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novembro
2020
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
i
MONIQUE FERRAZ VIEIRA
ii
CIP - Catalogação na Publicação
Aprovada por:
______________________________
Presidente, Profa. Dra. Ethel Pinheiro Santana
_____________________________
Profa. Dra. Andrea Queiroz Rego
_____________________________
Profa. Dra. Denise de Alcântara Pereira
iii
A todas as figuras simbólicas
que contribuíram para que eu
pudesse ver além dos meus olhos:
meus pais e sogros e seus
“jeitinhos”, Natan e Luca que me
desafiaram a continuar a cada
instante, Denilson, meu dicionário
de assuntos marítimos, Ethel,
minha mais que orientadora, Cris,
minha eterna professora e
incentivadora, a todos os amigos
que dividiram comigo o peso da
jornada e aos ícones macaenses
que aqui materializo como
Regininha.
iv
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
RESUMO
As condições naturais de aportamento deram à Macaé uma relevância na história econômica
da região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro. De fato, a história da cidade é entrelaçada
e se desenvolve a partir dos seus portos e dos grupos que deles se apropriam. Este lugar litoreiro, o
Porto de Macaé, ainda faz parte da história macaense, não com a relação de “passado” estático como
fora um dia, mas por sua capacidade de evocar nosso olhar e pensamento para tal. Esse trabalho está
empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário social e tem papel
importante na cultura da comunidade local, o objetivo geral é fortalecer o valor de paisagem
cultural, propondo um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé. Para
entender a complexidade de um estudo, utilizaremos uma abordagem qualitativa e as metodologias
de análise desenvolvidas dentro do LASC, com a intenção de colocar a comunidade como fonte
primária, por meio de um olhar subjetivo, com enfoque de base cultural. Acreditamos que pela
compreensão de determinados elementos da memória coletiva do grupo de pescadores e da
composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor de paisagem cultural, por
meio de um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé.
Palavras-chave: Mercado de Peixe, Macaé, Paisagem, Comunidade, Projeto
v
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
ABSTRACT
The natural port conditions gave Macae a relevance in the economic history of the North
Fluminense region of the State of Rio de Janeiro. The history of the city is, in fact, intertwined and
develops from its ports and the groups which own it. This coastal place, the Port of Macae, is still part
of Macanese history, not with the static 'past' relationship, as it once was, but because of its ability
to evoke our gaze and thought. This work is committed to revitalizing an urban area that is part of
the social imagination and plays an important role in the culture of the local community. The general
objective is to strengthen the value of the cultural landscape, proposing a revitalization project for
the pier slip of Fish Marketplace of Macae. By understanding the complexity of a study, we will use a
qualitative approach and analysis methodologies developed within LASC, with the intention of
placing the community as a primary source, through a subjective view, with a culturally based focus.
We believe that through the understanding of certain elements of the collective memory of the
fishermen group and the composition of the value of this community, this research will strengthen
the value of the cultural landscape, through a project to revitalize the pier slip of the Macae Fish
Marketplace Wharf.
vi
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
Lista de ilustrações
Figura 1: Mapa de localização Praça Veríssimo de Mello e Mercado de Peixe Municipal e sua orla.
Fonte: Acervo da autora sobre base do Google Earth, 2020. 4
Figura 2: Foto da Orla central com vista para o Cais do Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora,
2019. 5
Figura 3: Pescadores na pororoca. Fonte: Acervo da autora, 2019. 6
Figura 4: Paisagem da orla da Rua da Praia com vista para o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte:
Acervo da autora, 2019. 6
Figura 5: Recorte de Cartão Postal da Rua da Praia. Fonte: Acervo Regininha Moreira, 1930. 12
Figura 6: Mapa de localização do Mercado de Peixe em Macaé/RJ. Fonte: Acervo da Autora, 2020.13
Figura 7: Relações entre as praças e os corpos hídricos no projeto de arruamento. Fonte: Britto e
Sayd, 2016. 14
Figura 8: Cais do Mercado do peixe. Fonte: Acervo da autora, 2020. 14
Figura 9: Mapa dos Patrimônios histórico-culturais de Macaé reconhecidos pela Lei Orgânica do
município. Fonte: Acervo da autora produzida com base na Lei Orgânica Municipal, 2020. 15
Figura 10: Conjunto de Patrimônios históricos de Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 16
Figura 11: Croqui de campo do Largo do Mercado do Peixe, com destaque para as palmeiras
imperiais. Fonte: Acervo da autora, 2020. 17
Figura 12: Mapa com a Estrada RJ 106 passando pelo Cais do Mercado do Peixe. Fonte: Google
Earth, 2020. 17
Figura 13: Planta hidrográfica dos portos Imbetiba e Macahé. Fonte: Acervo digital da Biblioteca
Nacional, 1881. 18
Figura 14: Projeto de arruamento da Villa de Macahé por G. F. Pimentel. Fonte: Hemeroteca
Biblioteca Nacional, 1840. 20
Figura 15: Quadro dos maiores produtores de açúcar entre 1932 a 1937. Fonte: LAMEGO, 1946. 22
vii
Figura 16: Dragagem do canal Macaé x Campos. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé antiga,
1922. 23
Figura 17: Casas modestas em Macaé. Fonte: Acervo Biblioteca digital IBGE, 1970. 24
Figura 18: Orla da Rua da Praia antes da remodelação. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé
antiga, 1923. 24
Figura 19: Antigo Hotel Imbetiba. Fonte: Acervo grupo do Facebook Macahé antiga, 1923. 25
Figura 20: Construção do novo porto de Imbetiba pela Petrobras. Fonte: Acervo Grupo Facebook
Macahé Antiga, entre 1975 e 1977. 26
Figura 21: Gravura dos índios Goytacaz. Autor: Newton Rabelos. Fonte: Acervo site Prefeitura de
Campos. Disponível em <http://campos.rj.gov.br/exibirNoticia.php?id_noticia=30627 =>,
1945. 27
Figura 22: Mercado Municipal com peixes na área externa sendo secos no sal. Fonte: Acervo Grupo
Facebook Macahé Antiga, S.D. 28
Figura 23: Banca de venda de Peixe no Mercado. 1940. Fonte: Lamego, 1945. 28
Figura 24: Mapa de Macaé, destaque em vermelho para o porto de Imbetiba e em azul para o de
Macahé. Fonte: Acervo Arquivo Nacional, 1986. 29
Figura 25: Casa de pescador sobre o rochedo. 1940. Fonte: Lamego, 1946. 30
Figura 26: Vista da pororoca e Rua da Praia. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé Antiga, S.D. 31
Figura 27: Mapa evolutivo da orla da cidade de Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 32
Figura 28: Obra de remodelação da Rua da Praia. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé das
Antigas, 1923. 34
Figura 29: Rua da Praia remodelada. Fonte: Acervo Grupo Facebook Macahé das Antigas, 1930. 34
Figura 30: Cais municipal do Mercado do Peixe de Macaé e a sua orla. Fonte: Acervo da autora,
2019. 37
Figura 31: Encontro entre o Rio Macaé e o Mar, a pororoca. Fonte: Acervo da autora, 2019. 42
Figura 32: Extinta tradição de cortejo marítimo com barcos decorados em comemoração a N. Srª
dos Navegantes. Fonte: Grupo Facebook Macahé Antiga, 1930. 42
Figura 33: Mapa de agentes e vetores. Fonte: Acervo da autora sobre base do Google Earth, 2019.
52
Figura 34: Residências da Rua João Cupertino. Fonte: Acervo da autora, 2019. 53
Figura 35: Edifício da prefeitura a esquerda e Antigo Hotel Ouro Negro, localizados no trecho em
laranja. Fonte: Acervo da autora, 2019. 53
viii
Figura 36: Edificações comerciais fechadas próxima ao final da orla. Fonte: Acervo da autora, 2019.
54
Figura 37: Barcos atracados na foz do Rio com o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 54
Figura 38: Mapa de agentes e vetores. Fonte: Acervo da autora, 2019. 56
Figura 39: Mapa síntese de evolução histórica e suas transformações na paisagem. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 58
Figura 40: Perfil da estrutura morfológica. Fonte: Acervo da autora, 2019. 58
Figura 41: Mapa de Zoneamento urbano. Fonte: Prefeitura Municipal de Macaé. Disponível em:
<http://www.macae.rj.gov.br/midia/uploads/Zoneamento%20-%20Maca%C3%A9%20-
%20LCM%20141-2010.pdf>, 2007. 59
Figura 42: Passeio da Avenida Presidente Sodré. Autor: Colon. Fonte: IBGE. Disponível em:
<https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/rj46054.jpg,
S.D>. 60
Figura 43: Mapa síntese da estrutura morfológica atual; Espaços livres (públicos e privados),
Gabaritos, Vegetação. Fonte: Acervo da autora, 2019. 61
Figura 44: Perfil da rua São João. Fonte: Acervo da autora, 2019. 62
Figura 45: Mapa síntese de Aspectos funcionais e sistemas de espaços livres. Fonte: Acervo da
autora, 2019. 63
Figura 46: Croqui de vendedor de caranguejo na Praça do Mercado do Peixe embaixo da sombra da
árvore. Fonte: Acervo da autora, 2020. 71
Figura 47: Mapa de territórios formais da área do Cais do Mercado do Peixe. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 73
Figura 48: Mapeamento de territorialidade. Fonte: Acervo da autora, 2020. 74
Figura 49: Mapeamento de percurso e permanência de pessoas e veículos. Fonte: Acervo da autora,
2019. 75
Figura 50: Mapeamento de aspectos ambientais e sensoriais. Fonte: Acervo da autora, 2019. 76
Figura 51: Mapeamento de manifestações no cais do Mercado do Peixe durante a chegada e venda
do pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020. 78
Figura 52: Mapeamento de manifestações durante a chegada do camarão. Fonte: Acervo da autora,
2020. 79
ix
Figura 53: Cais do Mercado do peixe em um domingo pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019.
80
Figura 54: Cais do Mercado do peixe em uma terça-feira pela manhã. Fonte: Acervo da autora,
2020. 80
Figura 55: Mercado com peixe sendo seco ao sol no cais. Fonte: Acervo Grupo do Facebook Macahé
Antiga, 1930. 81
Figura 56: Cais do Mercado. Fonte: Acervo Grupo do Facebook Macahé Antiga, 1978. 81
Figura 57: Mercado do Peixe atualmente. Fonte: Acervo da autora, 2020. 81
Figura 58: Croqui de observação do movimento do Cais durante a chegada dos pescadores e venda
do pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020. 83
Figura 59: Croqui chegada do camarão. Fonte: Acervo da autora, 2020. 85
Figura 60: Croqui do movimento do Cais na chegada e venda do pescado. Fonte: Acervo da autora,
2020. 86
Figura 61: Croqui da negociação do pescado e seus atores. Fonte: Acervo da autora, 2020. 87
Figura 62: Comentários em resposta à questão realizada no grupo do Facebook Macaé das antigas.
Fonte: Grupo do Facebook Macaé das antigas, 2020. 90
Figura 63: Barreira Sanitária em frente à entrada do Mercado do Peixe. Fonte: Acervo da autora,
2020. 91
Figura 64: Croqui do funcionamento do Mercado do Peixe em um domingo pela manhã. Fonte:
Acervo da autora, 2019. 95
Figura 65: Croqui de crianças no parquinho ao lado do praça do Mercado e carro ao fundo em um
domingo pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019. 95
Figura 66: Foto da banca de pescado do Mercado de peixe em um sábado pela manhã. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 96
Figura 67: Esquema gráfico de diretrizes projetuais. Fonte: Acervo da autora, 2020. 99
Figura 68: Monumento Chama do Petróleo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 102
Figura 69: Centro de Convenções Jornalista Roberto Marinho. Fonte: site economia e negócios,
2019. 102
Figura 70: Estádio Cláudio Moacyr. Fonte: Clique Diário, 2020. 103
Figura 71: Mapa dos terminais rodoviários de Macaé. Fonte: Acervo da autora sobre base do
Google Earth, 2020. 103
Figura 72: Terminal da Lagoa, Macaé. Fonte: Acervo da autora, 2020. 104
x
Figura 73: Orla da praia de Cavaleiros após revitalização. Fonte: G1, 2018. 104
Figura 74: Vista geral do Metropol Parasol, Sevilha. Espanha. Fonte: Acervo Blog casa it, 2011. 105
Figura 75: Detalhe do contrate entre as construções medievais e a estrutura do Metropol Parasol,
Fonte: Acervo Blog Casa it, 2011. 105
Figura 76: Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Achdaily, 2016. 106
Figura 77: Estrutura de madeira do Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Detail
Inspiration, 2010. 107
Figura 78: Detalhe de malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. 107
Figura 79: Detalhe de fixação malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
107
Figura 80: Detalhe de fixação malha em madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
108
Figura 81: Estrutura da cobertura. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. 108
Figura 82: Mapa com novos fluxos para a implantação da proposta projetual. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 109
Figura 83: Croqui com proposta de redução de caixa de rua. Fonte: Acervo da autora, 2020. 110
Figura 84: Croqui com proposta de Deck sobre o rio. Fonte: Acervo da autora, 2020. 110
Figura 85: Detalhe esquemático da iluminação por LED em desnível. Fonte: Acervo da autora, 2020.
111
Figura 86: Croqui com proposta de ponto de ônibus. Fonte: Acervo da autora, 2020. 111
Figura 87: Croqui com proposta de totem informativo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 112
Figura 88: Proposta esquemática de eixo de centralidade na prefeitura e para incentivo de
implantação de bares e restaurantes em lotes que se encontram vazios atualmente. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 113
Figura 89: Plano de intervenção na área de estudo. Fonte: Acervo da autora, 2020. 114
Figura 90: Vista atual da prefeitura. Fonte: Acervo da autora, 2020. 115
Figura 91: Proposta para a área da prefeitura. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 115
Figura 92: Vista do canteiro com cota elevada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 116
xi
Figura 93: Jardim solar, estruturas inspiradas em girassóis, feitas em alumínio anodizado para
captação de energia solar. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 117
Figura 94: Passeio com canteiros e arborização. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 118
Figura 95: Espelho d’água área beira rio. Imagem renderizada. Imagem produzida com Sketchup e
Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 119
Figura 96: Praça para eventos, nesse ponto o deck se abre para receber eventos gastronômicos e
artísticos. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 120
Figura 97: Praça do Cais com rebaixamento do Deck e proposta da nova cobertura. Imagem
produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 122
Figura 98: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de beneficiamento. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 123
Figura 99: Praça do Cais com deck rebaixado e cozinha de beneficiamento. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 124
Figura 100: Praça do Mercado com parque infantil. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 125
Figura 101: Foto de antes da remodelação da Rua da Praia. Fonte: Grupo do Facebook Macahé
Antiga, S.D. 126
Figura 102: Casa dos pescadores na pororoca. Fonte: Grupo do Facebook Macahé Antiga, S.D. 126
Figura 103: Croqui esquemático da composição da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020. 127
Figura 104: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 128
Figura 105: Croqui esquemático do sistema de coleta de chuvas e filtragem. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 129
Figura 106: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 129
Figura 107: Croqui esquemático mostrando a fluidez e escala da cobertura. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 130
Figura 108: Cobertura de proteção do Cais e sombreado das redes no piso. Imagem produzida com
Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020. 131
xii
Figura 109: Croqui esquemático da instalação dos refletores em LED. Fonte: Acervo da autora,
2020. 131
Figura 110: Croqui esquemático do rebatimento da iluminação as membranas da cobertura. Fonte:
Acervo da autora, 2020. 131
Tabelas e Gráficos
Tabela 1. Conjunto de elementos visíveis e invisíveis simbólicos. Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Tabela 2. Propostas. Fonte: Acervo da autora, 2020. 122
Gráfico1. Resultado de elementos visíveis presentes nas respostas da comunidade do Facebook.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Gráfico 2. Resultado de elementos invisíveis presentes nas respostas da comunidade do Facebook.
Fonte: Acervo da autora, 2020. 89
Gráfico 3. Gráfico com associação entre os símbolos, os conceitos e o encontro. Fonte: Acervo da
autora, 2020. 98
xiii
SUMÁRIO
1. INTRODUÇÃO 02
2. MERCADO DE PEIXE DE MACAÉ - dos Bastidores ao protagonismo 12
2.1. LOCALIZAÇÃO 13
2.2. A CIDADE DE MACAÉ E SUA NATUREZA PORTUÁRIA 18
2.3. A CULTURA GOITACÁS E A PESCA 26
2.4. A MODERNIZAÇÃO E A RESSIGNIFICAÇÃO DA RUA DA PRAIA 31
4. METODOLOGIA APLICADA 50
4.1. DEFINIÇÃO DO PERCURSO METODOLÓGICO 50
4.1.1. De longe_ Análise Macroscópica (Etapa 1) 51
4.1.2. De perto_ Croquis etnográficos (Etapa 2) 64
4.1.3. Mapeamento de Narrativas 67
5. ANÁLISES E DIRETRIZES 70
5.1. TERRITÓRIOS FORMAIS, IMAGINÁRIOS E AS TERRITORIALI-
DADES DA COMUNIDADE 73
5.2 “RETRATOS” DA COMUNIDADE E DA PAISAGEM 80
5.2.1. [Cenas] – O cotidiano do Cais 84
5.3. A MEMÓRIA NAS NARRATIVAS DAS COMUNIDADES “DA TERRA E
DO MAR” 92
5.4. DIRETRIZES PROJETUAIS 97
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APÊNDICES
ANEXOS
xv
“A vida é a arte do encontro, embora haja tanto
desencontro pela vida.”
Vinícius de Moraes
“A praia ...Velas de pescadores...
Aves marinhas escrevendo negras reticências
minúsculas na tarde azul e grande...
O horizonte longe ... O céu azul ... O mar sem fim...
Homens rudes que chegam com os barcos transbordando
de peixes e a gente pobre que aguarda a chegada dos
barcos...”
Alcindo Brito, 1978
xvi
INTRODUÇÃO
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 2]
1. INTRODUÇÃO
A questão desta pesquisa, no entanto, não estava tão clara no início do curso de Mestrado
Profissional quanto ao objeto de estudo acima apresentado, pois, o panorama litoreiro e econômico
de Macaé sobrepujava em muito, o entendimento do papel de um recorte muito específico, dentro
do campo da pesquisa, voltada para a paisagem urbana. O município de Macaé, que vivia da pesca e
da agricultura, foi durante muitos anos responsável por grande parte da produção de petróleo e do
gás natural do país (Boletim da Produção de Petróleo e Gás Natural, 2019). E as mais diversas
mudanças na economia da cidade se refletiram na condição socioeconômica e urbanística do local,
que passou a ser um mote para muitos governantes e empresários.
Enquanto Macaé vivia um crescimento exponencial, a cidade vizinha, Campos dos
Goytacazes, teve uma variação populacional em torno de 10% e 20%. Essa mudança econômica fez
com que Macaé mais que triplicasse sua população em um período de quase cinco décadas. Fora um
crescimento populacional significativo em um curto espaço de tempo, com uma variação de 40% a
125% entre 1993 e 2017 (Meirelles, 2018).
A busca por empregos gerados pela economia petrolífera trouxe à cidade pessoas de todos
os lugares do mundo, o que se refletiu em uma necessidade consequente de analisar o conceito de
Lugar. Dentro desta pesquisa, assim como outros conceitos relativos à formação de territórios,
territorialidade e à memória coletiva, paisagem cultural e valor de comunidade. Esses conceitos que
serão apresentados no capítulo de fundamentação. Esses também servirão como categorias de
análise para a proposta projetual que será apresentada como produto específico desta pesquisa.
Como Tuan (1983) estabeleceu em sua máxima síntese para o conceito de Lugar,
entendemos que quando um espaço é investido de significado este se torna único, familiar. Assim,
Macaé torna-se lentamente algo apropriado para os recém-chegados, justamente à medida que se
estabelece uma relação de troca do indivíduo com o espaço físico e social, e pela experiência
cotidiana. Uma vez que em cidades que passam por essa transformação contingencial de escala e
grandeza, os resquícios da vida pacata e provinciana repousam na conduta social e em total
desalinhamento com o crescimento de capital injetado. Ao compreender essa relação e a forma
como o sujeito cria e é recriado nessas condições, o que inevitavelmente interfere na imagem
conceitual da cidade, em sua paisagem e em seu turismo, fica evidente o reconhecimento de uma
comunidade formada por diversas culturas, que ainda hoje tem um convívio conflitante. Deste modo,
a escolha por pesquisar Macaé e em específico o Mercado do Peixe, se justifica por agrupar todas
essas dinâmicas acima mencionadas.
A ocupação do território Goitacá - grupo indígena que ocupou a região Norte-fluminense com
a característica de serem os mais ferozes de todo território brasileiro - foi de muita disputa e acabou
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 4]
por ser de forma nada pacífica. De alguma forma ainda é possível perceber um conflito de baixo
ruído, silencioso, dos que ali nasceram e que se acham invadidos por “exploradores” que chegam
para fazer morada. Foi por esse motivo que, desde o projeto para Seleção ao Mestrado Profissional,
tal questionamento se manteve vivo e amparado.
Primeiramente analisei a proposta de
estudo da Praça Veríssimo de Mello, localizada
também na região central (fig. 1). A primeira
opção era a tentativa de compreender as
relações entre os macaenses e seus Lugares e
símbolos, por essa ter sido uma das primeiras
praças da cidade. No entanto, com a evolução
dos estudos cheguei ao Cais do Mercado do
Peixe, um antigo porto de Macaé, recorte
espacial definido para esta dissertação. Ele é
localizado no encontro entre a foz do rio com o
Atlântico, no centro da cidade de Macaé – RJ,
um Lugar rico em experiências e trocas afetivas,
com uma comunidade presente desde antes da
fundação da cidade e com uma Paisagem
cultural que tem muita relação com a vida
macaense.
Este Lugar1 litoreiro (fig. 2), o Porto de
Macaé, ainda faz parte da história macaense,
tendo sido palco de diversas transformações
dessa sociedade e testemunha das conquistas
descritas com o passar do tempo, não com a
relação de “passado” estático, como fora um
dia, mas por sua capacidade de evocar nosso Figura 1: Mapa de localização Praça Veríssimo de Mello e
olhar e pensamento para tal (Zonno, 2016). Mercado de Peixe Municipal e sua orla. Fonte: Acervo da
autora sobre base do Google Earth, 2020.
1
Segundo Tuan (1983, p 6), Lugar é o espaço investido de valor, ao qual é possível nos reconhecermos e
estabelecer com ele uma relação de identidade.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 5]
Justificativa
A paisagem costeira faz parte do imagético dos cariocas, assim como das cidades do interior
do estado, banhadas pelo Oceano Atlântico. No entanto, em algumas das praias de Macaé, as
ocupações das regiões litorâneas são negadas devido à ferocidade do mar; muitas dessas áreas não
são sequer ocupadas com passeio público, como por exemplo, as praias da Barra, São José do Barreto
e Lagomar em Macaé.
A praia do centro é um porto natural, é uma pororoca (fig. 3), onde desemboca o rio Macaé.
Suas águas calmas abrigam as embarcações. A Orla do cais do Mercado do Peixe (fig. 4) está
localizada no centro comercial e histórico da cidade de Macaé, de onde saem passeios para as ilhas
da cidade, embarque e desembarque para as plataformas de petróleo e todo o movimento
pesqueiro.
As condições naturais de aportamento deram à Macaé uma relevância na história econômica
da região Norte Fluminense do Estado do Rio de Janeiro; desde 1811 o porto já movimentava a Vila
com seus embarques e desembarques. O porto sempre movimentou economicamente a cidade e é
suporte espacial para grupos sociais que o exploram, tanto como relação de troca financeira quanto
como abrigo e proteção do mar.
Assim, a paisagem litorânea teve uma grande importância no “diálogo terra-mar”
(ANDREATTA, 2019), porém, em Macaé, a paisagem assume ainda o papel cultural, segundo Winter
(2007), por se tratar de um testemunho da história dos grupos humanos (pescadores) que ocupam
até hoje esse espaço. A história da cidade é, de fato, entrelaçada e se desenvolve a partir dos seus
portos e dos grupos que deles se apropriam.
Figura 4: Paisagem da orla da Rua da
Praia com vista para o Mercado do
Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
autora, 2019.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 7]
Hoje, o funcionamento do Mercado de Peixe está dividido em dois prédios, que são os
principais fornecedores de pescado para a região Norte Fluminense. Por ser o único centro de
abastecimento pesqueiro nas redondezas, recebe muitas pessoas de outras localidades. O Mercado
é um dos responsáveis pelo fomento da economia local com a venda de pescado e, também, um
ponto turístico da cidade.
