Você está na página 1de 20

RECREAÇÃO

E
LAZER

Patrick Gonçalves
As diferentes atividades
na natureza, explorando
ambientes aquáticos
e terrestres
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendizados:

„„ Classificar as principais atividades na natureza e suas potencialidades


como forma de lazer.
„„ Relacionar as atividades de lazer aquáticas com as potencialidades
de acesso.
„„ Reconhecer os ambientes e as possibilidades de desenvolver atividades
de lazer na natureza.

Introdução
O Brasil apresenta grandes possibilidades de desenvolver atividades
de lazer em meio à natureza. A diversidade de paisagens e de recursos
naturais fazem do País um dos destinos favoritos de turistas que buscam
desfrutar de momentos de descanso ou de desafios que as experiências
em ambientes preservados podem oferecer.
Entretanto, alguns desafios ainda se encontram no avanço da urba-
nização brasileira. O crescimento econômico da última década desen-
cadeou o desmatamento e a poluição de rios e lagos, restringindo as
possibilidades de espaços para a prática de lazer em ambientes naturais.
Ainda, os avanços desenfreados do turismo e a especulação imobiliária
em áreas que tenham paisagens belas têm impossibilitado o acesso a
todos, constituindo numa privatização de espaços públicos.
Neste capítulo, você vai estudar as principais características do lazer
na natureza e a possibilidades de desenvolver as mais diversas atividades,
além de entender o processo de urbanização e especulação imobiliária
2 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

e suas implicações ao acesso democrático de espaços que dispõem de


abundantes recursos naturais e, ainda, conhecer alguns lugares e espaços
que têm ganhado destaque na exploração de atividades naturais.

Atividades na natureza como forma de lazer


Atualmente, o mundo é caracterizado pela velocidade e intensidade que as
pessoas vivem suas vidas. Os avanços tecnológicos trouxeram, como elemento
ao cotidiano, a possibilidade de desenvolver várias tarefas ao mesmo tempo,
relacionar-se com muitas pessoas e ter acesso a muitas informações que tomam
as horas e os dias de praticamente todos que vivem os efeitos de uma sociedade
globalizada (VIRILIO, 1998; SEVCENKO, 2001; SANTOS, 2001). Assim, o
que vemos é que todas as ações sociais, como o lazer, têm se transformado,
acompanhando esses novos modos de experimentar os tempos e espaços atuais.
Dentro desse contexto, as indústrias que oferecem lazer e entretenimento
parecem ter acompanhado os avanços tecnológicos da nossa sociedade. Cada
vez mais percebemos formas de diversão e atividades voltadas ao descanso
e descontração que se dão por meio de recursos digitais e que apresentam
a flexibilidade também vista no mundo moderno, sendo desenvolvidas a
qualquer tempo, em qualquer espaço como os jogos digitais em smartphones
utilizados dentro do ambiente de trabalho, no intervalo entre uma tarefa e outra.
Contudo, ainda há pessoas que utilizam atividades que se afastam dos avanços
tecnológicos para se ocuparem nos seus momentos de lazer. As atividades na
natureza parecem ir na direção dos anseios de quem quer fugir às implicações
que o tempo exerce, na forma como se expressa na contemporaneidade, em
que o trabalho está cada vez mais presente no cotidiano das pessoas, tendo
que resolver questões e tarefas laborais nas suas residências através de e-mails,
mensagens por aplicativos e telefone. Entretanto, nessas atividades, ainda
encontramos elementos que parecem ditar o ritmo que a sociedade atual vem
exercendo nas relações que cercam cada indivíduo. Dentro dessa perspectiva,
Gomes e Pinto (2009, p. 100) afirmam:

O lazer não é um fenômeno isolado: ele se manifesta em diferentes contextos


de acordo com os sentidos e significados dialeticamente produzidos/repro-
duzidos pelas pessoas nas suas relações com o mundo. Assim, ao propiciar
o desfrute da vida no momento presente, o lazer dialoga com o contexto e
reflete as ambiguidades e contradições nele presentes. Neste âmbito, por um
lado, infelizmente o lazer pode contribuir com a manutenção do status quo,
reforçar estereótipos e valores excludentes, consumistas e alienantes.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 3

