Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
DA ATIVIDADE
MOTORA
Introdução
A tarefa de prescrever um determinado exercício ou um programa de
treino requer inúmeros conhecimentos e habilidades por parte do pro-
fissional de educação física. Dentre os aspectos a serem observados,
certamente estão os limiares ventilatórios, que trazem dados importantes
sobre o aluno e que servirão de auxílio ao professor.
Os limiares ventilatórios têm relação direta com inúmeras capacidades
do indivíduo, dentre elas a cardiopulmonar e a cardíaca, pois consiste em
saber o quanto o organismo suporta uma carga de treino e quais vias
metabólicas utilizará para isso.
Neste capítulo, você vai identificar os mecanismos relacionados aos
limiares ventilatórios, bem como conhecer formas de avaliação dos li-
miares ventilatórios e formular métodos de treinamento aeróbico a partir
dos limiares ventilatórios.
2 Limiares ventilatórios e lactato
Limiares ventilatórios
Um dos elementos de fundamental importância para a prescrição de exercícios
físicos são os chamados limiares ventilatórios. Os limiares ventilatórios são
relevantes para toda prática relacionada ao movimento, pois definem a zona
de treino coerente com cada objetivo do praticante (NUNES, 2018a).
Segundo Nakamura et al. (2006, documento on-line), o “[...] limiar ven-
tilatório (LV) foi proposto por Wasserman e McIlroy com o propósito de
determinar, de forma indireta, a intensidade de esforço em que o lactato no
sangue sofre elevação em relação ao valor de repouso, durante teste de esforço
progressivo”. Os mesmos autores sublinham que esse índice tem sido utilizado
para detectar a máxima intensidade de trabalho segura para pacientes com
doenças cardíacas, predizer o limiar de lactato, indicar a capacidade aeróbia
de indivíduos saudáveis e não saudáveis e controlar os efeitos do treinamento
sobre a função aeróbia.
Kenney, Wilmore e Costill (2013) definem os limiares ventilatórios como
um ponto em que a ventilação aumenta de forma desproporcional em compa-
ração ao consumo de oxigênio a partir do aumento da intensidade do exercício.
Os autores apontam que o ponto que isso ocorrer é entre 55 e 70% do VO2máx.:
Você lembra o que é o lactato? Lactato é um sal derivado do ácido lático e é produzido
pelo organismo por meio da queima da glicose para fornecer energia sem a presença de
oxigênio. Ele pode ser encontrados nos músculos, no sangue e em vários outros órgãos.
200
160
Ventilação (L/min)
120
80 Limiar
ventilatório
40
0
8 10 12 14 16 18
Velocidade da corrida (km/h)
Figura 1. Mudanças na ventilação pulmonar durante uma corrida em velocidade
crescente, ilustrando o conceito de limiar ventilatório.
Fonte: Kenney, Wilmore e Costill (2013, p. 199).
VO2
INTENSIDADE
LA PDR
Limiar Aeróbico Ponto de descompensação
respiratório
LV1 (limiar ventilatório 1) LV2 (limiar ventilatório 2)
LAn (limiar anaeróbio) Lan (limar anaeróbio)
1-Limiar de lactato 2-Limiar de lactato
Figura 2. Limiares ventilatórios e metabolismo.
Fonte: Nunes (2018b). http://www.scielo.br/img/fbpe/abc/v71n5/a14fig03.gif.
Ribeiro (2005, p. 111) aponta que os “[...] limiares ventilatórios têm sido
determinados pela observação de diferentes variáveis que podem ser derivadas
das medidas de trocas gasosas obtidas durante o exercício progressivo”. Sobre
essas variáveis, o mesmo autor discorre sobre a ventilação, a produção de dió-
xido de carbono, a razão de troca respiratória (produção de CO2 dividida pelo
VO2), a fração expirada de O2, a fração expirada de CO2, a pressão parcial de O2
no final da expiração, o excesso de CO2 produzido, o equivalente ventilatório
para o O2 (ventilação dividida pelo VO2) e o equivalente ventilatório para o
CO2 (ventilação dividida pela produção de CO2). As curvas dessas variáveis
ventilatórias podem identificar dois limiares e refletem os mesmos fenôme-
nos fisiológicos, permitindo que as variáveis a serem utilizadas possam ser
escolhidas dependendo do equipamento disponível para avaliação de trocas
gasosas (RIBEIRO, 2005, p. 111).
