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Medidas mitigadoras

A estação de tratamento de esgoto (ETE) trata-se de uma indústria de transformação. O


material de entrada corresponde aos dejetos de origem doméstica ou industrial. Os
produtos finais, por sua vez, consistem na parte líquida (água de reuso ou a parcela
tratada que pode ser direcionada aos mananciais) e sólida (lodo). Sucintamente, a
estação é composta de três estágios: primário (gradeamento, areação e caixa de
gordura), secundário (biodigestão e biofiltro). O funcionamento contínuo de uma ETE
é primordial já que a própria parada pode ocasionar impacto ambiental. Dessa maneira,
as ações preventivas devem ser priorizadas em detrimento das corretivas.
A seguir serão abordados possíveis impasses ambientais e suas soluções para os fatores:
água, solo, atmosfera, biota e preservação de componentes hidráulicos. Os órgãos
envolvidos na ação também serão explicitados.

 Dejetos de origem industriais


Fator envolvido: preservação de componentes hidráulicos.
Problema: o esgoto industrial difere do doméstico no que diz respeito à maior incidência
de produtos químicos ou flocos maiores. Dessa maneira, ao ser bombeado para a ETE
pode provocar danos aos equipamentos hidráulicos principalmente nas pás do rotor em
virtude tanto do desgaste físico ocasionado pelos impactos como pela corrosão.
Medidas mitigadora: as indústrias possuírem uma unidade de tratamento prévia.
Tipo de ação: preventiva.
Órgão responsável: setor industrial.

 Despejo inadequado de lixo


Fator envolvido: preservação e evitar o acúmulo de matéria nas grades.
Problema: a presença de lixo principalmente de grande porte além de dificultar o
escoamento pode ocasionar entupimento o que contribui para a ocorrência de enchentes
que é um problema frequente no munícipio de Aperibé [1].
Medidas mitigadora: criação de pontos de coleta de lixo e conscientizar a população
local sobre a importância do descarte correto.
Tipo de ação: preventiva.
Órgão responsável: prefeitura e a população.

 Poluição sonora devido aos equipamentos


 Alteração da concentração hidrogênico da água (PH)
Fator envolvido: água
Problema: o potencial hidrogênio permite aferir a acidez, alcalinidade e neutralidade do
efluente. O PH do esgoto varia entre 6,5 e 7,5 enquanto que esgotos velhos ou sépticos
apresenta valor inferior à 6. Sendo assim, deve-se ser ter o devido controle do PH do
produto final já que esse interfere na vida aquática (PH na faixa de 6 a 9) [2]. Segundo a
CONAMA 430, o efluente lançado deve estar entre 5 a 9 [3].
Medidas mitigadoras: o controle do valor do PH é de suma importância nos estágios da
ETE. Além da questão da preservação da vida aquática, o PH baixo provoca corrosão
dos dispositivos, pás das bombas por exemplo, enquanto que o PH elevado aumenta a
probabilidade de incrustações nas tubulações e peças [2] e [4]. O PH pode ser
controlado por meio da análise química que calcula a quantidade de soluções
alcalinizantes (hidróxido de sódio – NaOH ou hidróxido de cálcio Ca(OH)2 ) ou
floaculantes que devem ser adicionadas na massa [5]. A quantidade de matéria orgânica
também confere acidez à amostra. Graças ao avanço tecnológico, o controle do PH pode
ser automatizado [6].
Tipo de ação: preventiva e corretiva.
Órgão responsável: prefeitura, mais especificamente o setor químico.

