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FUNDAÇÃO ESCOLA TÉCNICA LIBERATO SALZANO VIEIRA DA CUNHA

DISCIPLINA DE ENSAIOS

ENSAIO METALOGRÁFICO

ALEXANDRE TEN CATE MATTÉ

Novo Hamburgo, novembro de 2012.


RESUMO

O seguinte trabalho relata, passo a passo, a execução de um ensaio


micrográfico. A preparação da amostra, os processos de lixação, polimento, ataque
químico e os exames no microscópio. A amostra ensaiada, neste caso, foi retirada
de um eixo de caminhão. Com os resultados dos exames, foi possível identificar não
só os defeitos de polimento e secagem, oriundos da má preparação da amostra,
como também a estrutura do material que compunha o eixo. Neste caso, com a
análise da amostra após o ataque nital, com aumento de 100x e 500x, foi possível
concluir que o material que compunha a peça se trata de um aço temperado, com
aproximadamente 0,5% de C, resfriado com jato de ar.
1 INTRODUÇÃO

Tendo em vista que a microestrutura do material possibilita-nos de ter o


conhecimento de algumas propriedades ou defeitos que não são observadas a olho
nu ou com outro tipo de ensaio, é valido dizermos que a micrografia faz com que não
utilizemos os materiais indevidos para determinado processo, evitando problemas
futuros ou imediatos em diversos setores da indústria.
2 REVISÃO BIBLIOGRÁFICA

2.1 Ferrita

Segundo Colpaert (2008, p.96), “Ferro puro ou aços que contenham teores de
carbono abaixo do limite de solubilidade da cementita na fase CCC são
essencialmente monofásicos, contendo apenas a fase CCC, chamada “ferrita” a
temperatura ambiente.” Em aços em que a ferrita se forma através de resfriamento
relativamente lento do campo austenítico têm ferrita em grãos equiaxiais, ou seja, de
mesma dimensão, aproximadamente, em todas as direções ou eixos.

Figura 1: Morfologia equiaxial 100x.


Fonte: <http://www.esi2.us.es/IMM2/Pract-html/ferrita.html>

A ferrita não é um material duro. Como o teor de carbono desse material é


baixo, não se forma a cementita.

2.2 Austenita

Segundo Colpaert (2008, p.100), “O aquecimento da ferrita em aços Fe-C


leva à formação da fase CFC, chamada “austenita””.
Só podemos visualizar a austenita em ferro puro e ligas Fe-C com o auxílio de
microscópios que operam a temperatura elevada, onde temos a fase estável.
Há técnicas metalográficas, que podem ser empregadas com a finalidade de
revelar os contornos de grão da austenita.
Figura 2: Austenita.
Fonte: <http://dc193.4shared.com/doc/fftigLNp/preview.html>

2.3 Cementita

Quando o teor de carbono excede os 0,77%, sua solubilidade na ferrita é


excedida, aparecendo assim, a cementita.
Segundo Colpaert (2008, p.102), “Aços para conformação, de baixo teor de
carbono, normalmente apresentam a cementita distribuída ao longo do produto,
como uma segunda fase dispersa, [...]”.
Colpaert (2008, p.102) refere-se ao tratamento térmico em aços que
contenham cementita em sua composição, afirmando que:

Nestes aços, é importante que os tratamentos térmicos realizados


favoreçam ao máximo a precipitação da cementita, para que o carbono
seja removido de solução tanto quanto possível para garantir uma boa
formabilidade. Durante o tratamento térmico, as partículas de cementita
nucleiam nas heterogeneidades estruturais e crescem pela difusão de
carbono até estes núcleos. Como a concentração de carbono na cementita
é elevada, é preciso que ocorra movimentação significativa de carbono, no
aço, para que a cementita se forme e cresça.

Figura 3: Cementita.
Fonte: <http://dc193.4shared.com/doc/fftigLNp/preview.html>
2.4 Perlita

Temos um equilíbrio eutectóide entre ferrita, cementita e austenita, a 723ºC.


Colpaert (2008, p.103) refere-se à formação da perlita, afirmando que:

Quando aços contendo teores de carbono mais significativos do que os


discutidos acima se transformam de austenita para o campo abaixo da
temperatura eutectóide as fases esperadas são ferrita e cementita.
Observando-se o diagrama e considerando-se o que já foi discutido, é
possível concluir que, em função da grande diferença de composição
química das duas fases que devem se formar, o carbono precisará se
movimentar consideravelmente. Da mesma forma que em reações
eutéticas, a natureza busca mecanismos que tornem mais eficiente essa
transformação, minimizando as distâncias a difundir. No caso em questão,
isto é feito através do crescimento cooperativo de ferrita e cementita.

