Você está na página 1de 14

João Paulo II- O Papa Magno.

A Magnanimidade

Existem dois vôos que simbolizam dois estilos de diversas almas: o vôo da galinha e o
da águia. O vôo da galinha é de baixa altura, faz barulho, levanta poeira e revoluciona o
galinheiro. È símbolo das almas rasteiras, com ideais horizontais e corrida de curto
alcance. Pode fazer muito barulho e dar o que falar, mas geralmente ficam no
esquecimento. São os tipos de almas que apontam a metas que não ultrapassam a
sombra que projeta seu nariz, passam sem deixar pegadas.

O vôo da águia é desafiante, altaneiro, veloz, incansável e inalcançável. Sua vista é


capaz de fixar o sol e também de contemplar a plenitude da paisagem que lhe oferecem
os cumes da montanha. Brinca com os ventos. Desde sua altura vê os mares como se
fossem possas, é uma ave de caça e de luta. È símbolo da alma que se sente estreita na
terra e desafogada no céu; da alma que necessita metas longes e difíceis, que podem
enfrentar asperezas e obstáculos não somente sem desanimo senão com emoção e gozo.

A magnanimidade como seu mesmo nome indica faz referencia a grandeza da alma,
anima magna.

Este tipo de alma foi o que caracterizou Karol Wojtyla, como manifestação desta
grandeza de alma, foi conhecido mais tarde como João Paulo Magno.

Em 18 de maio e 1920 nasceu em Wadowice, na província de Cracovia, Polônia, Karol


Jozef Wojtyla, filho de Karol Wojtyla, 40 anos, oficial do exército, e Emilia
Kaczorowska, 36 anos, dona de casa. Karol teve um irmão, Edmund, 14 anos mais
velho, e uma Irmã, Olga, que morrera seis anos antes, ainda pequena. Foi batizado em
20 de junho.

Em 15 de setembro de 1926, começou o ensino fundamental. Em 13 de abril de 1929,


perdeu a mãe, que morreu de doença cardíaca, e, em 5 de dezembro de 1932, seu irmão,
já formado em medicina, morreu em decorrência de uma epidemia de escarlatina.

Em 3 de maio de 1938, recebeu a crisma, e no mesmo mês, passou nas provas finais do
colégio. Em 22 de junho daquele ano, inscreveu-se na faculdade de filosofia da
universidade Jaguelonica, transferindo-se com o pai, em seguida, para Cracóvia. Lá, em
fevereiro de 1940, conheceu Jan Tyranowski, que o apresentou ao grupo Rosário
Vivente e o introduziu ao estudo do misticismo. Em 1 de novembro, começou a
trabalhar na pedreira de Zakrzówek, a fim de evitar a deportação para a Alemanha, que
ocupara a Polônia um ano antes.

Foi ordenado sacerdote no dia ....................

No dia .................. recebeu a ordenação episcopal

Em ........................ foi nomeado Pontifice assumindo o nome de João Paulo II


Karol Wojtyla morreu as 21:37 do dia 2 de abril, primeiro sábado do mês e primeiras
vésperas da festa da Divina Misericórdia. Viveu 84 anos, 10 meses e 15 dias, dos quais
foi papa por 26 anos, 5 meses e 17 dias.

João Paulo II, somente um segredo;


A Santidade

O que tem atrás de um homem que bateu tantos records, de um homem quem sabe
maior do século XX? Será que seu segredo, é algo pessoal, incomunicável, ou será parte
de sua missão?

Introdução

Estamos diante uma personalidade multifário:

 Esportista, ator, escritor, filólogo (estudo da língua), teólogo, poeta, gênio em


tudo o que se propôs fazer.
 Sacerdote aos 26 anos, bispo aos 38, Papa aos 58.
 3º pontificado mais longo da história (26 anos e 5 meses)
 1º Papa polaco; o primeiro papa não italiano depois de 455 anos.
 Realizou 146 visitas pastorais na Itália e 104 visitas pastorais no estrangeiro.
 Recorreu mais de 1.247.613 kilômetros, o que representa quase 29 vezes a volta
na Terra e 3,24 vezes a distancia entre a Terra e a Lua. É o papa mais viajante da
história com 133 países visitados, a maior parte deles, receberam pela primeira
vez a visita de um pontífice.
 Ditou mais de 20.000 discursos.
 Convocou a segunda celebração milenária da história da Igreja, o Grande Jubileu
do ano 2000. Também presidiu o ano Mariano em 1988, celebrando os 2000
anos do nascimento da Virgem Maria.
 Recebeu a mais de 17 milhões de pessoas em umas das 1100 audiências gerais.
Além disso, recebeu entre 2 e 4 milhões de pessoas em audiências concedidas a
grupos específicos e autoridades de Estado. Também, podemos acrescentar os
milhares que assistiram as celebrações litúrgicas em Roma e no mundo,
presididas pelo Papa...
 E poderíamos seguir...

Um homem magnânimo sem duvida alguma.


Mas, qual foi o segredo ou a causa de ter sido uma alma tão grande? A causa, a raiz
de tudo isso que aparece, resumimos em uma palavra; A SANTIDADE.

Esta é a peça chave da leitura de vida de qualquer santo, assim como também do
papa João Paulo II. Uma vez Karol Wojtyla fez uma confissão muito intima que
descreve de modo perfeito o que quero dizer;

“Tentam entender-me desde fora; mas eu só posso ser entendido desde dentro”

A santidade... este era um tema que preocupava João Paulo II...O bom humor
sempre acompanhava até suas preocupações. Um dia, uma das irmãs que servia no
apartamento pontifício viu a João Paulo II particularmente cansado e lhe confessou
que estava preocupada por “Sua Santidade”; “Eu também estou preocupado por
minha santidade” , lhe respondeu rapidamente com um sorriso”.

Sabido é que o Papa jejuava, e com extremo rigor, especialmente durante a


Quaresma, período a que reduzia a alimentação a uma só comida completa ao dia.
Em uma oportunidade Mons. Cafarra, estava convidado a um almoço com João
Paulo II. Quando chegou, umas das irmãs, que atendiam os trabalhos domésticos e
cuidavam do Papa, lhe comentaram que o Papa emagrecia mais de 15 kilos em cada
quaresma pelos jejuns e pelas penitencias que fazia. As irmãs preocupadas pedem a
Mons. Cafarra que dissesse algo ao papa para incentivá-lo a que comesse mais.
Assim é que quando ainda estava comendo Mons. Cafarra diz ao Papa; “Sua
Santidade, vejo que o senhor tem comido pouco e de fato há emagrecido muito
neste tempo. É necessário que o senhor coma mais, o mundo necessita um papa
forte”. E imediatamente, batendo na mesa lhe respondeu; “O mundo não tem
necessidade de um papa forte, o mundo tem necessidade de um Papa santo!”

SANTO “JÁ”!

Este foi o grito mais escutado e os cartazes levantados na Praza de São Pedro,
no dia de sua morte e durante o seu funeral, esta era a convicção dos fiéis sobre
os méritos de João Paulo II.

Ainda tendo em conta a manifestação de sua santidade, se dá certo paradoxo em


quanto que a sua santidade aparece de algum modo feita ao nosso tempo, como
atualizada ao nosso tempo, a nossa época, e, assim também mais acessível, como
que mais encarnada, “mais humana” por assim dizer.

Os santos e beatos são proclamados tais, para serem imitados, venerados e para
serem invocados.

Vejamos o primeiro aspecto... nisto de ser “imitados”, vejamos sua santidade à


margem dos altares, o mais próximo que possamos de nós.
A SANTIDADE SEGUNDO JOÃO PAULO II

Antes de falar diretamente dos traços da santidade de JPII, digamos brevemente em


que consiste a santidade. Vou citar alguns textos, onde o Papa além de nos dizer
brevemente em que consiste a santidade, inculca no fato de que é para todos...- já
Nosso Senhor no sermão da Montanha tinha dito “Sede santos como é santo vosso
Pai celestial”. Em uma homilia na Solenidade de todos os Santos disse;

Estes são os que ... souberam ir contra a corrente, acolhendo o “sermão da


montanha” como norma inspiradora de sua vida, pobreza de espírito e simplicidade
de vida,

mansidão e não violência; arrependimento dos pecados próprios e expiação dos


alheios; fome e sede de justiça; misericórdia e compaixão; pureza de coração;
compromisso em favor da paz; e sacrifício pela justiça (cf. Mt 5,3-10). Todo o
cristão está chamado a santidade, quer dizer, a viver as bem-aventuranças.

Amor aos santos

Sentia pelos santos uma veneração especial, celebrava suas festas, venerava
suas relíquias, (todas as manhãs depois de tomar café, atravessava a sacristia e
beijava todas as relíquias que tinha em cima de uma mesinha junto ao altar. Ao
lado de um pedaço da relíquia da santa cruz, se exibiam restos dos ossos de são
Pedro, de são Stanislaw, de são Carlos Borromeu, de Santa Hediviges e de
muitos outros beatos e santos. No ultimo período de sua vida, quando já estava
em cadeiras de rodas, pedia que o levasse ante as relíquias para venerá-las); e
lia freqüentemente suas vidas para inspirar-se na prática de suas virtudes.
Guardava a biografia de todos os santos e beatos que canoniza em duas pastas
grossas no seu quarto e as lia freqüentemente.

Este amor aos santos o levou a canonizar e beatificar tantos homens e mulheres
de todas as idades e condições.

Proclamou 1345 beatos e 483 santos, em ambas as coisas mais que todos seus
predecessores nos últimos quatro séculos juntos.

Esta foi a vocação do Papa João Paulo II, e esta é também a vocação de cada cristão,
minha vocação, sua vocação; a vocação do cristão é a santidade, isto firma o Papa
num discurso em sua visita apostólica a Croacia; “estais chamados a santidade em
todas as etapas; na primavera da juventude, na plenitude do verão da idade
madura, no outono e no inverno da velhice, e por ultimo na hora da morte... ”

Esta é a primeira vocação dos cristãos, e se não respondemos a este primeiro


chamado,... a busca por nossa santidade, seria inútil perguntar-se pela 2ª vocação: o
matrimonio ou a vida consagrada, etc.
A SANTIDADE DE JOÃO PAULO II

UMA SANTIDADE DE CARNE E OSSO

Uma das características que chama a atenção na vida de João Paulo II, é que possuía
o que podemos chamar “uma santidade de carne e osso”. Todos os santos foram
de carne e osso com nós. Tiveram muitas tentações como nós, é verdade que a vida
de muitos santos, é admirável e não imitável, para alguns destes Deus lhes pedia
coisas extraordinárias, e lhes dava a graça para isto.

Mas no beato JPII tudo, o quase tudo é imitável. Em uma visita a sua querida Pátria
Polônia, em junho de 99 , falando dos santos disse; “o mundo necessita este tipo de
“loucos de Deus”, que travessam a terra como Cristo”,

e sobretudo nos demonstrou com sua vida; se somamos uma por uma todas as
coisas que fez e como as fez, tudo o que sofreu e como o sofreu, os inumeráveis
exemplos de caridade, etc., sem duvida alguma nos daríamos conta que estamos
diante de um gigante, um “monstro”, um titã, e é por isso que lhe dizem “João Paulo
Magno”, este homem tão magnânimo se fez próximo a nós pelos meios de
comunicação, por suas viagens, por seu carisma (sobre tudo com os jovens), etc., a
santidade de sua vida se mostra acessível, alcançável, imitável...

Vejamos algumas características desta santidade encarnada;

1) Transparente e autentico, espontâneo: Isto provinha de sua grande


liberdade de espírito, de estar totalmente despegado do criado, do “que
dirão”, etc. uma vez um fotógrafo de um modo clandestino lhe tirou
algumas fotos enquanto tomava banho na piscina de Castel Gondolfo
(aonde acostumava passar as férias); quando lhe disseram, sem fazer-se
nenhum problema, disse: “Ah, sim? E em que jornal deveriam publicar?”

2) De grande simpatia; possuía uma grande capacidade de estabelecer relações


com os demais; sentimentos puros, profundos.
Homem capaz de profunda amizades. Sabia viver aquilo do evangelho: “Já não
os chamo servos, senão amigos”. Tinha muitos amigos por sua capacidade de
estabelecer relação de intimidade com qualquer pessoa. Sendo Papa continuou
vendo seus amigos da infância, de seus tempos de sacerdote e bispo; se
reencontrou com seus companheiros da época de estudante romano, convidava a
Castel Gandolfo alguns de seus amigos, para passar as férias com ele, assim
como os filhos e netos de seus amigos, escrevia a amigos e benfeitores, e se
interessava por eles.

3) Possuía uma grande amabilidade.


Um companheiro de Wojtyla contou que “ lhe havia impressionado sua bondade,
sua benevolência, e seu sentido de camaradagem. Se relacionava facilmente com
seus interlocutores, tentava compreende-los e questionava temas que nos
interessava a todos”.

Depois de sua eleição como Papa, chamou por telefone a Cracóvia e pediu que
incluísse gratuitamente no grupo que iam viajar a Roma, para presenciar a
inauguração do pontificado à senhora Maria, empregada doméstica do palácio
arcebispal de Cracóvia. E nos últimos dias de sua vida quis despedir-se dos mais
altos expoentes do Vaticano, mas também de Franco, que se ocupava do
apartamento pontifício e de Arturo, o fotógrafo que o havia acompanhado durante
muitos anos.

4) Patriota; estava profundamente enraizado a sua terra, ainda contra dos


nacionalismos.Em sua primeira visita a sua pátria como Papa, comentou depois de
alguns anos, que teve que conter-se para não emocionar-se.Gostava de celebrar com
os polacos algumas festas de seu país.

JESUS CRISTO

E qual era o segredo de que viemos dizendo, de sua simplicidade... sem duvidas que
o papa tinha de base muitas virtudes humanas, de talentos, mas é impossível negar
que esteja elevado por uma vida espiritual muito intensa. O segredo está em Jesus
Cristo... Deus se fez homem, a santidade então não pode aparecer desencarnada...

Escreve o postulador de sua causa o P. Slawomir Oder, e autor do livro porque


santo? Ou santo em português, comenta;

“A trajetória existencial de Karol Wojtyla deve, sem duvida alguma, sua luz e seu
principio prioritário à plena adesão a Cristo, a certeza de estar em suas mãos e de
não poder ver-se privado em nenhum momento de seu amor. Uma espiritualidade
expressada com uma extraordinária intensidade as palavras de São Paulo; “Já
não sou eu quem vivo é Cristo que vive em mim” (Gal 2,20)

Sempre propunha Jesus Cristo com grande ideal:

 “Os homens devem entender que não somente não perdem nada com a
adesão a Cristo, senão que ganham tudo, porque em Cristo o homem se faz
mais homem”. (homilia pronunciada em Roma em março de 1981).
 “Homem de nossa época! Somente Cristo ressuscitado pode saciar
plenamente tua insubstituível ânsia de liberdade (...) Para sempre!”
(mensagem pascoal no ano 1991).
 “Somente Ele é capaz de saciar a nostalgia do infinito que mora no profundo
do vosso coração. Somente Ele pode encher a sede de felicidade que levais
dentro. Porque Ele é o Caminho, a Verdade e a Vida (Jo 14,6). N’Ele estão
as respostas os interrogantes mais profundos e angustiosos de todo homem e
da mesma história”. (Discurso em Lima, Peru em junho de 1988).
 “Queridos jovens já o sabeis; o cristianismo não é uma opinião e não
consiste em vãs palavras. O cristianismo é Cristo! È uma Pessoa, é um
Vivente! Encontrar a Jesus, amá-lo e fazê-lo amar; eis aqui a vocação cristã.”
(Mensagem para XVIII Jornada mundial da Juventude no ano 2002).

SUA IMITAÇÃO; JESUS CRISTO

a) Desejo de fazer sempre a vontade de Deus

“O que é a santidade? È precisamente a alegria de fazer a vontade de Deus”,


extrato de uma homilia pregada na Cúria romana.

Buscava de ver em tudo a vontade de Deus, para isso olhava o mundo “desde o
alto”; sempre que recebia más noticias (enfermidade, morte de João Paulo I, etc)
se perguntava: “O que Deus quer me dizer com isso?” “Me pergunto o que
Deus quer comunicar-me com esta enfermidade”

Aos que lhe perguntavam se era fácil viver a história em primeira pessoa,
respondia; “Quando Deus quer é fácil. Isto simplifica a minha vida; o fato de
saber que é vontade de Deus. È Ele que dispõe as coisas”.

Quando busca sua vocação, devendo mudar seus planos (como ator, estudante);
quando o fazem bispo e logo Papa; quando reflete se deve ou não renunciar ao
Pontificado, em todo o momento o que prima é a vontade de Deus.

Com respeito a decisão de deixar a cátedra de Pedro devido a sua má saúde,


sintetiza Slawomir: “A decisão de não abandonar o trono de São Pedro tinha
suas raízes na espiritualidade de entrega a Deus, na fé na Divina Providencia e
na confiante assistência de Nossa Senhora ” em resumo dos seus pensamentos
esta poderia ser sua reflexão: “Eu nunca havia pensado que me tornaria papa.
Foi a divina Providência que me trouxe até aqui, então deixo que Ele julgue e
decida quando eu devo concluí-la. Se renunciasse, eu estaria tomando a
decisão, mas gostaria de cumprir a vontade de Deus em sua plenitude, portanto,
deixo que Ele decida por mim”.

Quando superou os 80 anos, que cumpriu no ano do Grande Jubileu em 2000,


JPII se pôs definitivamente nas mãos de Deus. Segundo afirmou no seu
testamento: “Confio que Ele me ajudará a reconhecer até quando devo
prosseguir com este serviço para o qual me chamou no dia 16 de outubro de
1978. Peço que me chame quando Ele quiser. Porque, se vivemos, para o
Senhor vivemos; se morremos, para o Senhor morremos. De sorte que, ou
vivamos ou morramos, somos do Senhor (Rm14,8). Espero que até quando eu
puder cumprir o serviço apostólico na Igreja, a Misericórdia de Deus me dê a
força necessária para realizar o meu serviço”.

Em outra parte, o autor fala da “conformidade alegre com a vontade de Deus”,


quando se viu obrigado a usar bengala para caminhar, JPII se sentia um tanto
constrangido. Precisava se esforçar para aparecer em público com aquele
evidente sinal de fragilidade física, tanto que adquirira o hábito de deixar a
bengala atrás da porta antes de entrar na Sala Paulo VI para as audiências. Mas
não demorou em aceitar seu novo estado, como demonstrou seu jeito alegre de
girar a bengala diante de milhões de jovens durante a vigília do Dia Mundial da
Juventude, realizada em Manila em janeiro de 1995.

b) Sua oração

O atual arcebispo de Cracóvia e quem foi secretário pessoal de Karol Wojtyla


por mais de 40 anos, Cardeal Stanislaw Dziwisz, sinalou que para o Papa João
Paulo II “rezar era como respirar”.

Em sua casa (seu primeiro seminário como ele mesmo chamou) aprendeu de
seus pais a amor a oração. Gravou em sua alma a profunda piedade de seu pai a
quem muitas

vezes o viu de joelhos rezando. Seu pai era um militar retirado, sério más,
bondoso; muito sofrido, amava muito a sua família e seus filhos.

Ainda jovem conheceu o alfaiate Jan Tyranowski, que guiava o “Rosário


vivente”, e quem lhe fez conhecer o “Tratado da Verdadeira devoção a Maria”, e
a São João da Cruz, este senhor o educou em uma devoção séria e profunda; o
iluminou sobre o profundo significado da oração e aumentou nele a devoção
pelo divino.

Sua oração foi o fundamento de seu extraordinário trabalho, de sua fecundidade


e de seu zelo apostólico. Sua vida foi em síntese ação-oração, acostumava dizer
“A primeira tarefa que deve realizar o Papa a favor do mundo é rezar”. Da
oração nascia nele a capacidade de dizer a verdade sem temor, já que, aquele que
está somente ante Deus, não tem medo dos homens. (no livro- Santo- postulador
p. Slawomir).

A oração lhe dava luzes para atuar. Rezava muito e ainda mais, nos momentos
difíceis de seu ministério ou historicamente críticos. Costumava dizer; “A
solução a encontramos rezando mais” , “Temos que rezar muito e esperar um
sinal de Deus ”.
Rezava e jejuava antes de nomear a um bispo em destinos complicados:
“Dedicarei a missa para esta questão e depois elegerei entre um dos
candidatos”.

Quando tomava decisões importantes rezava muito: “Depois de ter rezado e


reflexionado muito sobre minhas responsabilidades diante de Deus...”

A oração constituía a fonte essencial da que o Papa extraía a energia espiritual


que necessitava para a vida cotidiana. Seu ministério sacerdotal se alimentava de
um continuo e extraordinário contato com Deus no que destacava a Santa Missa.

“Nada tem mais importância para mim ou me causa maior alegria que
celebrar diariamente a Missa e servir ao Povo de Deus na Igreja. E isso é
assim desde o mesmo dia de minha ordenação como sacerdote. Nada pode
mudar em nenhum momento, nem sequer o fato de ser agora Papa”.

Realizava uma excelente preparação para celebrar o santo Sacrifício do Altar. Se


predispunha a noite anterior recitando orações de preparação. Quando chegava a
sacristia, antes de revestir-se se ajoelhava e rezava em silencio (já havia rezado
duas horas previamente). A oração durava 10,15 ou 20 minutos. Dava a
impressão que o Papa não se encontrava presente. De vez em quando lia algo em
uma folha e apoiando as mãos na frente rezava intensamente. Se revestia em
absoluto silencio.

Diz uma testemunha: “Se dirigia a Deus antes que as pessoas e antes de
representá-lo pedia a Deus que lhe permitisse ser uma imagem vivente entre
os homens”.

Aos que estavam presentes, a oração não era cansativa; era uma experiência de
outro mundo. Sem contar a preparação e a ação de graças suas missas privadas
sem sermão, duravam 40 min...

Impressionava o modo em que rezava a oração eucarística depois da


consagração; era como se carregasse sobre suas costas a toda a Igreja e ao
mundo.

Poucos dias após ter apresentado sua tese de conclusão de curso, Wojtyla voltou
à diocese, onde lhe foi confiado o primeiro encargo como vice-pároco de
Niecowic a 30 km do leste de Cracóvia. Era uma comunidade de 5 mil devotos,
espalhados por 13 vilarejos por onde os meios de transporte não passavam.
Quando partiu de Cracóvia para sua nova missão num ônibus, em um
determinado ponto teve que descer e continuar a pé. Então um camponês lhe
ofereceu carona numa carroça. Ao chegar no limite do território paroquial,
Wojtyla desceu, se ajoelhou e rezou por todos os seus novos paroquiano,
seguindo o exemplo de São João M. Vianey o famoso Cura d’Ars.

Os paroquianos ficaram profundamente impressionados de sua extraordinária


devoção eucarística, que se manifestava nas larguíssimas adorações ao
Santíssimo Sacramento.

Freqüentemente Karol passava parte da noite rezando diante do altar, prostrado


no chão com os braços em cruz.

Uma testemunha destacou: “A presença de Cristo no sacrário lhe permitia ter


uma relação pessoal com Ele; não somente falava de Cristo, conversava com
Ele”.

Sendo bispo trabalhava na capela do Palácio arcebispal dado que ali podia
estudar e rezar sem muitas distrações. Muitos o viram ajoelhado junto ao
escritório que ainda se encontra a esquerda do tabernáculo. Para ele a oração foi
sempre uma fonte de força e inspiração, até o ponto de que, nas pausas entre
uma aula e outra, no seminário, ia a capela a vigorizar-se espiritualmente.

Sendo Papa tiveram que montar-lhe uma plataforma de madeira sobre o frio
mármore de sua capela privada, devido ao seu costume de rezar prostrado.

Nos passeios ou excursões, chegados à meta conversava com ele 20 minutos e


logo se o deixava a sós; ele se afastava do grupo e meditava enquanto
contemplava a natureza e a grandeza de Deus. Uma testemunha conta; “ Dom
Karol gostava muito de estar perto da gente, lhe encantava as excursões em
canoa, porque enquanto navegava sozinho ou, como muito, em companhia de
um amigo, podia pensar e abstraer-se em total liberdade”.

A oração era para o Papa JPII íntimo diálogo com Deus, das 5 a 6 da
manhã rezava em sua capela privada. Depois no seu dormitório, aonde
meditava. As 7 voltava a capela para celebrar a Missa. Levava sempre
consigo uma folha de papel já amarelo que tinha

dobrado em forma de escapulário com uma oração que ele mesmo tinha
escrito de seu punho e letra, e concluía com estas palavras: “Tudo para Ti,
Sacratíssimo Coração de Jesus”. Ao meio dia o Angelus. Terminava o dia
com as completas. Logo depois do atentado, nem bem se despertou, JPII
perguntou a seu secretário: “Já rezei as completas?”.

Tinha o hábito da oração, não se descuidava da oração nem sequer quando


realizava viagens apostólicas. Tinha o hábito tão enraizado que nem sequer nas
terríveis dores de sua agonia impediram rezar tudo o quanto pode, até o ultimo
instante.
Como Papa andava com a roupa sempre remendada, quando era arcebispo usava
sapatos remendados, até que um dia o sapateiro, lhe disse que não havia mais
modo de arrumá-los. Não podiam dar-lhes camisas novas porque não as usava,
sempre dava a alguém.

Escutemos alguns textos do Padre Slawomir neste aspecto de JPII;

“Já na época na que trabalhava fábrica na Solvay (acabava de entrar no


seminário, tinha 22 anos, já era órfão e estava completamente só; época também
da ocupação nazi em Polônia, época de guerra e estrema pobreza), seus
companheiros tinham notado que geralmente chegava pela manhã sem o abrigo
ou a blusa do dia anterior, e sua explicação era sempre a mesma: “Dei a um que
me encontrei pelo caminho e que necessitava mais que eu”

um dos companheiros do seminário contou; Jamais pensava em si mesmo ou em


sua próprias necessidades. Compartilhava com os pobres tudo o que tinha.
Sabia dar com descrição e com tal respeito, que a pessoas que recebia o dom
não se sentia humilhada”.

Um dia as irmãs onde ia celebrar a Missa quando era sacerdote, o viram vestido
de um modo não tão adequado para proteger-se do rigor do inverno e decidiram
tecer um blusa de lã grossa. Imaginemos o que elas pensaram quando, uma
semana depois, Dom Wojtyla se apresentou sem a blusa, que já tinha dado a um
pobre.

Um domingo pela manhã, na Igreja de são Floriano, os fiéis tiveram que esperar
um bom tempo antes da celebração. O fez somente depois que o sacristão, que
tinha ido a buscá-lo, lhe emprestou seus sapatos. A noite anterior o jovem vice-
pároco havia dado o único par que possuía a um amigo estudante que não tinha
nenhum.

Os que se ocupavam de sua roupa, na época que era arcebispo de Cracóvia,


lembram que Wojtyla se vestia sempre modestamente e se negava de mudar de
roupas por muito velhas que estivessem. Sê rasgava pedia que se lhe
remendassem.

Um ano durante as férias, pegou ditas camisas e como fazia muito calor, lhes
cortou as mangas. Quando chegou o inverno, sua colaboradora domestica, a
senhora Maria, se deu conta da situação e contou ao ecônomo da cúria; este lhe
disse que ia

imediatamente comprar-lhe umas camisas novas de mangas longas. A mulher


objetou; “Não é tão simples assim, porque ele não usa roupas novas, sempre as
dá”. Ao final lhe compraram as camisas, mas tinham que sujá-las e lavá-las
várias vezes para não perceber que eram novas.
De tanto em tanto chamava a sua colaboradora doméstica (seguramente uma das
irmãs) e dizia: “Vai ao meu dormitório e ordena minhas coisas pessoais.
Tenho demasiadas. Deixa para mim as que estão mais gastas e dá as melhores
aos necessitados”. Certamente nunca havia demasiado para desfazer-se.

SEUS SOFRIMENTOS

Um lugar preferencial na sua vida foi o sofrimento. Ele mesmo o definiu como;
“o melhor modo de exercer meu ministério pastoral”.

O sofrimento:

a) Lhe permitia unir-se a Cristo: para JPII era uma “positiva colaboração com
a obra de Cristo”; compreendia e vivia o valor salvífico do sofrimento;
b) Podia expiar e reparar seus pecados e os pecados dos demais homens;

O atentado onde foi vitima o 13 de maio de 1981 (...) modificou, de forma


radical, a percepção que o Papa tinha de sua missão. De fato, este momento
marcou o inicio de seu calvário, iluminado pela consciência de ter recebido de
novo o dom da vida para poder oferecê-lo em beneficio a toda humanidade;
“Para um homem e, sobretudo para um sacerdote, não tem nada mais
formoso e grande em que Deus se sirva dele”, respondeu um dia a um
colaborador que lhe perguntou pelo sentido deste dramático acontecido.

JPII também vivia e concebia o sofrimento como uma forma de expiação e como
uma forma de entrega pessoal á humanidade. As palavras que pronunciou
quando lhe operaram de apêndice em 1996 o revelam com toda claridade:

“Durante estes dias de enfermidade tenho a possibilidade de compreender


melhor o valor dos serviços que o Senhor me tem chamado a prestar à
Igreja como sacerdote, como bispo e como sucessor de Pedro”.

Uns anos antes (em 1994) depois de outra operação deu uma excelente
interpretação de sua dor; “Quero agradecer este dom, tenho compreendido que
é um dom necessário. O Papa devia ausentar-se desta janela durante quatro
semanas, quatro domingos, devia sofrer este ano como teve que sofrer há treze
anos atrás”.

Qualquer problema físico era para ele um motivo de meditação pessoal: “Me
pergunto o que quer Deus comunicar-me com esta enfermidade”, respondeu
numa ocasião a um médico que lhe havia perguntado como se sentia. (...).