A presença da Associação de Pescadores neste Mercado fortalece os potenciais dessa orla,
trazendo à baila a importância da manutenção do valor de comunidade, que pela necessidade de
representação, se associa ao papel da memória com manutenção da coesão do grupo social. Sendo
a memória um fenômeno construído, em parte herdado, constituinte do sentimento de identidade
(POLLAK, 1992), é possível transmitir determinado senso de pertencimento aos “exploradores” por
meio da construção de um “lugar de memória”, que possa ser produzido por meio da compreensão
das vivências desse grupo de pescadores, turistas e locais, e assim, valorizar essa microcultura.
A paisagem da orla tem tanta importância no cotidiano Macaense que em 2018 surgiu na
cidade, um movimento popular. Chamado “Porto Já”, o movimento agia em prol da construção de
um terceiro porto, visando melhorar a economia que estava abalada pela crise do petróleo, geradora
de muitas demissões. Junto a este movimento foi feito também o lançamento do livro “Macaé
Portuária”, de Ricardo Meirelles (2018), como forma de apoio e justificativa a causa, traduzindo
diversas necessidades de intervenção imediatas nessa paisagem adulada como representativa da
comunidade macaense.
A revitalização é uma alternativa projetual em busca de uma nova vitalidade, econômica,
social e cultural (DEL RIO, 1993). Assim como em diversos projetos de revitalização bem sucedidos,
buscamos junto à comunidade pesqueira e macaense os elementos "catalisadores" eleitos pelo seu
valor simbólico (NOGUEIRA, 2013). Nesse processo, a “memória coletiva” foi o principal contribuinte
para a valorização desse patrimônio cultural. Apoiado também por Halbwachs (1986, p. 136), que
pontuava que “em cidades pequenas, de interior, a força dos grupos aparece com maior clareza na
memória coletiva que tem seu ponto de apoio sobre as imagens espaciais”, acreditamos que com a
compreensão de determinados elementos da memória coletiva do grupo de pescadores e da
composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor de paisagem cultural, por
meio de um projeto de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé.
Desta forma, concordamos com Del Rio (1993, p. 60), que quando uma revitalização alia “as
expectativas aos valores, os repertórios imagéticos e as comunidades são fortalecidos”.
Compreendemos a necessidade de uma ação integrada entre as necessidades da comunidade
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 8]
pesqueira, da administração pública e do interesse econômico da região, para que assim, esse
projeto tenha sustentabilidade principalmente financeira e faça jus ao seu objetivo de valorização da
paisagem cultural e da “memória coletiva”.
Deste modo, o Cais do Mercado contribui culturalmente para a valorização do patrimônio
imaterial macaense, devido ao seu valor simbólico estruturado por muitos anos de funcionamento e
de modificações espaciais, que interferem nas práticas sociais. A comunidade de pescadores
desenvolve suas atividades desde a presença dos índios Goitacás, preservando seus costumes e
tradições e transmitindo saberes. O prédio do Mercado já passou por duas demolições e
consequentes reconstruções. Por conta de tantas modificações, que afetam política e socialmente a
região, a Associação de Pescadores parece perder sua força. Não temos a pretensão de mudar os
usos ou criar territórios. Nossa intenção é efetivar uma proposta de revitalização que contribua para
colocar em evidência a Paisagem Cultural, fortalecendo e mantendo da vida pesqueira, ampliando
seu alcance e atraindo investimentos e novos públicos.
Objetivo Geral
Esse trabalho está empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário
social e tem papel importante na cultura da comunidade local, que vem aos poucos perdendo seu
valor. Dessa forma, o objetivo geral é fortalecer o valor de paisagem cultural, propondo um projeto
de revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé, explorando o potencial comunitário e
memorial do Mercado de Peixe por meio de orientações advindas das demandas locais (macaenses)
e das expectativas da população forasteira (não macaenses).
Objetivos específicos
• Compreender as relações espaciais estabelecidas entre o grupo de pescadores e o Lugar, por
meio do mapeamento de atributos da memória coletiva;
• Promover a adequação das atividades locais por meio da análise dos valores comunitários
desenvolvidos pela prática pesqueira;
• Desenvolver um projeto de revitalização da área do cais do Mercado de Peixe Municipal de
Macaé, buscando uma nova vitalidade;
• Contribuir para os estudos no campo das ambiências sensíveis, a partir da noção de
comunidade local;
• Ampliar o repertório metodológico de pesquisas qualitativas em AU.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 9]
Estrutura da Dissertação
A dissertação se desenvolve ao longo de sete capítulos, sendo o primeiro a Introdução, já
apresentada, com delineamento do tema, objeto e dos objetivos desta pesquisa, além das questões
que movem e dão embasamento a este trabalho.
No segundo capítulo, o objetivo é apresentar o objeto de estudo – elemento preponderante
no andamento da pesquisa. Para tal, serão fornecidas informações quanto à localização geográfica,
histórico e evolução urbana, a modernização e a mudança da Paisagem do Cais e da cultura
pesqueira. E ainda, posicionaremos o Cais do Mercado do Peixe historicamente e exporemos os
principais pontos que trarão a esse conjunto relevância quanto à Paisagem Cultural e à sociedade da
pesca.
O terceiro capítulo será dedicado a uma abordagem teórica, de fundamentação das
categorias e conceitos que deverão apoiar em conjunto com a análise dos resultados metodológicos
as diretrizes projetuais. Serão abordadas as teorias sobre Lugar/território, valor de comunidade, o
papel da memória coletiva, Paisagem cultural e as narrativas dos principais teóricos que irão embasar
o desenvolvimento deste tópico: Tuan e Duarte, Bauman e Maffesoli, Halbwachs e Pollak, Winter e
Cosgrove, Paul Ricouer, Saquet.
O percurso metodológico será apresentado no capítulo quatro, no qual partiremos de uma
abrangência macroscópica e, posteriormente, uma abordagem microscópica de viés etnográfica,
aproximada e imersa. Na etapa macroscópica serão realizadas análises morfológicas com a intenção
de entender a relação de Paisagem do objeto de estudo com seu entorno.
Por entender a complexidade de um estudo, tanto da comunidade local quanto da sua
relação com a paisagem, utilizaremos uma abordagem qualitativa e as metodologias de análise
desenvolvidas dentro do LASC2, com a intenção de colocar a comunidade como fonte primária, por
meio deum olhar subjetivo, com enfoque de base cultural. Serão utilizados o método de Croqui
Etnográfico e o mapeamento de manifestações, através de uma observação participativa.
O Capítulo cinco será dedicado à análise e confronto entre a fundamentação teórica e as
informações colhidas em campo; desse enfrentamento surgirão as categorias que deverão embasar
e produzir as diretrizes projetuais.
2
Laboratório Arquitetura, Subjetividade e Cultura, da qual a autora desta dissertação faz parte
(http://lasc.fau.ufrj.br/).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 10]
No capítulo seis apresentaremos o projeto para a área do cais do Mercado de Peixe com a
aplicação de todos os resultados das etapas de análise, fundamentação e metodologia abordada
anteriormente, com respostas gráficas e textuais aos questionamentos colocados como base dessa
pesquisa.
O último capítulo se dedica as considerações finais dessa dissertação.
CAPÍTULO 2
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 12]
2.1. Localização
O Objeto de estudo desta dissertação, o Mercado Municipal de Peixe de Macaé, está
localizado na região central da Cidade de Macaé, na região Norte Fluminense do Estado do Rio de
Janeiro. Macaé está a aproximadamente a 176km de distância da Cidade do Rio de Janeiro e a 113km
de Campos dos Goytacazes (fig. 6).
A Cidade de Macaé faz divisa com os municípios de Nova Friburgo, Trajano de Morais,
Conceição de Macabu, Carapebus, Rio das Ostras e Casimiro de Abreu. Possui uma costa banhada
pelo Oceano Atlântico ao leste, o que lhe confere uma beleza visual muito grande.
A Cidade de Macaé apresenta boa parte de seu território um relevo plano, porém uma “área
aproximada de 1.710 km² (171 hectares) corresponde à bacia hidrográfica do rio Macaé que drena
uma porção significativa do Estado do Rio de Janeiro, encontrando-se inteiramente inserida no
território fluminense” (Atlas Ambiental, 2015). Por esse motivo, boa parte do desenvolvimento
urbano da cidade ficou restrita a uma área mais litorânea que apresenta um histórico de alagamento
devido à ocupação das áreas da bacia hidrográfica.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 14]
Por estar localizado em uma das áreas mais antigas da cidade, possui em seu entorno alguns
Patrimônios Históricos reconhecidos na Lei Orgânica do Município, datados de diferentes décadas do
século XIX. Encontram-se em distintas situações, algumas em total abandono e outras em uso pela
comunidade e preservadas (fig. 9 e fig. 10).
LEGENDA
1 2
4 5 7
8 9
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entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 17]
Figura 12: Mapa com a Estrada RJ 106 passando pelo Cais do Mercado do Peixe. Fonte:
Google Earth, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 18]
Em 1833, o Porto já apresentava uma grande importância na economia local, além de ser o
responsável pelo escoamento de toda produção canavieira do Norte. Devido à sua
representatividade o vilarejo de São João Batista de Macaé é elevado à condição de cidade. Com essa
mudança, a centralidade se desloca da antiga fazenda de Santana, para a foz do rio Macaé, próximo
ao porto e ao arraial, formado de propriedades rurais voltadas para a exportação, mas que devido à
presença de charcos atendia apenas a autossuficiência local praticamente.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 20]
3
Henrique Luiz de Niemeyer Bellegarde foi Major do Imperial Corpo de Engenheiros, Cavaleiro da Ordem de
Cristo e Bacharel em Letras pela Universidade de Paris. Nasceu em Lisboa em 12 de outubro de 1802, veio para
o Brasil com 5 anos de idade. Aos 21 anos se tornou Capitão e ajudante do Governador e Capitão geral de
Moçambique. No ano seguinte retornou ao Brasil e concluiu os estudos na Academia Militar, se formando
Engenheiro. Em 1825, partiu para a Europa por ordem do Governo para estudar, se formando em Bacharel de
Letras. Em 1828, foi chamado à corte e promovido a Major. Em 1831, se iniciou seu auge, com importantes
serviços a província, como por exemplo a expansão da rede urbana para o interior do estado, incluindo
estradas, canais navegáveis e linhas ferroviárias (CABRAL, 1839).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 21]
Bellegarde adota três variações de malhas ortogonais, delineadas a partir da frente fluvial e
das duas estradas mencionadas, como indicado na Figura 14. As vias anteriores ao plano e
incorporadas ao traçado foram identificadas a partir das edificações existentes, representadas por
manchas cor-de-rosa. (BRITTO e SAYD, 2015) O projeto de arruamento ordena a ocupação e começa
a dar a cidade uma nova organização e dinâmica de funcionamento à medida que sua importância
comercial para o escoamento da produção de açúcar da região Norte Fluminense e no comércio de
escravos.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 22]
Devido à escassez das aluviões, só era possível plantar nas regiões montanhosas já próximas
ao oceano, conforme também cita Lamego (1945), o que reduzia em muito a quantidade de
engenhos na orla do Rio Macaé, diferente do que acontecia nas imediações do rio Paraíba. Durante
200 anos a cidade sobreviveu através da colônia dos pescadores, um comércio de madeiras e uma
navegação de pequeno porte. A produção canavieira de Campos tinha um crescimento acelerado e
dependia de um escoamento mais eficiente, o pequeno canal não suportava sua necessidade de
transporte por grandes navios que com segurança só conseguiriam sair do porto de Imbetiba.
A grande movimentação de carga entre a cidade de Campos e Macaé motivou a criação de
um canal navegável entre as cidades. Essa construção durou de 1844 a 1861 e foi construída por mão
escravas, sendo até hoje o segundo canal artificial em extensão do mundo ocidental (Meirelles,
1918), porém tornou-se obsoleto em menos de 20 anos devido as condições naturais de
assoreamento do canal e a chegada da estrada de ferro para o mesmo percurso em 1875, mais barata
e eficiente. A criação do canal Campos x Macaé (fig. 16) e a estrada de Ferro colocaram a cidade de
Macaé em um outro patamar econômico. Com a chegada da ferrovia como forma complementar do
transporte marítimo, a cidade de Macaé se consolida efetivamente como entreposto comercial da
região (PARADA, 1995).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 23]
A redução das atividades portuárias no final do século XIX conduziu a cidade a um período
de estagnação econômica e demográfica, que irá perdurar pelas primeiras décadas do século XX
(LAMEGO, 1958).
Segundo Sayd (2014), Macaé assumiu durante muitos anos a centralidade da região devido
sua condição portuária, marcado dessa forma desde a colonização portuguesa que se firmou nas
terras campistas devido a sua condição de solo fértil para a cana e planícies para criação de gado, e
assim a cidade macaense era nada mais que uma paragem no meio do caminho entre Campos-Rio
para o gado cansado. Com o avanço das estradas de ferro outros distritos ganham destaque com a
produção de café e açúcar e Macaé começa a amargar um declínio econômico.
Com a redução das atividades ligadas ao porto, a população urbana reduziu dos seus 54.892
moradores, somente 7.863 passaram a residir na região central (fig. 17). (PARADA, 1995) Após uma
ferrenha disputa com a estrada de ferro, mesmo após a construção da alfândega em 1896 o porto de
Imbetiba não resiste a concorrência com a The Leopoldina RailwayCo. Ltd e fecha suas portas em
1903, restando apenas o pequeno porto de Macahé destinado a pequenas embarcações pesqueiras
(MEIRELLES, 1918).
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entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 24]
A ligação com a cidade de Niterói, e posteriormente ao Rio de Janeiro pela RJ106, possibilitou
que a pesca se desenvolvesse a ponto da comunidade pesqueira se mobilizar na criação de uma
cooperativa (1963) e começar a vender no Mercado da Praça XV.
Por herança, e por condição ambiental, a pesca sempre fora uma forma natural de
subsistência e consequentemente de economia dos recém chegados nas terras improdutivas dos
Goitacás, a capitania de São Tomé era também por sua característica geográfica e geologia uma
região de difícil domínio. Segundo Lamego (1945), as características culturais nessa população
litorânea advêm de sua adaptação as possibilidades naturais dessas terras hostis. Os grandes areais
e alagadiços obrigou aos descendentes europeus a se tornarem mais fortes e ágeis e
consequentemente mais próximos aos costumes primitivos dos antigos habitantes Goitacás.
Quase todas essas cidades de restingas, mesmo Cabo Frio
e Macaé criadas por motivos estratégicos, nasceram de
fato e historicamente se mantiveram sobretudo pela
pesca. Foi esse trabalho que acima de tudo criou essa
"psicologia do pescador", anteriormente assinalada,
transmitida por gerações, e tão visível em toda a
população desses núcleos litorâneos (LAMEGO, 1945, p.
239)
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 28]
Figura 22: Mercado Municipal com peixes na área externa sendo secos no sal.
Fonte: Acervo do grupo Facebook Macahé Antiga, S.D.
O Mercado Municipal era uma grande
construção em alvenaria, com uma arquitetura
pitoresca onde os peixes e produtos agrícolas
eram expostos em bancas (fig. 23) para serem
vendidos. Anteriormente a construção do
mercado esses produtos eram vendidos
livremente na rua da Praia sobre a sombra das
grandes árvores existentes. Essa edificação
permitiu uma ordenação do espaço público e
uma profissionalização da economia pesqueira.
Lamego relata, em seus estudos, o movimento portuário que alimenta uma troca não só de
produtos, mas de cultura e estilo de vida, e com isso a sociedade de pescadores e pequenos
agricultores começa a desejar ainda mais os benefícios de agora, a “proximidade” com a capital e
com o primeiro mundo. Os benefícios econômicos propiciam a então cidade de Macaé o privilégio
de praças com jardins embelezados conforme o paisagismo francês e alguns palacetes, que ainda não
representam o enriquecimento que o movimento portuário trouxe ao vilarejo. Ainda com a maioria
de casas simples, sem relevos, representativas da comunidade pesqueira ainda em evolução, assim
de alcançar os costumes da capital. Uma paisagem monótona, bela e natural.
Segundo Meirelles (2018), na primeira metade do século XX, a antiga Macahé movimentada
de embarque e desembarques de mercadorias e repleta de viajantes volta a ser tranquila e pacata
dedicada as atividades extrativistas da produção madeireira, pesca, comércio e ao turismo.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 30]
Segundo Meirelles (2018), a comunidade pesqueira ganha força com sua organização e em
1963 fundam a cooperativa, que após a conclusão da ligação da cidade com a Capital pela RJ 106,
passa a ter a possibilidade de levar seu pescado de forma competitiva para a Praça XV, no Rio, isso
trouxe estabilidade econômica aquela comunidade de pescadores. Atualmente a cooperativa,
transformou-se em Associação e perdeu força com a redução do número de associados, as melhorias
adquiridas ao longo das décadas como uma fábrica de gelo e um posto de combustível marítimo
mantém a organização.
Os pescadores chegam com seu pescado do mar ou de lagoas da região e tem a liberdade de
vendê-los no cais do Mercado de Peixe, a grandes atacadistas ou a proprietários de restaurante,
atualmente estão impedidos de vender no varejo para não competir com o funcionamento das
bancas dentro do mercado.
Diferente de outros portos, o Cais é mantido pelo município e não cobra taxas de utilização
para a atracação, assim donos de pequenas embarcações, muitas vezes famílias inteiras de
pescadores, encontram aqui uma condição econômica que o mantém sem que este se veja obrigado
a estar empregado em uma grande empresa para viver da pesca.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 31]
Na imagem acima (fig. 26), conseguimos perceber a falta de ordenação na ocupação, casas
muito simples, sem adorno e uma orla sem atributos paisagísticos, as residências que aparecem na
fotografia são de pescadores e suas famílias, alguns poucos exemplares existem ainda hoje. Essa
ocupação reflete nos dias de hoje em uma densidade maior na proximidade do mercado, destinado
a pequenas residências, enquanto os lotes de frente para a Rua da Praia são maiores e com edifícios
mais suntuosos com uma menor taxa de ocupação, destinado ao uso institucional e ao comércio.
Com o declínio do movimento portuário em 1903, após o desenvolvimento da estrada de
ferro que interligou a cidade de Campos a capital, Macaé retorna a sua origem, dedicada novamente
a agropecuária e a pesca, ambos ainda de forma primária como era no passado, levando a economia
a uma estagnação que a muito não se via. Com as retro áreas abandonadas os espaços urbanos ao
seu redor começam a assumir novas funções, explorando a paisagem local o litoral assume a função
de contemplação e lazer. (Sayd, 2016)
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 32]
Figura 27: Mapa evolutivo da orla da cidade de Macaé.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 33]
Este capítulo busca construir a base teórica que dará sustentação às diretrizes projetuais de
revitalização do estudo de caso selecionado, a Orla do Cais do Mercado de Peixe Municipal de Macaé
(fig. 30). O recorte espacial escolhido, ao redor da área que circunda o Mercado do Peixe, foi o próprio
edifício e a orla que se estende entre as ruas Dr. João Cupertino e Tenente Coronel Amado
considerando a apreensão do olhar em relação a orla a partir do Mercado. O recorte possui, assim,
diversas complexidades que o tornam capazes do ponto de vista paisagístico, mas não apenas isso, a
observação atenta durante a fase metodológica demonstrou a importância dos usos, que tornam o
espaço reconhecível pela comunidade, pela presença das ações pesqueiras e pelos pequenos atos
cotidianos que dão sentido à memória local e à evolução do lugar, não apenas como um elemento
morfológico, mas como entidade ética, social e sensível.
Por isso, a discussão sobre alguns conceitos que poderiam auxiliar a compreensão desse
recorte, como o conceito de Lugar como “uma marca no espaço, uma posição cultural, na qual o
espírito e o corpo se encontram, onde o ser se realiza” (DUARTE, 2002), ou onde a cultura se
manifesta e significa o espaço (TUAN, 1983) – e o de território, como um sistema de valores comum
aos membros de um grupo, constroem este texto.
Outro conceito base trazido a este capítulo é o de memória coletiva, visto que o foco deste
trabalho é um lugar de comunidade (onde o sujeito se encontra e se protege), como citado por
Bauman (2003). De acordo com Pollak (1992) a memória é um artefato de grande importância no
reconhecimento e valorização do indivíduo dentro e fora do mesmo grupo e Halbwachs (1990) afirma
que, para que exista a lembrança, um elemento memorial, é fundamental um ser social que se
constrói por narrativas.
Também nesta fundamentação será explorado o conceito de Paisagem Cultural, que se refere
a tudo o que podemos perceber utilizando nossos sentidos e interpretações, ou como representação
das expressões das atividades humanas. O conceito de Paisagem cultural, como menciona Winter
(2007) constrói-se também a partir da transformação dos elementos da natureza, pelas atividades
realizadas pelo homem, por isso será tão caro neste trabalho.
Este capítulo, assim, servirá como base fundamental para entender os caminhos que,
posteriormente, serão ilustrados nas escolhas metodológicas e na elaboração do projeto, que é a
finalidade desta pesquisa de Mestrado em Projeto e Patrimônio.
É fato que todos tentamos, como seres sociais, dar um sentido ao presente e ao passado,
buscando solidificar uma ideia de futuro. O excesso de informações, compromissos e atividades leva
cada vez mais o indivíduo a buscar “seu lugar no mundo”, onde se encontre e desenvolva certa
representatividade. Este lugar, que passa a receber o “L” como o conceito de Tuan (1983) ou a partir
das relações de Norberg-Schulz (2006), cuja obra original data do final de 1970, é justamente a
representação de um espaço significado, dotado de valores e, por isso, apropriado e possível de
representar sua comunidade e sua individualidade.
Dentro desse cenário, são espaços como o Cais do Mercado do Peixe em que proporcionam
à cidade uma escala mais próxima de seus indivíduos, um Lugar que conta a história de seus
habitantes e faz parte do imagético de uma sociedade, fabricando territórios. Portanto, a
compreensão dos conceitos de Lugar e Território trará luz aos estudos dessa dissertação.
Segundo Tuan (1983), para que um espaço se torne um Lugar ele precisa estar investido de
valor; para isso é preciso compreender as diferentes formas de experienciar o momento através dos
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 39]
4
Genius Loci, “espírito do lugar” é um conceito romano em que acreditava-se que um espírito guardião dava
vida as pessoas e aos lugares (Schulz, 2006, p.54).
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entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 40]
Raffestin (2009) afirma em seus estudos que o ambiente é a base sobre o qual o homem
produz o território, que posteriormente resultara “em uma paisagem” por meio da observação,
porém a velocidade de transformação desses territórios sofre influência das novas técnicas. Um
território é construído pela ação humana sobre o espaço com objetivo de adaptar-se às necessidades
de uma comunidade ou sociedade.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 41]
Segundo Saquet (2009) para que exista uma concepção renovada de base histórico-crítica,
essencial na “valorização dos lugares, das diferenças e dos ritmos, dos saberes locais, da
recuperação e preservação da natureza, enfim, de valorização da vida” (SAQUET, P. 84, grifo nosso),
se faz necessário o reconhecimento e a compreensão das características hegemônicas do território
e da territorialidade.
Saquet (2009) discorre, então, quanto à centralidade do homem na efetivação do território
e da territorialidade, sendo este o elo relacional entre sociedade e natureza, sendo assim a
compreensão e discussão desse conceito é fundamental ao estudo de viés etnográfico.
A territorialidade é um fenômeno social e está além das relações formais de poder, seja ela
política ou econômica, é uma manifestação puramente baseada na ação humana, coletiva, de um
grupo específico sobre um determinado lugar. A territorialidade caracteriza o espaço, que organiza
e suporta as ações humanas, lhe dão identidade e são efetivadas pelas relações cotidianas entre o
sujeito e “seu lugar de vida” (SAQUET, 2009, p. 87 — grifo nosso) podendo ser contínua ou não.
Um território pode ser suporte de múltiplas territorialidades, estas que proporcionam a
qualidade que o território adquire através do seu uso ou apreensão pelo sujeito: “o território é uma
construção coletiva e multidimensional” (SAQUET, 2009, p. 81).
Concordamos com Saquet (2009) quanto ao processo de territorialização ser o produto e
também determinante para que processos sociais e também espaciais ocorram. Devido a sua
característica multidimensional, tal processo pode ser determinado por meio das desigualdades e
das diferenças, porém são as identidades que tornam o processo identificável.