Os aços com 0,77% de carbono transformam-se completamente em perlita


quando temos um resfriamento lento. O espaçamento entre as lamelas varia de
acordo com a velocidade do resfriamento ou pela temperatura em que a perlita é
formada. Segundo Colpaert (2008, p.103), “Resfriamento lento (temperatura de
transformação elevada) resulta em maiores espaçamentos interlamelares e
resfriamento rápido (temperatura de transformação mais baixa) em perlita mais
fina.”.

Figura 4: Microestrutura da Perlita Grossa (esquerda) e Fina (direita) formada.


Fonte: <http://www.cimm.com.br/portal/material_didatico/6439-transformacoes>
2.5 Estruturas Intermediárias – Hipoeutectóides e Hipereutectóides

Os aços com teores de carbono abaixo de 0,77% os hipoeutectóides e os


com teores de carbono acima deste valor são os hipereutectóides.
Colpaert (2008, p.110) refere-se à fase pró-eutectóide, afirmando que:

Nas condições de resfriamento em que a redistribuição de soluto é


praticamente completa, quando a austenita é resfriada entra em um campo
bifásico, onde se forma uma fase antes do eutectóide (perlita) chamada,
por isto, pró-eutectóide. Nos aços hipoeutectóides, a fase que se forma
antes do eutectóide é a ferrita e no caso dos aços hipereutectóides, a fase
pró-eutectóide é a cementita.

2.5.1 Aços Hipoeutectóides

São os aços de baixa liga, ou seja, com menos de 0,77%C. No resfriamento


lento, a fração volumétrica de perlita varia de 0% e 100% em sua microestrutura.
Quando a estrutura for obtirda próxima ao equilíbrio, pode-se estimar a fração
volumétrica de ferrita e perlita em função do teor de carbono, assim como o teor de
carbono pode ser estimado em função da fração volumétrica.

2.5.2 Aços Hipereutectóides

São os aços com mais de 0,77% de carbono na sua composição.


Colpaert (2008, p.115) refere-se a formação de rede de cementita pró-
eutectóide, afirmando que:

Nos aços hipereutectóides resfriados lentamente, pode ocorrer a formação


de rede de cementita pró-eutectóide. A temperatura de austenitização
destes aços é frequentemente, ajustada para que não haja austenitização
completa e, posteriormente, formação da cementita em rede, nos contornos
de grão austeníticos. Com o ataque por nital pode ser difícil distinguir a
cementita pró-eutectóide, destes aços, da ferrita pró-eutectóide, dos aços
hipoeutectóides. Há ataques químicos específicos que permitem destacar a
cementita.
3 MATERIAIS E MÉTODOS

3.1 Preparação da amostra

3.1.1 Escolha do material

Cada aluno pôde escolher o seu material para a realização do ensaio, sendo
de aço ou de ferro fundido. O professor Frederico ofereceu algumas amostras, entre
elas, uma retirada de um eixo de caminhão, que foi a amostra utilizada para a
realização deste ensaio.

Figura 5: Eixo de caminhão.


Fonte: Prof. Frederico Sporket.

3.1.2 Corte e acabamento

Com o auxílio da serra fita, cortou-se a seção cilíndrica em quatro partes, a


fim de se obter o tamanho desejado para o embutimento. Dessas quatro partes,
apenas uma delas foi designada ao ensaio.
Com o auxílio de limas bastarda e mursa, limou-se a superfície a ser ensaiada
a fim de obter uma superfície razoavelmente plana. O acabamento também teve a
finalidade de agilizar o processo de lixamento.

3.1.3 Embutimento a frio

Foram utilizadas resinas sintéticas de polimerização rápida. O embutimento


foi feito com resinas auto polimerizáveis, que formaram um líquido viscoso quando
misturadas. A mistura foi colocada dentro de um molde plástico feito de PVC, onde
colocou-se também a amostra, polemizando-se após certo tempo.

Figura 6 - Resina e catalisador utilizados no embutimento a frio.