Sobre os testes em si para fazer a devida avaliação, a Revista Brasileira
de Prescrição e Fisiologia do Exercício aponta há a existência de inúmeras
possibilidades para fazer a medida dos limiares ventilatórios. Vejamos, agora,
alguns deles que podem ser bons medidores dessa prática.
www.ibpefex.com.br
Ribeiro (2005, p.111) aponta que uma alternativa interessante para fazer a
avaliação dos limiares ventilatórios é a utilização das curvas da FC, pois “alguns
pesquisadores observaram que, durante exercício com aumento progressivo
de cargas, o ponto a partir do qual a resposta da frequência cardíaca desviava
de sua relação linear com a carga de trabalho correlacionava-se bem com o
primeiro limiar de lactato”. Entretanto, essa “quebra da frequência cardíaca não
corresponde ao primeiro limiar de lactato, mas à intensidade correspondente
ao segundo limiar de lactato”.
Como todos os testes são realizados em ambiente laboratorial, o professor
de educação física os recebe muitas vezes em números frios e prontos. Po-
rém, esses números serão a base para a prescrição e o controle do exercício,
identificando os pontos dos limiares 1 e 2 e a zona entre ambos para calcular
a zona-alvo da FC e o quanto de oxigênio o aluno consome a partir da prática
de exercício físico. Como valores padrões, se relaciona o primeiro limiar ven-
tilatório a 75% da FCmáx. e 60-65% do VO2máx., já o segundo limiar ventilatório
se relaciona com 90-95% da FCmáx. e 83% do VO2máx.
Neste tópico, foram apresentados métodos de avaliação dos limiares
ventilatórios com destaque para a espirometria, a ventilometria e os testes
de identificação de intensidades aeróbias (TIIA). A seguir, apresentaremos
métodos de treinamento aeróbico a partir dos limiares ventilatórios.
Treino 1
Aluno: iniciante.
Modalidade praticada: corrida.
Limiar anaeróbico: 30 ml/kg/min. (70% do VO2máx.).
Zona-alvo: 75% da FC máxima.
Sequência do treino
Semana 1
Aquecimento: medição da FC + caminhada de 10 a 15 minutos a 70% da FC máxima.
Parte principal: 30 segundos de trote intervalando com 2 minutos de caminhada
a 70% da FC máxima (5x cada repetição). 10 minutos de caminhada a 75% da FC
máxima.
Parte final: medição da FC + alongamentos.
10 Limiares ventilatórios e lactato
Semana 2
Aquecimento: medição da FC + caminhada a 70% da FC máxima (10 a 15 minutos).
Parte principal: 30 segundos de trote intervalando com 1,5 minutos de caminhada
a 70% da FC máxima (7x cada repetição). 10 minutos de caminhada moderada.
Parte final: medição da FC + alongamentos.
Semana 3
Aquecimento: medição da FC + caminhada a 75% da FC máxima (10 a 15 minutos).
Parte principal: 1 minuto de corrida intervalando com 1 minuto de caminhada
a 75% da FC máxima (5x cada repetição). 10 minutos de caminhada moderada.
Parte final: medição da FC + alongamentos.
Treino 2
Aluno: intermediário/avançado.
Modalidade praticada: corrida.
Zona alvo: 85% da FC máxima.
Limiar anaeróbico: 42 ml/kg/min. (80% do VO2máx.).
Observações: por ter uma zona-alvo e um limiar ventilatório alto, o treino pode ter
uma intensidade considerada alta.