Com base no que foi apresentado, fica latente a importância do território e da territorialidade
na constituição da identidade dos sujeitos e o papel da formação de Lugares para estruturar uma
vida em coletividade. Nesta composição há de se considerar que o território significa “apropriação e
dominação”, enquanto a territorialidade representa o “poder exercido” (SAQUET, 2009, p. 90),
efetivando-se por meio de todas as relações habituais e rotineiras. O Lugar, como expressão de uma
escolha de pertencimento, e o território como estado identitário, podem potencializar a adesão e a
compreensão da paisagem local, como buscaremos colocar no próximo capítulo, pelo conceito de
Paisagem Cultural.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 42]
A paisagem cultural, por sua vez, começa a ser discutida a partir dos estudos de Tuan (1980),
quando discute a noção de Topofilia (o amor ao lugar), demonstrando com maior vigor a relação de
pertencimento do indivíduo a certos espaços, as culturas e as relações sociais construídas através da
experiência nos lugares. A disseminação desse conceito tem sido um dos objetivos do IPHAN, com a
intenção de favorecer a qualidade de vida de comunidades tradicionais e pode ser um fator
motivacional na preservação dos patrimônios.
O interesse na paisagem, como um bem patrimonial, já existe desde 1937, quando foi criado
o Livro do Tombo Arqueológico, Etnográfico e Paisagístico. O IPHAN define a Paisagem cultural com
a representação de um processo de interação entre o homem e o meio natural, de forma que deixe
nela seus vestígios ou lhe atribua valores. Os exemplos são os mais variados, sendo um deles a
tradição pesqueira e todo o contexto naval envolvido, pois formam um conjunto de riquezas culturais
brasileiras, tendo como foco a relação homem-natureza (IPHAN, 2009).
Sauer (1996, Apud Winter, 2007) traduz a paisagem cultural como resultado da relação entre
a cultura atuando sobre o meio natural (Winter, 2007), o que se relaciona com a ideia de formação
de um território. Para Winter (2007), a paisagem é um registro das transformações ao longo do
tempo, ocasionadas pela ação dos grupos humanos sobre um definido espaço. É o resultado das
experiências de uma sociedade, lugar de interação entre a matéria e os símbolos. Assim, a estética
da paisagem seria uma criação simbólica, subjetiva dependente da carga de valores do grupo que a
percebe.
Cosgrove (2012) define a paisagem como uma forma de ver o mundo, que tem sua própria
história, mas somente entendida como parte de uma história mais ampla da sociedade. O autor
associa a produção cultural à prática material. O argumento utilizado é que o conceito de paisagem
não emerge pronto da mente de indivíduos ou grupos humanos, mas fabricado pela história e pelas
vivências.
Cosgrove (2012) defende a existência de paisagens dos grupos dominantes e paisagens
alternativas. A primeira seria um meio através do qual o grupo dominante mantém o seu poder,
enquanto a segunda seria produzida por grupos não dominantes e que, por isso, teriam menor
visibilidade, de modo a compreender as expressões impressas por uma cultura em sua paisagem. A
necessidade de um conhecimento da “linguagem aplicada: os símbolos e significados nessas culturas
(e) todas as paisagens e significados simbólicos são o produto da apropriação e da transformação do
ambiente pelo homem” (COSGROVE, 2012 p.227).
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[pág. 44]
Berque (2012), por sua vez, menciona que para compreender uma paisagem cultural é
necessário considerar o indivíduo como um corpo social, aprendendo “tudo aquilo pelo qual a
sociedade o condiciona e o supera”, dentro de uma cultura a qual “dá sentido à sua relação com o
mundo” (BERQUE, 2012, p.241).
Com a renovação da geografia cultural foram incluídos os aspectos subjetivos e intangíveis
da paisagem, pontos necessários à preservação dos patrimônios. A partir da convenção da UNESCO
de 1972, os patrimônios passam a ser classificados por seu valor natural e cultural e posteriormente
um misto entre os dois, e dentro desse contexto a Paisagem Cultural passa a ser pensada com maior
vigor. Porém, somente em 1992, a paisagem cultural foi diferenciada das abordagens anteriores e
começa a ter a paisagem e todas as relações (homem e o meio ambiente, natural e cultural) que
coexistem como um bem de valor patrimonial (Winter, 2007).
Nesse sentido, uma Paisagem Cultural deve representar como um todo a paisagem que
retrata de forma funcional e em sua essência de existir. Deve ser considerado também o seu valor
absoluto e sua representatividade, tendo a capacidade de refletir os elementos culturais essenciais
e distintos de uma região (Winter, 2007) contribuindo para o fortalecimento do valor de comunidade,
como veremos em seguida.
A sociedade pós-moderna tem buscado para si cada vez mais a individualidade e a liberdade,
e ao mesmo tempo se sente inseguro e desconexo, sem uma origem ou ponto de apoio. Segundo
Bauman (2003, p. 10) “não ter uma comunidade significa não ter proteção”. Em tempos de
impessoalidade, a tentativa cotidiana é a de pertencer a algum lugar, mesmo que de forma
imaginária (MAFFESOLI, 2007).
O ‘sacrifício’ para viver em comunidade passa por abrir mão de alguma liberdade e assumir
uma identidade comum, coletiva. Os conceitos em que uma comunidade se baseia precedem
qualquer outro tipo de norma ou legislação, tem um vínculo ético, moral entre os indivíduos do grupo
e são, muitas vezes, tácitos. Quando uma comunidade real (não produzida) é sempre fiel a sua
natureza enquanto for distinta dos outros grupamentos. (BAUMAN, 2003, p.17). Isso significa que
uma comunidade com valores comuns tem por característica a homogeneidade de comunicação e
conduta, fortalecida em sua unidade.
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[pág. 45]
Maffesoli (2007) defende que não existe uma razão consciente para a conexão social, é uma
necessidade física, ligada ao instinto de sobrevivência. Há uma necessidade humana de busca pelo
lugar de pertença, e essa ancoragem no espaço tem sua relação fundada na memória do indivíduo e
está intermediada, herdada pelas relações sociais. Vale ressaltar que o espaço público sempre teve
como principais funções a integração e a sociabilidade, sendo, assim, um lugar de convívio que
viabiliza a fundação de significados que expressam valores comunitários (VIERO et al, 2009).
Uma comunidade protege e fortalece o indivíduo; ao pertencer, o indivíduo encontra seu
lugar no mundo, na qual seus valores e crenças serão compartilhados, e não há estranhamento, mas
uma busca por semelhança. Assim, enquanto a comunidade oferece ao indivíduo um lugar para se
reconhecer e reconhecer o Outro, tudo o que está aparte deste valor traz insegurança (MAFFESOLI,
2007). Reforçar a segurança local pelo incentivo do valor de comunidade é, sem dúvida, restabelecer
uma identidade.
A comunidade possui seus códigos próprios, as formas pelas quais se comunica sem que seja
dita qualquer palavra, uma repetição de “padrões” que faz reconhecer os membros de um grupo. O
desaparecimento de uma comunidade em nome da libertação do indivíduo resulta em verdadeiras
massas expostas a artificialidade e a superficialidade, como coloca Bauman (2007). É na coletividade
que acontece a memória coletiva, onde encontra um campo fértil para se manter viva (Pollak, 1992),
como veremos no próximo item.
Toda comunidade sobrevive por suas histórias e por sua memória. A profissão da pesca é
talvez uma das mais antigas da história mundial, e em Macaé isso não é diferente. Desde antes da
colonização os indígenas já usavam a pesca como meio de vida, e ela tem por característica ser
comunitária, familiar e hereditária. Portanto, compreender a memória coletiva é de alto valor para a
pesquisa que aqui se apresenta.
Nora (1993), explica a memória como viva, que é sempre conduzida por grupos que também
se mantêm vivos, estando assim em permanente construção. A memória também está sempre
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[pág. 46]
suscetível à lembrança, e também ao esquecimento. Embora tenha sua origem no passado, é sempre
modificada pelo presente.
A memória coletiva é um artefato de identidade para grupos sociais; à medida que
compartilham e constroem suas memórias, se fortalecem enquanto comunidade, pois, “o ser social
é fundamental para que haja lembrança” (Halbwachs, 1990). Segundo o autor, a lembrança é fruto
de um processo coletivo; na medida em que necessita de uma comunidade afetiva, todo indivíduo
permite-se atualizar uma identificação com as histórias do grupo e retomar o hábito e o poder de
pensar e lembrar como membro do grupo. A permanência do apego afetivo a uma comunidade dá
consistência às lembranças.
Como processo de reconhecimento e reconstrução, as lembranças retomam as relações
sociais, e a memória é, assim, esse trabalho entre reconhecer e reconstruir. Se um grupo é afetado
por um Lugar, seus símbolos e marcas constroem esse lugar e permitem a permanência desse grupo.
O espaço físico, então, como suporte espacial necessário para a construção dessa memória oferece
permanência e estabilidade (Halbwachs, 1990).
Concordamos com Halbwachs (Op.cit.) quanto ao acervo de lembranças partilhadas por um
grupo ser o conteúdo da memória coletiva, mas é a experiência individual que poderá ancorar e
permitir a construção contínua e comum dessa memória, que se reproduz pela tradição. A tradição
é a condição para vivificar e manter um conteúdo sempre atualizado e conectado.
Segundo Pollak (1992), as atividades tradicionais, presentes nas comunidades, são também
um modo de transmissão da memória, onde a imagem do sujeito é construída pela experiência com
os outros, uma herança da vida em comunidade. Essa sensação de identidade é ligada ao grupo, tem
caráter coletivo e gera união entre os membros, por ali se reconhecerem. Nesse sentido, a pesca e a
comunidade de pescadores são artefatos de grande importância na transmissão e construção dessa
memória coletiva.
A memória está em constante construção, e revela-se através do grupo que as uniu por uma
multiplicidade de lembranças, muitas delas vagas, plurais, que impregnam espaço, os gestos e os
rituais, outras bastante conscientes e reprodutíveis espacialmente: “uma sociedade tradicional
possui lugares onde ancora sua memória” (NORA, 1993).
Em se tratando de memória coletiva, um mesmo acontecimento pode afetar diversos grupos;
isso os une numa reflexão em comum e acontece devido ao compartilhamento de um mesmo espaço.
O fato mais importante está na forma como os grupos percebem essa afetação; para tanto, é
necessário que o significado dado ao espaço seja comum (HALBWACHS, 1990).
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[pág. 47]
Ao falar da relação entre a memória coletiva e o espaço, Halbwachs (1990) menciona que em
cidades pequenas a força dos grupos tende a aparecer com maior vigor, e geralmente tais cidades
utilizam-se disso para manter suas tradições, usando as imagens espaciais como ponto de suporte
(Halbwachs, 1990, p.136). Podemos dizer, com isso, o valor de comunidade e as tradições em cidades
do interior, como Macaé são fortes representantes e condutores da memória coletiva simbolizados
aqui pelo grupo de pescadores e as narrativas, que veremos em seguida, são uma das formas pelas
quais essas histórias podem se fazer conhecidas.
As narrativas têm grande contribuição dentro do campo da arquitetura, pois através delas é
possível evocar os lugares do passado registrado na memória dos indivíduos que convivem em um
determinado espaço físico ou social (ÁVILA, 2020), o que torna possível reconstruir as transformações
que foram se “apagando” com a evolução da cidade. Assim, as narrativas mostram-se como uma
maneira de “relembrar” os lugares significados.
A construção narrativa apresenta muitos aspectos afetivos, pois é composta da “união da
cognição, imaginação, sentimento e da ação”. “Reorganiza, rearticula, ressignifica os sinais de uma
cultura em que o autor e o espectador estão imersos” (REIS, 2006, p. 27). Por ter o sujeito como
ponto focal, a narrativa ocupa-se das transformações relacionadas à vivência humana e auxiliam na
compreensão da vida atual e também das sociedades, a partir da experiência de quem a conta, pois
é construída a partir da base memorial que o homem tem com o lugar (ÁVILA, 2020).
A cultura e a história marcam e significam os espaços, significados esses advindos da narração
de vida de grupos sociais (JODELET, 2002, p.32). Essa experiência do corpo no espaço, significado, é
traduzida em forma de narrativas, o indivíduo faz parte da narração, a vida dele está atrelada a
construção social e cultural daquele espaço, que ganha significado. As construções narrativas
contribuem na compreensão das transformações de uma sociedade, as causas e os efeitos de certos
acontecimentos, as semelhanças e diferenças entre vários períodos e entre o passado e o presente,
sobretudo, facilita a organização cronológica do tempo e do espaço.
No capítulo seguinte serão abordados os percursos metodológicos nos quais os conceitos
aqui apresentados, memória coletiva, comunidade, paisagem cultural, Lugar e Território poderão ser
confrontados pelos estudos etnotopográficos (croquis etnográficos e mapeamento de
manifestações, desenvolvidos como estratégia de abordagem de viés etnográfico no campo da
arquitetura e do urbanismo pelo LASC/PROARQ/UFRJ) a fim de dar suporte o capítulo posterior de
análise.
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entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 49]
CAPÍTULO 4
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4. METODOLOGIA APLICADA
Toda pesquisa tem como pré-requisito ser rigorosa e organizada, nesse sentido a
metodologia tem um papel fundamental na estruturação do processo em busca das possíveis
condutas projetuais diante do problema que motivou esse trabalho, o valor de comunidade e a
paisagem cultural, optamos por uma pesquisa qualitativa que servirá como base para a
construção do projeto final dessa dissertação.
Este estudo se apoiara na metodologia de cunho etnotopográfico aplicada pelo
LASC/Proarq (Laboratório Arquitetura, Subjetividade e Cultura), que corresponde a um conjunto
de métodos que possuem como base as ciências sociais entrelaçadas a arquitetura, em busca
de decifrar os espaços construídos (DUARTE, 2010). Nesse sentido a ambiência e a metodologia
são elementos de conexão nos estudos etnotopográficos, que deverão auxiliar na compreensão
do espaço através da análise da dimensão subjetiva do Cais do Mercado de Peixe, por entre a
base cultural dos pescadores locais, considerando que a reação corporal é inseparável da
experiência arquitetônica.
É importante ressaltar que a segunda etapa de pesquisa foi impactada, em parte, devido
à Crise mundial de Saúde e as estratégias de isolamento horizontal a que todo o país foi imposta
diante dos impactos causados pelo Covid-19 e serão mencionadas ao longo do capítulo.
metodológicas a serem traçadas vão de um olhar mais distante e abrangente, que chamaremos
de “macroscópico” - por tentar compreender a situação local por mapas e análises, seguida de
análise “microscópica” – que olhará de perto e de dentro, por meio de croquis etnográficos e
montagens de narrativas baseadas nos usos e manifestações do público que trabalha e usa o
Cais.
A fase de catalogação histórica e pesquisa iconográfica foi de grande importância para
compreender a relação afetiva que os macaenses têm com a sua cultura. Portanto, o
complemento dessa etapa com uma abordagem mais exploratória e intensiva, em conjunto com
a comunidade, afim de justificar a proposta projetual de revitalização do Mercado de Peixe
Municipal, foi a sequência adotada.
Por entendermos que somente a subjetividade é capaz de auxiliar na compreensão do
sujeito e auxiliar na interpretação e desenvolvimento de projetos que contemplem essa
dimensão sensível, tal metodologia irá conduzir e direcionar todo processo de projeto como
forma de resposta do entendimento do invisível.
O emprego das ferramentas especificasse dará em duas etapas. Primeiramente, (1)
análise do Cais do Mercado do Peixe e do seu entorno pelo conjunto de sistemas viários,
paisagem do entorno e fluxos. Posteriormente, compreender o uso e função do espaço pela
comunidade através de observação e em diferentes momentos de uso, registrando-se através
de croquis etnográficos tudo o que se percebe (2), identificando e mapeando as apropriações
(3). Através de tais análises com foco na memória coletiva, na paisagem cultural e no valor de
comunidade, construiremos possibilidades de narrativas para o projeto final.
No trecho em laranja estão os lotes de menor taxa de ocupação e muitos dos edifícios
ali localizados são institucionais e comerciais (fig. 35), sendo esses últimos em grande parte
encontram-se fechados, esse fator reflete diretamente no fluxo de pessoas que fora do horário
comercial fica bem reduzido.
Figura 35: Edifício da prefeitura a esquerda e Antigo Hotel Ouro Negro, localizados no trecho em
laranja. Fonte: Acervo da autora, 2019.
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[pág. 54]
Na área destacada em
amarelo, a maioria das
edificações se encontram
vazias e abandonadas, quase
não se percebe pessoas
transitando por esse trecho da
orla; muitas buscam o interior
da quadra, onde se encontra
um calçadão de pedestres
destinado ao comércio. A
paisagem visual é marcada
pelos prédios vazios (fig. 36) e
os barquinhos parados na foz
Figura 36: Edificações comerciais fechadas próxima ao final da orla. Fonte: Acervo da autora,
do rio (fig. 37).
2019.
É possível dizer que
aos fins de semana,
principalmente, cidade, rio e
mar param para observar um
ao outro. Os carros passam
em poucos momentos e
cortam o silêncio do vento
com seu barulho de motor, o
cheiro de mar é o único que
permanece constante, sendo
que perto do mercado ele se Figura 37: Barcos atracados na foz do Rio com o Mercado do Peixe ao fundo. Fonte: Acervo da
intensifica pelo odor do peixe autora, 2019.
que marca o território.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
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[pág. 55]
• Transformação da paisagem
Segundo Tângari (2005) a paisagem de uma cidade é o reflexo do suporte físico (ação
natural) em conjunto com o social (ação humana), onde o homem é o principal agente
transformador em busca de adaptar o território as suas necessidades culturais. Winter (2007)
também coloca as mesmas precedências, porém aliadas ao valor natural e cultural, como
descrito no Capítulo 3.A localização da cidade de Macaé, entre a capital Rio de Janeiro e a cidade
de Campos, e sua condição natural de aportamento foram, assim, condições sinequa non para
seu desenvolvimento econômico (MEIRELLES, 2018) e sua forma de constituição social e
cultural.
Grande parte do território da cidade é um relevo plano, porém uma área aproximada
de 1.710 km² (171 hectares) corresponde a bacia hidrográfica do rio Macaé que drena uma
porção significativa do estado do Rio de Janeiro, encontrando-se inteiramente inserida no
território fluminense (Atlas Ambiental, 2015). Por esse motivo, boa parte do desenvolvimento
urbano da cidade ficou restrito a uma área mais litorânea que apresenta um histórico de
alagamento devido à ocupação das áreas da bacia hidrográfica. Segundo Britto e Sayd (2016), a
presença da água na cidade de Macaé foi determinante para o traçado urbanístico inicial da
cidade, com ruas paralelas ao mar e perpendicular ao mesmo limitada sempre pelas áreas
alagadiças.
No Mapa de agentes e vetores (fig. 38), é possível perceber que o centro da cidade surge
confinado entre o mar, o rio e as áreas alagadiças, e os vetores responsáveis por seu
desenvolvimento começa com as rotas marítimas e mais tarde com as rodovias, linha férrea,
sempre com a intenção de interligar a cidade aos vizinhos Campos dos Goytacazes e Rio de
Janeiro.
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[pág. 56]
Quanto aos aspectos sociais, a vila teve o início de sua colonização em meados do século
XVI, que integrou inicialmente a Capitania de São Tomé e mais tarde denominada de Capitania
de Paraíba do Sul, teve como intuito controlar o contrabando de Pau Brasil e conquistar os povos
indígenas. Em 1630, seu território foi solicitado pelos padres da Companhia de Jesus, que
criaram dois engenhos para lavoura de cana. Também em 1630, os jesuítas fundaram a capela
de Santanna no alto do povoado, no entanto a missão jesuítica não dura muito e em 1795,
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[pág. 57]
quando são expulsos pelo Marquês de Pombal, a atual Vila de São João é ocupada pelos
imigrantes vindos de Cabo Frio e Campos.
Fomentado pelo interesse das províncias em favorecer a circulação de produtos, através
de novas vias de comunicação, tanto marítimas quanto terrestres, em 1837 o Engenheiro
Henrique Luiz Bellegarde apresenta uma série de obras públicas que deveriam ser executadas
com a finalidade de interligar regiões que até então estavam isoladas.
Em seu projeto Bellegarde destaca as localidades primeiramente e define a menor
distância entre elas e a capital da província, Niterói na época, em seguida ele define os centros
urbanos identificando o local da igreja. Para ele, a principal construção dessas aglomerações
urbanas era a área onde hoje se encontra a Praça Veríssimo de Mello, um pedaço de terra que
havia sido doada pela família Ferreira Rebello, e é definida por Bellegard como centro urbano
daquela aglomeração.
Posteriormente ele delimita o traçado dos arruamentos, tendo conhecimento da
topografia e hidrografia local, mas sem se limitar a isso. Devido à importância econômica de
Campos para a província, uma das principais preocupações do engenheiro era interligar ambos
aproveitando os canais existentes entre os rios Paraíba e Macaé e outra entre Macaé e a baía
de Niterói (CARVALHO & TOTTI, 2006).
No Mapa Síntese de Transformações e Evolução Histórica (fig. 39) é possível observar
como mesmo com a expansão econômica da cidade e tentativa de interligação com seus
principais parceiros comerciais o porto continua sendo o foco de desenvolvimento e
crescimento.
A presença da água na região do estuário do Rio Macaé é um aspecto determinante na
configuração do arraial (fig. 40), cujas primeiras vias são a Rua da Praia (beira–rio, onde
funcionava o porto), a Estrada do Litoral (ligando Cabo Frio à Campos), e a Estrada do Cantagalo
(ligando a serra ao mar).O primeiro projeto de arruamento da cidade foi apresentado em 1837
pelo Eng. Militar Henrique Bellegarde, e demonstra o intuito do autor em ordenar um tecido
urbano que já estruturava-se de maneira incipiente e irregular (BRITTO e SAYD, 2015).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 58]
Figura 42: Passeio da Avenida Presidente Sodré. Autor: Colon. Fonte: IBGE. Disponível em:
https://biblioteca.ibge.gov.br/visualizacao/fotografias/GEBIS%20-%20RJ/rj46054.jpg, S.D.
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[pág. 61]
Devido à ocupação de todo lote em grande parte da área delimitada, os espaços livres
públicos são de extrema importância na manutenção da qualidade ambiental quanto à redução
de temperatura da região.
No projeto inicial de arruamento realizado por Bellegarde a orla marítima, onde estava
o cais, não foi contemplada, porém mais tarde um grande passeio é construído com função de
contemplação (fig. 42), “seguindo as mudanças de hábitos e costumes sociais das cidades de
orla” (Tângari, 2005, p. 7).
No Mapa Síntese de Estrutura Morfológica Atual (fig. 43), pode-se perceber que grande
parte dos espaços livres são públicos, sendo eles praças, ruas e avenidas e orla marítima. Existe
ao longo da faixa litorânea uma concentração de terrenos vazios que surgiram da demolição de
antigas residências, provavelmente para em breve ser ocupado por edifícios mais altos. O
gabarito predominante na área delimitada é de até três pavimentos. Devido à forma de
ocupação dos lotes os elementos vegetais estão massivamente presentes nos espaços livres
públicos, nas praças existentes, canteiros e calçadas da região.
No perfil da rua São João (fig. 44), perpendicular à orla, é possível perceber a
predominância de gabaritos até 9,00m, as construções mais altas são destinadas ao uso
hoteleiro e de serviços.
Figura 44: Perfil da rua São João. Fonte: Acervo da autora, 2019.
Neste item (fig. 45) foram analisados os usos e fluxos dos espaços livres, hierarquia viária
e das praças e passeios, assim como as áreas de permanência e circulação, tanto de veículos
como pessoas. Por ser uma área central e uma das mais antigas da cidade, existem duas grandes
praças que são protegidas e correspondem a bens patrimoniais da cidade e são de hierarquia
municipal.
Foram avaliadas rotas terrestres e marítimas, visto que além do fluxo de veículos e
pessoas, a área recebe um grande número de embarcações que se destinam ao cais do Mercado
Municipal de Peixe. Todas as vias terrestres são de hierarquia municipal, mesmo a Avenida
Presidente Sodré (Beira mar) que é um trecho de rodovia, sua escala é definida pela sua caixa e
nível de fluxo.
No interior da quadra existe um calçadão de circulação prioritária de pedestres
destinada ao comércio, alimentação e serviços, que acessam a orla por meio de galerias e
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
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[pág. 63]
algumas ruas estreitas. Embora a Avenida beira mar possua um grande calçadão, o fluxo de
pessoas é bem reduzido devido à pouca arborização que torna a região quente e árida.
No quesito de espaços de permanência, há uma concentração de áreas de
estacionamento de veículos, tanto pública quanto privada na região. As praças arborizadas
permitem a permanência de pessoas que trabalham ou passam pelo centro e além disso, por
ser um cais, a paisagem marítima no encontro entre o rio e o mar forma um grande espelho
d’água que é marcada pela atracação de embarcações.
Concordamos com Kuschnir (2016) quanto ao ato de desenhar está associado a uma
biografia, da imaginação do autor e das considerações em que foi produzido. Portanto tem a
capacidade de reaver valores como “sensibilidade, subjetividade, criatividade, espontaneidade,
espírito, fluxo, experiência, pulsão, vida, totalidade, singularidade – com complexas articulações
internas e ênfases conjunturais variadas” (Duarte 2012: 425 apud Kuschnir, 2016).
