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Etarismo: preconceito em relação a idade existe


Francisco Iglesias ⋮ 4-5 minutes
⋮ 17/06/2021

(foto: Pixabay)

Muito se fala em racismo, homofobia e machismo no ambiente profissional quando


discutimos preconceito e acabamos não discutindo o etarismo (ageísmo ou idadismo),
discriminação por idade.

O etarismo atinge qualquer faixa etária, dos mais jovens aos idosos, mas na maior parte
das vezes é voltado a homens e mulheres mais velhos.

Estima-se que uma em cada duas pessoas no mundo tenha atitudes discriminatórias que
pioram a saúde física e mental de pessoas idosas. O idadismo é "uma grande peste à
escala mundial" que importa combater, afirmou o brasileiro Alexandre Kalache, ex-diretor
do Departamento de Envelhecimento e Saúde da Organização Mundial de Saúde (OMS).

No Brasil as empresas vivem um paradoxo e contradições entre o discurso e a prática. A


reforma da previdência exigirá que homens trabalhem até os 65 anos e as mulheres
até os 60 anos. Porém costuma-se desligar os profissionais com mais de 50 anos, de
maiores salários. Além de gerar discriminação e preconceito, esse costume acaba não só
por excluir, mas traz menos diversidade ao ambiente de trabalho.

Como toda população brasileira está envelhecendo muito rapidamente, creio que pode
haver esperanças disso mudar porque cada vez mais será necessário ter os mais velhos na
ativa. A solução é o inter-relacionamento geracional para atenuar o preconceito.
Profissionais mais velhos agregam ensinamento e experiência à equipe - um aprendizado
de mão dupla. 

Tenho uma teoria que o nosso processo de envelhecimento se inicia a partir dos vinte e
cinco anos. Passada essa idade, gradativamente começamos a sentir o efeito do tempo
em nosso físico. Devido a essa hipótese, nunca percebi o etarismo nas empresas que
trabalho e trabalhei. Apenas uma vez que o preconceito foi tão explícito que não tive como
não notar. Isso aconteceu durante uma entrevista numa multinacional chinesa, onde o
meu futuro chefe me perguntou se não haveria problema para mim, aos 49 anos e velho
daquele jeito, trabalhar com uma equipe bem mais jovem. Pensei eu: coitado, tão novo, tão
careta com essa mentalidade retrógrada.

Para escrever esse artigo resolvi fazer uma entrevista informal com amigos para saber se
eles já haviam se sentido discriminados pela questão da idade, imaginando escrever os
relatos colhidos aqui. Montei um questionário com as seguintes perguntas: Você já sofreu
discriminação pela idade? De que forma isso ocorreu? Quantos colegas com mais de 50
anos têm na sua empresa e /ou diretoria? Quais atividades eles exercem? Quanto ganham?

Acontece que, após a minha primeira entrevista, desisti. Ao ligar para a Claudia e colocar a
minha questão, ela de cara respondeu: "Quem te falou que sou velha?" Engoli seco, a
conheço desde os tempos do ensino fundamental e ela é dois anos mais velha que eu. E
concluí que com as mulheres a situação deva ser ainda pior por sentirem tripla
discriminação: idade, gênero e aparência. 

Ao me aprofundar sobre o tema etarismo me deparei com um novo termo, a "velhofobia".


A velhofobia descreve não só os preconceitos, estigmas e tabus associados ao
envelhecimento, mas também o pânico de envelhecer. Mas esse assunto ficará para um
próximo artigo. 

P.S. Não posso deixar de mencionar a grande repercussão na semana passada sobre a
resolução da Assembleia Mundial da Saúde da OMS, com entrada em vigor no 1o. de
janeiro de 2022, que definiu a velhice como "doença" sob o código MG2A. Então o meu
artigo da próxima quinzena será sobre esse tema, aceito contribuições respondendo a
enquete com ( ) sim ou ( ) não e comentários por favor: Velhice é doença? 

#velhicenãoédoença

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