 Eutrofização
Fator envolvido: água e ar.
Problema: a presença excessiva de nutrientes (nitrogênio – N, fósforo – P e potássio –
K) provoca desequilíbrio no ecossistema do local no qual é despejado a água tratada. O
fito plâncton (organismos fotossintetizantes) alimentam-se desses nutrientes e como
consequência há um aumento na população só que devido a competição desenfreada a
taxa de mortalidade também aumenta. Visualmente, na superfície aparece uma camada
verde. Os seres decompositores (seres anaeróbicos irão degradar os fito plânctons
mortos), no entanto nesse processo há a diminuição de oxigênio na água. Esse fato
acarreta na morte de organismos aeróbicos, crustáceos e peixes por exemplo. O mal
cheiro característico advém do metano e enxofre produzido pelos micro-organismos
anaeróbicos durante o processo de decomposição.
Medidas mitigadoras: a solução preventiva está presente no controle de nutrientes do
produto final. Isso pode ser feito na etapa de biorreatores da ETE, as bactérias
conseguem a retirada de grande quantidade de fosfato da massa [7]. Já o método
corretivo consiste na biomanipulação ao aumentar a comunidade zoo planctônica, a
população fito planctônica é reduzida [8].
Tipo de ação: preventiva e corretiva.
Órgão responsável: prefeitura e Secretária do Meio Ambiente.

 Biomagnificação
Fator envolvido: água e solo.
Problema: a biomagnificação (magnificação trófica) está relaciona à presença de metais
pesados (Prata – Ag, Arsênio – As, Cádmio – Cd, Cobalto – Co, Cromo – Cr, Cobre –
Cu, Mercúrio – Hg, Níquel – Ni, Chumbo – Pb, Antimônio – Sb, Selênio – Se, Zinco –
Zn) no corpo d`água final que ao serem ingeridos pelos animais aquáticos contamina
toda a cadeia alimentar [9].
Medidas mitigadoras: os efluentes industriais, de lavouras e de mineração contém
concentrações mais alarmantes dessas substâncias. Novamente, o correto seria que esses
despejos fossem direcionados para uma unidade de tratamento preliminar antes de
adentrar na estação pois necessitam de um tratamento especial. Os métodos mais
comuns utilizados para a eliminação de metais pesados são: osmose reversa,
oxirredução, adsorção em carvão ativado ou alumina e precipitação por via química
[10].
Tipo de ação: preventiva.
Órgão responsável: setor industrial.

 Poluentes voláteis
Fator envolvido: ar.
Problema: durante o processo de tratamento do esgoto ocorre geração de odores,
aerossóis, organismos patogênicos, liberação de gases do efeito estufa (metano, óxido
nitroso e materiais particulados). Os fenômenos de transportes atuantes nos compostos
voláteis são a difusão (a direção é da região mais concentrada para a de menor
concentração) e convecção (correntes de ar sobre a amostra).
Medidas mitigadoras: unidades de gradeamento fechado com dispositivos que permitam
a exaustação controlada e disposição adequada dos gases. A área dos reatores biológicos
apresenta grande formação de odores, portanto o recomendado é que haja cobertura.
Além disso, é necessário cobrir os sistemas de saída de forma que o gás seja recolhido e
descartado em local adequado. O ideal é que tenha um sistema de tratamento de gases
atuando em conjunto com o ETE [2].
Tipo de ação: preventiva.
Órgão responsável: prefeitura e a Secretária de Meio Ambiente.

 Metano (CH4) e gás carbônico (CO2)


Fator envolvido: ar.
Problema: parcela considerável do metano (CH 4) e gás carbônico (CO2) é produzido por
meio da decomposição anaeróbica de resíduos orgânicos (metanogênese) que ocorre nos
reatores UASB (Upflow Anaerobic Sludge Blanket – Reator anaeróbico de fluxo
ascendente) [11]. Esses gases são responsáveis pelo aquecimento global.
Medida mitigadora: instalação de filtros e sistemas de captação dos gases nas regiões de
saída. O metano (CH4) pode ser reaproveitado pois sua queima gera energia.
Tipo de ação: corretiva.
Órgão responsável: prefeitura.

 Controle da vazão do escoamento na tubulação


Fator envolvido: água.
Problema: velocidades elevadas na tubulação podem favorecer a ocorrência de
entupimentos, além de desgastar as paredes. O preferencial é que o regime de
escoamento seja laminar pois teoricamente os maiores valores de velocidade estarão
presentes na região central e a velocidade na parede é nula.
Medida mitigadora: adoção de medidores de vazão em trechos estratégicos além de
redutores de vazão.
Tipo de ação: corretiva e preventiva.
Órgão responsável: prefeitura.

