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Porfirio Isagoge Introducao
Porfirio Isagoge Introducao
Eicrayc.uyr
lsagoge
Introdução às Categorias de Ari tóteles
ntlnr editorial
B. /\ tra<lu<;ão <lo tc ·to g1cgo ba. c >u-sc cm PoHPllHll. /.111,l'll.1!(
F<li<l1t A<lolfBussc ln Cvmmc11taría 111 , l rn101 •/c111 Gmffa .
13crlm: Gc rg Rc1m r. J 87 1 . 1 , pi 1.
' 200 l Bento Silva Santo
Produção edrtorwl
crg10 Rtí'Ck
Editor ass1ste11te
Marcos Martmho dos antos
Capa e Diagramaçcio
ilvana de Barros Panz Ido
02-1361 CDD·186·4
ISBN 85-85115-15-7
E:: laaywyÍ)
lsagoge
Introdução às Categorias de Aristóteles
altar
2002
APRE ENTAÇÃO
DE p RFÍRI
9
menos d 1s ou três para Platão. se •undo Numênio. dl.' qm·111
dcp 'nde PI tino.
Vias, e a Pitá, rase a Platão foi bu . cai, rcspc ·t1va111c11-
t , o e . emplo da vida prática e da ·ontcmplat1\.1 , a
Aristóteles, ontud , fi i buscar o da ida lóg1 ·a. As. 1111 , n.:di
g1u dois com ntános às afef!.oria.\, as quais abnam o C'<Jl/JllS
dos cscrit s logic s de Arist )tclcs ou ó1gw1011. as h 'r 1 <'\
posiçi'io das alegorias de 4ri\tÓteles po1 intarogaçcio <' rcw-
posta e a Eisagogé ou fntrocluçüo àquelas 1ai seria. na 'crda-
de , a respo ta de P rfiri a Plotino; p i . ·e este r 'rutar<1 as
ategoria d ~ Aristótcle fundado nas li ões de Platão sobre
o gêneros do ·er, Porfiri , n entanto. prct ndia harmo111/ar
a doutrina lóuica de ri tótelc e a teol ' g1 a de Plat5o. J\ 1sm
rc peitaria. enlim, a que tão que Porfirio formula no procm10
da lrn rog , ao perguntar e a categoria: do gêncro c da csp~
cie existem m si me ma como rcalidad sou n.:sidcm 110 int ·•
lccto como conceitos, e ·e, existindo cm st mesmas como r \ 1-
lidad s, se manifestam apenas nas coi as oujú antes dc'>tas
o séc. V-VI , cm R ma, Boécio planeta vert r ao latim
e comentar todos e crit s de Platã e Ari ·tótclcs, a lim de
dcm n trnr o a ord da doutrina. de ambos. om as Cate
gorias de Ari tótclcs. porém. traduz também a l:wgoge d'
P rfírio e, daí. d para, na pergunta de Porfirio, um lugar cm
que Platão e ristótcl poderiam divergir, é que aquele
considerava gêncro e espécie como realidade · que se mani
festam ante da coi a , e e te, com rcalidad s que ·e mani -
fc tam na coi a . écul s ub eqücntcs, platônicos e
ari t télico contenderam obre a me. ma questão. ssim, o
rcali mo platônico de uilhcrmc de hampcaux ( ·éc. 1 XII)
foi revisto pelo conceituali mo de Pedro Abelardo (séc . 1-
XII), e o reali mo ari totélico de lberto o randc ( ·é . XI II),
pelo nominali mo de Guilherme de Ockham ( ' e. Xm- I ).
- 10 -
Ne a querela do universai , o nome do autor da Isagoge é
recorrente e central, de tal modo que se possa dizer, em exa-
gero, que a divergências dos escolásticos dependeram do
modo como cada um re pondcu à pergunta que Porfirio lan-
çara no cabeça lho de eu opú culo
DA lSACOGE
11
a ciência do homem. l " a c1ên ia ' que apre n<lcmos das
coi ·as p la ·cnsaçâ , que <l pende d sentidos,_ .. a c 1ên · ia ·.
o que apreendemos das e isa p lo julgamento, que depcnd ·
da alma; "a iência é o qu apreendem s das c01sa'> pd.1
razão, que depcnd ' do bom sens . As im também, no 'níti/o.
trata a r•laçã ntrc a 01sa as pala ras 1 a imp s1 ·ao
1
- 12
2°) Se exi tem em i me mas como realidade , são corpóreas
ou incorpórea ?