Nesse sentido, ainda que as atividades na natureza possam servir de fuga


a um ambiente mais ameno e pacato, geralmente os sujeitos que as procuram
são tomados por uma possibilidade de busca pela aventura, ainda que seja
simbólica. Ou seja, as atividades físicas na natureza proporcionam um momento
de vivenciar algo novo, em que os riscos, embora possam ser mínimos, não
são planejados. Por exemplo, um simples passeio em um parque desconhecido
pode suscitar a imaginação de que aqueles que o visitam estão suscetíveis às
intempéries que a natureza pode oferecer. No mesmo sentido, aqueles que
praticam corridas de aventura são tomados por uma sensação de luta pela
própria sobrevivência, construindo um imaginário acerca da situação na qual
se encontram.
Com isso, ainda que possa passar despercebido, as atividades na natureza
não oportunizam apenas um momento agradável, que não tem objetivos espe-
cíficos, mas contempla aspectos que podem estar relacionados às expressões
inconscientes que partem da cultura vivida por cada um e que constituem
um paradoxo entre o estilo de vida que se demonstra na ação concreta do dia
a dia e aquele que se almeja (GYIMÓTHY; MYKLETUN, 2004; WALLE,
1997). Somado a esse fenômeno, há também a sensação de que momentos
memoráveis devem ser vividos por cada um de nós, sendo comum que os su-
jeitos encontrem nas atividades naturais possibilidades de vivenciar e registrar
momentos que se demonstram como únicos, sendo este um movimento que
tem marcado a sociedade.
Na busca por tais momentos, há a exploração de todas as possibilidades que
a diversidade das características geográficas de cada localidade pode oferecer.
Assim, as atividades na natureza desafiam a criatividade de praticantes e de
empresas que têm se dedicado a proporcionar momentos de entretenimento e
de conexão entre o ser humano e os demais elementos e seres que compõem o
nosso planeta. Dentre essa infinidade de possibilidades, podemos classificar
as atividades naturais como sendo terrestres, aquáticas, aéreas e subterrâneas
(TULIK, 1992).

Atividades terrestres
As atividades naturais terrestres buscam a contemplação e a integração com
um ambiente que geralmente foge ao fluxo de informações e de avanços
tecnológicos que ditam a sociedade contemporânea. Além disso, possibilitam
a vivência de algo novo, que não se encontra corriqueiramente inserido no
cotidiano vivenciado nas grandes cidades. Algumas dessas atividades pro-
4 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

porcionam momentos de relaxamento e outras podem promover a busca por


aventuras, ocasionando momentos de tensão diante dos possíveis riscos que
podem se apresentar. Dentre essas atividades, podemos destacar:

„„ Atividades de integração: aquelas que não têm um objetivo específico


de contemplação da natureza, mas uma forma de reunião entre amigos
e familiares em locais que fogem às características urbanas, como
acampamentos e piqueniques.
„„ Atividades de observação: consistem na contemplação de paisagens,
fauna e flora que têm caraterísticas peculiares, como forma de apenas
observar ou realizar o registro fotográfico.
„„ Montanhismo e alpinismo: o montanhismo consiste na subida e esca-
lada de montanhas e não necessita de muito esforço físico. Já o alpinismo
consiste na subida de grandes montanhas que ultrapassam os 2.500m
de altura, necessitando de um condicionamento físico maior.
„„ Orientação: atividades que, por meio do uso de bússolas e mapas, pro-
curam chegar a um destino que tem alguma especificidade de interesse
do praticante, como uma lagoa, uma gruta ou um rio. Além de ser uma
opção de lazer, é uma ótima oportunidade de desenvolver propostas
pedagógicas interdisciplinares, uma vez que aborda diversos saberes
de diversas áreas, como interpretação de enunciados, relevância das
questões ambientais, reconhecimento de espécies, astronomia, uso de
cálculos matemáticos relacionados às medidas de tempo, distância e
coordenadas, entre outras possibilidades.
„„ Mountain bike: consiste em atravessar, de bicicleta, vegetações diversas
em ambientes cujo solo apresenta declives e aclives acentuados.
„„ Passeios montados: são trilhas e passeios em animais de montaria,
como cavalos e jegues.
„„ Passeios motorizados: são aqueles realizados em veículos automotores,
como os safaris a bordo de caminhões e jipes.
„„ Rapel: consiste na descida de desfiladeiros suspenso por uma corda,
possibilitando, durante a descida, a contemplação da paisagem.
„„ Trekking: são passeios e caminhadas por trilhas e picadas abertas,
por diferentes tipos de vegetação que encontram seus aspectos nativos
preservados e, ainda, vislumbrando cachoeiras, grutas, rios, entre outros
elementos da natureza.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 5

As atividades naturais nem sempre buscam a integração com outras formas


de vida ou a contemplação de uma grande diversidade de fauna e flora. Os
passeios a bordo de veículos são um exemplo disso, pois muitas vezes são
realizados em ambientes áridos, como dunas e desertos.