Na arquitetura e urbanismo, o desenho é o entrelace entre o arquiteto e o “sujeito
criador”, o que o permite construir ideias, desenvolver soluções além de ser uma forma de
expressão da própria identidade profissional e reinterpretar fenômenos a partir da própria
experiência (PINHEIRO, 2020). O desenho é dentro da antropologia o “diálogo entre as
subjetividades de investigadores e interlocutores” (Kuschnir, 2016. p. 23).
Para o arquiteto e urbanista, essa experiência é de extrema importância, visto que o
estudo dessa relação “vida social x espaço” questiona a construção cultural e social de um
determinado recorte espacial e seu processo de “moldagem do lugar” (DUARTE, 1993). De
acordo com Pinheiro (2020), o processo cognitivo, ao qual o croqui etnográfico é suscetível, é o
enfrentamento entre as “recepções ambientais e sensíveis e as representações internas”
(PINHEIRO, 2020. p.2) de cada um no momento presente.
O processo cognitivo – para além daquilo que se retém e desenvolve ao longo da vida –
pode ser entendido como a recepção de dados ambientais e sensíveis externos que são
confrontados com as representações internas de cada indivíduo, exigindo um reconhecimento
da realidade que só se explica no presente momento
É através da observação dessa reação corporal e experiência no espaço urbano que o
processo de projeto será norteado, em conjunto com a análise macroscópica. A partir do
entendimento desse suporte espacial, o Cais do Mercado do Peixe, e de suas relações sociais e
culturais, é que refletiremos a importância do papel humano sobre o espaço.
Como preliminarmente pudemos atestar nesta etapa de pesquisa, o espaço é entidade
inerte sem a ação dos corpos sobre ele, assim como a noção de Lugar e território se perdem, ao
passo em que as distâncias sociais se tornam maiores – como temos experimentado neste
momento mundial singular.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 66]
5
COVID-19 é o nome dado a uma família de vírus que causam infecções respiratórias. Desde o início de
fevereiro, a Organização Mundial da Saúde (OMS) passou a chamar oficialmente a doença causada pelo
novo coronavírus de Covid-19. COVID significa Corona Virus Disease (Doença do Coronavírus), enquanto
“19” se refere a 2019, quando os primeiros casos em Wuhan, na China, foram divulgados publicamente
pelo governo chinês (final de dezembro). A denominação é importante para evitar casos de xenofobia e
preconceito, além de confusões com outras doenças. Devido ao rápido contágio e grande impacto no
sistema de saúde, foi adotado pelas autoridades governamentais de todo mundo, orientadas pela OMS,
o distanciamento e isolamento social.
Fonte: FIOCRUZ, disponível em: <https://portal.fiocruz.br/pergunta/por-que-doenca-causada-pelo-
novo-virus-recebeu-o-nome-de-covid-19>, acesso em 15/04/2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 67]
a que esteve exposto, permitindo integrar a dinâmica dos acontecimentos dos eventos
narrados. (Rocha-Peixoto, 2013 apud Pinheiro, 2020)
Tal procedimento de encontro da narrativa com os mapas permitirá descobrir quais
atributos e lógicas permeiam e promovem a relação homem e ambiente. As informações
gráficas obtidas e registradas no caderno, através dos croquis etnográficos, desenvolvidos na
etapa anterior, auxiliarão na compreensão do espaço comunal, fazendo emergir o valor de
comunidade, e o valor memorial, ao confrontar determinadas conversas dos usuários sobre os
espaços escolhidos; o mapeamento de manifestações, por sua vez, refletirá como as pessoas
relacionam-se e se apropriam do espaço.
A etapa metodológica 1 (estudo “de longe”) foi realizada em um campo ampliado, onde
toda extensão da beira-rio foi mapeada, assim como é a área destinada ao Cais e à praça em
frente ao Mercado do Peixe. Tal estratégia foi necessária para delimitar uma área de atuação
inicial. No entanto, alguns questionamentos, como a falta de sensação de segurança ou o
esvaziamento de alguns lotes no entorno da orla, deixavam dúvida de como limitar a área de
atuação na etapa 2 e em especial nesta, a etapa 3.
Para resolver a questão foi necessário analisar o cenário geográfico e microclimático,
desde a etapa de análise macroscópica, para compreender os pontos ambientais favoráveis a
essa apropriação do espaço. Um dos pontos de maior destaque foram as áreas sombreadas. Na
orla, os ventos dominantes são intensos em determinados períodos do dia e o fato de existirem
poucas árvores cria um microclima árido, desconfortável, além disso, não existe nenhum ponto
de comércio ao longo desse percurso, o que o torna longo, cansativo e sem atrativo. Sendo
assim, somente o aspecto visual da orla parece atrativo às pessoas, e não suas condições
climáticas gerais.
Decidiu-se, então, que a aplicação das ferramentas de cunho etnográfico ficariam
destinadas a uma área mais restrita, limitada pela atuação do mercado do peixe, ponto de
interesse desse estudo e, a partir disso, das percepções oriundas das análises dessas
metodologia traçadas, buscaremos as respostas para a orla como um todo – visto ser ela um
objeto relacionado historicamente e simbolicamente ao Mercado do Peixe.
CAPÍTULO 5
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 70]
5. ANÁLISES E DIRETRIZES
Neste capítulo serão realizadas análises por meio dos métodos empregados,
confrontados os resultados da metodologia descrita no capítulo anterior com as categorias
abraçadas na fundamentação teórica e, finalmente, serão traçadas diretrizes para a proposta
projetual, que é a meta executiva desta pesquisa.
O papel da análise é o de garantir a manipulação adequada da informação e transformar
dados em significados, e possivelmente em soluções – o que se considera um diferencial no
Mestrado Profissional, uma vez que não é uma condição da análise gerar um produto, mas, uma
necessidade intrínseca a esta pesquisa de cunho profissional.
No caso das pesquisas qualitativas, como a dessa dissertação, a análise do conteúdo
servirá de base para uma análise qualitativa das observações, das questões abertas e das
abordagens realizadas pelos métodos empregados.
Assim, de modo a proporcionar uma leitura sequenciada dos métodos utilizados, este
capítulo será estruturado pelas respostas obtidas com a aplicação das etapas “de perto”, “de
longe” e o “mapeamento de narrativas”, que foram escolhidas para abordar a paisagem cultural,
a comunidade e a memória presentes na área analisada, o Cais do Mercado de Peixe de Macaé,
em capítulos não isolados especificamente na categoria, mas abraçados nas interrelações.
Segundo informações encontradas no site da prefeitura de Macaé, passam pelo
Mercado uma média de 500 pessoas nos dias de semana, aos fins de semana esse número
dobra. Cerca de 5000 pessoas vivem do mercado da pesca na cidade hoje, chega a 400 o número
de embarcações que utilizam o Cais. O Cais Municipal consegue receber 15 embarcações
simultâneas, sua administração é realizada pela Secretaria de pesca e aquicultura.
As análises no Cais foram realizadas em quatro momentos distintos, sendo dois durante
a semana na madrugada (3 e 5h), quando os pescadores chegam do mar, durante a semana (8h)
e no fim de semana durante a manhã (9h). Esses dias e horários foram pré-determinados a partir
de informações advindas dos donos de bancas do Mercado de Peixe que sinalizaram os melhores
momentos de movimentação do cais.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 71]
Portanto achamos relevante inserir nesse estudo todas as percepções durante esse
período e entendê-lo como parte das diretrizes para atuar localmente. Acreditamos que a
riqueza desse momento é de um valor inestimável para essa pesquisa, e talvez para tantas
outras no futuro.
Para acompanhar as alterações de comportamento social durante esse período de
isolamento social foram utilizadas estratégias de abordagem remota, e a existência das redes
sociais se fez de grande valia para isso. A existência de dois grupos privados no Facebook
chamados Macahé Antiga6 e Macahé das Antigas7, criados por Eugênio Paceli e Lúcio Duval,
respectivamente, como uma forma de manter o relacionamento entre os macaenses, me
proporcionaram o acesso a pessoas chave, acervos fotográficos particulares, narrativas e
discussões sobre as lembranças desses indivíduos com relação aos símbolos da cidade –
favorecendo a etapa final, que se encontra inconclusa.
O uso da tecnologia de dados remota possibilitou em um curto período reunir uma
quantidade de informações considerável e de grande valor para desenvolver as diretrizes de um
projeto que considere o valor de comunidade e a paisagem cultural. Embora o ambiente social
esteja inacessível, esse momento de isolamento parece ter deixado um sentimento de
preenchimento de lacunas e de pertença aflorado nesses indivíduos.
Durante os estudos e a pesquisa de campo algumas categorias de análise emergiram e
agora serão exploradas caso a caso, são elas: Processo e pertencimento, Imagem e Apropriação.
Cada categoria tem uma ligação direta com um conceito teórico, memória, comunidade,
paisagem e território.
Ao final do deste capítulo, como mencionamos, serão expostas as diretrizes e
encaminhamentos para o projeto de revitalização da orla do cais do Mercado do Peixe, e
consideraremos a importância do espaço público no seu papel social também em período de
isolamento social durante a pandemia do Covid-19.
6
https://www.facebook.com/groups/445835978761753/about
7
https://www.facebook.com/groups/macaedasantigas
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 73]
No Cais do Mercado do Peixe em Macaé, ao analisar a poligonal mais ampliada foi possível
clarificar essa noção de território e de suas territorialidades através de uma fase exploratória
onde foram mapeadas as ambiências observadas.
Em uma primeira etapa foi observado o comportamento das pessoas de uma forma geral,
quais os pontos mais as atraíam e onde se detinham por mais tempo (fig. 49) quais aspectos
estruturais e físicos poderiam ser motivos de permanência ou de repulsa. E posteriormente uma
observação mais aproximada, participante foi possível avaliar os aspectos mais sensíveis e como
isso se refletia no espaço e como essas territorialidades se apresentavam através dos territórios
informais (fig. 51).
A região apresenta alguns espaços livres públicos importantes: são três praças, sendo
uma delas anexa ao Cais, e a orla. Porém as áreas de permanência se concentram em alguns
pontos da Praça Veríssimo de Melo e em um ponto de ônibus em frente à prefeitura e no Cais
do Mercado. Foi então que surgiu a dúvida sobre qual motivo as pessoas não paravam para
contemplar a paisagem da orla, ou por qual motivo valorizavam a vista de seus apartamentos,
escritórios e casas, mas não se utilizavam do desfrute da paisagem.
A figura abaixo (fig. 50) faz parte de um trecho da região central de Macaé, o fluxo de
pessoas é consideravelmente maior no interior da quadra onde existe um calçadão comercial
em que a circulação é destinada exclusivamente a pedestres, enquanto na rua da praia a
prioridade é o veículo, levando a quem usa o estacionamento público uma vista privilegiada.
Além desse fator, o calçamento do passeio é precário, e em alguns pontos não há espaço para
passar uma única pessoa. Dessa forma o ponto de interesse da orla fica por conta do Mercado
Municipal de peixe e a paisagem forma seu segundo plano.
Sobre a questão dos usos, o Cais do Mercado de Peixe atende várias demandas e cada
uma delas cria sua respectiva territorialidade — banca de pescado, venda, armazenamento, etc.
— e paisagens completamente diferentes umas das outras, porém é possível encontrar uma
unidade na maneira como as atividades acontecem, não existe demarcação alguma, seja na água
ou na terra, mas em nenhuma das vezes presenciei qualquer conflito por que alguém que
estacionou o carro em local proibido, montou sua barraca em posição que não era adequada, é
perceptível a relação de poder existente.
Devido ao calado8, as embarcações precisam atracar em determinadas posições, porém
se alguma embarcação pequena chega e a área para atracação estiver cheia a mesma aguarda
até liberar vaga e não ocupa o território das embarcações maiores. Quem chega mais cedo
consegue atracar em uma melhor posição, pois quanto mais próximo ao Mercado mais pedras,
conforme a Maré vai baixando a chance de encalhar aumenta.
Tais territorialidades também surgem na ocupação do cais, posicionamento das
“bancas” de pescado, área de pesagem, próximo à beira e de frente para a rua, enquanto do
outro lado ficam os compradores, carregadores que ficam a aguardar. Uma área de
estacionamento de carro e outra destinada aos caminhões de caminhão, não há nenhuma
marca, ninguém diz nada, simplesmente as pessoas sabem.
No mapeamento a seguir (fig. 51), referente a um dia de desembarque de pescado, uma
quarta-feira de 2019, durante o período das 4:30 às 8:00 da manhã, foi possível compreender
essa dinâmica espacial, os deslocamentos, as apropriações dos espaços, as diversas funções que
o espaço assume em um curto espaço de tempo. Este estudo gráfico contribuiu para a descrição
espacial dos eventos e como uma verificação física do ambiente. Por ser uma ferramenta de
observação quanto uma ferramenta de análise, foi possível demarcar os diversos limites
territoriais, imaginários que estão presentes no cotidiano daquela comunidade, que para nós
“estrangeiros”, eles inexistem.
Fica claro que não existe nenhuma estrutura física específica para receber todas essas
atividades. Conforme vai amanhecendo, o calor vai aumentando, a ponto de ficar insuportável,
e com isso o movimento dos pescadores em repor o gelo para que o peixe não estrague. O piso
esburacado atrapalha o deslocamento das caixas que são puxadas por um gancho, umas sobre
as outras em direção ao veículo. A partir das 6h as barracas de frente ao mercado começam a
ser montadas fornecendo pão com manteiga ou mortadela e café para que aqueles
trabalhadores se alimentem.
Às 7h, o Mercado abre e o acesso ao cais fica mais restrito, é necessário apresentar uma
carteira para entrar, isso para que consumidores gerais não comprem direto do pescador e
impacte no funcionamento dos vendedores internos. O Cais da cidade de Macaé é municipal,
não existe valor de taxa para sua utilização, esse é um fator que atrai pescadores de outras
cidades vizinhas.
Figura 51: Mapeamento de manifestações no cais
do Mercado do Peixe durante a chegada e venda do
pescado. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 79]
Para compreender o valor deste mercado e do cais para a comunidade, nas primeiras
visitas, ainda em fase exploratória, foi observado que embora a orla seja um percurso de
aproximadamente 600m, são poucos os pontos de concentração e uso pelas pessoas
atualmente, sendo eles a região próxima ao Mercado e um ponto de ônibus em frente à
prefeitura. Por esse motivo o estudo etnotopográfico se concentrou no Cais do Mercado do
Peixe, devido a quantidade de acontecimentos significativos e dinâmicos para a construção
desse trabalho, levando em consideração a memória coletiva e a paisagem cultural.
Devido a minha presença no local e a constância era comum que os pescadores,
compradores se aproximassem e “puxassem” conversa, esses “bate-papos” também
contribuíram para compreender as apropriações observadas em campo. O desenvolvimento
desta etapa seguiu um procedimento que foi construído a partir da necessidade de um processo
de aproximação:
1. Observação participante das atividades e dos pescadores no cais do mercado, para
descobrir os horários mais propícios de mudanças de dinâmicas sociais com a
chegada dos pescadores, e saber se existem dias e horários para cada mercadoria;
2. Busca de “autorização” para entrada, uma vez que o acesso de pessoas “comuns” é
proibido, para que os cidadãos não comprem diretamente dos pescadores. Após o
acesso, foi necessário escolher um ponto para observar o evento: não existem
bancos ou local de apoio, portanto era necessário não atrapalhar o funcionamento;
3. Escolha de um período idêntico de permanência no local, que foi de 1h30 a 2h. Os
desenhos e anotações eram feitos de forma rápida, devido à dinâmica e às
exigências do croqui etnográfico.
volta a se tornar vazio, dando lugar às garças e o movimento fica por conta do funcionamento
do Mercado do Peixe e de seu entorno.
Ainda durante o período de pesquisa, até a presente data da entrega dessa qualificação,
devido à pandemia do COVID-19 ocorreram mudanças significativas: o Mercado do Peixe teve
seu funcionamento suspenso de 16/03 até 03/04/2020. Por esse motivo, os pescadores também
tiveram a paralisação de suas pescas e o impacto nas atividades foi de grandes proporções,
devido à obrigatoriedade de isolamento social de todos os moradores da cidade.
No dia 04/04/2020, um sábado anterior à Semana Santa, a data de maior venda de
pescado, o Mercado foi reaberto com restrições de acesso e a pesquisa teve a oportunidade de
presenciar mudanças de cultura e comportamentos em um momento único.
A aplicação do método de croquis etnográficos permitiu entender a dinâmica espacial
que antes nos pareciam invisíveis, os limites espaciais, os processos que já estavam enraizados,
os atores que participam da cena. Ao desenhar esses cenários, observados em momentos
diferentes, foi possível entender as mudanças de paisagem e a forma como aqueles agentes se
relacionam com ela.
Durante a observação foram realizados croquis rápidos (fig. 58), complementados com
legendas, esquemas, falas, sons e sensações devido a dinâmica do local que funciona durante
um pequeno período, os croquis foram aprimorados posteriormente.
Neste capítulo apresentaremos, também, o resultado de pesquisa realizada em Rede
Social, a partir de grupo privado do Facebook, como forma de dar continuidade à abordagem
indireta com a comunidade, mesmo em período de isolamento social.
Um dado de relevância é que este grupo apresenta mais de 12mil integrantes e
abordagem realizada por meio de uma primeira pergunta “incentivadora” teve adesão de
respostas na casa das centenas.
Figura 58: Croqui de observação do movimento do Cais
durante a chegada dos pescadores e venda do pescado.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 84]
1. Atracação de embarcações
2. Descarga de pescado
3. Triagem do pescado
4. Exposição
5. Venda/negociação
6. Pesagem
7. Estacionamento carros
8. Estacionamento caminhões
9. Guarita de controle embarques off-Shore
10. Embarque e desembarque de pessoas (off-Shore e turismo)
11. Alimentação
A pesca é o fator determinante, motivador, dominador desse cais, os agentes que ali
se encontram têm uma relação com essa atividade, seja na pesca, na compra, venda ou
transporte, de alguma forma essa é a forma que encontraram para viver economicamente.
E essa ocupação ainda tem uma característica de ser transmitida entre as gerações, como
uma herança, é possível encontrar famílias inteiras que vivem da pesca, porém outro aspecto
relevante é que é uma área dominada pelos homens. Durante os momentos de pesquisa, a
presença da pesquisadora parecia alterar a cena, dominada por aqueles homens, e durante
algum tempo estada lhes parecia incomoda e gerava muito silêncio.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 85]
As embarcações destinadas aos camarões são maiores, com mais estrutura, muitas delas
possuem uma câmara frigorífica, pois passam dias em alto mar, de 4 a 10 as vezes até mais, para
retornarem com uma quantidade considerável para encher um caminhão frigorífico. Esse
carregamento atende mercados grandes como CEASA-RJ, por exemplo. Devido ao pouco calado
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 86]
do Rio esse tipo de embarcação só pode atracar em alguns trechos e no período de maré alta,
caso contrário ficam encalhadas.
Durante o estudo o que mais chamou atenção era a forma como os fenômenos
aconteciam sem que fosse necessário que qualquer palavra fosse dita, os sons que ouvia eram
ruídos de motores ou máquinas e mesmo sem um procedimento por escrito, marcas no piso ou
um “líder” as tarefas aconteciam de forma ordenada sem que nenhuma instrução fosse dita.
Retira o camarão – separa – empilha as caixas – puxa as caixas – sobe para caminhão, uma
condição estruturante de uma “linha de montagem”.
Em se tratando da pesca de peixes e frutos do mar, o processo é um pouco diferente,
mas igualmente enraizado entre os integrantes do grupo. Aos poucos, barco a barco vão
chegando e atracando, descarrega o pescado, que vai se espalhando dentro de um território
imaginário na direção da embarcação, ali eles são separados por tipo em caixas que ficam
espalhadas pelo piso esburacado, uma balança é montada sobre caixotes e assim ficam
aguardando os compradores que estacionam seus carros dentro da área do cais e começam a
passar pelas “bancas” e escolher os pescados.
Após escolhido o pescado, começa a negociação pelo preço do produto, nesse momento
o falatório é maior, enquanto isso um outro grupo mais afastado observa todo o movimento,
muito moradores da área, ex-pescadores ou donos de embarcação, um tipo de programação
matinal social. Após a negociação ser fechada chega se aproxima um outro ator que faz o
pagamento, sempre em dinheiro e pega o carregamento e coloca no carro, não existe uma fala
para que o momento ocorra, apenas pequenos gestos com a cabeça ou com as mãos. Pequenas
cenas, muitos sinais e pouquíssimas palavras. Essas ficam por conta dos observadores que estão
ali só para rever os amigos (fig. 61).
Esse tipo de prática, enraizada, evidencia a transmissão de
saberes através dos membros do grupo, da comunidade pesqueira.
Segundo Candau (2011), a memória de um grupo quando forte é
capaz de estruturar esses grupamentos como através da
identificação, são esses processos identitários que organizam esses
grupamentos. Como uma prática pedagógica com base na origem
desses pescadores e nos acontecimentos esses processos
identitários se justificam.
A abordagem através do grupo virtual, foi de grande
relevância para a pesquisa, a comunidade tem uma participação
ativa de seus membros, e nele são colocadas fotos antigas (acervos
particulares de famílias macaenses), algumas lembranças de
momentos vividos e a defesa ao patrimônio da cidade, seja de
pessoas ou acontecimentos sempre geram muito engajamento
entre os indivíduos.
A existência desses grupos virtuais, o volume de membros e
a efetividade na participação só fortalecem o valor de comunidade
– mesmo que em outro suporte, que não o físico, mas o cyber
espaço – e que vai de encontro aos estudos de Maffessoli (2007),
reforçando que a comunidade é uma necessidade humana que
busca seu Lugar no mundo.
Figura 61: Croqui da negociação do
pescado e seus atores. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 88]
VISÍVEL INVISÍVEL
VISÍVEIS INVISÍVEIS
70 65
120 105
60
47 100
50
80
40 30
30 60
14 33
20 11 40 21
5 7 11 15
10 3 3 20 7 7 7 9
1 2 2 3
0 0
Gráfico 1: Resultado de elementos visíveis presentes nas Gráfico 2: Resultado de elementos invisíveis presentes nas respostas da
respostas da comunidade do Facebook. Fonte: Acervo da comunidade do Facebook. Fonte: Acervo da autora, 2020.
autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 90]
A tabela e os gráficosanteriores
elucidam as categoriasde valor simbólico
definidas pela comunidade usuária do Cais e, de
certa forma, estão presentes na paisagem
cultural local, a qual nos dedicamos a investigar
nesta dissertação.
O Resultado dessa tabela trouxe à tona
alguns elementos pouco perceptíveis para os
não macaenses, como é exemplo do próprio Rio
e a Pororoca, embora seja um marco na
paisagem é confundido facilmente com o mar,
principalmente pelo cheiro característico da
maresia. Outro ponto de atenção foi o
surgimento dos elementos invisíveis através de
narrativas (fig. 62).
O elemento “festas tradicionais” que
mais aparece na categoria invisíveis tem vários
outros elementos associados como, o encontro,
diversão, brincadeira, a procissão, as
barraquinhas enfeitadas, essas festas
tradicionais aconteciam nos meses de Junho e Figura 62: Comentários em resposta a questão
Julho, meses de festas juninas e julinas que é realizada no grupo do Facebook Macaé das
uma tradição nas cidades brasileiras. E no caso antigas. Fonte: Grupo do Facebook Macaé das
antigas, 2020.
de Macaé festa do padroeiro e aniversário a
procissão da cidade, a procissão de barcos era
um dos pontos altos desse evento.
Atualmente a festa do padroeiro acontece na Praça Veríssimo de Mello, que devido ao
seu limite fisico e layout dos jardins tem uma logística complicada e as festas de comemoração
da cidade acontecem no centro de convenções a mais de7km do Mercado do peixe.
Apesar de termos mapeado algumas dessas instâncias simbólicas nas abordagens
feitas a pescadores e usuários do Mercado do Peixe, foi a existência do grupo virtual no
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 91]
9
Data do calendário cristão em que não é recomendado o consumo de carne vermelha.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 92]
Na Sexta-feira Santa, a quantidade de pessoas era ainda maior, muitas protegidas atrás
de suas máscaras e tantas outras sentindo-se “ameaçadas”. A praça, os bancos e o parquinho
estavam interditados com uma fita zebrada; para alguns, no entanto, parecia estar tudo normal:
pela primeira vez pareciam ter tempo para sentar e apreciar o mar, por isso, não tardou para
que invadissem a área delimitada para se sentar e contemplar.