3º) um e noutro ca o, manifestam- e apena na coi as ou
já ante das coi a ?
Ora, Boécio, por sua vez, acusa a me ma dificuldade nos
comentários que apõe à ua tradução da !sagoge. Daí, lido
nas escola ocidentai , Boécio é retomado. de um lado, pelos
"nomina li tas", i to ·, por aquele que con ideram que aque-
la categorias sejam conceito , e, de outro lado, pelo " realis-
tas", isto é, por aqueles que crêem que aquela categorias e-
jam realidade e a everam que elas existem ante da coi a ,
ou pelo "reali tas moderado ", i to é. por aqueles que crêcm
que aqu la categoria ejam realidade ma admitem que ela
coexi tam com a coisas. Ora, é a sim que Tomás de Erfurt e
po iciona ante es a "querela do univer ais"; poi , e
nominali ta foi uilhenne de Ockham ( éc. XHI-XIV d.C.).
e se realista, Guilherme de Champeaux (séc. XI-Xlf d.C.).
realista moderado, porém, foi Tomá de Erfurt. De fato. a -
im como admite que o modo de er coexistem com o er
da cai a , assim também admite que, nas pala ras "dor",
''doe r" e "doloro o", há modo de ignifiear vários que coe-
xistem com um significado invariável. Por is o, o gramáticos
modista admitem que e e modos de significar, que seriam,
antes, modos de con ignificar, correspondem ao modos de
exi tir, que criam, ante , modo de coexi tir.
A im, a fsagoge de Porfírio é texto que intere a ao lei-
tor de vário modos: ou como introdução à lógica e, como tal,
à filosofia toda; ou como síntese das soluções à que tão da
relação entre f1 ica, lógica e gramática; ou como transmi sor
do legado da récia antiga às e colas d idente medieval.
Em uma, a lsagoge depara ao lcit r valor prop dêutico, filo-
ófico e hi . tórieo.
13
[ .... 11\ 1 1li ()
14
corno as de Elias, quer latinas, como as de Boécio, o que per-
mite ao Leitor moderno compreender como o texto foi recebi-
do por aqueles. Enfim, faz a recensão da crítica moderna, re-
correndo às opiniões de A. de Libera, C. Panaccio, J. Pinborg e
outros, o que pennite ao leitor moderno entender como a Isagoge
de Porfirio é boje apreciada pelos lógicos e lingüistas.
Os editores
15
lNTTu DUÇÃO
- 17 -
doutrina das Ca1egorim3 fçita ror Plot1110, seu ml!shc que
1
as considerava só do ronto de vi-;ta onto lógi · çm seu
ensinamento obre os gêner<J\' cio ser, condu/lram-no a um
po. 1cionamcnto de defesa da obra aristoté lica: neste sentido,
Porfírio repropõe a doutrina das Categorias e as discute do
ponto de v i ta lógico, considerando-a~ de grande utilidade nesta
e fera. A im, cm Li libcu, Porfírio compôs dois comentários
à ategorias, no quai defende "tudo aquilo que Plotino
criticara cm cu tratado" obre os gêneros do ser e, nesse
me mo e pírito, redige a fsagoge. Nc te entid , este opúscu-
lo é um texto que e insere no c lima coletivo de rcai;ão dos
dj cípulos de Plotino à sua crítica da Categorias de An-;tótclc".
- 18 -
E te aspecto não platônico da lsagoge é paradoxal e corresponde
a um projeto intelectual evidenciado por Ch. Evangcliou, S.
Ebbe en e Alain de Libcra 5•
Ainda que Porfirio tenha escrito muita obra na inten-
ção de conciliar Platão c Ari tótele , ua importância reside
na "recepção" medieval da lsagoge, onde cm uma célebre
passagem dá origem a conhecida querela dos Univer ai . O
principal responsável desta di puta filosófica são a tradu-
çôe latina e o comentários de Boécio (ca. 480-524) 6• a
última fa e de ua vida. conduziu uma á pera po lêmica con-
tra os cristãos, da qual e originou o tratado Contra os cris-
tãos (cm 15 livro , do quai existem apenas poucos frag-
mento ). m suma, o e pírito e pcculativo de eu me trc
Platino foi predominante em Porílrio, mesmo que cm sua
1<) -
juventud este tenha feito uma concessão à tcurgia' cm sua
obra obr a rolra da alma~. Morre cm Roma provavelmente
no ano de 305.
