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FUNDAÇÃO TÉCNICO-EDUCACIONAL SOUZA MARQUES

FACULDADE DE ENGENHARIA SOUZA MARQUES

ESTRUTURA DAS LIGAS METÁLICAS

SANDRA PENHA DE SOUZA ALMEIDA

RIO DE JANEIRO/2017
ESTRUTURA DAS LIGAS METÁLICAS

1 – INTRODUÇÃO
Em escala atômica as ligas metálicas são constituídas por átomos que ocupam
posições definidas em relação aos seus vizinhos, formando arranjos estruturais a que
denominamos cristais. A maioria dos materiais metálicos que são usados na prática
consistem de agregados policristalinos.
Os cristaias individuais formam-se já na fase de solidificação quando a passagem
do estado líquido para o estado sólido progrida à partir de frentes independentes.
Diferentes tratamentos termomecânicos podem fazer com que os cristais
inicialmente formados quando a solidificação der origem a novos cristais por um
processo de recristalização.
Como entre os cristais individuais no interior do material não existem vazios, eles
são obrigados a assumir aspecto irregular para ocupar todo o volume disponível. Já os
cristais cujas superfícies tem a liberdade de crescer livremente tendem a estabelecer
formas geométricas regulares. Os cristais nos materiais metálicos são denominados
“grãos”. Os grãos podem ser vistos sobre uma superfície polida do material
devidamente preparada com emprego de um microscópio ético. Os diâmetros de grão
podem variar desde alguns microns até vários milímetros, quando podem ser vistos a
olho nú. Em cada grão os átomos estão arranjados de modo geometricamente
organizado caracterizando uma lei de distribuição relativamente uniforme. Esta
distribuição relativamente uniforme pode ser representada por meio de uma célula
unitária que apresenta as posições relativas ocupadas pelos átomos. Para os aços de
baixo carbono a temperatura ambiente, a célula unitária é cúbica de corpo centrado,
CCC, e o parâmetro da rede vale 0,286 mm, figura 1a. O mesmo entre 910ºC e 1390ºC
assume uma estrutura com célula unitária cúbica de face centrada CFC cujo parâmetro
da rede vale 0,364 mm, figura 1b.
Figura 1
A região que separa dois grãos justapostos, é denominada contorno de grão.
Esta região é caracterizada por grande desordem estrutural dado que ela sofre a
influência das orientações particulares de cada grão.
A estrutura dos grãos sempre contém defeitos. Alguns tipos de degeitos pontuais
são apresentadas na figura 2 onde se supõe, a crista superior de uma estrutura
caracterizada por célula unitária cúbica.

Figura 2
Um defeito de grande importância é a discordância. Trata-se de um defeito linear
cuja natureza é indicada na figura 3.

Figura 3
A deformação plástica ocorre justamente pela movimentação desses defeitos na
estrutura cristalina, figura 4.

Figura 4
As ligas podem ser monofásicas ou podem conter mais de uma fase.
O termo “fase” significa cristais que possuem a mesma estrutura e a mesma
composição química. Metais puros são sempre monofásicos.
As várias fases são formadas ou durante o resfriamento a partir do estado líquido
ou durante tratamentos térmicos subsequentes como consequência das alterações que a
temperatura provoca na solubilidade dos elementos constituintes. Assim que a rede do
metal contém mais átomos estranhos do que pode manter dissolvidas em equilíbrio a
mesma temperatura resulta uma supersaturação. A supersaturação tende a promover a
formação de partículas fixamente dispersas de uma seguida fase a que se denomina
“precipitado”.
Os precipitados são ditos “coerentes” quando mantém uma estrita correlação com
a rede da matriz. Precipitados incoerentes são aqueles que seguem orientação própria
estabelecendo então contornos de fase definidas com matriz, figura 5.

Figura 5
Uma região particularmente susceptível a formação de segundas fases é o
contorno de grão. Os contornos ocasionalmente podem ser completamente envolvidos
por precipitados e dessa seção de precipitação pode resultar o empobrecimento das
características mecânicas do material. Inclusões de alto ponto de fusão inicialmente
presentes sob a forma de suspensão sólida no metal líquido podem ser encontradas no
interior dos grãos da matriz. A figura 6 apresenta em resumo os tipos de defeitos
comentados. Observar que o espaçamento da rede cristalina está fora de escala em
relação ao diâmetro de grãos sendo que dimensões típicas para o ferro estão indicadas
na figura 6.
Figura 6

2 – ESTRUTURA DAS LIGAS FERRO-CARBONO


As ligas Fe-C englobam os aços e os ferros fundidos sendo a diferença de
definição entre os dois tipos de produto estabelecida por convenção em função do teor
de carbono abaixo ou acima de 2% respectivamente.
As ligas Fe-C podem conter diferentes fases: ferrita, austenita, cementita,
martensita e grafita. A ferrita e a cementita muito frequentemente aparecem associadas
num constituinte denominado “perlita”.
A proporção e a composição das fases presentes dependem da quantidade de
carbono na liga e da sua temperatura conforme indicado no diagrama de equilíbrio para
o sistema binário Fe-C, figura 7.
Figura 7.
Seja por exemplo um aço com teor de carbono de 0,4% na temperatura de 1600ºC.
Considere-se as sucessíveis transformações pelas quais o material passa a medida que
resfria lentamente tal como indicado pelo diagrama Fe-C. Para maior facilidade
considere-se a figura 8 que apresenta uma ampliação da parte relevante da figura 6.