Podemos apontar que na questão do panorama tecido como “retrato da paisagem e da
comunidade”, a orla do Cais do Mercado do Peixe é um Lugar de tradição, diversão,
contemplação, trocas e encontros e a proposta para o desenvolvimento de uma intervenção
local deverá apresentar maneiras de valorizar e fortalecer e a paisagem cultural e o valor de
comunidade explorando esses pontos.
aos outros, ele tem a primeira banca quando você entra no mercado e sempre está com uma
camisa azul de botões, muito comunicativo, sempre tem uma receita para ensinar e indica os
melhores peixes para cada receita.
Todo esse movimento no cais acontece
sem um controle logístico, não há um
ordenamento formal do uso do espaço, mas
como que por um “saber instintivo” as coisas
acontecem da forma que precisa ser. Tudo
acontece de forma rápida e sincronizada, sem
muitas palavras trocadas, a negociação da
venda do pescado é o ponto alto nessa
paisagem. São conjuntos de cenas, sequenciais
e repetidas com atores diferentes em cada ato.
Dentro do Mercado (fig. 64), as cenas
são bem diferentes, a aparência é de limpeza,
claridade, mas nem sempre foi assim. O prédio
anterior era de tijolos maciços por fora e parecia
um bloco escuro e denso, sem entrada de luz –
conforme diziam os vendedores, disputavam os Figura 64: Croqui do funcionamento do Mercado do Peixe em um domingo
clientes “no grito”. Depois da reforma, o pela manhã. Fonte: Acervo da autora, 2019.
ambiente ficou mais salubre, as escolas e
creches hoje levam as crianças para conhecer o
Mercado.
ENTRELAÇAR
• Contemplação
• Tradição • Pescadores
• Pororoca
• Gastronomia • Família
• Pesca
• Ócio • Macaense
• Paris
• Lugar de foto
Gráfico 3: Gráfico com associação entre os símbolos, os conceitos e o encontro. Fonte: Acervo da autora, 2020.
O gráfico acima (3) exemplifica como a palavra emerge de todo este processo de
pesquisa: ENTRELAÇAR. Enlace de tempos, de memórias, de grupos e até o RE-CONECTAR tão
desejado após a situação atual de isolamento domiciliar. Os conceitos Paisagem Cultural –
Memória – Comunidade são a conexão entre a palavra síntese obtida e a proposta de
revitalização do Cais, que se apresenta agora por algumas diretrizes (fig. 67):
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 99]
6.CONSTRUÇÃO DO ROTEIRO
Este capítulo está dedicado a apresentar todo o processo projetual e como as apreensões
advindas da fase de análise repercutiram em respostas arquitetônicas e urbanísticas, a fim de atender
as reais necessidades da comunidade pesqueira a fortalecendo e valorizando a paisagem cultural.
6.1. Estudo de Casos
A população estimada segundo o IBGE é de 261.501 pessoas, sendo o número 127º no país
e o 13º no Estado. A renda per capita do município é 12,5% maior que a da cidade do Rio de Janeiro,
a média de rendimento mensal entre os trabalhadores formais é de 6,4 salários-mínimos ocupando
o primeiro lugar no Estado e o segundo no país.
Devido à extração de petróleo a cidade de Macaé conta com uma condição econômica
diferenciada em relação à maioria das cidades do interior do Estado do Rio de Janeiro, o que reflete
diretamente nos marcos arquitetônicos da cidade. Alguns dos principais equipamentos públicos são
compatíveis com os de grandes centros urbanos, com grande escala e de forte expressão na
paisagem. A partir do terceiro governo do prefeito Sylvio Lopes em 2001 a cidade começou a sofrer
um processo de aceleração de desenvolvimento e de modernização. Alguns desses projetos serão
apresentados em seguida com uma breve descrição.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 102]
Os terminais rodoviários, seis no total, foram criados entre os anos de 2004 e 2006
concentraram as diversas linhas de ônibus da cidade com a intenção de possibilitar a conexão de
regiões diferentes da cidade sem a cobrança de uma nova passagem (fig. 71). A estrutura em forma
de ondas contrasta e marca a paisagem da cidade. O projeto é do escritório carioca de Sérgio Moreira
Dias.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 104]
Figura 76: Center Pompidou em Metz, França. Fonte: Acervo Achdaily, 2016.
O arquiteto japonês, Sigeru Ban buscou no Centro Pompidou de Metz (fig. 76), no
o
norte da França, uma alternativa projetual que aliasse uma forma escultórica a fim de atrair
ao turismo e uma estrutura funcional a exposição de obras de artes de um Museu. Desse modo
arquiteto criou volumes simples, retangulares, interligados por uma grande cobertura
treliçada de madeira e membrana tencionada (fig. 77).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 107]
Figura 78: Detalhe de malha em madeira. Fonte: Figura 79: Detalhe de fixação malha em madeira.
Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Madeira, 2012.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 108]
Figura 80: Detalhe de fixação malha em Figura 81: Estrutura da cobertura. Fonte: Acervo Blog
madeira. Fonte: Acervo Blog Estrutura de Estrutura de Madeira, 2012.
Madeira, 2012.
O eixo central da orla, onde se encontra a prefeitura foi evidenciado, retirando os gradis do
edifício projetado por Niemeyer, ampliando o passeio, possibilitando a visibilidade do edifício como
um todo, na grande esplanada ainda manteremos a fonte e um trecho com as balaustradas existentes
hoje no local.
Será incentivado que lotes que estejam sem construções e edificações fechadas implantem
lojas ligadas ao ramo alimentício, com o objetivo de aumentar o horário de permanência e
funcionamento da área do cais. (fig. 88)
Figura 88: Proposta esquemática de eixo de centralidade na prefeitura e para incentivo de implantação de bares e restaurantes em
lotes que se encontram vazios atualmente. Fonte: Acervo da autora, 2020.
Abaixo o ante projeto inicial (fig. 89) em escala apresenta uma imagem para ilustração global
da proposta.
Figura 89: Plano de intervenção na área de estudo. Fonte: Acervo da
autora, 2020.
Com formas sinuosas a caixa de rua foi reduzida, acompanhando o antigo curso do rio,
diminuindo também o fluxo de veículos e a velocidade da via, favorecendo a contemplação da
Paisagem. Ao longo de toda a orla, no passeio isso também se reflete, pelo conjunto de jardineira,
permitindo a fluidez ao transitar e a conexão entre os elementos catalizadores dessa proposta, a
água, representada pelo Rio Macaé e pelo mar e a comunidade pesqueira.
A prefeitura (fig. 90) um elemento simbólico e de importância arquitetônica por ser uma obra
de Oscar Niemeyer de 1985 marca a centralidade da orla, para dar destaque e evidenciar a
construção ampliou-se o passeio em frente à edificação formando uma grande esplanada. Foram
retirados os gradis que a cercam, a balaustrada nesse trecho e a fonte existente se mantiveram,
formando um marco temporal na orla (fig. 91).
Figura 90: Vista atual da prefeitura. Fonte: Figura 91: Proposta para a área da prefeitura. Imagem produzida com
Acervo da autora, 2020. Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 116]
Ao longo de toda a orla propomos jardins com áreas arborizadas para tornar a área mais
sombreada e permitir a permanência, além de bancos, a cota do canteiro se eleva com grandes
gramados permitindo que as pessoas possam sentar e observar a paisagem (fig. 92).
Figura 92: Vista do canteiro com cota elevada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 117]
Próximo ao ponto de ônibus e do eixo central da prefeitura foi proposto um jardim solar (fig.
93), além de captar e gerar energia para carga de celulares e da iluminação pública, é um incentivo
ao uso da energia sustentável, visto que a própria cidade já oferece o desconto do Imposto Territorial
Urbano em 50% para as residências e empresas que a utilizam.
Figura 93: Jardim solar, estruturas inspiradas em girassóis, feitas em alumínio anodizado para captação de energia
solar. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 118]
A parte central da cidade e alguns bairros periféricos sofrem muito com as enchentes em dias
de chuva e com o intenso calor no verão, a intenção é criar um grande passeio com canteiros e
arborização, aumentando o sombreamento e melhorando o micro clima ao longo da orla. Tornando
o caminhar e a parada mais agradável na região. A intenção é que as árvores plantadas sejam típicas
da região como a Aroeira, por exemplo, muito presente em alguns bairros da cidade (fig. 94).
Figura 94: Passeio com canteiros e arborização. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 119]
Figura 95. Espelho d’água área beira rio. Imagem renderizada. Imagem produzida com Sketchup e Lumion.
Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 120]
Outra ação foi a de criar “decks rampados” em madeira plástica, material já utilizado em outras
áreas na cidade, este percorre por toda a orla e assim como no cais, a ponta próxima a ponte se abre
para uma praça de eventos (fig. 96).
Figura 96: Praça para eventos, nesse ponto o deck se abre para receber eventos gastronômicos e artísticos.
Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 121]
Sobre ele uma cozinha de beneficiamento, de planta quadrada (apêndice 7), seguindo os
módulos da cobertura. A fachada foi inspirada na proa dos navios pesqueiros, as grandes “vigias”
exibem o processo de beneficiamento do pescado na área interna. A estrutura feita com materiais
pré-moldados, em placa cimentícia e estrutura metálica, permitem a adequação em caso de
ampliação ou alteração de localidade. A proposta da cozinha tem como objetivo o beneficiamento e
a valorização do pescado, assim como a participação das mulheres dos pescadores no Cais (fig. 98 e
fig 99).
O parquinho existente ganhou uma forma mais orgânica e com elevações naturais do terreno
gramado, explorando os desníveis para a implantação de brinquedos lúdicos inspirados nos
elementos simbólicos da pesca, como redes, cordas, as cores das embarcações, eliminando o
tradicional balanço e escorrega e favorecendo a criatividade (fig. 100).
Figura 100: Praça do Mercado com parque infantil. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte: Acervo
da autora, 2020.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 126]
6.3.2. A Cobertura.
Nas narrativas, escritas dentro do grupo do Facebook, por muitas vezes aparecera sobre os
belos jardins da Rua da Praia, onde muitos chegavam para brincar, passear ou simplesmente para
contemplar, e durante a fase de aplicação da metodologia, observamos que devido ao forte calor da
região sempre que existe uma arvore é possível encontrar um grupo reunido. Outro elemento
simbólico que buscamos trazer aqui é a do abrigo, da proteção, depois de passar dias, semanas no
mar a casa ganha um significado ainda maior para os que trabalham no mar. Assim, esses dois
elementos, juntos, ganharam uma forma figurada e passaram a estar presente na proposta da
cobertura do Cais, trazendo a esse lugar a função de acolhimento (fig. 103).
Figura 103: Croqui esquemático da composição da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020.
A estrutura da grande cobertura que trará proteção ao Cais (fig. 104) foi o ponto de partida.
Os pilares farão o papel do caule, com seus galhos se entrelaçando e sustentando os módulos
piramidais de 10x10m, que tem no ponto mais baixo 4m e no mais alto 7m, mantendo uma escala
mais humana. A cobertura se estender por todo Cais apontando o Mercado, porém não se conectam,
mas mantém uma relação de proximidade (Apêndice 6).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 128]
Figura 104: Cobertura de proteção do Cais. Imagem produzida com Sketchup e Lumion. Fonte:
Acervo da autora, 2020.
A proposta é de uma estrutura entrelaçada de madeira laminada colada, que começa em uma
base cimentícia engastada no píer e sobe até a cobertura fazendo releitura simbólica aos galhos das
árvores, uma película de membrana tencionada cobre toda estrutura que possui algumas aberturas,
que são preenchidas por uma malha de cabo de aço encapado, formando um sombreamento
geométrico durante o dia que lembram as redes de pesca.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 129]
A nova cobertura é uma proposta que pretende aliar novas tecnologias com a cultura local,
que busca os olhares estrangeiros, mas também valoriza e protege a comunidade pesqueira,
entrelaçando macaenses e forasteiros.
Propomos que os entrelaces da estrutura sejam em madeira laminada colada (MLC
ou GLULAM), uma tecnologia inovadora que une duas técnicas antigas, a colagem e a laminação de
fibras de madeira, devendo ser aplicada tratamento contra umidade. Como apresentado nas
referências a tecnologia possui alta durabilidade e resistência a umidade, podendo vencer grandes
vãos sem apoio. Outro fator de grande importância é a eliminação quase por completo dos metais
que devido ao ambiente hostil de maresia tem o tempo de vida útil reduzido sem a manutenção
adequada.
Figura 107: Croqui esquemático mostrando a fluidez e escala da cobertura. Fonte: Acervo da autora, 2020.
Com vãos livres maiores que 14m a cobertura em MLC permite uma área mais fluida (fig.
107) no piso do Cais, facilitando o uso pelos pescadores no dia a dia. A estrutura em Madeira deverá
ser coberta com a membrana de vidro e teflon, está tem uma durabilidade em torno de 30 anos. Em
alguns trechos a membrana será interrompida por uma tela aramada feita de cabos de aço revestido
por uma capa plástica, que trará ao projeto um efeito sombreado de redes lançadas durante o dia
(fig. 108).
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 131]
A Membrana que envolve toda a estrutura da cobertura deverá ser em média 15% translúcida,
permitindo um efeito de iluminação no período noturno, fazendo o efeito de uma grande luminária.
Os refletores em LED deverão ser dispostos na própria estrutura (fig. 109) de madeira e no PIS,
permitido o rebatimento da iluminação na membrana (fig. 110).
COLOR
demais cores 0,25mm
PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png
13 0,05mm cor 7
COLOR
demais cores 0,25mm
PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png
13 0,05mm cor 7
COLOR
demais cores 0,25mm
PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
MONO
cor pena
1 0,10mm cor 7
2 0,20mm cor 7
3 0,30mm cor 7 UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
4 0,40mm cor 7
FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
5 0,50mm cor 7
6 0,60mm cor 7 PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA
7 0,20mm cor 7
MESTRADO PROFISSIONAL EM PROJETO E PATRIMÔNIO
8 0,10mm cor 7
9 0,15mm cor 7
10 0,20mm cor 1
11 0,25mm cor 7
12 0,35mm cor 7
..\..\..\Desktop\ATUALIZADAS\MESTRADO PROFISSIONAL\CAD_MACAÉ\ufrj-logo-13.png
13 0,05mm cor 7
COLOR
demais cores 0,25mm
PRANCHA
A4 21,0 x 29,7
FL 5
FL 5
A
B
10,00
1,90
Construção Janela com tela
em adobe. metálica para impedir
entrada de insetos.
0,10
0,20
Armário BANH. BANH.
em metal HALL DE HALL DE
FEM. MASC.
2,31
com tranca ACESSO ACESSO Defumador
10,49m² 10,49m² Freezer para
5,43m² 5,43m²
2,60
2,50
produto beneficiado
2,30
0,15
4,87
4,62
0,90
Pia para lavagem
Hall
de
mãos.
Piso em cimento
queimado
resinado.
Bancada em inox
para recepção, CORTE AA
0,20
seleção e pesagem.
Bancadas com
1,60
cuba para filetagem
12,46
12,46
e salga do pescado.
COZINHA DE
BENEFICIAMENTO
0,20
92,76m²
1,76
Bancada com
9,85
cuba em inox
1,73
para evisceração e
limpeza do pescado. Bancada para lavagem
0,20
4,00
e drenagem.
0,20
2,50
1,60
Freezer para Pesagem
1,60
resfriamento e embalagem.
0,90
0,70
do pescado limpo.
0,45
Cozinha Banh.
0,20
1,72
C C CORTE BB
FL 5 projeção pergolado FL 5
0,15
Porta veneziana
2,34 0,20 1,60 0,20 1,70 0,20 1,60 0,20 1,89 0,15 em alumínio anodizado
Defumador de na cor branca.
10,00
300kg
Tela aramada
4,50
FL 5
FL 5
A
Revestimento
2,50
cerâmico na
cor branca.
PLANTA
CORTE CC
2,30
2,00
4,50
4,50
0,20
2,60
2,00
1,60
2,00
0,22
0,22
Como um filme cujo roteiro propõe encontros e desencontros, são muitas as cenas que se
desenrolam nesse longa-metragem de uma pesquisa de quase dois anos, na qual o espaço urbano é
mais um ator, por vezes atuando no protagonismo e outras nos bastidores, sustentando as diversas
encenações. Nesse enredo, a comunidade assume diversos papéis: de salvação, vilania ou muitas
vezes de uma simples figuração. Porém, nesta pesquisa, a comunidade pesqueira e o Cais mostraram-
se atores de igual patamar, um conjunto conectado, de dependência mútua, como parte identitária
um do outro. Portanto, para que o objetivo de valorização da Paisagem Cultural e o fortalecimento
da comunidade pesqueira sejam alcançados, foi necessário colocar os holofotes sobre ambos e
promover a protagonismo desses atores.
Percebemos ao longo do trabalho de pesquisa que a orla do Cais do Mercado do Peixe vinha
perdendo, ao longo dos anos, seu papel de protagonista. O belo passeio do início do séc. XX, no qual
as famílias aproveitavam para desfrutar da paisagem, os amigos se encontravam ao fim da tarde, e
onde as trocas afetivas podiam ocorrer, assim como o lugar das narrativas de Tonito10, perdeu-se,
desencontrou-se, restando apenas o Mercado do Peixe que luta por meio de sua comunidade
pesqueira para se manter à luz das grandes cenas. Hoje só se passa por ali apressado, não há mais os
encontros de domingo, alguns ainda se aventuram em pescar na mureta, mas essas cenas são cada
dia mais raras e trouxeram natural degradação da paisagem, assim como das histórias.
O cais, um grande piso cimentado com muitas imperfeições, separado da cidade por gradis,
com grandes desníveis a serem vencidos, sem banheiros e nenhuma proteção contra as intempéries,
aumenta ainda mais as dificuldades da vida pesqueira – que passa vários dias além-mar, distante da
família e correndo riscos. Fatores que, juntos, desmotivam os mais jovens a continuar nessa atividade
e influenciam os mais velhos a não desejarem esse futuro para as próximas gerações; assim a tradição
e a cultura pesqueira estão se extinguindo, como a observação participante desenvolvida sobre as
atividades e sobre os usos atuais demonstrou.
10
Antônio Alvarez Parada, nascido em 1925, Professor de Química e espanhol, através de narrativas dos
habitantes escreveu sobre a história de Macaé em jornais da cidade e livros, foi fundador da Academia
Macaense de Letras, jornalista. Fonte: Clique Diário. Disponível em: https://cliquediario.com.br/cultura/maior-
memorialista-de-macae-antonio-alvarez-parada-tonito-completaria-na-proxima-quinta-feira-27-93-anos-de-
vida
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 140]
A (não tão) pacata Macaé, luta silenciosamente para manter sua cultura pesqueira diante de
todo o investimento petrolífero, a paisagem antes marcada pelos patachos hoje conta com uma
média de 15 a 30 embarcações de apoio marítimo ou offshore por dia, que prestam assistência
logística a empresas de petróleo, e ficam na área de fundeio localizada na direção do porto do
Mercado do Peixe. As redes de pesca, o odor de peixe e os pescadores foram sendo substituídos
pelas bobinas, óleo e marítimos, atraídos para profissão no mar vislumbrando altos salários.
Manter e fortalecer essa comunidade pesqueira e dar luz à memória coletiva desse grupo,
principalmente com relação a troca de experiências, à renovação dos costumes e histórias que são
transmitidas pelas narrativas através das gerações, ou seja, a união do valor da paisagem e da
comunidade foi o objetivo principal desta pesquisa, que se materializou em um projeto de
revitalização para o Cais do Mercado do Peixe.
Buscamos com este trabalho fortalecer a importância da compreensão das ações coletivas,
cotidianas na construção dos territórios culturais e de suas territorialidades e estes como
direcionadores das intervenções de revitalização em áreas urbanas. Demonstramos como o Cais do
Mercado do Peixe se difere em muito da orla do Rio Macaé, principalmente em sua dimensão
simbólica, uma Paisagem cultural configurada como um produto desse grupo de pescadores, com
suas representações simbólicas, que se transmitiram geração pós geração.
Ao longo de todo o trabalho apresentamos as relações entre a comunidade de pescadores e
o Lugar do Cais do Mercado de Peixes, dois atores que assumiram inicialmente o papel principal dos
nossos estudos, por meio do mapeamento de atributos da memória coletiva, para alcançar a
proposta mais adequada como resposta das demandas locais. Para isso, apoiamos nos métodos
etnotopográficos, analisando a dimensão subjetiva desse Lugar de vivência comunitária dos
pescadores. Porém, durante o processo de pesquisa, fomos surpreendidos pelo período de
isolamento social devido à Pandemia da COVID-19, fator que retirou das ruas e dos espaços públicos
grande parte das pessoas.
O deslocamento ficou restrito somente às atividades essenciais. Para dar prosseguimento à
pesquisa, utilizamos as redes sociais e descobrimos um outro ator, dessa vez coadjuvante: os
macaenses e moradores antigos da cidade que se reúnem nos grupos no Facebook. Tal descoberta
foi de grande importância para compreender as relações que os macaenses tinham com a Rua da
Praia e com a comunidade pesqueira. Foi possível compreender que assim como o rio e o mar se
encontram diante do Cais, a necessidade mais primitiva desses atores era a do ENTRELAÇAR, com o
passado, com a paisagem, com a cultura, com os vendedores, com o pescado, com os amigos, com
os forasteiros, consigo mesmo. É latente pensar que ao descortinar essa necessidade essas
comunidades já tenham pressentido que estão ameaçadas a desaparecerem se não preservarem sua
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 141]
cultura e suas memórias, portanto a contribuição deste trabalho de revitalização do Cais do Mercado
do peixe é essencial para promover meios de agenciar tal “entrelace” entre a comunidade — local e
forasteira, hoje bastante presente — e essa Paisagem Cultural mantida por memórias, ações e uma
rotina que demarca o valor do Cais.
Direcionados pelo objetivo principal desse trabalho, o de fortalecer o valor de paisagem
cultural, propondo a Revitalização do Cais do Mercado do Peixe de Macaé por meio do potencial
comunitário e memorial do Mercado, buscou-se uma resposta projetual voltada à compreensão
sensível do ambiente, levando em consideração as necessidades básicas e os valores simbólicos dessa
comunidade, contudo progressista, reativando territórios e buscando, nas ambiências locais,
demonstrar o valor da manutenção da pesca. Ao decidir que a comunidade de pescadores e o Cais
do Mercado do peixe seriam os objetos principais desse trabalho a escolha da metodologia de cunho
etnotopográfico foi fundamental para o processo projetual. Não seria possível compreender as
necessidades cotidianas de uma comunidade pesqueira sem nos incorporarmos daquela ambiência.
Ao “croquisar” o arquiteto se coloca em cena em conjunto com os acontecimentos, é um olhar de
dentro, identificado, aproximado e sensível, buscando sempre as singularidades dentro de um todo.
O croqui etnográfico mostrou-se muito eficiente na compreensão entre a comunidade pesqueira e o
espaço do Cais, esse modo de traduzir através de croquis é muito caro a nós arquitetos e traz em
conjunto muitas informações subjetivas que auxiliam e direcionam o processo projetual. Em
conjunto com as narrativas que fizeram emergir as memórias, as relações temporais entre homem e
espaço, ambos formam um rico roteiro para o processo de projeto.
Por outro lado, a etapa de pesquisa sofreu um grande impacto devido a COVID-19 e a internet
através do Facebook se mostrou uma ferramenta eficaz e auxiliou ao complemento dessa fase
exploratória por meio das narrativas, nas quais surgiram os elementos visíveis e invisíveis, simbólicos,
os “ancoradouros de memória” (CANDAU, 2011) para essa comunidade, o que corroborou na
compreensão da relação espacial do macaense com a orla da Rua da Praia e o Mercado do peixe. A
fase de projeto também foi impactada pelo distanciamento social do COVID-19, a adaptação as novas
rotinas, a falta de encontros presenciais implicou na falta de discussões aproximadas sobre as
propostas apresentadas, principalmente com o grupo de pescadores, o que era a intenção inicial. As
dificuldades de desenvolvimento da estrutura e até mesmo o dimensionamento da área de projeto
levaram mais tempo que o esperado para serem delimitados, fatos que afetaram o desenvolvimento
mais aprofundado do projeto.
Por vezes quando uma cidade cresce em busca do progresso, os pequenos grupos lutam para
manter sua história e suas tradições, a etapa exploratória desse trabalho trouxe à superfície a força
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 142]
ainda pulsante das pequenas tarefas cotidianas de uma comunidade pesqueira que torna o Cais do
Mercado do peixe um Lugar único. Ao unir os potenciais comunitários e memoriais do Mercado do
Peixe o projeto de revitalização proposto previu atender as necessidades essenciais dessa
comunidade pesqueira, com um cais em um nível mais baixo, uma cobertura para proteção das
atividades diárias do cais e uma cozinha de beneficiamento que possa agregar mais valor ao pescado,
mas também foi uma forma de atrair novos olhares, externos, interessados nesses pequenos valores
comunitários, buscando colocar em foco esse pequeno grupo e o Lugar do Cais e assim fortalecer o
valor de paisagem cultural.