Uma vez coo idcrada brevemente a v1c.la de P rfirio, pa -
emo ao exame sucinto da ua obra cm que tão : a Irngoge.
20
ari totélicas considerada : gênero, e pécie, diferença especi-
fica, próprio e acidente. Ao termo lsagoge traduzido como
"introdução'', Porfirio não deu um significado técnico, ma o
con iderável influxo exercido no âmbito da lógica ucessiva
fez com que o vocábulo adquiri e um significado e pecífico
no cursus st11diorwn filo ófico. O comentadore antigo
(Amônio, Elia , Davi) ugeriram que a lsagoge podia a u-
mir uma função bem mais ampla em relação às próprias in-
tençõe de Porfírio: uma introdução à categoria pode ervir
como uma introdução ao método dialético e à lógica cm ge-
ral ; além di o, como uma propedêutica à filo ofia cm geral.
Todavia, a importância da Jsagoge, considerada em i me -
ma, pode ser rc umida cm quatro ponto : a) a codificação da
doutrina do prcd1cávci ; b) a inequívoca po ição em relação
ao univcr ais; c) o remetimento aos nexo metafí ico
ontológico e hcnológico ; d) a construção da árvore lógica.
Quanto ao termo kategoría, dcvemo fazer alguma ob-
ervaçõe . Ante. de tudo, o termo como tal é polivalente. O
ignificado lógico que e deduz sobretudo do Organon de
Ari tótcles, e parti cu larmente do tratado que traz j u tamente
o título alegorias, é muito parcial. Embora ri tótcle eJa
o criador do termo e do conceito "categoria", a gênese da
problemática encontra- e na ontologia e na dialética de Platão,
e pccialmente na doutrina do Sofista obre os cinco gênero
uprerno do er, do Movimento, do Repouso , do Idêntico e
do Diferente. A tradução latina de Boécio, obre a qual e
fonnou o pensamento medieval, impô , porém, a interpreta-
ção de "categoria "como "prcdicamento "e induziu ao erro
hcrm nêutico d crer qu e te eja pr ci amente o seu igni-
ficado principal. Desde a antigüidade tardia, pa ando pela
Idade Média e pelo Rcna-,cimcnto, até a Idade Mod rna,
categoria a sumiram três nívci d validez:
- 21
1. primeiro é o TOL óc11co no sentido de que a dc7 cate-
gorias constituem as divisões orig111úrias do ser e, por-
tanto, aquilo pelo qual o ser originariamente se distin-
gue: antes de tudo, a ub ·tância e os modos de ser que se
referem à substância.
2. egundo nível é LOC,rco que, e treitamcnte ligado por
Ari tótele àquele ontológico, interpreta a dei categoria..,
como as noçõe upremas e o gêneros upremos aos quais
devem er referido os termos no quai decompõem o
juízo lógico, ou seja, a propo ição : ujeito e predicado.
3. O terceiro pode er qualificado como ur-.c,u1s·r1nHIRAMo\-
ncAL e vê nas categoria a modalidades segundo as quai'i
e e trutura uma determinada língua, e que correspondem,
segundo Adolf Trcndelcnburg, a partes do discurso: a) a
categoria da "substância" (ousía) corre ponde ao substan-
tivo; b) o "quanto" (posón) e o "qual" (poíon) correspon-
dem ao adjeti,o; c) a " relação'' (prós ti) tem um significa-
do mai amplo daquele que pode exprimir o comparativo
relativo, ma traz seguramente cm i traços de inflexões
gramaticai : d) o "onde" (poú) e o "quando" (poté) corres-
pondem, ao contrário, ao advérbio de lugar e de tempo;
e) as última quatro categorias e encontram no verbo: o
"agir" (poie1i1) e o" ofrer" (pávkhein) exprimem a voz. ativa
e a voz pa iva do verbo, o "jazer" (keístlwi) xprime, ao
menos, parte do intran itivo , e o "ter" (ékhein) as particu-
laridade do 'perfeito grego'.
22
Como e depreende do limiar da lsagoge, a interpretação ló-
gica é ponto de partida de Porfirio, pros eguindo com Boécio
na Idade Média mediante uma complexa articulação e uma
rica gama de matize 9 .
