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Figura 9 Microestruturas da mesma liga resfriada em molde de areia, em molde metálico ou fundidas por

injeção.

Obtém-se efeito semelhante mediante fusão de massas menores, como o que acontece em
peças com diferentes espessuras de parede como o exemplo da roda da figura 2. Em
decorrência das diferentes taxas de resfriamento obtém-se microestruturas mais ou menos
refinadas e, portanto, com diferentes propriedades como se viu na mesma figura.

O efeito da elevação da taxa de resfriamento pode ser acompanhado na figura 10. Nesta
figura mostram-se curvas de resfriamento. Elas indicam que, à medida que a taxa de
resfriamento cresce, aumenta a diferença de temperatura entre a reação eutética e a
temperatura de reação eutética dada pelo diagrama. Em outras palavras, o
surperresfriamento para a reação de solidificação do eutético aumenta. Isto sempre acarreta
diminuição do espaçamento entre fases do eutético, ou a supressão da reação como se verá
para o sistema Fe-C.

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Figura 10. Efeito da taxa de resfriamento no super-resfriamento para a reação eutética.

As ligas Al-Si comerciais não são ligas binárias. Elas contêm outros elementos como os
indicados na tabela 1 (requerendo o emprego de diagramas ternários para seu
entendimento) e são muitas vezes tratadas termicamente. Estes tratamentos térmicos visam
homogeneizar a liga e/ou aumentar sua dureza mediante a reação de precipitação que será
estudada mais adiante.

1.1 Sistemas de dois componentes - Peritéticos

Nos sistemas peritéticos as primeiras adições do segundo elemento provoca diminuição da


temperatura liquidus para uma das fases e sua elevação para a outra, como se vê na Figura
11.

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Figura 11. - Região da reação peritética no sistema Fe-C. C)Andamento da reação
peritética.

Neste sistema a reação invariante é L + α = β ocorrendo para a liga de composição


peritética P. No esquema da figura 1.12B nota-se que a partir de um certo estágio da reação
a fase α fica completamente envolvida pela fase β perdendo o contato com o liquido. A
reação para prosseguir requer a difusão do componente B do líquido através de β em
direção a α e, do componente A em direção a β. Em outras palavras há necessidade, para
que a reação se complete, da difusão através da casca de β. Este fenômeno será visto em
mais detalhe no capitulo correspondente, mas pode-se perceber que devido a necessidade

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de movimentação atômica no estado sólido a reação peritética pode não se completar
restando, ao fim da solidificação, as duas fases sólidas.

Os fenômenos de microssegregação, formação de grãos e dendritas são semelhantes aos


descritos anteriormente. A reação peritética no sistema Fe-C é responsável pela
transformação da ferrita em austenita a 1495°C e 0,17% de carbono. Nos aços inoxidáveis e
em alguns aços ferramentas esta reação tem sua importância aumentada devido ao aumento
do campo de existência da ferrita.

1.1.1 Sistema Fe-C

O sistema Fe-C vai servir de base para a maior parte das análises das microestruturas feitas
neste livro. Ele é sem duvida o sistema binário mais importante, pois serve de base para o
entendimento dos aços e ferros fundidos. Este sistema apresenta duas versões, como se verá
no capítulo referente a ferros fundidos, sendo que a versão empregada para o estudo dos
aços pode ser visualizada na figura 12. No sistema Fe-C (figura 12) as ligas cujas
composições estão acima de 2,11% de carbono são usualmente designadas de ferros
fundidos. A liga com 4,3% de carbono se solidificará totalmente através da reação eutética.
Nas ligas a direita e a esquerda deste ponto ocorrerá reação eutética no liquido residual.

Figura 12. Sistema Fe-C metaestável. Figura 13 Sistema Fe-C estável

Este sistema aparentemente complexo pode ser decomposto em subsistemas mais simples.
Durante a solidificação de ligas do sistema Fe-C podem ocorrer quatro reações invariantes
de solidificação. A fusão do Ferro puro, a fusão congruente do carboneto de ferro, Fe3C, a
cementita, cujo comportamento na solidificação é semelhante ao estudado para um
componente. Além destas, as ligas de ferro podem se solidificar por meio da reação eutética
L = γ + Fe3C, para 4,30% de carbono e da reação peritética L + α = γ para 0,14% de
carbono ou ainda através de reações monovariantes como as que ocorrem entre zero e
0,14% de carbono, entre 0,23 e 4,30 e entre 4,30 e 6,7 de carbono.