Atividades aquáticas
As atividades aquáticas são aquelas que se desenvolvem em ambientes aquáticos
naturais, como rios, lagos, lagoas, corredeiras e mar. Geralmente necessitam
de equipamentos e de domínio intermediário ou avançado de técnicas. Dentre
essas atividades, algumas ganham maior destaque:

„„ Canyoning ou canionismo: é uma atividade parecida com o rapel,


porém a descida se dá pelo interior de cachoeiras e quedas d’água.
„„ Canoagem e rafting: são descidas de águas turbulentas a bordo de
caiaques e botes.
„„ Mergulho recreativo: engloba banhar-se ou nadar em águas natu-
rais, como um banho de mar, de rio ou de cachoeira. Essa atividade
pode ser considerada mais democrática em meio aquático, tendo em
vista que dispensa equipamentos especializados. Ainda que a cultura
sugira modos de ser vestir durante o mergulho recreativo, ele pode ser
realizado utilizando qualquer roupa ou, até mesmo, sem elas, no caso
das praias de nudismo. Assim, essa atividade geralmente não envolve
gastos diretos ou indiretos, sendo uma possibilidade de lazer em meio
aquático para grande parte das pessoas, podendo ser lugar de deleite
para moradores próximos ou de atividades pedagógicas para escolas
de regiões onde existem rios, lagos e mar.
„„ Passeios: consistem em trajetos realizados a bordo de barcos, escunas
e jet-skis, por exemplo, com o objetivo de desfrutar das paisagens ofe-
recidas pela natureza, como de animais que vivem predominantemente
em ambientes aquáticos, como jacarés.
„„ Snorkeling: trata-se de mergulho com equipamentos específicos para
vislumbrar a flora e a fauna que constituem os ambientes aquáticos.
„„ Stand up paddle: esta prática tem ganhado força nos últimos anos.
Consiste em flutuar na água, de joelhos (iniciantes) ou em pé sobre
uma prancha, utilizando um remo para locomover-se em locais de
correntes pouco agitadas, como lagos, lagoas e regiões marítimas com
poucas ondas.
6 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

„„ Surf e windsurf: são atividades realizadas em cima de uma prancha


sobre a água, realizando movimentos que são proporcionados pela ação
das ondas e/ou dos ventos.
„„ Wakeboard: é uma atividade parecida com o windsurfe. Porém, os
movimentos são realizados por meio da tração por uma lancha ou jet-ski.

Atividades aéreas
As atividades aéreas geralmente envolvem riscos. Para serem praticadas, então,
necessitam de equipamento especializado e um grau de conhecimento técnico
considerável. Muitas dessas atividades, por apresentarem esses fatores e ao
serem executadas por iniciantes, devem ser acompanhadas por pessoas que
já têm vasta experiência na atividade em questão. Dentre essas modalidades,
algumas ganham maior destaque:

„„ Asa-delta ou voo livre: consiste em sobrevoar a bordo de estruturas


com uma vela feita de tecidos que garantem a sustentação aérea. Nessas
atividades, não há uso de motorização, sendo as correntes e temperaturas
do vento que sustentam o piloto no ar.
„„ Balonismo: o balão é uma aeronave que, por meio da combustão de
alguns elementos, provoca o aquecimento do ar no interior de seu
envelope (balão), fazendo com que toda a estrutura suba.
„„ Paraquedismo e parapente: consistem na queda a partir de grandes
altitudes, geralmente a partir de aeronaves, em que uma estrutura de
tecidos realiza a resistência ao ar, fazendo com que a queda seja a uma
velocidade controlada.
„„ Bungee jumping: praticado por meio de saltos em que os tornozelos
ficam presos a uma corda elástica que tem a outra extremidade a uma
estrutura fixa.