- 23 -
ldade Média : realismo exagerado 1 e n.:alJsm modcrado 1';
conceptualismo e nominali mo pur 1'. primeira qucstà ( t ·')
contrapõ a alução realista a uma solução 110111í1w/i.\ta (ou,
e quiscrmo ', na forma moderada <lo co11ceptua!is1110 14 ). A
primeira solução se liga originariamente à te ·e platônica, se-
gundo a qual os gêncros e a espécie · existem cm si mesmos,
acima e fora do indivíduos 1 ~; a egunda, aos sofistas e aos
cético 16 . A egunda que tão (2ª) contrapõe, por ua ve/, a
24
po ição platônica, por a sim dizer, realista espiritualista àque-
la realista materialista do e tóicos. nfim, a terceira ques-
tão (3ª) contrapõe expres amente a posição reali ta exagera-
da do platônicos ao realismo moderado de Aristótele .
Metodo logicamente. não devemo a ociar diretamente
o conjunto da problemática do Univer ai à três questôc de
Porfirio. Sendo a sim, de onde proviria então o "problema"
que os Medievais designaram como "Querela do Univer ai "?
Terá ido o texto fundador da 1 agoge de Porfirio no século
llI d.C. que fez eclodir te es forte chamada "nominali mo"
e "reali mo"? upondo, porém, que o "problema dos Univer-
ai " cja um corpus estranho à lsagoge, o movimento com-
plexo da exegese do conjunto do corpus ari totélico, que vei-
cula um platoni mo rc idual, terá id então o rc pon ávcl
pelo emaranhado de conceito , de objeto teórico e de pro-
blemas dos quais o pen amcnto medieval extraiu, como uma
de ua figura po sívci , o problema dos Universai ? É pos-
sível "ilu trá-lo" intuitivamcntc? 17 Enfim, o problema se re-
duz à entidades historiográfica de ignada ob a formas
- 25 -
de "r alismo" e "n minalismo" ou rcm1,:tc a div1.:rsos domíni-
os u di ·ciplinas mai · fundamentais que concernem às rela-
ções entre er, linguagem e pensamento, tai~ corno teoria da
pcrccpção, ontologia do, qualia. teoria da cogn ição, semânti-
ca e filosofia da linguagem?
egundo a conclusões a que chegou Alain de Libera, o
problema dos Univer ai é uma figura de debate que, desd~ a
antigüidade tardia, opô e uniu ao me mo tempo platonismo
e aristoteli mo. Po ições historiográficas re tringiram a ques-
tão ao conflito entre realistas, conceptuali tas e nomrnalisla'>
e, as improcedendo, fizeram com o que o problema dos ni-
ver ais e toma e um problema eterno, uma que tão qu atra-
ve saria a história para além "das rupturas epistemológicas,
da revoluções científica e outras mudanças da ep1sté111e" .
e de cerni os, porém, à esfera do corpus filo 'ófíco e aos pro-
cedimentos das tradições interpretativas, verificaremos que a
estrutura problemática imposta ao Universais pela tríplice
po ição doutt;nal do reali mo, do conceptualismo e do nomi-
nalismo é a que a e colá tica neoplatônica tardia (séculos V c
Vl), impô , primeiramente, como chave de leitura, às ale-
goria de Ari tótelc . A que tão que se coloca, portanto, é a
seguinte: como e por quai razõc esta chave de leitura pa -
ou das categoria ao Univer ai ?
orno dizíamos anteriormente, entre o com ntadorc an-
tigos de Ari tótele , existiam três teorias acerca da natureza
da categorias: em primeiro lugar, a categorias ão conside-
radas como phonaí, isto é, ons vocais; cm egundo lugar,
como ónta, eres ou ente ; em terceiro lugar, como noémata,
noemas ou noçõe , ou, como diríamo hoje, "objeto s de pen-
samento". Esta tríplice definição dada à categoria reapare-
ceu na ldade Média, e a evolução desta tríade - mediante a
adaptação de vocabulário e da ílutuações terminológica (sob
26
a fonna de palavras/nome , conceito e coi a ) 1R - sugere que
por trá das entidades historiográficas (realismo, conceptua-
lismo, nominali mo) existem escolha e articulaçõe disci-
plinare (ontologia, p icologia, emântica) que condensam
todas as que tões conexas e verdadeiras do problema dos
Universais: da teoria da percepçâo à teoria da cognição. O
problema do Univcr ai e desenvolve à base da exegese da
Jsagoge cm liame com a exegese das Categorias, desde a
Antigüidade tardia até o final da Idade \1édia. A grandes
opções filosóficas obre os niver ais e decidem na teoria
da Categorias e cm cu texto atélitc como, por exemplo,
o comentário de cverino Boécio, que fez com que o Uni-
ver ais entra cm na esfera ontológica da filosofia 19 •
e Porf1rio e absteve de abordar a que tões mai ele-
vada , e pccialmcntc daquela que ver ava sobre a natureza
dos igni ficado dos Predicáveis, o projeto teórico da Jsagoge
18 O termo plwnaí, traduzido ao latim por mccs (sons vocais) deu lu-
gar progre sivamentc a outros termo : ser1110. 110111e11 (cm Abelardo).