Figura 8
Inicialmente a única fase presente é a fase líquida com teor de carbono de 0,4%.
Conforme a temperatura diminui até 1493ºC a quantidade de ferrita presente aumenta e
seu teor de carbono cresce até atingir 0,1%. A quantidade de fase líquida diminui
proporcionalmente e enquanto o seu teor de carbono cresce até atingir a 0,51%.
Imediatamente abaixo de 1493ºC ocorre na transformação de fase pela qual a
ferrita dá lugar a austenita com 0,18% de carbono dissolvido. Conforme a temperatura
continua baixando o teor de carbono da austenita cresce. A quantidade de austenita
cresce até que a fase líquida desaparece e todo o material é constituído por austenita
com 0,4% de carbono.
Considere agora parte do diagrama Fe-C, figura 9, que apresenta as
transformações que ocorrem em baixas temperaturas e baixos teores de carbono.

Figura 9
Conforme a temperatura cai o material se conserva monofásico, depois disso parte
da austenita se transforma em ferrita. Esta transformação se inici pelos contornos de
grão de austenita e a primeira ferrita que então se forma.
Com redução posterior da temperatura a quantidade de ferrita aumenta e o teor de
carbono dissolvido também aumenta até atingir 0,02%. Simultaneamente a quantidade
de austenita se reduz embora o teor de carbono da austenita remanescente aumenta.
Observar que esse aumento no teor de carbono da austenita é indispensável para
compensar o pequeno teor de carbono da ferrita de tal modo a respeitar o teor global de
2,4% da liga.
Ocorrendo posteriormente redução lenta na temperatura toda a austenita presente
se decompõe dando origem a perlita que é uma associação de ferrita e cementita (Fe 3C).
A perlita é constituída de lamelas de ferrita segundo um mecanismo descrito na
figura 10, que apresenta a nucleação e crescimento da perlita à partir da austenita num
aço com 0,8% de carbono.. O teor de carbono na cementita é 6,7% praticamente
constante com a temperatura.

Figura 10
A quantidade de perlita agora existente é igual a quantidade de austenita
imediatamente anterior à transformação. A quantidade total de ferrita será a soma de
ferrita primária, anterior à transformação com a ferrita que constitui a perlita.
Duas outras reações estruturais que podem ocorrer e que não estão representadas
no diagrama de fase da figura 7 que são a formação de martensita e a formação de
grafita.
A formação de perlita a partir de austenita envolve a movimentação de átomos de
carbono por certa distância na estrutura da austenita, figura10, que leva algum tempo
para ser realizado na temperatura de 723ºC.
Se o resfriamento for rápido, ocorre uma supersaturação de carbono que dá
origem a martensita. A martensita tem uma estrutura tetragonal que resulta do
tensionamento introduzido na estrutura pela quantidade relativamente grande de
carbono presente fora das condições de equilíbrio.
A grafita é a fase em equilíbrio que deveria resultar do resfriamento lento da
austenita. Nas ligas binárias Fe-C ocorre, entretanto, a formação mais rápida de
cementita que uma vez formada é suficientemente estável para persistir em caráter
permanente. A cementita bloqueia o desenvolvimento da grafita que requer acentuada
mobilidade do carbono por difusão no estado sólido para se formar. Alguns aços ao
carbono que operam por longos tempos em temperaturas elevadas podem ter sua perlita
decomposta em grafita e ferrita o que se constitui em série problemas para os
equipamentos industriais com eles constituídos.
As ligas Fe-C com alto teor de carbono, na faixa dos ferros fundidos,
frequentemente apresentam grafita na sua estrutura. Esta ocorrência é facilitada pela
presença de certos elementos de liga além de carbono, sendo um deles o silício, que
facilitam a nucleação precoce da grafita e seu desenvolvimento ainda nas altas
temperaturas a partir da fase líquida.

3 - BIBLIOGRAFIA
COLPAERT, Humbertus Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. São
Paulo: Edgard Blucher, 2008

FREIRE, J. M. Materiais de construção mecânica São Paulo: LTC, 2005.

HELMAN, H.; CETLIN, P. R. Fundamentos da conformação mecânica dos metais.


Rio de Janeiro: Guanabara dois, 2005.

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