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UNIVERSIDADE DO EXTREMO SUL CATARINENSE - UNESC

FABRICIO BAUER PERES


LUIZ OTÁVIO LIMA MARANGONI

METALURGIA FÍSICA I:
CEMENTITA E CARBONETOS

Criciúma, 17 de abril de 2023


INTRODUÇÃO

Cementita é um composto presente em aços e ferros fundidos, com fórmula


química Fe3C, formado pela reação entre o ferro e o carbono. Esse composto é
comumente encontrado na microestrutura desses materiais, influenciando suas
propriedades mecânicas, físicas e químicas. A compreensão das propriedades da
cementita é essencial para a manufatura de produtos oriundos de aços e ferros
fundidos com características adequadas para seu emprego.
Diversos estudos de engenharia e ciência dos materiais visam explorar a
cementita, suas propriedades, aplicações e técnicas de análise que são
características importantes a serem entendidas para uma melhor entrega de
produtos, bem como apresentar como sua formação ocorre. Este trabalho tem como
objetivo satisfazer esses tópicos, visando facilitar o entendimento das propriedades
da cementita.

REFERENCIAL TEÓRICO

1. CEMENTITA

A cementita (𝐹𝑒3 𝐶) ou carboneto de ferro, é o carboneto que mais ocorre nas


ligas de aço e contém uma estrutura cristalina ortorrômbica. (A. Nagao et. all, 2014).
A quantidade de cementita presente no aço varia dependendo da composição
química da liga e das condições de tratamento térmico. Pode ser encontrada também
em outras ligas de ferro-carbono, como o ferro fundido, e em algumas ligas de ferro
com outros elementos de liga. (Callister & Rethwisch, 2018).

1.1 FORMAÇÃO DA MICROESTRUTURA

A cementita forma-se quando o limite de solubilidade do carbono é


ultrapassado (6,7% de C), ela é um composto intermetálico metaestável, embora a
velocidade de decomposição em ferro α e C seja muito lenta. A adição de Si acelera
a decomposição da cementita para formar grafita. (PASCOALI, Suzy, 2008).
Pode ainda ser encontrada e derivada de outras microestruturas, como:
Austenita (decompõe-se em ferrita e cementita, por meio de reações eutetóide a
temperaturas abaixo de 723°C com concentração de carbono entre 1,7% – 1,8%),
Perlita (formada por ferrita e cementita, por meio de reações eutetóide a 723°C com
0,8% de carbono). (VENSON, Ivan, 2007).

1.2 COMPOSIÇÃO E PROPRIEDADES

Mecanicamente a cementita é muito dura, frágil; baixa ductilidade, baixa


tenacidade e a resistência mecânica de alguns aços é grandemente melhorada pela
sua presença (CALLISTER, 2007).
Ela dá origem a um eutetóide de extrema importância – a perlita. Que é uma
mistura de duas fases – ferritica e cementita – com uma estrutura lamelar
(CHAVERINI, 2005).
Cementita é muito mais dura mais frágil do que a ferrita. Assim, o aumento
da fração de 𝐹𝑒3 𝐶 num aço enquanto mantém-se outros elementos
microestruturais constantes resultará num material mais duro e com maior
resistente. Em aços baixo carbono acarretara em uma maior fração de perlita
na microestrutura afetando positivamente o Limite de Escoamento
(CHAVERINI, 2005), figura 1.

Figura 1. Efeito da fração de perlita em limite de escoamento no aço C – Mn (OLEA, 2002).

Portanto, quanto maior o teor de carbono, mais frágil a estrutura de aço se torna.
Em baixas temperaturas é ferromagnético e perde esta propriedade a 212ºC (ponto
de Curie). (VENSON, Ivan, 2007).

2. ANÁLISE E IDENTIFICAÇÃO DA MICROESTRUTURA

Para realizar a análise e identificação da cementita, é necessário antes realizar


um ataque químico na amostra do material. Para tanto, utiliza-se de uma solução de
picrato de sódio.

Dissolve-se o ácido pícrico em água quente, faz-se ferver e acrescenta-se


progressivamente a soda. Depois de preparado o reativo, mergulha-se nele
o corpo de prova a atacar e deixa-se ferver durante uns 15 minutos, findos
os quais lava-se o corpo de prova em água e enxuga-se pelo processo
descrito acima. Este reativo colore a cementita, os carbonetos complexos
dos aços-liga e a steadita dos ferros fundidos. (COLPAERT, 1983)
A análise metalográfica de uma amostra de aço SAE 1020 com 0,20% de
carbono em sua composição revelou uma microestrutura com distribuição nítida de
cementita e ferrita. Foi constatado que a amostra é composta por 3% de cementita e
97% de ferrita. Isso significa que praticamente todo o carbono presente no aço 1020
está na forma de cementita, embora represente apenas 3% do volume, e o restante
está junto à ferrita (LEITE, Sueli Souza et al, 2017). Figura 2.