Além das atividades terrestres, aquáticas e aéreas, ainda existem as atividades subter-
râneas, com a incursão em cavernas e grutas. Evidentemente, durante a realização de
atividades naturais, podemos encontrar atividades que têm características diferentes,
como realizar uma trilha de longos dias (atividade terrestre) ou entrar em uma caverna
(atividade subterrânea) para banhar-se em águas em seu interior (atividade aquática).
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 7

Atividades aquáticas e possibilidades de acesso


Como percebemos, as atividades naturais são diversas. Algumas delas ne-
cessitam de um investimento financeiro maior, tendo em vista que os custos
com aluguéis ou compras de equipamentos e a contratação de aulas ou algum
profissional qualificado para acompanhar as atividades podem ser, às vezes,
necessários. Por outro lado, muitas dessas atividades podem ser realizadas
sem investimento financeiro algum, constituindo uma certa democratização
no lazer em ambientes naturais.
Neste aspecto, cabe ressaltar que o lazer é um doa direitos preconizados
na Constituição Federal (BRASIL, 1988), sendo dever do Estado garantir o
acesso a todos os cidadãos. Podemos dizer que, durante muito tempo, a po-
pulação obtinha locais em abundância para aproveitar os momentos de lazer
de forma segura e saudável. Contudo, os avanços industriais e populacionais
ocasionados nas últimas décadas, especialmente a partir da década de 1970,
no caso do Brasil, têm provocado mudanças geográficas que resultam na
diminuição dos espaços voltados ao lazer junto à natureza.
O que podemos perceber é que muitos parques e áreas pouco habitadas
que antigamente constituíam áreas de lazer, após os processos de urbaniza-
ção, passaram a não existir mais. De tal forma que os únicos espaços que
ainda têm mantido certas características nativas são os ambientes aquáticos.
Embora alguns lagos, lagoas, rios e parte da orla marítima se encontrem
poluídos e ocasionando riscos à saúde humana, muitos deles ainda perduram
após todos os processos que as cidades sofreram (LOPES; JESUS, 2017). De
fato, a quantidade de recursos hídricos propícios ao lazer de forma gratuita
no território brasileiro ainda é bastante ampla. Muitos são os rios, os lagos,
as cachoeiras e as costas marítimas que têm proteção contra a exploração e
a especulação imobiliária, garantindo o acesso gratuito a ambientes naturais
preservados para muitas pessoas.
Assim, é bastante comum que muitas pessoas ainda almejem, em seus
momentos de lazer e principalmente nas férias de verão, aliar atividades de
descanso às atividades que possam proporcionar o alívio ao calor intenso. Este
processo de busca recreacional em águas balneáveis vem de muito tempo.
Ainda na Antiguidade, o filósofo Tales de Mileto, que viveu no século VI a.
C., se referia à água como a origem de tudo que existe no universo, sendo esta
uma das expressões materiais do divino. Um século mais tarde, Hipócrates
evidenciava por meio de suas obras literárias os benefícios do contato humano
com a água.
8 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

Entretanto, a utilização das águas como forma recreacional, da qual se tem


registro, só ocorreu durante o Império Romano, entre os séculos I a III d.C.
Nesse período, o acesso a locais destinados a banho, como termas, ganharam
espaço entre a população (LOPES; JESUS, 2017). Nessa época, os momentos
de lazer eram predominantemente noturnos, quando as termas reuniam gru-
pos, sendo utilizadas como espaço de convívio social aos sujeitos de todas as
classes sociais que não fossem escravos.
Na Idade Média, várias foram as manifestações a respeito da utilização
da água. Em determinado período, as influências religiosas apontavam que
a sujeira corporal era sinal de santidade, de forma com que as pessoas não
deveriam tomar banho com tanta frequência (LOPES; JESUS, 2017). Também
houveram épocas em que a água era utilizada como forma de purificar a alma
e limpar o corpo para a apresentação aos deuses. Tais práticas também foram
influenciadas com o acometimento de doenças contagiosas, uma vez que se
acreditava, em determinado período, que a abertura dos poros provocada pelo
vapor facilitava a contração de algumas moléstias que se caracterizaram como
surtos epidêmicos na Europa.
No Brasil, o uso recreacional, além daqueles típicos em ambientes naturais,
se deu em casas de banho, ainda no período colonial, pelas elites econômicas.
A cultura de utilização desses espaços foi herdada dos europeus e persistiu
até o século XIX, quando o abastecimento passa a ser realizado por meio de
canos (LOPES; JESUS, 2017).
Dessa forma, a construção histórica do uso da água como forma de lazer
no Brasil remonta à longa data. Aliado a isso, o clima de temperaturas eleva-
das e a grande orla marítima que compõem o território brasileiro edificaram
ao longo dos anos uma cultura voltada ao lazer em ambientes naturais que
possibilitem atividades aquáticas. Assim, é comum vermos famílias inteiras
se deslocando a cidades e municípios que possibilitam o acesso direto a algum
lugar que proporcione a balneabilidade.Os espaços cada vez mais escassos
para a prática de atividades de lazer aquáticas e a grande demanda de inte-
ressados em desfrutar de tais momentos tão logo fez o setor turístico voltado
a essas áreas avançar, estabelecendo uma indústria cada vez mais lucrativa
(BAUDRILLARD, 2007).
As famílias economicamente favorecidas procuram e desfrutam de locais
que possibilitem o contato com a natureza e onde a paisagem ainda apresente
alguns aspectos intactos, aliadas às belezas que o ambiente natural pode
oferecer, fugindo das paisagens que seu cotidiano impõe. Por outro lado,
famílias menos favorecidas economicamente têm a possibilidade de desfrutar
de seus momentos de lazer em locais que não têm tantas riquezas naturais.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 9