ter11111111s (com a lógica "termm1 ta" do século Xlll) e rcrmi1111s 1·ocalis
(com os nominalistas do sécu lo IV) ; o termo noémata foi substituído
por co11nptm. i11te11tumes ou por outras expressões mais próximas de
Aristóteles, tai · como a[!i!ctio11es ou passiones ww11ae, ou term11111s
111e11tali~· no sécu lo XIV; enfim, o próprio vocábulo ó111a deu lugar, por-
tanto, ares (coisa). Cf A. De Libera, la querei/e des 1111iversa11x... , 48 .
19 Um exemplo pm ileg1ado do liame entre a problemática dos Univer-
sais e a doutrina da categorias é a controvérsia entre Abclardo e Albcri-
co obre a categoria de .rnhstâncw. Ambos interpretam diferentemente o
texto de Boécio, e a posição que cada um assume mo. tra a ambigüida-
dcs do complexo aristotélico-neo-p latonico na história medieval dos Uni-
versai!>. f. J. \llarcnbon, Ví>cali.\111, Nominaltsm am/ tlw Co111111entane.1
011 the · aregorics 'jirm1the Ear/1er fo ef/t/1 Ce11111ry, Virnriw11 301 1( 1992)
51-6 l ; cf. também do mesmo autor, The Philvsophy of Peter Ahelard
ambndgc, ambndgc 111vcrsity Press, 1997.
27
veiculava, antes de tudo , uma te e vocalt ta (n minalista), ten-
dência confinnada pelo neoplatonismo tardio. problema
d Univcr!>ai não emerge, portanto, do projeto teórico da
1 agoge, que con i tia cm uma prop dêutica às Categoria de
Ari tólele , isto é, às cinco voze : gêncro (gé11os) , e pécic
(eidos) , diferença (diaphorá), próprio (ídio11) e acidente
( y mbebekó ). cndo as im, a célebre querela medieval do
Univcr ·ai abrange um complexo de qucslÕe!> que, ao longo
do movimento da exegese do conjunto do corpu~ aristo télico,
e concentraram em torno da J. agoge de Porfírio, cujo texto
foi apena um pretexto da "prob lemática". ão cria oca"º·
então de encontrar a contribuição específica de cada doutrina
- a de Platão, a de Ari tóteles e a de Porfírio cm uma rcd
complexa na qual, a partir de Boécio, cada posição filo ófica
perde paulatinamente seu teor originalr0
- 28 -
(discípulo de Proclo), que justapôs o opúsculo de Porfirio ao
estudo geral da lógica aristotélica. Nesta linha colocaram-se
também os comentadores gregos sucessivos: Olimpiodoro de
Alexandria do século VI d.C. (cujo comentário à Isagoge per-
deu-se) e seus discípulos Davi 23 , fíló ofo neoplatônico da se-
gunda escola de Alexandria que viveu entre os éculos VI e
VII d.c. , e Elia 24 , filósofo pertencente também à egunda es-
cola de Alexandria que viveu na segunda metade do século
VI d.C. Acre cente-se ainda um ulterior comentário à Isagoge,
atribuído por alguns a Elia , por outros a Davi. Daí o nome de
P eudo-Elias ou P eudo-Davi 25 .
A filo ofia árabe apreciou a interpretação unitária de Platão
e Aristótele feita por Porfirio em sua Isagoge: a pru1ir das tra-
duçõc de lbn al-Muqaffa e Al-Dima qi, aparecem numerosos
comentários arábc , do quai o mais importantes são os de
Al-Kindi, Al-Farabi eAvcrróis 2". Alsagog foi traduzida, como
dissemos, na Antigüidade tardia, ao siriaco e ao armênio.
