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Luci Carlos de Andrade

1
TIPOS DE
PESQUISA

UNIDADE 3
Nesta unidade, estudaremos os tipos
de pesquisa, as características de cada uma e
sua aplicabilidade no contexto da necessidade
e exigência da investigação, que será proposta.

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3. Tipologia de Pesquisa
Temos os tipos de pesquisa que po-
dem ser classificados de diferenciadas for-
mas, dependendo de critérios e enfoques
diversos. Na perspectiva das Ciências, por
exemplo, a pesquisa pode ser biológica, mé-
dica, físico-química, matemática, histórica,
pedagógica, social etc.
Apresentaremos algumas noções in-
trodutórias. Assim, segue uma classificação da
pesquisa quanto à natureza, aos objetivos, aos
procedimentos e ao objeto.
A pesquisa pode constituir-se em um
trabalho científico original ou em um resumo de
assunto, de acordo com a sua natureza.
Quando se realiza uma pesquisa pela

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primeira vez, podemos dizer que é um traba-
lho científico original. Será uma contribuição
para as novas conquistas e descobertas na es-
fera da evolução do conhecimento científico.
Nesse caso, esse tipo de pesquisa é
desenvolvido por cientistas e especialistas
em áreas específicas do conhecimento. (AN-
DRADE, 2010)
O rigor científico está presente no
resumo de assunto. É um tipo de pesquisa
isento de originalidade. Está embasada em
trabalhos mais avançados, publicados por au-
toridades no assunto, e não são simples có-
pias das ideias.
Destacam-se nesse tipo de trabalho, a
análise e interpretação dos fatos e ideias, a utili-
zação de metodologia adequada, assim como o
enfoque do tema de um ponto de vista original.
Por ser uma contribuição para a am-
pliação da bagagem cultural do estudante, o
resumo de assunto oferece subsídios para fu-
turos trabalhos científicos aos mesmos, pois
funcionam como preparação para trabalhos
mais amplos e originais.
As finalidades da pesquisa é que fazem
a diferença entre o trabalho científico original
e o resumo de assunto.

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3.1. A Pesquisa Experimental
e a Não Experimental
A pesquisa experimental é a pesquisa
passível de ser quantificada, mensurada. O
seu próprio objeto funciona como fonte de
observação e manipulação experimental na
perspectiva da pesquisa quantitativa. É possí-
vel a verificação em laboratório.
Nesse caso, o pesquisador seleciona de-
terminadas variáveis e testa suas relações funcio-
nais, utilizando formas de controle.
Esse tipo de pesquisa é perfeitamen-
te adequado para as Ciências Naturais. No
entanto, essa modalidade é mais complica-
da no âmbito das Ciências Humanas, já que
não se pode fazer manipulação das pessoas.
(SEVERINO, 2007)
A pesquisa experimental tem como
objetivo principal investigar as possíveis rela-
ções entre determinados grupos, em compa-
rações com outros grupos que não estão no
contexto da investigação. Essa pesquisa carac-
teriza-se pelo rigoroso controle e manipulação
das variáveis experimentais. Geralmente, são
usados um ou mais grupos de controle para

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comparações com o grupo que recebeu o tra-
tamento experimental.
Gressler (2007) concebe a pesquisa
experimental como “forte”, devido ao seu
controle sobre as variáveis, e em algumas
circunstâncias pode ser considerada restrita
e artificial, porque em muitos experimen-
tos, as condições ambientais são diferentes
das condições reais de vida. Podem ocorrer,
também, comportamentos artificiais de se-
res, quando são submetidos à manipulação
e observações sistemáticas.
No caso da pesquisa não experimen-
tal, as variáveis não são passíveis de manipu-
lação. O pesquisador deverá trabalhar com as
mesmas, da forma como se apresentam na sua
natureza. Trabalha-se com fatos e fenômenos
que já existam. Dessa forma, geralmente, utili-
za-se o método da pesquisa descritiva e explo-
ratória, em que o pesquisador simplesmente
observa o objeto sem interferência.
A pesquisa possibilita, também, diferen-
ciar ou examinar situações que já estão consoli-
dadas. O estudo não experimental aplica-se em
situações em que as características ou variáveis,
não podem ou não devem ser manipuladas.