Sequência do treino
Semana 1
Aquecimento: medição da FC + corrida a 80% da FC máxima (10 a 15 minutos).
Parte principal: 30 segundos de corrida intervalando com 30 segundos de corrida
a 85% da FC máxima (6x cada repetição). 10 minutos de corrida leve.
Parte final: medição da FC + alongamentos.
Semana 2
Aquecimento: medição da FC + corrida a 80% da FC máxima (10 a 15 minutos).
Limiares ventilatórios e lactato 11
Semana 3
Aquecimento: medição da FC + corrida a 85% da FC máxima (15 minutos).
Parte principal: 1 minuto de corrida forte com 1 minuto de caminhada a 85% da
FC máxima (6x cada repetição). 10 minutos de corrida leve.
Parte final: medição da FC + alongamentos.
Neste capítulo, você viu o que são limiares ventilatórios, suas funções,
seus mecanismos e que são divididos em limiares anaeróbicos — quando a
produção do lactato é maior que a sua remoção — e limiar de descompensação
respiratória, quando o ponto maior do aumento do lactato sanguíneo acontece
em intensidades mais elevadas nas pessoas condicionadas.
Na sequência, vimos os métodos de avaliação para quantificar os limiares
ventilatórios. Esses métodos são observáveis por diferentes variáveis que são
medidas pelas trocas gasosas obtidas durante o exercício. Foram apresentadas
a ventilometria, que é avaliação mecânica dos pulmões por meio de um apa-
relho chamado ventilômetro, e os TIIAs, que verificam os limiares a partir
de cinco estágios.
Por fim, conhecemos alguns métodos de treinos a partir do treinamento
aeróbico. Foram apresentados dois modelos de treino relacionado à corrida: um
com limiar ventilatório de 60% do VO2máx. e outro com 90%. Os limiares são
um importante indicador dos limites que devem ser aplicados durante a prática.
ALVES, D.; OLIVEIRA, V.; NUNES, N. Prescrição de exercícios físicos aeróbios: teste para
identificação das intensidades aeróbias (tiia), uma ferramenta prática. Revista Brasileira
de Prescrição e Fisiologia do Exercício, v. 3, n. 16, p. 359-366, 2009. Disponível em: <http://
www.rbpfex.com.br/index.php/rbpfex/article/viewFile/181/184>. Acesso em: 5 dez.
2018.
FOSS, M.; KETEYIAN, S. Bases fisiológicas do exercício e do esporte. Rio de Janeiro: Gua-
nabara Koggan, 2010
12 Limiares ventilatórios e lactato
KENNEY, W.; WILMORE, J.; COSTILL, D. Fisiologia do esporte e do exercício. 5. ed. Barueri,
SP: Manole, 2013.
NAKAMURA, F. et al. Objetividade da medida do limiar ventilatório. EFDeportes: revista
digital, ano 10, n. 93, 2006. Disponível em: <http://www.efdeportes.com/efd93/medida.
htm>. Acesso em: 5 dez. 2018.
NUNES, N. Limiares ventilatórios e metabolismo. Youtube, 2018a. Disponível em: <https://
www.youtube.com/watch?v=3p-7JKHZybE>. Acesso em: 5 dez. 2018.
NUNES, N. O que são os limiares ventilatórios e como podem influenciar seu treino de
corrida?. 2018b. Disponível em: <http://www.webrun.com.br/limiares-ventilatorios-
corrida/>. Acesso em: 5 dez. 2018.
RIBEIRO, J. Limiares metabólicos e ventilatórios durante o exercício: aspectos fisiológicos,
metodológicos e clínicos. Revista do HCPA, v. 25, n. 3, p. 107-115, 2005. Disponível em:
<https://www.lume.ufrgs.br/handle/10183/164203>. Acesso em: 5 dez. 2018.
Leitura recomendada
POWERS, S.; HOWLEY, E. Fisiologia do exercício: teoria e aplicação ao condicionamento
e ao desempenho. 8. ed. Barueri, SP: Manole, 2014.
Conteúdo: