan e Luca que me
desafiaram a continuar a cada
instante, Denilson, meu dicionário
de assuntos marítimos, Ethel,
minha mais que orientadora, Cris,
minha eterna professora e
incentivadora, a todos os amigos
que dividiram comigo o peso da
jornada e aos ícones macaenses
que aqui materializo como
Regininha.

iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO

REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:


entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural

MONIQUE FERRAZ VIEIRA


Orientadora: Profa. Dra. Ethel Pinheiro Santana

RESUMO
As condições naturais de aportamento deram à Macaé uma relevância na história econômica
da região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. De fato, a história da cidade é entrelaçada
e se desenvolve a partir dos seus portos e dos grupos que deles se apropriam. Este lugar litoreiro, o
Porto de Macaé, ainda faz parte da história macaense, não com a relação de “passado” estático como
fora um dia, mas por sua capacidade de evocar nosso olhar e pensamento para tal. Esse trabalho está
empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário social e tem papel
importante na cultura da comunidade local, o objetivo geral é fortalecer o valor de paisagem
cultural, propondo um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé. Para
entender a complexidade de um estudo, utilizaremos uma abordagem qualitativa e as metodologias
de análise desenvolvidas dentro do LASC, com a intenção de colocar a comunidade como fonte
primária, por meio de um olhar subjetivo, com enfoque de base cultural. Acreditamos que pela
compreensão de determinados elementos da memória coletiva do grupo de pescadores e da
composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor de paisagem cultural, por
meio de um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé.
Palavras-chave: Mercado de Peixe, Macaé, Paisagem, Comunidade, Projeto

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO

REVITALIZATION OF THE PIER SLIP OF THE MUNICIPAL FISH MARKET IN


MACAÉ/RJ: Amid the Value of Community and Cultural Landscape

MONIQUE FERRAZ VIEIRA


Advisor: Profa. Dra. Ethel Pinheiro Santana

ABSTRACT

The natural port conditions gave Macae a relevance in the economic history of the North
Fluminense region of the State of Rio de Janeiro. The history of the city is, in fact, intertwined and
develops from its ports and the groups which own it. This coastal place, the Port of Macae, is still part
of Macanese history, not with the static 'past' relationship, as it once was, but because of its ability
to evoke our gaze and thought. This work is committed to revitalizing an urban area that is part of
the social imagination and plays an important role in the culture of the local community. The general
objective is to strengthen the value of the cultural landscape, proposing a revitalization project for
the pier slip of Fish Marketplace of Macae. By understanding the complexity of a study, we will use a
qualitative approach and analysis methodologies developed within LASC, with the intention of
placing the community as a primary source, through a subjective view, with a culturally based focus.
We believe that through the understanding of certain elements of the collective memory of the
fishermen group and the composition of the value of this community, this research will strengthen
the value of the cultural landscape, through a project to revitalize the pier slip of the Macae Fish
Marketplace Wharf.

Keywords: Fish Market, Macaé, Landscape, Comunnity, Project

Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ


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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO

Lista de ilustrações
Figura 1: Mapa de localização Praça Veríssimo de Mello e Mercado de Peixe Municipal e sua orla.
Fonte: Acervo da autora sobre base do Google Earth, 2020. 4
Figura 2: Foto da Orla central com vista para o Cais do Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora,
2019. 5
Figura 3: Pescadores na pororoca. Fonte: Acervo da autora, 2019. 6
Figura 4: Paisagem da orla da Rua da Praia com vista para o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte:
Acervo da autora, 2019. 6
Figura 5: Recorte de Cartão Postal da Rua da Praia. Fonte: Acervo Regininha Moreira, 1930. 12
Figura 6: Mapa de localização do Mercado de Peixe em Macaé/RJ. Fonte: Acervo da Autora, 2020.13
Figura 7: Relações entre as praças e os corpos hídricos no projeto de arruamento. Fonte: Britto e
Sayd, 2016. 14
Figura 8: Cais do Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora, 2020. 14
Figura 9: Mapa dos Patrimônios histórico-culturais de Macaé reconhecidos pela Lei Orgânica do
município. Fonte: Acervo da autora produzida com base na Lei Orgânica Municipal, 2020. 15
Figura 10: Conjunto de Patrimônios históricos de Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 16
Figura 11: Croqui de campo do Largo do Mercado do Peixe, com destaque para as palmeiras
imperiais. Fonte: Acervo da autora, 2020. 17
Figura 12: Mapa com a Estrada RJ 106 passando pelo Cais do Mercado do Peixe. Fonte: Google
Earth, 2020. 17
Figura 13: Planta hidrográfica dos portos Imbetiba e Macahé. Fonte: Acervo digital da Biblioteca
Nacional, 1881. 18
Figura 14: Projeto de arruamento da Villa de Macahé por G. F. Pimentel. Fonte: Hemeroteca
Biblioteca Nacional, 1840. 20
Figura 15: Quadro dos maiores produtores de açúcar entre 1932 a 1937. Fonte: LAMEGO, 1946. 22

vii
Figura 16: Dragagem do canal Macaé x Campos. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé antiga,
1922. 23
Figura 17: Casas modestas em Macaé. Fonte: Acervo Biblioteca digital IBGE, 1970. 24
Figura 18: Orla da Rua da Praia antes da remodelação. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé
antiga, 1923. 24
Figura 19: Antigo Hotel Imbetiba. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé antiga, 1923. 25
Figura 20: Construção do novo porto de Imbetiba pela Petrobras. Fonte: Acervo Grupo Facebook
Macahé Antiga, entre 1975 e 1977. 26
Figura 21: Gravura dos índios Goytacaz. Autor: Newton Rabelos. Fonte: Acervo site Prefeitura de
Campos. Disponível em <http://campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=30627 =>,
1945. 27
Figura 22: Mercado Municipal com peixes na área externa sendo secos no sal. Fonte: Acervo Grupo
Facebook Macahé Antiga, S.D. 28
Figura 23: Banca de venda de Peixe no Mercado. 1940. Fonte: Lamego, 1945. 28
Figura 24: Mapa de Macaé, destaque em vermelho para o porto de Imbetiba e em azul para o de
Macahé. Fonte: Acervo Arquivo Nacional, 1986. 29
Figura 25: Casa de pescador sobre o rochedo. 1940. Fonte: Lamego, 1946. 30
Figura 26: Vista da pororoca e Rua da Praia. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé Antiga, S.D. 31
Figura 27: Mapa evolutivo da orla da cidade de Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 32
Figura 28: Obra de remodelação da Rua da Praia. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé das
Antigas, 1923. 34
Figura 29: Rua da Praia remodelada. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé das Antigas, 1930. 34
Figura 30: Cais municipal do Mercado do Peixe de Macaé e a sua orla. Fonte: Acervo da autora,
2019. 37
Figura 31: Encontro entre o Rio Macaé e o Mar, a pororoca. Fonte: Acervo da autora, 2019. 42
Figura 32: Extinta tradição de cortejo marítimo com barcos decorados em comemoração a N. Srª
dos Navegantes. Fonte: Grupo Facebook Macahé Antiga, 1930. 42
Figura 33: Mapa de agentes e vetores. Fonte: Acervo da autora sobre base do Google Earth, 2019.
52
Figura 34: Residências da Rua João Cupertino. Fonte: Acervo da autora, 2019. 53
Figura 35: Edifício da prefeitura a esquerda e Antigo Hotel Ouro Negro, localizados no trecho em
laranja. Fonte: Acervo da autora, 2019. 53

viii
Figura 36: Edificações comerciais fechadas próxima ao final da orla. Fonte: Acervo da autora, 2019.
54
Figura 37: Barcos atracados na foz do Rio com o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 54
Figura 38: Mapa de agentes e vetores. Fonte: Acervo da autora, 2019. 56
Figura 39: Mapa síntese de evolução histórica e suas transformações na paisagem. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 58
Figura 40: Perfil da estrutura morfológica. Fonte: Acervo da autora, 2019. 58
Figura 41: Mapa de Zoneamento urbano. Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé. Disponível em:
<http://www.macae.rj.gov.br/midia/uploads/Zoneamento%20-%20Maca%C3%A9%20-
%20LCM%20141-2010.pdf>, 2007. 59
Figura 42: Passeio da Avenida Presidente Sodré. Autor: Colon. Fonte: IBGE. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/rj46054.jpg,
S.D>. 60
Figura 43: Mapa síntese da estrutura morfológica atual; Espaços livres (públicos e privados),
Gabaritos, Vegetação. Fonte: Acervo da autora, 2019. 61
Figura 44: Perfil da rua São João. Fonte: Acervo da autora, 2019. 62
Figura 45: Mapa síntese de Aspectos funcionais e sistemas de espaços livres. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 63
Figura 46: Croqui de vendedor de caranguejo na Praça do Mercado do Peixe embaixo da sombra da
árvore. Fonte: Acervo da autora, 2020. 71
Figura 47: Mapa de territórios formais da área do Cais do Mercado do Peixe. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 73
Figura 48: Mapeamento de territorialidade. Fonte: Acervo da autora, 2020. 74
Figura 49: Mapeamento de percurso e permanência de pessoas e veículos. Fonte: Acervo da autora,
2019. 75
Figura 50: Mapeamento de aspectos ambientais e sensoriais. Fonte: Acervo da autora, 2019. 76
Figura 51: Mapeamento de manifestações no cais do Mercado do Peixe durante a chegada e venda
do pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020. 78
Figura 52: Mapeamento de manifestações durante a chegada do camarão. Fonte: Acervo da autora,
2020. 79

ix
Figura 53: Cais do Mercado do peixe em um domingo pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019.
80
Figura 54: Cais do Mercado do peixe em uma terça-feira pela manhã. Fonte: Acervo da autora,
2020. 80
Figura 55: Mercado com peixe sendo seco ao sol no cais. Fonte: Acervo Grupo do Facebook Macahé
Antiga, 1930. 81
Figura 56: Cais do Mercado. Fonte: Acervo Grupo do Facebook Macahé Antiga, 1978. 81
Figura 57: Mercado do Peixe atualmente. Fonte: Acervo da autora, 2020. 81
Figura 58: Croqui de observação do movimento do Cais durante a chegada dos pescadores e venda
do pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020. 83
Figura 59: Croqui chegada do camarão. Fonte: Acervo da autora, 2020. 85
Figura 60: Croqui do movimento do Cais na chegada e venda do pescado. Fonte: Acervo da autora,
2020. 86
Figura 61: Croqui da negociação do pescado e seus atores. Fonte: Acervo da autora, 2020. 87
Figura 62: Comentários em resposta à questão realizada no grupo do Facebook Macaé das antigas.
Fonte: Grupo do Facebook Macaé das antigas, 2020. 90
Figura 63: Barreira Sanitária em frente à entrada do Mercado do Peixe. Fonte: Acervo da autora,
2020. 91
Figura 64: Croqui do funcionamento do Mercado do Peixe em um domingo pela manhã. Fonte:
Acervo da autora, 2019. 95
Figura 65: Croqui de crianças no parquinho ao lado do praça do Mercado e carro ao fundo em um
domingo pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019. 95
Figura 66: Foto da banca de pescado do Mercado de peixe em um sábado pela manhã. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 96
Figura 67: Esquema gráfico de diretrizes projetuais. Fonte: Acervo da autora, 2020. 99
Figura 68: Monumento Chama do Petróleo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 102
Figura 69: Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho. Fonte: site economia e negócios,
2019. 102
Figura 70: Estádio Cláudio Moacyr. Fonte: Clique Diário, 2020. 103
Figura 71: Mapa dos terminais rodoviários de Macaé. Fonte: Acervo da autora sobre base do
Google Earth, 2020. 103
Figura 72: Terminal da Lagoa, Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 104

x
Figura 73: Orla da praia de Cavaleiros após revitalização. Fonte: G1, 2018. 104
Figura 74: Vista geral do Metropol Parasol, Sevilha. Espanha. Fonte: Acervo Blog casa it, 2011. 105
Figura 75: Detalhe do contrate entre as construções medievais e a estrutura do Metropol Parasol,
Fonte: Acervo Blog Casa it, 2011. 105
Figura 76: Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Achdaily, 2016. 106
Figura 77: Estrutura de madeira do Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Detail
Inspiration, 2010. 107
Figura 78: Detalhe de malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. 107
Figura 79: Detalhe de fixação malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
107
Figura 80: Detalhe de fixação malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
108
Figura 81: Estrutura da cobertura. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. 108
Figura 82: Mapa com novos fluxos para a implantação da proposta projetual. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 109
Figura 83: Croqui com proposta de redução de caixa de rua. Fonte: Acervo da autora, 2020. 110
Figura 84: Croqui com proposta de Deck sobre o rio. Fonte: Acervo da autora, 2020. 110
Figura 85: Detalhe esquemático da iluminação por LED em desnível. Fonte: Acervo da autora, 2020.
111
Figura 86: Croqui com proposta de ponto de ônibus. Fonte: Acervo da autora, 2020. 111
Figura 87: Croqui com proposta de totem informativo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 112
Figura 88: Proposta esquemática de eixo de centralidade na prefeitura e para incentivo de
implantação de bares e restaurantes em lotes que se encontram vazios atualmente. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 113
Figura 89: Plano de intervenção na área de estudo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 114
Figura 90: Vista atual da prefeitura. Fonte: Acervo da autora, 2020. 115
Figura 91: Proposta para a área da prefeitura. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 115
Figura 92: Vista do canteiro com cota elevada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 116

xi
Figura 93: Jardim solar, estruturas inspiradas em girassóis, feitas em alumínio anodizado para
captação de energia solar. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 117
Figura 94: Passeio com canteiros e arborização. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 118
Figura 95: Espelho d’água área beira rio. Imagem renderizada. Imagem produzida com Sketchup e
Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 119
Figura 96: Praça para eventos, nesse ponto o deck se abre para receber eventos gastronômicos e
artísticos. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 120
Figura 97: Praça do Cais com rebaixamento do Deck e proposta da nova cobertura. Imagem
produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 122
Figura 98: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de beneficiamento. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 123
Figura 99: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de beneficiamento. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 124
Figura 100: Praça do Mercado com parque infantil. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 125
Figura 101: Foto de antes da remodelação da Rua da Praia. Fonte: Grupo do Facebook Macahé
Antiga, S.D. 126
Figura 102: Casa dos pescadores na pororoca. Fonte: Grupo do Facebook Macahé Antiga, S.D. 126
Figura 103: Croqui esquemático da composição da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020. 127
Figura 104: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 128
Figura 105: Croqui esquemático do sistema de coleta de chuvas e filtragem. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 129
Figura 106: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 129
Figura 107: Croqui esquemático mostrando a fluidez e escala da cobertura. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 130
Figura 108: Cobertura de proteção do Cais e sombreado das redes no piso. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 131

xii
Figura 109: Croqui esquemático da instalação dos refletores em LED. Fonte: Acervo da autora,
2020. 131
Figura 110: Croqui esquemático do rebatimento da iluminação as membranas da cobertura. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 131

Tabelas e Gráficos

Tabela 1. Conjunto de elementos visíveis e invisíveis simbólicos. Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Tabela 2. Propostas. Fonte: Acervo da autora, 2020. 122
Gráfico1. Resultado de elementos visíveis presentes nas respostas da comunidade do Facebook.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Gráfico 2. Resultado de elementos invisíveis presentes nas respostas da comunidade do Facebook.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Gráfico 3. Gráfico com associação entre os símbolos, os conceitos e o encontro. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 98

xiii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 02
2. MERCADO DE PEIXE DE MACAÉ - dos Bastidores ao protagonismo 12
2.1. LOCALIZAÇÃO 13
2.2. A CIDADE DE MACAÉ E SUA NATUREZA PORTUÁRIA 18
2.3. A CULTURA GOITACÁS E A PESCA 26
2.4. A MODERNIZAÇÃO E A RESSIGNIFICAÇÃO DA RUA DA PRAIA 31

3. PAISAGEM, COMUNIDADE E MEMÓRIA 37


3.1. SOBRE LUGAR, TERRITÓRIO E TERRITORIALIDADE 38
3.2. PAISAGEM CULTURAL: MESCLAGEM DO HOMEM COM A NATUREZA 42
3.3. A MEMÓRIA COLETIVA COMO AMÁLGAMA DA COMUNIDADE 44
3.4. NARRATIVAS: AS HISTÓRIAS QUE FUNDAM LUGARES 47

4. METODOLOGIA APLICADA 50
4.1. DEFINIÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO 50
4.1.1. De longe_ Análise Macroscópica (Etapa 1) 51
4.1.2. De perto_ Croquis etnográficos (Etapa 2) 64
4.1.3. Mapeamento de Narrativas 67

5. ANÁLISES E DIRETRIZES 70
5.1. TERRITÓRIOS FORMAIS, IMAGINÁRIOS E AS TERRITORIALI-
DADES DA COMUNIDADE 73
5.2 “RETRATOS” DA COMUNIDADE E DA PAISAGEM 80
5.2.1. [Cenas] – O cotidiano do Cais 84
5.3. A MEMÓRIA NAS NARRATIVAS DAS COMUNIDADES “DA TERRA E
DO MAR” 92
5.4. DIRETRIZES PROJETUAIS 97

6. CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO 101


6.1. ESTUDO DE CASOS 101
6.1.1. Contexto macaense 101
xiv
6.1.1.1 Monumento Chama do Petróleo 102
6.1.1.2 Centro de Convenções 102
6.1.1.3 Estádio Claudio Moacyr de Azevedo 103
6.1.1.4 Terminais Rodoviários 103
6.1.1.5 Orla da Praia de Cavaleiros 104
6.1.2. Metropol Parasol em Sevilha na Espanha 105
6.1.3. Cobertura do Centre Pompidou – Metz/ França 106
6.2. ENSAIO. O CAIS PONTUADO 109
6.3. GRANDE ATO. O CAIS DO MERCADO DO PEIXE 2020 121

7. COMUNIDADES, PAISAGENS E PROJETOS. CONSIDERAÇÕES FINAIS 139

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

APÊNDICES

ANEXOS

xv
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida.”
Vinícius de Moraes
“A praia ...Velas de pescadores...
Aves marinhas escrevendo negras reticências
minúsculas na tarde azul e grande...
O horizonte longe ... O céu azul ... O mar sem fim...
Homens rudes que chegam com os barcos transbordando
de peixes e a gente pobre que aguarda a chegada dos
barcos...”
Alcindo Brito, 1978

xvi
INTRODUÇÃO
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 2]

REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:


entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural

1. INTRODUÇÃO

O trabalho aqui apresentado se desenvolveu como fruto do Curso de Mestrado em Projeto


e Patrimônio do Programa de Pós-graduação em Arquitetura, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro, tendo como meta refletir, propor e desenvolver um projeto sobre determinado objeto de
estudo na cidade de Macaé, o Cais do Mercado do Peixe de Macaé-RJ. Este que se apresentou
firmemente durante o processo de construção de uma maturidade científica ao longo de quase dois
anos de curso.
Macaé foi a cidade que minha família escolheu para habitar há 12 anos, quando
profissionalmente o cenário se apresentou bastante favorável. No entanto, o reconhecimento de
Macaé se deu aos poucos com a vivência, os desafios e o choque cultural de sair de uma metrópole
como o Rio de Janeiro. Uma cidade de belas praias, de ruas largas e bem planejadas, embora a
velocidade com a qual as coisas aconteciam era bem diferente de como estava acostumada. Logo,
demorou um tempo para que eu aceitasse a cidade como um lar. Eu tinha dificuldades de trabalhar
como arquiteta, afinal tudo funcionava em torno do petróleo.
O petróleo era tão importante na estrutura da cidade que às quintas-feiras os bares e
restaurantes ficavam completamente cheios, enquanto de sexta a domingo, a cidade estava
praticamente deserta. E isso se refletia no turismo e no patrimônio, que ficavam em quinto plano em
qualquer governo que se apresentasse. Como arquiteta, eu sabia que aqueles edifícios, muitos sem
cuidados e abandonados, contavam uma boa história da cidade. Um dos lugares que sempre me
chamou atenção é o Mercado Municipal de Peixe, sempre movimentado e funcionando diariamente,
além de possuir uma orla com bela paisagem e sem ninguém contemplando.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 3]

A questão desta pesquisa, no entanto, não estava tão clara no início do curso de Mestrado
Profissional quanto ao objeto de estudo acima apresentado, pois, o panorama litoreiro e econômico
de Macaé sobrepujava em muito, o entendimento do papel de um recorte muito específico, dentro
do campo da pesquisa, voltada para a paisagem urbana. O município de Macaé, que vivia da pesca e
da agricultura, foi durante muitos anos responsável por grande parte da produção de petróleo e do
gás natural do país (Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural, 2019). E as mais diversas
mudanças na economia da cidade se refletiram na condição socioeconômica e urbanística do local,
que passou a ser um mote para muitos governantes e empresários.
Enquanto Macaé vivia um crescimento exponencial, a cidade vizinha, Campos dos
Goytacazes, teve uma variação populacional em torno de 10% e 20%. Essa mudança econômica fez
com que Macaé mais que triplicasse sua população em um período de quase cinco décadas. Fora um
crescimento populacional significativo em um curto espaço de tempo, com uma variação de 40% a
125% entre 1993 e 2017 (Meirelles, 2018).
A busca por empregos gerados pela economia petrolífera trouxe à cidade pessoas de todos
os lugares do mundo, o que se refletiu em uma necessidade consequente de analisar o conceito de
Lugar. Dentro desta pesquisa, assim como outros conceitos relativos à formação de territórios,
territorialidade e à memória coletiva, paisagem cultural e valor de comunidade. Esses conceitos que
serão apresentados no capítulo de fundamentação. Esses também servirão como categorias de
análise para a proposta projetual que será apresentada como produto específico desta pesquisa.
Como Tuan (1983) estabeleceu em sua máxima síntese para o conceito de Lugar,
entendemos que quando um espaço é investido de significado este se torna único, familiar. Assim,
Macaé torna-se lentamente algo apropriado para os recém-chegados, justamente à medida que se
estabelece uma relação de troca do indivíduo com o espaço físico e social, e pela experiência
cotidiana. Uma vez que em cidades que passam por essa transformação contingencial de escala e
grandeza, os resquícios da vida pacata e provinciana repousam na conduta social e em total
desalinhamento com o crescimento de capital injetado. Ao compreender essa relação e a forma
como o sujeito cria e é recriado nessas condições, o que inevitavelmente interfere na imagem
conceitual da cidade, em sua paisagem e em seu turismo, fica evidente o reconhecimento de uma
comunidade formada por diversas culturas, que ainda hoje tem um convívio conflitante. Deste modo,
a escolha por pesquisar Macaé e em específico o Mercado do Peixe, se justifica por agrupar todas
essas dinâmicas acima mencionadas.
A ocupação do território Goitacá - grupo indígena que ocupou a região Norte-fluminense com
a característica de serem os mais ferozes de todo território brasileiro - foi de muita disputa e acabou
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 4]

por ser de forma nada pacífica. De alguma forma ainda é possível perceber um conflito de baixo
ruído, silencioso, dos que ali nasceram e que se acham invadidos por “exploradores” que chegam
para fazer morada. Foi por esse motivo que, desde o projeto para Seleção ao Mestrado Profissional,
tal questionamento se manteve vivo e amparado.
Primeiramente analisei a proposta de
estudo da Praça Veríssimo de Mello, localizada
também na região central (fig. 1). A primeira
opção era a tentativa de compreender as
relações entre os macaenses e seus Lugares e
símbolos, por essa ter sido uma das primeiras
praças da cidade. No entanto, com a evolução
dos estudos cheguei ao Cais do Mercado do
Peixe, um antigo porto de Macaé, recorte
espacial definido para esta dissertação. Ele é
localizado no encontro entre a foz do rio com o
Atlântico, no centro da cidade de Macaé – RJ,
um Lugar rico em experiências e trocas afetivas,
com uma comunidade presente desde antes da
fundação da cidade e com uma Paisagem
cultural que tem muita relação com a vida
macaense.
Este Lugar1 litoreiro (fig. 2), o Porto de
Macaé, ainda faz parte da história macaense,
tendo sido palco de diversas transformações
dessa sociedade e testemunha das conquistas
descritas com o passar do tempo, não com a
relação de “passado” estático, como fora um
dia, mas por sua capacidade de evocar nosso Figura 1: Mapa de localização Praça Veríssimo de Mello e
olhar e pensamento para tal (Zonno, 2016). Mercado de Peixe Municipal e sua orla. Fonte: Acervo da
autora sobre base do Google Earth, 2020.

1
Segundo Tuan (1983, p 6), Lugar é o espaço investido de valor, ao qual é possível nos reconhecermos e
estabelecer com ele uma relação de identidade.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 5]

No entanto, a cada dia o Cais do


Mercado do Peixe de Macaé/RJ recebe menos
pessoas, mesmo com seu intenso fluxo em
alguns horários, e assim, perde seu valor de
“balneário” e de contemplação para o valor
“econômico” do produto dali extraído,
ocasionando um esvaziamento devido à
mudança dos valores da paisagem histórica e
cultural local.
Concordamos com Winter (2007) que a
presença do Mercado cria uma Paisagem única
na orla macaense, não um simples balneário.
Ele é um testemunho de uma história dessa
comunidade pesqueira que ocupa seu Lugar
desde a origem da cidade. Assim, o estudo
dessa Paisagem cultural se configura como um Figura 2: Foto da Orla central com vista para o Cais do
produto dessa sociedade, com suas Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora, 2019.
representações simbólicas, que se transmitiram
geração após geração.
O centro da cidade de Macaé, onde está localizado o objeto de estudo, possui uma
concentração de edifícios, praças, largos e passeios de relevância para a história e cultura, assim
como tantos outros centros urbanos. Por estar inserido em uma zona de uso comercial, sofre um
esvaziamento generalizado em toda região durante os fins de semana e principalmente no período
noturno, no qual a sensação de insegurança é dominante, excetuando a área do Mercado.
Assim, a pesquisa em questão tem como intenção confrontar essa inquietação de mudança
de adesão e uso. E ainda, verificar se a atração de novo contingente de pessoas e turistas poderia ser
viabilizada pela revitalização da paisagem como espaço de lazer e de usufruto público, por meio da
consolidação de uma proposta projetual que mensure o valor de comunidade e acene às relações de
memória, território e territorialidade que podem ser resgatadas.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 6]

Figura: 3 Pescadores na pororoca. Fonte:


Acervo da autora, 2019.

Justificativa
A paisagem costeira faz parte do imagético dos cariocas, assim como das cidades do interior
do estado, banhadas pelo Oceano Atlântico. No entanto, em algumas das praias de Macaé, as
ocupações das regiões litorâneas são negadas devido à ferocidade do mar; muitas dessas áreas não
são sequer ocupadas com passeio público, como por exemplo, as praias da Barra, São José do Barreto
e Lagomar em Macaé.
A praia do centro é um porto natural, é uma pororoca (fig. 3), onde desemboca o rio Macaé.
Suas águas calmas abrigam as embarcações. A Orla do cais do Mercado do Peixe (fig. 4) está
localizada no centro comercial e histórico da cidade de Macaé, de onde saem passeios para as ilhas
da cidade, embarque e desembarque para as plataformas de petróleo e todo o movimento
pesqueiro.
As condições naturais de aportamento deram à Macaé uma relevância na história econômica
da região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro; desde 1811 o porto já movimentava a Vila
com seus embarques e desembarques. O porto sempre movimentou economicamente a cidade e é
suporte espacial para grupos sociais que o exploram, tanto como relação de troca financeira quanto
como abrigo e proteção do mar.
Assim, a paisagem litorânea teve uma grande importância no “diálogo terra-mar”
(ANDREATTA, 2019), porém, em Macaé, a paisagem assume ainda o papel cultural, segundo Winter
(2007), por se tratar de um testemunho da história dos grupos humanos (pescadores) que ocupam
até hoje esse espaço. A história da cidade é, de fato, entrelaçada e se desenvolve a partir dos seus
portos e dos grupos que deles se apropriam.
Figura 4: Paisagem da orla da Rua da
Praia com vista para o Mercado do
Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 7]

Hoje, o funcionamento do Mercado de Peixe está dividido em dois prédios, que são os
principais fornecedores de pescado para a região Norte Fluminense. Por ser o único centro de
abastecimento pesqueiro nas redondezas, recebe muitas pessoas de outras localidades. O Mercado
é um dos responsáveis pelo fomento da economia local com a venda de pescado e, também, um
ponto turístico da cidade.
A presença da Associação de Pescadores neste Mercado fortalece os potenciais dessa orla,
trazendo à baila a importância da manutenção do valor de comunidade, que pela necessidade de
representação, se associa ao papel da memória com manutenção da coesão do grupo social. Sendo
a memória um fenômeno construído, em parte herdado, constituinte do sentimento de identidade
(POLLAK, 1992), é possível transmitir determinado senso de pertencimento aos “exploradores” por
meio da construção de um “lugar de memória”, que possa ser produzido por meio da compreensão
das vivências desse grupo de pescadores, turistas e locais, e assim, valorizar essa microcultura.
A paisagem da orla tem tanta importância no cotidiano Macaense que em 2018 surgiu na
cidade, um movimento popular. Chamado “Porto Já”, o movimento agia em prol da construção de
um terceiro porto, visando melhorar a economia que estava abalada pela crise do petróleo, geradora
de muitas demissões. Junto a este movimento foi feito também o lançamento do livro “Macaé
Portuária”, de Ricardo Meirelles (2018), como forma de apoio e justificativa a causa, traduzindo
diversas necessidades de intervenção imediatas nessa paisagem adulada como representativa da
comunidade macaense.
A revitalização é uma alternativa projetual em busca de uma nova vitalidade, econômica,
social e cultural (DEL RIO, 1993). Assim como em diversos projetos de revitalização bem sucedidos,
buscamos junto à comunidade pesqueira e macaense os elementos "catalisadores" eleitos pelo seu
valor simbólico (NOGUEIRA, 2013). Nesse processo, a “memória coletiva” foi o principal contribuinte
para a valorização desse patrimônio cultural. Apoiado também por Halbwachs (1986, p. 136), que
pontuava que “em cidades pequenas, de interior, a força dos grupos aparece com maior clareza na
memória coletiva que tem seu ponto de apoio sobre as imagens espaciais”, acreditamos que com a
compreensão de determinados elementos da memória coletiva do grupo de pescadores e da
composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor de paisagem cultural, por
meio de um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé.
Desta forma, concordamos com Del Rio (1993, p. 60), que quando uma revitalização alia “as
expectativas aos valores, os repertórios imagéticos e as comunidades são fortalecidos”.
Compreendemos a necessidade de uma ação integrada entre as necessidades da comunidade
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 8]

pesqueira, da administração pública e do interesse econômico da região, para que assim, esse
projeto tenha sustentabilidade principalmente financeira e faça jus ao seu objetivo de valorização da
paisagem cultural e da “memória coletiva”.
Deste modo, o Cais do Mercado contribui culturalmente para a valorização do patrimônio
imaterial macaense, devido ao seu valor simbólico estruturado por muitos anos de funcionamento e
de modificações espaciais, que interferem nas práticas sociais. A comunidade de pescadores
desenvolve suas atividades desde a presença dos índios Goitacás, preservando seus costumes e
tradições e transmitindo saberes. O prédio do Mercado já passou por duas demolições e
consequentes reconstruções. Por conta de tantas modificações, que afetam política e socialmente a
região, a Associação de Pescadores parece perder sua força. Não temos a pretensão de mudar os
usos ou criar territórios. Nossa intenção é efetivar uma proposta de revitalização que contribua para
colocar em evidência a Paisagem Cultural, fortalecendo e mantendo da vida pesqueira, ampliando
seu alcance e atraindo investimentos e novos públicos.
Objetivo Geral

Esse trabalho está empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário
social e tem papel importante na cultura da comunidade local, que vem aos poucos perdendo seu
valor. Dessa forma, o objetivo geral é fortalecer o valor de paisagem cultural, propondo um projeto
de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé, explorando o potencial comunitário e
memorial do Mercado de Peixe por meio de orientações advindas das demandas locais (macaenses)
e das expectativas da população forasteira (não macaenses).

Objetivos específicos
• Compreender as relações espaciais estabelecidas entre o grupo de pescadores e o Lugar, por
meio do mapeamento de atributos da memória coletiva;
• Promover a adequação das atividades locais por meio da análise dos valores comunitários
desenvolvidos pela prática pesqueira;
• Desenvolver um projeto de revitalização da área do cais do Mercado de Peixe Municipal de
Macaé, buscando uma nova vitalidade;
• Contribuir para os estudos no campo das ambiências sensíveis, a partir da noção de
comunidade local;
• Ampliar o repertório metodológico de pesquisas qualitativas em AU.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 9]

Estrutura da Dissertação
A dissertação se desenvolve ao longo de sete capítulos, sendo o primeiro a Introdução, já
apresentada, com delineamento do tema, objeto e dos objetivos desta pesquisa, além das questões
que movem e dão embasamento a este trabalho.
No segundo capítulo, o objetivo é apresentar o objeto de estudo – elemento preponderante
no andamento da pesquisa. Para tal, serão fornecidas informações quanto à localização geográfica,
histórico e evolução urbana, a modernização e a mudança da Paisagem do Cais e da cultura
pesqueira. E ainda, posicionaremos o Cais do Mercado do Peixe historicamente e exporemos os
principais pontos que trarão a esse conjunto relevância quanto à Paisagem Cultural e à sociedade da
pesca.
O terceiro capítulo será dedicado a uma abordagem teórica, de fundamentação das
categorias e conceitos que deverão apoiar em conjunto com a análise dos resultados metodológicos
as diretrizes projetuais. Serão abordadas as teorias sobre Lugar/território, valor de comunidade, o
papel da memória coletiva, Paisagem cultural e as narrativas dos principais teóricos que irão embasar
o desenvolvimento deste tópico: Tuan e Duarte, Bauman e Maffesoli, Halbwachs e Pollak, Winter e
Cosgrove, Paul Ricouer, Saquet.
O percurso metodológico será apresentado no capítulo quatro, no qual partiremos de uma
abrangência macroscópica e, posteriormente, uma abordagem microscópica de viés etnográfica,
aproximada e imersa. Na etapa macroscópica serão realizadas análises morfológicas com a intenção
de entender a relação de Paisagem do objeto de estudo com seu entorno.
Por entender a complexidade de um estudo, tanto da comunidade local quanto da sua
relação com a paisagem, utilizaremos uma abordagem qualitativa e as metodologias de análise
desenvolvidas dentro do LASC2, com a intenção de colocar a comunidade como fonte primária, por
meio deum olhar subjetivo, com enfoque de base cultural. Serão utilizados o método de Croqui
Etnográfico e o mapeamento de manifestações, através de uma observação participativa.
O Capítulo cinco será dedicado à análise e confronto entre a fundamentação teórica e as
informações colhidas em campo; desse enfrentamento surgirão as categorias que deverão embasar
e produzir as diretrizes projetuais.

2
Laboratório Arquitetura, Subjetividade e Cultura, da qual a autora desta dissertação faz parte
(http://lasc.fau.ufrj.br/).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 10]

No capítulo seis apresentaremos o projeto para a área do cais do Mercado de Peixe com a
aplicação de todos os resultados das etapas de análise, fundamentação e metodologia abordada
anteriormente, com respostas gráficas e textuais aos questionamentos colocados como base dessa
pesquisa.
O último capítulo se dedica as considerações finais dessa dissertação.
CAPÍTULO 2
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 12]

2. MERCADO DE PEIXE DE MACAÉ - dos Bastidores ao protagonismo


O Cais do Mercado do Peixe tem por característica ser um
porto natural. Devido à capacidade do seu calado, comumente teve Figura 5: Recorte de Cartão Postal da Rua
seu funcionamento destinado às pequenas embarcações, pescadores da Praia. Fonte: Acervo Regininha
Moreira, 1930.
e atividade de menor glamour que o porto de Imbetiba que estava
acostumado a receber grandes carregamentos e visitantes que
estavam a caminho de Campos. Essa característica de um porto de
suporte às atividades primárias, antes de exportação e hoje as
atividades offshore, trouxeram essa posição de bastidor ao porto que
tem uma das mais belas paisagens naturais da cidade, sem mencionar
o seu valor cultural pela atuação da comunidade pesqueira.
Em 1920, a orla sofre sua primeira obra e passa a ter o papel de
cartão postal da cidade (fig. 5), a ganhar destaque e atuar como
protagonista no cotidiano macaense. Além dos belos jardins, alguns
hotéis davam aquela paisagem uma característica mais turística. Em
1924, o Mercado municipal foi construído, destinado a vender a
produção agrícola da região e os pescados. Esse retrato da bela orla se
perdeu em meio a tantas obras de reestruturação e a terceira obra de
remodelação do mercado. Hoje, o cartão postal volta à sua origem de
“bastidores”, sem seus jardins, seus bancos, suas árvores, somente um
vaivém de carros. Foram essas percepções que acabaram por definir e
delimitar a área de atuação desse trabalho, o Cais do mercado e sua orla.
Foi por compreender que a presença de uma comunidade
fortalecida como a dos pescadores que mantém viva a memória coletiva
fixada em um Lugar como o Mercado de Peixe, que acreditamos que
esse possa ser um ponto focal para viabilizar a revitalização de toda a
orla. Para tanto, é de grande importância analisar todo esse espaço, do
ponto de vista morfológico e estrutural. Pretendemos com esse trabalho
confrontar essas mudanças de uso e de interesse, buscando novas
funções e proveitos que considerem esse valor de comunidade e
apontem as relações de memória e território que podem ser resgatadas.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 13]

2.1. Localização
O Objeto de estudo desta dissertação, o Mercado Municipal de Peixe de Macaé, está
localizado na região central da Cidade de Macaé, na região Norte Fluminense do Estado do Rio de
Janeiro. Macaé está a aproximadamente a 176km de distância da Cidade do Rio de Janeiro e a 113km
de Campos dos Goytacazes (fig. 6).

Figura 6: Mapa de localização do Mercado de Peixe em Macaé/RJ.


Fonte: Acervo da Autora, 2020.

A Cidade de Macaé faz divisa com os municípios de Nova Friburgo, Trajano de Morais,
Conceição de Macabu, Carapebus, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu. Possui uma costa banhada
pelo Oceano Atlântico ao leste, o que lhe confere uma beleza visual muito grande.
A Cidade de Macaé apresenta boa parte de seu território um relevo plano, porém uma “área
aproximada de 1.710 km² (171 hectares) corresponde à bacia hidrográfica do rio Macaé que drena
uma porção significativa do Estado do Rio de Janeiro, encontrando-se inteiramente inserida no
território fluminense” (Atlas Ambiental, 2015). Por esse motivo, boa parte do desenvolvimento
urbano da cidade ficou restrita a uma área mais litorânea que apresenta um histórico de alagamento
devido à ocupação das áreas da bacia hidrográfica.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 14]

Segundo Britto e Sayd (2016), a


presença da água na cidade de Macaé
foi determinante para o traçado
urbanístico inicial da cidade (fig. 7), com
ruas paralelas ao mar e perpendicular
ao mesmo limitada sempre pelas áreas
alagadiças.
O Mercado de Peixe de Macaé
está localizado na região central da
Cidade. Foi implantado à beira-mar, ao
lado do Cais (fig. 8), um porto natural,
com a intenção de ser um edifício
dedicado a vender os produtos
originários da pesca e da produção
agrícolas da região.

Figura 7: Relações entre as praças e os corpos hídricos no projeto de


arruamento. Fonte: Britto e Sayd, 2016.

Figura 8: Cais do Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora, 2020.


REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 15]

Por estar localizado em uma das áreas mais antigas da cidade, possui em seu entorno alguns
Patrimônios Históricos reconhecidos na Lei Orgânica do Município, datados de diferentes décadas do
século XIX. Encontram-se em distintas situações, algumas em total abandono e outras em uso pela
comunidade e preservadas (fig. 9 e fig. 10).

LEGENDA

1- Largo do Mercado de Peixe


2- Sociedade Musical Lyra dos Conspiradores
(1887)
3- Casa de caridade Hospital São João Batista
(1872)
4- Praça Veríssimo de Mello
5- Igreja São João Batista (S/D)
6- Centro de Cultura Macaé
7- Sociedade Musical Nova Aurora (1873)
8- Paço da Prefeitura Municipal
9- Antiga Câmara dos vereadores (anterior a
1847)
10- Clube Ypiranga
11- Praça Washington Luiz (início séc. XIX)
12- Antiga ponte de ferro
13- Iate Clube

Figura 9: Mapa dos Patrimônios histórico-culturais de


Macaé reconhecidos pela Lei Orgânica do município.
Fonte: Acervo da autora produzida com base na Lei
Orgânica Municipal, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 16]

Figura 10: Conjunto de Patrimônios históricos de Macaé.


Fonte: Acervo da autora, 2020.

1 2

4 5 7

8 9
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 17]

O Gabarito do entorno imediato é de um a três pavimentos e por isso um dos elementos


verticais que mais se destacam na paisagem são as palmeiras imperiais localizadas na praça em frente
ao Mercado (fig. 11).

O Cais do Mercado está localizado às


margens da Rodovia Amaral Peixoto (RJ
106) que interliga Macaé a Campos pela
orla. No entanto, a mesma muda de nome
quando atinge a cidade, e se torna uma via
local no centro urbano, voltando a ser uma
Rodovia após sair do centro urbano (RJ
168), (fig. 12). Embora seja uma via
intermunicipal, essa não é mais a principal
ligação rodoviária entre Macaé e Campos.

A RJ 106 foi uma via importante de


ligação entre as cidades de Niterói e
Macaé, essa intervenção permitiu a
expansão da venda do pescado. A Rodovia
Figura 11: Croqui de campo do Largo do Mercado do Peixe, com destaque para as
palmeiras imperiais. Fonte: Acervo da autora, 2020. Amaral Peixoto passa por cidades como
Araruama, Cabo Frio, São Pedro da Aldeia
e Rio das Ostras. Embora seja uma das
principais vias de acesso da região, ela
possui a velocidade reduzida dentro da
cidade, embora o fluxo de veículos seja
constante. Atualmente ela é mais usada
como uma via local do que metropolitana,
devido à quantidade de redutores de
velocidade ao longo dela.

Figura 12: Mapa com a Estrada RJ 106 passando pelo Cais do Mercado do Peixe. Fonte:
Google Earth, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 18]

O Mercado do Peixe é geograficamente situado na região central de Macaé, caracterizada


como Zona de Usos Diversificado 7 (ZUD-7). Esse zoneamento compreende o centro tradicional da
cidade com os bairros, Centro, Aroeira, Imbetiba e Cajueiros e tem entre seus usos as atividades
comerciais, serviços e residencial. Embora esteja dentro da ZUD-7, o Largo do Mercado do Peixe faz
parte do Setor Especial de Preservação Histórico-Cultural, assim como alguns outros bens que ficam
em seu entorno imediato como Igreja São João Batista e a Casa de Caridade (Hospital São João
Batista). O Plano Diretor do município ainda define como entorno dos bens “os polígonos formados
pelos respectivos lotes limítrofes” (Plano Diretor, 2001).

2.2. A cidade de Macaé e sua natureza portuária

Segundo Meirelles (2018), desde 1613 Macaé tem


a marca de ser um refúgio marítimo. Piratas e corsários se
abrigavam na ilha de Sant’Anna à espera do próximo
assalte, o que motivou a construção de um Forte para a
proteção do litoral macaense que tinha como uma grande
vantagem sua condição natural de aportamento. Na figura
ao lado é possível identificar três portos (fig. 13).
A Cidade de Macaé teve o início de sua colonização
em meados do século XVI, que integrou inicialmente a
Capitania de São Tomé e mais tarde denominada de
Capitania de Paraíba do Sul. Teve como intuito controlar o
contrabando de Pau Brasil e conquistar os povos indígenas.
Em 1630, seu território foi solicitado pelos padres da
Companhia de Jesus, que criaram dois engenhos para
lavoura de cana. Em 1630, os jesuítas fundam a capela de
Santanna, no alto do povoado. A missão jesuítica não durou
muito e, em 1795, quando foram expulsos pelo Marquês de
Pombal, a atual Vila de São João é ocupada pelos
Figura 13: Planta hidrográfica dos portos Imbetiba
imigrantes vindos de Cabo Frio e Campo (Franco). e Macahé. Fonte: Acervo digital da Biblioteca
Nacional, 1881.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 19]

De acordo com Lamego (1945), as condições geográficas e geológicas da região norte


fluminense foram impeditivas para seu amplo crescimento, enquanto Campos apresentava uma
“fecunda zona de aluviões do Paraíba” (Lamego, 1945). Este se distanciava do mar para escoamento
de toda sua capacidade de produção. O porto mais próximo de São João da Barra era inseguro,
restando à Macaé e a sua condição portuária favorecida pela sua geografia e geologia a receber e
exportar toda essa produção, visto que suas terras encharcadas não favoreciam a grande produção
de insumos.
Os registros portuários se iniciam em 1811. Já em 1813, a grande movimentação para
embarque e desembarque de produtos, inclusive de escravos, motivou a criação de Vila de São João
Baptista de Macaé. Através dos relatos do botânico Saint-Hilaire, em 1817 é possível perceber a
posição econômica de Macaé frente à maioria das cidades da província do Rio de Janeiro e o motivo
pelo qual a Viscondessa de Araújo foi buscar na Europa um projeto que trouxesse ao interior o modo
de vida inspirado nas praças públicas europeias.