Fonte: <http://www.urisan.tche.br/~lemm/metalografia.pdf>

3.2 Lixamento e polimento

O processo de lixamento foi realizado com quatro papéis de lixa, sendo eles
de 220, 320, 420 e 600. As lixas foram colocadas na lixadeira manual por via úmida,
onde havia fluxo contínuo de água. Seguindo o procedimento, a amostra devia ser
levemente pressionada contra a lixa e arrastada de uma extremidade até a outra,
sempre na mesma direção e sentido.

Figura 7: Lixadeira manual por via úmida


Fonte: <http://www.urisan.tche.br/~lemm/metalografia.pdf>

A troca da lixa ocorre quando desaparecem as ranhuras do último


procedimento. Quando ocorre a troca, a amostra é rotacionada a 90º, a fim de
facilitar a visualização das ranhuras.
Figura 8 - Representação esquemática do método de lixamento com trabalho em
sentidos alternados.
Fonte: Adaptado de: <http://www.urisan.tche.br/~lemm/metalografia.pdf>

Após o lixamento, com o auxílio de uma politriz, foi realizado o polimento da


amostra. A amostra foi levemente pressionada sobre o feltro, que era umedecido
com gotas contínuas de água. Para o polimento foi utilizado como abrasivo o óxido
de alumínio (alumina).

Figura 9: Politriz.
Fonte: <http://www.urisan.tche.br/~lemm/metalografia.pdf>

A amostra está devidamente polida no momento em que não temos mais


ranhuras, ou todas as ranhuras estão invisíveis a olho nu.

Figura 10: Amostra polida.


3.4 Exame ao microscópio para a observação das ocorrências visíveis sem
ataque

Após o polimento, com o auxílio de um algodão, foi passado álcool na


amostra e foi utilizado um secador de cabelos para secá-las. As amostras foram
examinadas no microscópio, utilizando lentes de 100x e 500x.

Figuras 11 e 12: Amostras sem ataque com aumento de 100x e 500x,


respectivamente.

3.5 Ataque nital 3%

Foi utilizada uma solução de HNO3 em álcool etílico 3%, de modo que essa
foi despejada em uma cuba, onde a face da peça foi mergulhada, sem que a face
encostasse-se no fundo da cuba, por um período de dez segundos. Quando a peça
foi retirada, foi lavada com água abundante, foi passado álcool com o auxílio de um
algodão e foi secada com o auxílio de um secador de cabelos.

3.6 Exame ao microscópio para observação da microestrutura

Após o ataque nital, quando observadas no microscópio, foi possível a


visualização da microestrutura do material. As amostras foram fotografadas com
aumento de 100x e 500x por uma câmera embutida no microscópio.
Figuras 13 e 14: Ataque nital 3% com aumento de 100x e 500x, respectivamente.
Fonte: José Luís Pereira Flores Júnior
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO

4.1 Exame ao microscópio para a observação das ocorrências visíveis sem


ataque

Analisando as figuras 11 e 12, nota-se a aparição de linhas de lixamento, de


alguns cometas e também pequenos pontos, oriundos de um defeito de secagem.

4.2 Exame ao microscópio para observação da microestrutura

Analisando as figuras 13 e 14, observou-se os grãos de perlita envoltos por


uma rede de ferrita, o que ficou bem claro com o ataque químico.
5 CONCLUSÕES

5.1 Exame ao microscópio para a observação das ocorrências visíveis sem


ataque

Os resultados nos permitem concluir que a peça tem defeitos de lixamento, o


que fica claro com a aparição das linhas de lixamento, que é resultado de uma troca
antecipada de lixa. A peça também tem defeitos de polimento, que se justificam com
a aparição de cometas, oriundos de uma força excessiva aplicada no processo de
polimento. O defeito de secagem se observa através de pequenos pontos, que são
pequenas gotas de água.

5.2 Exame ao microscópio para observação da microestrutura

Devido à coloração escura observada nas figuras 13 e 14, conclui-se que a


peça tem em sua composição, aproximadamente 0,5% de C. As imagens foram
comparadas às figuras 436 e 437 do livro Metalografia dos produtos siderúrgicos
comuns, de Hubertus Colpaert, na 3ª edição, chegando assim à conclusão de que o
material é temperado resfriado ao ar.
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COLPAERT, Humbertus. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 3. ed.


São Paulo: Blucher, 1981.

COLPAERT, Humbertus. Metalografia dos produtos siderúrgicos comuns. 4. ed.


São Paulo: Blucher, 2008.

ROHDE, Regis Almir. Metalografia preparação de amostras. Disponível em:


<http://www.urisan.tche.br/~lemm/metalografia.pdf> Acessado em: 28 nov. 2012.

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