Em confidencias expressou a um amigo “ Tenho escrito numerosas encíclicas e


cartas apostólicas, mas me dou conta que somente com meu sofrimento posso
contribuir para ajudar melhor a humanidade. Pense no valor que tem a dor
padecida e oferecida com amor...”.

Todas sextas fazia a Via Crucis, foi sempre fiel a esta prática, não importando
donde ou quanto estava ocupado; inclusive uma vez viram rezando no
helicóptero que o trasladava de um lugar para o outro em Jordânia, já que nesta
sexta tinha uma agenda muito apertada e temia não ter tempo de rezar na capela,
como era de costume. Uma fidelidade a que permaneceu firme até o final de
seus dias. Um dia antes de morrer, o 1º de abril de 2005, mais ou menos as dez
da manhã, JPII tentou dizer algo as pessoas que o rodeavam e estas não
conseguiam entendê-lo. A febre alta e a extrema dificuldade para respirar lhe
impediam quase por completo articular palavra. Então lhe levaram uma folha
para escrever. O Papa escreveu que, como era sexta, queria fazer a Via Sacra.
Uma das irmãs presente começou a ler em voz alta enquanto ele, e com muito
esforço, fazia o sinal da Cruz cada vez que iniciava uma das estações.

O sofrimento o fazia solidário com os que sofrem e podia compreendê-los


melhor;

Durante sua primeira viagem que realizou em 1979 a México, visitou uma igreja
cheia de enfermos inválidos. Uma de suas acompanhantes testemunhou;

“O Papa se deteve ante cada um dos enfermos e teve a clara impressão de que
os venerava a todos: se inclinava a eles, tentava compreender o que lhe diziam
e depois acariciava a cabeça”

Os encarregados das cerimônias colocavam não mais que 30 enfermos diante do


altar durante as missões pastorais, já que o Papa cumprimentava um por um.
Uma vez, enquanto visitava a seção de um hospital, quis parar-se diante de cada
enfermo. O prefeito da Casa Pontifícia o convidou a acelerar o ritmo, mas
Wojtyla fez caso omisso de suas palavras e inclusive o chamou atenção, dizendo
“Monsenhor nunca devemos ter pressa com os que sofrem”.

SEU AMOR A MARIA SANTISSIMA

João Paulo II tinha um amor de predileção pela Mãe de Deus, existem muitos
escritos manifestando seu amor a Maria Santíssima, no seu livro Dom e Mistério
ele mesmo relata;

“Naturalmente ao me referir as origens da minha vocação sacerdotal, não


posso esquecer a trajetória mariana. A veneração á Mãe de Deus em sua
forma tradicional me vem de família e da paróquia de Wadowice. Lembro, na
Igreja paroquial, uma capela lateral dedicada a Mãe do Perpétuo Socorro o
qual pela manhã, antes do começo das classes, acudiam os estudantes do
Instituto.
Também, ao acabar as classes, nas horas da tarde, iam muitos estudantes
para rezar a Virgem”.

SEJAM ALGRES... SUAS ULTIMAS PALAVRAS...

Discurso em Polônia:

“Com a oração abraçamos também aqueles submetidos á prova. Cristo lhe


diz: “Alegrai-vos e regozijai-vos, porque não somente compartilhareis meu
sofrimento; também compartilhareis minha glória e minha ressurreição...
alegrai-vos e regozijai-vos” todos os que estão dispostos a sofrer por causa da
justiça, será grande vossa recompensa no céu.”

Discurso na Itália:

“A santidade admira, faz pensar, convence e, se Deus quer, converte. A


santidade dos jovens é um dos dons mais formoso que o Senhor dá a Igreja.
Cada um de vós está chamado a ser santo, quer dizer, a seguir a Jesus com
todo o seu coração, com toda a sua alma e com todas suas forças. Este
caminho os serve de guia e modelo a Virgem Maria, o qual, ainda jovem como
vocês, respondeu ao anjo: Eis aqui a escreva do Senhor, faça-se em mim
segundo a vossa palavra (Lc 1,38), e sempre cumpriu fielmente a Vontade de
Deus. Aprendam d’Ela, queridos jovens, a serem humildes e dóceis, a estarem
dispostos a doarem-se vós mesmos, para que também em vós o Senhor possa
obrar “maravilhas”.

Suas ultimas palavras foram;

“Sejam alegres, eu sou...”

Você também pode gostar