(...) se fizeram desse lugar uma cidade e sede de um


termo foi sem dúvida porque há confiança em seu futuro
desenvolvimento... Macaé já apresentava um ar de vida
raramente notado no interior e mesmo no litoral do
Brasil; no lado sul vem-se numerosas vendas, e várias
casas anunciam a abastança de seus proprietários pelo
cuidado com que são conservadas. (Relato da visita de
Saint-Hilaire apud PARADA, 1995)

Em 1833, o Porto já apresentava uma grande importância na economia local, além de ser o
responsável pelo escoamento de toda produção canavieira do Norte. Devido à sua
representatividade o vilarejo de São João Batista de Macaé é elevado à condição de cidade. Com essa
mudança, a centralidade se desloca da antiga fazenda de Santana, para a foz do rio Macaé, próximo
ao porto e ao arraial, formado de propriedades rurais voltadas para a exportação, mas que devido à
presença de charcos atendia apenas a autossuficiência local praticamente.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 20]

A elevação de Vila para cidade é


uma concessão do imperador Dom
João VI atendendo as demandas dos
moradores macaenses que tinham
dificuldades em buscas as regiões
administrativas de Cabo Frio ou de
Campos devido às distâncias
(LAMEGO, 1958).
Fomentado pelo interesse das
províncias em favorecer a circulação
de produtos, através de novas vias de
comunicação, tanto marítimas,
quanto terrestres em 1837 (fig. 14) o
Engenheiro Henrique Luiz Bellegarde3,
apresenta uma série de obras públicas
que deveriam ser executadas com a
finalidade de interligar regiões que até
então estavam isoladas.
Figura 14: Projeto de arruamento da Villa de Macahé por G. F. Pimentel. Fonte: Hemeroteca
Biblioteca Nacional, 1840.

3
Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde foi Major do Imperial Corpo de Engenheiros, Cavaleiro da Ordem de
Cristo e Bacharel em Letras pela Universidade de Paris. Nasceu em Lisboa em 12 de outubro de 1802, veio para
o Brasil com 5 anos de idade. Aos 21 anos se tornou Capitão e ajudante do Governador e Capitão geral de
Moçambique. No ano seguinte retornou ao Brasil e concluiu os estudos na Academia Militar, se formando
Engenheiro. Em 1825, partiu para a Europa por ordem do Governo para estudar, se formando em Bacharel de
Letras. Em 1828, foi chamado à corte e promovido a Major. Em 1831, se iniciou seu auge, com importantes
serviços a província, como por exemplo a expansão da rede urbana para o interior do estado, incluindo
estradas, canais navegáveis e linhas ferroviárias (CABRAL, 1839).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 21]

Segundo Sayd (2014) é possível perceber um interesse político no projeto de arruamento


para receber o núcleo urbano da cidade com a intenção de intensificar a ocupação próxima a foz do
rio Macaé, o que reforça o potencial portuário. Sendo o ponto principal que evidencia esse interesse
é a proposta de aterramento em parte do rio para ocupação urbana. É possível perceber pelo mapa
anterior (fig.14) que grande parte das edificações existentes estão na faixa litorânea.

Em seu projeto, Bellegarde primeiramente destaca as localidades e define a menor distância


entre elas e a capital da província. Em seguida, ele define os centros urbanos, identificando o local
da igreja. Para ele, essa é a principal construção dessas aglomerações urbanas, a área na qual hoje
se encontra a Praça Veríssimo de Mello, um pedaço de terra que havia sido doado pela família
Ferreira Rebello. É definida por Bellegarde como centro urbano daquela aglomeração, no interior da
quadra, protegido do litoral, mesmo com a maior concentração de residências estando concentradas
na foz do Rio. Posteriormente, ele delimita o traçado dos arruamentos, tendo conhecimento da
topografia e hidrografia local, sem se limitar a isso.

A presença da água na região do estuário do Rio Macaé é um aspecto determinante na


configuração do arraial, cujas primeiras vias são a Rua da Praia (beira–rio, onde já funcionava o
porto), a Estrada do Litoral (ligando Cabo Frio a Campos), e a Estrada do Cantagalo (ligando a serra
ao mar).O primeiro projeto de arruamento da cidade foi apresentado em 1837 pelo Eng. Militar
Henrique Bellegarde, e demonstra o intuito do autor em ordenar um tecido urbano que já se
estruturava de maneira incipiente e irregular.

Bellegarde adota três variações de malhas ortogonais, delineadas a partir da frente fluvial e
das duas estradas mencionadas, como indicado na Figura 14. As vias anteriores ao plano e
incorporadas ao traçado foram identificadas a partir das edificações existentes, representadas por
manchas cor-de-rosa. (BRITTO e SAYD, 2015) O projeto de arruamento ordena a ocupação e começa
a dar a cidade uma nova organização e dinâmica de funcionamento à medida que sua importância
comercial para o escoamento da produção de açúcar da região Norte Fluminense e no comércio de
escravos.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 22]

a figura a seguir é possível ver a


expressiva produção de açúcar de
Campos. Devido à sua importância
econômica (fig. 15) para a província, uma
das principais preocupações do
engenheiro era interligar ambos
aproveitando os canais existentes entre
os rios Paraíba e Macaé e outra entre
Macaé e a baía de Niterói. (CARVALHO e
TOTTI, 2006) Durante algum tempo a
principal ligação entre o interior Norte
Fluminense e a capital era feita pelas
rotas marítimas saindo de Macaé. Figura 15: Quadro dos maiores produtores de açúcar entre 1932 a
1937. Fonte: LAMEGO, 1946.

Devido à escassez das aluviões, só era possível plantar nas regiões montanhosas já próximas
ao oceano, conforme também cita Lamego (1945), o que reduzia em muito a quantidade de
engenhos na orla do Rio Macaé, diferente do que acontecia nas imediações do rio Paraíba. Durante
200 anos a cidade sobreviveu através da colônia dos pescadores, um comércio de madeiras e uma
navegação de pequeno porte. A produção canavieira de Campos tinha um crescimento acelerado e
dependia de um escoamento mais eficiente, o pequeno canal não suportava sua necessidade de
transporte por grandes navios que com segurança só conseguiriam sair do porto de Imbetiba.
A grande movimentação de carga entre a cidade de Campos e Macaé motivou a criação de
um canal navegável entre as cidades. Essa construção durou de 1844 a 1861 e foi construída por mão
escravas, sendo até hoje o segundo canal artificial em extensão do mundo ocidental (Meirelles,
1918), porém tornou-se obsoleto em menos de 20 anos devido as condições naturais de
assoreamento do canal e a chegada da estrada de ferro para o mesmo percurso em 1875, mais barata
e eficiente. A criação do canal Campos x Macaé (fig. 16) e a estrada de Ferro colocaram a cidade de
Macaé em um outro patamar econômico. Com a chegada da ferrovia como forma complementar do
transporte marítimo, a cidade de Macaé se consolida efetivamente como entreposto comercial da
região (PARADA, 1995).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 23]

De acordo com Parada (1995), o


declínio do porto inicia com a ligação do
ramal ferroviário Macaé x Rio Bonito
(1888), o que complementa a ligação de
Campos com a Capital e uma década
depois é inaugurada a estrada de ferro
Campos x Vitória, com capacidade
portuária muito superior ao porto
macaense, que até 1870 não tinha
recebido melhoria alguma e não Figura 16: Dragagem do canal Macaé x Campos Fonte: Acervo grupo do Facebook
Macahé Antiga, 1922.
passava de uma enseada com condições
naturais de aportamento.

A redução das atividades portuárias no final do século XIX conduziu a cidade a um período
de estagnação econômica e demográfica, que irá perdurar pelas primeiras décadas do século XX
(LAMEGO, 1958).

Segundo Sayd (2014), Macaé assumiu durante muitos anos a centralidade da região devido
sua condição portuária, marcado dessa forma desde a colonização portuguesa que se firmou nas
terras campistas devido a sua condição de solo fértil para a cana e planícies para criação de gado, e
assim a cidade macaense era nada mais que uma paragem no meio do caminho entre Campos-Rio
para o gado cansado. Com o avanço das estradas de ferro outros distritos ganham destaque com a
produção de café e açúcar e Macaé começa a amargar um declínio econômico.

Com a redução das atividades ligadas ao porto, a população urbana reduziu dos seus 54.892
moradores, somente 7.863 passaram a residir na região central (fig. 17). (PARADA, 1995) Após uma
ferrenha disputa com a estrada de ferro, mesmo após a construção da alfândega em 1896 o porto de
Imbetiba não resiste a concorrência com a The Leopoldina RailwayCo. Ltd e fecha suas portas em
1903, restando apenas o pequeno porto de Macahé destinado a pequenas embarcações pesqueiras
(MEIRELLES, 1918).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 24]

Macaé, embora recentemente melhorada


com a urbanização de lindos trechos de sua
topografia excepcional, não obstante o seu
magnífico traçado, apresenta ruas inteiras
quase desprovidas de habitações. (...) De
seu passado imperial, ligado aos engenhos
campistas, já notamos que apenas o Grande
Balneário de Imbetiba construído para os
viajantes de Campos, as ruínas da Alfândega
e dos velhos cais por onde transitava o
grossa do comércio da planície açucareira.
(LAMEGO, 1946, p. 233)

Figura 17: Casas modestas em Macaé. Fonte: Acerto Biblioteca digital


IBGE, 1970.

Como uma tentativa de recuperação


econômica, em 1923 a cidade que dava as
“costas” para o mar começou a dar uma nova
função ao litoral e passou a ter a paisagem
como um benefício de saúde e um prestígio
paisagístico. A antiga orla negligenciada (fig.
18) ao esgoto e serviços portuários ganha um
“passeio” destinado à contemplação e ao
lazer, um lugar de prática social e de status,
embora a prática pesqueira do porto tenha se
mantido até os dias atuais (SAYD,2016).
Figura 18: Orla da Rua da Praia antes da remodelação. Fonte: Acervo do
grupo do Facebook Macahé Antiga, 1923.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 25]

Na primeira metade do século XX Macaé parece


retornar ao seu princípio de um mero local de
passagem, dedicada às atividades extrativistas de
produção de madeira, pesca, agropecuária e por fim
um tímido turismo (fig. 19). Mais tarde, no final da
década de 1970, a indústria do petróleo passou a ser
o responsável pelo desenvolvimento e manutenção
econômica da região até os dias atuais. O movimento
das oficinas da estrada de ferro manteve boa parte
dos empregos da cidade (até 1930), enquanto
desenvolvia-se a ligação entre o Sul do estado do
Espírito Santo, a região Norte Fluminense e a cidade
do Rio de Janeiro.
Figura 19: Antigo Hotel Imbetiba. Fonte: Grupo Facebook
Macahé Antiga, 1923.

Segundo Meirelles (2018), em 1939, o estado promoveu um grande plano de drenagem, o


que aumentou em 400km² a área útil para a agricultura, o que proporcionou a Macaé a possibilidade
de desenvolvimento da cultura de arroz e da pecuária. A economia extrativista manteve a sociedade
entre as décadas de 30 e 60. Em 1943 a cidade se liga a Niterói pela Rodovia Amaral Peixoto e assim
inicia as atividades turísticos na região que traz a cidade novos rumos econômicos, mas nada
comparado ao movimento portuário (Lamego, 1958).

A ligação com a cidade de Niterói, e posteriormente ao Rio de Janeiro pela RJ106, possibilitou
que a pesca se desenvolvesse a ponto da comunidade pesqueira se mobilizar na criação de uma
cooperativa (1963) e começar a vender no Mercado da Praça XV.

Em 1970 a Petrobras fez estudos exploratórios e descobre campos de petróleo a apenas


80km da costa macaense e a uma profundidade de 120m, essa descoberta movimentou novamente
o porto de Imbetiba (fig. 20) e consequentemente a região que passou a vislumbrar um novo
eldorado com o ouro negro (MEIRELLES, 2018).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 26]

Embora a região tenha


enfrentado alguns períodos de crise
econômica, sua realidade sempre foi
de vastos recursos financeiros para a
elite regional, o que fazia com que
Macaé tivesse representatividade
em todas as esferas de governo com
a intenção de concentrar tais
recursos em interesses direcionados
por essa camada da sociedade
(CARVALHO e TOTTI, 2006).
Figura 20: Construção do novo porto de Imbetiba pela Petrobras. Fonte: Acervo
Grupo Facebook Macahé Antiga, entre 1975 e 1977.

2.3. A Cultura Goitacá e a Pesca


O pequeno rio Macaé não consegue aterrar o charco, e os
areais e a montanha não interessam o plantador de canas. IE
afinal sempre a geologia, a função telúrica do meio geográfico
influindo e terminando a cultura e a civilização. Com toda a
força de seus cafezais dos fins do Império, Macaé não
consegue vencer-se a si mesma dominando o brejo,
fundamentando por si só os alicerces de seu destino
claramente previsível: um ótimo pôrto de mar. (LAMEGO,
1945, p. 163 – grifo nosso)

As condições geográficas e geológicas de Macaé deram ao primitivo povoado poucas


possibilidades de se desenvolver como cidade, um território encharcado pelos brejos do estuário do
Rio Macaé, apresentava poucas terras para a produção agrícola e a pecuária, restando apenas a
possibilidade de explorar sua condição marítima de um porto seguro já descoberto a tempos pelos
corsários franceses que se abrigavam em suas águas calmas, aguardando para o próximo assalte.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 27]

Os índios Goitacás (fig. 21),


que habitavam e dominavam a
região (até início do séc. XVIII) antes
de serem dizimados pela varíola, já
demonstravam em sua cultura as
condições que o meio ambiente lhes
impusera para sobreviver quanto
comunidade. Devido as grandes
áreas alagadas, os Goitacás eram
exímios nadadores e pescadores,
suas casas possuíam estruturas com
uma pequena abertura para o
acesso a fim de suportar os fortes
ventos (Lamego, 1945).
Figura 21: Gravura dos índios Goytacaz. Autor: Newton Rabelos. Fonte: Acervo
site Prefeitura de Campos. Disponível em:
http://campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=30627 = ,1945.

Por herança, e por condição ambiental, a pesca sempre fora uma forma natural de
subsistência e consequentemente de economia dos recém chegados nas terras improdutivas dos
Goitacás, a capitania de São Tomé era também por sua característica geográfica e geologia uma
região de difícil domínio. Segundo Lamego (1945), as características culturais nessa população
litorânea advêm de sua adaptação as possibilidades naturais dessas terras hostis. Os grandes areais
e alagadiços obrigou aos descendentes europeus a se tornarem mais fortes e ágeis e
consequentemente mais próximos aos costumes primitivos dos antigos habitantes Goitacás.
Quase todas essas cidades de restingas, mesmo Cabo Frio
e Macaé criadas por motivos estratégicos, nasceram de
fato e historicamente se mantiveram sobretudo pela
pesca. Foi esse trabalho que acima de tudo criou essa
"psicologia do pescador", anteriormente assinalada,
transmitida por gerações, e tão visível em toda a
população desses núcleos litorâneos (LAMEGO, 1945, p.
239)
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 28]

Foi em torno da pesca que os colonos


encontraram sua subsistência, visto que as
áreas de agricultura eram restritas devido aos
charcos, o farto manancial que o Atlântico aos
homens já acostumados com a vida marítima
era um convite a construção da sociedade
litorânea e a da vida em comunidade.
Inaugurado pela primeira vez em 1924, o
Mercado Municipal (fig. 22) vendia não só o
pescado, mas também produtos agrícolas
produzidos na região. O local abrigava os
pescados do sol e foi a primeira forma de
organização dessa comunidade pesqueira.

Figura 22: Mercado Municipal com peixes na área externa sendo secos no sal.
Fonte: Acervo do grupo Facebook Macahé Antiga, S.D.
O Mercado Municipal era uma grande
construção em alvenaria, com uma arquitetura
pitoresca onde os peixes e produtos agrícolas
eram expostos em bancas (fig. 23) para serem
vendidos. Anteriormente a construção do
mercado esses produtos eram vendidos
livremente na rua da Praia sobre a sombra das
grandes árvores existentes. Essa edificação
permitiu uma ordenação do espaço público e
uma profissionalização da economia pesqueira.

Figura 23: Banca de venda de Peixe no Mercado. 1940. Fonte: Lamego,


1945.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 29]

Devido às condições de aportamento, a


cidade de Macaé até os dias de hoje possui dois
portos naturais (fig. 24), sendo que o de Imbetiba
sempre fora utilizado para cargas maiores devido
ao seu calado mais profundo, por isso fora
utilizado como suporte para o escoamento da
produção de Campos, enquanto o do cais do
porto de Macahé (atual cais do mercado de peixe)
destinado a comunidade de pescadores e como
um apoio para as cargas que chegavam pelo Rio
Macaé, devido a ponte de ferro sobre o rio, não
era possível que grandes embarcações fizesse
esse trajeto, se fazendo necessário o uso desse
recurso para abastecer o porto de Imbetiba
Figura 24: Mapa de Macaé, destaque em vermelho para o porto de Imbetiba e
apoiado por um transporte terrestre.
em azul para o de Macahé. Fonte: Acervo Arquivo Nacional, 1986.

Lamego relata, em seus estudos, o movimento portuário que alimenta uma troca não só de
produtos, mas de cultura e estilo de vida, e com isso a sociedade de pescadores e pequenos
agricultores começa a desejar ainda mais os benefícios de agora, a “proximidade” com a capital e
com o primeiro mundo. Os benefícios econômicos propiciam a então cidade de Macaé o privilégio
de praças com jardins embelezados conforme o paisagismo francês e alguns palacetes, que ainda não
representam o enriquecimento que o movimento portuário trouxe ao vilarejo. Ainda com a maioria
de casas simples, sem relevos, representativas da comunidade pesqueira ainda em evolução, assim
de alcançar os costumes da capital. Uma paisagem monótona, bela e natural.

Segundo Meirelles (2018), na primeira metade do século XX, a antiga Macahé movimentada
de embarque e desembarques de mercadorias e repleta de viajantes volta a ser tranquila e pacata
dedicada as atividades extrativistas da produção madeireira, pesca, comércio e ao turismo.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 30]

Por volta de 1940, ocorre a


nacionalização da pesca; os pescadores
passaram, então, a contar com uma
regulamentação das atividades, zoneamento
de colônias, fiscalização e penalizações, isso só
aconteceu por organização e iniciativa da
própria comunidade pesqueira. Entre os
benefícios está o entreposto de pesca, que
aproxima os pescadores dos compradores,
sem intermediários. Outros ganhos também
da comunidade pesqueira, foi a criação de
escolas e a melhoria da habitação (fig. 25), que
em muito se assemelhava a dos Goitacás,
entre as águas das lagoas e rios (Lamego,
Figura 25: Casa de pescador sobre o rochedo. 1940. Fonte: Lamego, 1946. 1946).

Segundo Meirelles (2018), a comunidade pesqueira ganha força com sua organização e em
1963 fundam a cooperativa, que após a conclusão da ligação da cidade com a Capital pela RJ 106,
passa a ter a possibilidade de levar seu pescado de forma competitiva para a Praça XV, no Rio, isso
trouxe estabilidade econômica aquela comunidade de pescadores. Atualmente a cooperativa,
transformou-se em Associação e perdeu força com a redução do número de associados, as melhorias
adquiridas ao longo das décadas como uma fábrica de gelo e um posto de combustível marítimo
mantém a organização.
Os pescadores chegam com seu pescado do mar ou de lagoas da região e tem a liberdade de
vendê-los no cais do Mercado de Peixe, a grandes atacadistas ou a proprietários de restaurante,
atualmente estão impedidos de vender no varejo para não competir com o funcionamento das
bancas dentro do mercado.
Diferente de outros portos, o Cais é mantido pelo município e não cobra taxas de utilização
para a atracação, assim donos de pequenas embarcações, muitas vezes famílias inteiras de
pescadores, encontram aqui uma condição econômica que o mantém sem que este se veja obrigado
a estar empregado em uma grande empresa para viver da pesca.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 31]

2.4. A modernização e a ressignificação da Rua da Praia


A orla marítima, que por
séculos fora negligenciada como local
de residência, até mesmo pelos
indígenas devido aos terrores
marítimos, foi posteriormente ocupada
por grupos específicos, como os
marinheiros e pescadores,
contrabandistas e escravos.
A paisagem cultural da Rua da
Praia era destinada as trocas comerciais,
pouco se dava valor a paisagem natural
oferecida pelo encontro entre o Rio e o
Mar, a pororoca. Somente importava as
condições naturais de atracação dos
navios, as mercadorias que chegavam e
embarcavam por aquele porto. Figura 26: Vista da pororoca e Rua da Praia. Fonte: Acervo grupo Facebook Macahé
Antiga, S.D.

Na imagem acima (fig. 26), conseguimos perceber a falta de ordenação na ocupação, casas
muito simples, sem adorno e uma orla sem atributos paisagísticos, as residências que aparecem na
fotografia são de pescadores e suas famílias, alguns poucos exemplares existem ainda hoje. Essa
ocupação reflete nos dias de hoje em uma densidade maior na proximidade do mercado, destinado
a pequenas residências, enquanto os lotes de frente para a Rua da Praia são maiores e com edifícios
mais suntuosos com uma menor taxa de ocupação, destinado ao uso institucional e ao comércio.
Com o declínio do movimento portuário em 1903, após o desenvolvimento da estrada de
ferro que interligou a cidade de Campos a capital, Macaé retorna a sua origem, dedicada novamente
a agropecuária e a pesca, ambos ainda de forma primária como era no passado, levando a economia
a uma estagnação que a muito não se via. Com as retro áreas abandonadas os espaços urbanos ao
seu redor começam a assumir novas funções, explorando a paisagem local o litoral assume a função
de contemplação e lazer. (Sayd, 2016)
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 32]
Figura 27: Mapa evolutivo da orla da cidade de Macaé.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 33]

Após a passagem do séc. XX, a paisagem portuária, em declínio, começou a dividir as


chegadas e partidas de mercadorias com a cultura do Romantismo em busca da contemplação, ar
puro e brisa do mar. A construção dos “passeios marítimos” são um marco na mudança de
comportamento da sociedade que passa a ver a vivência do litoral como uma prática social de
prestígio e marca o início do turismo (ANDREATTA, 2019). Tal fato marcou a busca de Macaé como
refúgio litorâneo de uma população carioca de classe média, e instituiu um valor cultural muito
grande à paisagem de seu mar; até o final da década de 1970 assim se constituiu esse imaginário e a
vida cotidiana em Macaé.
Percebemos que a orla tem e sempre teve uma singularidade, ela é a faixa divisória, uma
separação, e ao mesmo tempo o contato entre dentro da cidade e fora, um diálogo entre terra e mar.
Um limite geográfico que se estende ao horizonte até onde alcança a visão. Uma paisagem transitória
de assustadora e desafiante, para bela e agradável, lugar de contemplação e meditação. Nesse
sentido, concordamos com Winter (2007) que a paisagem é uma construção simbólica, definida pela
complexa relação entre os seres humanos e a percepção do meio que o cerca.
A orla fluvial-marítima começa a ganhar um novo significado e apresentar valores que antes
não eram percebidos. Segundo Andreatta (2019), aquele lugar inóspito, destinado aos dejetos, passa
a ser valorizado pela sua ventilação, brisa e paisagem. Um espaço urbano destinado a saúde e de
valor estético.
O mapa (fig. 27) foi produzido com base nos mapas dos anos 1837, 1858 e 1881 com a intenção
de entender a evolução urbana da Rua da Praia.
No projeto de arruamento de Luiz Bellegard (1837), a orla não recebe nenhum tratamentoou
dimensionamento de caixa de rua, pelo mapa é possível perceber que o trecho que da praia é residual,
nem mesmo os lotes possuíam um alinhamento quanto as fachadas.
No mapa de 1858, identificamos a linha de terra mais irregular e encurtada, em alguns pontos
quase sem passagem, provavelmente este trecho sofreu ao longo do tempo com ações das marés.
O Mapa de 1881 já apresenta a orla com um novo alinhamento, a presença de alguma
arborização e a retificação do rio devido a obra do canal Macaé x Campos (1875) que muda a forma
da restinga e da pequena ilha no rio Macaé.
As obras realizadas na orla fluvial anteriores a 1881 foram tímidas se comparadas as de 1923.
Após o primeiro centenário da cidade em 1914, muitas obras começaram a acontecer com a intenção
de trazer novas alternativas econômicas para aquela sociedade. Como Macaé sempre fora um lugar
de passagem, a melhor alternativa associada a busca por regiões litorâneas parecia ser o turismo,
porém as péssimas condições das estradas não permitiam que isso acontecesse de forma mais
intensa.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 34]

Em 1923, toda extensão da Rua da Praia


recebe uma obra (fig. 28) de remodelação com a
implantação de um passeio com “Jardins em
estilo geométrico Francês”. (SAYD, 2016. Pág. 35).
Essa mudança atrai residências para a orla fluvial
que agora com uma função contemplativa
assume o papel de “cartão postal.”
A orla ganhou seu “passeio marítimo”,
um novo aterro garantiu uma avenida mais larga,
com um passeio. Seguindo os costumes da capital
e os jardins Romanticos implantados por Glaziou,
o mirante-terraço protegido pela balaustrada
separava a beira-mar (ANDREATTA, 2019). Com a
função de contemplação e lazer, essa praia não
era destinada ao banho. Figura 28: Obra de remodelação da Rua da Praia. Fonte: Acervo do grupo do
Facebook Macahé das Antigas, 1923.
Com essa obra, a Rua da praia ganha um
novo significado para a sociedade macaense,
lugar de encontro, de passeio aos fins de semana
e de pesca esportiva (fig. 29), ao desfrute da
aristocracia macaense.
A redução das atividades portuárias
(1903), destinando o cais somente as atividades
pesqueiras, somada a obra de reurbanização da
orla foram um importante viés na integração
porto-cidade. Que hoje mais uma vez parece vir
separando-se da cidade, pela redução de pessoas
que transitam por essa orla, dominando os carros
em demasia e pela quantidade de edifícios
abandonados a medida que nos afastamos do Figura 29: Rua da Praia remodelada. Fonte: Acervo grupo do Facebook
Mercado de Peixe Municipal. Macahé das Antigas, 1930.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 35]

Percebemos assim que a evolução de Macaé sempre teve a exploração presente,


inicialmente a portuária e mais tarde a petroleira, isso sempre atraiu muitos viajantes, comerciantes
e novos moradores, trazendo aos macaenses a insegurança e a ameaça do desconhecido. A sua
estrutura morfológica, com seus portos naturais, foi motivo de implantação da Vila de São João, e
colocou Macaé com certo destaque em movimento portuário e foi esse fator que a deu a cidade uma
posição de destaque na região Norte Fluminense.
Com poucas áreas férteis para a plantação e criação de gado, limitados entre a serra, o mar
e lagoas, a área de ocupação da cidade se limitava as áreas não alagáveis (o centro), restando a pesca
e a exploração do porto como modo de vida macaense, sempre ligado ao mar. E nesse contexto o
Mercado do Peixe é um marco na paisagem, um ponto focal, de uma transformação evolutiva dessa
sociedade macaense, que faz parte desse cotidiano.
No próximo capítulo vamos apresentar a fundamentação teórica, com foco nos conceitos de
Lugar, território, memória coletiva, comunidade, paisagem cultural e narrativas, que relacionado a
esta contextualização, deverá produzir, como objetivo final, a proposta projetual. Esses conceitos
foram delineados a partir desta imersão na evolução da cidade de Macaé, de sua comunidade
pesqueira e de Paisagem Cultural singular.
CAPÍTULO 3
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 37]

3. PAISAGEM, COMUNIDADE E MEMÓRIA

Este capítulo busca construir a base teórica que dará sustentação às diretrizes projetuais de
revitalização do estudo de caso selecionado, a Orla do Cais do Mercado de Peixe Municipal de Macaé
(fig. 30). O recorte espacial escolhido, ao redor da área que circunda o Mercado do Peixe, foi o próprio
edifício e a orla que se estende entre as ruas Dr. João Cupertino e Tenente Coronel Amado
considerando a apreensão do olhar em relação a orla a partir do Mercado. O recorte possui, assim,
diversas complexidades que o tornam capazes do ponto de vista paisagístico, mas não apenas isso, a
observação atenta durante a fase metodológica demonstrou a importância dos usos, que tornam o
espaço reconhecível pela comunidade, pela presença das ações pesqueiras e pelos pequenos atos
cotidianos que dão sentido à memória local e à evolução do lugar, não apenas como um elemento
morfológico, mas como entidade ética, social e sensível.
Por isso, a discussão sobre alguns conceitos que poderiam auxiliar a compreensão desse
recorte, como o conceito de Lugar como “uma marca no espaço, uma posição cultural, na qual o
espírito e o corpo se encontram, onde o ser se realiza” (DUARTE, 2002), ou onde a cultura se
manifesta e significa o espaço (TUAN, 1983) – e o de território, como um sistema de valores comum
aos membros de um grupo, constroem este texto.
Outro conceito base trazido a este capítulo é o de memória coletiva, visto que o foco deste
trabalho é um lugar de comunidade (onde o sujeito se encontra e se protege), como citado por
Bauman (2003). De acordo com Pollak (1992) a memória é um artefato de grande importância no
reconhecimento e valorização do indivíduo dentro e fora do mesmo grupo e Halbwachs (1990) afirma
que, para que exista a lembrança, um elemento memorial, é fundamental um ser social que se
constrói por narrativas.

Figura 30: Cais municipal do Mercado do Peixe de Macaé e a


sua orla. Fonte: Acervo da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 38]

Também nesta fundamentação será explorado o conceito de Paisagem Cultural, que se refere
a tudo o que podemos perceber utilizando nossos sentidos e interpretações, ou como representação
das expressões das atividades humanas. O conceito de Paisagem cultural, como menciona Winter
(2007) constrói-se também a partir da transformação dos elementos da natureza, pelas atividades
realizadas pelo homem, por isso será tão caro neste trabalho.
Este capítulo, assim, servirá como base fundamental para entender os caminhos que,
posteriormente, serão ilustrados nas escolhas metodológicas e na elaboração do projeto, que é a
finalidade desta pesquisa de Mestrado em Projeto e Patrimônio.

3.1. Sobre Lugar, Território e Territorialidade

Logo após, a avenida Presidente Sodré alarga-se para


constituir a Praça do Mercado. Aí, entre as palmeiras
frente ao cais (...)na pracinha, de um lado está o rio com o
velho cais que no passado, acolhia os navios que faziam o
transporte de sal entre Cabo Frio e Macaé. Cais triste hoje,
saudoso dos bons tempos, consolando-se em receber
pequenas embarcações. (PARADA, 1963)

É fato que todos tentamos, como seres sociais, dar um sentido ao presente e ao passado,
buscando solidificar uma ideia de futuro. O excesso de informações, compromissos e atividades leva
cada vez mais o indivíduo a buscar “seu lugar no mundo”, onde se encontre e desenvolva certa
representatividade. Este lugar, que passa a receber o “L” como o conceito de Tuan (1983) ou a partir
das relações de Norberg-Schulz (2006), cuja obra original data do final de 1970, é justamente a
representação de um espaço significado, dotado de valores e, por isso, apropriado e possível de
representar sua comunidade e sua individualidade.
Dentro desse cenário, são espaços como o Cais do Mercado do Peixe em que proporcionam
à cidade uma escala mais próxima de seus indivíduos, um Lugar que conta a história de seus
habitantes e faz parte do imagético de uma sociedade, fabricando territórios. Portanto, a
compreensão dos conceitos de Lugar e Território trará luz aos estudos dessa dissertação.
Segundo Tuan (1983), para que um espaço se torne um Lugar ele precisa estar investido de
valor; para isso é preciso compreender as diferentes formas de experienciar o momento através dos
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 39]

sentidos, da maneira de ver e perceber o mundo ao redor, considerando os sentimentos e as


emoções. Neste sentido deve-se considerar toda a capacidade sensorial humana que possibilita
tornar um espaço conhecido, em algo familiar, investido de significado, que o torne único.
Concordamos com Duarte (2002, p. 65) que “o Lugar é uma porção de espaço significada”,
quando coloca que a característica identitária é feita pela experiência sensorial e pelas percepções
essenciais que promovem a assunção da categoria. Um mesmo espaço urbano pode ter significados
diferentes para cada grupo que a ele se apresente, orientando a apreensão do grupo por meio dos
valores culturais ou do uso que é dado. “O Lugar é essencialmente cultural”, neste sentido (DUARTE,
2002, p.65)
Augé (2010, p.73) define o Lugar como identitário, relacional e histórico, ou seja, onde o
indivíduo é capaz de reconhecer a si mesmo e ao outro, onde seja possível experienciar uma relação
de troca com o meio, construir memórias. Concordamos ainda que “estamos na idade do
imediatismo e do instantâneo.” (p.105) na era dos “não-lugares” e que se faz necessário Lugares
cotidianos que fazem parte e contam a história, “...lugares de vida produzidos por uma história mais
antiga e mais lenta, onde os itinerários singulares se cruzam e se misturam, onde se trocam palavras
e se esquecem as solidões...” (AUGÉ, 2010, p. 63).
Segundo Schulz (2006) um Lugar é um fenômeno que qualifica o espaço e a estrutura desse
lugar (físico) não é fixa nem ao menos perene, porém mesmo que visualmente ou esteticamente
existam mudanças, a identidade deve se preservar para que o Lugar, em sua essência, continue a
existir. Schulz (2006) também defende que “proteger e conservar o genius loci4 implica concretizar
sua essência em contextos históricos sempre novos” (p.54 grifo nosso). Este trecho reforça a
importância de projetos que considerem o modus vivendi local para que se alcance a perenidade de
um significado.
Como os Lugares possuem um caráter maioritariamente cultural, mas também políticos e
econômicos, eles não estão desconectados da formação de território (SAQUET, 2009, p. 88). O
conceito de Território, assim, está muito ligado ao de Lugar no sentido em que é resultado de uma
condição de apropriação. Segundo Duarte (2002) para que o território exista é preciso que os valores
sejam compartilhados entre os membros de um mesmo grupo, fator que resulta na construção de
uma identidade.

4
Genius Loci, “espírito do lugar” é um conceito romano em que acreditava-se que um espírito guardião dava
vida as pessoas e aos lugares (Schulz, 2006, p.54).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 40]

A primeira área a se interessar em conceituar o território foi a Biologia. Valdiviesso (2006, p.


15) apresenta uma definição de território a partir de alguns autores dessa área: “um território é um
espaço delimitado, controlado e defendido, com algum dispêndio de energia, de forma a assegurar
as possibilidades de exploração exclusivas”. Hall (1966), por sua vez, desenvolveu estudos que
demonstravam que tanto no meio urbano quanto no seu habitat natural, alguns animais verificavam
que a maior organização territorial beneficiava a sobrevivência e a perpetuação dos indivíduos.
De acordo com Valdiviesso (2006) e Hall (1966), encontramos na Biologia alguma forma de
aproximação entre identidade e território, no sentido de que ambos relacionam as características
ambientais do espaço à organização coletiva dos indivíduos. Entretanto, sabemos que a dimensão
afetiva da conceituação de território ultrapassa as condições biológicas traçadas pelos autores
anteriores e não pode ser negligenciada, pois possibilita o potencial transformador da relação com
os lugares e a formação de Lugar.
Haesbaert (2004, p. 71) analisa as várias influências históricas e filosóficas em torno do
estudo do território, concluindo que entre as diferentes visões acerca das dimensões cultural e social
do espaço: “a abordagem utilitarista do território não dá conta dos principais conflitos do mundo
contemporâneo” e nem da busca por identidade. Para que exista a construção dessa identidade,
característica de um território, alguns elementos, ações ou objetos, precisam ser atribuídos de
significados.

O Território é constituído desde que haja um sistema de valores


compartilhado pelos elementos que ocupam tal porção do espaço. (...)
É importante que as pessoas que dele façam parte tenham consciência
da sua participação, convivendo com a ideia de um poder definido que
controla essa porção do espaço. (...) A forma de domínio ou gestão de
uma área é fundamental para a constituição de um território. (DUARTE,
2002, p.8, 77)

Raffestin (2009) afirma em seus estudos que o ambiente é a base sobre o qual o homem
produz o território, que posteriormente resultara “em uma paisagem” por meio da observação,
porém a velocidade de transformação desses territórios sofre influência das novas técnicas. Um
território é construído pela ação humana sobre o espaço com objetivo de adaptar-se às necessidades
de uma comunidade ou sociedade.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 41]

Segundo Saquet (2009) para que exista uma concepção renovada de base histórico-crítica,
essencial na “valorização dos lugares, das diferenças e dos ritmos, dos saberes locais, da
recuperação e preservação da natureza, enfim, de valorização da vida” (SAQUET, P. 84, grifo nosso),
se faz necessário o reconhecimento e a compreensão das características hegemônicas do território
e da territorialidade.
Saquet (2009) discorre, então, quanto à centralidade do homem na efetivação do território
e da territorialidade, sendo este o elo relacional entre sociedade e natureza, sendo assim a
compreensão e discussão desse conceito é fundamental ao estudo de viés etnográfico.
A territorialidade é um fenômeno social e está além das relações formais de poder, seja ela
política ou econômica, é uma manifestação puramente baseada na ação humana, coletiva, de um
grupo específico sobre um determinado lugar. A territorialidade caracteriza o espaço, que organiza
e suporta as ações humanas, lhe dão identidade e são efetivadas pelas relações cotidianas entre o
sujeito e “seu lugar de vida” (SAQUET, 2009, p. 87 — grifo nosso) podendo ser contínua ou não.
Um território pode ser suporte de múltiplas territorialidades, estas que proporcionam a
qualidade que o território adquire através do seu uso ou apreensão pelo sujeito: “o território é uma
construção coletiva e multidimensional” (SAQUET, 2009, p. 81).
Concordamos com Saquet (2009) quanto ao processo de territorialização ser o produto e
também determinante para que processos sociais e também espaciais ocorram. Devido a sua
característica multidimensional, tal processo pode ser determinado por meio das desigualdades e
das diferenças, porém são as identidades que tornam o processo identificável.
Com base no que foi apresentado, fica latente a importância do território e da territorialidade
na constituição da identidade dos sujeitos e o papel da formação de Lugares para estruturar uma
vida em coletividade. Nesta composição há de se considerar que o território significa “apropriação e
dominação”, enquanto a territorialidade representa o “poder exercido” (SAQUET, 2009, p. 90),
efetivando-se por meio de todas as relações habituais e rotineiras. O Lugar, como expressão de uma
escolha de pertencimento, e o território como estado identitário, podem potencializar a adesão e a
compreensão da paisagem local, como buscaremos colocar no próximo capítulo, pelo conceito de
Paisagem Cultural.
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entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 42]

3.2. Paisagem Cultural: Mesclagem do homem com a natureza

A paisagem nem sempre existiu, como


menciona Anne Cauquelin (2007) em seu livro “A
invenção da Paisagem”. Para a autora, na Grécia
Antiga e Roma, por exemplo, esse termo sequer era
mencionado por filósofos, que somente no
Renascimento começaram a explorar a ideia de
paisagem através das pinturas.
Paisagem, então, é algo bastante recente em
nossa compreensão de mundo, os geógrafos dividem
a paisagem em natural (fig. 31) e cultural (fig. 32),
sendo a primeira um conjunto de elementos como
Figura 31: Encontro entre o Rio Macaé e o Mar, a pororoca. Fonte:
terreno, vegetação, rios e a segunda se refere a uma
Acervo da autora, 2019.
paisagem humanizada, e inclui a atuação do homem
no espaço e sua transformação (SCHIER,2003).
O termo Paisagem é utilizado por várias
disciplinas como a geografia, arquitetura, ecologia,
por tanto mesmo havendo pontos de convergência,
isso lhe confere diversos significados (Winter, 2007).
Um dos primeiros teóricos a definir a
paisagem do ponto de vista morfológico foi Sauer
(1888-1925, apud Corrêa, 2014) que definia a
paisagem como um conjunto de formas naturais e
culturais associadas a uma área, considerando a
materialidade e a sua extensão, porém não admitia
Figura 32: Extinta tradição de cortejo marítimo com barcos
uma representação não concreta, simbólica.
decorados em comemoração à N. Sr.ª dos Navegantes. Fonte:
Grupo Facebook Macahé Antiga, 1930.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 43]

A paisagem cultural, por sua vez, começa a ser discutida a partir dos estudos de Tuan (1980),
quando discute a noção de Topofilia (o amor ao lugar), demonstrando com maior vigor a relação de
pertencimento do indivíduo a certos espaços, as culturas e as relações sociais construídas através da
experiência nos lugares. A disseminação desse conceito tem sido um dos objetivos do IPHAN, com a
intenção de favorecer a qualidade de vida de comunidades tradicionais e pode ser um fator
motivacional na preservação dos patrimônios.
O interesse na paisagem, como um bem patrimonial, já existe desde 1937, quando foi criado
o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O IPHAN define a Paisagem cultural com
a representação de um processo de interação entre o homem e o meio natural, de forma que deixe
nela seus vestígios ou lhe atribua valores. Os exemplos são os mais variados, sendo um deles a
tradição pesqueira e todo o contexto naval envolvido, pois formam um conjunto de riquezas culturais
brasileiras, tendo como foco a relação homem-natureza (IPHAN, 2009).
Sauer (1996, Apud Winter, 2007) traduz a paisagem cultural como resultado da relação entre
a cultura atuando sobre o meio natural (Winter, 2007), o que se relaciona com a ideia de formação
de um território. Para Winter (2007), a paisagem é um registro das transformações ao longo do
tempo, ocasionadas pela ação dos grupos humanos sobre um definido espaço. É o resultado das
experiências de uma sociedade, lugar de interação entre a matéria e os símbolos. Assim, a estética
da paisagem seria uma criação simbólica, subjetiva dependente da carga de valores do grupo que a
percebe.
Cosgrove (2012) define a paisagem como uma forma de ver o mundo, que tem sua própria
história, mas somente entendida como parte de uma história mais ampla da sociedade. O autor
associa a produção cultural à prática material. O argumento utilizado é que o conceito de paisagem
não emerge pronto da mente de indivíduos ou grupos humanos, mas fabricado pela história e pelas
vivências.
Cosgrove (2012) defende a existência de paisagens dos grupos dominantes e paisagens
alternativas. A primeira seria um meio através do qual o grupo dominante mantém o seu poder,
enquanto a segunda seria produzida por grupos não dominantes e que, por isso, teriam menor
visibilidade, de modo a compreender as expressões impressas por uma cultura em sua paisagem. A
necessidade de um conhecimento da “linguagem aplicada: os símbolos e significados nessas culturas
(e) todas as paisagens e significados simbólicos são o produto da apropriação e da transformação do
ambiente pelo homem” (COSGROVE, 2012 p.227).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 44]

Berque (2012), por sua vez, menciona que para compreender uma paisagem cultural é
necessário considerar o indivíduo como um corpo social, aprendendo “tudo aquilo pelo qual a
sociedade o condiciona e o supera”, dentro de uma cultura a qual “dá sentido à sua relação com o
mundo” (BERQUE, 2012, p.241).
Com a renovação da geografia cultural foram incluídos os aspectos subjetivos e intangíveis
da paisagem, pontos necessários à preservação dos patrimônios. A partir da convenção da UNESCO
de 1972, os patrimônios passam a ser classificados por seu valor natural e cultural e posteriormente
um misto entre os dois, e dentro desse contexto a Paisagem Cultural passa a ser pensada com maior
vigor. Porém, somente em 1992, a paisagem cultural foi diferenciada das abordagens anteriores e
começa a ter a paisagem e todas as relações (homem e o meio ambiente, natural e cultural) que
coexistem como um bem de valor patrimonial (Winter, 2007).
Nesse sentido, uma Paisagem Cultural deve representar como um todo a paisagem que
retrata de forma funcional e em sua essência de existir. Deve ser considerado também o seu valor
absoluto e sua representatividade, tendo a capacidade de refletir os elementos culturais essenciais
e distintos de uma região (Winter, 2007) contribuindo para o fortalecimento do valor de comunidade,
como veremos em seguida.