 Presença de fármacos no efluente


Fator envolvido: água.
Problema: as substâncias contidas nos medicamentos estão presentes na excreção
humana e interferem no sistema endócrino da vida aquática.
Medida mitigadora: não há um estágio na ETE que permita a remoção dos fármacos.
Para tal, necessita-se de processos externos tais como: ozonização, oxidativos
avançados, reatores com lâmpadas ultravioletas e adsorção em carvão ativada. A
população do munícipio e Aperibé é considerada pequena então não há motivos para
adotar essas medidas mais específicas.
Órgão responsável: setor químico.

 Aumento da turbidez da água


Fator envolvido: água.
Problema: substâncias presentes na superfície da água afeta a passagem de luz o que
prejudica a vida aquática principalmente no que diz respeito aos seres fotossintetizantes.
Medida mitigadora: para combater a turbidez é necessário estar atento a correta
realização da etapa de decantação.
Órgão responsável: prefeitura.

 Bioaerossóis
Fator envolvido: ar.
Problema: nos tanques de aeração ocorre dispersão considerável de bactérias e fungos
pelo ar, principalmente quando o tanque de aeração recebe oxigenação via agitação
mecânica do esgoto. Esse fato é prejudicial à saúde dos trabalhadores devido a inalação
de microrganismos aerolizados.
Medida mitigativa: instalação de um sistema de aeração difusa.
Órgão responsável: prefeitura.

 Passagem de corpos robustos pelas grades


Fator envolvido: água.
Problema: a transferência indesejada de corpos maiores irá degradar os equipamentos
presentes nos estágios seguintes. Além de prejudicar a qualidade do produto final.
Medida mitigadora: dimensionamento correto das grades e inspeção para verificar se há
descontinuidade.
Órgão responsável: prefeitura e setor de obras.

 Instalação dos desarenadores


Fator envolvido: ar.
Problema: a retirada da areia do esgoto é fundamental nos desareadores pois a presença
ocasiona erosão nos equipamentos e com respeito ao recurso hídrico possibilita a
formação de assoreamento no local despejado [2].
Medida mitigadora: a instalação ode aerenadores em áreas abertas e o reaproveitamento
da areia porque esta pode ser utilizada na própria ETE ou para aterros próximos.
Órgão responsável: prefeitura e setor de obras.
 Instalação dos decantadores
Fator envolvido: água.
Problema: o ambiente da inserção deve ser inspecionado para evitar a ocorrência de
atividade microbiana e que da de pessoas e animais.
Medida mitigadora: processos físicos que combatem a atividade microbiana e uso de
telas e cercas.
Órgão responsável: prefeitura e setor de obras.

 Remoção de gordura e sólidos flutuantes (escuma)


Fator envolvido: água.
Problema: caso a escuma seja jogado em corpos hídricos receptores haverá a
mortalidade de peixes devida a ausência de oxigênio [2].
Medida mitigadora: operações de limpezas periódicas.
Órgão responsável: prefeitura e Secretária do Meio ambiente.

Instalação dos leitos de secagem


Fator envolvido: água.
Problema: esse local promove a secagem da massa de lodo que por sua vez libera
odores e se torna foco de atração de vetores [2].
Medida mitigadora: dimensionamento adequado do tanque de armazenamento.
Órgão responsável: prefeitura, setor de obras e Secretária do Meio Ambiente.

 Instalação dos filtros biológicos


Fator envolvido: água.
Problema: se o projeto for indevidamente executado proporciona a geração de maus
odores e a proliferação de vetores.
Medida mitigadora: cálculo para a determinação da profundidade correta e do meio
filtrante.
Órgão responsável: prefeitura e Secretária do Meio Ambiente.

 Instalação do flotador
Fator envolvido: água.
Problema: qualidade do lodo que passa por essa etapa.
Medidas mitigadoras: cálculo apropriado da massa de lodo em função da vazão e evitar
a contaminação do corpo receptor.
Órgão responsável: prefeitura e setor de obras.

 Instalação dos digestores


Fator envolvido: água.
Problema: as bombas de recirculação podem ser focos de vazamento de lodo [2].
Medidas mitigadoras: compra correta da bomba em função da vazão e da altura em que
se deseja elevar o fluido, inspeção dos componentes mecânicos que a compõem pois
estão sujeitos a fadiga mecânica.
Órgão responsável: setor de gerenciamento de equipamentos.