Esperamos que esse trabalho possa contribuir para as discussões de projetos de revitalização
de áreas urbanas em centros históricos de cidades que, como Macaé, foram afetadas por mudanças
drásticas promovidas por grandes agentes econômicos, a fim de que considerem, cada vez mais, os
saberes e as relações cotidianas que os pequenos grupos mantêm com seus Lugares, onde se
(re)constroem e se fortalecem, assim como as pequenas histórias que despertam os desejos de
fortalecer valores cotidianos.
BIBLIOGRAFIA
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
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OBSERVAÇÃO PARTIPANTE
(APÊNDICE 1)
OBSERVAÇÃO PARTIPANTE
Subsecretário de pesca
Cais do Mercado
05/02/2020
_ Oi menina, você está entrevistando?
_ Não, sou arquiteta, faço mestrado e vou propor um projeto para essa área do Mercado de Peixe.
Ele procura no celular e me mostra uma planta de uma cobertura para a área do cais.
_ Que bom, que estão vendo de cobrir a área, eles estão precisando mesmo.
_ Estamos sempre vendo com eles o que precisam, mas sabe como é né? A verba é curta. Oh
qualquer coisa me procura, fico aqui no Mercado mesmo.
REVITALIZAÇÃO DO CAIS DO MERCADO MUNICIPAL DE PEIXE EM MACAÉ/RJ:
entre o Valor de Comunidade e Paisagem cultural
[pág. 152]
OBSERVAÇÃO PARTIPANTE
Vendedor de pescado
Mercado de peixe
07/11/2019
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Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
Realização Patrocínio
Atlas Ambiental da
Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
1a Edição
Rio de Janeiro – RJ
2015
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Copyrigth: 2015. Editora Nova Tríade do Brasil Ltda.
FICHA TÉCNICA
Coordenador do Projeto Macaé Rio Sustentável Apoio à Revisão
João Bandeira de Freitas Ana Lucia Penha
Denise Motta
Editor Responsável Fernando Marcelo Manhães Tavares
Alexandre Esteves Henrique Rosa
Marcelo Zampieri
Coordenador do Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé Márcia Alfradique
Leonardo Esteves de Freitas Martinha Pimentel
Sávio Augusto Magaldi
Textos
Carolina Lima Vilela Patrocínio
Flavio Souza Brasil Nunes Petrobras
Leonardo Esteves de Freitas
Stella Mendes Apoio Técnico e Institucional
Prefeitura Municipal de Macaé e Agenda 21 de Macaé
Mapas
João Crisóstomo H. Oswaldo Cruz - Coordenação
Ana Camila da Silva
Giselle Borges Freitas, Leonardo Esteves de
Flavio Souza Brasil Nunes Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé.
Leonardo Esteves de Freitas, Flavio Souza Brasil Nunes,
Fotografia João Crisóstomo H. Oswaldo Cruz, Carolina Vilela, Stella Mendes,
Rodrigo Romano Ana Camila da Silva, Giselle Borges
Arquivo Mosaico Ambiental
Arquivo Secretaria Municipal de Ambiente de Macaé 1a ed. Rio de Janeiro: Editora Nova Tríade do Brasil Ltda.
3
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO 5
INTRODUÇÃO 6
O RIO MACAÉ 7
UNIDADE I - CONCEITOS BÁSICOS 8
BACIA HIDROGRÁFICA 9
DIVISORES DE DRENAGEM 10
CURVAS DE NÍVEL 10
UNIDADE II CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 12
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 13
COMPARTIMENTAÇÃO DA BACIA DO RIO MACAÉ 16
REDE HIDROGRÁFICA DA BACIA DO RIO MACAÉ 21
DIVISÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA 28
UNIDADE III CARACTERÍSTICAS GEOBIOFÍSICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 30
RELEVO 31
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA 34
CLIMA 38
SOLOS 42
COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA 44
UNIDADE IV CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 52
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 53
ATIVIDADES ECONÔMICAS 55
INFRAESTRUTURA 58
DEMOGRAFIA 62
ABASTECIMENTO DE ÁGUA 64
ESGOTAMENTO SANITÁRIO 66
COLETA DE LIXO 68
UNIDADE V GESTÃO AMBIENTAL NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ 70
CBH MACAÉ OSTRAS 74
UNIDADE VI CIDADE DE MACAÉ 76
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO 77
POPULAÇÃO 78
EVOLUÇÃO URBANA PORÇÃO CENTRAL – 1956 A 2013 82
ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 88
ESGOTAMENTO SANITÁRIO NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 89
COLETA DE LIXO NA PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ 90
GLOSSÁRIO 91
ATIVIDADES PROPOSTAS 92
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 96
O
Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé foi ela-
borado como uma das principais ações do Projeto Macaé Rio
Sustentável, realizado pelo Instituto de Planejamento Urbano
e Gestão Ambiental (IPGA) e patrocinado pela Petrobras.
A construção desse atlas contou com a parceria da Agenda 21 e da
Prefeitura Municipal de Macaé, através das Secretarias Municipais de
Educação e de Ambiente.
5
INTRODUÇÃO
Quando tentamos compreender os elementos que compõem o espaço à nos- A resposta para essa pergunta será trabalhada juntamente com diversas outras questões ao longo do
sa volta, é preciso ter em mente que muitas coisas não podem ser explicadas Atlas, mas a simples observação da figura abaixo permite notar que a área da bacia hidrográfica do rio
só pelos fatores locais. Às vezes, os problemas da nossa cidade são resultados Macaé é muito maior do que as áreas do município e do centro urbano de Macaé. Este centro urbano,
de situações que têm origem em outros lugares. A água dos rios é um bom comumente chamado de cidade de Macaé, está no “final do caminho” do rio. Antes de aqui chegar, ele
exemplo disso, pois leva para lugares distantes aquilo que chegou a esse rio passa por outros municípios e núcleos urbanos e suas águas são usadas por outras pessoas.
em algum local por onde o mesmo passou anteriormente, como a poluição.
Sendo assim, percebe-se que os segredos que queremos desvendar sobre a qualidade e a quan-
Na vida da cidade, muitas vezes não nos damos conta disso e quase não tidade da água utilizada por quem mora na cidade, depende do que está acontecendo em regiões
refletimos sobre alguns elementos da natureza que são fundamentais para distantes. Podemos pensar, então, que as águas que chegam na cidade de Macaé já são “cheias de
a manutenção do nosso modo de vida. Neste sentido, destaca-se a seguinte histórias para contar”. Essas “histórias” vão poder nos ajudar a entender melhor as características
questão: de onde vem a água doce e limpa para o consumo humano? desse espaço urbano.
O RIO MACAÉ
O rio Macaé desempenha, atualmente, um papel
de grande importância para o desenvolvimento
socioeconômico do Brasil. Suas águas abaste-
cem mais de 200 mil habitantes do município
de Macaé e grande parte das atividades rela-
cionadas à extração de petróleo no país. Possui
ainda papel histórico. Em sua foz, teve início a
ocupação da região de Macaé, a partir de uma
comunidade de pescadores.
7
UNIDADE I
CONCEITOS BÁSICOS
9
DIVISORES DE DRENAGEM
Quando a chuva atinge a superfície da terra, que caminho ela faz? Para qual bacia de drena- Olhando a figura da página anterior, observa-se que as linhas pontilha-
gem ela irá? Para responder essa pergunta, é importante conhecer o conceito de divisores das (que são linhas imaginárias) marcam divisores de água. As águas
de água ou divisores de drenagem. São eles que delimitam as bacias hidrográficas. Esses que caírem no interior da linha amarela seguirão para o rio X, enquanto
divisores são definidos por uma linha que separa as águas das chuvas que caem sobre uma as águas que precipitarem fora desta linha seguirão para outros rios
ou outra bacia. São eles que definem o caminho da água na superfície. Portanto, os diviso- não demarcados na figura. Já as águas que caírem dentro da linha la-
res de águas seguem uma linha imaginária que se estende ao longo dos pontos mais altos ranja seguirão para o rio Y, enquanto àquelas que caírem fora seguirão
do relevo, condicionando todo o escoamento das águas pluviais e direcionando-as para as para outros rios, dentro ou fora da bacia do rio X, dependendo de onde
diferentes bacias hidrográficas. ocorrer a chuva.
CURVAS DE NÍVEL
Curvas de nível são linhas imaginárias ex-
pressas em mapas que unem os pontos de
mesma altitude. Assim, diferentes curvas
de nível mostram as distintas altitudes
existentes na realidade e nos ajudam a
entender as formas do relevo nos mapas
topográficos. Elas também auxiliam a ver a
declividade do terreno. Na representação
das áreas íngremes, as curvas de nível
aparecem bem próximas umas das outras.
Os terrenos com declividade mais suave
ou plana são representados por curvas de
nível mais espaçadas. Por meio delas, é
possível entender as variações do relevo,
possibilitando que se conheça a declivida-
de do terreno, mesmo sem imagens em
três dimensões.
11
UNIDADE II
CARACTERÍSTICAS GERAIS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
Toda a água da chuva e dos rios que estão dentro dos seus limites convergem para a
foz desse rio, localizada no litoral da cidade de Macaé. As águas da chuva que caem
fora deste limite convergem para outras bacias hidrográficas, a não ser que ocorra a
transposição das águas de outra bacia para ela (ver box da página 26).
13
Mapas de Localização da Bacia do Rio Macaé no Estado do Rio de Janeiro
15
COMPARTIMENTAÇÃO DA
BACIA DO RIO MACAÉ
Quando observamos toda a área da bacia do rio
Macaé, podemos perceber que ela é formada por
diferentes situações de relevo. Por isso, é possível
dividi-la em três partes. Cada uma delas representa
o que podemos chamar de compartimentos básicos
da bacia. São elas: porção superior, porção média
e porção inferior. Essas áreas são cruzadas pelo
alto curso, médio curso e baixo curso do rio Macaé,
respectivamente.
17
PORÇÃO SUPERIOR DO RIO MACAÉ, PRÓXIMO À NASCENTE.
Isto nos ajuda a pensar que, para melhorar a gestão do município de Macaé, é impor-
tante estabelecer relações mais próximas com as cidades que estão na parte alta da
bacia (nas suas porções superior e média), pois, devido à dinâmica hidrográfica, muitas
vezes elas têm influência mais decisiva para Macaé do que os seus vizinhos mais próxi-
mos, como Rio das Ostras.
RIO MACAÉ, NO TRECHO ONDE FOI RETIFICADO, FOZ DO RIO MACAÉ, JUNTO AO OCEANO AFLUENTE DO RIO MACAÉ, NA PORÇÃO INFERIOR CURVA DO RIO MACAÉ EM SUA PARTE INFERIOR,
NA PORÇÃO INFERIOR DE SUA BACIA. ATLÂNTICO. DE SUA BACIA. ANTES DA RETIFICAÇÃO.
19
Retificação do rio Macaé e a degradação de sua bacia hidrográfica
A parte montanhosa da bacia hidrográfica do rio Macaé apresenta boas condições am- Áreas de retenção das águas foram reduzidas e brejos e lagoas drenados, o que permi-
bientais. Suas encostas são dominadas por ecossistemas conservados e os rios possuem tiu a ocupação e a utilização de áreas anteriormente sujeitas à inundações, valorizando
água de boa qualidade. Há problemas, como desmatamento, lançamento de esgoto sem terras para a produção agropecuária. As águas dos rios ganharam maior velocidade,
tratamento nos corpos hídricos, queima de lixo, turismo predatório, entre outros. Porém, transportando mais rapidamente os sedimentos em direção à foz do rio Macaé, resultan-
são pouco representativos no contexto da bacia hidrográfica. do em maior erosão das margens. Como consequência, ocorreu o assoreamento deste
rio na sua porção final, onde está o núcleo urbano de Macaé.
Já na parte mais baixa, a situação é diferente. O rio Macaé cruza uma extensa planície flú-
vio-marinha (formada por sedimentos provenientes dos rios e do mar), que sofreu diversas A diminuição da profundidade do rio aumentou a frequência e intensidade das enchentes
intervenções humanas ao longo da história, como desmatamento sistemático e formação na parte final da bacia do rio Macaé, gerando grandes transtornos para a cidade, incluin-
de pastagens, aterro e drenagem de brejos e lagoas e poluição dos corpos hídricos. do prejuízos materiais e, às vezes, perda de vidas humanas.
Um impacto de grandes proporções foi a “retificação” de rios que cruzam a planície, Outra importante consequência da retificação dos rios situados na planície foi a elimi-
incluindo o Macaé e seu principal afluente da porção inferior, o rio São Pedro. Esses nação de ecossistemas, como florestas e manguezais situados nas margens, brejos e
rios, que eram sinuosos, foram retificados e canais retilíneos foram rasgados por obras alagados localizados na planície e remansos e reentrânicias existentes dentro do rio, que
realizadas pelo extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) e que garantiam a conservação de diferentes espécies aquáticas. Este conjunto de ações redu-
tiveram início na década de 1940. Este processo alterou profundamente o comportamen- ziu fortemente a biodiversidade da planície cortada pelo rio Macaé, eliminando muitas
to hidrológico dos rios. espécies vegetais e animais.
É importante observar que na porção inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé, assim
como na porção média, também existem montanhas. É o caso das localidades do Sana,
Frade ou Glicério, muito apreciadas pela beleza de suas montanhas, picos e cachoeiras.
Essas montanhas fazem parte da serra do Mar e abrigam as nascentes de rios e córregos
afluentes do rio Macaé, como os rios Sana e São Pedro. Porém, esses afluentes desem-
bocam no Macaé quando o mesmo está descendo a serra do Mar (caso do rio Sana) ou
quando o Macaé já está cruzando a planície que marca a parte inferior de sua bacia (rio
São Pedro). Portanto, essas montanhas são consideradas como partes integrantes da
porção média e inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé porque os rios que nascem
nessas montanhas desembocam no médio ou no baixo cursos do rio Macaé.
21
Rede hidrográfica da porção superior da bacia do rio Macaé
Olhando com mais detalhes para a porção superior da bacia, percebemos que afluentes de porte significativo con- Esses rios têm um papel muito importante na qualidade das águas
tribuem para o rio Macaé. Destacam-se os rios Bonito, Boa Esperança e das Flores e os córregos do Macuco e San- do rio Macaé, pois eles nascem e drenam áreas onde a vegetação
tiago. Todos esses afluentes lançam suas águas diretamente no rio Macaé, ainda no município de Nova Friburgo. é bastante preservada e, por isso, são rios muito limpos. Reparem
como poucas dessas sub-bacias atravessam áreas urbanizadas.
Bacias hidrográficas
vizinhas à bacia do rio Macaé
Para compreendermos como a bacia do rio Macaé se
situa em um contexto mais geral, é interessante conhe-
cer a sua relação com as bacias hidrográficas vizinhas.
A bacia hidrográfica do rio Macaé faz divisa, ao sul, com
a bacia do rio São João e ao norte com bacias hidro-
gráficas dos rios Grande, Macabu e Imbé. Sua porção
superior, a oeste, faz divisa com a bacia do rio Macacu,
cujas águas desembocam na Baía de Guanabara. A
porção inferior é delimitada pelo oceano ou por bacias
de menor porte, que drenam diretamente para o mar.
23
Mapa de sub-bacias do baixo curso da bacia hidrográfica do rio Macaé
Rede hidrográfica
da porção inferior da
bacia do rio Macaé
Já na área de baixada, diversos rios e
seus tributários desembocam no rio
Macaé, como o canal das Pedrinhas.
Nessa parte da bacia, o maior afluen-
te é o rio São Pedro, que nasce nas
proximidades do pico do Frade. Há
diversos tributários do São Pedro que
são importantes por serem rios de porte
grande ou por passarem dentro de
áreas urbanas. Entre estes, os principais
são os rios da Peroba, Grumari, Trapiche
e do Ouro, além do córrego das Aduelas.
Após o encontro com o São Pedro, o rio
Macaé ainda recebe as águas de peque-
nos afluentes, já nas proximidades da
foz, e água de canais artificiais, como o
Macaé – Campos e o Virgem Santa (ver
box da página 25)
Pretendia-se que esse canal fizesse a ligação fluvial das áreas de produção agrícola situadas em
Campos, especialmente de lavouras de cana-de-açúcar, com o rio Macaé, de onde poderiam ser
exportadas através do porto local.
Porém, este canal exerceu esse papel por pouco tempo, pois no mesmo ano do término de sua
construção, foi inaugurada uma estrada de ferro, por onde o açúcar passou a ser escoado para
Macaé (Penha, 2012).
A partir da década de 30 do século passado, quando o governo Federal passou a investir de forma
LINHA DO CANAL
mais estruturada na retificação dos rios e construção de canais artificiais nas planícies fluminen- CAMPOS - MACAÉ
ses, surgiram os demais canais artificiais que desembocam no rio Macaé. E INDICAÇÃO
DE ALGUMAS
LOCALIDADES DO
Entre 1935 e 1975, o Departamento Nacional de Obras e Saneamento (DNOS) construiu extensa
SEU TRAJETO (VER
rede de canais na planície do Norte Fluminense, conectando-a ao canal Campos - Macaé. É desse TABELA DA PÁGINA
período a retificação dos rios Macaé e São Pedro, além da construção dos canais que drenam as 26).
FONTE: APERJ -
terras situadas na margem direita do rio Macaé, como os canais Virgem Santa, do Capote, Macaé,
PRESIDÊNCIA DE
Três Poderes, do Morro e Jurumirim (ver figura na página 27). PROVÍNCIA. PLAN-
TA DA DIREÇÃO DO
Este canal, assim como o Campos – Macaé, cruza áreas de ocupação densa e urbanização CANAL DE CAMPOS
A MACAÉ...OP. CIT. )
precária, onde reside população de baixa renda. A falta de saneamento básico nessas áreas (REPRODUZIDO NA
acarreta no lançamento de esgoto não tratado diretamente nesses canais. Esse esgoto chega ÍNTEGRA A PARTIR
ao rio Macaé, aumentando a poluição das águas desse rio junto à cidade de Macaé. DE PENHA, 2012)
25
Identificação de corpos d’água/
localidades encontrados no
trajeto da linha do canal
1 Vila de S. João da Barra
2 Cidade de Campos
3 L. do Osório
4 L. do Coelho
5 L. do Aranha
6 L. da Piabanha
7 L. do Ururahy
8 L. de Jesus
9 Rio Macabú
10 L. do Paulo
11 L. do Morcego
12 L. Capivara 13 L. do Anil
14 L. do Carmo
15 L. da Mandiquera
16 L. do Engenho Velho
17 Rio Carrapato e L. dos Paulistas
18 L. de Carapebus
19 L. de Jeribatiba
20 Rio Macahé e Vila do mesmo nome
36 L. de Cima
60 L. Feia
62 Capivari
63 Quissamã
64 Fazenda do Mello
65 Machadinha
66 Fazenda do Guriri IMAGEM DO GOOGLE EARTH MOSTRANDO A FOZ DO RIO MACAÉ E SEUS PRINCIPAIS AFLUENTES. NOTA-SE A GRANDE QUANTIDADE
DE CANAIS ARTIFICIAIS RETIFICADOS EXISTENTES EM LOCAL ONDE ANTES HAVIA LAGOAS E ALAGADOS.
Transposição
Como vimos, os divisores de água são os limites naturais entre as bacias hidro-
gráficas que definem o caminho que a água faz na superfície da Terra. Mas esses
caminhos podem ser alterados pelo homem, por meio da construção de desvios
artificiais que modificam o curso da água.
Quando isso acontece, os rios que formam outras bacias hidrográficas são conec-
tados a um rio de uma bacia vizinha, por meio de canais artificiais. A esse processo,
dá-se o nome de transposição. A bacia do rio Macaé abriga mais de um canal de
transposição, de modo que, diferentemente da maioria das bacias hidrográficas, o
rio Macaé recebe águas de áreas que não fazem parte de sua bacia.
A principal transposição é a das águas do rio Macabu, que, por meio de uma aduto-
ra, são lançadas no rio São Pedro, um dos principais afluentes do rio Macaé. Isto é
feito com o objetivo de auxiliar no abastecimento da cidade de Macaé. Além disso,
a queda da água entre os rios Macabu e São Pedro é utilizada para a produção de
TRANSPOSIÇÃO DO RIO MACABU PARA O RIO SÃO PEDRO, AFLUENTE DO RIO MACAÉ. ALÉM DE AUMENTAR A energia elétrica, conforme mostrado na figura acima, na qual o rio A seria o Macabu
OFERTA DE ÁGUA PARA O ABASTECIMENTO DA CIDADE DE MACAÉ, A TRANSPOSIÇÃO AINDA POSSIBILITA A GERA- e o rio B o São Pedro.
ÇÃO DE ENERGIA ELÉTRICA A PARTIR DA QUEDA DA ÁGUA QUE DESCE EM DIREÇÃO AO RIO SÃO PEDRO.
27
DIVISÃO POLÍTICO ADMINISTRATIVA
Quem toma as decisões políticas sobre a área da bacia hidrográfica do rio Ma-
caé? Para responder essa pergunta, é importante considerar que essa bacia é
composta por partes de seis diferentes municípios: Macaé - 1.448Km2 (82% do
total da área da bacia hidrográfica), Nova Friburgo - 142 km2 (8% da área da ba-
cia), Casimiro de Abreu - 83 km2 (4,7%), Conceição de Macabu - 70 km2 (4%),
Rio das Ostras - 11 km2 (0,65%) e Carapebus - 11 km2 (0,65%). Portanto, há seis
prefeituras que atuam em toda a área da bacia. Além do Governo do Estado do
Rio de Janeiro e do Governo Federal, afinal essa bacia está inteiramente situada LOCALIDADE DE SÃO PEDRO DA SERRA EM NOVA FRIBUR- GRANDE PARTE DA BACIA DO RIO MACAÉ POSSUI
nesse estado e também no Brasil. GO – SITUADA NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ. CARACTERÍSTICAS RURAIS.
É claro que nem todos os municípios têm a mesma influência. Embora todos te-
nham áreas que levam água para o leito principal, o rio Macaé mesmo não passa
por todos esses municípios. Na realidade, ele passa apenas pelos municípios de
Nova Friburgo, onde estão suas nascentes, Casimiro de Abreu e Macaé, onde se
encontra a foz desse rio. Porém, afluentes do rio Macaé cruzam todos os seis
municípios e levam as águas ao canal principal.
Como podemos perceber, a qualidade das águas que chegam à cidade de Macaé
não depende somente do que acontece dentro dos limites do município de Macaé.
As políticas ambientais da bacia dependem de uma cooperação intermunicipal
para obterem sucesso. Além de uma interação com os governos estadual e federal.
A partir da necessidade de se criar um espaço onde as decisões dos diferentes
municípios, do Estado e de representantes do Governo Federal sejam tomadas em
conjunto, foi criado o Comitê das Bacias Hidrográficas dos Rios Macaé, Ostras,
Imboassica e da Lagoa de Imboassica (ver página 74).
CIDADE DE MACAÉ. MAIOR PARTE DO CENTRO DESTE MUNICÍPIO ESTÁ NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ.
29
UNIDADE III
CARACTERÍSTICAS GEOBIOFÍSICAS DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
HÁ MONTANHAS E ENCOSTAS ÍNGREMES TAMBÉM NAS SERRAS ONDE NASCEM OS RIOS TRIBUTÁRIOS AO RIO MACAÉ. NA FOTO DA ESQUERDA SE VÊ BAIXADA LITORÂNEA DE MACAÉ EM PRIMEIRO PLANO E, AO FUNDO, A RE-
O PICO PEITO DO POMBO, JUNTO ÀS NASCENTES DO RIO SANA, E NA FOTO DA DIREITA O PICO DO FRADE, ONDE ESTÃO AS NASCENTES DO RIO FRADE, GIÃO SERRANA DE MACAÉ, QUE É PARTE DA SERRA DO MAR. A VARIAÇÃO
CUJAS ÁGUAS CORREM PARA O RIO SÃO PEDRO, QUE DESEMBOCA NO RIO MACAÉ. DO RELEVO É SIGNIFICATIVA.
31
Mapa de Relevo da Bacia do Rio Macaé
33
GEOLOGIA E GEOMORFOLOGIA
Por que existem diferentes formas do relevo? Por que há áreas monta-
nhosas e planas? Como essas diferentes formas surgem? Essas per-
guntas podem ser respondidas quando compreendemos os processos
geológicos e geomorfológicos.