3.3. A memória coletiva como amálgama da comunidade

A sociedade pós-moderna tem buscado para si cada vez mais a individualidade e a liberdade,
e ao mesmo tempo se sente inseguro e desconexo, sem uma origem ou ponto de apoio. Segundo
Bauman (2003, p. 10) “não ter uma comunidade significa não ter proteção”. Em tempos de
impessoalidade, a tentativa cotidiana é a de pertencer a algum lugar, mesmo que de forma
imaginária (MAFFESOLI, 2007).
O ‘sacrifício’ para viver em comunidade passa por abrir mão de alguma liberdade e assumir
uma identidade comum, coletiva. Os conceitos em que uma comunidade se baseia precedem
qualquer outro tipo de norma ou legislação, tem um vínculo ético, moral entre os indivíduos do grupo
e são, muitas vezes, tácitos. Quando uma comunidade real (não produzida) é sempre fiel a sua
natureza enquanto for distinta dos outros grupamentos. (BAUMAN, 2003, p.17). Isso significa que
uma comunidade com valores comuns tem por característica a homogeneidade de comunicação e
conduta, fortalecida em sua unidade.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 45]

Maffesoli (2007) defende que não existe uma razão consciente para a conexão social, é uma
necessidade física, ligada ao instinto de sobrevivência. Há uma necessidade humana de busca pelo
lugar de pertença, e essa ancoragem no espaço tem sua relação fundada na memória do indivíduo e
está intermediada, herdada pelas relações sociais. Vale ressaltar que o espaço público sempre teve
como principais funções a integração e a sociabilidade, sendo, assim, um lugar de convívio que
viabiliza a fundação de significados que expressam valores comunitários (VIERO et al, 2009).
Uma comunidade protege e fortalece o indivíduo; ao pertencer, o indivíduo encontra seu
lugar no mundo, na qual seus valores e crenças serão compartilhados, e não há estranhamento, mas
uma busca por semelhança. Assim, enquanto a comunidade oferece ao indivíduo um lugar para se
reconhecer e reconhecer o Outro, tudo o que está aparte deste valor traz insegurança (MAFFESOLI,
2007). Reforçar a segurança local pelo incentivo do valor de comunidade é, sem dúvida, restabelecer
uma identidade.
A comunidade possui seus códigos próprios, as formas pelas quais se comunica sem que seja
dita qualquer palavra, uma repetição de “padrões” que faz reconhecer os membros de um grupo. O
desaparecimento de uma comunidade em nome da libertação do indivíduo resulta em verdadeiras
massas expostas a artificialidade e a superficialidade, como coloca Bauman (2007). É na coletividade
que acontece a memória coletiva, onde encontra um campo fértil para se manter viva (Pollak, 1992),
como veremos no próximo item.

A memória é um elemento constituinte do sentimento


de identidade, tanto individual como coletiva, na
medida em que ela é também um fator extremamente
importante do sentimento de continuidade e de
coerência de uma pessoa ou de um grupo em sua
reconstrução de si. (POLLAK, 1992, p.5)

Toda comunidade sobrevive por suas histórias e por sua memória. A profissão da pesca é
talvez uma das mais antigas da história mundial, e em Macaé isso não é diferente. Desde antes da
colonização os indígenas já usavam a pesca como meio de vida, e ela tem por característica ser
comunitária, familiar e hereditária. Portanto, compreender a memória coletiva é de alto valor para a
pesquisa que aqui se apresenta.
Nora (1993), explica a memória como viva, que é sempre conduzida por grupos que também
se mantêm vivos, estando assim em permanente construção. A memória também está sempre
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 46]

suscetível à lembrança, e também ao esquecimento. Embora tenha sua origem no passado, é sempre
modificada pelo presente.
A memória coletiva é um artefato de identidade para grupos sociais; à medida que
compartilham e constroem suas memórias, se fortalecem enquanto comunidade, pois, “o ser social
é fundamental para que haja lembrança” (Halbwachs, 1990). Segundo o autor, a lembrança é fruto
de um processo coletivo; na medida em que necessita de uma comunidade afetiva, todo indivíduo
permite-se atualizar uma identificação com as histórias do grupo e retomar o hábito e o poder de
pensar e lembrar como membro do grupo. A permanência do apego afetivo a uma comunidade dá
consistência às lembranças.
Como processo de reconhecimento e reconstrução, as lembranças retomam as relações
sociais, e a memória é, assim, esse trabalho entre reconhecer e reconstruir. Se um grupo é afetado
por um Lugar, seus símbolos e marcas constroem esse lugar e permitem a permanência desse grupo.
O espaço físico, então, como suporte espacial necessário para a construção dessa memória oferece
permanência e estabilidade (Halbwachs, 1990).
Concordamos com Halbwachs (Op.cit.) quanto ao acervo de lembranças partilhadas por um
grupo ser o conteúdo da memória coletiva, mas é a experiência individual que poderá ancorar e
permitir a construção contínua e comum dessa memória, que se reproduz pela tradição. A tradição
é a condição para vivificar e manter um conteúdo sempre atualizado e conectado.
Segundo Pollak (1992), as atividades tradicionais, presentes nas comunidades, são também
um modo de transmissão da memória, onde a imagem do sujeito é construída pela experiência com
os outros, uma herança da vida em comunidade. Essa sensação de identidade é ligada ao grupo, tem
caráter coletivo e gera união entre os membros, por ali se reconhecerem. Nesse sentido, a pesca e a
comunidade de pescadores são artefatos de grande importância na transmissão e construção dessa
memória coletiva.
A memória está em constante construção, e revela-se através do grupo que as uniu por uma
multiplicidade de lembranças, muitas delas vagas, plurais, que impregnam espaço, os gestos e os
rituais, outras bastante conscientes e reprodutíveis espacialmente: “uma sociedade tradicional
possui lugares onde ancora sua memória” (NORA, 1993).
Em se tratando de memória coletiva, um mesmo acontecimento pode afetar diversos grupos;
isso os une numa reflexão em comum e acontece devido ao compartilhamento de um mesmo espaço.
O fato mais importante está na forma como os grupos percebem essa afetação; para tanto, é
necessário que o significado dado ao espaço seja comum (HALBWACHS, 1990).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 47]

Ao falar da relação entre a memória coletiva e o espaço, Halbwachs (1990) menciona que em
cidades pequenas a força dos grupos tende a aparecer com maior vigor, e geralmente tais cidades
utilizam-se disso para manter suas tradições, usando as imagens espaciais como ponto de suporte
(Halbwachs, 1990, p.136). Podemos dizer, com isso, o valor de comunidade e as tradições em cidades
do interior, como Macaé são fortes representantes e condutores da memória coletiva simbolizados
aqui pelo grupo de pescadores e as narrativas, que veremos em seguida, são uma das formas pelas
quais essas histórias podem se fazer conhecidas.

3.4. Narrativas: as histórias que fundam lugares

Halbwachs já defendia que a narrativa é uma forma de manter o registro de fatos e


acontecimentos de um grupo ou comunidade: “(...) quando uma memória de uma sequência de
acontecimentos não tem mais por suporte um grupo (...) então o único meio de salvar tais
lembranças, é fixá-las por escrito em uma narrativa (...)” (Halbwachs, 1990, p.80).
Neste capítulo serão apresentadas as narrativas como uma forma de contar e perpetuar a
memória. Essas narrativas têm por objetivo trazer à tona um ato, uma cena já vivida, do ponto de
vista e levando em consideração a sensibilidade humana (de quem o viveu ou testemunhou). Ricoeur
(2007) considera que as narrativas contemplam e descrevem a “ação humana”, mas também os seus
significados, análise de situações, assim como o contrário também é uma possibilidade de narração.
Nesse sentido os “lugares de memória” possuem a função de vestígio de recordação, estes
“permanecem” como documentos enquanto as narrativas faladas caem no esquecimento (Ricoeur,
2007, p. 56). As narrativas, tanto oral quanto escrita, são um vasto e rico conjunto de histórias cheias
de “vivacidade pela busca em comum da verdade” (ÁVILA, 2020, p.58), que transmitem saberes e
lembranças entre gerações e transcendem o tempo presente.
Concordamos com Ricoeur (1998) que a transmissão cultural da narrativa, devido à sua
função cognitiva, compõe uma “identidade dos indivíduos ou das comunidades” (RICOEUR, 2011,
p. 127). Uma narrativa desenrola-se em forma de um enredo, ela apresenta o tempo dos
acontecimentos, explica os fatos que a representa. Embora uma narrativa não seja uma composição
histórica, ela acompanha e sustenta a fase documental, afinal um acontecimento histórico
anteriormente foi um objeto narrativo, pois nenhum acontecimento está livre de uma narrativa.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 48]

As narrativas têm grande contribuição dentro do campo da arquitetura, pois através delas é
possível evocar os lugares do passado registrado na memória dos indivíduos que convivem em um
determinado espaço físico ou social (ÁVILA, 2020), o que torna possível reconstruir as transformações
que foram se “apagando” com a evolução da cidade. Assim, as narrativas mostram-se como uma
maneira de “relembrar” os lugares significados.
A construção narrativa apresenta muitos aspectos afetivos, pois é composta da “união da
cognição, imaginação, sentimento e da ação”. “Reorganiza, rearticula, ressignifica os sinais de uma
cultura em que o autor e o espectador estão imersos” (REIS, 2006, p. 27). Por ter o sujeito como
ponto focal, a narrativa ocupa-se das transformações relacionadas à vivência humana e auxiliam na
compreensão da vida atual e também das sociedades, a partir da experiência de quem a conta, pois
é construída a partir da base memorial que o homem tem com o lugar (ÁVILA, 2020).
A cultura e a história marcam e significam os espaços, significados esses advindos da narração
de vida de grupos sociais (JODELET, 2002, p.32). Essa experiência do corpo no espaço, significado, é
traduzida em forma de narrativas, o indivíduo faz parte da narração, a vida dele está atrelada a
construção social e cultural daquele espaço, que ganha significado. As construções narrativas
contribuem na compreensão das transformações de uma sociedade, as causas e os efeitos de certos
acontecimentos, as semelhanças e diferenças entre vários períodos e entre o passado e o presente,
sobretudo, facilita a organização cronológica do tempo e do espaço.
No capítulo seguinte serão abordados os percursos metodológicos nos quais os conceitos
aqui apresentados, memória coletiva, comunidade, paisagem cultural, Lugar e Território poderão ser
confrontados pelos estudos etnotopográficos (croquis etnográficos e mapeamento de
manifestações, desenvolvidos como estratégia de abordagem de viés etnográfico no campo da
arquitetura e do urbanismo pelo LASC/PROARQ/UFRJ) a fim de dar suporte o capítulo posterior de
análise.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 49]

CAPÍTULO 4
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 50]

4. METODOLOGIA APLICADA

Toda pesquisa tem como pré-requisito ser rigorosa e organizada, nesse sentido a
metodologia tem um papel fundamental na estruturação do processo em busca das possíveis
condutas projetuais diante do problema que motivou esse trabalho, o valor de comunidade e a
paisagem cultural, optamos por uma pesquisa qualitativa que servirá como base para a
construção do projeto final dessa dissertação.
Este estudo se apoiara na metodologia de cunho etnotopográfico aplicada pelo
LASC/Proarq (Laboratório Arquitetura, Subjetividade e Cultura), que corresponde a um conjunto
de métodos que possuem como base as ciências sociais entrelaçadas a arquitetura, em busca
de decifrar os espaços construídos (DUARTE, 2010). Nesse sentido a ambiência e a metodologia
são elementos de conexão nos estudos etnotopográficos, que deverão auxiliar na compreensão
do espaço através da análise da dimensão subjetiva do Cais do Mercado de Peixe, por entre a
base cultural dos pescadores locais, considerando que a reação corporal é inseparável da
experiência arquitetônica.
É importante ressaltar que a segunda etapa de pesquisa foi impactada, em parte, devido
à Crise mundial de Saúde e as estratégias de isolamento horizontal a que todo o país foi imposta
diante dos impactos causados pelo Covid-19 e serão mencionadas ao longo do capítulo.

4.1. Definição do percurso metodológico

Com o objetivo de compreender a relação entre a comunidade pesqueira e o seu espaço


de convivência no Cais de Pescadores de Macaé, numa abordagem que torne explícito o Lugar,
as territorialidades e a memória como processo de construção de um valor de paisagem cultural,
e como meio de gerar diretrizes optamos pela pesquisa qualitativa, de viés etnográfico, para
desenvolver a metodologia deste trabalho.
A metodologia escolhida auxiliará a compreensão das relações entre a comunidade e o
Cais do Mercado, em dois aspectos: demarcação dos aspectos ambientais que proporcionam a
configuração da paisagem cultural do objeto de estudo (1) e o mapeamento dos elementos
imateriais que fabricam a ideia de uma ambiência sensível, enquanto resultado da vivência de
uma comunidade local e estrangeira e das narrativas locais (2). Portanto, as etapas
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 51]

metodológicas a serem traçadas vão de um olhar mais distante e abrangente, que chamaremos
de “macroscópico” - por tentar compreender a situação local por mapas e análises, seguida de
análise “microscópica” – que olhará de perto e de dentro, por meio de croquis etnográficos e
montagens de narrativas baseadas nos usos e manifestações do público que trabalha e usa o
Cais.
A fase de catalogação histórica e pesquisa iconográfica foi de grande importância para
compreender a relação afetiva que os macaenses têm com a sua cultura. Portanto, o
complemento dessa etapa com uma abordagem mais exploratória e intensiva, em conjunto com
a comunidade, afim de justificar a proposta projetual de revitalização do Mercado de Peixe
Municipal, foi a sequência adotada.
Por entendermos que somente a subjetividade é capaz de auxiliar na compreensão do
sujeito e auxiliar na interpretação e desenvolvimento de projetos que contemplem essa
dimensão sensível, tal metodologia irá conduzir e direcionar todo processo de projeto como
forma de resposta do entendimento do invisível.
O emprego das ferramentas especificasse dará em duas etapas. Primeiramente, (1)
análise do Cais do Mercado do Peixe e do seu entorno pelo conjunto de sistemas viários,
paisagem do entorno e fluxos. Posteriormente, compreender o uso e função do espaço pela
comunidade através de observação e em diferentes momentos de uso, registrando-se através
de croquis etnográficos tudo o que se percebe (2), identificando e mapeando as apropriações
(3). Através de tais análises com foco na memória coletiva, na paisagem cultural e no valor de
comunidade, construiremos possibilidades de narrativas para o projeto final.

4.1.1. De longe_ Análise Macroscópica (Etapa 1)

O espaço urbano e as construções arquitetônicas, como entende-se, são o reflexo das


demandas sociais, da condição econômica, dos conflitos de uma cidade (Tângari, 2005). Essa
etapa, portanto, tem como objetivo analisar os atributos físicos da paisagem e entender as
mudanças do espaço público da cidade e sua relação com o Cais do Mercado do Peixe e, assim,
contemplar a evolução de um espaço tanto geográfico quanto social.
Através deste reconhecimento foi possível delimitar, com maior clareza, a área de
atuação e abrangência desse trabalho. A sistemática empregada foi desenvolvida por um
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 52]

cronograma de visitas semanais ao local durante quatro meses, consultas a documentos


históricos e registros em textos de autores específicos (PARADA e MEIRELLES), além de consulta
à Prefeitura de Macaé, acervo do Solar dos Mellos e privados, no ano de 2019.
Considerando que esse conjunto urbanístico do Cais do Mercado do Peixe é uma área à
beira-mar, com uma paisagem marcante, podemos perceber a dicotomia Mar x Terra. Essa
relação foi o ponto de partida para entender as relações entre as apropriações “em terra”, bem
definidas muitas das vezes, delimitadas, e “no mar”, subjetiva e invisível.
A linha que divide essas dicotomias é o Cais do Mercado do Peixe é a mureta branca que
se estende até a ponte; e ao longo desse percurso os espaços “em terra”, assim como “no mar”,
se dividem em sua forma de ocupação e atividades exercidas. Percebemos assim que o espaço
tem diferentes atributos que são influenciados diretamente pela relação que a comunidade tem
com o mar. Observe o mapa a seguir (fig. 33) o trecho destacado em vermelho era em sua grande
maioria casa de pescadores na ocupação inicial da cidade, atualmente é uma área mais densa,
com lotes menores e onde se concentram a maior parte das residências (fig. 34) na área central
da cidade. Provavelmente a presença do cais do mercado do peixe e o domínio da comunidade
dos pescadores refletiu em uma demarcação do território urbano.

Figura 33: Mapa de agentes e vetores.


Fonte: Acervo da autora sobre base do
Google Earth, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 53]

Figura 34: Residências da Rua


João Cupertino. Fonte: Acervo da
autora, 2019.

No trecho em laranja estão os lotes de menor taxa de ocupação e muitos dos edifícios
ali localizados são institucionais e comerciais (fig. 35), sendo esses últimos em grande parte
encontram-se fechados, esse fator reflete diretamente no fluxo de pessoas que fora do horário
comercial fica bem reduzido.

Figura 35: Edifício da prefeitura a esquerda e Antigo Hotel Ouro Negro, localizados no trecho em
laranja. Fonte: Acervo da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 54]

Na área destacada em
amarelo, a maioria das
edificações se encontram
vazias e abandonadas, quase
não se percebe pessoas
transitando por esse trecho da
orla; muitas buscam o interior
da quadra, onde se encontra
um calçadão de pedestres
destinado ao comércio. A
paisagem visual é marcada
pelos prédios vazios (fig. 36) e
os barquinhos parados na foz
Figura 36: Edificações comerciais fechadas próxima ao final da orla. Fonte: Acervo da autora,
do rio (fig. 37).
2019.
É possível dizer que
aos fins de semana,
principalmente, cidade, rio e
mar param para observar um
ao outro. Os carros passam
em poucos momentos e
cortam o silêncio do vento
com seu barulho de motor, o
cheiro de mar é o único que
permanece constante, sendo
que perto do mercado ele se Figura 37: Barcos atracados na foz do Rio com o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
intensifica pelo odor do peixe autora, 2019.
que marca o território.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 55]

• Transformação da paisagem

Segundo Tângari (2005) a paisagem de uma cidade é o reflexo do suporte físico (ação
natural) em conjunto com o social (ação humana), onde o homem é o principal agente
transformador em busca de adaptar o território as suas necessidades culturais. Winter (2007)
também coloca as mesmas precedências, porém aliadas ao valor natural e cultural, como
descrito no Capítulo 3.A localização da cidade de Macaé, entre a capital Rio de Janeiro e a cidade
de Campos, e sua condição natural de aportamento foram, assim, condições sinequa non para
seu desenvolvimento econômico (MEIRELLES, 2018) e sua forma de constituição social e
cultural.
Grande parte do território da cidade é um relevo plano, porém uma área aproximada
de 1.710 km² (171 hectares) corresponde a bacia hidrográfica do rio Macaé que drena uma
porção significativa do estado do Rio de Janeiro, encontrando-se inteiramente inserida no
território fluminense (Atlas Ambiental, 2015). Por esse motivo, boa parte do desenvolvimento
urbano da cidade ficou restrito a uma área mais litorânea que apresenta um histórico de
alagamento devido à ocupação das áreas da bacia hidrográfica. Segundo Britto e Sayd (2016), a
presença da água na cidade de Macaé foi determinante para o traçado urbanístico inicial da
cidade, com ruas paralelas ao mar e perpendicular ao mesmo limitada sempre pelas áreas
alagadiças.
No Mapa de agentes e vetores (fig. 38), é possível perceber que o centro da cidade surge
confinado entre o mar, o rio e as áreas alagadiças, e os vetores responsáveis por seu
desenvolvimento começa com as rotas marítimas e mais tarde com as rodovias, linha férrea,
sempre com a intenção de interligar a cidade aos vizinhos Campos dos Goytacazes e Rio de
Janeiro.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 56]

Figura 38: Mapa de agentes e vetores. Fonte: Acervo da autora, 2019.

Quanto aos aspectos sociais, a vila teve o início de sua colonização em meados do século
XVI, que integrou inicialmente a Capitania de São Tomé e mais tarde denominada de Capitania
de Paraíba do Sul, teve como intuito controlar o contrabando de Pau Brasil e conquistar os povos
indígenas. Em 1630, seu território foi solicitado pelos padres da Companhia de Jesus, que
criaram dois engenhos para lavoura de cana. Também em 1630, os jesuítas fundaram a capela
de Santanna no alto do povoado, no entanto a missão jesuítica não dura muito e em 1795,
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 57]

quando são expulsos pelo Marquês de Pombal, a atual Vila de São João é ocupada pelos
imigrantes vindos de Cabo Frio e Campos.
Fomentado pelo interesse das províncias em favorecer a circulação de produtos, através
de novas vias de comunicação, tanto marítimas quanto terrestres, em 1837 o Engenheiro
Henrique Luiz Bellegarde apresenta uma série de obras públicas que deveriam ser executadas
com a finalidade de interligar regiões que até então estavam isoladas.
Em seu projeto Bellegarde destaca as localidades primeiramente e define a menor
distância entre elas e a capital da província, Niterói na época, em seguida ele define os centros
urbanos identificando o local da igreja. Para ele, a principal construção dessas aglomerações
urbanas era a área onde hoje se encontra a Praça Veríssimo de Mello, um pedaço de terra que
havia sido doada pela família Ferreira Rebello, e é definida por Bellegard como centro urbano
daquela aglomeração.
Posteriormente ele delimita o traçado dos arruamentos, tendo conhecimento da
topografia e hidrografia local, mas sem se limitar a isso. Devido à importância econômica de
Campos para a província, uma das principais preocupações do engenheiro era interligar ambos
aproveitando os canais existentes entre os rios Paraíba e Macaé e outra entre Macaé e a baía
de Niterói (CARVALHO & TOTTI, 2006).
No Mapa Síntese de Transformações e Evolução Histórica (fig. 39) é possível observar
como mesmo com a expansão econômica da cidade e tentativa de interligação com seus
principais parceiros comerciais o porto continua sendo o foco de desenvolvimento e
crescimento.
A presença da água na região do estuário do Rio Macaé é um aspecto determinante na
configuração do arraial (fig. 40), cujas primeiras vias são a Rua da Praia (beira–rio, onde
funcionava o porto), a Estrada do Litoral (ligando Cabo Frio à Campos), e a Estrada do Cantagalo
(ligando a serra ao mar).O primeiro projeto de arruamento da cidade foi apresentado em 1837
pelo Eng. Militar Henrique Bellegarde, e demonstra o intuito do autor em ordenar um tecido
urbano que já estruturava-se de maneira incipiente e irregular (BRITTO e SAYD, 2015).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 58]

Figura 39: Mapa síntese de evolução histórica e suas


transformações na paisagem. Fonte: Acervo da autora, 2019.

Figura 40: Perfil da estrutura morfológica. Fonte: Acervo do


Autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
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[pág. 59]

• Estrutura morfológica atual

A Cidade de Macaé divide a macrozona do ambiente urbano segundo a Lei


complementar nº 076, de 18 de dezembro de 2006, (fig. 41) em: Uso residencial, diversificado,
institucional, industrial, interesse social, ambiental, expansão urbana, requalificação urbano-
ambiental, preservação ambiental e preservação histórico-cultural.
Neste trabalho, o foco estará sobre a Zona de Uso diversificado 7 (ZUD-7) e os Setores
Especiais de Preservação Histórico-Cultural (SPH), destinada ao centro tradicional da cidade e
aos bens patrimoniais localizados nessa área Lei nº 2.445/2003 (do Patrimônio Cultural) e o
Decreto no 160/2004 (do Tombamento).
No Setor Especial de preservação histórico-cultural, o gabarito máximo é de 9,00m,
porém a poligonal de proteção do bem limita-se ao lote em que a construção está inserida
dentro da ZUD-7 (Zona de Uso diversificado) que tem como característica área mínima de lote
360m², com frente de 12m, coeficiente de aproveitamento 4,0 e taxa de ocupação 70%.

Figura 41: Mapa de Zoneamento urbano.


Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé.
Disponível
em:http://www.macae.rj.gov.br/midia/upl
oads/Zoneamento%20-
%20Maca%C3%A9%20-%20LCM%20141-
2010.pdf, 2007.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 60]

Não existe um gabarito máximo pré-determinado para esse zoneamento. Este é


referente a largura do lote onde em zonas comerciais é permitido a ocupação total do lote até
9m de altura e após é necessário um afastamento nas laterais de acordo com a altura, a limitação
fica por conta do coeficiente e taxa de ocupação.
Mesmo a Cidade de Macaé tendo se iniciado de um assentamento desordenado a
intervenção de ordenamento de Bellegarde, em meados do século XIX, foi gerado um traçado
regulador que reflete ainda hoje. Os espaços livres públicos de qualidade com avenidas largas e
grandes praças, primordiais para contrapor os lotes adensados ocupados em quase toda sua
totalidade, reflexo de um zoneamento de uso diversificado que permite a construção colada nas
divisas. As cidades do interior seguiam as tendências da capital. Segundo Tângari (2005), esse
tipo de projeto é uma reprodução dos grandes planos de reforma de Paris, Barcelona que
colocam os espaços livres públicos como principais sistemas de comunicação, circulação,
socialização e articulador entre as construções, a cidade que já geravam grandes reformas no
Rio de Janeiro.

Figura 42: Passeio da Avenida Presidente Sodré. Autor: Colon. Fonte: IBGE. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/rj46054.jpg, S.D.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 61]

Devido à ocupação de todo lote em grande parte da área delimitada, os espaços livres
públicos são de extrema importância na manutenção da qualidade ambiental quanto à redução
de temperatura da região.
No projeto inicial de arruamento realizado por Bellegarde a orla marítima, onde estava
o cais, não foi contemplada, porém mais tarde um grande passeio é construído com função de
contemplação (fig. 42), “seguindo as mudanças de hábitos e costumes sociais das cidades de
orla” (Tângari, 2005, p. 7).
No Mapa Síntese de Estrutura Morfológica Atual (fig. 43), pode-se perceber que grande
parte dos espaços livres são públicos, sendo eles praças, ruas e avenidas e orla marítima. Existe
ao longo da faixa litorânea uma concentração de terrenos vazios que surgiram da demolição de
antigas residências, provavelmente para em breve ser ocupado por edifícios mais altos. O
gabarito predominante na área delimitada é de até três pavimentos. Devido à forma de
ocupação dos lotes os elementos vegetais estão massivamente presentes nos espaços livres
públicos, nas praças existentes, canteiros e calçadas da região.

Figura 43: Mapa síntese da estrutura morfológica atual; Espaços


livres (públicos e privados), Gabaritos, Vegetação. Fonte: Acervo
da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 62]

No perfil da rua São João (fig. 44), perpendicular à orla, é possível perceber a
predominância de gabaritos até 9,00m, as construções mais altas são destinadas ao uso
hoteleiro e de serviços.

Figura 44: Perfil da rua São João. Fonte: Acervo da autora, 2019.

• Aspectos funcionais e o sistema de espaços livres

Neste item (fig. 45) foram analisados os usos e fluxos dos espaços livres, hierarquia viária
e das praças e passeios, assim como as áreas de permanência e circulação, tanto de veículos
como pessoas. Por ser uma área central e uma das mais antigas da cidade, existem duas grandes
praças que são protegidas e correspondem a bens patrimoniais da cidade e são de hierarquia
municipal.
Foram avaliadas rotas terrestres e marítimas, visto que além do fluxo de veículos e
pessoas, a área recebe um grande número de embarcações que se destinam ao cais do Mercado
Municipal de Peixe. Todas as vias terrestres são de hierarquia municipal, mesmo a Avenida
Presidente Sodré (Beira mar) que é um trecho de rodovia, sua escala é definida pela sua caixa e
nível de fluxo.
No interior da quadra existe um calçadão de circulação prioritária de pedestres
destinada ao comércio, alimentação e serviços, que acessam a orla por meio de galerias e
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 63]

algumas ruas estreitas. Embora a Avenida beira mar possua um grande calçadão, o fluxo de
pessoas é bem reduzido devido à pouca arborização que torna a região quente e árida.
No quesito de espaços de permanência, há uma concentração de áreas de
estacionamento de veículos, tanto pública quanto privada na região. As praças arborizadas
permitem a permanência de pessoas que trabalham ou passam pelo centro e além disso, por
ser um cais, a paisagem marítima no encontro entre o rio e o mar forma um grande espelho
d’água que é marcada pela atracação de embarcações.

Figura 45: Mapa síntese de Aspectos funcionais e sistemas


de espaços livres. Fonte: Acervo da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 64]

4.1.2. De perto_ Croquis etnográficos (Etapa 2)

Nesta etapa utilizaremos um método de base etnográfica, os croquis etnográficos, pois


acreditamos, como Laplantine, que “a etnografia é uma relação entre os objetos e seus seres
humanos” (LAPLANTINE, 2004. p. 30), e é a análise ou o conhecimento dessa relação que nos
ajudará a compreender a ambiência do nosso objeto de estudo, a intenção dessa dissertação.
Mais que coletar dados, a etnografia tenta compreender o que caracteriza a especificidade de
uma dada cultura (LAPLANTINE, 2004), e faz a descrição perceptiva que permite manter uma
relação direta com os atores sociais dentro de seu ambiente natural.
Através das pesquisas do grupo LASC, é possível compreender que a reação corporal é
inseparável e um produto da experiência arquitetônica. Ao analisar uma dimensão subjetiva é
necessário se colocar a frente da base cultural assumida por um dado grupo, explorando essa
fonte de composição de sujeito coletivo e observando seu papel no mundo.
Esta etapa é composta, pelo reconhecimento aproximado do objeto, foram várias visitas
em horários e dias diferentes durante um período de dois meses, em que foi adotada uma
observação ativa, com apoio de croquis e mapeamentos de campo, afim de compreender as
relações entre a comunidade pesqueira e o espaço do cais do Mercado de Peixe.
Por terem lugar, necessariamente, em um suporte espacial, as ambiências constituem-
se eventos que podem ser, de alguma forma, apreendidos pela reprodução gráfica de sua
ocorrência. Chamados de croquis de campo, estes constituem-se desenhos arquitetônicos,
riscos e esquemas; pode-se dizer que representam o produto gráfico da observação, e são
utilizados largamente em diversas pesquisas sobre arquitetura e urbanismo.
O processo de desenhar, “croquisar”, como quem escreve num caderno de campo (o
trabalho do etnógrafo), só que tecendo linhas, é um processo de escolhas. O cuidado de uma
etnografia do cotidiano, que a obra de Michel de Certeau (1994) ajuda a evidenciar, é como a
noção de mirada recupera a imagem: ela é sempre comprometida com o que aconteceu, mas
tem o caráter transgressor de quem vê. O croqui é uma resposta rápida ao evento, não que seja
rápido em execução, mas consistente e sintético, buscando essencialidades que uma foto, pela
instantaneidade não pode dar.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 65]

Concordamos com Kuschnir (2016) quanto ao ato de desenhar está associado a uma
biografia, da imaginação do autor e das considerações em que foi produzido. Portanto tem a
capacidade de reaver valores como “sensibilidade, subjetividade, criatividade, espontaneidade,
espírito, fluxo, experiência, pulsão, vida, totalidade, singularidade – com complexas articulações
internas e ênfases conjunturais variadas” (Duarte 2012: 425 apud Kuschnir, 2016).
Na arquitetura e urbanismo, o desenho é o entrelace entre o arquiteto e o “sujeito
criador”, o que o permite construir ideias, desenvolver soluções além de ser uma forma de
expressão da própria identidade profissional e reinterpretar fenômenos a partir da própria
experiência (PINHEIRO, 2020). O desenho é dentro da antropologia o “diálogo entre as
subjetividades de investigadores e interlocutores” (Kuschnir, 2016. p. 23).
Para o arquiteto e urbanista, essa experiência é de extrema importância, visto que o
estudo dessa relação “vida social x espaço” questiona a construção cultural e social de um
determinado recorte espacial e seu processo de “moldagem do lugar” (DUARTE, 1993). De
acordo com Pinheiro (2020), o processo cognitivo, ao qual o croqui etnográfico é suscetível, é o
enfrentamento entre as “recepções ambientais e sensíveis e as representações internas”
(PINHEIRO, 2020. p.2) de cada um no momento presente.
O processo cognitivo – para além daquilo que se retém e desenvolve ao longo da vida –
pode ser entendido como a recepção de dados ambientais e sensíveis externos que são
confrontados com as representações internas de cada indivíduo, exigindo um reconhecimento
da realidade que só se explica no presente momento
É através da observação dessa reação corporal e experiência no espaço urbano que o
processo de projeto será norteado, em conjunto com a análise macroscópica. A partir do
entendimento desse suporte espacial, o Cais do Mercado do Peixe, e de suas relações sociais e
culturais, é que refletiremos a importância do papel humano sobre o espaço.
Como preliminarmente pudemos atestar nesta etapa de pesquisa, o espaço é entidade
inerte sem a ação dos corpos sobre ele, assim como a noção de Lugar e território se perdem, ao
passo em que as distâncias sociais se tornam maiores – como temos experimentado neste
momento mundial singular.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 66]

A última parte empírica dessa etapa metodológica foi desenvolvida durante um


“relaxamento” no isolamento social promovido pela Crise Mundial de Saúde (pela COVID-19)5,
algumas semanas antes do período de Páscoa (10 a 12 de abril de 2020), no Mercado do Peixe.
Temendo o insucesso da venda de peixes no período em que mais se consome tal alimento, a
Prefeitura de Macaé decretou o retorno do funcionamento do Mercado mediante o controle de
acesso através de implantação de barreira sanitária com verificação de temperatura e uso de
álcool em gel nas mãos, entrada de 10 pessoas por vez e uso de máscara constante pelos
vendedores, o que materializou-se em um estado de alto controle social sobre a entrada e saída
de pessoas (pescadores e compradores), assim como modificou a demanda de atividades,
gerando alguns cenários que foram mapeados em croquis, como parte da metodologia desta
dissertação – que agora se assume responsável por questionar e propor soluções para um
projeto que permita a vida social, mesmo que com certa distância, tomando as precauções
necessárias para sua viabilidade de pesquisa e de exequibilidade projetual.
A sistemática de desenvolvimento desta etapa inclui diversas visitas realizadas em um
período de 2 meses durante outubro e novembro de 2019, em horários diferenciados (manhã,
tarde e madrugada), e visitas específicas durante o início de abril de 2020, buscando entender o
novo cenário de ocupação do espaço urbano, por conta do distanciamento social promovido
pela Covid-19.
As atividades de observação e desenho envolveram analisar os usuários em suas
atividades cotidianas, acompanhar a chegada das embarcações, descarga dos peixes, pessoas
embarcando, venda e compra do pescado, montagem das tendas para venda de itens

5
COVID-19 é o nome dado a uma família de vírus que causam infecções respiratórias. Desde o início de
fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a doença causada pelo
novo coronavírus de Covid-19. COVID significa Corona Virus Disease (Doença do Coronavírus), enquanto
“19” se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente
pelo governo chinês (final de dezembro). A denominação é importante para evitar casos de xenofobia e
preconceito, além de confusões com outras doenças. Devido ao rápido contágio e grande impacto no
sistema de saúde, foi adotado pelas autoridades governamentais de todo mundo, orientadas pela OMS,
o distanciamento e isolamento social.
Fonte: FIOCRUZ, disponível em: <https://portal.fiocruz.br/pergunta/por-que-doenca-causada-pelo-
novo-virus-recebeu-o-nome-de-covid-19>, acesso em 15/04/2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 67]

complementares e, mais recentemente, as novas posturas sociais e corporais pelo controle de


entrada e saída no Mercado do Peixe durante a Pandemia.
Cabe ressaltar que as visitas muito contribuíram para a “observação ativa”, que buscou
complementar as observações realizadas em campo através das ferramentas adotadas. Tal
aproximação permitiu conhecer figuras icônicas que carregam consigo parte da história da
cidade, são referências na comunidade, protetores e guardiões de itens únicos, e desempenham
um papel de multiplicadores da memória coletiva. Também durante o período de controle do
acesso e uso do Mercado do Peixe, em abril 2020, houve a oportunidade de observar as
alterações sociais e comportamentais durante a quarentena do COVID-19, que demonstrou
impactos na forma de relacionamento e de apropriação deste cenário urbano, que analisaremos
no capítulo 5.

4.1.3. Mapeamento de Narrativas

Esta última etapa consiste em espacializar em planta as manifestações de afeto, as


relações interpessoais ou qualquer outro evento social que ocorra em campo, por meio de uma
fundação de narrativas ensaiadas pela autora desta dissertação. Possivelmente, os resultados
de uma pesquisa tradicional seriam fornecidos em estatísticas numéricas, mas para o arquiteto
pesquisador, é sempre muito mais fácil compreender a realidade por meio de registros gráficos.
Esses registros, por sua vez, fazem emergir situações que podem ser exploradas mais a
fundo numa fase posterior da pesquisa. Por considerar o Mercado do Peixe um ambiente rico
em trocas, essa seria uma etapa, baseada na ferramenta dos “mapas de narração”, fundamental
para elencar as manifestações nesse lugar.
As observações obtidas durante o estudo etnográfico serão registradas em um caderno
de campo, em conjunto com croquis de campo e o mapeamento das manifestações, que serão
analisadas em seguida, de onde surgirão as categorias de estudo do espaço, surgirão pela
construção de uma narrativa autoritativa, produzida pela autora desta dissertação, de modo a
possibilitar o mapeamento das manifestações sociais dos usuários do objeto de estudo.
As narrativas são uma maneira de construir uma “história” com uma abordagem
“culturalista”, que considera a experiência do momento presente do autor e as sensibilizações
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 68]

a que esteve exposto, permitindo integrar a dinâmica dos acontecimentos dos eventos
narrados. (Rocha-Peixoto, 2013 apud Pinheiro, 2020)
Tal procedimento de encontro da narrativa com os mapas permitirá descobrir quais
atributos e lógicas permeiam e promovem a relação homem e ambiente. As informações
gráficas obtidas e registradas no caderno, através dos croquis etnográficos, desenvolvidos na
etapa anterior, auxiliarão na compreensão do espaço comunal, fazendo emergir o valor de
comunidade, e o valor memorial, ao confrontar determinadas conversas dos usuários sobre os
espaços escolhidos; o mapeamento de manifestações, por sua vez, refletirá como as pessoas
relacionam-se e se apropriam do espaço.
A etapa metodológica 1 (estudo “de longe”) foi realizada em um campo ampliado, onde
toda extensão da beira-rio foi mapeada, assim como é a área destinada ao Cais e à praça em
frente ao Mercado do Peixe. Tal estratégia foi necessária para delimitar uma área de atuação
inicial. No entanto, alguns questionamentos, como a falta de sensação de segurança ou o
esvaziamento de alguns lotes no entorno da orla, deixavam dúvida de como limitar a área de
atuação na etapa 2 e em especial nesta, a etapa 3.
Para resolver a questão foi necessário analisar o cenário geográfico e microclimático,
desde a etapa de análise macroscópica, para compreender os pontos ambientais favoráveis a
essa apropriação do espaço. Um dos pontos de maior destaque foram as áreas sombreadas. Na
orla, os ventos dominantes são intensos em determinados períodos do dia e o fato de existirem
poucas árvores cria um microclima árido, desconfortável, além disso, não existe nenhum ponto
de comércio ao longo desse percurso, o que o torna longo, cansativo e sem atrativo. Sendo
assim, somente o aspecto visual da orla parece atrativo às pessoas, e não suas condições
climáticas gerais.
Decidiu-se, então, que a aplicação das ferramentas de cunho etnográfico ficariam
destinadas a uma área mais restrita, limitada pela atuação do mercado do peixe, ponto de
interesse desse estudo e, a partir disso, das percepções oriundas das análises dessas
metodologia traçadas, buscaremos as respostas para a orla como um todo – visto ser ela um
objeto relacionado historicamente e simbolicamente ao Mercado do Peixe.
CAPÍTULO 5
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 70]

5. ANÁLISES E DIRETRIZES
Neste capítulo serão realizadas análises por meio dos métodos empregados,
confrontados os resultados da metodologia descrita no capítulo anterior com as categorias
abraçadas na fundamentação teórica e, finalmente, serão traçadas diretrizes para a proposta
projetual, que é a meta executiva desta pesquisa.
O papel da análise é o de garantir a manipulação adequada da informação e transformar
dados em significados, e possivelmente em soluções – o que se considera um diferencial no
Mestrado Profissional, uma vez que não é uma condição da análise gerar um produto, mas, uma
necessidade intrínseca a esta pesquisa de cunho profissional.
No caso das pesquisas qualitativas, como a dessa dissertação, a análise do conteúdo
servirá de base para uma análise qualitativa das observações, das questões abertas e das
abordagens realizadas pelos métodos empregados.
Assim, de modo a proporcionar uma leitura sequenciada dos métodos utilizados, este
capítulo será estruturado pelas respostas obtidas com a aplicação das etapas “de perto”, “de
longe” e o “mapeamento de narrativas”, que foram escolhidas para abordar a paisagem cultural,
a comunidade e a memória presentes na área analisada, o Cais do Mercado de Peixe de Macaé,
em capítulos não isolados especificamente na categoria, mas abraçados nas interrelações.
Segundo informações encontradas no site da prefeitura de Macaé, passam pelo
Mercado uma média de 500 pessoas nos dias de semana, aos fins de semana esse número
dobra. Cerca de 5000 pessoas vivem do mercado da pesca na cidade hoje, chega a 400 o número
de embarcações que utilizam o Cais. O Cais Municipal consegue receber 15 embarcações
simultâneas, sua administração é realizada pela Secretaria de pesca e aquicultura.
As análises no Cais foram realizadas em quatro momentos distintos, sendo dois durante
a semana na madrugada (3 e 5h), quando os pescadores chegam do mar, durante a semana (8h)
e no fim de semana durante a manhã (9h). Esses dias e horários foram pré-determinados a partir
de informações advindas dos donos de bancas do Mercado de Peixe que sinalizaram os melhores
momentos de movimentação do cais.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 71]

No cais é possível encontrar três grupos


diferentes, os pescadores, os compradores e os turistas
e trabalhadores offshore—esses últimos serão
considerados no mesmo grupo, por não manterem uma
relação constante com o lugar e serão analisados de
forma menos abrangente.
As observações participantes, estratégia
utilizada logo antes dos primeiros mapas e gráficos
produzidos na etapa “de longe”, foram realizadas em
um período de 4 meses, em dias e horários
intermitentes – como apresentado na descrição do
método etnotopográficono capítulo anterior - e em
momentos distintos: novembro de 2019; dezembro de
2019; janeiro de 2019; início de abril de 2020. Já o
método de croquis etnográficos e mapeamento de
manifestações/narrativas tiveram que ser mais
pontuais, principalmente devido ao horário de
funcionamento do cais, e funcionaram da seguinte
forma: Foram selecionados 3 dias durante a semana
para analisar o Cais, nos horários de 3, 5 e 7h da manhã,
2 dias de semana (9h e 15h) e 3 dias de fins de semana
sábado e domingos (9h) para analisar o funcionamento
do Mercado (fig. 46).
Durante o período de análise fomos
surpreendidos pela diretriz da OMS de Isolamento
Social, devido à Pandemia Mundial da COVID-19. Esse
fato único na história acabou alterando o percurso
planejado da pesquisa, mas é provável que essa
experiência seja uma oportunidade ímpar para os
pesquisadores de Arquitetura e Urbanismo,
principalmente sob demanda de produção de um
resultado projetual. Figura 46: Croqui de vendedor de caranguejo na Praça do
Mercado do Peixe embaixo da sombra da árvore. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 72]

Portanto achamos relevante inserir nesse estudo todas as percepções durante esse
período e entendê-lo como parte das diretrizes para atuar localmente. Acreditamos que a
riqueza desse momento é de um valor inestimável para essa pesquisa, e talvez para tantas
outras no futuro.
Para acompanhar as alterações de comportamento social durante esse período de
isolamento social foram utilizadas estratégias de abordagem remota, e a existência das redes
sociais se fez de grande valia para isso. A existência de dois grupos privados no Facebook
chamados Macahé Antiga6 e Macahé das Antigas7, criados por Eugênio Paceli e Lúcio Duval,
respectivamente, como uma forma de manter o relacionamento entre os macaenses, me
proporcionaram o acesso a pessoas chave, acervos fotográficos particulares, narrativas e
discussões sobre as lembranças desses indivíduos com relação aos símbolos da cidade –
favorecendo a etapa final, que se encontra inconclusa.
O uso da tecnologia de dados remota possibilitou em um curto período reunir uma
quantidade de informações considerável e de grande valor para desenvolver as diretrizes de um
projeto que considere o valor de comunidade e a paisagem cultural. Embora o ambiente social
esteja inacessível, esse momento de isolamento parece ter deixado um sentimento de
preenchimento de lacunas e de pertença aflorado nesses indivíduos.
Durante os estudos e a pesquisa de campo algumas categorias de análise emergiram e
agora serão exploradas caso a caso, são elas: Processo e pertencimento, Imagem e Apropriação.
Cada categoria tem uma ligação direta com um conceito teórico, memória, comunidade,
paisagem e território.
Ao final do deste capítulo, como mencionamos, serão expostas as diretrizes e
encaminhamentos para o projeto de revitalização da orla do cais do Mercado do Peixe, e
consideraremos a importância do espaço público no seu papel social também em período de
isolamento social durante a pandemia do Covid-19.