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3.2 Pesquisa Bibliográfica

Com referência à natureza das fontes


utilizadas para a abordagem e tratamento de
seu objeto, a pesquisa pode ser bibliográfica,
de laboratório e de campo.
Para Lakatos (2010), a pesquisa bi-
bliográfica é aquela que se realiza a partir do
registro disponível, decorrente de pesquisas
anteriores, em documentos impressos, como
livros, artigos, teses etc.
Esta pesquisa busca os dados ou as
categorias teóricas já trabalhadas por outros
pesquisadores e devidamente registradas. As
contribuições dos autores tornam-se fontes
para novos temas a serem pesquisados.
Vale estendermos um pouco mais as
questões sobre a pesquisa bibliográfica, con-
siderando que na maioria dos trabalhos cientí-
ficos, utiliza-se essa prática. A pesquisa desse
tipo tem como objetivo a contribuição de in-
formações e de pesquisas baseadas em acervos
de diversos autores, que já estudaram sobre o
tema em questão.
Conforme Trujillo, a pesquisa bi-
bliográfica:

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“Trata-se de levantamentos de toda bibliogra-
fia já publicada em forma de livros, revistas,
publicações avulsas e imprensa escrita. Sua
finalidade é colocar o pesquisador em contato
direto com tudo que foi escrito sobre deter-
minado assunto, com o objetivo de permitir
ao cientista “o reforço paralelo na análise de
suas pesquisas ou manipulação das suas in-
formações”. (1974. p 32, grifo do autor)

Com as contribuições dadas pela pes-


quisa do tipo bibliográfica, é possível que o
pesquisador possa definir ou resolver proble-
mas já conhecidos ou explorar novas áreas,
onde possam existir problemas que ainda não
foram solucionados.
Para Gil (2002), a pesquisa biblio-
gráfica, geralmente, desenvolve-se a partir
de buscas em materiais já produzidos, que
são compostos principalmente de livros e
artigos científicos.
No entanto, a maioria dos estudos
exige trabalhos dessa natureza, como há pes-
quisas produzidas somente a partir de fontes
bibliográficas. Essa modalidade de pesqui-
sa cobre uma imensa gama de fenômenos, o

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que oferece grande vantagem ao pesquisador,
que é fundamental no caso de uma grande de-
manda de dados ou da complexidade do tema,
para solucionar o problema pesquisado. Por
exemplo: a pesquisa bibliográfica é aplicada
nos estudos históricos, pois facilita o conheci-
mento dos fatos ocorridos no passado.
Severino (2007) colabora e comple-
menta as considerações sobre a pesquisa biblio-
gráfica, quando aponta suas oito fases distintas:
a) Escolha do tema;
b) Elaboração do plano de trabalho;
c) Identificação;
d) Localização;
e) Compilação;
f) Fichamento;
g) Análise e interpretação;
h) Redação.

3.3 Pesquisa Exploratória,


Descritiva e Explicativa
Os estudos de Andrade (2010) e Seve-
rino (2007) trazem contribuições para enten-
dermos sobre a pesquisa que pode ainda ser

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classificada, quanto aos objetivos em três gru-
pos: exploratória, descritiva e explicativa. Vale
ressaltar que estes três grupos, geralmente, de-
finem os objetivos específicos de uma pesquisa.
A pesquisa exploratória - é um tipo
de pesquisa bibliográfica, que proporciona
maiores informações sobre determinado as-
sunto; facilita a delimitação e escolha de uma
temática de estudo; define os objetivos ou
formula as hipóteses de uma pesquisa e des-
cobre um novo enfoque para o estudo que se
pretende realizar.
Essa pesquisa tem como objetivo
principal, como o próprio nome diz, explorar
e aprimorar as ideias ou a descoberta de intui-
ções. Severino complementa: “a pesquisa ex-
ploratória levanta informações sobre um de-
terminado objeto, assim delimita um campo
de trabalho, investigando as condições de ma-
nifestação desse objeto. Pode ser uma prévia
para a pesquisa explicativa.
Basicamente, a pesquisa exploratória
compreende: a) levantamento bibliográfi-
co; b) entrevistas com pessoas relacionadas
com o problema pesquisado; c) análise de
exemplos que evidenciem a compreensão
do fato estudado.

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Tal pesquisa viabiliza o desenvolvi-
mento de estudos inéditos e interessantes,
sobre um determinado tema. Pois, possibilita
uma maior familiaridade com o problema, e o
explicita de forma mais ampla.
O planejamento é bastante flexível e
geralmente se enquadra na pesquisa e a amplia
com vistas a torná-lo mais explícito. Consti-
tui um estudo preliminar ou preparatório para
embasamento de outras pesquisas.
A pesquisa exploratória - em um
primeiro momento esse tipo de pesquisa pri-
ma pela observação, pelos registros. Procura
analisar e classificar minuciosamente além de
interpretar os fatos ou fenômenos (variáveis),
em que o pesquisador não utiliza da interfe-
rência ou manipulação.
O objetivo principal nesse tipo de pes-
quisa é descrever as características dos fatos
ou fenômenos. Estuda e investiga as relações
entre variáveis, ou seja, as características de
um determinado grupo. Busca com objeti-
vidade a frequência com que um fenômeno
ocorre, procura compreender sua relação com
os outros, sua natureza e características.
A pesquisa descritiva - pressupõe o
desenvolvimento de muitos estudos e possui

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características próprias. Utiliza-se de técnicas
já padronizadas de coletas de dados como:
questionário, observação sistemática, formu-
lário. Essa pesquisa é utilizada também no
caso de levantamento de dados, o que se usa
geralmente por pesquisadores das áreas de
Ciências humanas e sociais, em situações de
atuação prática.
A pesquisa explicativa – também
registra, analisa e interpreta os fenômenos
estudados, mas preocupa-se com a identifica-
ção dos fatores determinantes, que influen-
ciam na ocorrência dos fenômenos, buscan-
do suas causas.
Nessa perspectiva, a pesquisa explica-
tiva permite o aprofundamento da compreen-
são da realidade, quando explica a razão e a
origem das coisas.
O nível de complexidade desse tipo
de pesquisa é maior tendo em vista a preo-
cupação com os determinantes e as causas
das ocorrências dos fenômenos. Ao procurar
compreender e explicar a realidade pode tam-
bém estar sujeito a erros.
No entanto, as bases da pesquisa ex-
plicativa e seus resultados possibilitam uma
consistente fundamentação na produção do

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conhecimento científico. Essa pesquisa tem
como finalidade o registro e a análise dos
fenômenos estudados, buscando a identifi-
cação de suas causas. Utiliza a aplicação do
método experimental/matemático, e em al-
guns casos por meio da interpretação nos
métodos qualitativos.
As considerações sucintas sobre tais
tipos de pesquisa visam auxiliar o estudante,
de forma objetiva na elaboração do seu pro-
jeto de pesquisa, norteando suas intenções
na estruturação da investigação que consta-
rá no seu projeto.

3.4 Métodos da Pesquisa


Qualitativa e Quantitativa
Alguns autores não fazem distinção
entre métodos qualitativos ou quantitativos,
porém, Lakatos (2008) aponta diferenças mar-
cantes em relação à forma como são aborda-
dos os fatos, dependendo de cada estudo.
As diferenças entre o método quali-
tativo e o quantitativo estão na questão dos
instrumentos estatísticos e na forma de coleta
e análise de dados.

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Na metodologia qualitativa existe a
preocupação em analisar e interpretar os as-
pectos mais profundos, detalhando e descre-
vendo a complexidade do comportamento hu-
mano. “Fornece análise mais detalhada sobre
as investigações, hábitos, atitudes, tendências,
valores de comportamento etc.” (LAKATOS,
2008, p. 269)
No método quantitativo, os pesqui-
sadores lidam com amostras amplas e de in-
formações numéricas em coletas estruturadas.
Seguem, rigorosamente, um plano previamen-
te estabelecido, com base em hipóteses claras
e variáveis definidas.
Podemos considerar a metodologia
quantitativa como a descrição objetiva e sis-
temática dos dados, cuja análise se dá com
informação numérica resultante da investi-
gação, que pode se apresentar em forma de
quadros, tabelas e medidas, portanto, usa
modelos estatísticos.

