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Nome Ano Turma N.

Teste de avaliação 11

Grupo I

Texto A

Lê o seguinte excerto do poema de Cesário Verde.

Cristalizações
[…]
Mal encarado e negro, um para enquanto eu passo;
Dois assobiam, altas as marretas
Possantes, grossas, temperadas de aço;
E um gordo, o mestre, com ar ralaço
5 E manso, tira o nível das valetas.

Homens de carga! Assim as bestas vão curvadas!


Que vida tão custosa! Que diabo!
E os cavadores pousam as enxadas,
E cospem nas calosas mãos gretadas,
10 Para que não lhes escorregue o cabo.

Povo! No pano cru rasgado das camisas


Uma bandeira penso que transluz!
Com ela sofres, bebes, agonizas:
Listrões de vinho lançam-lhe divisas,
15 E os suspensórios traçam-lhe uma cruz!
[…]
Cesário Verde, in Cânticos do Realismo – O Livro de Cesário Verde,
Lisboa, Imprensa Nacional-Casa da Moeda, 2015.

1. Neste poema, assistimos à transfiguração poética do real. Justifica. (20 pontos)

2. Destaca três recursos expressivos diferentes presentes no poema e explica o seu sentido.
(20 pontos)

3. Relaciona o título do poema com o seu conteúdo. (20 pontos)


Texto B

Lê, agora, o seguinte excerto do poema.

De verão

A Eduardo Coelho
I
No campo; eu acho nele a musa que me anima:
A claridade, a robustez, a ação.
Esta manhã, saí com minha prima,
Em quem eu noto a mais sincera estima
5 E a mais completa e séria educação.
[…]

IV
E perguntavas sobre os últimos inventos
Agrícolas. Que aldeias tão lavadas!
Bons ares! Boa luz! Bons alimentos!
Olha: Os saloios vivos, corpulentos,
10 Como nos fazem grandes barretadas!
[…]

VI
Numa colina azul brilha um lugar caiado.
Belo! E arrimada ao cabo da sombrinha,
Com teu chapéu de palha, desabado,
Tu continuas na azinhaga; ao lado
15 Verdeja, vicejante, a nossa vinha.
[…]
Cesário Verde, op. cit.

4. O campo invade os sentidos do sujeito poético. Comprova-o com elementos textuais. (20
pontos)

5. Explica o valor expressivo da aliteração presente no último verso do poema. (20 pontos)

Grupo II
Lê o texto seguinte.

Campo ou cidade?
O mito da natureza
Até que ponto será o mundo rural sinónimo de bem-estar e a grande urbe uma fábrica de stress
e solidão? A ecopsicologia está a mudar as noções preconcebidas sobre estas duas opções de vida.
Em novembro [de 2010], morria João Manuel Serra, mais conhecido como «o senhor do
5 adeus», o homem que acenava a toda a gente que passava de noite pela praça do Saldanha, em
Lisboa. Foi depois da morte da mãe que esta figura popular da capital teve consciência da solidão
urbana, o que o levou a «dar as boas-noites» às pessoas e acenar aos condutores, todas as noites,
até às três da manhã. O fenómeno da solidão urbana – assim como o número de pessoas que
morrem sozinhas nas cidades – sempre foi um motivo de interesse para os psicólogos. Bibb
10 Latané e John Darley, da Universidade do Estado do Ohio, estudaram, há décadas, aquilo que
designaram por «efeito de espectador»: quanto mais pessoas observam um incidente, maior a
probabilidade de nenhuma intervir. A responsabilidade dilui-se na multidão, e nenhuma
testemunha de uma tragédia se sente obrigada a dar uma mão. Todas esperam que as restantes o
façam.
15 Segundo estes especialistas, recorremos a três estratégias mentais para não metermos prego
nem estopa: assumimos que a vítima é responsável pelo que está a acontecer, desconfiamos, no
caso de nos abordar, das suas intenções, e sobrestimamos a probabilidade de ter alguma relação
com o atacante, quando se trata de uma agressão. Torna-se mais fácil enganarmo-nos a nós
próprios com estes argumentos se vivermos em centros muito populosos, pois não conhecemos,
20 geralmente, a pessoa afetada nem as suas circunstâncias. Podemos ser egoístas sem nos sentirmos
culpados. Daí a imagem de ausência de solidariedade gravada no imaginário coletivo.
Nos últimos anos, porém, a noção de metrópole como local inóspito está a ser reavaliada.
Muitos especialistas defendem que os anteriores estudos focavam sobretudo aspetos
circunstanciais, sem dados reais que confirmassem essa visão dantesca. Atualmente, trabalha-se
25 com dados mais globais. Segundo a ecopsicologia, os meios rurais e urbanos são, simplesmente,
habitats distintos que potenciam diferentes capacidades. Em princípio, nenhum dos dois é melhor
do que o outro.
Stanley Milgram, psicólogo teórico da Universidade de Yale, falecido em 1984, foi um dos
primeiros a adotar esta perspetiva. A tese que defendia propunha que a maior diferença entre os
30 dois âmbitos é o nível de estimulação. Assim, segundo Milgram, a cidade bombardeia-nos com
uma torrente de mensagens sensitivas que ultrapassa a capacidade humana de processar
informação. Isto é: há demasiadas coisas e não podemos dar atenção a tudo. Por isso, colocamos
em funcionamento um mecanismo de adaptação: ignorar tudo o que não seja relevante.
[…]
L.M., «Campo ou cidade?», Super Interessante 162, outubro de 2011
(disponível em www.superinteressante.pt, consultado em março de 2016).