6
https://www.facebook.com/groups/445835978761753/about
7
https://www.facebook.com/groups/macaedasantigas
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 73]

5.1. Territórios formais, imaginários e as territorialidades da


comunidade.
Um território é, antes de tudo um Lugar com identidade, atribuído de valores que são
compartilhados entre os membros de um grupo, de uma comunidade. Um território pode ser
formal, com limites definidos e de fácil identificação, mas muitos outros são subjetivos,
invisíveis, simbólicos, só são perceptíveis quando um determinado grupo age sobre ele.
Neste capítulo traremos à luz esse binômio Território-Lugar presente no Cais do
Mercado do Peixe de Macaé. Neste objeto de estudo, o cais do Mercado do Peixe, grande parte
dos territórios são imaginários, extrapolam os limites físicos, o que entendemos como um
reflexo cultural da comunidade pesqueira.
Entemdemos a ideia de territórios formais (fig. 47) como aqueles legalmente
estruturados ou pré-determinados, normalmente produtos de projetos estruturantes que
dimensionam o espaço a partir de um programa de necessidades que não leva em consideração
a cultura, comportamento e modus vivendi de uma comunidade.

Figura 47: Mapa de territórios


formais da área do Cais do
Mercado do Peixe. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 74]

Esses territórios muitas vezes são mapeados superficialmente, se observarmos o mapa


acima (Fig. 47) percebe-se que os territórios se confundem com os limites físicos.
Quando tratamos as territorialidades (fig. 48), no entanto, é preciso considerar a
ambiência local e as relações de poder que tendem a mudar de acordo com os limites
imaginários do território e influenciam todo uma forma de atuar sobre um dado espaço. Para
compreender esses territórios, é necessário considerar vários fatores subjetivos, culturais e
sensíveis.

Figura 48: Mapeamento de


territorialidade. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 75]

No Cais do Mercado do Peixe em Macaé, ao analisar a poligonal mais ampliada foi possível
clarificar essa noção de território e de suas territorialidades através de uma fase exploratória
onde foram mapeadas as ambiências observadas.
Em uma primeira etapa foi observado o comportamento das pessoas de uma forma geral,
quais os pontos mais as atraíam e onde se detinham por mais tempo (fig. 49) quais aspectos
estruturais e físicos poderiam ser motivos de permanência ou de repulsa. E posteriormente uma
observação mais aproximada, participante foi possível avaliar os aspectos mais sensíveis e como
isso se refletia no espaço e como essas territorialidades se apresentavam através dos territórios
informais (fig. 51).

Figura 49: Mapeamento de percurso e permanência de


pessoas e veículos. Fonte: Acervo da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
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[pág. 76]

A região apresenta alguns espaços livres públicos importantes: são três praças, sendo
uma delas anexa ao Cais, e a orla. Porém as áreas de permanência se concentram em alguns
pontos da Praça Veríssimo de Melo e em um ponto de ônibus em frente à prefeitura e no Cais
do Mercado. Foi então que surgiu a dúvida sobre qual motivo as pessoas não paravam para
contemplar a paisagem da orla, ou por qual motivo valorizavam a vista de seus apartamentos,
escritórios e casas, mas não se utilizavam do desfrute da paisagem.
A figura abaixo (fig. 50) faz parte de um trecho da região central de Macaé, o fluxo de
pessoas é consideravelmente maior no interior da quadra onde existe um calçadão comercial
em que a circulação é destinada exclusivamente a pedestres, enquanto na rua da praia a
prioridade é o veículo, levando a quem usa o estacionamento público uma vista privilegiada.
Além desse fator, o calçamento do passeio é precário, e em alguns pontos não há espaço para
passar uma única pessoa. Dessa forma o ponto de interesse da orla fica por conta do Mercado
Municipal de peixe e a paisagem forma seu segundo plano.

Figura 50: Mapeamento de aspectos ambientais e


sensoriais. Fonte: Acervo da autora, 2019.
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[pág. 77]

Sobre a questão dos usos, o Cais do Mercado de Peixe atende várias demandas e cada
uma delas cria sua respectiva territorialidade — banca de pescado, venda, armazenamento, etc.
— e paisagens completamente diferentes umas das outras, porém é possível encontrar uma
unidade na maneira como as atividades acontecem, não existe demarcação alguma, seja na água
ou na terra, mas em nenhuma das vezes presenciei qualquer conflito por que alguém que
estacionou o carro em local proibido, montou sua barraca em posição que não era adequada, é
perceptível a relação de poder existente.
Devido ao calado8, as embarcações precisam atracar em determinadas posições, porém
se alguma embarcação pequena chega e a área para atracação estiver cheia a mesma aguarda
até liberar vaga e não ocupa o território das embarcações maiores. Quem chega mais cedo
consegue atracar em uma melhor posição, pois quanto mais próximo ao Mercado mais pedras,
conforme a Maré vai baixando a chance de encalhar aumenta.
Tais territorialidades também surgem na ocupação do cais, posicionamento das
“bancas” de pescado, área de pesagem, próximo à beira e de frente para a rua, enquanto do
outro lado ficam os compradores, carregadores que ficam a aguardar. Uma área de
estacionamento de carro e outra destinada aos caminhões de caminhão, não há nenhuma
marca, ninguém diz nada, simplesmente as pessoas sabem.
No mapeamento a seguir (fig. 51), referente a um dia de desembarque de pescado, uma
quarta-feira de 2019, durante o período das 4:30 às 8:00 da manhã, foi possível compreender
essa dinâmica espacial, os deslocamentos, as apropriações dos espaços, as diversas funções que
o espaço assume em um curto espaço de tempo. Este estudo gráfico contribuiu para a descrição
espacial dos eventos e como uma verificação física do ambiente. Por ser uma ferramenta de
observação quanto uma ferramenta de análise, foi possível demarcar os diversos limites
territoriais, imaginários que estão presentes no cotidiano daquela comunidade, que para nós
“estrangeiros”, eles inexistem.

8 Calado (Draught, Draft)


Profundidade de um navio abaixo da linha de água, medida na vertical até a parte mais baixa
do casco, hélices, outros pontos de referência. Fonte: DNIT, Glossário Hidroviário. Disponível em:
http://www.caisdoporto.com/v2/linguagem-portuaria.php.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 78]

Fica claro que não existe nenhuma estrutura física específica para receber todas essas
atividades. Conforme vai amanhecendo, o calor vai aumentando, a ponto de ficar insuportável,
e com isso o movimento dos pescadores em repor o gelo para que o peixe não estrague. O piso
esburacado atrapalha o deslocamento das caixas que são puxadas por um gancho, umas sobre
as outras em direção ao veículo. A partir das 6h as barracas de frente ao mercado começam a
ser montadas fornecendo pão com manteiga ou mortadela e café para que aqueles
trabalhadores se alimentem.
Às 7h, o Mercado abre e o acesso ao cais fica mais restrito, é necessário apresentar uma
carteira para entrar, isso para que consumidores gerais não comprem direto do pescador e
impacte no funcionamento dos vendedores internos. O Cais da cidade de Macaé é municipal,
não existe valor de taxa para sua utilização, esse é um fator que atrai pescadores de outras
cidades vizinhas.
Figura 51: Mapeamento de manifestações no cais
do Mercado do Peixe durante a chegada e venda do
pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020.
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[pág. 79]

Às segundas e terças-feiras (fig. 52), o movimento de chegada de embarcação de pesca


é menor, assim o cais é mais utilizado por grandes barcos que chegam com carregamentos
maiores ou que se destinam às plataformas. Durante esse período não há nenhuma “figura
administrativa” reguladora do uso do espaço. No último ano (2019), muitas plataformas antigas
da Petrobras foram vendidas, esse fato deve alterar a forma como esse porto é utilizado, visto
que as novas proprietárias vão necessitar de um porto que dê suporte as suas atividades
offshore.
Figura 52: Mapeamento de manifestações
durante a chegada do camarão. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 80]

5.2. “Retratos” da Comunidade e da Paisagem


Neste capítulo, utilizaremos toda a pesquisa documental realizada na área como base
para as análises desenvolvidas, e principalmente o desenvolvimento da etapa de croquis
etnográficos – que se assumem-se, neste momento, como a “escrita” mais próxima da
interpretação cotidiana da comunidade no Cais do Mercado do Peixe de Macaé.
Os pescadores, suas embarcações, as redes, sua fala e o odor do pescado sempre
fizeram parte do imaginário da cidade de Macaé. No capítulo 2 foi descrito um breve histórico
sobre isso: desde a presença dos índios Goitacás, a pesca é exercida como forma de vida na
região, um hábito social e econômico que se mantém por gerações. As condições geográficas da
cidade, com suas lagoas, rios, alagadiços e o mar foram um fator determinante para essa
realidade, porém o que mais chama atenção na visão da pesquisadora desta dissertação é a
permanência dessa atividade até os dias atuais.
Embora seja uma cidade litorânea pequena, Macaé está longe de ser pacata e pouco
desenvolvida, desde a chegada da linha férrea em 1870 e sua posterior oficina e em 1970 com
a implantação da Petrobras e a exploração do petróleo a cidade teve uma vasta oferta de
emprego muito mais rentável e menos perigoso que a pesca, porém essa atividade tradicional
se mantém com todas suas características hereditárias, contribuintes para a manutenção e
perpetuação dessa tão singular paisagem cultural.
Nas imagens ao lado (fig.
Figura 53: Cais do Mercado do peixe em
53 e fig. 54) é possível perceber um domingo pela manhã. Fonte: Acervo
duas paisagens diferentes do da autora, 2019.
mesmo território, embora na
primeira (final de semana) ainda
seja possível perceber a presença
humana, esta passa uma
sensação estática, sem
velocidade. Enquanto a segunda
(dia de semana) movimentada, Figura 54: Cais do Mercado do peixe em
dinâmica, quase é possível ouvir uma terça-feira pela manhã. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
o som e sentir o cheiro de peixe.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 81]

Deste modo, nesta etapa de análise, exploraremos


a categoria Paisagem Cultural e Comunidade, delimitada
no trabalho de campo através da ferramenta de croquis
etnográficos. Existem no Cais do Mercado do Peixe uma
paisagem de fundo, natural, com pouco movimento. E
existem outras, dinâmicas, ativas e com uma relação direta
com a comunidade de pescadores, que doam característica
de temporalidade.
Interessa-nos neste capítulo, apresentar as análises
a partir dos métodos traçados para a análise da paisagem e
da comunidade, por um viés qualitativo e etnográfico, que
embase as diretrizes projetuais. Figura 55: Mercado com peixe sendo seco ao sol no cais.
Segundo Winter (2007, p.9), a Paisagem Cultural é Fonte: Acervo Grupo do Facebook Macahé Antiga, 1930.
“um documento que expressa a relação do homem com o
seu meio natural, mostrando as transformações que
ocorrem ao longo do tempo.” Em ambas as fotografias é
possível, então, perceber a relação do homem com o meio
natural, porém em dialética quase opositiva, sendo a
primeira contemplativa e a segunda instigante.
Ao associar o conceito de Paisagem Cultural no Cais
de Macaé, percebemos diversas transformações através do
tempo os jardins já não existem, as pessoas não param
Figura 56: Cais do Mercado. Fonte: Acervo Grupo do Facebook
mais por essas ruas e em alguns trechos também não existe
Macahé Antiga, 1978.
a calçada, nem mesmo o prédio do Mercado é o mesmo —
esse atual já é o terceiro construído) (fig. 55, fig. 56 e fig.
57). Porém, os pescadores, suas atividades, a negociação
de venda do pescado na beira do cais, tudo se mantém e
fortalece o valor de comunidade.

Figura 57: Mercado do Peixe atualmente. Fonte: Acervo da


autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 82]

Para compreender o valor deste mercado e do cais para a comunidade, nas primeiras
visitas, ainda em fase exploratória, foi observado que embora a orla seja um percurso de
aproximadamente 600m, são poucos os pontos de concentração e uso pelas pessoas
atualmente, sendo eles a região próxima ao Mercado e um ponto de ônibus em frente à
prefeitura. Por esse motivo o estudo etnotopográfico se concentrou no Cais do Mercado do
Peixe, devido a quantidade de acontecimentos significativos e dinâmicos para a construção
desse trabalho, levando em consideração a memória coletiva e a paisagem cultural.
Devido a minha presença no local e a constância era comum que os pescadores,
compradores se aproximassem e “puxassem” conversa, esses “bate-papos” também
contribuíram para compreender as apropriações observadas em campo. O desenvolvimento
desta etapa seguiu um procedimento que foi construído a partir da necessidade de um processo
de aproximação:
1. Observação participante das atividades e dos pescadores no cais do mercado, para
descobrir os horários mais propícios de mudanças de dinâmicas sociais com a
chegada dos pescadores, e saber se existem dias e horários para cada mercadoria;
2. Busca de “autorização” para entrada, uma vez que o acesso de pessoas “comuns” é
proibido, para que os cidadãos não comprem diretamente dos pescadores. Após o
acesso, foi necessário escolher um ponto para observar o evento: não existem
bancos ou local de apoio, portanto era necessário não atrapalhar o funcionamento;
3. Escolha de um período idêntico de permanência no local, que foi de 1h30 a 2h. Os
desenhos e anotações eram feitos de forma rápida, devido à dinâmica e às
exigências do croqui etnográfico.

Percebemos que as embarcações pesqueiras costumam chegar no cais entre terça e


sexta, e que aos fins de semana não tem chegada de pescado, sendo que os dias mais comuns
de peixe fresco no mercado são quarta e quinta. Nos outros dias, o carregamento costuma ser
destinado ao Rio de Janeiro e são embarcações maiores, que passam mais dias no mar e chegam
com 7 e 9 toneladas de camarão, por exemplo.

As embarcações começam a chegar, sempre, a partir das 3h da manhã e a paisagem


muda completamente a partir desse horário, até umas 8-9h; a partir desse momento, o cais
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 83]

volta a se tornar vazio, dando lugar às garças e o movimento fica por conta do funcionamento
do Mercado do Peixe e de seu entorno.
Ainda durante o período de pesquisa, até a presente data da entrega dessa qualificação,
devido à pandemia do COVID-19 ocorreram mudanças significativas: o Mercado do Peixe teve
seu funcionamento suspenso de 16/03 até 03/04/2020. Por esse motivo, os pescadores também
tiveram a paralisação de suas pescas e o impacto nas atividades foi de grandes proporções,
devido à obrigatoriedade de isolamento social de todos os moradores da cidade.
No dia 04/04/2020, um sábado anterior à Semana Santa, a data de maior venda de
pescado, o Mercado foi reaberto com restrições de acesso e a pesquisa teve a oportunidade de
presenciar mudanças de cultura e comportamentos em um momento único.
A aplicação do método de croquis etnográficos permitiu entender a dinâmica espacial
que antes nos pareciam invisíveis, os limites espaciais, os processos que já estavam enraizados,
os atores que participam da cena. Ao desenhar esses cenários, observados em momentos
diferentes, foi possível entender as mudanças de paisagem e a forma como aqueles agentes se
relacionam com ela.
Durante a observação foram realizados croquis rápidos (fig. 58), complementados com
legendas, esquemas, falas, sons e sensações devido a dinâmica do local que funciona durante
um pequeno período, os croquis foram aprimorados posteriormente.
Neste capítulo apresentaremos, também, o resultado de pesquisa realizada em Rede
Social, a partir de grupo privado do Facebook, como forma de dar continuidade à abordagem
indireta com a comunidade, mesmo em período de isolamento social.
Um dado de relevância é que este grupo apresenta mais de 12mil integrantes e
abordagem realizada por meio de uma primeira pergunta “incentivadora” teve adesão de
respostas na casa das centenas.
Figura 58: Croqui de observação do movimento do Cais
durante a chegada dos pescadores e venda do pescado.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 84]

5.2.1. [CENAS] – O cotidiano do Cais


O silêncio da madrugada no espaço vazio começa aos poucos a ganhar cor, cheiro, som
e movimentação. É uma questão de minutos para que a paisagem bucólica, insegura do vazio
da noite se torne um ambiente ruidoso, movimentado e ganha uma dinâmica enriquecedora.
Vários grupos se apresentam, surgem na cena, pescadores, compradores, donos de
embarcação, curiosos, trabalhadores off-Shore, turistas e de uma hora para outra a área de
1.700m² se torna pequena para receber todas as funções que lhe são destinadas.

1. Atracação de embarcações
2. Descarga de pescado
3. Triagem do pescado
4. Exposição
5. Venda/negociação
6. Pesagem
7. Estacionamento carros
8. Estacionamento caminhões
9. Guarita de controle embarques off-Shore
10. Embarque e desembarque de pessoas (off-Shore e turismo)
11. Alimentação

A pesca é o fator determinante, motivador, dominador desse cais, os agentes que ali
se encontram têm uma relação com essa atividade, seja na pesca, na compra, venda ou
transporte, de alguma forma essa é a forma que encontraram para viver economicamente.
E essa ocupação ainda tem uma característica de ser transmitida entre as gerações, como
uma herança, é possível encontrar famílias inteiras que vivem da pesca, porém outro aspecto
relevante é que é uma área dominada pelos homens. Durante os momentos de pesquisa, a
presença da pesquisadora parecia alterar a cena, dominada por aqueles homens, e durante
algum tempo estada lhes parecia incomoda e gerava muito silêncio.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 85]

Percebe-se pelos croquis apresentados que o funcionamento do cais na chegada da


pesca do camarão (fig. 59) é muito diferente da chegada do pescado (fig. 60), assim como a
forma do descarregamento, movimentação e quantidade de pessoas envolvidas no processo.

Figura 59: Croqui chegada do camarão. Fonte: Acervo


da autora, 2020.

As embarcações destinadas aos camarões são maiores, com mais estrutura, muitas delas
possuem uma câmara frigorífica, pois passam dias em alto mar, de 4 a 10 as vezes até mais, para
retornarem com uma quantidade considerável para encher um caminhão frigorífico. Esse
carregamento atende mercados grandes como CEASA-RJ, por exemplo. Devido ao pouco calado
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 86]

do Rio esse tipo de embarcação só pode atracar em alguns trechos e no período de maré alta,
caso contrário ficam encalhadas.
Durante o estudo o que mais chamou atenção era a forma como os fenômenos
aconteciam sem que fosse necessário que qualquer palavra fosse dita, os sons que ouvia eram
ruídos de motores ou máquinas e mesmo sem um procedimento por escrito, marcas no piso ou
um “líder” as tarefas aconteciam de forma ordenada sem que nenhuma instrução fosse dita.
Retira o camarão – separa – empilha as caixas – puxa as caixas – sobe para caminhão, uma
condição estruturante de uma “linha de montagem”.
Em se tratando da pesca de peixes e frutos do mar, o processo é um pouco diferente,
mas igualmente enraizado entre os integrantes do grupo. Aos poucos, barco a barco vão
chegando e atracando, descarrega o pescado, que vai se espalhando dentro de um território
imaginário na direção da embarcação, ali eles são separados por tipo em caixas que ficam
espalhadas pelo piso esburacado, uma balança é montada sobre caixotes e assim ficam
aguardando os compradores que estacionam seus carros dentro da área do cais e começam a
passar pelas “bancas” e escolher os pescados.

Figura 60: Croqui do movimento do


Cais na chegada e venda do pescado.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 87]

Após escolhido o pescado, começa a negociação pelo preço do produto, nesse momento
o falatório é maior, enquanto isso um outro grupo mais afastado observa todo o movimento,
muito moradores da área, ex-pescadores ou donos de embarcação, um tipo de programação
matinal social. Após a negociação ser fechada chega se aproxima um outro ator que faz o
pagamento, sempre em dinheiro e pega o carregamento e coloca no carro, não existe uma fala
para que o momento ocorra, apenas pequenos gestos com a cabeça ou com as mãos. Pequenas
cenas, muitos sinais e pouquíssimas palavras. Essas ficam por conta dos observadores que estão
ali só para rever os amigos (fig. 61).
Esse tipo de prática, enraizada, evidencia a transmissão de
saberes através dos membros do grupo, da comunidade pesqueira.
Segundo Candau (2011), a memória de um grupo quando forte é
capaz de estruturar esses grupamentos como através da
identificação, são esses processos identitários que organizam esses
grupamentos. Como uma prática pedagógica com base na origem
desses pescadores e nos acontecimentos esses processos
identitários se justificam.
A abordagem através do grupo virtual, foi de grande
relevância para a pesquisa, a comunidade tem uma participação
ativa de seus membros, e nele são colocadas fotos antigas (acervos
particulares de famílias macaenses), algumas lembranças de
momentos vividos e a defesa ao patrimônio da cidade, seja de
pessoas ou acontecimentos sempre geram muito engajamento
entre os indivíduos.
A existência desses grupos virtuais, o volume de membros e
a efetividade na participação só fortalecem o valor de comunidade
– mesmo que em outro suporte, que não o físico, mas o cyber
espaço – e que vai de encontro aos estudos de Maffessoli (2007),
reforçando que a comunidade é uma necessidade humana que
busca seu Lugar no mundo.
Figura 61: Croqui da negociação do
pescado e seus atores. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 88]

A pesquisa realizada buscou investigar quais os símbolos da comunidade sobrevivem na


orla do Cais do Mercado do Peixe, composta pela Rua da Praia da Macahé antiga, até hoje
conhecida assim pelos moradores mais idosos. Esse curioso dado trouxe à tona o primeiro ícone
que é o próprio nome da rua: poucos a reconhecem pelo nome atual “Avenida Feliciano Sodré”
e trouxe também o questionamento do motivo do nome, visto que a rua é à beira do rio e não
à beira do mar, como conta Alvarez Parada em seu livro ABC de Macaé:

Ela é a Rua da Praia. Por quê? Sei lá. Se ainda fosse


Beira-Rio concordo com você, o nome estaria
plenamente justificado, vez que acompanha o rio em
boa extensão. (PARADA, 1963, p.48)

Para entender a relação da comunidade com a história do Cais do Mercado do Peixe, no


momento de isolamento social e físico bastante rigoroso, pela Pandemia 2020, que começou
em março/2020, uma solução foi utilizar as redes sociais consolidadas sobre Macaé. Uma
primeira pergunta foi colocada no grupo virtual da comunidade Macahé Antiga (Facebook,
endereço: <https://www.facebook.com/groups/445835978761753>, em abril/2020, de modo
que a comunidade pudesse fornecer insumos para uma demanda relacionada ao conceito de
memória.

Qual maior lembrança você tem da Rua da Praia da Macaé antiga?


Embora a pergunta realizada no grupo tenha sido ampla, trouxe informações que
corroboraram com o valor da Paisagem Cultural neste local. Imaginava-se que as pessoas
responderiam em sua grande maioria por meio de acontecimentos (aspectos invisíveis), de fato
em parte isso ocorreu, mas também surgiram diversos marcos construídos (aspectos visíveis)
que já não fazem mais parte do cotidiano e, ainda assim, foram trazidos à memória.
E isso garantiu a construção de duas categorias simbólicas, uma visível e outra invisível,
de valor comunitário, que referenciam a imagem apreendida do Cais para a comunidade local
como: a atividade pesqueira, os passeios familiares aos domingos pela orla, a demonstração de
fé, a contemplação da paisagem, entre outros.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 89]

A tabela 1 e os gráficos 1 e 2 abaixo demostram os resultados obtidos a partir de 278


respostas recebidas:

VISÍVEL INVISÍVEL

• Fonte luminosa e sonora • Contemplação


• Barcos em procissão São Pedro
• Quiosque
• Pesca
• Mercado de Peixe
• Passeio em família
• Restaurante
• Lugar de fotos
• Bares • Brincadeiras
• Jardins (topiaria) • Andar de bicicleta
• Barcos • Lanchar
• Pororoca (Encontro Rio e • Beber
Mar) • Encontro
• Árvores • Lua de mel
• Paris
Tabela 1: Conjunto de elementos visíveis e invisíveis simbólicos. Fonte: Acervo da autora, 2020.

VISÍVEIS INVISÍVEIS
70 65
120 105
60
47 100
50
80
40 30
30 60
14 33
20 11 40 21
5 7 11 15
10 3 3 20 7 7 7 9
1 2 2 3
0 0

Gráfico 1: Resultado de elementos visíveis presentes nas Gráfico 2: Resultado de elementos invisíveis presentes nas respostas da
respostas da comunidade do Facebook. Fonte: Acervo da comunidade do Facebook. Fonte: Acervo da autora, 2020.
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 90]

A tabela e os gráficosanteriores
elucidam as categoriasde valor simbólico
definidas pela comunidade usuária do Cais e, de
certa forma, estão presentes na paisagem
cultural local, a qual nos dedicamos a investigar
nesta dissertação.
O Resultado dessa tabela trouxe à tona
alguns elementos pouco perceptíveis para os
não macaenses, como é exemplo do próprio Rio
e a Pororoca, embora seja um marco na
paisagem é confundido facilmente com o mar,
principalmente pelo cheiro característico da
maresia. Outro ponto de atenção foi o
surgimento dos elementos invisíveis através de
narrativas (fig. 62).
O elemento “festas tradicionais” que
mais aparece na categoria invisíveis tem vários
outros elementos associados como, o encontro,
diversão, brincadeira, a procissão, as
barraquinhas enfeitadas, essas festas
tradicionais aconteciam nos meses de Junho e Figura 62: Comentários em resposta a questão
Julho, meses de festas juninas e julinas que é realizada no grupo do Facebook Macaé das
uma tradição nas cidades brasileiras. E no caso antigas. Fonte: Grupo do Facebook Macaé das
antigas, 2020.
de Macaé festa do padroeiro e aniversário a
procissão da cidade, a procissão de barcos era
um dos pontos altos desse evento.
Atualmente a festa do padroeiro acontece na Praça Veríssimo de Mello, que devido ao
seu limite fisico e layout dos jardins tem uma logística complicada e as festas de comemoração
da cidade acontecem no centro de convenções a mais de7km do Mercado do peixe.
Apesar de termos mapeado algumas dessas instâncias simbólicas nas abordagens
feitas a pescadores e usuários do Mercado do Peixe, foi a existência do grupo virtual no
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 91]

Facebook que permitiu a continuidade da pesquisa, mesmo em momento de isolamento


social. Provavelmente, esta nova situação (isolamento residencial proposto a todos os
habitantes do Rio de Janeiro, desde 16 de março de 2020) também fortaleceu a importância
do espaço urbano, uma vez que o Mercado de Peixe ficou completamente fechado por três
semanas, reabrindo em um sábado anterior a Semana Santa9.
Para o funcionamento do Mercado foram
estabelecidas regras específicas: barreiras sanitárias foram
colocadas na porta de acesso, muitas pessoas vestidas de
branco (supõe-se enfermeiros) esperavam à porta de
entrada “protegidas” por suas máscaras, apontando o
termômetro para a testa de qualquer pessoa que quisesse
entrar; a praça em frente ao Mercado estava quase vazia,
mas as pessoas andavam apressadas e entravam na fila para
acessar o Mercado (fig. 63).
Enquanto isso o anexo, do outro lado da rua estava
sem fila, um controle mais informal e um segundo homem
grita: “Peixe fresco! Vem!”.
O cenário dessa vez promovia sensações diferentes,
desconfiança, curiosidade, medo, o dia estava claro, o céu
azul, mas as sensações que acompanhavam eram contrárias
aquela paisagem natural e àquele chamado.

Figura 63: Barreira Sanitária em frente à entrada do Mercado


do Peixe. Fonte: Acervo da autora, 2020.

9
Data do calendário cristão em que não é recomendado o consumo de carne vermelha.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 92]

Na Sexta-feira Santa, a quantidade de pessoas era ainda maior, muitas protegidas atrás
de suas máscaras e tantas outras sentindo-se “ameaçadas”. A praça, os bancos e o parquinho
estavam interditados com uma fita zebrada; para alguns, no entanto, parecia estar tudo normal:
pela primeira vez pareciam ter tempo para sentar e apreciar o mar, por isso, não tardou para
que invadissem a área delimitada para se sentar e contemplar.
Podemos apontar que na questão do panorama tecido como “retrato da paisagem e da
comunidade”, a orla do Cais do Mercado do Peixe é um Lugar de tradição, diversão,
contemplação, trocas e encontros e a proposta para o desenvolvimento de uma intervenção
local deverá apresentar maneiras de valorizar e fortalecer e a paisagem cultural e o valor de
comunidade explorando esses pontos.

5.3. A memória nas narrativas das comunidades “da terra e do mar”


Este capítulo tem por objetivo compilar os resultados e impressões realizadas sobre as
incursões (observações participantes) e abordagens indiretas (por meio de grupos de
conversas), com enfoque na obtenção de dados sobre as narrativas produzidas pela observação
da paisagem cultural (e social) do Cais.
Decidimos apresentá-lo logo depois das análises sobre as atividades e a comunidade
local, justamente para possibilitar uma leitura mais leve e instigante sobre o cenário etnográfico
composto pelo Cais do Mercado do Peixe de Macaé, a partir de uma produção narrativa. Como
dito anteriormente, a narrativa é a estrutura linguística, baseada em personagens, que traz a
possibilidade de integrar dialeticamente aspectos que podem parecer inconciliáveis: o tempo
lógico da análise realizada, e o tempo vivido de cada personagem.
Por isso, passaremos a apresentar uma leitura dos usos e marcas sociais, obtida por
madrugadas diversas ao observar, de forma participante, o cais. Admito que nossa personagem,
por diversos motivos que se fizeram presentes no processo de observação, é o Cais.
O movimento no Cais é sempre maior pela madrugada e início da manhã e um dos
motivos tem resposta na área destinada ao recebimento do pescado. A área não possui
cobertura e após as 8h da manhã o sol já começa a castigar o carregamento que precisa ser
mantido no gelo e não pode permanecer muito tempo por ali.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 93]

Em conversas informais, tanto pescadores quanto compradores afirmam que eles


mesmo já colocaram uma cobertura que foi retirada pela prefeitura por risco de acidente e não
foi substituída por nenhuma outra estrutura. A cobertura diversificava e prolongava os usos
relacionados à recepção, troca, limpeza e armazenamento dos peixes, um “balé” bonito de se
ver para aqueles que não entendem os meandros da atividade.
O Cais vazio na noite escura, ainda por volta das 4h da madrugada, começa aos poucos
a receber as embarcações, o odor marítimo rapidamente muda para óleo queimando e cheiro
de peixe. O barco é atracado, e começam a desembarcar os homens, sempre homens; durante
o tempo de pesquisa não foi observado mulher alguma descendo da embarcação. Um ambiente
dominantemente masculino, de identidade clara e elementos sensoriais muito fortes: o cheiro,
o tom da voz, a rudeza de gestos. Definitivamente ali não é “o lugar de uma mulher” – como
ouvimos. Existia quase um “campo de força” para que ninguém mais se aproximasse, nem
mesmo uma pesquisadora, e a sensação que se passava era que não deveria avançar.
Os pescadores desembarcavam, retiravam o pescado que vinha em caixas de plástico ou
de isopor; acumulavam uma após outra no cais à beira da água, algumas pareciam bem pesadas,
e era perceptível a dificuldade para retirá-las da embarcação, principalmente quando era um
barco menor e seu piso ficava a um desnível grande do píer. A dificuldade aumenta à medida
que a maré baixa – e isso o Cais contempla há centenas de anos.
As caixas são organizadas no piso do cais, umas ao lado da outra, é feita uma triagem
entre as caixas, peixe para um lado, camarão para o outro, outra espécie de peixe e assim tudo
se organiza.
Chega mais um barco, mais outro, chegam mais 3 e em cerca de 20min já se tem 9 barcos
ancorados, e todos começam a repetir a mesma tarefa do primeiro, como se fosse uma cena
repetida, tudo acontece sincronicamente.
Pescadores jogam um balde de gelo na caixa de pescado. Os trabalhadores da primeira
embarcação agora retiram um palete, o apoiam um pouco à frente mais, sem impedir a visão do
produto, e sobre ele uma balança, pronto! A primeira banca está montada. O cais está se
adornando.
Agora com sua banca montada, um dos pescadores, talvez o dono da embarcação,
começa a olhar ao redor, percebe a presença de alguém que não faz parte daquele grupo, então
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 94]

caminha na direção da pesquisadora. Não havia estranhamento no olhar, só um cuidado na


aproximação e uma lentidão em vencer o trajeto. Ele sondava em busca de compradores.
Quando todas as bancas já estavam montadas, alguns carros começam a chegar e a
estacionar em um ponto do cais; não existe demarcação, o cais tem linhas imaginárias
impregnadas nas linhas do piso, mas os carros que chegam já se direcionam e vão parando um
ao lado do outro. Os caminhões de pequeno porte que chegam param em outro ponto,
começam a descer dos carros e se direcionar até as bancas montadas. A maioria é do público
masculino, até aparecem algumas mulheres, mas uma ou duas que conhecem bem o cais.
As negociações se iniciam, parece uma feira, mas existe uma hierarquia visível. Um
pescador se posiciona em frente à banca, os outros observam ou ficam responsáveis pelo gelo;
quem observa se posiciona com os braços para trás.
Do outro lado fica o comprador, e mais um que parece ser o carregador ou o responsável
pelo pagamento; mais atrás estão outros homens, aguardando a ordem para pegar o
carregamento e levar até o carro. O comprador também tende a se posicionar com os braços
para trás. Tal dinâmica acontece repetidamente como um ritual, o barco chega, os pescadores
montam, os compradores chegam, andam pelas bancas, escolhem o pescado, negociam,
compram e os carregadores levam. Tudo sobre uma plataforma conhecida e desejada, que
recebe há anos os mesmos movimentos.
Os pescadores em sua maioria vestem camisa ou camiseta, bermuda de tecido
impermeável e uma bota de cano médio, alguns usam boné. Os compradores normalmente
usam calça jeans ou bermuda de um tecido mais grosso, camisa (polo ou botão muitas vezes) e
sapatos fechados.
Não existe nenhuma estrutura para receber todas essas pessoas ou atender a essas
funções, somente um piso descuidado e com aparência de sujo, que não se comunica com o
cais. Não há cobertura ou sanitários, nem estrutura para sentar-se.
Às 6h da manhã as barracas que ficam sob uma tenda, de frente ao Mercado, começam
a ser montadas, os vendedores do mercado também começam a chegar. Alguns procuram as
bancas da tenda para se alimentar, querem estar ali, fazer parte do cenário.
Os donos de banca do Mercado não são vendedores delas, eles costumam ir ao cais,
fazem as compras; os carregadores levam e vão embora. Um dono de banca se destaca frente
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 95]

aos outros, ele tem a primeira banca quando você entra no mercado e sempre está com uma
camisa azul de botões, muito comunicativo, sempre tem uma receita para ensinar e indica os
melhores peixes para cada receita.
Todo esse movimento no cais acontece
sem um controle logístico, não há um
ordenamento formal do uso do espaço, mas
como que por um “saber instintivo” as coisas
acontecem da forma que precisa ser. Tudo
acontece de forma rápida e sincronizada, sem
muitas palavras trocadas, a negociação da
venda do pescado é o ponto alto nessa
paisagem. São conjuntos de cenas, sequenciais
e repetidas com atores diferentes em cada ato.
Dentro do Mercado (fig. 64), as cenas
são bem diferentes, a aparência é de limpeza,
claridade, mas nem sempre foi assim. O prédio
anterior era de tijolos maciços por fora e parecia
um bloco escuro e denso, sem entrada de luz –
conforme diziam os vendedores, disputavam os Figura 64: Croqui do funcionamento do Mercado do Peixe em um domingo
clientes “no grito”. Depois da reforma, o pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019.
ambiente ficou mais salubre, as escolas e
creches hoje levam as crianças para conhecer o
Mercado.

Figura 65. Croqui de crianças no parquinho ao lado da


praça do Mercado e carro ao fundo em um domingo pela
manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 96]

O funcionamento do Mercado do Peixe é de domingo a domingo, das 7h às 16h, mas


durante os dias de semana o movimento é baixo, normalmente aparecem mais donos de
restaurantes e vendas pelo delivery, mas aos fins de semana é roteiro de um programa familiar
e até de turistas.
Hoje existem alguns estacionamentos particulares, em
alguns dias fica difícil encontrar vaga no entorno do Mercado, mas
o ponto que chama atenção dessa história é a ambiência. As
pessoas se reúnem na praça em frente ao Mercado, muitas só para
conversar, outras vendem caranguejo. Existe uma árvore, bem
baixa, que é um ponto de encontro; a praça em si é muito
ensolarada. A fachada de vidro, reflexiva, é um pouco incômoda de
olhar quando o dia está com céu claro.
À esquerda do Mercado, há um parquinho, com brinquedos
de madeira, grama e a sombra das palmeiras imperiais; ele tem
vista direta para o cais, mas uma grade que não permite a
contemplação da paisagem é um dos poucos locais onde encontra-
se um banco para sentar-se.
O uso do parque é bem baixo (fig. 65), se comparado ao
movimento do Mercado; talvez a proximidade com a rua seja um
fator de alerta e a calçada é também muito estreita nesse ponto.
Ao entrar no mercado, todo claro (fig. 66), o colorido do
pescado; há um corredor central que divide as grandes ilhas de
bancas, uma para casa lado e os vendedores ficam na parte interna
e os clientes externamente. As ilhas possuem formato de “U” com
bancas distribuídas lado a lado, são um total de 44 bancas e ainda
há o anexo com mais 16.
Os compradores escolhem o peixe e um grupo de
limpadores que fica no fundo do mercado fazem a limpeza, retiram
a escama, a barrigada, tornam fácil preparar o peixe. As mulheres,
finalmente aparentes, ficam responsáveis por descascar o
camarão, mas não é possível ver onde essa atividade acontece.
Figura 66: Foto da banca de pescado do Mercado de
O cais, é ele, o observador incólume das atividades que, dia peixe em um sábado pela manhã. Fonte: Acervo da
a dia, dão nome ao Mercado. autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 97]

5.4. DIRETRIZES PROJETUAIS


Uma cidade necessita de locais em que seus habitantes mantenham contatos
proveitosos e significativos, assim, reafirmamos a importância de lugares de trocas, cheios de
significados e revestidos de valores afetivos por seus usuários, fortalecendo a paisagem e
intensificando o reconhecimento de uma Paisagem Cultural através das demandas locais,
podendo minimizar as fragilidades e reforçar os pontos fortes do Mercado do Peixe de Macaé.
Assim, possibilitando o desenvolvimento de toda a área e possivelmente extrapolando seus
limites de atuação, um projeto de revitalização surge como uma possível resposta aos resultados
obtidos.
O excesso de informações, compromissos e atividades leva cada vez mais o indivíduo a
buscar sentido no seu mundo habitado, um lugar onde se aproprie e tenha representatividade.
O Cais do Mercado do Peixe de Macaé, como todo espaço público, tem a função de
sociabilidade, mas também apresenta tantos outros atributos que devem ser valorizados, e
serão catalisadores na apropriação desse projeto de revitalização.
Apoiados em Jacobs (2011) que menciona que a vida fica mais interessante e mais rica
em detalhes, quando se compreende uma identidade pública. Portanto queremos propor
pequenos refúgios, incentivando a pausa, longe da correria do dia a dia.
Toda a fundamentação e o desenvolvimento metodológico se debruçou nesses três
pilares comunidade – memória – paisagem, que levará a cabo a proposta final de intervenção
no Mercado do Peixe.
Reafirmamos, com Maffesoli (2007), que em tempos da impessoalidade a tentativa
cotidiana é a de pertencer a um Lugar, mesmo que construído entre cenas do cotidiano “que
conforta”. Acreditamos que o Cais do Mercado é esse Lugar, simbólico para muitos, de
atividades econômicas e sociais, de laços entre terra e mar, rio e mar, comunidade e paisagem,
território e indivíduo, passado e presente.
[ENTRELAÇAR] - essa é a palavra síntese, resulta de todo desenvolvimento da
metodologia e das análises até aqui, debruçadas em discussões teóricas. A palavra entrelaçar
vem do francês entrelacer significa “juntar-se, prender-se, enlaçar um com o outro ou coisas
entre si” (dicionário Houaiss, disponível em <https://www.dicio.com.br/entrelacar/>– grifo
nosso).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 98]

Além de colocar lado a lado os significados do Cais para a comunidade, às memórias de


uso do Cais ligadas à pesca e à recepção/chegada de pessoas, e as atividades que remontam a
um passado indígena e pesqueiro que são parte da Paisagem Cultural, conectar é a forma
reconstruir e fortalecer esse relacionamento entre as pessoas e o espaço, a cultura.

ENTRELAÇAR

PAISAGEM MEMÓRIA COMUNIDADE


DE

• Contemplação
• Tradição • Pescadores
• Pororoca
• Gastronomia • Família
• Pesca
• Ócio • Macaense
• Paris
• Lugar de foto

Gráfico 3: Gráfico com associação entre os símbolos, os conceitos e o encontro. Fonte: Acervo da autora, 2020.

O gráfico acima (3) exemplifica como a palavra emerge de todo este processo de
pesquisa: ENTRELAÇAR. Enlace de tempos, de memórias, de grupos e até o RE-CONECTAR tão
desejado após a situação atual de isolamento domiciliar. Os conceitos Paisagem Cultural –
Memória – Comunidade são a conexão entre a palavra síntese obtida e a proposta de
revitalização do Cais, que se apresenta agora por algumas diretrizes (fig. 67):
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 99]

1. Entrelaçar a comunidade e os elementos que fortalecem a memória coletiva através de


releituras dos símbolos visíveis e invisíveis. (bancos e sombra para contemplação, um
passeio agradável, estruturas para incentivar a permanência);
2. Valorizar a Paisagem cultural através da aproximação visual e física da comunidade que
frequenta o Mercado e o Cais com os elementos simbólicos — água, barcos e pesca
(deck sobre a água, retirada dos veículos da via);
3. Fortalecer a comunidade de pescadores através de elementos arquitetônicos (cobertura
do Cais para proteção das intempéries, banheiros, piso de fácil limpeza e que facilite o
transporte do pescado) que dê suporte para suas atividades cotidianas.

Figura 67. Esquema gráfico de diretrizes


projetuais. Fonte: Acervo da autora, 2020.
CAPÍTULO 6
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 101]

6.CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO
Este capítulo está dedicado a apresentar todo o processo projetual e como as apreensões
advindas da fase de análise repercutiram em respostas arquitetônicas e urbanísticas, a fim de atender
as reais necessidades da comunidade pesqueira a fortalecendo e valorizando a paisagem cultural.
6.1. Estudo de Casos

As referências contribuem no desenvolvimento de soluções em um projeto. Características


como técnicas construtivas, relação com o entorno, impacto social e econômico pode fornecer as
informações necessárias para as questões particulares de um novo projeto.
No caso do Cais do Mercado de Peixe de Macaé, buscamos compreender inicialmente as
referências existentes na própria cidade, mas também buscamos outros parâmetros que pudessem
agregar ao projeto quanto à técnica construtiva, composição arquitetônica e aprendemos com as
críticas negativas, principalmente no caso do Metropol Parasol, na Espanha, que causou muita
polêmica por seu impacto na paisagem. Entretanto ambos os projetos, Metropol Parasol e Pompidou
de Metz, contribuíram para o resultado do projeto de revitalização do Cais.

6.1.1. Contexto macaense

A população estimada segundo o IBGE é de 261.501 pessoas, sendo o número 127º no país
e o 13º no Estado. A renda per capita do município é 12,5% maior que a da cidade do Rio de Janeiro,
a média de rendimento mensal entre os trabalhadores formais é de 6,4 salários-mínimos ocupando
o primeiro lugar no Estado e o segundo no país.
Devido à extração de petróleo a cidade de Macaé conta com uma condição econômica
diferenciada em relação à maioria das cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro, o que reflete
diretamente nos marcos arquitetônicos da cidade. Alguns dos principais equipamentos públicos são
compatíveis com os de grandes centros urbanos, com grande escala e de forte expressão na
paisagem. A partir do terceiro governo do prefeito Sylvio Lopes em 2001 a cidade começou a sofrer
um processo de aceleração de desenvolvimento e de modernização. Alguns desses projetos serão
apresentados em seguida com uma breve descrição.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 102]

6.1.1.1 Monumento Chama do Petróleo


Um marco na paisagem, o Monumento (fig. 68)
construído aproximadamente em 2005, é uma
homenagem a cidade que é considerada a capital na
extração do petróleo no Brasil, o formato da obra
simboliza a chama que sai do queimador, presente em
quase todas as plataformas de petróleo.
Fabricado e montado pela ESP engenharia,
construído em uma base circular de aproximadamente
47m de diâmetro, a estrutura conta com três pirâmides
de base, revestida em granito, sendo a maior delas com
36m de altura, estas apoiam o helicoide suspenso em
estrutura metálica revestido em placas ACM na cor
vermelha.
Figura 68: Monumento Chama do Petróleo.
Fonte: Acervo da autora, 2020.