35
Mapa Geomorfológico da Bacia do Rio Macaé
37
CLIMA
O clima na bacia do rio Macaé é classificado como tropical úmido. Predominam altas temperaturas e chove bastan- Nas porções média e inferior, a pluviosidade anual fica entre 1.000 e
te. Mas essa condição varia em função da altitude, da disposição do relevo em relação às massas de ar e da proximi- 1.500 mm, sendo 1.250mm na transição de planícies e maciços cos-
dade com o oceano. Por isso, há condições diferentes em cada parte da bacia. Enquanto o alto curso apresenta um teiros (Barbiere e Coe Neto, 1999). Já no alto curso, segundo Pereira
clima mais frio e úmido, o baixo curso se destaca pela menor pluviosidade e maior temperatura média. (2008), a precipitação média anual é de 2.119mm. Os maiores índi-
39
Durante o ano, há períodos em que chove mais e outros em que chove menos. Na região média mensal fica abaixo de 60mm. A temperatura média de toda a bacia fica em torno de
de Macaé, o verão é mais chuvoso e o inverno é mais seco, assim como em todo o sudeste 22º, com variação de 25ºC no verão, a 19ºC no inverno, com médias máximas ocorrendo
do Brasil. Mesmo na porção superior, que é a mais chuvosa, nos meses do meio do ano a nas planícies e mínimas nas escarpas serranas.
41
SOLOS
Chuvas orográficas
Os diferentes tipos de solo se relacionam com as variadas e, por isso, de forma geral, seus solos são mais rasos e pobres em nutrien-
Toda chuva acontece em decorrência condições da encosta e das rochas. De forma geral, a de- tes. As porções baixas possuem solos mais profundos, pois recebem os
da condensação da água, isto é, a clividade da encosta vai influenciar nos processos erosivos sedimentos que foram e são trazidos das partes mais altas.
transformação do vapor em água no e o tipo de rocha na qualidade do material que vai compor
estado líquido. As nuvens nada mais os solos. Por isso, é possível observar no mapa que as ca- Os cientistas que estudam os solos utilizam diferentes nomes para
são do que inúmeras dessas gotículas racterísticas dos solos na bacia hidrográfica do rio Macaé caracterizar diversas combinações das condições de encosta, rochas e
que se formam na condensação. Os estão muito ligadas ao padrão geomorfológico, ou seja, se tamanho dos grãos que formam os solos. Veja os tipos de solo que são
processos que causam essa trans- diferenciam entre as partes mais altas e baixas da bacia. encontrados na bacia do rio Macaé e observe as diferentes condições
formação podem ser bem diferentes. As encostas das partes mais altas têm maior declividade em que são formados.
As chuvas de relevo (ou orográficas),
ocorrem quando o ar quente e úmido
encontra a barreira do relevo, sendo
empurrado para as áreas mais altas.
* Os Latossolos, que são solos profundos, antigos e pobres em nutrientes (pois já são lavados pela
Nas camadas mais elevadas, ele
perde temperatura (esfria), fazendo
água há muito tempo) são observados nas montanhas, geralmente em encostas de declividade
com que o vapor se transforme em intermediária.
nuvens que provocam chuvas mais
frequentes. Por isso, nas partes altas * Os Neossolos Câmbicos e Litólicos, que são solos jovens e rasos, também são encontrados nas
da bacia hidrográfica do rio Macaé, montanhas, mas geralmente nas encostas de maior declividade, onde o acúmulo é restrito em fun-
acontecem chuvas com mais volume
ção do intenso processo erosivo.
e frequência.
* Os Argissolos, que são típicos de áreas de menor declividade, ocorrem na região das superfícies
aplainadas, que correspondem aos domínios de relevo colinoso e suave colinoso.
* Os Neossolos Quartzarênicos ocorrem na faixa costeira, relacionados aos cordões arenosos forma-
dos pelo mar, em associação aos Espodossolos.
São observados, geralmente, sob a vegetação de restinga de porte arbóreo-arbustivo (Luz, 2003).
* Os Organossolos e os Gleissolos estão associados aos fundos de vale dos rios de maior porte,
especialmente à porção inferior do rio Macaé e à foz do rio São Pedro. Se formam em locais onde
há acúmulo de matéria orgânica e, frequentemente, ocorrem inundações.
43
COBERTURA VEGETAL E USO DA TERRA
Ao longo de muitos anos, a vegetação original existente na bacia hidrográfica do rio Ocorriam florestas ombrófilas, sinônimo de pluviais ou tropicais úmidas, nas
Macaé foi sendo retirada e alterada pelo homem. Hoje, sabemos que o que resta montanhas e colinas e nas áreas de baixada que não alagavam; e florestas
deve ser rigorosamente preservado para garantirmos uma boa condição ambiental paludosas, típicas de áreas alagadas, nas porções das planícies sujeitas às
nesta bacia. Mas vamos, agora, conhecer um pouco sobre como era a cobertura inundações durante os períodos chuvosos. Havia, ainda, campo nas porções
vegetal antes dos intensos processos de alteração pelo homem. das planícies que ficavam mais tempo alagadas e brejos onde o alagamento
era constante. Nas áreas litorâneas, eram observadas restingas, onde o solo
Originalmente, a bacia hidrográfica do rio Macaé caracterizava-se pelo predomínio de era arenoso, e mangues, onde era formado por argila.
formações florestais tropicais cujas características eram determinadas, basicamente,
pela variação de altitude e drenagem das áreas.
45
Os mangues ocorrem em ambientes de águas calmas e salobras. O subs-
trato é lodoso (lamacento), formado por sedimentos finos trazidos pelos
rios e pelo mar. Justamente por serem calmas, as águas permitem
que os sedimentos finos e de pouco peso se depositem (isto é,
vão para o fundo).
Florestas
As florestas ombrófilas se caracterizam por uma elevada Nas encostas abaixo dos 600 metros também ocorrem Destacam-se as samambaias, as espécies do gênero
biodiversidade vegetal e animal.
FIGURA As formações
ILUSTRATIVA situadas
DE UM MANGUE. formações florestais exuberantes, mas, via de regra, de Tibouchina (quaresmeiras), orquídeas, aráceas e
entre 600 e 1500 metros de altitude na bacia hidrográfica porte menor do que as formações existentes acima. Geral- bromélias, entre outras.
do rio Macaé possuem uma estrutura bastante desenvolvi- mente, as árvores maiores não ultrapassam os 25 metros
da, com a altura da copa das árvores acima dos 25 metros. e o dossel superior encontra-se a cerca de 20 metros do Nas maiores altitudes são muito comuns os aflora-
Algumas espécies, como o jequitibá-rosa (Cariniana estrel- solo. Também são florestas com menor estratificação mentos rochosos, que caracterizam a paisagem re-
lensis) podem chegar a cerca de quarenta metros de altura. vegetal e menor quantidade de espécies epífitas. gional e apresentam condições ambientais peculiares.
Diretamente sobre eles, são vistas bromélias, sendo
A floresta é formada por vários estratos ou “camadas”, pois Acima dos 1500 metros de altitude, a floresta tem, nor- que nos solos mais úmidos elas formam grandes colô-
há árvores de diferentes tamanhos. São comuns espécies malmente, um aspecto diferente. As copas das árvores nias, além de algumas pequenas ervas, entre as quais
que vivem no tronco de outras, como as bromélias e orquí- têm cerca de 10 metros de altura e há árvores com tron- são comuns as da família das gramíneas e algumas
deas (espécies epífitas). cos tortuosos e cobertos por musgos (limo) e epífitas. pteridófitas (samambaias).
47
Atualmente, a distribuição de ecossistemas na bacia hidrográfica do rio Macaé está
condicionada por fatores históricos, definindo níveis de preservação e degradação que as
formações vegetais originais sofreram ao longo do tempo.
Os brejos foram, em sua maior parte, drenados ou aterrados, tendo sobrado poucas
áreas alagadas. Os ecossistemas que cresciam sobre cordões arenosos que formavam a
restinga que se estende desde a praia da Barra até o Espírito Santo foram ocupados nas
proximidades da foz do rio Macaé, em função da expansão urbana da cidade de Macaé.
Os mangues, que dominavam vastas áreas no interior do rio Macaé, estão degradados e
restritos à foz desse rio.
49
Se pensarmos na bacia como um sistema integrado, é interessante observar que a pre-
servação florestal das áreas mais altas da bacia contribui para a manutenção da oferta de
água para as regiões mais baixas. Afinal, a floresta tem um importante papel na garantia de
infiltração da água no solo e manutenção dos lençóis freáticos, que equilibram o balanço hí-
drico da bacia. Isto reforça a importância da concentração das unidades de conservação na
região mais elevada da bacia hidrográfica do rio Macaé, ajudando a conservar as florestas
dessa região e a garantir a qualidade e a quantidade de água para as áreas mais baixas.
GRÁFICO COM A ÁREA DE CADA TIPO DE COBERTURA VEGETAÇÃO E USO DO SOLO NA BACIA HIDROGRÁFICA
DO RIO MACAÉ, EM HECTARES.
ESTAS IMAGENS MOSTRAM A VARIAÇÃO NA COBERTURA VEGETAL EM UMA REGIÃO NA PARTE ALTA E OUTRA
NA PARTE MÉDIA DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ. OBSERVAM-SE FLORESTAS EM ESTÁGIO MÉDIO E
AVANÇADO DE SUCESSÃO VEGETAL E AFLORAMENTOS DE ROCHA NA PARTE MAIS ELEVADA, FLORESTAS EM
ESTÁGIO INICIAL DE SUCESSÃO VEGETAL NA PARTE MAIS BAIXA E GRAMÍNEAS (CAPIM) EM ALGUMAS ENCOS-
TAS E FUNDOS DE VALE.
51
UNIDADE IV
CARACTERÍSTICAS SOCIOECONÔMICAS
DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
HISTÓRICO DE OCUPAÇÃO DA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
As características socioeconômicas de um determinado local refletem as condições históricas que
marcaram seu desenvolvimento. Assim, para que possamos entender a socioeconomia na bacia
hidrográfica do rio Macaé é fundamental conhecer um pouco sobre a sua História.
Início da colonização da
Por ter dimensões relativamente grandes e abrigar áreas montanhosas e litorâneas, a bacia do rio
Macaé possui uma história de ocupação diversificada. parte alta da bacia do rio Macaé
A região serrana foi colonizada nos séculos XIX e XX por imigrantes europeus organizados em Como um compromisso assumido com a Inglaterra pela abolição do
pequenas e médias propriedades agrícolas. Essas terras experimentaram uma ocupação agrária no tráfico de escravos africanos, é assinado por D. Pedro II um tratado co-
início da década de 1820, quando colonos alemães chegam à Serra de Macaé em busca de melho- mercial para patrocinar a imigração de colonos pobres do cantão suíço
res lugares para cultivar (ver box ao lado). de Friboug e de algumas partes da Suíça alemã. Cerca de 20% dos imi-
grantes morrem na travessia do Atlântico. Após o desembarque, uma
Nesse contexto, o café se tornou uma cultura importante. Mas o escoamento para venda apresen- situação administrativa crítica se instaura. Além das famílias que sobre-
tava sérios problemas até o final da década de 1950, quando ocorreu a abertura da estrada de terra viveram superarem o número de residências oferecidas pela colônia em
ligando Lumiar a Nova Friburgo. Nesse processo, os sitiantes, que produziam para o seu sustento e contrato, as terras oferecidas pela coroa eram de péssima qualidade e
só comercializavam o excedente, tornam-se dependentes das relações de produção do mercado, mal localizadas. Os colonos suíço-alemães, em busca de melhores luga-
pois passaram a vender parte importante de sua produção (Ide, 2009). res para cultivar, caminharam em direção à Macaé, encontrando o rio e
seus afluentes. Nesse caminho, se confrontam com negros quilombolas
A partir da década de 1970, ocorreu uma valorização das características ambientais dessa região, que já ocupavam a região. Os colonos alemães, vencedores, se estabe-
favorecendo o aumento do turismo e tornando esta atividade, junto com a agricultura familiar, im- lecem nas terras mais altas do rio Macaé com uma produção basica-
portante para comunidades de Nova Friburgo, como Lumiar e São Pedro da Serra (Souza-Pereira et mente familiar de subsistência. Nesse processo, absorvem a cultura da
al., 2008). Com a chegada de turistas e veranistas, a região passou por transformações importan- mandioca. Nas terras mais baixas estabeleciam-se cafezais, cujo cultivo
tes. Atualmente, muitos dos agricultores sobrevivem da venda de suas terras e de outras atividades era baseado no trabalho escravo (Araújo & Mayer, 2003).
não agrícolas, o que favorece a recuperação da mata em várias áreas, já que a floresta é um atrativo
importante para o turismo.
53
Na região litorânea, o processo foi distinto. Antes da ocupação pelos indígenas, a região onde hoje está o
município de Macaé e entorno havia sido ocupada por povos nômades que se apropriaram, principalmente,
dos recursos naturais dos mangues e das restingas da região.
Esses povos foram substituídos por grupos indígenas Goytacazes e Tupinambás por volta de 1600 anos
atrás, que dominaram a região até a chegada dos portugueses. A CANOAGEM E RAFTING
NAS CORREDEIRAS É
UMA ATIVIDADE TURÍS-
A colonização oficial teve início com a chegada dos jesuítas no final da década de 1630. Ao longo do século TICA IMPORTANTE NOS
XVIII, a região assumiu um papel de provedora de produtos agropecuários para a cidade do Rio de Janeiro. TRECHOS SUPERIOR E
MÉDIO DO RIO MACAÉ
Destaque para a pecuária e, principalmente, a atividade canavieira. A expansão da cana de açúcar, com base
na mão de obra escrava, estabeleceu na região um novo ciclo de povoamento na planície, com a implanta-
ção de diversos engenhos, que avançaram para o interior dos vales dos rios Macabu, São João e Macaé.
Até 1769 não havia em Campos mais de 56 usinas de açúcar; em 1778 esse número subiu
a 168; de 1779 a 1801 aumentou para 200; 15 anos mais tarde ele cresceu para 360 e en-
POUSADAS, BARES E RESTAURANTES INDICAM A IMPORTÂNCIA DO TURISMO PARA AS
fim em 1820 havia no distrito 400 engenhos e cerca de 12 destilarias. (Saint-Hilaire, 1941). LOCALIDADES DA PARTE SUPERIOR DA BACIA HIDROGHRÁFICA DO RIO MACAÉ, COMO
LUMIAR E SÃO PEDRO DA SERRA.
ATIVIDADES ECONÔMICAS
Depois de conhecer o passado histórico, podemos compreender melhor
de que maneira o espaço da bacia do rio Macaé vem sendo utilizado
pelas atividades humanas atualmente. O mapa de atividades econô-
micas nos permite reconhecer as diferentes atividades desenvolvidas
no interior da bacia, e assim perceber como o uso é diverso nas suas
diferentes porções.
No alto e médio curso do rio Macaé e no alto curso do rio São Pedro,
onde a vegetação é mais preservada, os usos principais são o turismo
O PLANTIO DE BANANA
e a agricultura familiar. Essas são áreas cujos principais atrativos são É OBSERVADO NA PARTE
as cachoeiras e a mata. A agricultura familiar é praticada em pequenas SUPERIOR DA BACIA DO
propriedades nas áreas montanhosas da bacia. RIO MACAÉ
55
USO INDUSTRIAL NA BACIA DO RIO MACAÉ ESTÁ ASSOCIADO, EM LARGA MEDIDA, À INDÚSTRIA DO
PETRÓLEO, QUE POSSUI GRANDE PARTE DE SUAS ATIVIDADES NO MAR (OFFSHORE). ESSA FOTO MOS-
TRA GRANDE QUANTIDADE DE BARCOS REBOCADORES QUE ATUAM NESSA ATIVIDADE ECONÔMICA.
A PRODUÇÃO DE GADO É COMUM NAS GRANDES PROPRIEDADES DA PARTE BAIXA DA BACIA DO RIO MACAÉ.
A pecuária, especialmente a criação de bovinos, é uma prática comum em quase toda a bacia. Na parte bai-
xa, ela é associada à prática agrícola de diversas culturas temporárias. A mineração também está presente,
com a extração de areia e granito, muito utilizados na construção civil. A água mineral é mais um recurso
explorado na bacia do rio Macaé.
57
INFRAESTRUTURA
O desenvolvimento de todas essas atividades econômicas neces-
sita de sistemas e equipamentos de infraestrutura. As estradas,
os dutos que levam gás (gasodutos), as linhas de transmissão
de energia elétrica são exemplos desses sistemas que tornam
possível a circulação de pessoas e mercadorias. Essas redes são
também responsáveis pela ligação da bacia com áreas distantes, o
que reforça a sua importância.
OUTRA RODOVIA IMPORTANTE É A RJ-162, QUE INTEGRA A PARTE BAIXA DA BACIA PEQUENAS VIAS SEM CALÇAMENTO E PONTES DE MADEIRA SÃO OBSERVADAS FORA DAS AREAS
À SUA PORÇÃO SUPERIOR, LIGANDO CASIMIRO DE ABREU À NOVA FRIBURGO. URBANAS EM TODA A BACIA
Grande parte da infraestrutura existente na bacia refinaria de Duque de Caxias (REDUC) para serem processados e Com o início da exploração de petróleo na bacia de Campos,
do rio Macaé está vinculada à atividade petrolífera, refinados. Uma destas é a linha de gás natural liquefeito. o porto de Macaé passou a atender quase que exclusivamen-
principalmente na parte baixa da bacia. Devido à im- te à indústria petrolífera. Embarcações de apoio, conheci-
possibilidade de armazenamento em embarcações, Parte do petróleo extraído é igualmente transportado por via ter- das como “supply”, aportam diariamente em Imbetiba e se
o gás extraído na bacia de Campos é direcionado restre em óleodutos até o Terminal de Campos Elíseos, também deslocam para as plataformas, garantindo o suprimento de
à cidade de Macaé através gasodutos e redistribu- no município de Duque de Caxias. Porém, diferente dos gaso- materiais e equipamentos essenciais à extração de petróleo
ído em quatro diferentes linhas de gasoduto, por dutos, que correm mais próximos ao litoral, a linha de óleoduto e gás, como tubos para perfuração, óleo diesel, produtos
onde são transportados, preferencialmente, para a corta boa parte da bacia do rio Macaé. químicos e alimentos para os trabalhadores embarcados.
PORTO DE IMBETIBA, AO
FUNDO, E INFRAESTRU- PISTA DO AEROPORTO DE
TURA RELACIONADA À MACAÉ, EM PRIMEIRO PLANO,
ATIVIDADE PORTUÁRIA, OCUPAÇÃO DO LITORAL E,
EM PRIMEIRO PLANO, AO FUNDO, EMBARCAÇÕES
INCLUINDO HELIPONTO. RELACIONADAS À INDÚSTRIA
(FOTO: SECRETARIA MU- DE PRODUÇÃO DE PETRÓLEO.
NICIPAL DE AMBIENTE DE (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL
MACAÉ, 2006). DE AMBIENTE DE MACAÉ, 2006).
59
Além da infraestrutura associada diretamente à indústria petrolífera, a bacia do rio Macaé
conta com equipamentos essenciais para garantir a qualidade de vida da população. Infra-
estrutura para abastecimento de água, incluindo uma barragem (está situada fora da bacia,
mas abastece áreas no interior da mesma), um canal de transposição de águas entre o rio
Macabu e o rio São Pedro (sobre essa transposição, ver página 27), estruturas para captação
de água e estações de tratamento de água (ETAs). Há também 6 estações de tratamento de
esgoto (ETEs), grande parte recém construída ou em fase de construção.
A parcela da bacia inserida no município de Nova Friburgo conta com quatro estações de
tratamento de água, porém não dispõe de estações de tratamento de esgoto. Já no município
de Macaé, que inclui áreas das porções média e inferior da bacia hidrográfica do rio Macaé,
parcela significativa dos domicílios situados em áreas urbanas é atendida por estações de
tratamento de esgoto e abastecida por águas tratadas provenientes do rio Macaé, seus
afluentes ou de bacias vizinhas.
A bacia do rio Macaé é ainda geradora de energia elétrica por meio da operação da Pequena Cen-
tral Hidrelétrica Macabu, que utiliza como fonte de energia as águas do rio Macabu, transposto
para a bacia do São Pedro, e das Usinas Termelétricas Norte Fluminense e Mário Lago, que utili-
zam preferencialmente como combustível o gás natural produzido na bacia de Campos. A energia
gerada é distribuída ao Sistema Interligado Nacional (SIN) através de linhas de transmissão que
AS ÁGUAS CAPTADAS DO RIO MACAÉ PASSAM POR ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA (ETAS) ANTES DE
SEREM DISTRIBUÍDAS À POPULAÇÃO. cortam a bacia e subestações de energia, que garantem o abastecimento da população residente.
61
DEMOGRAFIA
De todos os municípios que integram esta bacia hidrográfica, o município de Macaé é o que O número de habitantes de um lugar é fortemente influenciado pelo uso do solo. Áreas
apresenta, numericamente, mais moradores. O censo de 2010 identificou 206.728 habitan- onde são desenvolvidas atividades agropecuárias tendem a ter uma menor quantidade
tes neste município, sendo que boa parte reside dentro dos limites da bacia do rio Macaé. de moradores do que áreas urbanas com indústrias e centros comerciais. Por isso, não é
Nova Friburgo, apesar de ter 184.460 habitantes, possuía, neste mesmo ano, apenas 7.056 surpreendente que Conceição de Macabu, com grandes áreas de pastagens e florestas,
pessoas vivendo em terras que integram esta bacia. apresente uma população inferior à de Macaé.
Mapa de Pessoas Residentes na Bacia Hidrográfica do Rio Macaé, por setor censitário
63
Observe nos mapas que a população que habita a bacia do rio Macaé possui quase o dobro da população de das Ostras não habita a porção do município inserida
Macaé não se encontra igualmente distribuída pela área da bacia. Rio das Ostras, porém como possui um território na bacia hidrográfica do rio Macaé, enquanto uma
Há locais, como os bairros Parque Aeroporto, Ajuda e Aroeira, to- significativamente maior, sua densidade demográ- parcela importante da população de Macaé vive em
dos localizados na cidade (distrito sede) de Macaé, que possuem fica é menor, de 169,89 hab/km², enquanto Rio das áreas pertencentes à essa bacia. Já o município de
uma maior concentração de moradores por quilômetro quadrado Ostras possui 461,38 hab/km², apresentando a Carapebus é o que apresenta a menor densidade
do que localidades próximas à Mury e Lumiar, no município de maior densidade demográfica entre os municípios demográfica, além da maior parte de sua população
Nova Friburgo. que compõem a bacia. Porém, a população de Rio não habitar áreas inseridas na bacia do rio Macaé.
Censo Demográfico
O Censo demográfico, também chamado de recenseamento, é uma pesquisa estatística da população de um local e tem como objetivo reunir as mais diversas infor-
mações sobre a população pesquisada e as características de seus domicílios. No Brasil, ele é feito a cada 10 anos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
(IBGE), órgão pertencente ao governo federal. Seus pesquisadores vão de casa em casa e aplicam um questionário para cada família, retratando o perfil da popula-
ção brasileira em um determinado período. O Censo, portanto, nos mostra como somos, onde estamos e como vivemos. Seus resultados são importantes para que a
sociedade tenha acesso a informações atualizadas sobre a população e para que o governo possa planejar suas ações. O recenseamento é feito por setor censitário,
que é a unidade de coleta territorial de um censo no Brasil, formado por área contínua, integralmente contida em área urbana ou rural, respeitando a divisão políti-
co-administrativa. Para o Censo de 2010, foram delimitados 316.574 setores censitários no território nacional, sendo seus limites definidos a partir de critérios como
a quantidade de domicílios e estabelecimentos agropecuários em áreas urbanas ou rurais; o número de habitantes em aldeias indígenas, bases militares, hospitais e
orfanatos, entre outros.
ABASTECIMENTO DE ÁGUA
Vimos que a qualidade da água é influenciada por muitos fatores. Muitas vezes, das casas, prédios, indústrias, etc. Esse é o tipo mais comum de abastecimento na cidade
quando utilizamos a água, não atentamos para a seguinte questão: de que forma de Macaé e nas vilas como Córrego do Ouro, Glicério e São Pedro da Serra.
a água dos rios ou das chuvas chega às nossas casas? Esse processo não se dá da
mesma maneira nas diferentes partes da bacia do rio Macaé. Nas áreas mais preservadas e que apresentam uso rural, a forma mais comum de abaste-
cimento se dá por meio de poços (que usam a água do subsolo) ou pela captação da água
Nas áreas urbanizadas, a maior parte do abastecimento é feito pela rede geral, isto é, em nascentes dentro dos próprios terrenos. É o caso das regiões de Macaé de Cima, Sana e
uma rede de dutos que ficam embaixo das ruas da cidade e que chegam a cada uma Cachoeiros de Macaé.