Com o aumento da indústria turística e da procura por locais de lazer


com boa infraestrutura, cresce também a especulação imobiliária por áreas
privilegiadas próximas ao mar. Neste sentido, as grandes metrópoles brasileiras
que se encontram próximas à orla marítima já não têm mais características
que não aquelas que ditam uma sociedade urbanizada. Com isso, nasce a
procura por praias menos movimentadas, para onde o setor da construção
civil tem voltado seus interesses. Por meio de parcerias com as pequenas
prefeituras, que enxergam na construção de novos imóveis uma possibilidade
de maior arrecadação de impostos, ou até mesmo atuando de modo irregular,
as construtoras avançam sobre dunas, comprometendo a flora e a fauna locais,
implementando condomínios luxuosos para aqueles sujeitos economicamente
favorecidos (PARENTE, 2012).
Uma das estratégias desse setor para atrair investidores é elaborar formas
que, de algum modo, impedem o acesso àqueles que não adquiriram um
imóvel no novo empreendimento. Ganham forma, assim, ainda que o mar seja
um espaço público e deva seguir um caráter democrático, praias particulares,
restringindo o acesso a alguns moradores ou turistas.
Assim, ainda que os recursos naturais no Brasil sejam fartos, o que perce-
bemos é que locais onde existem riquezas naturais, de modo geral, se tornam
locais de lazer para as pessoas que fazem parte de uma certa elite econômica.
Com a exploração do turismo nessas regiões, é comum a instalação de parques,
públicos ou privados, que cobram pelo acesso e infraestrutura e as diárias dos
serviços de hospedagem elevadas (PARENTE, 2012). Do mesmo modo, há
uma ampliação na construção de residências em condomínios de luxo nesses
locais pouco habitados e que poderiam oferecer uma opção de lazer junto à
natureza de acesso público, mas que visam a proporcionar aos moradores as
experiências de viver em locais afastados da urbanização, unindo o conforto
de seus lares às possibilidades próximas de opções de lazer naturais.
No mesmo sentido, as construções residenciais pensadas como bairros
planejados também aumentam nas grandes metrópoles. Tais empreendimentos
são planejados para fornecer o máximo de conforto para seus condôminos,
elaborando, entre outros espaços, praças e pequenos parques no seu interior
(PARENTE, 2012). Assim, os locais públicos passam a ser menos frequen-
tados, servindo de abrigo aos sujeitos que vivem as mazelas da sociedade
contemporânea, como moradores de rua e criminosos, por exemplo, que
acabam afastando os demais frequentadores.
Contudo, cabe salientar que há tentativas dos Poderes Públicos de propor-
cionar opçõesgratuitas de lazer na natureza. Algumas tentativas isoladas diante
da especulação imobiliária que ocorre nas praias de belas paisagens tentam
10 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

ocupar esses espaços com habitações voltadas aos economicamente desfavo-


recidos, garantindo uma diversidade de ocupação nesses locais (PARENTE,
2012). Também há a demarcação de zonas de proteção ambiental, impedindo
a exploração dos locais e garantindo a manutenção das especificidades locais
no que se referem à paisagem, à flora e à fauna.
Assim, é possível pensar que as possibilidades de acesso às atividades de
lazer na natureza têm se modificado ao longo dos anos. Ainda que seus recursos
essenciais, que acomodam a contemplação, o descanso e o entretenimento,
sejam proporcionados de forma gratuita, essas opções ainda encontram alguns
desafios que passam pela atuação efetiva do Poder Público para democratizar
essa forma de lazer para todos os cidadãos.