6.1.1.2. Centro de Convenções


O Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho
(fig. 69) é um equipamento público de grande importância
na cidade, a edificação conta com uma área total de 110mil
metros quadrados sendo 12.000m² de área coberta e vaga
para 2600 veículos. A estrutura foi inaugurada no ano de
2003 para receber a primeira Feira Off Shore da cidade.
Com um custou o equivalente a R$ 20 milhões a obra
foi concluída em um período de128 dias pela empresa
Figura 69: Centro de Convenções Jornalista Engetécnica.
Roberto Marinho. Fonte: site economia e
negócios, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 103]

6.1.1.3. Estádio Claudio Moacyr de Azevedo


Construído inicialmente em 1982, o estádio (fig. 70)
passou por uma obra de modernização em 2010 para se
adequar aos padrões dos grandes campeonatos.
Com uma área de 30mil metros quadrados e
capacidade para 15 mil pessoas foram um doa primeiros
estádios a utilizar o alambrado de policarbonato,
transparente e resistente a impactos.
A estrutura conta com três arquibancadas, estrutura
para transmissão de rádio e televisão, escola e lojas.
Figura 70: Estádio Cláudio Moacyr. Fonte:
Clique Diário, 2020.

6.1.1.4. Terminais rodoviários

Figura 71: Mapa dos terminais rodoviários de


Macaé. Fonte: Acervo da autora sobre base do
Google Earth, 2020.

Os terminais rodoviários, seis no total, foram criados entre os anos de 2004 e 2006
concentraram as diversas linhas de ônibus da cidade com a intenção de possibilitar a conexão de
regiões diferentes da cidade sem a cobrança de uma nova passagem (fig. 71). A estrutura em forma
de ondas contrasta e marca a paisagem da cidade. O projeto é do escritório carioca de Sérgio Moreira
Dias.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 104]

As coberturas, construídas em estrutura metálica (fig. 72) cobrem a área de embarque e


desembarque. Os terminais menores, periféricos, possuem uma área coberta de aproximadamente
1.000 m² e uma altura de 5 a 7m de pé-direito e o central, modificado no último ano ocupava uma
área de aproximadamente 3.200m²

Figura 72: Terminal da Lagoa, Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020.

6.1.1.5 Orla da Praia de Cavaleiros


No ano de 2011, após uma ressaca em que a
orla da praia de Cavaleiros ficou completamente
destruída, a área com aproximadamente 14.000m²
passou por um projeto de revitalização (fig. 73). Na
proposta foi criada a ciclovia, um deck em madeira
plástica com guarda corpo em inox que se estende
sobre a areia, ampliando o passeio. Os quiosques
que ocupavam a orla e o estacionamento foram
retirados e a caixa de rua reduzida.

Figura 73: Orla da praia de Cavaleiros após


revitalização. Fonte: G1, 2018.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 105]

6.1.2. Metropol Parasol em Sevilha na Espanha


Com a promessa de tornar a cidade de Sevilha um dos
destinos mais fascinantes do mundo da cultura, o projeto
Metropol Parasol (fig. 74) do escritório Alemão Jürgen Mayer H.
Architects criou dentro da malha medieval (fig. 75) um novo
centro contemporâneo contrastante com todo seu entorno
histórico.
A área da Plaza de La Encarnación ficou abandonada por
anos, sendo conhecida como o “lugar mais feio da cidade”
(Costa, 2011). Os grandes guarda-sóis ficaram prontos em 2011
Figura 74: Vista geral do Metropol e além da polêmica envolvida, por ser o primeiro ícone
Parasol, Sevilha. Espanha. Fonte: contemporâneo na antiga Sevilha, foi necessário o
Acervo Blog casa it, 2011. desenvolvimento de uma tecnologia própria para alcançar a
forma orgânica inspirada nas cúpulas da catedral e na
arborização, fato que onerou a obra em 70% e impactou no
tempo execução.
A mega estrutura de 150m de extensão e 75m de largura,
criada a partir de uma malha ortogonal de 1,5 x 1,5m abriga, um
museu no arqueológico no subsolo, lojas, bares e restaurantes
em um platô que fica a 22m do nível do solo e na parte superior
um grande mirante que permite uma vista por cima dos
telhados das construções antigas.
Os grandes cogumelos, como são popularmente
conhecidos, criam uma grande área sombreada em uma região
em que as temperaturas passam dos 45º a sombra no período
do verão, o que se torna um grande convite ao caminhar e ao
estar tanto da comunidade local quanto de turistas.
Segundo Costa (2011), os benefícios como o desenvolvimento
de novas tecnologias construtivas, atração de novos usuários,
Figura 75: Detalhe do contrate entre ter se tornado um novo pólo econômico, melhoria de qualidade
as construções medievais e a estrutura de vida para os sevellianos superam toda polêmica e discussões
do Metropol Parasol, Fonte: Acervo em torno do seu custo, tempo de construção e do impacto na
Blog Casa it, 2011. paisagem.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 106]

O projeto do Metropol Parasol contribui para a construção do projeto da cobertura


do Cais do Mercado como uma referência dos tipos de impactos que não se pretende alcançar.
Não é nossa intenção criar uma estrutura com uma escala tão impactante, temos a
compreensão que uma cobertura diante da orla irá inevitavelmente se tornar um marco na
paisagem, apesar disso buscamos uma escala mais humana, aliando a necessidade da
comunidade dos pescadores, mas também atraindo o turista.
Projetos do porte do Metropol Parasol, com uma visão progressista, com objetivos
turísticos, em um centro histórico causam polêmicas, o que pode causar efeitos negativos e
até negligentes por parte da comunidade, portanto é sempre importante levar em
consideração como essa nova proposta contribuíra para o fortalecimento da população nativa.

6.1.3. Cobertura do Centre Pompidou – Metz/ França

Figura 76: Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Achdaily, 2016.

O arquiteto japonês, Sigeru Ban buscou no Centro Pompidou de Metz (fig. 76), no
o
norte da França, uma alternativa projetual que aliasse uma forma escultórica a fim de atrair
ao turismo e uma estrutura funcional a exposição de obras de artes de um Museu. Desse modo
arquiteto criou volumes simples, retangulares, interligados por uma grande cobertura
treliçada de madeira e membrana tencionada (fig. 77).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 107]

Figura 77: Estrutura de madeira do Center Pompidou em Metz, França. Fonte:


Acervo Detail Inspiration, 2010.

A estrutura da cobertura possui uma forma hexagonal e pousa sobre os volumes


ortogonais, unificando todo o complexo. A trama que compõe as treliças é inspirada nos
tradicionais chapéus e cestos asiáticos (fig. 78 e fig. 79), com esse padrão o arquiteto
conseguiu fazer a fixação por pinos de aço na sobreposição no entrelace das madeiras,
dispensando o uso de conexões mecânicas de metal, o que aumentaria o custo e o tamanho
da estrutura.

Figura 78: Detalhe de malha em madeira. Fonte: Figura 79: Detalhe de fixação malha em madeira.
Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 108]

Figura 80: Detalhe de fixação malha em Figura 81: Estrutura da cobertura. Fonte: Acervo Blog
madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Estrutura de Madeira, 2012.
Madeira, 2012.

Inspirado pelas obras de Frei Otto, o arquiteto aprimorou a técnica construtiva


eliminando o elemento linear metálico ao utilizar a Madeira laminada colada (fig. 80 e fig. 81). A
complexa estrutura, com cerca de 8.500m², precisou ser feita utilizando desenhos tridimensionais
desenvolvidos em computadores, que modelavam as geometrias através de máquinas CNC
avançadas.
A estrutura de madeira foi coberta por membrana tensionada de fibra de vidro e
teflon, o componente possui propriedade translúcida que permite o aproveitamento da luz do sol
durante o dia e a noite reflete a luz interna, formando uma grande luminária na paisagem.
O estudo desse projeto contribui na busca de alternativas técnicas para a cobertura em
membrana tensionada e da estrutura em treliças de madeira para a cobertura do Cais do
Mercado do Peixe, o modo como as madeiras se entrelaçam vai de encontro com o conceito
principal do projeto que busca propor.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 109]

6.2. ENSAIO. O Cais pontuado


Até a Banca de Qualificação, o objetivo desta dissertação era o de revitalizar toda orla do rio
Macaé, porém, após a análise aguçada dos estudos etnográficos e das pesquisadoras que atentaram
para o valor comunitário essencialmente demarcado na ação de compra/venda do pescado, ficou
claro que o foco deveria ser o Cais.
Contudo, neste item apresentaremos a proposta global para a Rua da Praia. Tal produto é a
resposta do capítulo de análise, onde foi possível identificar diversos elementos objetivos e
subjetivos presentes na interpretação da comunidade de pescadores, e que possui uma relação com
o Mercado, que nos levou até as categorias de Paisagem – Comunidade – Memória, que se
interligam ao mote: Entrelaçar.
O Entrelace será a base fundamental dessa proposta, onde todos os elementos deverão
seguir o objetivo de juntar, laçar, estabelecendo vínculo da comunidade com o objeto de estudo (o
Cais) e a orla. Como descrito no capítulo anterior, seguiremos três diretrizes principais como
catalisadores da revitalização: o lazer, a atividade econômica e o turismo.
Serão apresentadas abaixo algumas intervenções projetais que irão se estender por toda a
orla, afim de levar ao Cais a conexão por sua vez, sofrerá algumas intervenções, como mudança de
fluxo (fig. 82) deixando o núcleo central livre de veículos, mudança da de caixa de rua reduzindo a
velocidade da via, deck suspenso sobre o rio reaproximando as pedestres do elemento água, entre
outras, contudo nos debruçaremos sobre o Cais devido a sua relevância para os estudos etnográficos.

Figura 82: Mapa com novos fluxos para a


implantação da proposta projetual. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 110]

A proposta de intervenção na malha


urbana começa com a redução para
somente uma pista de rolamento na Rua
da Praia (fig. 83), com o objetivo de
diminuir a velocidade na via, possibilitando
a contemplação da paisagem e priorizando
o pedestre.
Não será proposta uma ciclofaixa, para
que o passeio ampliado possa ser usado
de modo livre, ajustado e democrático
entre pedestres, bicicletas, patinetes e
patins; apenaso piso será trabalhado pelo
desenho geométrico, diferenciando zonas.

Figura 83: Croqui com proposta de redução de caixa de rua.


Fonte: Acervo da autora, 2020.

Um deck prolongado sobre a lâmina da


água será criado, em torno de 4,0 à frente, em
madeira plástica, seguindo o padrão da praia
de Cavaleiros. A estrutura será “rampada” em
diversos pontos, mudando de nível ao longo
do percurso e aproximando as pessoas da
lâmina d’água. Será proposto também a
implantação de bancos em madeira e
arborização ao longo do percurso para
incentivar o caminhar (fig. 84).

Figura 84: Croqui com proposta de Deck sobre o rio.


Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 111]

Será proposto dois tipos de iluminação


ao longo do percurso, uma com postes de 6m
de iluminação rebatida e alimentado por
energia solar voltado para a rua. E na área do
passeio utilizaremos luminárias no piso e
também em desniveis de jardineiras e
calçadas. Evidenciando os caminhos e
evitando o ofuscamento (fig. 85).
Figura 85: Detalhe esquemático da iluminação por
LED em desnível. Fonte: Acervo da autora, 2020.

O ponto de ônibus deverá ser valorizado


e mantido no mesmo local, incentivando o
acesso da orla através do transporte público.
A forma da cobertura é inspirada no voo da
gaivota, muito marcante na paisagem da orla
central. O material utilizado será o alumínio
com pintura eletrostática na cor preta e a
86).
madeira plástica, facilitando a limpeza e
higienização, além de manter uma unidade
visual e temporal entre as estruturas novas,
Figura 86: Croqui com proposta de ponto de ônibus. adicionadas no projeto de revitalização (fig.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 112]

Com a intenção de difundir o conhecimento, totens informativos e interativos deverão ser


instalados ao longo do percurso com narrativas da comunidade de pescadores e da Rua da Praia (fig.
87). Figura 74 Croqui com proposta ampliação de calçadas e
A terra é possuída e habitada pelos uso por bares e restaurantes.
Goitacazes, selvagens tão ferozes e bravios, que não Fonte: Acervo da autora, 2020
podem viver em paz com outros, (...) quando são
apertados e perseguidos por seus inimigos, os quais
ainda não os puderam vencer nem domar, andam
tão rápidos a pé, e correm tão ligeiros, que não só
dêste modo evitam o perigo da morte, mas também
no exercício da caça apanham na carreira certos
animais silvestres, espécie de veados e corças.
(LAMEGO, 1945. p.60)

A proposta é que os totens sejam em


estrutura metálica de alumínio com pintura
eletrostática e possua uma estrutura coberta
para que apenas uma pessoa por vez o utilize.
Eles deverão ser instalados em pontos
estratégicos que permitam uma visualização de
um ponto específico como o pontão, por Figura 87: Croqui com proposta de totem informativo.
exemplo, ou que faça referência a algum Fonte: Acervo da autora, 2020.
elemento simbólico que já não exista mais,
como a fonte luminosa.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 113]

O eixo central da orla, onde se encontra a prefeitura foi evidenciado, retirando os gradis do
edifício projetado por Niemeyer, ampliando o passeio, possibilitando a visibilidade do edifício como
um todo, na grande esplanada ainda manteremos a fonte e um trecho com as balaustradas existentes
hoje no local.
Será incentivado que lotes que estejam sem construções e edificações fechadas implantem
lojas ligadas ao ramo alimentício, com o objetivo de aumentar o horário de permanência e
funcionamento da área do cais. (fig. 88)

Figura 88: Proposta esquemática de eixo de centralidade na prefeitura e para incentivo de implantação de bares e restaurantes em
lotes que se encontram vazios atualmente. Fonte: Acervo da autora, 2020.

Abaixo o ante projeto inicial (fig. 89) em escala apresenta uma imagem para ilustração global
da proposta.
Figura 89: Plano de intervenção na área de estudo. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
Com formas sinuosas a caixa de rua foi reduzida, acompanhando o antigo curso do rio,
diminuindo também o fluxo de veículos e a velocidade da via, favorecendo a contemplação da
Paisagem. Ao longo de toda a orla, no passeio isso também se reflete, pelo conjunto de jardineira,
permitindo a fluidez ao transitar e a conexão entre os elementos catalizadores dessa proposta, a
água, representada pelo Rio Macaé e pelo mar e a comunidade pesqueira.
A prefeitura (fig. 90) um elemento simbólico e de importância arquitetônica por ser uma obra
de Oscar Niemeyer de 1985 marca a centralidade da orla, para dar destaque e evidenciar a
construção ampliou-se o passeio em frente à edificação formando uma grande esplanada. Foram
retirados os gradis que a cercam, a balaustrada nesse trecho e a fonte existente se mantiveram,
formando um marco temporal na orla (fig. 91).

Figura 90: Vista atual da prefeitura. Fonte: Figura 91: Proposta para a área da prefeitura. Imagem produzida com
Acervo da autora, 2020. Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 116]

Ao longo de toda a orla propomos jardins com áreas arborizadas para tornar a área mais
sombreada e permitir a permanência, além de bancos, a cota do canteiro se eleva com grandes
gramados permitindo que as pessoas possam sentar e observar a paisagem (fig. 92).

Figura 92: Vista do canteiro com cota elevada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 117]

Próximo ao ponto de ônibus e do eixo central da prefeitura foi proposto um jardim solar (fig.
93), além de captar e gerar energia para carga de celulares e da iluminação pública, é um incentivo
ao uso da energia sustentável, visto que a própria cidade já oferece o desconto do Imposto Territorial
Urbano em 50% para as residências e empresas que a utilizam.

Figura 93: Jardim solar, estruturas inspiradas em girassóis, feitas em alumínio anodizado para captação de energia
solar. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 118]

A parte central da cidade e alguns bairros periféricos sofrem muito com as enchentes em dias
de chuva e com o intenso calor no verão, a intenção é criar um grande passeio com canteiros e
arborização, aumentando o sombreamento e melhorando o micro clima ao longo da orla. Tornando
o caminhar e a parada mais agradável na região. A intenção é que as árvores plantadas sejam típicas
da região como a Aroeira, por exemplo, muito presente em alguns bairros da cidade (fig. 94).

Figura 94: Passeio com canteiros e arborização. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 119]

No capítulo de análise observou-se que a água é um importante elemento simbólico para os


macaenses, porém devido à proximidade entre rio e mar neste ponto da cidade, há uma confusão e
o Rio Macaé acaba ficando em segundo plano, tanto que a orla fluvial possuía o nome de Rua da
praia, sendo que o mais lógico nomear como Rua do Rio. Portanto, uma das necessidades observadas
era a de aproximar o Rio Macaé da rua, para isso foi criado um espelho d’água com fundo de pedra,
com árvores em seu entorno e bancos em madeira, trazendo para o passeio esses elementos que de
forma descontraída e simbólica remeta a memória de uma região de beira rio (fig. 95).

Figura 95. Espelho d’água área beira rio. Imagem renderizada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 120]

Outra ação foi a de criar “decks rampados” em madeira plástica, material já utilizado em outras
áreas na cidade, este percorre por toda a orla e assim como no cais, a ponta próxima a ponte se abre
para uma praça de eventos (fig. 96).

Figura 96: Praça para eventos, nesse ponto o deck se abre para receber eventos gastronômicos e artísticos.
Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 121]

6.3. GRANDE ATO. O Cais do Mercado do Peixe 2020


A intenção desta pesquisa, derivada do Mestrado Profissional em Projeto e Patrimônio, é
garantir o valor simbólico do cais, acentuando os elementos principais que foram levantados pelas
análises do capítulo anterior e desenvolvendo soluções técnicas e arquitetônicas que destaque o
significado local para a comunidade local e o valor cultural da paisagem.
Como apontado no capítulo anterior, o “retrato da paisagem e da comunidade”, aponta o Cais
do Mercado do Peixe como um Lugar de tradição, diversão e contemplação, por esse motivo o
projeto seguirá sempre esse tripé, com a intenção de incorporar e fortalecer a memória coletiva e a
valorizar a paisagem cultural, entrelaçando os conceitos com as soluções arquitetônicas na resolutiva
as problemáticas encontradas, como mostra no quadro a seguir:

PROGRAMA DE NECESSIDADES - PROPOSTAS


PESCADORES
Cobertura, proteção para os • Cobertura para a área do cais, além de trazer proteção
pescados das intempéries, a cobertura vai dar destaque a
atividade pesqueira, a forma e a estrutura são
Piso, melhoria, os buracos dificultam inspiradas em elementos simbólicos que irão remeter a
transitar com as caixas, aumento da atividade pesqueira.
área de atracagem. • Cozinha de beneficiamento: para que as mulheres
também tenham participação e representatividade no
Banheiros Cais. Essa cozinha deverá atender as famílias de
pescadores para transmissão do saber e valorização da
atividade pesqueira.
Triagem de pescado • Área destinada à logística dos pescadores, destacada do
fluxo de pessoas, em um nível mais baixo do cais,
facilitando o descarregamento e aumentando a
visibilidade da atividade.
Venda do pescado • Adequação da iluminação para o funcionamento do Cais
no período noturno.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 122]

PROGRAMA DE NECESSIDADES - PROPOSTA


MACAENSES
Chegada e saída dos barcos, • Aumentar a visibilidade das embarcações e atividades
procissão de barcos na Festa de São pesqueiras.
Pedro • Permitir aproximação física e visual dos visitantes da
comunidade de pescadores e de suas atividades.
• Promover acesso e aproximação a pororoca e ao
Pororoca, encontro entre o Rio elemento água, promover o toque.
Macaé e o mar • Facilitar a visita ao cais do Mercado do Peixe, inclusive
para as crianças
• Reduzir o acesso de veículos automotores à orla, dando
prioridade aos pedestres, facilitar o passeio e a
Passeio no Mercado, comprar peixe
contemplação.
em família
Tabela 2: Propostas. Fonte: Acervo da autora, 2020.

Com o objetivo de entrelaçar as atividades e aproximar as pessoas, na proposta de


intervenção do cais retiramos os alambrados, limite que divide e afasta a atividade pesqueira dos
visitantes, ampliamos a área do cais com um deck de madeira a um nível mais baixo que o cais,
instalamos bancas para exposição e venda do pescado e uma grande cobertura, que será detalhada
mais a frente, protege e conecta todos os elementos relacionados a comunidade pesqueira
(Apêndice 3, 4 e 5).
O Cais se amplia em uma grande praça, coberta e protegida para receber pescadores,
compradores e visitantes (fig. 97).

Figura 97: Praça do Cais com rebaixamento do Deck e proposta da nova


cobertura. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 123]

Sobre ele uma cozinha de beneficiamento, de planta quadrada (apêndice 7), seguindo os
módulos da cobertura. A fachada foi inspirada na proa dos navios pesqueiros, as grandes “vigias”
exibem o processo de beneficiamento do pescado na área interna. A estrutura feita com materiais
pré-moldados, em placa cimentícia e estrutura metálica, permitem a adequação em caso de
ampliação ou alteração de localidade. A proposta da cozinha tem como objetivo o beneficiamento e
a valorização do pescado, assim como a participação das mulheres dos pescadores no Cais (fig. 98 e
fig 99).

Figura 98: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de beneficiamento.


Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 124]

O deck, em madeira plástica, se desenvolve em diferentes


níveis e possui várias rampas de acesso, facilitando a chegada ao cais
pelos pescadores, principalmente na maré baixa, quando as
embarcações ficam a quase um metro abaixo do piso do cais (fig. 99).

Figura 99: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de


beneficiamento. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 125]

O parquinho existente ganhou uma forma mais orgânica e com elevações naturais do terreno
gramado, explorando os desníveis para a implantação de brinquedos lúdicos inspirados nos
elementos simbólicos da pesca, como redes, cordas, as cores das embarcações, eliminando o
tradicional balanço e escorrega e favorecendo a criatividade (fig. 100).

Figura 100: Praça do Mercado com parque infantil. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo
da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 126]

6.3.2. A Cobertura.

A falta de uma cobertura para o cais é um grande problema para a comunidade de


pescadores, em dia de grande calor eles acabam gastando mais com gelo para não deixar o pescado,
sua principal fonte de renda, estragar. Após fazer todas as análises e aplicação de metodologia de
pesquisa, a grande questão que ficou para esse projeto era como proteger as atividades pesqueiras,
sem “agredir” o atual edifício do Mercado do peixe e ao mesmo tempo dar visibilidade a essa
comunidade valorizando a paisagem cultural?
Além de buscar referências em outros arquitetos, duas imagens, uma da antiga Rua da Praia
(fig. 101), e outra das primeiras casas de pescadores (fig. 102), encontrada dentro do grupo do
Facebook Macaé, trouxe a luz formas simbólicas que viriam a corroborar para a construção da forma
da cobertura.

Figura 101: Foto de antes da remodelação


da Rua da Praia. Fonte: Grupo do Facebook
Macahé Antiga, S.D.

Figura 102: Casa dos pescadores na


pororoca. Fonte: Grupo do Facebook
Macahé Antiga, S.D.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 127]

Nas narrativas, escritas dentro do grupo do Facebook, por muitas vezes aparecera sobre os
belos jardins da Rua da Praia, onde muitos chegavam para brincar, passear ou simplesmente para
contemplar, e durante a fase de aplicação da metodologia, observamos que devido ao forte calor da
região sempre que existe uma arvore é possível encontrar um grupo reunido. Outro elemento
simbólico que buscamos trazer aqui é a do abrigo, da proteção, depois de passar dias, semanas no
mar a casa ganha um significado ainda maior para os que trabalham no mar. Assim, esses dois
elementos, juntos, ganharam uma forma figurada e passaram a estar presente na proposta da
cobertura do Cais, trazendo a esse lugar a função de acolhimento (fig. 103).

Figura 103: Croqui esquemático da composição da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020.

A estrutura da grande cobertura que trará proteção ao Cais (fig. 104) foi o ponto de partida.
Os pilares farão o papel do caule, com seus galhos se entrelaçando e sustentando os módulos
piramidais de 10x10m, que tem no ponto mais baixo 4m e no mais alto 7m, mantendo uma escala
mais humana. A cobertura se estender por todo Cais apontando o Mercado, porém não se conectam,
mas mantém uma relação de proximidade (Apêndice 6).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 128]

Figura 104: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020.

A proposta é de uma estrutura entrelaçada de madeira laminada colada, que começa em uma
base cimentícia engastada no píer e sobe até a cobertura fazendo releitura simbólica aos galhos das
árvores, uma película de membrana tencionada cobre toda estrutura que possui algumas aberturas,
que são preenchidas por uma malha de cabo de aço encapado, formando um sombreamento
geométrico durante o dia que lembram as redes de pesca.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 129]

Os pontos mais baixos da cobertura (fig. 105),


onde estão localizados os pilares também funcionam
como coletores das águas da chuva, onde estas são
filtradas por pedriscos e direcionadas para o rio
Macaé.
A cobertura de aproximadamente 2.300m² (fig.
106) é sustentada por doze pilares e ao redor de três
deles foram propostas grandes bancadas, um tipo de
quiosque, com bancadas semelhantes as existentes no
atual Mercado de Peixe, para que os pescadores possam
Figura 105: Croqui esquemático do sistema de coleta
usar de apoio e expor o pescado, evitando que as caixas de chuvas e filtragem. Fonte: Acervo da autora, 2020.
fiquem no chão como acontece hoje.

Figura 106: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida


com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 130]

A nova cobertura é uma proposta que pretende aliar novas tecnologias com a cultura local,
que busca os olhares estrangeiros, mas também valoriza e protege a comunidade pesqueira,
entrelaçando macaenses e forasteiros.
Propomos que os entrelaces da estrutura sejam em madeira laminada colada (MLC
ou GLULAM), uma tecnologia inovadora que une duas técnicas antigas, a colagem e a laminação de
fibras de madeira, devendo ser aplicada tratamento contra umidade. Como apresentado nas
referências a tecnologia possui alta durabilidade e resistência a umidade, podendo vencer grandes
vãos sem apoio. Outro fator de grande importância é a eliminação quase por completo dos metais
que devido ao ambiente hostil de maresia tem o tempo de vida útil reduzido sem a manutenção
adequada.

Figura 107: Croqui esquemático mostrando a fluidez e escala da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020.

Com vãos livres maiores que 14m a cobertura em MLC permite uma área mais fluida (fig.
107) no piso do Cais, facilitando o uso pelos pescadores no dia a dia. A estrutura em Madeira deverá
ser coberta com a membrana de vidro e teflon, está tem uma durabilidade em torno de 30 anos. Em
alguns trechos a membrana será interrompida por uma tela aramada feita de cabos de aço revestido
por uma capa plástica, que trará ao projeto um efeito sombreado de redes lançadas durante o dia
(fig. 108).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 131]

Figura 108: Cobertura de proteção do Cais e sombreado das


redes no piso. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.

A Membrana que envolve toda a estrutura da cobertura deverá ser em média 15% translúcida,
permitindo um efeito de iluminação no período noturno, fazendo o efeito de uma grande luminária.
Os refletores em LED deverão ser dispostos na própria estrutura (fig. 109) de madeira e no PIS,
permitido o rebatimento da iluminação na membrana (fig. 110).

Figura 109: Croqui esquemático da Figura 110: Croqui esquemático do rebatimento da


instalação dos refletores em LED. Fonte: iluminação as membranas da cobertura. Fonte:
Acervo da autora, 2020. Acervo da autora, 2020.
PONTO DE
ÔNIBUS,
INCENTIVANDO
IMPLANTAÇÃO DE O USO DE
MAIS CANTEIROS TRANSPORTE
COM ARBORIZAÇÃO. PÚBLICO AO
INVÉS
DE VEÍCULOS
PRÓPRIO.
ESPELHO D’ÁGUA
SOBRE O PISO.
AUMENTO DO APROXIMAÇÃO
PASSEIO E SIMBÓLICA DO
REDUÇÃO DA CAIXA DE CRIAÇÃO DE UMA ELEMENTO ÁGUA.
RUA, RETIRADA DOS ESPLANADA PARA
ESTACIONAMENTOS, DAR EVIDÊNCIA AO
ÁREA PRIORITÁRIA PARA EDIFÍCIO DA
PEDESTRES, DE FLUXO PREFEITURA
ESTRUTURA DE
REDUZIDO E DE BAIXA (OBRA DE PROLONGAMENTO DO
LAZER INFANTIL
VELOCIDADE NIEMEYER), ASSIM PASSEIO ATRAVÉS DE
COMO A FONTE DECK SOBRE O RIO
EXISTENTE E O MACAÉ. FAVORECENDO
CONJUNTO DE O CAMINHAR E A
BALAUSTRADA APROXIMAÇÃO COM O
COBERTURA COM MANTIDO ELEMENTO ÁGUA
ESTRUTURA
MERCADO DE ENTRELAÇADA
PEIXE EM MLC E MEMBRANA
TENSIONADA FLORESTA SOLAR,
INCENTIVANDO A
INTEGRAÇÃO
DIGITAL, PONTO
FONTE EXISTENTE
DE
E O CONJUNTO DE
CARREGAMENTO
BALAUSTRADA
DE CELULAR E DE
MANTIDO.
WIFI.

PLANO DE INTERVENÇÕES - ORLA DO CAIS DO MERCADO DE PEIXE DE MACAÉ 132


ESC.: 1/1000
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7
4 0,40mm cor 7 FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
6 0,60mm cor 7
7 0,20mm cor 7 MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
13 0,05mm cor 7

COLOR
demais cores 0,25mm

PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png

13 0,05mm cor 7

COLOR
demais cores 0,25mm

PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png

13 0,05mm cor 7

COLOR
demais cores 0,25mm

PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png

13 0,05mm cor 7

COLOR
demais cores 0,25mm

PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
FL 5

FL 5
A

B
10,00

0,15 2,35 0,15 2,27 0,16 2,27 0,15 2,35 0,15

1,90
Construção Janela com tela
em adobe. metálica para impedir
entrada de insetos.

0,10
0,20
Armário BANH. BANH.
em metal HALL DE HALL DE
FEM. MASC.

2,31
com tranca ACESSO ACESSO Defumador
10,49m² 10,49m² Freezer para
5,43m² 5,43m²

2,60

2,50
produto beneficiado

2,30
0,15

4,87
4,62

0,90
Pia para lavagem
Hall
de
mãos.
Piso em cimento
queimado
resinado.
Bancada em inox
para recepção, CORTE AA

0,20
seleção e pesagem.
Bancadas com

1,60
cuba para filetagem
12,46

12,46
e salga do pescado.
COZINHA DE
BENEFICIAMENTO

0,20
92,76m²

1,76
Bancada com
9,85

cuba em inox

1,73
para evisceração e
limpeza do pescado. Bancada para lavagem

0,20
4,00
e drenagem.

0,20

2,50
1,60
Freezer para Pesagem

1,60
resfriamento e embalagem.

0,90
0,70
do pescado limpo.

0,45
Cozinha Banh.

0,20
1,72
C C CORTE BB
FL 5 projeção pergolado FL 5

0,15
Porta veneziana
2,34 0,20 1,60 0,20 1,70 0,20 1,60 0,20 1,89 0,15 em alumínio anodizado
Defumador de na cor branca.
10,00
300kg
Tela aramada

4,50
FL 5

FL 5
A

Revestimento

2,50
cerâmico na
cor branca.

PLANTA

CORTE CC
2,30

2,00
4,50

4,50

0,20
2,60

2,00

1,60

2,00
0,22

0,22

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO


FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
FACHADA PRINCIPAL FACHADA SECUNDÁRIA TÍTULO:
PROJETO DE REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO DE PEIXE - MACAÉ/RJ
ALUNA:
MONIQUE FERRAZ VIEIRA
DATA: ORIENTADOR (A): FOLHA:
JAN/2021 DRª ETHEL PINHEIRO 05/05
CONCLUSÕES
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 139]

7. COMUNIDADES, PAISAGENS E PROJETOS. Considerações finais

Como um filme cujo roteiro propõe encontros e desencontros, são muitas as cenas que se
desenrolam nesse longa-metragem de uma pesquisa de quase dois anos, na qual o espaço urbano é
mais um ator, por vezes atuando no protagonismo e outras nos bastidores, sustentando as diversas
encenações. Nesse enredo, a comunidade assume diversos papéis: de salvação, vilania ou muitas
vezes de uma simples figuração. Porém, nesta pesquisa, a comunidade pesqueira e o Cais mostraram-
se atores de igual patamar, um conjunto conectado, de dependência mútua, como parte identitária
um do outro. Portanto, para que o objetivo de valorização da Paisagem Cultural e o fortalecimento
da comunidade pesqueira sejam alcançados, foi necessário colocar os holofotes sobre ambos e
promover a protagonismo desses atores.
Percebemos ao longo do trabalho de pesquisa que a orla do Cais do Mercado do Peixe vinha
perdendo, ao longo dos anos, seu papel de protagonista. O belo passeio do início do séc. XX, no qual
as famílias aproveitavam para desfrutar da paisagem, os amigos se encontravam ao fim da tarde, e
onde as trocas afetivas podiam ocorrer, assim como o lugar das narrativas de Tonito10, perdeu-se,
desencontrou-se, restando apenas o Mercado do Peixe que luta por meio de sua comunidade
pesqueira para se manter à luz das grandes cenas. Hoje só se passa por ali apressado, não há mais os
encontros de domingo, alguns ainda se aventuram em pescar na mureta, mas essas cenas são cada
dia mais raras e trouxeram natural degradação da paisagem, assim como das histórias.
O cais, um grande piso cimentado com muitas imperfeições, separado da cidade por gradis,
com grandes desníveis a serem vencidos, sem banheiros e nenhuma proteção contra as intempéries,
aumenta ainda mais as dificuldades da vida pesqueira – que passa vários dias além-mar, distante da
família e correndo riscos. Fatores que, juntos, desmotivam os mais jovens a continuar nessa atividade
e influenciam os mais velhos a não desejarem esse futuro para as próximas gerações; assim a tradição
e a cultura pesqueira estão se extinguindo, como a observação participante desenvolvida sobre as
atividades e sobre os usos atuais demonstrou.

10
Antônio Alvarez Parada, nascido em 1925, Professor de Química e espanhol, através de narrativas dos
habitantes escreveu sobre a história de Macaé em jornais da cidade e livros, foi fundador da Academia
Macaense de Letras, jornalista. Fonte: Clique Diário. Disponível em: https://cliquediario.com.br/cultura/maior-
memorialista-de-macae-antonio-alvarez-parada-tonito-completaria-na-proxima-quinta-feira-27-93-anos-de-
vida
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 140]

A (não tão) pacata Macaé, luta silenciosamente para manter sua cultura pesqueira diante de
todo o investimento petrolífero, a paisagem antes marcada pelos patachos hoje conta com uma
média de 15 a 30 embarcações de apoio marítimo ou offshore por dia, que prestam assistência
logística a empresas de petróleo, e ficam na área de fundeio localizada na direção do porto do
Mercado do Peixe. As redes de pesca, o odor de peixe e os pescadores foram sendo substituídos
pelas bobinas, óleo e marítimos, atraídos para profissão no mar vislumbrando altos salários.
Manter e fortalecer essa comunidade pesqueira e dar luz à memória coletiva desse grupo,
principalmente com relação a troca de experiências, à renovação dos costumes e histórias que são
transmitidas pelas narrativas através das gerações, ou seja, a união do valor da paisagem e da
comunidade foi o objetivo principal desta pesquisa, que se materializou em um projeto de
revitalização para o Cais do Mercado do Peixe.
Buscamos com este trabalho fortalecer a importância da compreensão das ações coletivas,
cotidianas na construção dos territórios culturais e de suas territorialidades e estes como
direcionadores das intervenções de revitalização em áreas urbanas. Demonstramos como o Cais do
Mercado do Peixe se difere em muito da orla do Rio Macaé, principalmente em sua dimensão
simbólica, uma Paisagem cultural configurada como um produto desse grupo de pescadores, com
suas representações simbólicas, que se transmitiram geração pós geração.
Ao longo de todo o trabalho apresentamos as relações entre a comunidade de pescadores e
o Lugar do Cais do Mercado de Peixes, dois atores que assumiram inicialmente o papel principal dos
nossos estudos, por meio do mapeamento de atributos da memória coletiva, para alcançar a
proposta mais adequada como resposta das demandas locais. Para isso, apoiamos nos métodos
etnotopográficos, analisando a dimensão subjetiva desse Lugar de vivência comunitária dos
pescadores. Porém, durante o processo de pesquisa, fomos surpreendidos pelo período de
isolamento social devido à Pandemia da COVID-19, fator que retirou das ruas e dos espaços públicos
grande parte das pessoas.
O deslocamento ficou restrito somente às atividades essenciais. Para dar prosseguimento à
pesquisa, utilizamos as redes sociais e descobrimos um outro ator, dessa vez coadjuvante: os
macaenses e moradores antigos da cidade que se reúnem nos grupos no Facebook. Tal descoberta
foi de grande importância para compreender as relações que os macaenses tinham com a Rua da
Praia e com a comunidade pesqueira. Foi possível compreender que assim como o rio e o mar se
encontram diante do Cais, a necessidade mais primitiva desses atores era a do ENTRELAÇAR, com o
passado, com a paisagem, com a cultura, com os vendedores, com o pescado, com os amigos, com
os forasteiros, consigo mesmo. É latente pensar que ao descortinar essa necessidade essas
comunidades já tenham pressentido que estão ameaçadas a desaparecerem se não preservarem sua
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 141]

cultura e suas memórias, portanto a contribuição deste trabalho de revitalização do Cais do Mercado
do peixe é essencial para promover meios de agenciar tal “entrelace” entre a comunidade — local e
forasteira, hoje bastante presente — e essa Paisagem Cultural mantida por memórias, ações e uma
rotina que demarca o valor do Cais.
Direcionados pelo objetivo principal desse trabalho, o de fortalecer o valor de paisagem
cultural, propondo a Revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé por meio do potencial
comunitário e memorial do Mercado, buscou-se uma resposta projetual voltada à compreensão
sensível do ambiente, levando em consideração as necessidades básicas e os valores simbólicos dessa
comunidade, contudo progressista, reativando territórios e buscando, nas ambiências locais,
demonstrar o valor da manutenção da pesca. Ao decidir que a comunidade de pescadores e o Cais
do Mercado do peixe seriam os objetos principais desse trabalho a escolha da metodologia de cunho
etnotopográfico foi fundamental para o processo projetual. Não seria possível compreender as
necessidades cotidianas de uma comunidade pesqueira sem nos incorporarmos daquela ambiência.
Ao “croquisar” o arquiteto se coloca em cena em conjunto com os acontecimentos, é um olhar de
dentro, identificado, aproximado e sensível, buscando sempre as singularidades dentro de um todo.
O croqui etnográfico mostrou-se muito eficiente na compreensão entre a comunidade pesqueira e o
espaço do Cais, esse modo de traduzir através de croquis é muito caro a nós arquitetos e traz em
conjunto muitas informações subjetivas que auxiliam e direcionam o processo projetual. Em
conjunto com as narrativas que fizeram emergir as memórias, as relações temporais entre homem e
espaço, ambos formam um rico roteiro para o processo de projeto.
Por outro lado, a etapa de pesquisa sofreu um grande impacto devido a COVID-19 e a internet
através do Facebook se mostrou uma ferramenta eficaz e auxiliou ao complemento dessa fase
exploratória por meio das narrativas, nas quais surgiram os elementos visíveis e invisíveis, simbólicos,
os “ancoradouros de memória” (CANDAU, 2011) para essa comunidade, o que corroborou na
compreensão da relação espacial do macaense com a orla da Rua da Praia e o Mercado do peixe. A
fase de projeto também foi impactada pelo distanciamento social do COVID-19, a adaptação as novas
rotinas, a falta de encontros presenciais implicou na falta de discussões aproximadas sobre as
propostas apresentadas, principalmente com o grupo de pescadores, o que era a intenção inicial. As
dificuldades de desenvolvimento da estrutura e até mesmo o dimensionamento da área de projeto
levaram mais tempo que o esperado para serem delimitados, fatos que afetaram o desenvolvimento
mais aprofundado do projeto.
Por vezes quando uma cidade cresce em busca do progresso, os pequenos grupos lutam para
manter sua história e suas tradições, a etapa exploratória desse trabalho trouxe à superfície a força
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 142]

ainda pulsante das pequenas tarefas cotidianas de uma comunidade pesqueira que torna o Cais do
Mercado do peixe um Lugar único. Ao unir os potenciais comunitários e memoriais do Mercado do
Peixe o projeto de revitalização proposto previu atender as necessidades essenciais dessa
comunidade pesqueira, com um cais em um nível mais baixo, uma cobertura para proteção das
atividades diárias do cais e uma cozinha de beneficiamento que possa agregar mais valor ao pescado,
mas também foi uma forma de atrair novos olhares, externos, interessados nesses pequenos valores
comunitários, buscando colocar em foco esse pequeno grupo e o Lugar do Cais e assim fortalecer o
valor de paisagem cultural.
Esperamos que esse trabalho possa contribuir para as discussões de projetos de revitalização
de áreas urbanas em centros históricos de cidades que, como Macaé, foram afetadas por mudanças
drásticas promovidas por grandes agentes econômicos, a fim de que considerem, cada vez mais, os
saberes e as relações cotidianas que os pequenos grupos mantêm com seus Lugares, onde se
(re)constroem e se fortalecem, assim como as pequenas histórias que despertam os desejos de
fortalecer valores cotidianos.
BIBLIOGRAFIA
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 144]

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APÊNDICES
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 150]

OBSERVAÇÃO PARTIPANTE
(APÊNDICE 1)

Dono de embarcação de pescado


Cais do Mercado
04/02/2020
_Oi Moça, a senhora é compradora?
_ Não.
_Ah, pensei que fosse.
O Bom de chegar cedo por aqui é que pega logo os primeiros compradores, tem dia que volto com
o barco cheio de pescado, principalmente camarão. Tem diminuído muito os compradores. Ai
preciso congelar e voltar no outro dia pra vender.
_ Você é de Macaé?
_Não, de Bom Jesus.
_E Por que vem pra cá?
_ Porque esse é o único cais da região que é municipal, aí não precisamos pagar sabe?
_Entendi, e quantos dias esteve fora?
_Dessa vez só uns dois dias, mas já fiquei 6. Só volto quando tenho pesca o suficiente, temos ido
cada vez mais distante buscar peixe.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 151]

OBSERVAÇÃO PARTIPANTE
Subsecretário de pesca
Cais do Mercado
05/02/2020
_ Oi menina, você está entrevistando?

_ Não, sou arquiteta, faço mestrado e vou propor um projeto para essa área do Mercado de Peixe.

_ Ah, mas já temos projeto, vai começar a construir.

_ Que legal, você tem aí com você?

_Claro, vou te mostrar.

Ele procura no celular e me mostra uma planta de uma cobertura para a área do cais.

_ Que bom, que estão vendo de cobrir a área, eles estão precisando mesmo.

_ Estamos sempre vendo com eles o que precisam, mas sabe como é né? A verba é curta. Oh
qualquer coisa me procura, fico aqui no Mercado mesmo.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 152]

OBSERVAÇÃO PARTIPANTE

Vendedor de pescado
Mercado de peixe
07/11/2019

_ Oi, tudo bem? Está vazio hoje né?


_ Dia de semana costuma ficar assim, vem mais gente pela manhã, principalmente pessoal de
restaurante, a tarde é mais entrega. Agora fim de semana é uma loucura.
_ Sério? Não sabia.
_ É, sim. Vem a família inteira, vem turista, você vê de tudo por aqui.
_ E no cais, quais os dias que tem mais movimento?
_ Ah, no cais começa cedo, mas ali é só durante semana, chega muito peixe quarta e quinta, sexta o
movimento já é fraco. A partir de umas 3h da manhã eles já começam a chegar.
_ Entendi, posso tirar uma foto do pescado? Acho tão bonito.
_ Claro, vou segurar um pra você, pode tirar comigo também. (Riso)
ANEXOS
PROJETO DE ARRUAMENTO DA VILLA DE MACAHÉ- 1840
FONTE: BIBLIOTECA NACIONAL
MAPA PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO - 1881
FONTE: ARQUIVO NACIONAL
MAPA GERAL MACAÉ - 1858
FONTE: ARQUIVO NACIONAL
MAPA LOCALIZAÇÃO DAS DOCAS - 1896
FONTE: ARQUIVO NACIONAL
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Estado do Rio de Janeiro


Ferrovia
Prefeitura de Macaé ESPÍRITO SANTO TRAJAN O DE MORAES CONCE IÇÃO D E MACA BU

Secretaria Municipal de Planejamento Setores Viarios Estruturais


MINAS GERAIS
CARAPE BUS

GLICÉRIO
GeoMacaé FRADE
MACAÉ
BOM JARDIM

Eixo Estrutural de Serviço

ZONEAMENTO URBANO E SETORES


RIO DE JANEIRO MACA É

Rodovias SÃO PAULO


SANA
NOVA FRIB URGO
CACHOEIROS DE MACAÉ
Fonte: Instituto Brasileiro de Geográfia e Estatística - IBGE
CÓRREGO DE OURO
Logradouros
Procuradoria Geral do Município de Macaé
Secretaria Municipal Especial de Planejamento e Gestão - SECPLAGE
Coordenadoria de Planejamento Urbano e Rural - COORDEPLAN
Secretaria Municipal de Habitação-SEMHAB
Limite Municipal
RIO DAS OS TRAS

Elaboração: Secretaria Municipal de Planejamento CASIMIRO DE A BREU

GeoMacae Hidrografia PARANÁ

Obs.: Zoneamento Atualizado em 2014-Última Atualização


Atlas Ambiental da
Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
Realização Patrocínio

1
Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
Realização Patrocínio

Atlas Ambiental da
Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

1a Edição

Editora Nova Tríade do Brasil Ltda.