65
ESGOTAMENTO SANITÁRIO
Para onde vai toda a água e os dejetos domésticos que Para refletirmos sobre a qualidade da água na bacia, é
ela carrega depois que usamos o banheiro ou a pia? importante chamar atenção para a grande quantidade
Para onde vão os dejetos das indústrias? Toda a água de domicílios cujo esgotamento sanitário é praticamente
que usamos retorna para o ambiente. Mas há diferen- inexistente. Isto é, o esgoto é despejado diretamente no
tes formas de se proceder para jogar essa água de ambiente por meio de fossas rudimentares ou valas, com
volta nos rios, mares ou outras porções do ambiente. grande chance de contaminação das águas subterrâneas,
como pode-se observar na parte do município de Con-
Na bacia do rio Macaé, os procedimentos que carac- ceição de Macabu que integra a bacia hidrográfica do rio
terizam a condição de esgotamento sanitário são Macaé. Há, ainda, um número significativo de domicílios
bastante variados. A coleta do esgoto por meio de que despejam o esgoto diretamente na água dos rios ou
rede geral (dutos) ocorre na maioria dos domicílios da do mar, poluindo diretamente as águas da bacia.
cidade de Macaé. Destaca-se, ainda, a fossa séptica
em muitos domicílios das regiões de Macaé de Cima, No final de 2014, foram inauguradas duas Estações de
São Pedro da Serra, Lumiar e Sana. Esses dois tipos Tratamento de Esgoto na bacia hidrográfica do rio Macaé,
de coleta de esgoto são os que garantem qualidade da uma em Glicério e a outra no Sana. Se operadas de forma
água despejada no ambiente. As estações de trata- adequada e acompanhadas da expansão da rede coletora
mento de esgoto e as fossas sépticas são eficientes de esgotos para os domicílios que ainda não são atendi-
quanto à prevenção de doenças e contaminação da dos pela rede, elas podem contribuir para uma melhoria
água e do solo. na qualidade das águas da bacia.
67
COLETA DE LIXO
O lixo, conjunto dos objetos sólidos não aproveitados encarrega de destiná-lo a aterros. Porém, em
das atividades humanas, pode ter vários tipos de algumas localidades da bacia, como Carape-
destinos, pois nem todos os domicílios da bacia do bus, Conceição de Macabu e Cachoeiros de
Macaé são atendidos com um serviço de limpeza que Macaé, há uma parcela considerável do lixo que
possibilite a coleta do lixo periodicamente e o destine é queimada dentro da propriedade de origem.
de forma adequada, preferencialmente até um aterro
sanitário. Quando mal acondicionado, o lixo pode O impacto ambiental da queimada do lixo é um
causar danos à saúde da população e provocar a assunto preocupante, pois as queimadas in-
poluição ambiental. Alguns animais, ao entrarem em terferem na qualidade do ar, produzindo gases
contato com o lixo disposto de forma inadequada, nocivos à saúde humana e diminuindo a visibi-
podem transmitir doenças, como leptospirose, cóle- lidade atmosférica, o que pode gerar aumento
ra, verminoses, etc. de acidentes em estradas. Em áreas rurais,
envolve a fertilidade dos solos e a destruição
Na bacia do rio Macaé, boa parte da população da biodiversidade. Além disso, a queima de lixo
tem seu lixo coletado por serviço de limpeza que o contribui para o lançamento de gases de efeito
recolhe na porta do domicílio ou em caçambas dis- estufa para a atmosfera, impactando sobre a
tribuídas pelas localidades e que, posteriormente, se clima do planeta.
69
UNIDADE V
GESTÃO AMBIENTAL NA
BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO MACAÉ
PLACA INDICANDO A EXISTÊNCIA DE UMA AS UNIDADES DE CONSERVAÇÃO SÃO UTILIZADAS PARA A GES- RESTINGA DO PARQUE NACIONAL DA RESTINGA DE JURUBATIBA (FOTO: SECRETARIA MUNICIPAL DE AMBIENTE
RPPN EM BARRA DO SANA. TÃO AMBIENTAL, INCLUINDO AÇÕES DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL. DE MACAÉ, 2006).
71
O respeito às regras definidas dentro dessas Unidades de Além das UCs já existentes, há projetos que visam ampliar os Por isso, é importante ampliar as áreas destinadas à
Conservação é fundamental para que a qualidade da água limites das mesmas, bem como recuperar ecossistemas dentro conservação também na porção inferior da bacia.
do rio Macaé seja cada vez melhor. Para isso, é necessário delas, para garantir uma melhor condição da vegetação e, conse-
que a fiscalização seja eficiente e que a população seja quentemente, uma melhor qualidade ambiental da bacia. Com base nisso tudo, devemos pensar: então, que
bem informada e conscientizada sobre a sua importância. medidas podem ser tomadas para que a qualidade
É importante ainda que os gestores das UCs estabeleçam Podemos ver que a maior parte das UCs está nas porções alta e do ambiente da bacia do rio Macaé seja cada vez
um diálogo permanente com os moradores do entorno e média da bacia. Se pensarmos na bacia como um sistema, fica melhor? O mapa “Macaé Rio do Futuro” foi elabo-
do interior dessas UCs, para que suas opiniões e interesses evidente que na porção inferior ocorrem usos e atividades que rado com este objetivo. Foram definidas áreas para
também sejam considerados no processo de gestão. ameaçam a qualidade do ambiente e das águas do rio Macaé. diferentes fins. Nele, podemos ver (em amarelo)
áreas prioritárias para a conservação em corredores na bacia, garantindo uma melhora nas condições ambientais e contribuindo para que,
ecológicos. A partir da definição dessas áreas, as par- futuramente, o rio Macaé apresente um ambiente sustentável e que a boa qualidade de sua
tes mais preservadas teriam uma maior importância água seja refletida em melhoria da qualidade de vida para seus habitantes.
73
CBH MACAÉ OSTRAS
Já vimos que a qualidade da água está ligada à Águas (ANA). Este órgão é responsável pela gestão dos rios fe- No caso do rio Macaé, o Comitê das Bacias
qualidade de vida das pessoas e que as bacias derais, que são aqueles que cruzam mais de um estado ou que Hidrográficas dos Rios Macaé, Ostras, Im-
hidrográficas são sistemas complexos. De alguma tem uma importância estratégica específica para a federação. boassica e da Lagoa de Imboassica (CBH
forma, todos os que estão no interior de uma bacia Macaé e Ostras, cujo endereço eletrônico
compartilham de um interesse em comum: a ma- O rio Macaé é um rio estadual e sua gestão é de responsabilida- é www.cbhmacae.eco.br) - reconhecido
nutenção da abundância e da qualidade da água. de da Secretaria Estadual do Ambiente (SEA). No âmbito deste e qualificado pelo Decreto Estadual no
órgão, com o objetivo de viabilizar o planejamento das ações que 34.243/03, de 04 de Novembro de 2003
Por representar um bem comum e por ser tão envolvem o uso da água, foram definidas regiões hidrográficas. e alterado pela Resolução n° 18 de 08 de
importante, a água pode ser também motivo de Elas são formadas por uma ou mais bacias que estão presentes novembro de 2006 do Conselho Estadual
conflitos, pois sua necessidade de uso pode ser bem em uma região. No Rio de Janeiro, há dez regiões hidrográficas e a de Recursos Hídricos do Rio de Janeiro
diferente entre os grupos sociais que vivem no inte- bacia do rio Macaé compõe a Região Hidrográfica VIII, denomina- - é responsável pela gestão das bacias
rior de uma bacia hidrográfica. Por exemplo, a água da Macaé e Rio das Ostras. hidrográficas dos rios Macaé e das Ostras.
é fundamental para o funcionamento das indústrias, É com base nas articulações deste comitê
para as plantações e criação de animais. Essas Um dos instrumentos mais importantes para garantir a partici- que pôde ser elaborado um documento
atividades, muitas vezes, comprometem a qualidade pação da população nas decisões que envolvem o uso da água como o Plano de Recursos Hídricos da
da água, pois os dejetos derivados da produção, em é o Comitê de Bacias Hidrográficas. Para cada região hidrográ- Região Hidrográfica de Macaé e Rio das
muitos casos, são lançados nos rios. Desta forma, fica ou bacia hidrográfica, é formado um comitê, composto por Ostras, disponível no endereço eletrônico
pode haver conflitos com aqueles que fazem uso membros das diferentes organizações da sociedade civil e pelo www.planomacaeostras.com.
das águas para lazer, turismo ou pesca na região. poder público. Em uma reunião do comitê é possível encon-
trar representantes de agricultores, industriais, comerciantes, Algumas áreas que não se encontram nos
Situações como esta mostram como é importante membros de comunidades indígenas, cientistas, membros limites da bacia, mas pertencem à região
que as decisões sobre o que ocorre dentro de uma das prefeituras, entre outros. Este comitê constitui um espaço hidrográfica de Macaé e Rio das Ostras,
bacia sejam tomadas coletivamente, com a parti- propício para que as decisões sobre o que é prioritário em uma são muito importantes para a região. É
cipação de representantes de todos os grupos que região hidrográfica sejam tomadas em conjunto, de forma a di- o caso do Parque Nacional da Restinga
usam a água. Afinal, qualquer mudança na bacia minuir os conflitos sobre o uso da água. E o comitê é um órgão de Jurubatiba, que abrange vastas áreas
pode afetar direta ou indiretamente a vida de todos. deliberativo, conforme a Lei 9.433/1997, que institui a Política deste tipo de vegetação preservadas e, por
Nacional de Recursos Hídricos. Isto significa que é o órgão isso, representa um importante patrimônio
O órgão do governo federal que organiza a gestão responsável pelas decisões referentes à gestão dos recursos natural da região.
da água no nosso país é a Agência Nacional de hídricos de uma bacia hidrográfica.
75
UNIDADE VI
CIDADE DE MACAÉ
77
Naquela época, utilizavam como porto marítimo para o escoamento Este cenário, associado à redução da importância do porto de Imbetiba, gerou estagnação da economia regional.
da produção açucareira a enseada de Imbetiba, situada na cidade de
Macaé. Este porto foi importantíssimo para a economia do período O município manteve sua economia sustentada por atividades rurais durante muitos anos. As principais lavou-
imperial, ampliando as funções da cidade, que se tornou um importante ras do município, até os dias de hoje, são as de cana de açúcar, laranja, tomate, café, mandioca, banana, feijão,
centro de administração comercial. O desenvolvimento da Estrada de batata-doce, milho, arroz e abacaxi. A pecuária também é bastante desenvolvida.
Ferro Macaé - Campos (1874) reforçou ainda mais o papel da região
como impulsionadora da economia local. A partir de 1974, com a descoberta de petróleo na bacia de Campos, Macaé passa a viver uma série de trans-
formações sociais, econômicas e ambientais, que mudam a paisagem do município e seus habitantes. Há
Entretanto, no final do século XIX, com a expansão da malha ferroviária um intenso e rápido processo de urbanização, fruto da expansão das atividades industriais e comerciais e do
e a interligação de ramais ferroviários até o município de Niterói, o eixo crescimento populacional, que gerou maior densidade de ocupação na sede do município de Macaé e avanço
de escoamento da produção foi deslocado e o porto de Imbetiba entrou sobre áreas não ocupadas anteriormente.
em estagnação.
Por outro lado, a exploração do petróleo trouxe grande impulso à economia local, fazendo de Macaé um dos
No século XX, ocorreu a decadência da indústria açucareira, relacionada à municípios que mais contribuem para a geração de riquezas no estado do Rio de Janeiro e ajudando este
abolição da escravatura, ao esgotamento dos solos e à perda dos mercados o município a elevar seu Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) de 0,534 em 1991, para 0,764 em 2010
internacionais para a produção modernizada de outras regiões brasileiras. (PNUD et al., 2013).
POPULAÇÃO
Desde o início da exploração do Petróleo, o municí-
pio de Macaé vem passando por rápido crescimento
demográfico. A população passou de pouco mais de 47
mil habitantes, em 1970, para mais de 200 mil, quaren-
ta anos mais tarde. Ou seja, cresceu mais de 4 vezes.
79
TABELA COM A TAXA MÉDIA GEOMÉTRICA ANUAL DE
CRESCIMENTO POPULACIONAL NO MUNICÍPIO DE MACAÉ, ENTRE 1970 E 2010
Mapa de Taxa de Crescimento 2000-2010 no Distrito Sede de Macaé, por Subdistrito Ano 1970-80 1980-91 1991-00 2000-10
Entre 2000 e 2010 esse crescimento tornou-se ainda mais vigoroso, com a po-
pulação de Macaé apresentando um crescimento de mais de 75 mil habitantes,
o que corresponde à 57% no período de 10 anos (ou 5,7% ao ano).
Como agravante, quase toda a população de Macaé vive junto ao litoral, na ci-
dade de Macaé, concentrando problemas no núcleo urbano principal. O interior
é um vazio demográfico marcado pela presença de pastos, florestas em áreas
de serra e pequenos aglomerados urbanos, como Glicério, Córrego do Ouro e
Sana, por exemplo.
81
TABELA COM TOTAL DE PESSOAS
RESIDENTES NO DISTRITO DE MACAÉ NOS
Apesar de ser o subdistrito com maior população e ter sofrido aumento do
ANOS DE 2000 E 2010, POR SUBDISTRITO 2000 2010
número de moradores entre 2000 e 2010, o Centro sofreu uma redução
na importância relativa nesse período. Em 2000 quase 50% da população
SUBDISTRITOS ÁREA Km2 TOTAL % TOTAL % macaense estava no Centro.
Barra de Macaé 9,06 19.895 15,0 32.362 15,7 Essa dinâmica demográfica está associada ao crescimento elevado de
todos os demais subdistritos. Destaques para o Parque Aeroporto, que
ParqueAeroporto 66,43 21.178 16,0 37.760 18,3
teve um aumento de 16.582 habitantes, Barra de Macaé (12.467) e Cabi-
Cabiúnas 151,78 5.542 4,2 23.952 11,6 únas (18.410).
Mas, desde quando isso acontece? A cidade cresceu de repente? A urbanização se intensificou na década seguinte. Em 1976, houve avanço
da área urbana ao longo da restinga no sentido sudoeste e também nor-
A sequência de mapas mostra as mudanças ocorridas na cobertura vegetal e uso do solo deste, resultando na alteração das paisagens da Praia Campista, Cavalei-
no município de Macaé entre os anos de 1956, 1966, 1976, 1989, 1999, 2011 e 2013 e nos ros, Nova Holanda e Parque Aeroporto. E o que motivou este crescimento
permite perceber aspectos interessantes sobre a evolução urbana no município de Macaé. das áreas urbanas?
É possível observar que nesse período houve um aumento gradativo das áreas urbanas, Entre as décadas de 1950 e 1970, a população brasileira cresceu em ritmo
que estão representadas pela cor vermelha. Em 1956, elas estavam restritas à ocupa- acelerado e muitos brasileiros deixaram o campo para viver nas cidades.
ção da margem direita do rio Macaé, nas proximidades com o mar. Já em 1966, novas Macaé também sentiu o impacto destas transformações, ainda que em
áreas urbanas se formaram principalmente sobre áreas antes ocupadas por restingas, proporções menores do que os municípios da Região Metropolitana do
83
Mapas do Centro de Macaé em 1976
Rio de Janeiro. Porém, o que contribuiu signifi-
cativamente para o aumento da urbanização
de Macaé ao longo da década de 1970 foi a
descoberta e o início da extração do petróleo
na bacia de Campos.
85
Mapas do Centro de Macaé em 2011
EXPANSÃO URBANA NA
PLANÍCIE DO RIO MACAÉ. OCUPAÇÃO DESORDE-
FRANJA DE OCUPAÇÃO NADA ÀS MARGENS
SE EXPANDINDO PARA O DO CANAL SANTA
ENTORNO DA LINHA AZUL, VIRGÍNIA, QUE DRENA
VIA QUE CORTA A PLANÍCIE SUAS ÁGUAS PARA
DO RIO MACAÉ NA PERIFERIA O RIO MACAÉ (FOTO:
DO CENTRO URBANO (FOTO: SECRETARIA MUNICI-
SECRETARIA MUNICIPAL DE PAL DE AMBIENTE DE
AMBIENTE DE MACAÉ, 2006). MACAÉ, 2006).
87
Mapa de abastecimento de água no Centro de Macaé, em 2010
ABASTECIMENTO DE ÁGUA NA
PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ
A maior parte dos domicílios da cidade de Macaé possui
acesso à água tratada, com abastecimento pela rede
geral. Entretanto, em Imburo, Nova Cidade e Aterrados
do Imburo, os dados do Censo de 2010 mostram que há
um número considerável de domicílios abastecidos por
poços ou nascentes.
89
Mapa de coleta de lixo no Centro de Macaé, em 2010
COLETA DE LIXO NA
PORÇÃO CENTRAL DE MACAÉ
O lixo na cidade de Macaé é quase inteiramente coletado por serviços
públicos de limpeza, fornecidos pela municipalidade. Exceções são
observadas nos distritos de Nova Cidade e de Cabiúnas, onde parte
importante da população queima o lixo dentro de suas propriedades.
Assoreamento – O assoreamento é o acúmulo de sedi- endêmicas da Mata Atlântica são espécies que só existem
mentos (areia, argila e outros materiais) no fundo dos nesse bioma, como o palmito jussara (Eutherpe edulis), por Floresta Paludosa – Florestas que ocorrem em baixadas, em locais
exemplo, enquanto espécies endêmicas de um ecossistema onde pode haver alagamento durante a época mais chuvosa do ano.
rios, lagos e lagoas, causando redução em sua profundi-
ocorrem apenas nesse ecossistema. Há, inclusive, espécies Geralmente, possuem características distintas das demais florestas
dade. Processos de erosão intensa na bacia hidrográfica
endêmicas de um ou de poucos locais, como a Vriesea existentes no entorno, como árvores menores e espécies típicas que,
de um rio geram assoreamento deste rio.
botafoguensis, espécie de bromélia que só ocorre no Pão muitas vezes, só ocorrem nessas formações e têm adaptações para
de Açúcar, na Pedra da Gávea e no Morro da Chacrinha, na viver nesses ambientes.
Calha de um rio – Canal por onde o rio corre.
Cidade do Rio de Janeiro, e no paredão do Alto Mourão, no
Município de Niterói, por exemplo. Orquídeas, aráceas e bromélias – Famílias vegetais.
Campos – Formações vegetais dominadas por espécies de
pequeno porte (ervas) entremeadas por pequenos arbustos.
Epífitas – Espécies vegetais que vivem sobre outras espé- Povos Nômades – Os nômades são povos que vivem periodicamente
cies sem prejudicá-las, como bromélias e orquídeas. mudando de lugar. Usualmente são caçadores-coletores ou pastores,
Biodiversidade – A biodiversidade ou diversidade biológi-
mudando-se a fim de buscar novas fontes de recursos para a coleta e
ca é a variabilidade de organismos vivos, compreendendo
a diversidade dentro das espécies, entre espécies e de Erosão – Processo ou conjunto de processos físicos que caça ou pastagens para o gado, quando se esgotam as fontes próximas
agem sobre solos e rochas, gerando destacamento (retira- aos locais onde se encontravam.
ecossistemas.
da), transporte e deposição de partículas em outras áreas,
transformando o relevo da Terra. Rio Tributário – Rios que despejam suas águas (desembocam) em
Brejos – Formações vegetais permanentemente
outro rio e, portanto, são denominados tributários ou afluentes desses.
alagadas, onde a profundidade da água é pequena e
são comuns espécies vegetais que se fixam no fundo Estratos vegetais – Contínuo de copas das árvores que
e mantém suas folhas acima da coluna d’água. É co- são observados em diferentes alturas em uma floresta. O Serra do Mar – Cadeia de montanhas situada junto ao litoral das
estrato mais alto corresponde ao dossel superior. Geral- Regiões Sul e Sudeste do Brasil. Possui mais de 1.000km de extensão
mum que sejam dominadas pela espécie taboa (Typha
mente, nas florestas mais conservadas e desenvolvidas, há e abrange os estados de Santa Catarina, Paraná, São Paulo e Rio de
domingensis).
a formação de vários estratos. Janeiro. Possui diversos nomes locais, que denominam partes dessa
cadeia de montanhas, como serra de Friburgo, que inclui as terras
Corredor Ecológico (no sentido apresentado nesse atlas)
– faixas que garantem a conectividade entre fragmentos Florestas ou matas ciliares – Vegetação florestal existente onde nasce o rio Macaé, e serra de Macaé, que inclui as localidades de
na beira dos rios, que gera proteção de suas margens con- Sana e Glicério e as nascentes dos rios Sana e São Pedro, importantes
de áreas naturais, por meio da recuperação/preservação
tra processos erosivos, garante abrigo à fauna que vai ao afluentes do rio Macaé.
do estado da vegetação. Eles garantem que as espécies
possam se dispersar por uma área maior, promovendo a rio beber água e lança folhas, flores e frutos nas águas dos
recuperação de áreas degradadas. rios, fornecendo alimentos para diversos organismos que Sistema deltaico ou delta – Feições associadas a depósitos sedimenta-
vivem nessas águas. res fluviais retrabalhados pelo mar.
91
ATIVIDADES PROPOSTAS
Atividade I: Primeiros Contatos com os Elementos dos Mapas
b) Considerando a sua localização geral em relação ao oceano Atlântico, à Linha do Mapa pag. 29
Equador e ao Trópico de Capricórnio, escreva um pequeno texto buscando responder
à pergunta: onde está o estado do Rio de Janeiro? 3) Identifique:
a) Consultando a escala, indique o comprimento aproximado do rio Macaé. d) Pelo menos 4 localidades no entorno da cidade de Macaé
a) Desenhe como você imagina que sejam as paisagens percorridas pelo agricultor.
b) Com base no exemplo acima, crie uma história envolvendo o trajeto em linha reta entre a cidade de Macaé e a vila de
Lumiar, localizada no município de Nova Friburgo. Consulte as legendas dos mapas para identificar as diferentes caracterís-
ticas físicas presentes no seu trajeto.
c) Agora, suponha que você precisa escolher uma área da bacia do rio Macaé para praticar a pecuária. Indique qual local
você escolheria e justifique sua resposta com base nos aspectos aqui observados.
93
ATIVIDADES PROPOSTAS
Atividade III: Pensando sobre os Problemas e Soluções para a Bacia do Rio Macaé
Estas atividades devem ser feitas utilizando os mapas das páginas 65 a 73.
Atividade IV: Passado, Presente e Futuro da Cidade de Macaé 3) Observe o mapa da página 80, que mostra o percentual de
crescimento populacional dos subdistritos de Macaé (Imboas-
sica, Centro, Macaé, Barra de Macaé, Nova Cidade, Aeroporto
1) Observe os mapas de evolução urbana do centro de Macaé entre 1956 e 2012 (páginas 83 a 86).
e Cabiúnas), no período de 2000-2010.
Quais as principais transformações observadas? Quais os fatores que contribuíram para a ocorrên-
cia de tantas transformações neste período?
* Localize sua escola e sua residência nos subdistritos.
* Identifique os subdistritos que tiveram maior percentual de
2) Entre a década de 1950 e os dias atuais, diversos foram os bairros de Macaé que passaram por
crescimento.
grandes transformações em suas paisagens. Faça uma ilustração da paisagem atual do seu bairro e da
* Procure no texto os principais impactos socioambientais
paisagem que você teria encontrado se tivesse conhecido o bairro em 1980.
que surgiram a partir desse crescimento.
7) Discuta com seus colegas que medidas poderiam ser implementadas para
diminuir os impactos socioambientais dos problemas identificados no exercí-
cio anterior.
95
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ocupação pré-histórica da costa brasileira. Antropologia, n. 66, 306p São Paulo: Nacional. Brasiliana, v. 210.
2
Atlas Ambiental da Bacia Hidrográfica do Rio Macaé
O Porto de Macaé/RJ, como Lugar litoreiro, ainda faz parte da história macaense, não com relação de
‘passado’ está co, como fora um dia, mas por sua capacidade de evocar nosso olhar e pensamento para
tal. Este trabalho, assim, está empenhado em revitalizar uma área urbana que faz parte do imaginário
social e tem papel importante na cultura da comunidade local. O obje vo geral é fortalecer o valor de
paisagem cultural, propondo um projeto de revitalização para o cais do Mercado de Peixe de Macaé. Por
entender a complexidade de um estudo de mestrado, u lizaremos uma abordagem qualita va e a
etnotopografia como base metodológica, po de análise desenvolvida dentro do LASC, com a intenção de
colocar a comunidade como fonte primária, através de um olhar subje vo, com enfoque de base cultural.
Acreditamos que através da compreensão de determinados elementos da memória cole va de grupo de
pescadores e da composição do valor dessa comunidade, esta pesquisa fortalecerá o valor da Paisagem
Cultural, através de um projeto de revitalização do Cais do Mercado de Peixe de Macaé.
novembro
2020