 Disposição do lodo de esgoto


Fator envolvido: água.
Problema: os destinos possíveis do lodo após a passagem pela ETE são: descarga
oceânica, incineração, aterro sanitário, disposição superficial no solo (landfarming),
recuperação de áreas degradadas ou reciclagem agrícola.
Medidas mitigadoras: todas essas opções têm um impacto ambiental. A que causa
menos prejuízo é o aproveitamento do lodo como insumo agrícola.
Órgão responsável: prefeitura e Secretária do Meio Ambiente.

 Qualidade da produção
Fator envolvido: água.
Problema: garantia que a transformação da matéria prima (esgoto) esteja de acordo com
as leis ambientais.
Medidas mitigadoras: instalação de dois pontos de amostragens na entrada e saída da
estação e definição da periodicidade das coletas.
Órgão responsável: prefeitura e Secretária do Meio Ambiente.

Bibliografia
[1] PLANO MUNICIPAL DE SANEAMENTO BÁSICO DE APERIBÉ – Tomo I:
Relatório Síntese
[2] LINS, GUSTAVO – Impactos Ambientais em Estações de Tratamento de Esgotos
(ETEs)
[3] MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE, CONSELHO NACIONAL DO MEIO
AMBIENTE – Resolução N°430, de 13 de maio de 2011
Disponível em: http://www2.mma.gov.br/port/conama/legiabre.cfm?codlegi=646
Acessado em: 20 de outubro de 2020
[4] ACQUA EXPERT – PH você sabe para que serve este monitoramento na sua ETE?
Disponível em: https://acquaexpert.com.br/voce-sabe-para-que-serve-o-monitoramento-
do-ph-na-sua-ete/
Acessado em: 20 de outubro de 2020
[5] ÁGUAS CLARAS ENGENHARIA – Estação de tratamento de efluente industrial:
saiba como funciona
Disponível em: https://aguasclarasengenharia.com.br/como-funciona-uma-estacao-de-
tratamento-de-efluente-industrial/
Acessado em: 20 de outubro de 2020
[6] SAMPAIO, NILO; LUCENA, SAMUEL – Controle automático de PH de
estações de tratamento de água para abastecimento humano
Disponível em: https://www.aedb.br/seget/arquivos/artigos05/26_SEGET2005-
ARTIGONILO.pdf
Acessado em: 20 de outubro de 2020
[7] ALMEIDA, LUIZ – Eutrofização
Disponível em: https://microbiologia.icb.usp.br/cultura-e-extensao/textos-de-
divulgacao/bacteriologia/microbiologia-ambiental/eutrofizacao/
Acessado em: 21 de outubro de 2020

[8] ALMADA, ELLIANE – Proposta de mitigação da eutrofização na lagoa do


vigário-RJ através da macrófita Eichhornia crassipes: de Praga a fitorremediadora.
Disponível em:
http://uenf.br/posgraduacao/ecologia-recursosnaturais/wp-
content/uploads/sites/7/2019/02/Tese-Doutorado-Eliliane-FINAL.pdf
Acessado em: 21 de outubro de 2020
[9] MONTONE, ROSALINDA – Bioacumulação e biomagnificação
Disponível em: http://www.io.usp.br/index.php/oceanos/textos/antartida/31-
portugues/publicacoes/series-divulgacao/poluicao/811-bioacumulacao-e-
biomagnificacao
Acessado em: 21 de outubro de 2020
[10] REGINA, MÔNICA; NOVAES, AMANDA; GUARINO, ALCIDES –
Remoção de metais pesados de efluentes industriais por aluminossicatos
Disponível em:
https://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-
40422002000700015&lng=pt&nrm=iso&tlng=pt
Acessado em: 21 de outubro de 2020
[11] ÁGUAS CLARAS ENGENHARIA – Reator UASB: Saiba o que é e como
funciona
Disponível em:
https://aguasclarasengenharia.com.br/como-funciona-reator-uasb/#:~:text=O%20reator
%20UASB%20%E2%80%93%20Upflow%20Anaerobic,estabiliza
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Acessado em: 21 de outubro de 2020

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