1. Para responderes a cada um dos itens de 1.1 a 1.7, seleciona a única opção que permite
obter uma afirmação correta. Escreve, na folha de respostas, o número de cada item e a
letra que identifica a opção escolhida. (35 pontos)

1.1 A palavra «ecopsicologia» (l. 3) é


(A) derivada por prefixação.
(B) derivada por sufixação.
(C) uma palavra composta.
(D) uma amálgama.
1.2 Os adjetivos «rural» (l. 2) e «urbana» (l. 7) estabelecem entre si uma relação de
(A) parte-todo.
(B) hierarquia.
(C) sinonímia.
(D) antonímia.
1.3 O sujeito da forma verbal «recorremos» (l. 15) classifica-se como
(A) simples.
(B) composto.
(C) subentendido.
(D) indeterminado.

1.4 A expressão «assim como o número de pessoas que morrem sozinhas nas cidades» (ll.
8-9) aparece entre travessões porque se trata de
(A) uma informação adicional.
(B) uma explicação.
(C) um comentário.
(D) uma particularização.

1.5 A expressão «efeito de espectador» (l. 11) encontra-se entre aspas por corresponder a
(A) uma citação.
(B) um comentário.
(C) um neologismo.
(D) uma explicação.

1.6 Em «Torna-se mais fácil enganarmo-nos a nós próprios com estes argumentos se
vivermos em centros muito populosos» (ll. 18-19) a oração sublinhada é uma
(A) coordenada explicativa.
(B) subordinada substantiva completiva.
(C) subordinada adverbial condicional.
(D) subordinada adverbial concessiva.

1.7 Os elementos sublinhados em «Assim, segundo Milgram, a cidade bombardeia-nos


com uma torrente de mensagens sensitivas […]. Isto é: há demasiadas coisas e não
podemos dar atenção a tudo. Por isso, colocamos em funcionamento um mecanismo
de adaptação»
(ll. 30-33) contribuem para a coesão
(A) lexical.
(B) gramatical referencial.
(C) gramatical frásica.
(D) gramatical interfrásica.

2. Responde de forma correta aos itens apresentados. (15 pontos)

2.1 Identifica o referente do pronome sublinhado em «o que o levou a “dar as boas-noites”»


(l. 7).

2.2 Indica a função sintática do elemento sublinhado em «Atualmente, trabalha-se com


dados mais globais» (ll. 24-25).

2.3 Refere o valor da oração subordinada adjetiva relativa «que potenciam diferentes
capacidades» (l. 26).
Grupo III
«Gostava de estar no campo para poder gostar de estar na cidade.»

Fernando Pessoa

Partindo da citação transcrita, redige um texto de opinião, com um mínimo de duzentas e um


máximo de trezentas palavras, em que evidencies a tua preferência pelo campo ou pela
cidade.
Fundamenta o teu ponto de vista recorrendo, no mínimo, a dois argumentos e ilustra cada um
deles com, pelo menos, um exemplo significativo. (50 pontos)

Observações:
1. Para efeitos de contagem, considera-se uma palavra qualquer sequência delimitada por espaços em branco, mesmo quando
esta integre elementos ligados por hífen (ex.: /dir-se-ia/). Qualquer número conta como uma única palavra, independentemente
dos algarismos que o constituam (ex.: /2015/).
2. Relativamente ao desvio dos limites de extensão indicados – um mínimo de duzentas e um máximo de trezentas palavras –, há
que atender ao seguinte:
− um desvio dos limites de extensão indicados implica uma desvalorização parcial (até 5 pontos) do texto produzido;
− um texto com extensão inferior a oitenta palavras é classificado com zero pontos.

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