“Três traços bem definidos no conteúdo quan-


titativo devem ser observados: objetividade,
sistematização e quantificação dos conceitos,
evidenciados na comunicação. Na análise
do conteúdo quantitativo, a ênfase de recair

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na quantificação dos seus ingredientes.”
(LAKATOS, 2008, p. 284)

No enfoque quantitativo existe o le-


vantamento de dados para provar as hipóte-
ses, com base na medida numérica e na análise
estatística para estabelecer padrões de com-
portamento. Neste caso, busca-se a expansão
dos dados, ou seja, a informação.
Já, a pesquisa qualitativa permite a rea-
lização de articulações entre teoria e prática no
desenvolvimento do estudo. Pesquisar o coti-
diano em uma abordagem qualitativa é buscar
aproximações com a realidade.
Minayo destaca que:

“A pesquisa qualitativa responde a questões


muito particulares. Ela se preocupa, nas ci-
ências sociais, com um nível de realidade que
não pode ser quantificado [...] ela trabalha
com o universo de significados, motivos, as-
pirações, crenças, valores, atitudes, o que res-
ponde a um espaço mais profundo das rela-
ções, dos processos e dos fenômenos que não
podem ser reduzidos à operacionalização de
variáveis”. (2003, p. 21).

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A abordagem qualitativa leva o pes-
quisador a entrar em contato direto com o
problema em questão. Podendo investigar
sua complexidade, especificidade e diferen-
ciações que o problema apresenta. Com a
contribuição da abordagem qualitativa, é
possível reunir uma vasta gama de informa-
ções necessárias e valiosas para o desenvolvi-
mento de uma pesquisa.

Exercícios Propostos
1. Qual o seu entendimento sobre pesquisa
experimental e não experimental?
2. Defina a pesquisa bibliográfica.
3. As pesquisas exploratória, descritiva e expli-
cativa podem definir os objetivos específicos
na pesquisa? Esclareça.
4. Quais as diferenças básicas na pesquisa qualita-
tiva e na quantitativa?
5. Explique com suas palavras o método
qualitativo e o método quantitativo de uma
pesquisa.

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Referências Bibliográficas
Complementares
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científi-
co e educativo. 8ª. Ed. – São Paulo: Cortez,
2001.

LUDWIG, Antonio Carlos Will. Fundamen-


tos e prática da Metodologia Científica.
Petrópolis RJ: Vozes, 2009.

MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de


pesquisa. Marina de Andrade Marconi - Eva
Maria Lakatos. – 7ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2008.

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O PROBLEMA
NA PESQUISA

UNIDADE 4
Nesta unidade, estudaremos o proble-
ma na pesquisa. Discutiremos a formulação do
problema e as implicações do seu enunciado.
Apresentaremos os elementos básicos a serem
considerados na definição de um problema, tais
como as hipóteses e variáveis.

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4. Formulação do Problema
O tema de uma pesquisa é o assunto
que se deseja provar ou desenvolver: “é uma
dificuldade, ainda sem solução, que é mister
determinar com precisão, para intentar, em se-
guida, seu exame, avaliação crítica e solução”
(ASTI VERA, 1976, p. 97)
Lakatos (2010) diz que é preciso ter
bem claro o que se quer na pesquisa. É o mo-
mento de enunciar um problema, ou seja, de-
terminar o objeto da pesquisa.
O tema de uma pesquisa pode ser de
alguma forma abrangente, porém a formulação
do problema é específica. É um questionamen-
to ou uma dificuldade que se pretende resolver.

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“Formular o problema consiste em dizer,
de maneira explícita, clara, compreensível e
operacional, qual a dificuldade com a qual
nos defrontamos e que pretendemos resolver,
limitando o seu tempo e apresentando suas
características. Dessa forma, o objetivo da
formulação do problema da pesquisa é torná-
-lo individualizado, específico, inconfundí-
vel”. (RUDIO, 1979, p. 75)

Geralmente, o processo de investigação


inicia-se com um problema. Problema é uma
situação real ou artificial, perplexa e desafiado-
ra, cuja solução exige pensamento reflexivo. É
uma questão concernente às relações existentes
entre conjuntos de eventos (variáveis).
Conduz-se a pesquisa com o intuito
de encontrar respostas para os questionamen-
tos. Nesse sentido, o problema exige respostas
para uma questão, para uma pergunta que se
faz na pesquisa.
O problema na pesquisa é o objeto da
mesma, uma dificuldade, teórica ou prática,
em que se busca a solução.
Ao definir o problema, estaremos es-
pecificando também os caminhos para solu-

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cioná-lo. Desse modo, é interessante ter clare-
za, concisão e objetividade. Além de facilitar a
construção da hipótese central, orienta quanto
ao método e o tipo de pesquisa a ser utilizado.