Ambientes e possibilidades das atividades


de lazer na natureza
Como percebemos ao longo deste capítulo, as possibilidades de desenvolver
atividades de lazer na natureza são diversas. Os avanços da urbanização e a
especulação do turismo e do setor imobiliário têm dificultado o amplo acesso
a esses locais (REIS; LIMA; GOMES, 2008). Entretanto, as pequenas áreas
urbanas em que ainda há o predomínio de vegetações, que abrigam uma
diversidade de fauna e de flora, torna possível desenvolver práticas naturais.
Assim, também é possível pensar que os espaços, como essenciais ao lazer,
devem pautar as discussões políticas na reformulação urbana das cidades.
Dentro dessa perspectiva de redução de espaços destinados ao lazer, esta
seção se dedica ao apontamento de algumas possibilidades de atividades
recreativas e de lazer na sociedade contemporânea que podem ser executadas
em alguns locais onde algumas características naturais são preservadas.

Zonas litorâneas
As zonas costeiras são grandes possibilidades de se desenvolver atividades de
lazer. O amplo espaço, a presença do mar e, em alguns casos, as formações
rochosas tornam acessíveis uma série de atividades e esportes diversos. Nesses
ambientes, aqueles que buscam apenas as contemplações de espaços pouco
urbanizados encontram um horizonte vazio, sendo possível a observação da
formação das ondas e até de aves e outros animais que são raramente encon-
trados nos espaços urbanos.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 11

No mesmo sentido, é possível praticar atividades que vislumbrem as práti-


cas corporais. O espaço plano e as águas calmas em alguns pontos do litoral
brasileiro possibilitam a prática de alguns jogos e esportes. Num ambiente
litorâneo, é comum observarmos adeptos às caminhadas e corridas no início e
ao final do dia. Também podemos perceber aquelas atividades que expressam
uma cultura esportista brasileira. Os jogos de futebol, de voleibol e outros, em
que há a necessidade de raquetes ou tacos, são comuns nas areias das praias.
Nessa direção, podemos observar um esforço do Poder Público e de algumas
empresas privadas que reforçam o uso das regiões litorâneas como práticas de
atividades físicas e de busca de qualidade de vida. Exemplos disso podem ser
constatados por meio da criação de academias ao ar livre, localizadas próximas
ao mar e de acesso livre a todos os cidadãos. No mesmo sentido, algumas
prefeituras e instituições que buscam qualificar esses espaços, fornecendo
opções de lazer aos turistas e demais frequentadores, oferecem gratuitamente,
ou por meio de pequenas taxas, a possibilidade de alugar materiais esportivos,
como bolas, bicicletas e pranchas de surf, por exemplo. Além disso, é bastante
comum o Poder Público investir em calçadões próximos ao mar, oportunizando
passeios agradáveis e de certa forma inibindo as construções irregulares e o
avanço da urbanização em direção ao mar.
Outras possibilidades de lazer que essas áreas oferecem são aquelas em que
a presença da água e das ondas fornecem o entretenimento para as pessoas. O
próprio fato de conseguir se banhar e aliviar as temperaturas elevadas que o verão
brasileiro costuma apresentar é uma das formas de procura de lazer por frequen-
tadores de regiões costeiras. Além disso, esportes como surf, kitesurf,standup
paddle, banana-boat e pequenos percursos a bordo de veículos náuticos formam
as possibilidades de atividades aquáticas nas águas salgadas brasileiras.

Parques e praças
Embora as opções de parques e praças em territórios urbanos tenham se apresentado
cada vez mais escassas ao longo dos anos, eles ainda são uma ótima opção de lazer
junto à natureza. Alguns desses espaços apresentam não só a oportunidade de
contemplar as vegetações que não são encontradas na maioria dos espaços urbanos
das grandes metrópoles, como ainda oferecem a chance de vislumbrar pequenos
lagos, jardins botânicos e minizoológicos, construindo a experiência de realizar
atividades junto a outras formas de vida que compõem o planeta.
Além disso, o reflexo da relação entre lazer e práticas esportivas que cons-
tituem a cultura brasileira (CAMARGO et al., 2015) volta a elaboração desses
12 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

lugares como uma das possibilidades de se desenvolver práticas corporais.


Assim, nesses ambientes, é comum observarmos quadras poliesportivas e
demais equipamentos para a realização de exercícios físicos.
Com isso, os parques e as praças ainda são formas de lazer de acesso
fácil e que ainda se constituem um pequeno espaço que preserva algumas
características em meio às grandes cidades. Esses espaços, quando amplos
e havendo a chance de ficar longe dos movimentos e ruídos típicos da urba-
nização, possibilitam momentos de autoconhecimento, por meio de práticas
meditativas ou de artes que possibilitam a paz interior.