Rio de Janeiro – RJ
2015

1
Copyrigth: 2015. Editora Nova Tríade do Brasil Ltda.

FICHA TÉCNICA
Coordenador do Projeto Macaé Rio Sustentável Apoio à Revisão
João Bandeira de Freitas Ana Lucia Penha
Denise Motta
Editor Responsável Fernando Marcelo Manhães Tavares
Alexandre Esteves Henrique Rosa
Marcelo Zampieri
Coordenador do Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé Márcia Alfradique
Leonardo Esteves de Freitas Martinha Pimentel
Sávio Augusto Magaldi
Textos
Carolina Lima Vilela Patrocínio
Flavio Souza Brasil Nunes Petrobras
Leonardo Esteves de Freitas
Stella Mendes Apoio Técnico e Institucional
Prefeitura Municipal de Macaé e Agenda 21 de Macaé
Mapas
João Crisóstomo H. Oswaldo Cruz - Coordenação
Ana Camila da Silva
Giselle Borges Freitas, Leonardo Esteves de
Flavio Souza Brasil Nunes Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé.
Leonardo Esteves de Freitas, Flavio Souza Brasil Nunes,
Fotografia João Crisóstomo H. Oswaldo Cruz, Carolina Vilela, Stella Mendes,
Rodrigo Romano Ana Camila da Silva, Giselle Borges
Arquivo Mosaico Ambiental
Arquivo Secretaria Municipal de Ambiente de Macaé 1a ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Tríade do Brasil Ltda.

Ilustração Bibliografia. ISBN 978-85-63297-05-1


Marcus Moraes
1. Rio Macaé. 2. Atlas brasileiros. 3. Bacia hidrográfica 4. Macaé (RJ).
Projeto Gráfico e Diagramação
Nilmon Filho
Agradecimentos: os autores agradecem à Petrobras pelo patrocínio ao
Capa Projeto Macaé Rio Sustentável, que possibilitou a edição deste Atlas.
Nilmon Filho
João Crisóstomo H. Oswaldo Cruz Foto da capa: Secretaria Municipal de Ambiente de Macaé (2006)

2 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


LISTA DE SIGLAS, ABREVIAÇÕES E CONVENÇÕES

APA – Área de Proteção Ambiental


Art. – Artigo
CBH Macaé Ostras – Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé e Ostras
et al. – (e outros)
etc. – Et cetera (e as demais coisas)
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
Inea – Instituto Estadual do Ambiente
Km – Quilômetro(s)
Km2 – Quilômetro(s) quadrado(s)
MMA – Ministério do Meio Ambiente
PNM – Parque Natural Municipal
Rebio – Reserva Biológica
RH – Região Hidrográfica
UC – Unidade de Conservação

3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5
INTRODUÇÃO 6
O RIO MACAÉ 7
UNIDADE I - CONCEITOS BÁSICOS 8
BACIA HIDROGRÁFICA 9
DIVISORES DE DRENAGEM 10
CURVAS DE NÍVEL 10
UNIDADE II CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 12
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 13
COMPARTIMENTAÇÃO DA BACIA DO RIO MACAÉ 16
REDE HIDROGRÁFICA DA BACIA DO RIO MACAÉ 21
DIVISÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA 28
UNIDADE III CARACTERÍSTICAS GEOBIOFÍSICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 30
RELEVO 31
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA 34
CLIMA 38
SOLOS 42
COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA 44
UNIDADE IV CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 52
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 53
ATIVIDADES ECONÔMICAS 55
INFRAESTRUTURA 58
DEMOGRAFIA 62
ABASTECIMENTO DE ÁGUA 64
ESGOTAMENTO SANITÁRIO 66
COLETA DE LIXO 68
UNIDADE V GESTÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 70
CBH MACAÉ OSTRAS 74
UNIDADE VI CIDADE DE MACAÉ 76
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO 77
POPULAÇÃO 78
EVOLUÇÃO URBANA PORÇÃO CENTRAL – 1956 A 2013 82
ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 88
ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 89
COLETA DE LIXO NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 90
GLOSSÁRIO 91
ATIVIDADES PROPOSTAS 92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96

4 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


APRESENTAÇÃO

O
Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé foi ela-
borado como uma das principais ações do Projeto Macaé Rio
Sustentável, realizado pelo Instituto de Planejamento Urbano
e Gestão Ambiental (IPGA) e patrocinado pela Petrobras.
A construção desse atlas contou com a parceria da Agenda 21 e da
Prefeitura Municipal de Macaé, através das Secretarias Municipais de
Educação e de Ambiente.

O objetivo principal do Projeto Macaé Rio Sustentável é fortalecer a


gestão da bacia hidrográfica do rio Macaé, a partir da promoção de prá-
ticas de conservação e uso racional dos recursos naturais. As principais
formas de atingir esse objetivo são a mobilização da população que vive
na bacia, por meio de um programa de educação ambiental, e a restau-
PORÇÃO INFERIOR DO RIO MACAÉ, COM A SERRA DE MACAÉ AO FUNDO.
ração de áreas degradadas situadas às margens do rio Macaé.
sala de aula. Aos alunos, ele representa uma rica fonte de informação, a partir da qual o conhecimen-
O Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé é um componen- to sobre a construção do espaço pode ser incrementado.
te central do programa de educação ambiental. Construído com base
na atualização e complementação dos conhecimentos adquiridos nas Além da versão impressa, o Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé possui uma versão
fases anteriores do Projeto Macaé Rio Sustentável, este Atlas tem como na Internet, disponível no endereço www.macaeriosustentavel.com.br. O Atlas na Internet permite
objetivos qualificar e ampliar a discussão sobre a bacia hidrográfica do interação, pois disponibiliza camadas de informações individualizadas, possibilitando a criação de
rio Macaé, especialmente a partir do apoio às ações dos professores em mapas de acordo com a necessidade do usuário.

Expedição Científica Macaé Rio Sustentável


Este Atlas foi elaborado a partir de diferentes fontes de conhecimento. As informações aqui conti-
das foram obtidas em instituições públicas, como IBGE e o Ministério do Meio Ambiente. Porém,
uma das fases mais interessantes do seu processo de elaboração foi a Expedição Científica Macaé
Rio Sustentável, realizada em 2009. Nessa expedição, um grupo de pesquisadores percorreu o rio
Macaé desde áreas próximas à sua nascente, onde o rio ainda é bem estreito e tem um volume
pequeno de água, até o ponto onde ele encontra o mar, na cidade de Macaé. Naquela ocasião, foram
levantadas informações sobre as características ambientais desse rio e de sua bacia, incluindo re-
levo, ecossistemas e comunidades. Foi possível constatar que a bacia do rio Macaé é composta por
PARTE SUPERIOR DA BACIA DO RIO MACAÉ, MOSTRANDO AS NASCENTES DESSE
RIO E O PONTO ALCANÇADO PELA EXPEDIÇÃO MACAÉ RIO SUSTENTÁVEL. ambientes bem diferentes. Nas páginas desse Atlas, você poderá perceber muito bem isto.

5
INTRODUÇÃO
Quando tentamos compreender os elementos que compõem o espaço à nos- A resposta para essa pergunta será trabalhada juntamente com diversas outras questões ao longo do
sa volta, é preciso ter em mente que muitas coisas não podem ser explicadas Atlas, mas a simples observação da figura abaixo permite notar que a área da bacia hidrográfica do rio
só pelos fatores locais. Às vezes, os problemas da nossa cidade são resultados Macaé é muito maior do que as áreas do município e do centro urbano de Macaé. Este centro urbano,
de situações que têm origem em outros lugares. A água dos rios é um bom comumente chamado de cidade de Macaé, está no “final do caminho” do rio. Antes de aqui chegar, ele
exemplo disso, pois leva para lugares distantes aquilo que chegou a esse rio passa por outros municípios e núcleos urbanos e suas águas são usadas por outras pessoas.
em algum local por onde o mesmo passou anteriormente, como a poluição.
Sendo assim, percebe-se que os segredos que queremos desvendar sobre a qualidade e a quan-
Na vida da cidade, muitas vezes não nos damos conta disso e quase não tidade da água utilizada por quem mora na cidade, depende do que está acontecendo em regiões
refletimos sobre alguns elementos da natureza que são fundamentais para distantes. Podemos pensar, então, que as águas que chegam na cidade de Macaé já são “cheias de
a manutenção do nosso modo de vida. Neste sentido, destaca-se a seguinte histórias para contar”. Essas “histórias” vão poder nos ajudar a entender melhor as características
questão: de onde vem a água doce e limpa para o consumo humano? desse espaço urbano.

MAPA ILUSTRATIVO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ.

6 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


É por isso que identificar o caminho que a água
do rio Macaé percorre, localizar suas nascentes,
reconhecer os ambientes que este rio atra-
vessa e saber analisar os múltiplos usos dos
seus recursos hídricos estão entre os objetivos
deste Atlas. Para tanto, além de mapear a bacia
hidrográfica do rio Macaé por meio de diferen-
tes abordagens, será preciso conhecer melhor
alguns conceitos específicos sobre o tema.
Assim, espera-se que todos possam fazer boas
viagens geográficas através destas páginas,
despertando interesses ainda maiores sobre os
sistemas ambientais que nos cercam.

O RIO MACAÉ
O rio Macaé desempenha, atualmente, um papel
de grande importância para o desenvolvimento
socioeconômico do Brasil. Suas águas abaste-
cem mais de 200 mil habitantes do município
de Macaé e grande parte das atividades rela-
cionadas à extração de petróleo no país. Possui
ainda papel histórico. Em sua foz, teve início a
ocupação da região de Macaé, a partir de uma
comunidade de pescadores.

Mas para que possamos conservar este rio e


garantir que ele continue a exercer essas fun-
ções, é fundamental conhecer as características
ambientais da sua bacia hidrográfica. Afinal,
quem não conhece não conserva.

7
UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS

8 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


CONCEITOS BÁSICOS
BACIA HIDROGRÁFICA
O que é uma bacia hidrográfica? Qual é a diferença entre o rio e
a sua bacia?

Os rios são formados pela concentração do fluxo de água. A


água dos rios vem de áreas no seu entorno. E as bacias são o
conjunto de toda a área que leva água para um certo rio. Então,
podemos dizer que bacia hidrográfica ou bacia de drenagem é
toda a área da superfície terrestre onde ocorre o direcionamento
das águas das chuvas para um rio e seus afluentes.

Na figura ao lado, é possível compreender melhor esses concei-


tos. Toda a área destacada corresponde à bacia hidrográfica do
rio X. Toda a chuva que ali cair será levada pelo rio até o ponto
onde esse rio “acaba”, isto é, encontra outro rio ou o mar. Este
ponto é também chamado de foz do rio. A área mais escura é a
bacia hidrográfica do rio Y. Perceba como a foz deste rio é exata-
mente o ponto onde ele encontra o rio X. O rio Y é um afluente do
rio X e a sua bacia hidrográfica é uma sub-bacia da bacia do rio
X. A bacia hidrográfica de um rio com grande volume de água é
formada por várias sub-bacias. O rio Macaé, que nasce na serra
de Friburgo e tem a sua foz no mar, é um exemplo disso.

FIGURA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO X (MARCADA EM AMARELO), COM A SUB-BACIA DO RIO Y


O conceito de bacia hidrográfica pode ser melhor entendido se (DELIMITADA EM LARANJA).
o compreendermos como um sistema. De forma simples, um
sistema pode ser definido como um conjunto de elementos que
estão em interação. Se um elemento qualquer for alterado, have- rio pode ficar barrenta. Podemos ver assim que, numa bacia hidrográfica, a água é o fator dinâmico
rá mudanças em outros elementos, alterando a condição inicial. desse sistema, isto é, o principal mecanismo de transporte de elementos entre as diversas partes do
Assim, para entender o espaço dentro de uma bacia, é importan- sistema até a sua foz.
te considerar que seus elementos são o resultado da interação
de muitos outros. Devemos compreender, ainda, que o sistema hídrico de uma bacia está diretamente relacionado com
a forma e a dinâmica do seu relevo, com o seu regime de chuvas, com a sua cobertura vegetal, com
Por exemplo, se houver um desmatamento em uma área pró- as características físicas do solo e com o uso da terra por parte da sociedade que habita a área. O
ximas às nascentes de um rio, a erosão do solo pode provocar sistema de uma bacia hidrográfica tem toda sua dinâmica associada a elementos naturais e sociais
efeitos que serão observados em áreas distantes, pois a água do que devem ser analisados de forma integrada e não isoladamente.

9
DIVISORES DE DRENAGEM
Quando a chuva atinge a superfície da terra, que caminho ela faz? Para qual bacia de drena- Olhando a figura da página anterior, observa-se que as linhas pontilha-
gem ela irá? Para responder essa pergunta, é importante conhecer o conceito de divisores das (que são linhas imaginárias) marcam divisores de água. As águas
de água ou divisores de drenagem. São eles que delimitam as bacias hidrográficas. Esses que caírem no interior da linha amarela seguirão para o rio X, enquanto
divisores são definidos por uma linha que separa as águas das chuvas que caem sobre uma as águas que precipitarem fora desta linha seguirão para outros rios
ou outra bacia. São eles que definem o caminho da água na superfície. Portanto, os diviso- não demarcados na figura. Já as águas que caírem dentro da linha la-
res de águas seguem uma linha imaginária que se estende ao longo dos pontos mais altos ranja seguirão para o rio Y, enquanto àquelas que caírem fora seguirão
do relevo, condicionando todo o escoamento das águas pluviais e direcionando-as para as para outros rios, dentro ou fora da bacia do rio X, dependendo de onde
diferentes bacias hidrográficas. ocorrer a chuva.

CURVAS DE NÍVEL
Curvas de nível são linhas imaginárias ex-
pressas em mapas que unem os pontos de
mesma altitude. Assim, diferentes curvas
de nível mostram as distintas altitudes
existentes na realidade e nos ajudam a
entender as formas do relevo nos mapas
topográficos. Elas também auxiliam a ver a
declividade do terreno. Na representação
das áreas íngremes, as curvas de nível
aparecem bem próximas umas das outras.
Os terrenos com declividade mais suave
ou plana são representados por curvas de
nível mais espaçadas. Por meio delas, é
possível entender as variações do relevo,
possibilitando que se conheça a declivida-
de do terreno, mesmo sem imagens em
três dimensões.

Geralmente, em um mapa, usa-se como


referência a altura média do mar para se
traçar as curvas de nível. Desta forma,
uma curva de nível de 100 metros mostra
os pontos do relevo que estão 100 metros
PICO DO FRADE, PONTO CULMINANTE DO MUNICÍPIO DE MACAÉ.

10 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


FIGURA DE CURVAS DE NÍVEL
REPRESENTANDO O PICO DO FRADE,
SITUADO NO MUNICÍPIO DE MACAÉ

acima do nível do mar, en-


quanto a curva de nível de
150 metros mostra os pon-
tos que estão a 150 metros
acima desse nível.

Veja a figura que representa


as curvas de nível do pico
do Frade. Repare como o
topo do morro é representa-
do por curvas isoladas, que
mostram a sua forma.

11
UNIDADE II
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ

12 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa da América Latina, mostrando o Brasil e o
estado do Rio de Janeiro, onde está localizada a
bacia hidrográfica do rio Macaé

CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BACIA


HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
Com área aproximada de 1.710 km2 (171 hectares) a bacia hidrográfica do rio Macaé
drena uma porção significativa do Estado do Rio de Janeiro, encontrando-se inteira-
mente inserida no território fluminense.

Toda a água da chuva e dos rios que estão dentro dos seus limites convergem para a
foz desse rio, localizada no litoral da cidade de Macaé. As águas da chuva que caem
fora deste limite convergem para outras bacias hidrográficas, a não ser que ocorra a
transposição das águas de outra bacia para ela (ver box da página 26).

Portanto, podemos afirmar que a qualidade e a quantidade de água que chega à


foz do rio Macaé depende do que está acontecendo nas áreas mais altas da bacia.
Todos os impactos ambientais que o rio sofrer ao longo do seu curso serão refleti-
dos, de alguma forma, em sua foz, situada na cidade de Macaé. Observando a carta
imagem da bacia do rio Macaé, é possível perceber que ele recebe água de outros
rios de grande importância, como o rio Bonito, o rio Sana e o rio São Pedro. Assim,
para entendermos os processos que ocorrem nas proximidades de sua foz, temos
que considerar a qualidade da água desses outros rios. Portanto, as características
do rio Macaé junto à sua foz vão depender de como as pessoas que vivem na bacia
hidrográfica do rio Macaé, que inclui a bacia desses outros rios, constroem o espa-
ço, isto é, que atividades praticam; o que despejam nas águas; como conservam a
vegetação local; entre outras coisas.

13
Mapas de Localização da Bacia do Rio Macaé no Estado do Rio de Janeiro

14 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Carta Imagem da Bacia do Rio Macaé

15
COMPARTIMENTAÇÃO DA
BACIA DO RIO MACAÉ
Quando observamos toda a área da bacia do rio
Macaé, podemos perceber que ela é formada por
diferentes situações de relevo. Por isso, é possível
dividi-la em três partes. Cada uma delas representa
o que podemos chamar de compartimentos básicos
da bacia. São elas: porção superior, porção média
e porção inferior. Essas áreas são cruzadas pelo
alto curso, médio curso e baixo curso do rio Macaé,
respectivamente.

A porção superior, onde estão as principais nascen-


tes, representa a parte mais alta, onde as primeiras
águas se juntam e dão origem ao rio. Ela se localiza
no planalto da serra do Mar, no município de Nova Fri-
burgo. A porção média compreende as áreas onde o
rio tem um grande desnível, isto é, desce em encostas
íngremes em direção à baixada. Está, assim, situada
nas escarpas da serra do Mar, e apresenta grandes
variações de altitude, pois compreende áreas altas
RIO MACAÉ NA PARTE ALTA DE SUA BACIA.

16 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Compartimentação da bacia hidrográfica do rio Macaé

17
PORÇÃO SUPERIOR DO RIO MACAÉ, PRÓXIMO À NASCENTE.

das montanhas do município de Nova Friburgo, passando


por Casimiro de Abreu, até áreas mais baixas em Macaé. A
parte inferior e mais ampla situa-se onde o rio alcança as
áreas baixas, no litoral macaense, banhado pelo Oceano
Atlântico. Nessa parte, o rio corre em áreas planas, sem
grande variação do relevo. Grande parte do rio Macaé nes-
se trecho encontra-se retificado (ver box da página 20).

Tudo isso pode ser melhor compreendido quando ob-


servamos o Perfil Longitudinal do rio Macaé, que pode
ser visto no gráfico a seguir. Feito com base em dados

18 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


obtidos na expedição científica realizada para a elaboração deste Atlas, ele mostra
como o relevo varia ao longo do caminho que a água faz. Para a elaboração do Perfil, foi
registrada a altitude em diferentes pontos do rio. Observe como rio Macaé nasce em
áreas altas na sua porção superior, sofre um grande desnível na sua porção média e
segue plano na parte baixa.

Isto nos ajuda a pensar que, para melhorar a gestão do município de Macaé, é impor-
tante estabelecer relações mais próximas com as cidades que estão na parte alta da
bacia (nas suas porções superior e média), pois, devido à dinâmica hidrográfica, muitas
vezes elas têm influência mais decisiva para Macaé do que os seus vizinhos mais próxi-
mos, como Rio das Ostras.

CORREDEIRAS TÍPICAS DO TRECHO MÉDIO DO RIO MACAÉ.

RIO MACAÉ, NO TRECHO ONDE FOI RETIFICADO, FOZ DO RIO MACAÉ, JUNTO AO OCEANO AFLUENTE DO RIO MACAÉ, NA PORÇÃO INFERIOR CURVA DO RIO MACAÉ EM SUA PARTE INFERIOR,
NA PORÇÃO INFERIOR DE SUA BACIA. ATLÂNTICO. DE SUA BACIA. ANTES DA RETIFICAÇÃO.

19
Retificação do rio Macaé e a degradação de sua bacia hidrográfica
A parte montanhosa da bacia hidrográfica do rio Macaé apresenta boas condições am- Áreas de retenção das águas foram reduzidas e brejos e lagoas drenados, o que permi-
bientais. Suas encostas são dominadas por ecossistemas conservados e os rios possuem tiu a ocupação e a utilização de áreas anteriormente sujeitas à inundações, valorizando
água de boa qualidade. Há problemas, como desmatamento, lançamento de esgoto sem terras para a produção agropecuária. As águas dos rios ganharam maior velocidade,
tratamento nos corpos hídricos, queima de lixo, turismo predatório, entre outros. Porém, transportando mais rapidamente os sedimentos em direção à foz do rio Macaé, resultan-
são pouco representativos no contexto da bacia hidrográfica. do em maior erosão das margens. Como consequência, ocorreu o assoreamento deste
rio na sua porção final, onde está o núcleo urbano de Macaé.
Já na parte mais baixa, a situação é diferente. O rio Macaé cruza uma extensa planície flú-
vio-marinha (formada por sedimentos provenientes dos rios e do mar), que sofreu diversas A diminuição da profundidade do rio aumentou a frequência e intensidade das enchentes
intervenções humanas ao longo da história, como desmatamento sistemático e formação na parte final da bacia do rio Macaé, gerando grandes transtornos para a cidade, incluin-
de pastagens, aterro e drenagem de brejos e lagoas e poluição dos corpos hídricos. do prejuízos materiais e, às vezes, perda de vidas humanas.

Um impacto de grandes proporções foi a “retificação” de rios que cruzam a planície, Outra importante consequência da retificação dos rios situados na planície foi a elimi-
incluindo o Macaé e seu principal afluente da porção inferior, o rio São Pedro. Esses nação de ecossistemas, como florestas e manguezais situados nas margens, brejos e
rios, que eram sinuosos, foram retificados e canais retilíneos foram rasgados por obras alagados localizados na planície e remansos e reentrânicias existentes dentro do rio, que
realizadas pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) e que garantiam a conservação de diferentes espécies aquáticas. Este conjunto de ações redu-
tiveram início na década de 1940. Este processo alterou profundamente o comportamen- ziu fortemente a biodiversidade da planície cortada pelo rio Macaé, eliminando muitas
to hidrológico dos rios. espécies vegetais e animais.

É importante observar que na porção inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé, assim
como na porção média, também existem montanhas. É o caso das localidades do Sana,
Frade ou Glicério, muito apreciadas pela beleza de suas montanhas, picos e cachoeiras.
Essas montanhas fazem parte da serra do Mar e abrigam as nascentes de rios e córregos
afluentes do rio Macaé, como os rios Sana e São Pedro. Porém, esses afluentes desem-
bocam no Macaé quando o mesmo está descendo a serra do Mar (caso do rio Sana) ou
quando o Macaé já está cruzando a planície que marca a parte inferior de sua bacia (rio
São Pedro). Portanto, essas montanhas são consideradas como partes integrantes da
porção média e inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé porque os rios que nascem
nessas montanhas desembocam no médio ou no baixo cursos do rio Macaé.

Porém, se olharmos a bacia hidrográfica do rio São Pedro isoladamente, as áreas


montanhosas de Glicério e Frade devem ser consideradas como integrantes da por-
ção superior. Afinal, compõe a parte mais elevada desta bacia. Já as áreas no entorno CORREDEIRAS NO RIO SANA, O PRINCIPAL AFLUENTE DO
do trecho final do rio São Pedro, antes deste rio desembocar no rio Macaé, compõem MÉDIO CURSO DO RIO MACAÉ. APRESENTA CORREDEIRAS
PORÇÃO MÉDIA DA BACIA DO RIO MACAÉ, ONDE OS RIOS TÍPICAS DA PORÇÃO MÉDIA DA BACIA DO RIO MACAÉ, ONDE
a porção inferior da bacia do rio São Pedro. SANA E MACAÉ DESCEM A SERRA DO MAR. OS RIOS SANA E MACAÉ DESCEM A SERRA DO MAR.

20 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


REDE HIDROGRÁFICA DA BACIA DO RIO MACAÉ
Cada uma das partes do mapa abaixo, representadas por cores e números diferen- Juntas, todas essas partes formam a bacia hidrográfica do rio Macaé. Os maiores afluentes
tes, corresponde a uma sub-bacia do rio Macaé, ou seja, é a bacia hidrográfica de são os rios Bonito, Sana e São Pedro, que lançam suas águas, respectivamente, nos alto,
um afluente. médio e baixo cursos do rio Macaé.

Mapa de sub-bacias da bacia hidrográfica do rio Macaé

21
Rede hidrográfica da porção superior da bacia do rio Macaé
Olhando com mais detalhes para a porção superior da bacia, percebemos que afluentes de porte significativo con- Esses rios têm um papel muito importante na qualidade das águas
tribuem para o rio Macaé. Destacam-se os rios Bonito, Boa Esperança e das Flores e os córregos do Macuco e San- do rio Macaé, pois eles nascem e drenam áreas onde a vegetação
tiago. Todos esses afluentes lançam suas águas diretamente no rio Macaé, ainda no município de Nova Friburgo. é bastante preservada e, por isso, são rios muito limpos. Reparem
como poucas dessas sub-bacias atravessam áreas urbanizadas.

Mapa de sub-bacias do alto curso da bacia hidrográfica do rio Macaé

22 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de sub-bacias do
médio curso da bacia
hidrográfica do rio Macaé

Rede hidrográfica da porção


média da bacia do rio Macaé
Na parte média da bacia, a maior sub-bacia é a do rio Sana,
que drena áreas da margem esquerda do Macaé, incluindo as
localidades do Sana e Barra do Sana. Há ainda os córregos do
Fundão, do Colégio, d’Anta, Areia Branca, Tenai e Ribeirão da
Luz e o rio Ouriço.

Bacias hidrográficas
vizinhas à bacia do rio Macaé
Para compreendermos como a bacia do rio Macaé se
situa em um contexto mais geral, é interessante conhe-
cer a sua relação com as bacias hidrográficas vizinhas.
A bacia hidrográfica do rio Macaé faz divisa, ao sul, com
a bacia do rio São João e ao norte com bacias hidro-
gráficas dos rios Grande, Macabu e Imbé. Sua porção
superior, a oeste, faz divisa com a bacia do rio Macacu,
cujas águas desembocam na Baía de Guanabara. A
porção inferior é delimitada pelo oceano ou por bacias
de menor porte, que drenam diretamente para o mar.

23
Mapa de sub-bacias do baixo curso da bacia hidrográfica do rio Macaé

Rede hidrográfica
da porção inferior da
bacia do rio Macaé
Já na área de baixada, diversos rios e
seus tributários desembocam no rio
Macaé, como o canal das Pedrinhas.
Nessa parte da bacia, o maior afluen-
te é o rio São Pedro, que nasce nas
proximidades do pico do Frade. Há
diversos tributários do São Pedro que
são importantes por serem rios de porte
grande ou por passarem dentro de
áreas urbanas. Entre estes, os principais
são os rios da Peroba, Grumari, Trapiche
e do Ouro, além do córrego das Aduelas.
Após o encontro com o São Pedro, o rio
Macaé ainda recebe as águas de peque-
nos afluentes, já nas proximidades da
foz, e água de canais artificiais, como o
Macaé – Campos e o Virgem Santa (ver
box da página 25)

24 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Canais artificiais da
bacia hidrográfica do rio Macaé FONTE: APERJ - PRESI-
DÊNCIA DE PROVÍNCIA.
PLANTA DA DIREÇÃO
DO CANAL DE CAMPOS
O mais antigo canal artificial a cortar a planície dos Goitacás é o Canal do Furado, situado a
A MACAÉ, MANDADA
norte de Macaé, no atual município de Campos. Foi construído em 1688, para drenar as águas LITOGRAFAR PELO
que se acumulavam junto à praia do cabo de São Tomé e que escoavam lentamente através EXMO. SR. AURELIANO
do rio Iguaçu (Soffiati, 2011). DE SOUZA OLIVEIRA
COUTINHO. PRESIDEN-
TE DE PROVÍNCIA DO
Na região de Macaé, o primeiro canal de maior tamanho foi o Campos - Macaé, cuja construção, RIO DE JANEIRO. 1846.
realizada por escravos, foi iniciada em 1845 e finalizada quase vinte e oito anos depois, em 1872 (SÉRIE REPRODUÇÕES,
NOTAÇÃO 10)
(Penha, 2012). Este canal, que possui cerca de 100 km de extensão, tinha a pretensão de ligar o
(REPRODUZIDO NA
rio Paraíba ao rio Macaé, passando pelas restingas e utilizando parte do leito das lagoas situadas ÍNTEGRA A PARTIR DE
entre esses dois rios, como as de Jurubatiba, Carapebus, Paulista e Feia (ver figuras ao lado). PENHA, 2012)

Pretendia-se que esse canal fizesse a ligação fluvial das áreas de produção agrícola situadas em
Campos, especialmente de lavouras de cana-de-açúcar, com o rio Macaé, de onde poderiam ser
exportadas através do porto local.

Porém, este canal exerceu esse papel por pouco tempo, pois no mesmo ano do término de sua
construção, foi inaugurada uma estrada de ferro, por onde o açúcar passou a ser escoado para
Macaé (Penha, 2012).

A partir da década de 30 do século passado, quando o governo Federal passou a investir de forma
LINHA DO CANAL
mais estruturada na retificação dos rios e construção de canais artificiais nas planícies fluminen- CAMPOS - MACAÉ
ses, surgiram os demais canais artificiais que desembocam no rio Macaé. E INDICAÇÃO
DE ALGUMAS
LOCALIDADES DO
Entre 1935 e 1975, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) construiu extensa
SEU TRAJETO (VER
rede de canais na planície do Norte Fluminense, conectando-a ao canal Campos - Macaé. É desse TABELA DA PÁGINA
período a retificação dos rios Macaé e São Pedro, além da construção dos canais que drenam as 26).
FONTE: APERJ -
terras situadas na margem direita do rio Macaé, como os canais Virgem Santa, do Capote, Macaé,
PRESIDÊNCIA DE
Três Poderes, do Morro e Jurumirim (ver figura na página 27). PROVÍNCIA. PLAN-
TA DA DIREÇÃO DO
Este canal, assim como o Campos – Macaé, cruza áreas de ocupação densa e urbanização CANAL DE CAMPOS
A MACAÉ...OP. CIT. )
precária, onde reside população de baixa renda. A falta de saneamento básico nessas áreas (REPRODUZIDO NA
acarreta no lançamento de esgoto não tratado diretamente nesses canais. Esse esgoto chega ÍNTEGRA A PARTIR
ao rio Macaé, aumentando a poluição das águas desse rio junto à cidade de Macaé. DE PENHA, 2012)

25
Identificação de corpos d’água/
localidades encontrados no
trajeto da linha do canal
1 Vila de S. João da Barra
2 Cidade de Campos
3 L. do Osório
4 L. do Coelho
5 L. do Aranha
6 L. da Piabanha
7 L. do Ururahy
8 L. de Jesus
9 Rio Macabú
10 L. do Paulo
11 L. do Morcego
12 L. Capivara 13 L. do Anil
14 L. do Carmo
15 L. da Mandiquera
16 L. do Engenho Velho
17 Rio Carrapato e L. dos Paulistas
18 L. de Carapebus
19 L. de Jeribatiba
20 Rio Macahé e Vila do mesmo nome
36 L. de Cima
60 L. Feia
62 Capivari
63 Quissamã
64 Fazenda do Mello
65 Machadinha
66 Fazenda do Guriri IMAGEM DO GOOGLE EARTH MOSTRANDO A FOZ DO RIO MACAÉ E SEUS PRINCIPAIS AFLUENTES. NOTA-SE A GRANDE QUANTIDADE
DE CANAIS ARTIFICIAIS RETIFICADOS EXISTENTES EM LOCAL ONDE ANTES HAVIA LAGOAS E ALAGADOS.

26 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


FIGURA ILUSTRATIVA
APRESENTANDO A TRANSPOSIÇÃO
DO RIO A PARA O RIO B.

Transposição
Como vimos, os divisores de água são os limites naturais entre as bacias hidro-
gráficas que definem o caminho que a água faz na superfície da Terra. Mas esses
caminhos podem ser alterados pelo homem, por meio da construção de desvios
artificiais que modificam o curso da água.

Quando isso acontece, os rios que formam outras bacias hidrográficas são conec-
tados a um rio de uma bacia vizinha, por meio de canais artificiais. A esse processo,
dá-se o nome de transposição. A bacia do rio Macaé abriga mais de um canal de
transposição, de modo que, diferentemente da maioria das bacias hidrográficas, o
rio Macaé recebe águas de áreas que não fazem parte de sua bacia.

A principal transposição é a das águas do rio Macabu, que, por meio de uma aduto-
ra, são lançadas no rio São Pedro, um dos principais afluentes do rio Macaé. Isto é
feito com o objetivo de auxiliar no abastecimento da cidade de Macaé. Além disso,
a queda da água entre os rios Macabu e São Pedro é utilizada para a produção de
TRANSPOSIÇÃO DO RIO MACABU PARA O RIO SÃO PEDRO, AFLUENTE DO RIO MACAÉ. ALÉM DE AUMENTAR A energia elétrica, conforme mostrado na figura acima, na qual o rio A seria o Macabu
OFERTA DE ÁGUA PARA O ABASTECIMENTO DA CIDADE DE MACAÉ, A TRANSPOSIÇÃO AINDA POSSIBILITA A GERA- e o rio B o São Pedro.
ÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA QUEDA DA ÁGUA QUE DESCE EM DIREÇÃO AO RIO SÃO PEDRO.

27
DIVISÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA
Quem toma as decisões políticas sobre a área da bacia hidrográfica do rio Ma-
caé? Para responder essa pergunta, é importante considerar que essa bacia é
composta por partes de seis diferentes municípios: Macaé - 1.448Km2 (82% do
total da área da bacia hidrográfica), Nova Friburgo - 142 km2 (8% da área da ba-
cia), Casimiro de Abreu - 83 km2 (4,7%), Conceição de Macabu - 70 km2 (4%),
Rio das Ostras - 11 km2 (0,65%) e Carapebus - 11 km2 (0,65%). Portanto, há seis
prefeituras que atuam em toda a área da bacia. Além do Governo do Estado do
Rio de Janeiro e do Governo Federal, afinal essa bacia está inteiramente situada LOCALIDADE DE SÃO PEDRO DA SERRA EM NOVA FRIBUR- GRANDE PARTE DA BACIA DO RIO MACAÉ POSSUI
nesse estado e também no Brasil. GO – SITUADA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ. CARACTERÍSTICAS RURAIS.

É claro que nem todos os municípios têm a mesma influência. Embora todos te-
nham áreas que levam água para o leito principal, o rio Macaé mesmo não passa
por todos esses municípios. Na realidade, ele passa apenas pelos municípios de
Nova Friburgo, onde estão suas nascentes, Casimiro de Abreu e Macaé, onde se
encontra a foz desse rio. Porém, afluentes do rio Macaé cruzam todos os seis
municípios e levam as águas ao canal principal.

Apesar de ser composta por partes de seis municípios, a bacia hidrográfica do


rio Macaé não abriga muitas cidades. Apenas o centro de Macaé está dentro dos
seus limites. Os demais municípios possuem apenas áreas rurais ou pequenas
localidades urbanas inseridas nesta bacia.

Como podemos perceber, a qualidade das águas que chegam à cidade de Macaé
não depende somente do que acontece dentro dos limites do município de Macaé.
As políticas ambientais da bacia dependem de uma cooperação intermunicipal
para obterem sucesso. Além de uma interação com os governos estadual e federal.
A partir da necessidade de se criar um espaço onde as decisões dos diferentes
municípios, do Estado e de representantes do Governo Federal sejam tomadas em
conjunto, foi criado o Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé, Ostras,
Imboassica e da Lagoa de Imboassica (ver página 74).
CIDADE DE MACAÉ. MAIOR PARTE DO CENTRO DESTE MUNICÍPIO ESTÁ NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ.

28 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa Político Administrativo da Bacia do Rio Macaé

29
UNIDADE III
CARACTERÍSTICAS GEOBIOFÍSICAS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ

30 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


RELEVO
O relevo da bacia hidrográfica do rio Macaé caracteriza-se pela presença de No alto da serra, o rio corre em vales estreitos, bem “encaixados” entre as encostas das montanhas,
montanhas, que são parte integrante da serra do Mar (representadas pelas formados por vertentes de grande declividade. Isso é comum nos municípios serranos, como Nova
cores mais escuras no mapa), e por uma extensa planície litorânea loca- Friburgo, e nas localidades do Sana, Glicério e Frade, em Macaé. Na parte baixa, o rio corre na planície
lizada na sua porção leste (cores mais claras). As áreas que estão entre o flúvio-marinha, que é uma extensa porção plana. Essa área plana é intercalada por pequenos morros
ambiente montanhoso e a planície apresentam encostas bastante íngremes. ou maciços costeiros (montanhas existentes em meio à planície).

À FRENTE COLINAS E SERRAS DE MENOR ALTITUDE. AO FUNDO, A LINHA DE CUMEADA


DA SERRA DE MACAÉ, QUE DIVIDE A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ DA BACIA
HIDROGRÁFICA DO RIO MACABÚ.

A PARTE MAIS BAIXA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ, NO MU-


NICÍPIO DE MACAÉ, APRESENTA UM RELEVO ESSENCIALMENTE PLANO,
COM A PRESENÇA DE PEQUENAS ELEVAÇÕES.

EM NOVA FRIBURGO, ONDE NASCE O RIO MACAÉ, O RELEVO É CARACTERIZADO PELA


PRESENÇA DE MONTANHAS COM ENCOSTAS DE GRANDE DECLIVIDADE.

HÁ MONTANHAS E ENCOSTAS ÍNGREMES TAMBÉM NAS SERRAS ONDE NASCEM OS RIOS TRIBUTÁRIOS AO RIO MACAÉ. NA FOTO DA ESQUERDA SE VÊ BAIXADA LITORÂNEA DE MACAÉ EM PRIMEIRO PLANO E, AO FUNDO, A RE-
O PICO PEITO DO POMBO, JUNTO ÀS NASCENTES DO RIO SANA, E NA FOTO DA DIREITA O PICO DO FRADE, ONDE ESTÃO AS NASCENTES DO RIO FRADE, GIÃO SERRANA DE MACAÉ, QUE É PARTE DA SERRA DO MAR. A VARIAÇÃO
CUJAS ÁGUAS CORREM PARA O RIO SÃO PEDRO, QUE DESEMBOCA NO RIO MACAÉ. DO RELEVO É SIGNIFICATIVA.

31
Mapa de Relevo da Bacia do Rio Macaé

32 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


O MACIÇO DAS PEDRINHAS, SITUADO EM MACAÉ, NO ENTRONCAMENTO ENTRE A BR-101 E A RJ-168 (ESTRADA QUE LIGA À BR-101 À CIDADE DE MACAÉ), É UM MACIÇO COSTEIRO.

Nascentes do rio Macaé


O rio Macaé nasce na serra de Macaé de Cima,
próximo ao pico do Tinguá, que está situado
a cerca de 1.660m de altitude, no interior do
Parque Estadual dos Três Picos e do município
de Nova Friburgo. Trata-se de uma região com
relevo acidentado, onde existe uma paisagem
exuberante, formada por encostas, monta-
nhas e grotas, gerando rios encachoeirados de
rara beleza. Outros picos devem ser destaca-
dos na região das nascentes: a pedra do Faraó
(1719 m), a pedra de São Caetano (1657 m) e a O RIO MACAÉ PROXIMO À SUA NASCENTE ESTÁ INSERIDO EM UMA PAISAGEM EXUBERANTE, COM MATAS EM ÓTIMO ESTA-
pedra Bicuda (1499 m). DO DE CONSERVAÇÃO. SUAS ÁGUAS SÃO DE EXCELENTE QUALIDADE.

33
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
Por que existem diferentes formas do relevo? Por que há áreas monta-
nhosas e planas? Como essas diferentes formas surgem? Essas per-
guntas podem ser respondidas quando compreendemos os processos
geológicos e geomorfológicos.

As formas do relevo são o resultado da ação da erosão e da sedimenta-


ção que vêm ocorrendo ao longo de milhares de anos. Isso vai depender
do tipo de material que está presente nas rochas.

O alto e médio curso da bacia hidrográfica do rio Macaé, situados em


área montanhosa, fazem parte da serra do Mar, conforme se pode obser-
var na tabela da página 37 (Dantas, 2000). Geologicamente, esta serra é
um escudo cristalino muito antigo, com rochas intrusivas e metamórfi-
cas de idades pré-cambrianas, o que significa que possuem mais de 1,8
bilhão de anos. As formas de relevo que observamos hoje foram sendo
formadas pelo intemperismo dessas rochas e pela erosão do material
formado pelo intemperismo, principalmente pela ação das chuvas e dos
rios, ao longo do tempo. Nesta porção, os rios cavaram vales profundos
e escarpados que estão sujeitos a intensos processos erosivos, inclusive
movimento de massas, como deslizamentos de terra.

A erosão das encostas ocorre principalmente pelo transporte de sedi-


mentos pela água. A parte baixa da bacia do rio Macaé é formada pelo
acúmulo desses sedimentos que, por muitos anos, vêm sendo deposita-
dos. Por isso, dizemos que ela é de origem sedimentar. Durante milhões
de anos, o planalto atlântico brasileiro foi sendo erodido e seus sedimen-
tos se acumularam ao longo da costa. Na região da bacia do rio Macaé
essa planície apresenta amplas dimensões, pois nessa porção do litoral
houve grande deposição de sedimentos despejados pelo rio Paraíba do
Sul, que teve, no passado, sua foz localizada nas proximidades da foz
atual do rio Macaé (ver box da página 37). Próximo ao litoral, observa-se
proporção significativa de formações arenosas. HÁ ELEVAÇÕES SITUADAS EM MEIO À PLANÍCIE DO RIO MACAÉ QUE POSSUEM ENCOSTAS ÍNGREMES.

34 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa Geológico da Bacia do Rio Macaé

35
Mapa Geomorfológico da Bacia do Rio Macaé

36 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


COMPARTIMENTAÇÃO GEOMORFOLÓGICA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ A PARTIR DE DANTAS (2000).

Unidade Morfoestrutural Unidade Morfoescultural Unidades de Relevo

Alto curso Cinturão Orogênico do Atlântico Escarpas Serranas Escarpas Serranas

Planaltos Residuais Domínio Montanhoso

Rio Paraíba do Sul


Médio curso Cinturão Orogênico do Atlântico Escarpas Serranas Escarpas Serranas

O rio Paraíba do Sul é um dos


Baixo curso Cinturão Orogênico do Atlântico Escarpas Serranas Escarpas Serranas Degradada principais rios do país. Sua bacia
hidrográfica abrange áreas em
Maciços Costeiros (Alinhamentos
Minas Gerais, São Paulo e Rio de
Serranos Isolados no mapa)
Bacia hidrográfica Sedimentar Maciços Costeiros e Interiores Janeiro, de forma que ele despeja,
Cenozóica na sua foz, sedimentos erodidos em
Domínio Suave-colinoso
uma vasta área. Assim, no entorno
da foz desse rio, formou-se uma
Superfície Aplainada do Lito- Domínio Colinoso grande baixada litorânea, a partir
ral Leste Fluminense da deposição desses sedimentos.
Colinas Isoladas Atualmente, a foz desse rio no
oceano Atlântico está localizada no
Planície Fluvio-marinha Colinas Dissecadas município de Campos, a norte da
foz do rio Macaé. Mas no passado,
Planície Aluvial
Planície costeira estava localizada nas proximidades
da foz atual do rio Macaé. Assim,
Planície Fluvio-lagunar
a maior parte da planície litorânea
que hoje marca a bacia hidrográfi-
Terraços Pleistocênicos
ca do rio Macaé foi formada pelos
sedimentos trazidos pelo rio Para-
Terraços Holocênicos
íba do Sul. Outra parte é formada
Cordões Arenosos Pleistocênicos por sedimentos que vêm sendo
trazidos pelo rio Macaé nos últimos
Paleoesporões milhares de anos e pelo mar.