Figura 2. Imagem metalográfica do aço 1020, utilizando Nital 3% como ataque químico, vemos então
a parte escura (cementita), parte verde (ferrita). (LEITE, Sueli Souza et al, 2017).

Podemos encontrar também cementita em aços com alto teor de carbono como
é o caso do SAE 1095 com 0,95% de C em sua liga, sendo um aço, que possui
propriedades de alta dureza e resistência ao desgaste.
A resistência ao desgaste depende de vários fatores, incluindo a
microestrutura. Foram realizadas análises micrográficas em um corpo de prova, a
Figura 3 mostra a microestrutura formada no aço SAE 1095 no seu estado recozido.
Foi observado que a estrutura apresentava grãos grosseiros compostos de perlita,
com contorno de grãos de cementita. (FARAH, A. F, et al, 2018).

Figura 3. Estrutura formada do aço SAE 1095 no seu estado recozido com ataque químico (a) Nital
2%; (b) Picrato de Sódio. (FARAH, A. F, et al, 2018).
CONCLUSÃO

Em resumo, a cementita é um composto intermetálico importante encontrado


em ligas de aço que se forma quando o limite de solubilidade do carbono é excedido.
É reconhecida por sua dureza e fragilidade, e pode aprimorar a resistência mecânica
de alguns tipos de aço. Além disso, a cementita é crucial na formação da perlita.
Para analisar e identificar a presença de cementita, é necessário realizar um
ataque químico na amostra, o picrato de sódio é um produto que facilita a visualização
da cementita e uma boa opção para ser utilizada. A análise metalográfica de uma
amostra de aço pode indicar claramente a distribuição de cementita e suas diversas
formas de apresentação na estrutura.
A compreensão das propriedades e composição da cementita é fundamental
para a indústria metalúrgica, bem como para o desenvolvimento de novas ligas de
aço com características específicas.
BIBLIOGRAFIA

(A. Nagao et. all, 2014).


A. Nagao, ML Martin, M. Dadfarnia, P. Sofronis, IM Robertson, O efeito de ( Mo)C
nanométrico precipita na fragilização por hidrogênio de aço martensítico
temperado, Acta Mater. 74 (Suplemento C) (2014) 244–254.

(CALLISTER, 2007).
CALLISTER, W. D. Introdução a Ciência e Engenharia dos Materiais. 7ª Edição.
John Wiley e Sons, Inc., 2007.

(Callister & Rethwisch, 2018).


Callister Jr., W. D., & Rethwisch, D. G. (2018). Materials Science and Engineering:
An Introduction, 10th Edition. John Wiley & Sons, Inc. ISBN: 978-1-119-32094-0.

(CHAVERINI, 2005).
CHAVERINI, V. Aços e Ferros Fundido. 7ª Edição. ABM, 2005.

(COLPAERT, 1983)
COLPAERT, Hubertus. Metalografia dos processos siderúrgicos comuns. 3. ed.
São Paulo: Editora Edgard Blucher Ltda, 1983. 412 p.

(FARAH, A. F, et al, 2018).


FARAH, A. F.; FARAH, S. P. dos S.; GOMES, M. A.; SANTOS, V. H. dos; OLIVEIRA,
A. L. de. INFLUÊNCIA DA MICROESTRUTURA DE UM AÇO SAE 1095 NA
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https://sitefa.fatecsertaozinho.edu.br/sitefa/article/view/35. Acesso em: 15 abr. 2023.

(VENSON, Ivan, 2007).


VENSON, Ivan. Constituintes estruturais de equilíbrio dos aços. Paraná,
Universidade Federal do Paraná, 2007. Disponível em:
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(LEITE, Sueli Souza et al, 2017).


LEITE, Sueli Souza et al. ENSAIO DE TRAÇÃO E METALORAFIA DOS AÇOS SAE
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http://www.ojs.toledo.br/index.php/engenharias/article/view/2578/152. Acesso em: 14
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(OLEA, 2002).
OLEA, C. A. W. Caracterização por Microscopia Eletrônica do Aço SAE1141
Microligado ao Nb. Porto Alegre, Dissertação, Universidade Federal do Rio Grande
do Sul, 2002.

(PASCOALI, Suzy, 2008).


PASCOALI, Suzy. Tecnologia dos Materiais: produção didático-pedagógica.
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https://wiki.ifsc.edu.br/mediawiki/images/0/09/Aru_suzy_transpar%C3%AAncias_Tec
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