Ecoturismo
O lazer em áreas de vegetação e animais nativos foi explorado por muitos
anos, acarretando em problemas sérios aos biomas dessas localidades. Esses
problemas ainda são encontrados atualmente, com a devastação da mata para
a construção de empreendimentos, tornando a presença humana nociva às
demais formas de vida. Nesse sentido, as preocupações com o meio ambiente
que surgiram nas últimas décadas fizeram com que aparecessem cada vez
mais grupos preocupados com a preservação da natureza. É nesse sentido
que cresce um nicho de mercado chamado ecoturismo.

O potencial do Brasil para o ecoturismo e o turismo de aventura é reconhecido mun-


dialmente. Segundo o Fórum Econômico Mundial (WEF), o Brasil ocupa o 1º lugar em
recursos naturais no planeta e o 28º lugar no Índice de Competitividade Internacional
do Turismo.

O ecoturismo rompe com a lógica de maximização de lucros das empresas


que exploram o setor turístico, voltando suas atividades de forma a provocar o
mínimo de impacto nos aspectos naturais das regiões visitadas. Desta forma,
algumas medidas de preservação são adotadas, como a limitação do acesso
de visitantes a parques, a proibição de modificar a paisagem natural até a
aplicação de multas de quem provoca queimas ou descartes de resíduos que
comprometam a saúde vegetal e animal.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 13

Cabe ressaltar que a mídia tem contribuído muito com o ecoturismo brasi-
leiro. As atividades junto à natureza são promovidas como uma das formas de
se obter a qualidade de vida. Assim, a conscientização da população também
promove a preservação desses locais. No Brasil, existem muitos polos e agências
que fornecem as possibilidades de ecoturismo, sendo possíveis também realizá-
-las sem a contratação de serviços, de forma autônoma (PARENTE, 2012).
Podemos destacar em Santa Catarina, como locais que têm ganhado desta-
que em razão das dimensões espaciais que esses polos ocupam, pela diversidade
de flora e fauna e pelas belas paisagens, algumas áreas de preservação:

„„ Vale Europeu: o vale europeu abriga municípios, como Botuverá, que


apresentam grutas e cavernas encravadas em montanhas e que, por
meio de passeios guiados, é possível vislumbrar formações rochosas
diversas em seu interior.
„„ Reserva Marinha Biológica do Arvoredo: constituía por um conjunto
de ilhas, entre Florianópolis e Bombinhas, é caracterizada por praias
com matas nativas. O local abriga ainda uma diversidade grande de
ecossistemas, sendo possível realizar mergulhos como forma de observar
as espécies marinhas.
„„ Estação Ecológica do Itaimbezinho: localizada na fronteira entre
o Rio Grande do Sul e Santa Catarina, é caracterizada por grandes
cânions, que medem algumas centenas de metros de profundidade.
Anualmente, recebe milhares de visitantes e de aventureiros que re-
alizam trilhas explorando às imensas paredes, rios e quedas de água
que caracterizam o local.
„„ Estação Ecológica de Bombinhas: localizada na região litorânea
de Santa Catarina, é uma área de praias que tem a proteção contra a
construção de grandes prédios. Além das possibilidades de atividades
descritas nas zonas que são banhadas pelo mar, é possível fazer a in-
cursão na mata nativa, realizando trilhas e rapel, por exemplo.
„„ Vale do Itajaí: encontra-se próximo a Blumenau, é caracterizado pela
presença do Rio Itajaí-açu, que, assim como seus afluentes, tem corren-
tezas que possibilitam a prática de atividades diversas. A abundância
de recursos hídricos e a mata atlântica preservada promovem grandes
possibilidades de atividades de lazer, que vão desde a pescaria ou o
acampamento até a descida de rios em botes e caiaques.

Esses locais apresentados têm grandes dimensões. No território brasileiro,


muitos municípios no interior dos estados apresentam características de preser-
14 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

vação ambiental que possibilitam as atividades de lazer na natureza. Em termos


de recursos naturais, o Brasil apresenta uma vasta capacidade de desenvolver
atividades de lazer nessas áreas, tendo seu potencial ainda pouco explorado.

Escolas e educação ambiental


Como dito anteriormente, os interesses pela preservação do meio ambiente
têm crescido ao longo dos anos e também têm pautado assuntos pedagógicos.
Ainda que as instituições escolares tenham, muitas vezes, espaços limitados
à prática de atividades naturais, tendo que se deslocar por meio de excursões
a parques, praias e praças para desenvolver tais propostas, algumas dessas
escolas têm investido em jardins sensoriais.
Essa técnica consiste em promover espaços que abriguem flores e outras
plantas, possibilitando aos estudantes o contato com a natureza em seus mo-
mentos livres ou em algumas tarefas dirigidas. Os jardins sensoriais ainda
possibilitam a estimulação dos sentidos, como a visão e o olfato das crianças,
proporcionando sensibilidade e integração maior com a natureza.