37
CLIMA
O clima na bacia do rio Macaé é classificado como tropical úmido. Predominam altas temperaturas e chove bastan- Nas porções média e inferior, a pluviosidade anual fica entre 1.000 e
te. Mas essa condição varia em função da altitude, da disposição do relevo em relação às massas de ar e da proximi- 1.500 mm, sendo 1.250mm na transição de planícies e maciços cos-
dade com o oceano. Por isso, há condições diferentes em cada parte da bacia. Enquanto o alto curso apresenta um teiros (Barbiere e Coe Neto, 1999). Já no alto curso, segundo Pereira
clima mais frio e úmido, o baixo curso se destaca pela menor pluviosidade e maior temperatura média. (2008), a precipitação média anual é de 2.119mm. Os maiores índi-

Mapa Precipitação Anual na Bacia do Rio Macaé

38 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


ces de chuva nas áreas altas podem ser explicados pela ocorrência de chuvas de relevo a presença de nevoeiros durante a tarde é muito comum no inverno e a região é marcada
ou chuvas orográficas (ver box da página 42). Eles podem ser observados no mapa de pela presença de chuvas orográficas. Estes dois fenômenos juntos favorecem o aumento
precipitação pelos tons de azul escuro. No alto curso da bacia hidrográfica do rio Macaé dos teores de umidade da região serrana em relação à planície litorânea.

Mapa Temperatura Anual na Bacia do Rio Macaé

39
Durante o ano, há períodos em que chove mais e outros em que chove menos. Na região média mensal fica abaixo de 60mm. A temperatura média de toda a bacia fica em torno de
de Macaé, o verão é mais chuvoso e o inverno é mais seco, assim como em todo o sudeste 22º, com variação de 25ºC no verão, a 19ºC no inverno, com médias máximas ocorrendo
do Brasil. Mesmo na porção superior, que é a mais chuvosa, nos meses do meio do ano a nas planícies e mínimas nas escarpas serranas.

Mapa Balanço Hídrico no Verão na Bacia do Rio Macaé

40 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Os mapas de balanço hídrico nos mostram a diferença entre a quantidade de água que cho- ção da água é maior que a precipitação). As cores mais avermelhadas do mapa
ve e a que evapora. Quando os números da legenda são positivos, isso mostra que chove correspondem aos números negativos na legenda e indicam esta condição.
mais do que evapora, ou seja, há água “estocada”. Isso ocorre em toda a área da bacia nos Isso, normalmente, interfere na vida dos moradores, pois se a gestão dos re-
meses mais chuvosos do verão. Já durante o período mais seco, é possível perceber que cursos não for bem feita, podem ocorrer falhas no abastecimento de água nas
nas partes mais baixas da bacia há o que chamamos de déficit hídrico (quando a evapora- cidades e problemas ligados às plantações nas áreas rurais.

Mapa Balanço Hídrico no Inverno na Bacia do Rio Macaé

41
SOLOS
Chuvas orográficas
Os diferentes tipos de solo se relacionam com as variadas e, por isso, de forma geral, seus solos são mais rasos e pobres em nutrien-
Toda chuva acontece em decorrência condições da encosta e das rochas. De forma geral, a de- tes. As porções baixas possuem solos mais profundos, pois recebem os
da condensação da água, isto é, a clividade da encosta vai influenciar nos processos erosivos sedimentos que foram e são trazidos das partes mais altas.
transformação do vapor em água no e o tipo de rocha na qualidade do material que vai compor
estado líquido. As nuvens nada mais os solos. Por isso, é possível observar no mapa que as ca- Os cientistas que estudam os solos utilizam diferentes nomes para
são do que inúmeras dessas gotículas racterísticas dos solos na bacia hidrográfica do rio Macaé caracterizar diversas combinações das condições de encosta, rochas e
que se formam na condensação. Os estão muito ligadas ao padrão geomorfológico, ou seja, se tamanho dos grãos que formam os solos. Veja os tipos de solo que são
processos que causam essa trans- diferenciam entre as partes mais altas e baixas da bacia. encontrados na bacia do rio Macaé e observe as diferentes condições
formação podem ser bem diferentes. As encostas das partes mais altas têm maior declividade em que são formados.
As chuvas de relevo (ou orográficas),
ocorrem quando o ar quente e úmido
encontra a barreira do relevo, sendo
empurrado para as áreas mais altas.
* Os Latossolos, que são solos profundos, antigos e pobres em nutrientes (pois já são lavados pela
Nas camadas mais elevadas, ele
perde temperatura (esfria), fazendo
água há muito tempo) são observados nas montanhas, geralmente em encostas de declividade
com que o vapor se transforme em intermediária.
nuvens que provocam chuvas mais
frequentes. Por isso, nas partes altas * Os Neossolos Câmbicos e Litólicos, que são solos jovens e rasos, também são encontrados nas
da bacia hidrográfica do rio Macaé, montanhas, mas geralmente nas encostas de maior declividade, onde o acúmulo é restrito em fun-
acontecem chuvas com mais volume
ção do intenso processo erosivo.
e frequência.

* Os Argissolos, que são típicos de áreas de menor declividade, ocorrem na região das superfícies
aplainadas, que correspondem aos domínios de relevo colinoso e suave colinoso.

* Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem na faixa costeira, relacionados aos cordões arenosos forma-
dos pelo mar, em associação aos Espodossolos.
São observados, geralmente, sob a vegetação de restinga de porte arbóreo-arbustivo (Luz, 2003).

* Os Organossolos e os Gleissolos estão associados aos fundos de vale dos rios de maior porte,
especialmente à porção inferior do rio Macaé e à foz do rio São Pedro. Se formam em locais onde
há acúmulo de matéria orgânica e, frequentemente, ocorrem inundações.

42 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Solos da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

43
COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA
Ao longo de muitos anos, a vegetação original existente na bacia hidrográfica do rio Ocorriam florestas ombrófilas, sinônimo de pluviais ou tropicais úmidas, nas
Macaé foi sendo retirada e alterada pelo homem. Hoje, sabemos que o que resta montanhas e colinas e nas áreas de baixada que não alagavam; e florestas
deve ser rigorosamente preservado para garantirmos uma boa condição ambiental paludosas, típicas de áreas alagadas, nas porções das planícies sujeitas às
nesta bacia. Mas vamos, agora, conhecer um pouco sobre como era a cobertura inundações durante os períodos chuvosos. Havia, ainda, campo nas porções
vegetal antes dos intensos processos de alteração pelo homem. das planícies que ficavam mais tempo alagadas e brejos onde o alagamento
era constante. Nas áreas litorâneas, eram observadas restingas, onde o solo
Originalmente, a bacia hidrográfica do rio Macaé caracterizava-se pelo predomínio de era arenoso, e mangues, onde era formado por argila.
formações florestais tropicais cujas características eram determinadas, basicamente,
pela variação de altitude e drenagem das áreas.

FIGURA ILUSTRATIVA DE UMA RESTINGA.

44 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Na realidade, no interior da bacia hidro-
gráfica do rio Macaé havia mangues, que
dominavam a foz do rio Macaé (ainda são
vistos, apesar de degradados), mas não
havia restingas. Porém, este último tipo de
ecossistema ocorria nas faixas próximas às
praias e lagoas costeiras, sobre cordões de
areia da região, que formam o sistema del-
taico do rio Paraíba do Sul, que se estende
desde Macaé até o sul do estado do Espírito
Santo. Este sistema inclui a praia da Barra
de Macaé, junto à embocadura do rio Macaé
e a restinga de Jurubatiba, mais a norte.

As plantas que habitam as restingas são


adaptadas à falta de água, já que solos are-
nosos têm pouca capacidade de reter água.
Entre as adaptações mais comuns estão
o acúmulo de água em seu interior (como
cactos, muito abundantes em restingas),
o armazenamento de água em um “copo”
formado pelas folhas (como observado
nas bromélias) e alterações nos processos
bioquímicos relacionados à fotossíntese que
reduzem a pedra de água.

Nas partes da restinga mais próximas ao


mar, onde há maior salinidade e, conse-
quentemente, a escassez de água é ainda
mais elevada, a vegetação é composta por
plantas rasteiras e arbustos. À medida que
se distanciam do mar, as faixas de areia no
entorno das lagoas apresentam vegetação
mais densa, com árvores maiores, formando
as matas de restinga, já que há menos salini-
dade e um pouco mais de água disponível.
FOTO DA RESTINGA DE JURUBATIBA, NA PORÇÃO DA MESMA QUE AINDA ESTÁ CONSERVADA (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).

45
Os mangues ocorrem em ambientes de águas calmas e salobras. O subs-
trato é lodoso (lamacento), formado por sedimentos finos trazidos pelos
rios e pelo mar. Justamente por serem calmas, as águas permitem
que os sedimentos finos e de pouco peso se depositem (isto é,
vão para o fundo).

Poucos tipos de plantas conseguem viver nesse ambiente, mas


elas chamam atenção por suas raízes aéreas, que formam um
grande emaranhado.

Por outro lado, a fauna é diversa e abundante, pois os man-


guezais se caracterizam pela presença de grande quantidade
de matéria orgânica trazida pelos rios, fornecendo alimen-
tos para diversas espécies animais e formando extensas
cadeias alimentares. Peixes marinhos e peixes que vivem
em rios vão ao mangue para se alimentar, assim como aves
e mamíferos. Desta forma, os estoques pesqueiros das áreas
FIGURA ILUSTRATIVA DE UM MANGUE
costeiras, muitas vezes, são dependentes da preservação dos manguezais para
se manterem. Crustáceos são muito abundantes, com destaque para carangue-
jos e siris, que são a fauna mais conhecida desses ecossistemas.

Florestas
As florestas ombrófilas se caracterizam por uma elevada Nas encostas abaixo dos 600 metros também ocorrem Destacam-se as samambaias, as espécies do gênero
biodiversidade vegetal e animal.
FIGURA As formações
ILUSTRATIVA situadas
DE UM MANGUE. formações florestais exuberantes, mas, via de regra, de Tibouchina (quaresmeiras), orquídeas, aráceas e
entre 600 e 1500 metros de altitude na bacia hidrográfica porte menor do que as formações existentes acima. Geral- bromélias, entre outras.
do rio Macaé possuem uma estrutura bastante desenvolvi- mente, as árvores maiores não ultrapassam os 25 metros
da, com a altura da copa das árvores acima dos 25 metros. e o dossel superior encontra-se a cerca de 20 metros do Nas maiores altitudes são muito comuns os aflora-
Algumas espécies, como o jequitibá-rosa (Cariniana estrel- solo. Também são florestas com menor estratificação mentos rochosos, que caracterizam a paisagem re-
lensis) podem chegar a cerca de quarenta metros de altura. vegetal e menor quantidade de espécies epífitas. gional e apresentam condições ambientais peculiares.
Diretamente sobre eles, são vistas bromélias, sendo
A floresta é formada por vários estratos ou “camadas”, pois Acima dos 1500 metros de altitude, a floresta tem, nor- que nos solos mais úmidos elas formam grandes colô-
há árvores de diferentes tamanhos. São comuns espécies malmente, um aspecto diferente. As copas das árvores nias, além de algumas pequenas ervas, entre as quais
que vivem no tronco de outras, como as bromélias e orquí- têm cerca de 10 metros de altura e há árvores com tron- são comuns as da família das gramíneas e algumas
deas (espécies epífitas). cos tortuosos e cobertos por musgos (limo) e epífitas. pteridófitas (samambaias).

46 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de cobertura vegetal e uso do solo da bacia hidrográfica do rio Macaé

47
Atualmente, a distribuição de ecossistemas na bacia hidrográfica do rio Macaé está
condicionada por fatores históricos, definindo níveis de preservação e degradação que as
formações vegetais originais sofreram ao longo do tempo.

Os brejos foram, em sua maior parte, drenados ou aterrados, tendo sobrado poucas
áreas alagadas. Os ecossistemas que cresciam sobre cordões arenosos que formavam a
restinga que se estende desde a praia da Barra até o Espírito Santo foram ocupados nas
proximidades da foz do rio Macaé, em função da expansão urbana da cidade de Macaé.
Os mangues, que dominavam vastas áreas no interior do rio Macaé, estão degradados e
restritos à foz desse rio.

As florestas sofreram fragmentação e degradação e hoje apresentam-se em diferentes


estágios de sucessão (ver box). Boa parte da floresta foi substituída por atividades agrícolas
e pastagens, que hoje, inclusive, já ocupam mais de 890 km2 da bacia hidrográfica do rio
Macaé, o que corresponde a cerca de 52% de sua área total. As florestas em bom estado de
conservação ocupam apenas 28%. Este tema será melhor abordado pelos mapas síntese
mais à frente no Atlas.
A MAIOR PARTE DA EXPANSÃO URBANA DE MACAÉ OCORREU SO-
BRE O ECOSSISTEMA DE RESTINGA. NA FOTO ACIMA SE OBSERVA
A RESTINGA CONSERVADA EM PRIMEIRO PLANO E, AO FUNDO,
A OCUPAÇÃO DA RESTINGA PELO BAIRRO LAGOMAR. (FOTO:
SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).

A POUCA VEGETAÇÃO QUE RESTOU DA RESTINGA DA PRAIA DA BARRA


A ÁREA URBANA DE MACAÉ ELIMINOU A MAIOR PARTE DOS MAN- O POUCO MANGUE QUE RESTOU ESTÁ DEGRADADO, COM A PRESENÇA DE APRESENTAVA-SE MUITO DEGRADADA EM 2014, COM A PRESENÇA DE
GUES DA FOZ DO RIO MACAÉ E DA PRAIA DA BARRA DE MACAÉ. DIVERSAS ESPÉCIES INVASORAS E CERCADOS POR ÁREAS URBANAS. DIVERSAS ESPÉCIES INVASORAS.

48 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Estágios de sucessão das florestas
Quando uma floresta é retirada, inicia-se o processo de sucessão vegetal. Na área des-
coberta, a luz e o calor do sol que incidem estimulam o crescimento de plantas que
são adaptadas à grande insolação e crescem rápido (espécies pioneiras). Ao cresce-
rem, essas plantas começam a fazer sombra e a acumular água e nutrientes no solo,
criando condições para que outras sementes germinem. Com o tempo, as espécies
pioneiras morrem e dão lugar às secundárias iniciais. As condições do solo, luz e água
vão se modificando e fazendo com que o ambiente fique favorável ao crescimento
de espécies típicas de florestas mais desenvolvidas, que apresentam o estágio de
sucessão mais avançado. Assim, quando conhecemos as espécies de plantas que
vivem numa floresta, é possível dizer se aquela área foi desmatada há muito ou pouco
tempo, ou até mesmo se nunca foi desmatada.
APESAR DE DEGRADADO, O MANGUEZAL SITUADO NA FIZ DO RIO MACAÉ AINDA É HABITADO POR UMA
AVIFAUNA QUE DEPENDE DOS RECURSOS DESSE ECOSSISTEMA PARA SOBREVIVER.

FLORESTAS EM ESTÁGIO MÉDIO E/OU AVANÇADO DE SUCESSÃO ECOLÓGICA EM


FIGURA ILUSTRATIVA DE DUAS FORMAÇÕES FLORESTAIS EM DIFERENTES ESTÁGIOS SUCESSIONAIS. ESSAS FIGURAS FORAM ELABORA- ÁREA DE ENCOSTA SITUADA NA SERRA DE MACAÉ. (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL
DAS COM BASE NO LEVANTAMENTO DA ESTRUTURA ESPACIAL DA VEGETAÇÃO EM FORMAÇÕES SITUADAS NA BACIA DO RIO MACAÉ. DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).

49
Se pensarmos na bacia como um sistema integrado, é interessante observar que a pre-
servação florestal das áreas mais altas da bacia contribui para a manutenção da oferta de
água para as regiões mais baixas. Afinal, a floresta tem um importante papel na garantia de
infiltração da água no solo e manutenção dos lençóis freáticos, que equilibram o balanço hí-
drico da bacia. Isto reforça a importância da concentração das unidades de conservação na
região mais elevada da bacia hidrográfica do rio Macaé, ajudando a conservar as florestas
dessa região e a garantir a qualidade e a quantidade de água para as áreas mais baixas.

GRÁFICO COM A ÁREA DE CADA TIPO DE COBERTURA VEGETAÇÃO E USO DO SOLO NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO MACAÉ, EM HECTARES.

ESTAS IMAGENS MOSTRAM A VARIAÇÃO NA COBERTURA VEGETAL EM UMA REGIÃO NA PARTE ALTA E OUTRA
NA PARTE MÉDIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ. OBSERVAM-SE FLORESTAS EM ESTÁGIO MÉDIO E
AVANÇADO DE SUCESSÃO VEGETAL E AFLORAMENTOS DE ROCHA NA PARTE MAIS ELEVADA, FLORESTAS EM
ESTÁGIO INICIAL DE SUCESSÃO VEGETAL NA PARTE MAIS BAIXA E GRAMÍNEAS (CAPIM) EM ALGUMAS ENCOS-
TAS E FUNDOS DE VALE.

FLORESTA EM ESTÁGIO AVANÇADO DE SUCESSÃO VEGETAL ÀS MARGENS DO RIO MACAÉ, EM


NOVA FRIBURGO. É POSSÍVEL OBSERVAR OS DIFERENTES ESTRATOS (CAMADAS) DA FLORES-
TA. HÁ UMA GRANDE PRESENÇA DE PALMEIRAS JUSSARA (EUTERPE EDULIS), ESPÉCIE AMEA-
ÇADA DE EXTINÇÃO EM FUNÇÃO DA EXTRAÇÃO DE PALMITO JUSSARA, IGUARIA DE GRANDE
VALOR COMERCIAL, MAS CUJA EXTRAÇÃO, NECESSARIAMENTE, MATA A ÁRVORE.

50 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


FRAGMENTO DE FLORESTA SITUADO SOBRE COLINA, NA PARTE FLORESTAS EM ESTÁGIO MÉDIO E/OU AVANÇADO FLORESTAS EM ESTÁGIO INICIAL DE SUCESSÃO ECOLÓGICA OBSERVADAS DE FORA E DE DENTRO
BAIXA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ, E ISOLADO EM DE SUCESSÃO ECOLÓGICA EM ÁREA DE ENCOSTA. DE UMA FORMAÇÃO.
MEIO AO PASTO. (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE
DE MACAÉ, 2006).

NAS ÁREAS MUITO PLANAS SITUADAS NA


BAIXADA É COMUM A FORMAÇÕES DE ALA-
GADOS. ORIGINALMENTE, ESSAS FORMA-
ÇÕES OCORRIAM EM DIVERSAS PARTES DA
BAIXADA E ERAM DOMINADAS POR BREJOS.
MUITAS FORAM DRENADAS E INCORPORA-
DAS À PRODUÇÃO DE GADO, SENDO HOJE
DOMINADAS POR CAPINS ADEQUADOS À
ÁREA DE SILVICULTURA (PLANTIO DE ESPÉCIES ARBÓREAS). PASTAGEM POR BOVINOS.

AS GRAMÍNEAS (CAPINS) SÃO MUITO


AFLORAMENTOS DE ROCHA SÃO MUITO COMUNS NAS ÁREAS MONTANHOSAS DA COMUNS NAS ÁREAS MAIS PLANAS,
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ. GERALMENTE, SÃO COBERTOS POR BROMÉLIAS. COMO COLINAS SUAVES E PLANÍCIES.
NO SEU ENTORNO HÁ UMA VEGETAÇÃO TÍPICA DE SOLOS RASOS E PEDREGOSOS, GERALMENTE, SÃO UTILIZADAS COMO
DENOMINADA VEGETAÇÃO RUPESTRE. PASTAGEM PARA O GADO.

51
UNIDADE IV
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ

52 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


A maior parte das informações socioeconômicas que constam neste capítulo será apresentada de
acordo com os distritos. Por isso, é importante esclarecer que, em seus limites, a bacia hidrográfica
do rio Macaé incorpora 13 distritos de 4 diferentes municípios: Sana, Cachoeiros de Macaé, Glicério,
Córrego do Ouro e Macaé (sede), no município de Macaé; Lumiar e São Pedro da Serra, em Nova
Friburgo; Conceição de Macabu, no município de Conceição de Macabu; Carapebus, em Carapebus; e
Casimiro de Abreu, Professor Souza e Rio Dourado, no município de Casimiro de Abreu.

HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
As características socioeconômicas de um determinado local refletem as condições históricas que
marcaram seu desenvolvimento. Assim, para que possamos entender a socioeconomia na bacia
hidrográfica do rio Macaé é fundamental conhecer um pouco sobre a sua História.
Início da colonização da
Por ter dimensões relativamente grandes e abrigar áreas montanhosas e litorâneas, a bacia do rio
Macaé possui uma história de ocupação diversificada. parte alta da bacia do rio Macaé
A região serrana foi colonizada nos séculos XIX e XX por imigrantes europeus organizados em Como um compromisso assumido com a Inglaterra pela abolição do
pequenas e médias propriedades agrícolas. Essas terras experimentaram uma ocupação agrária no tráfico de escravos africanos, é assinado por D. Pedro II um tratado co-
início da década de 1820, quando colonos alemães chegam à Serra de Macaé em busca de melho- mercial para patrocinar a imigração de colonos pobres do cantão suíço
res lugares para cultivar (ver box ao lado). de Friboug e de algumas partes da Suíça alemã. Cerca de 20% dos imi-
grantes morrem na travessia do Atlântico. Após o desembarque, uma
Nesse contexto, o café se tornou uma cultura importante. Mas o escoamento para venda apresen- situação administrativa crítica se instaura. Além das famílias que sobre-
tava sérios problemas até o final da década de 1950, quando ocorreu a abertura da estrada de terra viveram superarem o número de residências oferecidas pela colônia em
ligando Lumiar a Nova Friburgo. Nesse processo, os sitiantes, que produziam para o seu sustento e contrato, as terras oferecidas pela coroa eram de péssima qualidade e
só comercializavam o excedente, tornam-se dependentes das relações de produção do mercado, mal localizadas. Os colonos suíço-alemães, em busca de melhores luga-
pois passaram a vender parte importante de sua produção (Ide, 2009). res para cultivar, caminharam em direção à Macaé, encontrando o rio e
seus afluentes. Nesse caminho, se confrontam com negros quilombolas
A partir da década de 1970, ocorreu uma valorização das características ambientais dessa região, que já ocupavam a região. Os colonos alemães, vencedores, se estabe-
favorecendo o aumento do turismo e tornando esta atividade, junto com a agricultura familiar, im- lecem nas terras mais altas do rio Macaé com uma produção basica-
portante para comunidades de Nova Friburgo, como Lumiar e São Pedro da Serra (Souza-Pereira et mente familiar de subsistência. Nesse processo, absorvem a cultura da
al., 2008). Com a chegada de turistas e veranistas, a região passou por transformações importan- mandioca. Nas terras mais baixas estabeleciam-se cafezais, cujo cultivo
tes. Atualmente, muitos dos agricultores sobrevivem da venda de suas terras e de outras atividades era baseado no trabalho escravo (Araújo & Mayer, 2003).
não agrícolas, o que favorece a recuperação da mata em várias áreas, já que a floresta é um atrativo
importante para o turismo.

53
Na região litorânea, o processo foi distinto. Antes da ocupação pelos indígenas, a região onde hoje está o
município de Macaé e entorno havia sido ocupada por povos nômades que se apropriaram, principalmente,
dos recursos naturais dos mangues e das restingas da região.

Povos nômades na região de Macaé


A ocupação humana do litoral fluminense se iniciou há cerca de 8 mil anos, quando grupos nô-
mades de pescadores e coletores de moluscos aqui aportaram, conforme se percebe ao analisar
os sambaquis existentes nessa área. Dias Jr. (1987), um estudioso desses povos, denominou este
período de ocupação do litoral do estado do Rio de Janeiro como Fase Macaé (entre 7800 e 3900
anos Antes do Presente), pois parte desses sítios está situada no município de Macaé. Os grupos
incluídos nesta Fase se alimentavam, principalmente, de moluscos encontrados nos mangues e
restingas (Dias Jr., 1992). Para maiores detalhes ver o estudo de Okumuro (2008), disponível em
http://www.anchietano.unisinos.br/publicacoes/antropologia/antropologia66/antropologia66.pdf.

Esses povos foram substituídos por grupos indígenas Goytacazes e Tupinambás por volta de 1600 anos
atrás, que dominaram a região até a chegada dos portugueses. A CANOAGEM E RAFTING
NAS CORREDEIRAS É
UMA ATIVIDADE TURÍS-
A colonização oficial teve início com a chegada dos jesuítas no final da década de 1630. Ao longo do século TICA IMPORTANTE NOS
XVIII, a região assumiu um papel de provedora de produtos agropecuários para a cidade do Rio de Janeiro. TRECHOS SUPERIOR E
MÉDIO DO RIO MACAÉ
Destaque para a pecuária e, principalmente, a atividade canavieira. A expansão da cana de açúcar, com base
na mão de obra escrava, estabeleceu na região um novo ciclo de povoamento na planície, com a implanta-
ção de diversos engenhos, que avançaram para o interior dos vales dos rios Macabu, São João e Macaé.

Saint Hilaire e a cana-de-açucar


A economia açucareira teve grande importância e apresentou forte expansão na região de Campos
e Macaé durante os séculos XVIII e XIX, conforme se percebe a partir dos relatos de Auguste Saint
Hilaire, famoso viajante francês que esteve no Brasil entre 1816 e 1822:

Até 1769 não havia em Campos mais de 56 usinas de açúcar; em 1778 esse número subiu
a 168; de 1779 a 1801 aumentou para 200; 15 anos mais tarde ele cresceu para 360 e en-
POUSADAS, BARES E RESTAURANTES INDICAM A IMPORTÂNCIA DO TURISMO PARA AS
fim em 1820 havia no distrito 400 engenhos e cerca de 12 destilarias. (Saint-Hilaire, 1941). LOCALIDADES DA PARTE SUPERIOR DA BACIA HIDROGHRÁFICA DO RIO MACAÉ, COMO
LUMIAR E SÃO PEDRO DA SERRA.

54 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


O desenvolvimento da atividade canavieira, acompanhada pela pecuá-
ria, levou à eliminação da vegetação das baixadas e colinas da região. A
floresta era retirada para abrir espaço à plantação de cana e ao pasto e
também para que a madeira fosse utilizada como fonte de energia para o
beneficiamento do açúcar nos engenhos e para a construção das benfei-
torias nas fazendas, como casas, currais e cercas, por exemplo. Extensas
áreas de Mata Atlântica foram devastadas, intensificando os processos
de erosão e assoreamento na região.

A partir do final do século XIX houve uma crise da economia canavieira,


de forma que a região passou por um período de estagnação, que se es-
tendeu até 1970. Nesse período, a região manteve sua economia susten-
tada por atividades rurais.

A descoberta de petróleo na bacia de Campos na década de 1970 gerou


uma série de transformações sociais, econômicas e ambientais na
região, especialmente no município de Macaé. A intensidade e a rapidez
da urbanização e do crescimento populacional marcam esse período,
NA PARTE SUPERIOR DA BACIA, NO MUNICÍPIO DE NOVA FRIBURGO, HÁ MAIS ÁREAS AGRÍCOLAS, GERALMENTE
levando à degradação de vastas áreas de ecossistemas naturais, espe-
PERTENCENTES À PEQUENOS PRODUTORES
cialmente restingas e mangues.

ATIVIDADES ECONÔMICAS
Depois de conhecer o passado histórico, podemos compreender melhor
de que maneira o espaço da bacia do rio Macaé vem sendo utilizado
pelas atividades humanas atualmente. O mapa de atividades econô-
micas nos permite reconhecer as diferentes atividades desenvolvidas
no interior da bacia, e assim perceber como o uso é diverso nas suas
diferentes porções.

No alto e médio curso do rio Macaé e no alto curso do rio São Pedro,
onde a vegetação é mais preservada, os usos principais são o turismo
O PLANTIO DE BANANA
e a agricultura familiar. Essas são áreas cujos principais atrativos são É OBSERVADO NA PARTE
as cachoeiras e a mata. A agricultura familiar é praticada em pequenas SUPERIOR DA BACIA DO
propriedades nas áreas montanhosas da bacia. RIO MACAÉ

55
USO INDUSTRIAL NA BACIA DO RIO MACAÉ ESTÁ ASSOCIADO, EM LARGA MEDIDA, À INDÚSTRIA DO
PETRÓLEO, QUE POSSUI GRANDE PARTE DE SUAS ATIVIDADES NO MAR (OFFSHORE). ESSA FOTO MOS-
TRA GRANDE QUANTIDADE DE BARCOS REBOCADORES QUE ATUAM NESSA ATIVIDADE ECONÔMICA.

A PRODUÇÃO DE GADO É COMUM NAS GRANDES PROPRIEDADES DA PARTE BAIXA DA BACIA DO RIO MACAÉ.

A pecuária, especialmente a criação de bovinos, é uma prática comum em quase toda a bacia. Na parte bai-
xa, ela é associada à prática agrícola de diversas culturas temporárias. A mineração também está presente,
com a extração de areia e granito, muito utilizados na construção civil. A água mineral é mais um recurso
explorado na bacia do rio Macaé.

USO INDUSTRIAL É IMPORTANTE NA BACIA DO RIO MACAÉ - FOTO DE USINA DE PRODUÇÃO


DE ENERGIA.

Os arredores da cidade de Macaé são marcados pela produção industrial,


atividade que está associada a outros usos, como a produção de energia,
a expansão da especulação imobiliária e serviços diversos, típicos das
NAS ÁREAS PLANAS DA BAIXADA HÁ ALGUMA PRODUÇÃO AGRÍCOLA, GERALMENTE EM GRANDES FAZENDAS. áreas urbanizadas em crescimento.

56 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Atividades Econômicas na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

57
INFRAESTRUTURA
O desenvolvimento de todas essas atividades econômicas neces-
sita de sistemas e equipamentos de infraestrutura. As estradas,
os dutos que levam gás (gasodutos), as linhas de transmissão
de energia elétrica são exemplos desses sistemas que tornam
possível a circulação de pessoas e mercadorias. Essas redes são
também responsáveis pela ligação da bacia com áreas distantes, o
que reforça a sua importância.

Os principais acessos à bacia ocorrem pela BR-101, que alcança


Conceição de Macabu, ao norte, e Rio das Ostras ao sul; pela RJ-
142 (Serra-Mar) que sai do distrito de Lumiar e segue pelo leito
natural do Rio Macaé até Casimiro de Abreu; e pela RJ-162, que
atravessa o interior do município de Macaé, alcançando Trajano
de Morais, ao norte, e Casimiro de Abreu, ao sul. Além dessas
rodovias, a bacia possui inúmeras vias não pavimentadas em suas
áreas rurais, principalmente na sua parte alta. A bacia também é
cortada, em território macaense, pela ferrovia RFFSA, que liga o
Rio de Janeiro ao Espírito Santo e, atualmente, praticamente só é DIVERSAS RODOVIAS CRUZAM A BACIA DO RIO MACAÉ. DESTAQUE PARA A BR-101 (FOTO: SECRETA-
utilizada para transporte de cargas. RIA MUNICIPAL DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).

OUTRA RODOVIA IMPORTANTE É A RJ-162, QUE INTEGRA A PARTE BAIXA DA BACIA PEQUENAS VIAS SEM CALÇAMENTO E PONTES DE MADEIRA SÃO OBSERVADAS FORA DAS AREAS
À SUA PORÇÃO SUPERIOR, LIGANDO CASIMIRO DE ABREU À NOVA FRIBURGO. URBANAS EM TODA A BACIA

58 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


EM FUNÇÃO DE MACAÉ SER O MUNICÍPIO MAIS RELEVANTE PARA A ECONOMIA DO PETRÓLEO, DIVERSAS INFRAESTRUTURAS FORAM CONSTRUÍDAS PARA GARANTIR O ADEQUADO DESENVOLVIMENTO DAS ATIVIDADES. DO LADO
ESQUERDO SE OBSERVA UM GASODUTO E DO LADO DIREITO UMA LINHA DE CABOS ÓTICOS. AMBOS ENTERRADOS E COM SUA LOCALIZAÇÃO APONTADA POR TOTENS DA PETROBRAS.

Grande parte da infraestrutura existente na bacia refinaria de Duque de Caxias (REDUC) para serem processados e Com o início da exploração de petróleo na bacia de Campos,
do rio Macaé está vinculada à atividade petrolífera, refinados. Uma destas é a linha de gás natural liquefeito. o porto de Macaé passou a atender quase que exclusivamen-
principalmente na parte baixa da bacia. Devido à im- te à indústria petrolífera. Embarcações de apoio, conheci-
possibilidade de armazenamento em embarcações, Parte do petróleo extraído é igualmente transportado por via ter- das como “supply”, aportam diariamente em Imbetiba e se
o gás extraído na bacia de Campos é direcionado restre em óleodutos até o Terminal de Campos Elíseos, também deslocam para as plataformas, garantindo o suprimento de
à cidade de Macaé através gasodutos e redistribu- no município de Duque de Caxias. Porém, diferente dos gaso- materiais e equipamentos essenciais à extração de petróleo
ído em quatro diferentes linhas de gasoduto, por dutos, que correm mais próximos ao litoral, a linha de óleoduto e gás, como tubos para perfuração, óleo diesel, produtos
onde são transportados, preferencialmente, para a corta boa parte da bacia do rio Macaé. químicos e alimentos para os trabalhadores embarcados.

PORTO DE IMBETIBA, AO
FUNDO, E INFRAESTRU- PISTA DO AEROPORTO DE
TURA RELACIONADA À MACAÉ, EM PRIMEIRO PLANO,
ATIVIDADE PORTUÁRIA, OCUPAÇÃO DO LITORAL E,
EM PRIMEIRO PLANO, AO FUNDO, EMBARCAÇÕES
INCLUINDO HELIPONTO. RELACIONADAS À INDÚSTRIA
(FOTO: SECRETARIA MU- DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO.
NICIPAL DE AMBIENTE DE (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL
MACAÉ, 2006). DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).

59
Além da infraestrutura associada diretamente à indústria petrolífera, a bacia do rio Macaé
conta com equipamentos essenciais para garantir a qualidade de vida da população. Infra-
estrutura para abastecimento de água, incluindo uma barragem (está situada fora da bacia,
mas abastece áreas no interior da mesma), um canal de transposição de águas entre o rio
Macabu e o rio São Pedro (sobre essa transposição, ver página 27), estruturas para captação
de água e estações de tratamento de água (ETAs). Há também 6 estações de tratamento de
esgoto (ETEs), grande parte recém construída ou em fase de construção.

A parcela da bacia inserida no município de Nova Friburgo conta com quatro estações de
tratamento de água, porém não dispõe de estações de tratamento de esgoto. Já no município
de Macaé, que inclui áreas das porções média e inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé,
parcela significativa dos domicílios situados em áreas urbanas é atendida por estações de
tratamento de esgoto e abastecida por águas tratadas provenientes do rio Macaé, seus
afluentes ou de bacias vizinhas.

A bacia do rio Macaé é ainda geradora de energia elétrica por meio da operação da Pequena Cen-
tral Hidrelétrica Macabu, que utiliza como fonte de energia as águas do rio Macabu, transposto
para a bacia do São Pedro, e das Usinas Termelétricas Norte Fluminense e Mário Lago, que utili-
zam preferencialmente como combustível o gás natural produzido na bacia de Campos. A energia
gerada é distribuída ao Sistema Interligado Nacional (SIN) através de linhas de transmissão que
AS ÁGUAS CAPTADAS DO RIO MACAÉ PASSAM POR ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETAS) ANTES DE
SEREM DISTRIBUÍDAS À POPULAÇÃO. cortam a bacia e subestações de energia, que garantem o abastecimento da população residente.

A LINHA DE TRASMISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA MARCA


A PAISAGEM QUANDO CRUZA COM FLORESTAS, POIS
A BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ, ATÉ POUCO EMBAIXO DESSAS LINHAS NÃO PODE HAVER ÁRVORES, ESTRUTURAS PARA PRODUÇÃO E TRANS- TERMELÉTRICA SITUADA NA BACIA DO RIO MACAÉ
TEMPO, NÃO CONTAVA COM ESTAÇÕES DE TRATA- HAVENDO A NECESSIDADE CONSTANTE DE CORTAR A MISSÃO DE ENERGIA ELÉTRICA TAMBÉM SÃO
MENTO DE ESGOTO. RECENTEMENTE, ALGUMAS VÊM VEGETAÇÃO. (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AM- OBSERVADAS NO INTERIOR DA BACIA HIDRO-
SENDO CONSTRUÍDAS. BIENTE DE MACAÉ, 2006). GRÁFICA DO RIO MACAÉ

60 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Infraestrutura Existente na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

61
DEMOGRAFIA
De todos os municípios que integram esta bacia hidrográfica, o município de Macaé é o que O número de habitantes de um lugar é fortemente influenciado pelo uso do solo. Áreas
apresenta, numericamente, mais moradores. O censo de 2010 identificou 206.728 habitan- onde são desenvolvidas atividades agropecuárias tendem a ter uma menor quantidade
tes neste município, sendo que boa parte reside dentro dos limites da bacia do rio Macaé. de moradores do que áreas urbanas com indústrias e centros comerciais. Por isso, não é
Nova Friburgo, apesar de ter 184.460 habitantes, possuía, neste mesmo ano, apenas 7.056 surpreendente que Conceição de Macabu, com grandes áreas de pastagens e florestas,
pessoas vivendo em terras que integram esta bacia. apresente uma população inferior à de Macaé.

Mapa de Pessoas Residentes na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, por setor censitário

62 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Densidade Demográfica na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, por setor censitário

63
Observe nos mapas que a população que habita a bacia do rio Macaé possui quase o dobro da população de das Ostras não habita a porção do município inserida
Macaé não se encontra igualmente distribuída pela área da bacia. Rio das Ostras, porém como possui um território na bacia hidrográfica do rio Macaé, enquanto uma
Há locais, como os bairros Parque Aeroporto, Ajuda e Aroeira, to- significativamente maior, sua densidade demográ- parcela importante da população de Macaé vive em
dos localizados na cidade (distrito sede) de Macaé, que possuem fica é menor, de 169,89 hab/km², enquanto Rio das áreas pertencentes à essa bacia. Já o município de
uma maior concentração de moradores por quilômetro quadrado Ostras possui 461,38 hab/km², apresentando a Carapebus é o que apresenta a menor densidade
do que localidades próximas à Mury e Lumiar, no município de maior densidade demográfica entre os municípios demográfica, além da maior parte de sua população
Nova Friburgo. que compõem a bacia. Porém, a população de Rio não habitar áreas inseridas na bacia do rio Macaé.

Censo Demográfico
O Censo demográfico, também chamado de recenseamento, é uma pesquisa estatística da população de um local e tem como objetivo reunir as mais diversas infor-
mações sobre a população pesquisada e as características de seus domicílios. No Brasil, ele é feito a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), órgão pertencente ao governo federal. Seus pesquisadores vão de casa em casa e aplicam um questionário para cada família, retratando o perfil da popula-
ção brasileira em um determinado período. O Censo, portanto, nos mostra como somos, onde estamos e como vivemos. Seus resultados são importantes para que a
sociedade tenha acesso a informações atualizadas sobre a população e para que o governo possa planejar suas ações. O recenseamento é feito por setor censitário,
que é a unidade de coleta territorial de um censo no Brasil, formado por área contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, respeitando a divisão políti-
co-administrativa. Para o Censo de 2010, foram delimitados 316.574 setores censitários no território nacional, sendo seus limites definidos a partir de critérios como
a quantidade de domicílios e estabelecimentos agropecuários em áreas urbanas ou rurais; o número de habitantes em aldeias indígenas, bases militares, hospitais e
orfanatos, entre outros.

ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Vimos que a qualidade da água é influenciada por muitos fatores. Muitas vezes, das casas, prédios, indústrias, etc. Esse é o tipo mais comum de abastecimento na cidade
quando utilizamos a água, não atentamos para a seguinte questão: de que forma de Macaé e nas vilas como Córrego do Ouro, Glicério e São Pedro da Serra.
a água dos rios ou das chuvas chega às nossas casas? Esse processo não se dá da
mesma maneira nas diferentes partes da bacia do rio Macaé. Nas áreas mais preservadas e que apresentam uso rural, a forma mais comum de abaste-
cimento se dá por meio de poços (que usam a água do subsolo) ou pela captação da água
Nas áreas urbanizadas, a maior parte do abastecimento é feito pela rede geral, isto é, em nascentes dentro dos próprios terrenos. É o caso das regiões de Macaé de Cima, Sana e
uma rede de dutos que ficam embaixo das ruas da cidade e que chegam a cada uma Cachoeiros de Macaé.

64 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Abastecimento de Água, por Distrito

65
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Para onde vai toda a água e os dejetos domésticos que Para refletirmos sobre a qualidade da água na bacia, é
ela carrega depois que usamos o banheiro ou a pia? importante chamar atenção para a grande quantidade
Para onde vão os dejetos das indústrias? Toda a água de domicílios cujo esgotamento sanitário é praticamente
que usamos retorna para o ambiente. Mas há diferen- inexistente. Isto é, o esgoto é despejado diretamente no
tes formas de se proceder para jogar essa água de ambiente por meio de fossas rudimentares ou valas, com
volta nos rios, mares ou outras porções do ambiente. grande chance de contaminação das águas subterrâneas,
como pode-se observar na parte do município de Con-
Na bacia do rio Macaé, os procedimentos que carac- ceição de Macabu que integra a bacia hidrográfica do rio
terizam a condição de esgotamento sanitário são Macaé. Há, ainda, um número significativo de domicílios
bastante variados. A coleta do esgoto por meio de que despejam o esgoto diretamente na água dos rios ou
rede geral (dutos) ocorre na maioria dos domicílios da do mar, poluindo diretamente as águas da bacia.
cidade de Macaé. Destaca-se, ainda, a fossa séptica
em muitos domicílios das regiões de Macaé de Cima, No final de 2014, foram inauguradas duas Estações de
São Pedro da Serra, Lumiar e Sana. Esses dois tipos Tratamento de Esgoto na bacia hidrográfica do rio Macaé,
de coleta de esgoto são os que garantem qualidade da uma em Glicério e a outra no Sana. Se operadas de forma
água despejada no ambiente. As estações de trata- adequada e acompanhadas da expansão da rede coletora
mento de esgoto e as fossas sépticas são eficientes de esgotos para os domicílios que ainda não são atendi-
quanto à prevenção de doenças e contaminação da dos pela rede, elas podem contribuir para uma melhoria
água e do solo. na qualidade das águas da bacia.

66 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Esgotamento Sanitário, por Distrito

67
COLETA DE LIXO
O lixo, conjunto dos objetos sólidos não aproveitados encarrega de destiná-lo a aterros. Porém, em
das atividades humanas, pode ter vários tipos de algumas localidades da bacia, como Carape-
destinos, pois nem todos os domicílios da bacia do bus, Conceição de Macabu e Cachoeiros de
Macaé são atendidos com um serviço de limpeza que Macaé, há uma parcela considerável do lixo que
possibilite a coleta do lixo periodicamente e o destine é queimada dentro da propriedade de origem.
de forma adequada, preferencialmente até um aterro
sanitário. Quando mal acondicionado, o lixo pode O impacto ambiental da queimada do lixo é um
causar danos à saúde da população e provocar a assunto preocupante, pois as queimadas in-
poluição ambiental. Alguns animais, ao entrarem em terferem na qualidade do ar, produzindo gases
contato com o lixo disposto de forma inadequada, nocivos à saúde humana e diminuindo a visibi-
podem transmitir doenças, como leptospirose, cóle- lidade atmosférica, o que pode gerar aumento
ra, verminoses, etc. de acidentes em estradas. Em áreas rurais,
envolve a fertilidade dos solos e a destruição
Na bacia do rio Macaé, boa parte da população da biodiversidade. Além disso, a queima de lixo
tem seu lixo coletado por serviço de limpeza que o contribui para o lançamento de gases de efeito
recolhe na porta do domicílio ou em caçambas dis- estufa para a atmosfera, impactando sobre a
tribuídas pelas localidades e que, posteriormente, se clima do planeta.