“A caracterização do problema define e


identifica o assunto em estudo, ou seja, um
problema muito abrangente torna a pesqui-
sa mais complexa. Quando bem delimitado,
simplifica e facilita a maneira de conduzir a
investigação”. (MARINHO, 1980, p. 55)

Para definir o problema na pesquisa é


necessário refletir com tranquilidade; requer
leituras sobre o assunto a ser pesquisado, ou
seja, conhecimentos prévios, com o máximo
de informações possíveis que assegurem con-
dições de formulação do mesmo.
A proposição do problema não é ta-
refa fácil, e não se faz de imediato; é o mer-
gulho no assunto em todos os seus aspectos,
que viabiliza definir o problema no plano de
hipóteses e de informações.

“Nem sempre é possível ao pesquisador for-


mular clara, precisa e adequadamente o seu

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problema de pesquisa. Em muitas situações,
o pesquisador possui uma dúvida bastante
geral, vaga, desordenada e até mesmo confu-
sa, a respeito do que pretende investigar. Ele
identificou o problema, mas sente dificuldades
na formulação clara e operacional do enun-
ciado”. (GRESSLER, 2003, p. 113)

A definição ou formulação do proble-


ma permite seguir as etapas previstas, para se
atingir o objetivo da pesquisa. No entanto, an-
tes de ser considerado apropriado, o problema
deve ser analisado.
Veja os seguintes aspectos e as possi-
bilidades de execução:
a) Viabilidade: pode ser eficazmente resolvi-
do através da pesquisa.
b) Relevância: deve ser capaz de trazer co-
nhecimentos novos.
c) Novidade: estar adequado ao estádio atual
da evolução científica.
d) Exequibilidade: pode chegar a uma con-
clusão válida.
e) Oportunidade: atender a interesses parti-
culares e gerais.

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Na visão de Gressler (2003), o pro-
blema, assim, consiste em um enunciado
explicitado de forma clara e compreensível,
com possibilidades de operacionalização.
O problema também pode se constituir em
forma de pergunta.
Algumas questões apontadas por
Gressler (2003) auxiliam-nos a proposição
do problema.
a) Corresponde a interesses pessoais, sociais e
científicos, isto é, de conteúdo e metodológi-
cos? Estes interesses estão harmonizados?
b) Constitui-se o problema em questão cientí-
fica, ou seja, relacionada entre si pelo menos
dois fenômenos (fatos, variáveis)?
c) Pode ser objeto de investigação sistemática,
controlada e crítica?
d) Pode ser empiricamente verificado em suas
consequências?

4.1 Problema e Hipótese


A definição ou formulação do proble-
ma e a verificação de sua validade científica
supõe uma provável resposta, que é provisó-
ria, a que chamamos de hipótese. O problema

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ou a hipótese são enunciados de relação entre
variáveis (fatos, fenômenos); o que difere en-
tre ambos, é que o problema consiste em uma
interrogação e a hipótese é uma sentença afir-
mativa mais detalhada. (GRESSLER, 2003)

4.2 Formulações de Hipóteses


Lakatos (2010) considera a hipótese
como um enunciado geral de relação entre vari-
áveis (fatos, fenômenos) e podem ser:
a) Formulada como solução provisória para
um determinado problema;
b) Apresentando caráter explicativo ou pre-
ditivo;
c) Compatível com o conhecimento científico;
d) Sendo possível a verificação empírica em
suas consequências.
A hipótese enquanto uma suposta, pro-
vável e provisória resposta a um problema, de-
verá ser verificada através da pesquisa; interes-
sa-nos o que é como se formula um problema.
Para a ciência é imprescindível três re-
quisitos básicos à formulação das hipóteses:
1) a hipótese deve ser formalmente correta e
não se apresentar “vazia” semanticamente;

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2) a hipótese deve estar fundamentada, até
certo ponto, em conhecimento anterior;
3) a hipótese tem de ser empiricamente con-
trastável, por intermédio de procedimentos
objetivos da Ciência.