Os jardins sensoriais não são exclusividade de instituições


escolares. No link a seguir, confira uma proposta de jardim
sensorial itinerante.

https://goo.gl/ELuPm4

Assim, o que percebemos é que as atividades de lazer junto ao ambiente


natural são diversas e podem contemplar desde aqueles sujeitos que buscam
apenas o descanso até aqueles que procuram por aventura e desafios. Em termos
de acessibilidade, podemos notar que o Brasil tem se modificado ao longo
dos anos. Ainda que sejam muitas as áreas possíveis de lazer, estas requerem
certo cuidado do Poder Público, de forma a manter a democratização desses
espaços, garantindo o lazer como direito a todos os cidadãos brasileiros.
As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres 15

BAUDRILLARD, J. La sociedad de consumo: sus mitos, sus estructuras. Madrid: CEDRO,


2007.
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF:
Senado Federal: Centro Gráfico, 1988.
CAMARGO, L. P. et al. Relação público-privado nos usos das orlas dos municípios de
Serra e Vitória-ES. In: CONGRESSO NACIONAL DE CIÊNCIAS SOCIAIS, 1., 2015. Anais...
Vitória-ES: UFES, 2015.
GOMES, C.; PINTO, L. O lazer no Brasil: analisando práticas culturais cotidianas, acadê-
micas e políticas. In: GOMES, C.; et al. (Org.) Lazer na América Latina: tiempo libre, ocio
y recreación en Latinoamérica. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2009. p. 67-122.
GYIMÓTHY, S.; MYKLETUN, R. J. Play in adventure tourism: the case of arctic trekking.
Annals of Tourism Research, v.31, n.4, p.855-878, out. 2004.
LOPES, F; JESUS, C. Lazer e balneabilidade: uma abordagem histórica sobre o uso
recreacional das águas na sociedade. Caderno de Geografia, v. 27, n. 50, p.557-572, 2017.
PARENTE, K. M. N. Espaços públicos e privados de lazer e turismo na orla oeste de Fortaleza:
embates políticos e contradições socioespaciais. 2012. 142 f. Dissertação (Mestrado
em Geografia) - Programa de Pós-Graduação em Geografia, Universidade Estadual
do Ceará – UECE,Fortaleza, 2012.
REIS, N. C. G.; LIMA, R. R.; GOMES, S. D. Espaço urbano como aspecto constituinte da
política de esporte e lazer em São Luis – MA. In: ARAÚJO, S. M.; VIANA, R. N. A. (Org.).
Esporte e lazer na cidade de São Luís do Maranhão: elementos para construção de uma
política pública. São Luís: EDUFMA, 2008. p. 93-104.
SANTOS, M. Por uma outra globalização: do pensamento único à consciência universal.
6 ed. Rio de Janeiro: Record, 2001.
SEVCENKO, N. A corrida para o século XXI: no loop da montanha-russa. São Paulo:
Companhia das Letras, 2001.
TULIK, O. Turismo e meio ambiente: identificação e possibilidades da oferta alternativa.
Turismo em Análise, São Paulo, v. 3, n.1, p. 21-30, 1992.
VIRILIO, P. Os motores da história. In: ARAÚJO, H. R. (Org.). Tecnociência e cultura: ensaios
sobre o tempo presente. São Paulo: Estação Liberdade, 1998. p.127-146.
WALLE, A. H. Pursuing risk or insight: marketing adventures. Annals of Tourism Research,
v.24, n. 2, p. 265-289, 1997.
16 As diferentes atividades na natureza, explorando ambientes aquáticos e terrestres

Leituras recomendadas
GALBRAITH, J.; DOWNEY, D.; KATES, A. Projetos de organização de dinâmicas. Porto
Alegre: Bookman, 2011.
MACEDO, L.; PETTY, A. L; PASSOS, N. Os jogos e o lúdico na aprendizagem escolar. Porto
Alegre: Artmed, 2005.
WATT, D. Gestão de eventos em lazer e turismo. Porto Alegre: Bookman, 2007.
Encerra aqui o trecho do livro disponibilizado para
esta Unidade de Aprendizagem. Na Biblioteca Virtual
da Instituição, você encontra a obra na íntegra.
Conteúdo:

Você também pode gostar