68 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Destino do Lixo, por Distrito

69
UNIDADE V
GESTÃO AMBIENTAL NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ

70 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Unidades de Conservação (UCs)
As Unidades de Conservação podem ser de tipos diferentes, dependendo do nível de restrição que
A qualidade do ambiente dentro da bacia hidrográfica e, principal- elas determinam e da esfera do poder às quais elas pertencem.
mente, a qualidade da água dos rios é garantida, sobretudo, pela
condição de preservação da vegetação. Quanto mais alteradas forem Quanto ao nível de restrição, elas podem ser, basicamente, de 2 tipos: de proteção integral ou de uso
as florestas, mais problemas ambientais podem acontecer, como a sustentável. As Unidades de Proteção Integral são aquelas onde não é permitido o uso direto dos
erosão dos solos, a extinção de espécies da fauna e da flora (que leva recursos naturais. Não é permitido construir casas, retirar árvores para criar animais ou fazer plan-
ao desequilíbrio ecológico) e alteração nos regimes de chuva. Uma das tações. Também não é permitido que pessoas habitem a sua área. Só se pode entrar lá para realizar
principais estratégias para se garantir a preservação dos ambientes é atividades como turismo ecológico, pesquisas científicas, educação ambiental, ou seja, atividades que
a criação de Unidades de Conservação, que são áreas dentro das quais não afetam diretamente os ecossistemas. Os Parques Nacionais e Estaduais e as Reservas Biológicas
há regras para a realização de atividades produtivas, como plantações, são exemplos desse tipo de Unidade de Conservação.
criação de gado, uso urbano, turismo etc. Existem diferentes tipos de
Unidades de Conservação (box ao lado). As Unidades de Uso Sustentável, como as Áreas de Proteção Ambiental (APAs) ou as Reservas Extrativis-
tas, são áreas onde são permitidos vários tipos de uso, mas esses usos são regulamentados. É possível
Na parte alta da bacia, as mais importantes são o Parque Estadual existirem áreas destinadas a atividades como o turismo, o uso agrícola, o uso urbano, mas também há áre-
do Três Picos, que abriga as nascentes do rio Macaé, e a Área de as determinadas para a preservação permanente. A definição dessas áreas, normalmente, está presente
Proteção Ambiental (APA) de Macaé de Cima, que abrange toda a no Zoneamento da UC, que deve ser construído pelo poder público em conjunto com a população local. As
porção superior da bacia. Há também várias Reservas Particulares Reservas Particulares do Patrimônio Natural (RPPNs) são uma outra categoria desse tipo de Unidade de
de Patrimônio Natural (RPPN). Na porção média, destaca-se a APA Conservação. Elas ficam dentro da propriedade de uma pessoa que deseja preservar os recursos naturais
do Sana. Na parte baixa, o Parque Municipal do Atalaia e a Reserva daquela área para sempre.
Biológica União são as mais importantes.

PLACA INDICANDO A EXISTÊNCIA DE UMA AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO SÃO UTILIZADAS PARA A GES- RESTINGA DO PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE
RPPN EM BARRA DO SANA. TÃO AMBIENTAL, INCLUINDO AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. DE MACAÉ, 2006).

71
O respeito às regras definidas dentro dessas Unidades de Além das UCs já existentes, há projetos que visam ampliar os Por isso, é importante ampliar as áreas destinadas à
Conservação é fundamental para que a qualidade da água limites das mesmas, bem como recuperar ecossistemas dentro conservação também na porção inferior da bacia.
do rio Macaé seja cada vez melhor. Para isso, é necessário delas, para garantir uma melhor condição da vegetação e, conse-
que a fiscalização seja eficiente e que a população seja quentemente, uma melhor qualidade ambiental da bacia. Com base nisso tudo, devemos pensar: então, que
bem informada e conscientizada sobre a sua importância. medidas podem ser tomadas para que a qualidade
É importante ainda que os gestores das UCs estabeleçam Podemos ver que a maior parte das UCs está nas porções alta e do ambiente da bacia do rio Macaé seja cada vez
um diálogo permanente com os moradores do entorno e média da bacia. Se pensarmos na bacia como um sistema, fica melhor? O mapa “Macaé Rio do Futuro” foi elabo-
do interior dessas UCs, para que suas opiniões e interesses evidente que na porção inferior ocorrem usos e atividades que rado com este objetivo. Foram definidas áreas para
também sejam considerados no processo de gestão. ameaçam a qualidade do ambiente e das águas do rio Macaé. diferentes fins. Nele, podemos ver (em amarelo)

Mapa de Unidades de Conservação Situadas na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

72 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa Macaé Rio do Futuro

áreas prioritárias para a conservação em corredores na bacia, garantindo uma melhora nas condições ambientais e contribuindo para que,
ecológicos. A partir da definição dessas áreas, as par- futuramente, o rio Macaé apresente um ambiente sustentável e que a boa qualidade de sua
tes mais preservadas teriam uma maior importância água seja refletida em melhoria da qualidade de vida para seus habitantes.

73
CBH MACAÉ OSTRAS
Já vimos que a qualidade da água está ligada à Águas (ANA). Este órgão é responsável pela gestão dos rios fe- No caso do rio Macaé, o Comitê das Bacias
qualidade de vida das pessoas e que as bacias derais, que são aqueles que cruzam mais de um estado ou que Hidrográficas dos Rios Macaé, Ostras, Im-
hidrográficas são sistemas complexos. De alguma tem uma importância estratégica específica para a federação. boassica e da Lagoa de Imboassica (CBH
forma, todos os que estão no interior de uma bacia Macaé e Ostras, cujo endereço eletrônico
compartilham de um interesse em comum: a ma- O rio Macaé é um rio estadual e sua gestão é de responsabilida- é www.cbhmacae.eco.br) - reconhecido
nutenção da abundância e da qualidade da água. de da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA). No âmbito deste e qualificado pelo Decreto Estadual no
órgão, com o objetivo de viabilizar o planejamento das ações que 34.243/03, de 04 de Novembro de 2003
Por representar um bem comum e por ser tão envolvem o uso da água, foram definidas regiões hidrográficas. e alterado pela Resolução n° 18 de 08 de
importante, a água pode ser também motivo de Elas são formadas por uma ou mais bacias que estão presentes novembro de 2006 do Conselho Estadual
conflitos, pois sua necessidade de uso pode ser bem em uma região. No Rio de Janeiro, há dez regiões hidrográficas e a de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro
diferente entre os grupos sociais que vivem no inte- bacia do rio Macaé compõe a Região Hidrográfica VIII, denomina- - é responsável pela gestão das bacias
rior de uma bacia hidrográfica. Por exemplo, a água da Macaé e Rio das Ostras. hidrográficas dos rios Macaé e das Ostras.
é fundamental para o funcionamento das indústrias, É com base nas articulações deste comitê
para as plantações e criação de animais. Essas Um dos instrumentos mais importantes para garantir a partici- que pôde ser elaborado um documento
atividades, muitas vezes, comprometem a qualidade pação da população nas decisões que envolvem o uso da água como o Plano de Recursos Hídricos da
da água, pois os dejetos derivados da produção, em é o Comitê de Bacias Hidrográficas. Para cada região hidrográ- Região Hidrográfica de Macaé e Rio das
muitos casos, são lançados nos rios. Desta forma, fica ou bacia hidrográfica, é formado um comitê, composto por Ostras, disponível no endereço eletrônico
pode haver conflitos com aqueles que fazem uso membros das diferentes organizações da sociedade civil e pelo www.planomacaeostras.com.
das águas para lazer, turismo ou pesca na região. poder público. Em uma reunião do comitê é possível encon-
trar representantes de agricultores, industriais, comerciantes, Algumas áreas que não se encontram nos
Situações como esta mostram como é importante membros de comunidades indígenas, cientistas, membros limites da bacia, mas pertencem à região
que as decisões sobre o que ocorre dentro de uma das prefeituras, entre outros. Este comitê constitui um espaço hidrográfica de Macaé e Rio das Ostras,
bacia sejam tomadas coletivamente, com a parti- propício para que as decisões sobre o que é prioritário em uma são muito importantes para a região. É
cipação de representantes de todos os grupos que região hidrográfica sejam tomadas em conjunto, de forma a di- o caso do Parque Nacional da Restinga
usam a água. Afinal, qualquer mudança na bacia minuir os conflitos sobre o uso da água. E o comitê é um órgão de Jurubatiba, que abrange vastas áreas
pode afetar direta ou indiretamente a vida de todos. deliberativo, conforme a Lei 9.433/1997, que institui a Política deste tipo de vegetação preservadas e, por
Nacional de Recursos Hídricos. Isto significa que é o órgão isso, representa um importante patrimônio
O órgão do governo federal que organiza a gestão responsável pelas decisões referentes à gestão dos recursos natural da região.
da água no nosso país é a Agência Nacional de hídricos de uma bacia hidrográfica.

74 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Regiões Hidrográficas do Estado do Rio de Janeiro e Bacia Hidrográfica do Rio Macaé

75
UNIDADE VI
CIDADE DE MACAÉ

76 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Macaé é o município que possui maior área dentro da bacia hidrográfica do rio Macaé: 1.448Km2, corresponden-
tes a 82% da área total desta bacia. Inclui a foz do rio Macaé, a grande planície cruzada por este rio antes de de-
sembocar no oceano Atlântico e áreas montanhosas da Serra de Macaé, onde estão as nascentes de importantes
Macaé e Petróleo
afluentes do rio Macaé, como os rios Sana e São Pedro. A escolha da cidade de Macaé como base para as
atividades de exploração marítima de petróleo
A área denominada como cidade de Macaé corresponde ao distrito sede deste município e está localizada junto à foz ocorreu, principalmente, por conta de suas caracte-
do rio Macaé no oceano Atlântico. Está parcialmente inserida na bacia do rio Macaé, mas possui partes fora dessa rísticas geográficas particulares. O caráter portuário
bacia, como as áreas no entorno da Lagoa de Imboacica, por exemplo. de seu litoral, com a segura enseada de Imbetiba, e
sua posição relativa, próxima à principal reserva de
É importante falar ainda do bairro Lagomar. Apesar de estar fora dos limites da bacia hidrográfica do rio Macaé, suas petróleo no oceano (Bacia de Campos) e à capital do
águas são drenadas para o rio Macaé, através do canal Campos-Macaé (ver box página 25). Este canal recebe toda a estado Fluminense, foram os principais fatores que
drenagem do bairro Lagomar e parte das águas de bairros vizinhos, como Ajuda e Parque Aeroporto, e despeja essas levaram o governo federal, na segunda metade da
águas no rio Macaé. Assim, o Lagomar está inserido no sistema hidrográfico do rio Macaé, apesar de estar fora dos década de 70, a polarizar nesse município os investi-
limites naturais da bacia hidrográfica desse rio. mentos para a exploração offshore do petróleo.
Na década de 1980, o governo federal buscou am-
pliar os investimentos e o uso de novas tecnologias
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO para aprimorar a produção da bacia de Campos, o
que permitiu ao país bater sucessivos recordes de
A ocupação da região onde está inserida a cidade de Macaé Ao longo do século XVIII, a região assumiu uma fun- produtividade. Além disto, foram descobertos vários
se inicia por povos nômades (ver box da página 54) e por ção quase que exclusiva de provedora de produtos outros campos deste recurso natural, como os de
índios Goytacazes e Tupinambás. agropecuários para o Rio de Janeiro, a começar Albacora, em 1984, e Marlim, em 1985.
pela pecuária, que servia de apoio à atividade
A colonização oficial da região teve início com a chegada dos canavieira. Durante os séculos XVIII e XIX, houve a O dinamismo econômico que a atividade de explo-
jesuítas no final da década de 1630, quando começaram a expansão da economia da cana de açúcar, amplian- ração do petróleo produziu na cidade de Macaé
erguer a Capela de Santana, um engenho e um colégio no lu- do a ocupação para o interior do município. transformou o município em pólo de desenvolvimen-
gar posteriormente conhecido como a Fazenda dos Jesuítas to regional, atraindo populações de outras regiões do
de Macaé. Até o fim do século XVII, no entanto, Macaé ainda Passagem terrestre obrigatória entre os municípios Brasil e, até mesmo, profissionais estrangeiros.
não possuía uma ocupação efetiva pelos portugueses, sendo do Rio de Janeiro e de Campos (importante produ- O atual ciclo econômico do município macaense,
alvo de pirataria praticada por franceses, que saqueavam o tor de açúcar), Macaé exerceu também a função de sustentado pela dinâmica da atividade petrolífera
litoral, roubavam embarcações e assaltavam barcos. cobrar impostos e manter controle sobre o território. na bacia de Campos, imprimiu mudanças intensas
na paisagem municipal nos últimos 40 anos, como
A ocupação da área onde posteriormente se instala o muni- Em 15 de abril de 1846, a Lei Provincial nº. 364 a expansão das áreas urbanas e crescimento de sua
cípio de Macaé se inicia a partir do estabelecimento de uma elevou a Vila São João de Macaé (nome dado à vila população residente.
colônia de pescadores junto à foz do rio Macaé. de Macaé à época) à categoria de cidade.

77
Naquela época, utilizavam como porto marítimo para o escoamento Este cenário, associado à redução da importância do porto de Imbetiba, gerou estagnação da economia regional.
da produção açucareira a enseada de Imbetiba, situada na cidade de
Macaé. Este porto foi importantíssimo para a economia do período O município manteve sua economia sustentada por atividades rurais durante muitos anos. As principais lavou-
imperial, ampliando as funções da cidade, que se tornou um importante ras do município, até os dias de hoje, são as de cana de açúcar, laranja, tomate, café, mandioca, banana, feijão,
centro de administração comercial. O desenvolvimento da Estrada de batata-doce, milho, arroz e abacaxi. A pecuária também é bastante desenvolvida.
Ferro Macaé - Campos (1874) reforçou ainda mais o papel da região
como impulsionadora da economia local. A partir de 1974, com a descoberta de petróleo na bacia de Campos, Macaé passa a viver uma série de trans-
formações sociais, econômicas e ambientais, que mudam a paisagem do município e seus habitantes. Há
Entretanto, no final do século XIX, com a expansão da malha ferroviária um intenso e rápido processo de urbanização, fruto da expansão das atividades industriais e comerciais e do
e a interligação de ramais ferroviários até o município de Niterói, o eixo crescimento populacional, que gerou maior densidade de ocupação na sede do município de Macaé e avanço
de escoamento da produção foi deslocado e o porto de Imbetiba entrou sobre áreas não ocupadas anteriormente.
em estagnação.
Por outro lado, a exploração do petróleo trouxe grande impulso à economia local, fazendo de Macaé um dos
No século XX, ocorreu a decadência da indústria açucareira, relacionada à municípios que mais contribuem para a geração de riquezas no estado do Rio de Janeiro e ajudando este
abolição da escravatura, ao esgotamento dos solos e à perda dos mercados o município a elevar seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,534 em 1991, para 0,764 em 2010
internacionais para a produção modernizada de outras regiões brasileiras. (PNUD et al., 2013).

POPULAÇÃO
Desde o início da exploração do Petróleo, o municí-
pio de Macaé vem passando por rápido crescimento
demográfico. A população passou de pouco mais de 47
mil habitantes, em 1970, para mais de 200 mil, quaren-
ta anos mais tarde. Ou seja, cresceu mais de 4 vezes.

Este aumento populacional está intimamente asso-


ciado à indústria do Petróleo, tanto que no período
anterior à 1970 o crescimento não foi tão acentuado. A
verdadeira explosão demográfica ocorre, principalmen-
te, a partir da década de 1980, quando Macaé passa
a conviver com taxas de crescimento geométrico da
população extremamente elevadas, sempre acima de
4,5% ao ano. Para se ter uma idéia de como essa taxa
é elevada, para o Brasil, depois de 1980, ela foi sem-
GRÁFICO MOSTRANDO O
pre inferior a 1,93% e no estado do Rio de Janeiro foi CRESCIMENTO DEMOGRÁ-
inferior a 1,5%. FICO DO MUNICÍPIO DE
MACAÉ ENTRE 1940 E 2010

78 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Pessoas Residentes no Distrito Sede de Macaé, em 2000, por Subdistrito Mapa de Pessoas Residentes no Distrito Sede de Macaé, em 2010, por Subdistrito

79
TABELA COM A TAXA MÉDIA GEOMÉTRICA ANUAL DE
CRESCIMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE MACAÉ, ENTRE 1970 E 2010

Mapa de Taxa de Crescimento 2000-2010 no Distrito Sede de Macaé, por Subdistrito Ano 1970-80 1980-91 1991-00 2000-10

Taxa média geométrica de


2,58 5,24 4,50 5,71
crescimento anual de Macaé (%)

Taxa média geométrica de


2,48 1,93 1,64 1,17
crescimento anual do Brasil (%)

Taxa média geométrica de


2,30 1,15 1,32 1,13
crescimento anual do RJ (%)

FONTE – CENSO IBGE (WWW.IBGE.ORG.BR)

Entre 2000 e 2010 esse crescimento tornou-se ainda mais vigoroso, com a po-
pulação de Macaé apresentando um crescimento de mais de 75 mil habitantes,
o que corresponde à 57% no período de 10 anos (ou 5,7% ao ano).

O predomínio de moradias precárias para a população de baixa renda, o des-


pejo de esgoto no ambiente e as dificuldades de abastecimento de água são
problemas relacionados a esse crescimento populacional.

Como agravante, quase toda a população de Macaé vive junto ao litoral, na ci-
dade de Macaé, concentrando problemas no núcleo urbano principal. O interior
é um vazio demográfico marcado pela presença de pastos, florestas em áreas
de serra e pequenos aglomerados urbanos, como Glicério, Córrego do Ouro e
Sana, por exemplo.

O Distrito de Macaé (sede) é o único que apresenta divisão subdistrital, estan-


do dividido em 6 subdistritos. O maior é Cabiúnas, situado no extremo norte,
mas o destaque é o Centro, que engloba o centro histórico de Macaé e grande
parte da população e das atividades comerciais e burocráticas.

Em 2010, estavam no distrito sede mais de 195 mil pessoas, correspondentes


a 94,7% da população macaense. Destes, mais de 79 mil pessoas, ou 38% da
população de Macaé, morava no subdistrito do Centro.

80 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de densidade demográfica em 2000 no Distrito Sede de Macaé, por Subdistrito Mapa de densidade demográfica em 2010 no Distrito Sede de Macaé, por Subdistrito

81
TABELA COM TOTAL DE PESSOAS
RESIDENTES NO DISTRITO DE MACAÉ NOS
Apesar de ser o subdistrito com maior população e ter sofrido aumento do
ANOS DE 2000 E 2010, POR SUBDISTRITO 2000 2010
número de moradores entre 2000 e 2010, o Centro sofreu uma redução
na importância relativa nesse período. Em 2000 quase 50% da população
SUBDISTRITOS ÁREA Km2 TOTAL % TOTAL % macaense estava no Centro.

Barra de Macaé 9,06 19.895 15,0 32.362 15,7 Essa dinâmica demográfica está associada ao crescimento elevado de
todos os demais subdistritos. Destaques para o Parque Aeroporto, que
ParqueAeroporto 66,43 21.178 16,0 37.760 18,3
teve um aumento de 16.582 habitantes, Barra de Macaé (12.467) e Cabi-
Cabiúnas 151,78 5.542 4,2 23.952 11,6 únas (18.410).

Imboassica 70,29 11.119 8,4 20.132 9,7


Esse último subdistrito mostrou um crescimento proporcional muito forte
Centro 15,00 65.708 49,6 79.381 38,4 entre 2000 e 2010. Sua população aumentou cerca de 4 vezes e sua taxa
média geométrica de crescimento anual foi de 33,2% no período. Este
Nova Cidade 42,39 514 0,4 0,4 2.095 1,0
grande aumento populacional está associado, sobretudo, ao aumento da
Total 354,95 123.957 93,6 195.682 94,7 população do Lagomar, onde estão quase todos os moradores do subdistri-
to de Cabiúnas.
% - PROPORÇÃO DE PESSOAS, EM RELAÇÃO AO TOTAL POPULACIONAL DO MUNICÍPIO DE MACAÉ.

EVOLUÇÃO URBANA NA ÁREA URBANIZADA DE MACAÉ – 1956 A 2013


Este aumento populacional intenso teve reflexos no espaço, tanto pelo adensamento manguezais e gramíneas, fazendo a cidade avançar para alguns pontos da
de áreas ocupadas, como pela expansão da urbanização e redução das áreas ocupadas margem esquerda do rio, dando início à ocupação da Barra de Macaé, além
por ecossistemas naturais. de crescer timidamente na faixa litorânea.

Mas, desde quando isso acontece? A cidade cresceu de repente? A urbanização se intensificou na década seguinte. Em 1976, houve avanço
da área urbana ao longo da restinga no sentido sudoeste e também nor-
A sequência de mapas mostra as mudanças ocorridas na cobertura vegetal e uso do solo deste, resultando na alteração das paisagens da Praia Campista, Cavalei-
no município de Macaé entre os anos de 1956, 1966, 1976, 1989, 1999, 2011 e 2013 e nos ros, Nova Holanda e Parque Aeroporto. E o que motivou este crescimento
permite perceber aspectos interessantes sobre a evolução urbana no município de Macaé. das áreas urbanas?

É possível observar que nesse período houve um aumento gradativo das áreas urbanas, Entre as décadas de 1950 e 1970, a população brasileira cresceu em ritmo
que estão representadas pela cor vermelha. Em 1956, elas estavam restritas à ocupa- acelerado e muitos brasileiros deixaram o campo para viver nas cidades.
ção da margem direita do rio Macaé, nas proximidades com o mar. Já em 1966, novas Macaé também sentiu o impacto destas transformações, ainda que em
áreas urbanas se formaram principalmente sobre áreas antes ocupadas por restingas, proporções menores do que os municípios da Região Metropolitana do

82 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapas do Centro de Macaé em 1956 Mapas do Centro de Macaé em 1966

83
Mapas do Centro de Macaé em 1976
Rio de Janeiro. Porém, o que contribuiu signifi-
cativamente para o aumento da urbanização
de Macaé ao longo da década de 1970 foi a
descoberta e o início da extração do petróleo
na bacia de Campos.

Vale lembrar que essas informações foram


obtidas em fotografias aéreas desses períodos
e, por terem sido obtidas há muitos anos atrás, a
qualidade das imagens não é tão boa. Por isso, as
informações não são tão precisas. De qualquer
forma, os mapas nos permitem ver que a cidade
já crescia nesse período, mas isto ainda ocorria
de forma lenta se comparado ao crescimento que
a cidade vivenciou nas décadas seguintes.

Nas décadas de 1980 e 1990, houve, além da


consolidação de áreas urbanas dos bairros
próximos ao Centro, como Riviera Fluminense,
Glória, Aroeira e Botafogo, o aparecimento de
novas áreas urbanizadas nos arredores da cida-
de, como Granja dos Cavaleiros, Lagoa, Barra de
Macaé e Parque Aeroporto.

Os mapas das décadas seguintes mostram que


o processo de expansão das áreas urbanas se
intensificou nas áreas consolidadas até a década
de 1990, tornando o tecido urbano mais denso e
contínuo, além de avançar para o interior. Áreas
que anteriormente eram ocupadas por gramí-
neas e tinham o uso ligado a atividades rurais
passaram a fazer parte da cidade. Este é o caso
de Ajuda, Virgem Santa. Mas o que mais chama
atenção nas últimas décadas é o avanço da cida-

84 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapas do Centro de Macaé em 1989

Mapas do Centro de Macaé em 1999

85
Mapas do Centro de Macaé em 2011

Mapas do Centro de Macaé em 2013

86 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


de na direção Norte, com o surgimento de novos bairros, como São José Sem dúvida, o crescimento urbano foi acompanha-
do Barreto e Lagomar. do pelo desenvolvimento econômico de Macaé.
Todavia, não devemos esquecer que o avanço da
Podemos perceber que desde o início da exploração do petróleo, na déca- cidade se deu, principalmente, em áreas original-
da de 1970, muita coisa mudou. Novos bairros surgiram, o tecido urbano mente ocupadas pela restinga e pelo mangue que,
cresceu em função do aumento do número de habitantes e do desenvolvi- como vimos, são ambientes muito importantes
mento de atividades ligadas principalmente à exploração de petróleo. para o equilíbrio ambiental.

EXPANSÃO URBANA NA PLANÍCIE DO RIO MACAÉ. EM PRIMEIRO PLANO UMA


OCUPAÇÃO UM POUCO MAIS ADENSADA, MAIS PRÓXIMA DO CENTRO URBA-
OCUPAÇÃO ÀS MARGENS DO RIO MACAÉ, EM TRECHO SITUADO NA PLANÍ- NO. ATRÁS, EM ÁREA MAIS DISTANTE DO CENTRO DE MACAÉ, SE OBSERVA
CIE, MAS NÃO RETIFICADO (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE DE OCUPAÇÃO MAIS ESPARSA. AO FUNDO A SERRA DE MACAÉ (FOTO: SECRETA-
MACAÉ, 2006). RIA MUNICIPAL DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006). CONJUNTO HABITACIONAL SITUADO NA PLANÍCIE DO RIO MACAÉ.

EXPANSÃO URBANA NA
PLANÍCIE DO RIO MACAÉ. OCUPAÇÃO DESORDE-
FRANJA DE OCUPAÇÃO NADA ÀS MARGENS
SE EXPANDINDO PARA O DO CANAL SANTA
ENTORNO DA LINHA AZUL, VIRGÍNIA, QUE DRENA
VIA QUE CORTA A PLANÍCIE SUAS ÁGUAS PARA
DO RIO MACAÉ NA PERIFERIA O RIO MACAÉ (FOTO:
DO CENTRO URBANO (FOTO: SECRETARIA MUNICI-
SECRETARIA MUNICIPAL DE PAL DE AMBIENTE DE
AMBIENTE DE MACAÉ, 2006). MACAÉ, 2006).

87
Mapa de abastecimento de água no Centro de Macaé, em 2010

ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA
PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ
A maior parte dos domicílios da cidade de Macaé possui
acesso à água tratada, com abastecimento pela rede
geral. Entretanto, em Imburo, Nova Cidade e Aterrados
do Imburo, os dados do Censo de 2010 mostram que há
um número considerável de domicílios abastecidos por
poços ou nascentes.

Como as nascentes não são encontradas em grande


quantidade no baixo curso da bacia, é mais comum o
acesso à água a partir de sua retirada do subsolo. Em-
bora o abastecimento de água por poço aparente ser
uma opção interessante e econômica, tendo em vista
os custos envolvidos quando o domicílio é conectado à
rede de abastecimento, ele também pode ser prejudicial
à saúde. Afinal, a água transportada pelos dutos da rede
geral passa por um tratamento.

Parte-se do princípio que a água subterrânea é limpa,


sendo própria para o consumo. Mas nem sempre isto
acontece, pois o lençol freático pode ter sido conta-
minado pelo esgoto, produtos químicos utilizados na
agricultura e indústrias, óleos, graxas e combustíveis
dos automóveis e demais resíduos de outras atividades
desenvolvidas na bacia do rio Macaé.

Portanto, o uso de poços, quando combinado com esgo-


tamento sanitário via fossa rudimentar, pode acarretar
problemas de saúde, já que este tipo de fossa pode ge-
rar contaminação do lençol freático, conforme discutido
na próxima página.

88 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Mapa de Esgotamento Sanitário no Centro de Macaé, em 2010
ESGOTAMENTO
SANITÁRIO NA PORÇÃO
CENTRAL DE MACAÉ
Apesar do aumento de domicílios atendidos pela
rede de esgoto entre 2000 e 2010, há ainda áreas
da cidade de Macaé com parte significativa de
seu esgoto armazenado em fossas rudimentares
ou despejado diretamente em rios ou no oceano
Atlântico, como ocorre, por exemplo, em Barra de
Macaé, na Aroeira e Nova Cidade, o que intensi-
fica a perda da qualidade da água da bacia. Por
isso, o ideal é que haja a expansão da rede de
esgoto em direção às áreas de urbanização mais
recente, para que ele seja transportado até uma
estação de tratamento.

Porém, mesmo que toda a cidade de Macaé apre-


sente, no futuro, seus domicílios com esgotamen-
to sanitário via rede geral ou fosse séptica, isso
não significa que seus rios não estarão contami-
nados com esgoto. Como ela está localizada no
baixo curso da bacia hidrográfica do rio Macaé,
os cursos d’água desta bacia sofrem as consequ-
ências dos impactos ambientais desencadeados
no alto e médio curso. Ou seja, caso boa parte do
esgoto no Frade e Glicério, por exemplo, continue
a ser despejado nos rios e em fossas rudimenta-
res, a poluição do rio São Pedro acabará sendo
transferida para o baixo curso do rio Macaé. Por
isso, é importantíssimo buscar formas de gestão
ambiental a partir da bacia hidrográfica como um
todo e não apenas por municípios ou distritos.

89
Mapa de coleta de lixo no Centro de Macaé, em 2010

COLETA DE LIXO NA
PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ
O lixo na cidade de Macaé é quase inteiramente coletado por serviços
públicos de limpeza, fornecidos pela municipalidade. Exceções são
observadas nos distritos de Nova Cidade e de Cabiúnas, onde parte
importante da população queima o lixo dentro de suas propriedades.

A queima de lixo é uma forma inadequada de destinação, pois gera


piora na qualidade do ar e tem reflexos sobre o lançamento de gases
de efeito estufa na atmosfera. Este problema é mais acentuado em
Cabiúnas, pois a proporção da população sem coleta formal de lixo é
maior nesse distrito.

Como agravante, em Cabiúnas boa parte do abastecimento de água é


realizado a partir de poços. Assim, a inexistência de coleta de lixo pode
se tornar um problema sério, caso o lixo contamine os solos e essa con-
taminação atinja o lençol freático. Porém, segundo os dados do censo,
nesse distrito ninguém lança esgoto diretamente em rios, lagos, no mar
ou em terrenos públicos, reduzindo essa preocupação.

90 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


GLOSSÁRIO
Água Salobra – Água formada pela mistura de água doce Dossel superior – Conjunto das copas das árvores mais ocorrem em locais onde há grande pluviosidade (chuva) durante quase
e água salgada. altas de uma floresta que se situam próximas e formam um todo o ano, sem a existência de uma época seca marcante. Por conta
contínuo. da elevada umidade do ambiente, essas matas estão sempre verdes.
Árvores emergentes – Árvores cujas copas passam do Geralmente, possuem grande diversidade biológica, com muitas
dossel superior. Endemismo – Espécies endêmicas são aquelas que ocor- espécies de árvores, arbustos, ervas e epífitas (espécies vegetais que
rem somente em um determinado local. Assim, espécies crescem sobre outras plantas, sem prejudicá-las).

Assoreamento – O assoreamento é o acúmulo de sedi- endêmicas da Mata Atlântica são espécies que só existem
mentos (areia, argila e outros materiais) no fundo dos nesse bioma, como o palmito jussara (Eutherpe edulis), por Floresta Paludosa – Florestas que ocorrem em baixadas, em locais
exemplo, enquanto espécies endêmicas de um ecossistema onde pode haver alagamento durante a época mais chuvosa do ano.
rios, lagos e lagoas, causando redução em sua profundi-
ocorrem apenas nesse ecossistema. Há, inclusive, espécies Geralmente, possuem características distintas das demais florestas
dade. Processos de erosão intensa na bacia hidrográfica
endêmicas de um ou de poucos locais, como a Vriesea existentes no entorno, como árvores menores e espécies típicas que,
de um rio geram assoreamento deste rio.
botafoguensis, espécie de bromélia que só ocorre no Pão muitas vezes, só ocorrem nessas formações e têm adaptações para
de Açúcar, na Pedra da Gávea e no Morro da Chacrinha, na viver nesses ambientes.
Calha de um rio – Canal por onde o rio corre.
Cidade do Rio de Janeiro, e no paredão do Alto Mourão, no
Município de Niterói, por exemplo. Orquídeas, aráceas e bromélias – Famílias vegetais.
Campos – Formações vegetais dominadas por espécies de
pequeno porte (ervas) entremeadas por pequenos arbustos.
Epífitas – Espécies vegetais que vivem sobre outras espé- Povos Nômades – Os nômades são povos que vivem periodicamente
cies sem prejudicá-las, como bromélias e orquídeas. mudando de lugar. Usualmente são caçadores-coletores ou pastores,
Biodiversidade – A biodiversidade ou diversidade biológi-
mudando-se a fim de buscar novas fontes de recursos para a coleta e
ca é a variabilidade de organismos vivos, compreendendo
a diversidade dentro das espécies, entre espécies e de Erosão – Processo ou conjunto de processos físicos que caça ou pastagens para o gado, quando se esgotam as fontes próximas
agem sobre solos e rochas, gerando destacamento (retira- aos locais onde se encontravam.
ecossistemas.
da), transporte e deposição de partículas em outras áreas,
transformando o relevo da Terra. Rio Tributário – Rios que despejam suas águas (desembocam) em
Brejos – Formações vegetais permanentemente
outro rio e, portanto, são denominados tributários ou afluentes desses.
alagadas, onde a profundidade da água é pequena e
são comuns espécies vegetais que se fixam no fundo Estratos vegetais – Contínuo de copas das árvores que
e mantém suas folhas acima da coluna d’água. É co- são observados em diferentes alturas em uma floresta. O Serra do Mar – Cadeia de montanhas situada junto ao litoral das
estrato mais alto corresponde ao dossel superior. Geral- Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Possui mais de 1.000km de extensão
mum que sejam dominadas pela espécie taboa (Typha
mente, nas florestas mais conservadas e desenvolvidas, há e abrange os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de
domingensis).
a formação de vários estratos. Janeiro. Possui diversos nomes locais, que denominam partes dessa
cadeia de montanhas, como serra de Friburgo, que inclui as terras
Corredor Ecológico (no sentido apresentado nesse atlas)
– faixas que garantem a conectividade entre fragmentos Florestas ou matas ciliares – Vegetação florestal existente onde nasce o rio Macaé, e serra de Macaé, que inclui as localidades de
na beira dos rios, que gera proteção de suas margens con- Sana e Glicério e as nascentes dos rios Sana e São Pedro, importantes
de áreas naturais, por meio da recuperação/preservação
tra processos erosivos, garante abrigo à fauna que vai ao afluentes do rio Macaé.
do estado da vegetação. Eles garantem que as espécies
possam se dispersar por uma área maior, promovendo a rio beber água e lança folhas, flores e frutos nas águas dos
recuperação de áreas degradadas. rios, fornecendo alimentos para diversos organismos que Sistema deltaico ou delta – Feições associadas a depósitos sedimenta-
vivem nessas águas. res fluviais retrabalhados pelo mar.

Dossel – Conjunto de copas de árvores que se situam


próximas, formando um contínuo semelhante a uma Floresta Ombrófila – O termo “ombrófila” vem do grego Sub-bosque – São as espécies vegetais de uma formação situadas
e quer dizer “amigo da chuva”. As florestas ombrófilas abaixo das espécies de maior porte.
“camada” de copas.

91
ATIVIDADES PROPOSTAS
Atividade I: Primeiros Contatos com os Elementos dos Mapas

Mapa pag. 13 b) Em relação à bacia hidrográfica do rio Macaé, indique o nome de


municípios que estão localizados a:
1) No mapa da América do Sul, está destacado o estado do Rio de Janeiro. * Norte
* Sul
a) Consultando as informações do mapa, indique: * Leste
* Os paralelos principais entre os quais está o estado do Rio de Janeiro. * Oeste
* Os meridianos principais entre os quais está o estado do Rio de Janeiro.
* Os estados que fazem limite com o estado do Rio de Janeiro. c) Identifique o meridiano que passa pela bacia do rio Macaé.

b) Considerando a sua localização geral em relação ao oceano Atlântico, à Linha do Mapa pag. 29
Equador e ao Trópico de Capricórnio, escreva um pequeno texto buscando responder
à pergunta: onde está o estado do Rio de Janeiro? 3) Identifique:

a) Os municípios que compõem a bacia do rio Macaé.


Mapa pag. 14
b) As rodovias que ligam a cidade (distrito sede) de Macaé à vila de Lumiar.
2) Observe na legenda a linha que representa o limite da bacia do rio Macaé. A partir disso,
faça o que se pede: c) Os afluentes principais do rio Macaé.

a) Consultando a escala, indique o comprimento aproximado do rio Macaé. d) Pelo menos 4 localidades no entorno da cidade de Macaé

92 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


Atividade II: uma Expedição pela Bacia do Rio Macaé
Estas atividades devem ser feitas utilizando os mapas das páginas 32, 35, 36, 38 e 47 e a figura da página 6. 2) Observando a figura da bacia do rio Macaé, na página
6, e os mapas do Atlas indique a localidade que você
Veja o exemplo a seguir: considera mais apropriada para as seguintes atividades.
Justifique sua resposta:
Um agricultor está procurando uma terra para comprar e resolveu percorrer a sub-bacia do rio São Pedro. Com a ajuda
dos mapas deste Atlas, ele traçou seu trajeto em linha reta saindo de Glicério até Córrego do Ouro. Observando os ma- * Praticar esportes aquáticos
pas, ele já pôde perceber que seu caminho seria marcado por paisagens com diferentes características físicas. * Estudar numa universidade
Seu ponto de partida está em área de pastagem, com altitude entre 50 e 100 metros, localizado na unidade de * Fazer uma caminhada na floresta
relevo de escarpas serranas, cujas rochas são predominantemente compostas por migmatitos. Durante o trajeto, ele * Cultivar banana
cruzará vários morros com pequenos fragmentos florestais de altitudes de 500 a 1000 metros em escarpas serranas * Ter um hotel
degradadas, também formadas por migmatitos, passará por planícies aluviais formadas por sedimentos holocênicos * Pescar
com altitude entre 20 e 50 metros até chegar em Córrego do Ouro. * Tomar um banho de cachoeira
Além das planícies aluviais localizadas sobre sedimentos holocênicos, seu destino é marcado pela existência * Ir a um restaurante
de escarpas degradadas e pela variação da pluviosidade anual, entre 1100 e 1000 mm, que é um pouco menor do * Observar a fauna
que aquela encontrada em Glicério e grande parte do trajeto, que costuma receber entre 1200 a 1300 mm de chu- * Cultivar flores ornamentais
vas anualmente.

1) A partir do exemplo do texto acima, faça o que se pede:

a) Desenhe como você imagina que sejam as paisagens percorridas pelo agricultor.

b) Com base no exemplo acima, crie uma história envolvendo o trajeto em linha reta entre a cidade de Macaé e a vila de
Lumiar, localizada no município de Nova Friburgo. Consulte as legendas dos mapas para identificar as diferentes caracterís-
ticas físicas presentes no seu trajeto.

c) Agora, suponha que você precisa escolher uma área da bacia do rio Macaé para praticar a pecuária. Indique qual local
você escolheria e justifique sua resposta com base nos aspectos aqui observados.

93
ATIVIDADES PROPOSTAS
Atividade III: Pensando sobre os Problemas e Soluções para a Bacia do Rio Macaé
Estas atividades devem ser feitas utilizando os mapas das páginas 65 a 73.

Uma indústria química deseja se instalar na vila do Frade, em um terreno com


cobertura vegetal de floresta em estágio médio/avançado de sucessão e propõe
2) Imagine que você é um gestor público que deseja melhorar a qualidade
que seus efluentes sejam despejados diretamente no rio São Pedro.
socioambiental da bacia. Para isso, construa um mapa da bacia do rio Macaé,
indicando na legenda:

* Limite da bacia hidrográfica do rio Macaé;


1) A partir da situação hipotética descrita acima e considerando seus conhecimentos * Principais rios e localidades da bacia;
sobre bacia hidrográfica, responda as perguntas a seguir: * Áreas prioritárias para ampliação da rede de abastecimento de água;
* Áreas prioritárias para ampliação da rede geral de esgoto e/ou de fossas
a) Se você fosse um membro do Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé, sépticas;
Ostras, Imboassica e da Lagoa de Imboassica (CBH Macaé e Ostras), você apoiaria a * Áreas prioritárias para ampliação da coleta de lixo por serviços de limpeza
instalação dessa indústria no Frade? Justifique sua resposta. e/ou instalação de caçamba de serviço de limpeza;
* Áreas potenciais para ampliação e/ou criação de novas UC’s;
b) Quais medidas você sugeriria que a empresa adotasse para que ela pudesse se * Outras ações que julgue de grande importância para garantir uma melhoria
instalar na bacia do rio Macaé? da qualidade socioambiental.

Atividade IV: Passado, Presente e Futuro da Cidade de Macaé 3) Observe o mapa da página 80, que mostra o percentual de
crescimento populacional dos subdistritos de Macaé (Imboas-
sica, Centro, Macaé, Barra de Macaé, Nova Cidade, Aeroporto
1) Observe os mapas de evolução urbana do centro de Macaé entre 1956 e 2012 (páginas 83 a 86).
e Cabiúnas), no período de 2000-2010.
Quais as principais transformações observadas? Quais os fatores que contribuíram para a ocorrên-
cia de tantas transformações neste período?
* Localize sua escola e sua residência nos subdistritos.
* Identifique os subdistritos que tiveram maior percentual de
2) Entre a década de 1950 e os dias atuais, diversos foram os bairros de Macaé que passaram por
crescimento.
grandes transformações em suas paisagens. Faça uma ilustração da paisagem atual do seu bairro e da
* Procure no texto os principais impactos socioambientais
paisagem que você teria encontrado se tivesse conhecido o bairro em 1980.
que surgiram a partir desse crescimento.

94 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


4) Observe os mapas da página 81 e compare os dados sobre densidade demográfica dos sub- Responda:
distritos de Macaé nos anos 2000 e 2010. * Que bairros precisam melhorar o abastecimento de domicílios com água prove-
* Quais são os subdistritos com maior densidade demográfica no ano 2000? E os subdistritos niente da rede geral?
com menor densidade demográfica nesse mesmo ano? * Qual(is) subdistrito(s) têm 100% dos domicílios abastecidos com água da
* Quais são os subdistritos com maior densidade demográfica no ano 2010? E os subdistritos rede geral?
com menor densidade demográfica nesse ano? * Qual(is) subdistrito(s) têm menos da metade do abastecimento de água pro-
* Determine a diferença de densidade demográfica para cada subdistrito entre os anos veniente da rede geral?
2000 e 2010. * Que benefícios ambientais a captação de água da chuva pode trazer para a
população?
5) Discuta com seus colegas os seguintes tópicos: * Pesquise e discuta com seus colegas o que significa “outras formas de abas-
* Os fatores que contribuíram para o aumento da densidade demográfica em certos tecimento.”
subdistritos * Estabeleça as diferenças entre esgotamento via rede geral de esgoto ou pluvial,
* Os benefícios e os prejuízos provenientes desse aumento demográfico. via fossa séptica e via fossa rudimentar.
* “Nem sempre a água subterrânea é limpa porque o lençol freático pode ter sido contaminado * Que problemas podem surgir para a população se o poço for construído próximo
pelo esgoto, produtos químicos utilizados na agricultura e indústrias, óleos, graxas e combus- a fossa rudimentar?
tíveis dos automóveis e demais resíduos de outras atividades desenvolvidas na bacia do rio * O subdistrito de Cabiúnas é o único que possui uma proporção significativa de
Macaé”. domicílios que queimam lixo. Quais problemas ambientais podem ser gerados em
* “Mesmo que toda a cidade de Macaé apresente, no futuro, seus domicílios com esgota- função da queima de lixo?
mento sanitário via rede geral ou fossa séptica, isso não significa que seus rios não estarão
contaminados com esgoto. Como ela está localizada no baixo curso da bacia hidrográfica do 6) Para cada aspecto listado abaixo, analise os impactos positivos e negativos para
rio Macaé, os cursos d’água desta bacia sofrem as consequências dos impactos ambientais a cidade de Macaé.
desencadeados no alto e médio curso”. * Ocupação do solo urbano de áreas ribeirinhas
* Desmatamento
A partir da análise dos mapas das páginas 88 a 90 e dos gráficos inseridos nos mapas, faça o * Impermeabilização do solo
que se pede: * Assoreamento de rios
* Construa uma tabela como a do modelo abaixo, identificando a condição de abastecimento * Destruição do ambiente aquático
de água, coleta de esgoto e coleta de lixo dos subdistritos: * Mudança de paisagem e relevo
* Produção de empregos
Subdistrito Tipos de abastecimento de água Tipos de coleta de esgoto Tipo de Coleta de Lixo * Perda do ambiente natural para o lazer
* Aumento da arrecadação municipal

7) Discuta com seus colegas que medidas poderiam ser implementadas para
diminuir os impactos socioambientais dos problemas identificados no exercí-
cio anterior.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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96 Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé


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Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
O Porto de Macaé/RJ, como Lugar litoreiro, ainda faz parte da história macaense, não com relação de
‘passado’ está co, como fora um dia, mas por sua capacidade de evocar nosso olhar e pensamento para
tal. Este trabalho, assim, está empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário
social e tem papel importante na cultura da comunidade local. O obje vo geral é fortalecer o valor de
paisagem cultural, propondo um projeto de revitalização para o cais do Mercado de Peixe de Macaé. Por
entender a complexidade de um estudo de mestrado, u lizaremos uma abordagem qualita va e a
etnotopografia como base metodológica, po de análise desenvolvida dentro do LASC, com a intenção de
colocar a comunidade como fonte primária, através de um olhar subje vo, com enfoque de base cultural.
Acreditamos que através da compreensão de determinados elementos da memória cole va de grupo de
pescadores e da composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor da Paisagem
Cultural, através de um projeto de revitalização do Cais do Mercado de Peixe de Macaé.

novembro
2020

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