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Neste sistema a reação eutética L = γ + Fe3C ocorre a 1148°C e 4,30% de carbono

Devido ao fato de o carbono, além do ferro, poder se apresentar em mais de uma forma
existe outro diagrama Fe-C com grande importância prática. Na figura 13 mostra-se o
sistema Fe-C estável, ou seja, o diagrama no qual o carbono está na forma de carbono.

Neste sistema a reação eutética L = γ + G ocorre a 1154°C e 4,26% de carbono

No estado sólido, em ambos os sistemas, ocorrem outras reações que serão analisadas e
desenvolvidas nos capítulos que se seguem. Na solidificação de ligas eutéticas vimos
(Vimos mesmo) que ocorre a formação de arranjos interpenetrados de duas fases sólidas a
partir de um líquido de composição eutética. A reação eutetóide é uma reação semelhante à
reação eutética. Ocorre, entretanto, quando uma fase sólida de alta temperatura se
decompõe em duas outras fases sólidas numa temperatura característica denominada
temperatura eutetóide.

No caso dos aços a fase gama denominada austenita, com estrutura cúbica de faces
centradas, se decompõe a 723°C em uma mistura constituída de uma fase alfa denominada
ferrita, de estrutura cúbica de corpo centrado e uma fase Fe3C denominada cementita de
estrutura ortorrômbica.

No sistema Ferro-Carbono, o limite superior do campo (α + γ ) é normalmente chamado de


linha A3. O limite superior do campo ( γ + Fe3C) é chamado de linha Acm. A isoterma de
reação eutetóide é também conhecida como linha eutetóide e no sistema Ferro-Carbono é
chamada de linha A1. A figura 14 mostra detalhes da região dos diagramas Fe-C próximas
da temperatura eutetóide.

Figura 14. Região próxima do eutetóide para o sistema Fe-C estável e metaestável.

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Nota-se que de modo semelhante à reação eutética existem duas reações eutetóides. Uma
para o sistema meta estável γ = α + Fe3C a 723°C e outra, γ = α + G, para o sistema
estável, a 736°C

Quando a austenita de composição eutetóide é resfriada abaixo da temperatura A1,


ocorre uma reação em que a ferrita e o carboneto nucleiam e crescem juntos. O carbono é
rejeitado pela ferrita e ao mesmo tempo é consumido pela lamelas de cementita que se
encontram em cada um dos lados. Essas lamelas (lâminas) das duas fases, avançam juntas
sobre a austenita instável. O produto resultante é chamado de perlita desde que os primeiros
metalógrafos, incapazes de resolver a estrutura, acharam-na parecida com a madrepérola
como mostra a figura 15.

Figura 15 - Estrutura perlítica de aço nota-se diferentes colônias de perlita.

Com o conhecimento das reações eutéticas e eutetóides dos dois sistemas Fe-C pode-se
passar ao estudo dos ferros fundidos.

Bibliografia

1 - W. Kurz & D.M. Stefanescu, Section Chairmen, Principles of Solidification, ASM


Handbook, vol 15 - Casting. Formerly, 9th Ed. Metals Handbook, 1988, p 99 -186.
2 M. C. Flemings, Solidification Processing McGraw-Hill 1974. 364p.
3.A. Ono The Solidification of Metals Chijin Shokan, Co. Ltd, 1976.144p.
4. M.P. de Campos Filho & G. J. Davies Solidificação e Fundição de Metais e suas Ligas.
Livros Técnicos e Científicos e Editora da Universidade de São Paulo, 1978.237p.

Questões

1 - Esquematize a evolução da microestrutura durante a solidificação de uma liga de um


sistema binário eutético. A) No campo onde resulta a formação de uma solução sólida B)
No campo onde ocorre reação eutética.

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2 - Qual o efeito do aumento da taxa de resfriamento no número de grãos da região
coquilhada. Discuta usando curvas de resfriamento.

3 - O que deve acontecer com o numero de braços secundários de dendritas em função do


aumento do superresfriamento?

4 - Qual a conseqüência sobre a microssegregação do aumento da taxa de resfriamento?

5 - Discuta o efeito de se aquecer lentamente ou rapidamente uma peça com


microssegregação na homogeneização de uma peça.

6 - Esquematize a seqüência de solidificação de um aço com 0,10% de carbono até a


formação de 100% de sólido

7 - Esquematize a seqüência de solidificação de um aço com 0,50% de carbono até a


formação de 100% de sólido. Compare a seqüência com a da questão anterior.

8 - Esquematize a seqüência de solidificação de um ferro fundido com 2,5% de carbono até


a formação de 100% de sólido.

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