29
No idenle latino-medieval, a lwgoge de P rfirio cxcr-
c u considerável influxo. Foi graças a Porfirio, através de seu
egundo tradutor latino, Boécio' 7 (o primeiro foi Mário
Vi torino, 370 d. .)28 , que o princípios da lógica penetraram
de de o século V, ant me m do renascimento do filosofia
d Aristótelc , no âmbito d pen ament medieval. . bbcsen
evidenciou que toda a obra lógicas pós-porfirianas, mt: -
mo quando e referem à obras lógica pré-porfírianas, de-
pendem e truturalmcnte de Porfirio 29 • No entrecruzamcnto de
duas tradi õe - platonismo e ari toteli mo Porfírio recu-
sará no limiar da lsagoge empenhar- e em uma pesquisa difi-
cil e formula questões que Pedro Abelardo conhecerá através
da tradução e dos comentários latinos de Boécio. Apre cu-
pação medieval acerca do tatus ontológico e.los Universais
deve-se às ob crvaçõe de Boécio ao t xto da I.<wf?;o ~e. e foi o
comentúrio de Boécio que produziu fundamentalmente na
Idade Média latina a querela do Univcrsai ·.
- 30 -
Se existe, portanto, acordo unânime em dizer que Porfirio
exerceu grande influxo na posteridade, o mesmo não acontece
nos tempos modernos. Ora, excetuando o trabalho de A. C.
Uoyd 30 , pouco foi feito para reconstruir o Porfüio lógico. Pres-
supondo que Porfirio tenha sido um pensador coerente, é pos-
sível integrar as observações de sua breve Isagoge e de seu
comentário às Categorias (que chegou até nós, exceto a últi-
ma parte, aquela concernente aos capítulos 10-15) com as dou-
trinas consignada cm obras mais vastas, infelizmente perdi-
das, porquanto cja possível recuperá-las através de autore
posteriorc . As obras perdidas tiveram influxo decisivo na in-
terpretação posterior de Ari tótele , mesmo que muito cedo
se tenha abandonado a leitura da obras de Porftrio, exceto
aquela que chegaram até nó . Quando autorc da Antígüida-
dc tardia e medievais e perguntavam " Que coisa pensa
Porfírio?" entravam freqücntemcntc em desacordo poi pro-
curnvam a respo ta ó nas obra concisas, onde os argumen-
tos eram deliberadamente mais implificados.
Porfirio considerou o Organon como um cur o si te-
mático de lógica c julgava que as Categorias diziam respei-
to à cxpressõe simples enquanto significativa , isto é, à
estrutura da realidade que no sa linguagem pres upõe, que
poderia não ser a estrutura que aceitamos enquanto pensado-
res metaff icos. A linguagem é fundamentalmente um instrn-
mento de comunicação que concerne ao mundo da experiên-
cia, e a lógica e tuda o modo pelo qual funciona esta comuni-
cação; cria errôneo criticar a lógica ari totélica por ser uma
má metafísica, já que nunca foi entendida ab olutamente como
31
uma meta 11. ica; por essa ratão, ·ustcnta Portirio, Ar istótelc ·
não errou cm con idcrar os indivíduos anlcri rcs aos uni-
vcr ai quando estabelecia a catcgona da substância, e bem
que um metafísico teria eguid a ordem invcr ·a. :
irrelevante, ao me m tempo, ·aber se e'Xrstem u não reali-
dade mctafí icas que correspondam aos universais da lóg,i-
ca. Porfírio julgava que cxi tiam tais realidades , ma<> pensa-
va também que a lógica funciona e cm ambos o<> casos.
ta epara ão radical entre lógica e ontologia não fi i devi-
damente compreendida ou aceita pelo autores cscolá<;tico
po teriores 31 •
Em re umo, a/. agoge é mai do que uma 'iimplc teHe-
munha da hi tória da doutrina , na qual encontraríamos um
quadro relativamente preci o acerca da evolução dos intcrc -
ses filosóficos da Idade Média, das mudança de estilo, dos
métodos e da linguagem teórica . etc .. Trata-se, enfim, de
um ''ob ervatório da· mentalidades teóricas. um revelador Jos
paradigmas cpistêmicos" 37 •
32