“É preciso não confundir hipótese com pressu-


posto, com evidência prévia. Hipótese é o que
se pretende demonstrar e não o que já se tem
demonstrado evidente, desde o ponto de partida.
[...] nesses casos não há mais nada a demons-
trar, e não se chegará a nenhuma conquista e
o conhecimento não avança” (SEVERINO,
2006, p. 161)

O trabalho de formular hipóteses a


serem testadas é sempre um desafio que de-
pende da área na qual está sendo desenvolvida
a pesquisa. É uma fase de reflexão e análise,
com base em algumas considerações a respei-
to do assunto que será explorado, para supor
possíveis resultados.
Não é possível, o pesquisador pen-
sar em uma pesquisa, projetar o seu inte-
resse e intenção sem formular hipóteses
necessárias ao andamento da pesquisa. Mui-

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tas vezes, pode ser levantada mais de uma
hipótese em um projeto; a única diferença
é que pode ser uma hipótese geral e várias
específicas. (LAKATOS, 2008)

4.3 Variáveis
O que são variáveis?
Podemos dizer que variáveis são
características passíveis de observação do
fenômeno a ser estudado e estão presentes
todos os tipos de pesquisa. Esclarecemos
o seguinte: nas pesquisas quantitativas, são
mensuráveis; nas pesquisas qualitativas são
descritas ou explicadas.
As chamadas variáveis apresentam ca-
racterísticas sociais, econômicas, ideológicas,
demográficas, estatísticas, matemáticas, mer-
cadológicas etc. Depende do tipo de pesquisa
e das características de cada estudo proposto.
Para Lakatos e Marconi (2007, p. 139),
“uma variável pode ser considerada como uma
classificação ou medida; uma quantidade que
varia; um conceito operacional que contém ou
apresenta valores; ou ainda, um aspecto, pro-
priedade ou fator, discernível em um objeto
de estudo e passível de mensuração.”

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É preciso o cuidado com as variáveis,
pois todas interferem no objeto a ser estudado
e de certa forma podem comprometer ou in-
validar a pesquisa, se não forem controladas.
Encontra-se em Lakatos e Marconi
(2007, p. 139-155), um estudo mais aprofun-
dado sobre variáveis independentes e depen-
dentes, fixidez (fixas) ou alterabilidade das va-
riáveis; variáveis moderadoras e de controle;
variáveis extrínsecas e componentes; variáveis
intervenientes e antecedentes.
Segundo Lipset e Bendix (In: Trujillo,
1974, p. 144), “variável é um conceito opera-
cional, sendo que recíproca não é verdadeira:
nem todo conceito operacional constitui-se
em variável. Para ser definida, a variável pode
conter valores.”
Entendemos uma variável como clas-
sificação ou medida; uma quantidade que va-
ria; um conceito operacional, que contém ou
apresenta valores; aspecto, propriedade ou fa-
tor, que está evidente no objeto de estudo e
passível de ser medida.
Existem os valores que são adiciona-
dos ao conceito operacional, para transformá-
-lo em variável, por exemplo: quantidades,
qualidades, características, magnitudes, traços

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etc., podem ser alterados dependendo do caso,
são abrangentes e exclusivos, problema etc.
Imaginemos o “universo” da ciência
como constituído de três níveis: no primeiro,
ocorrem as observações de fatos, fenômenos,
comportamentos e atividades reais; no segundo,
encontramos as hipóteses; finalmente no ter-
ceiro, surgem as teorias, hipóteses válidas e sus-
tentáveis. O enunciado das variáveis viabiliza a
constatação ou a refutação dos fenômenos, fatos
ou comportamentos.

Exercícios Propostos
1. Em sua opinião, o que é o problema na pes-
quisa?
2. Aspectos importantes precisam ser leva-
dos em conta na formulação do problema.
Aponte-os.
3. Por que o problema está relacionado com as
hipóteses? Esclareça.
4. Defina com suas palavras o que é hipótese.
5. Defina com suas palavras o que é variável.

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Referências Bibliográficas
Complementares
DEMO, Pedro. Pesquisa: princípio científico
e educativo. 8ª. Ed. – São Paulo: Cortez, 2001.

LUDWIG, Antonio Carlos Will. Fundamen-


tos e prática da Metodologia Científica.
Petrópolis RJ: Vozes, 2009.

MARCONI, Marina de Andrade. Técnicas de


Pesquisa. Marina de Andrade Marconi - Eva
Maria Lakatos. – 7ª. Ed. – São Paulo: Atlas, 2008.

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