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de João XXIII
José Luis Gonzá lez-Balado
Índice
Introdução
2
Sua vocação sacerdotal
Em tal ambiente familiar, era mais fá cil para sua decisã o de se
tornar um padre emergir. Ele se referiu a isso em uma ocasiã o,
já sendo Papa:
«Digo-o com grande emoçã o e profunda gratidã o a Deus: à minha
famı́lia, nã o tã o pobre como alguns a apresentam, mas rica sobretudo
nas graças celestiais; aos exemplos de meus bons pais, pai e mã e,
sempre gravados em meu coraçã o; Devo grande parte da minha
vocaçã o sacerdotal à atmosfera de bondade, simplicidade e retidã o
que respirei desde a minha infâ ncia.
Ainda antes, quando ainda era arcebispo de Veneza, confessou
assim a origem do seu chamado ao sacerdó cio:
«Nã o tive outra aspiraçã o, desde criança, senã o ser padre para servir
as almas que a obediê ncia indica. E já faz 52 anos, pela graça de Deus.
Em abril de 1961, realizou-se em Roma um congresso sobre
vocaçõ es eclesiá sticas. Joã o XXIII, ao dirigir-se aos
congressistas, volta mais uma vez à s memó rias da origem da
sua vocaçã o:
«Conservo, sobre o tema do trabalho insubstituı́vel do clero na
preparaçã o e na assistê ncia vocacional, uma das minhas memó rias
mais queridas e comoventes. E o dia da minha primeira
comunhã o[5] Quando, no inal da actuaçã o, o venerado pá roco, que
todos considerá vamos santo, me escolheu para assinar, na presença
de cada um dos meus companheiros, a inscriçã o no apostolado da
oraçã o, primeiro compromisso de honra pelo bem progresso de uma
bendita e feliz inocê ncia.
Posteriormente, a familiaridade respeitosa e dedicada do pá roco, sob
a gentil atraçã o da sua pessoa e dos seus exemplos, conduziu a uma
vocaçã o tã o espontâ nea e serena que nunca me faria pensar que
tinha sido chamado à vida para outra coisa senã o o serviço do Senhor
e das almas no sacerdó cio.
Para se preparar para ele, depois de ter recebido algumas
noçõ es de gramá tica latina e sintaxe do pá roco de uma cidade
perto de Sotto il Monte, que segundo os costumes da é poca e
em testemunho do pró prio Angelino deu-lhe tapas e tapas nas
orelhas Para estimular sua engenhosidade, ele entrou no
seminá rio diocesano de Bergamo no inı́cio do ano acadê mico
de 1892-93. Ele permaneceria nele até 1900.
Era a é poca da famosa "questã o romana", expressã o que
abarcava a anexaçã o dos estados papais por Garibaldi. O evento
representou um duro con lito religioso e polı́tico para os
italianos. E aludido como pretexto para evocar uma anedota e
lembro-me de vá rias dé cadas atrá s.
No dia 4 de outubro de 1962, uma semana antes da solene
inauguraçã o do Concı́lio Vaticano II, Joã o XXIII fez a mais longa
viagem de seu ponti icado: de trem, a Loreto e a Assis.[6]. Foi em
Loreto que surpreendeu a todos com esta con iança mais
humana:
«O acto de veneraçã o à Virgem de Loreto que hoje realizo leva-me
com o pensamento a 62 anos atrá s, quando vim pela primeira vez, ao
regresso de Roma depois de ter aproveitado as indulgê ncias do Ano
Santo proclamadas por Leo XIII. Era 20 de setembro. As duas da
tarde, depois de receber a comunhã o, pude derramar minha alma em
oraçã o. Para um jovem seminarista como eu, poderia haver algo mais
suave do que entreter sua querida Mã e celestial? Mas, ai de mim, as
dolorosas circunstâ ncias daqueles tempos, que espalharam na
atmosfera uma sutil veia de escá rnio para com tudo o que signi icava
os valores do espı́rito, da religiã o, da Santa Igreja, transformaram em
amargura aquela peregrinaçã o, mal ouviram o gritando da
praça. Ainda me lembro das palavras que disse naquele dia antes de
iniciar a viagem de volta: “Santı́ssima Virgem de Loreto: Eu te amo
muito e prometo permanecer-te iel como um bom ilho
seminarista. Mas aqui você nã o vai mais me ver ”. Em vez disso, voltei
outras vezes, depois de muitos anos.
Dirigindo-se a um grupo de jovens da Açã o Cató lica vindos de
Milã o na companhia do Arcebispo Juan Bautista Montini (1-6-
1960), a irmou:
«Quando volto à s memó rias da minha juventude como seminarista
aqui em Roma, no inı́cio do sé culo, nã o posso superar a amargura que
nos causou a todos nó s, clero e povo da Itá lia, quase como pessoas
que foram apoiadas, como convidados para que di icilmente podiam
visitar o atraso dos antepassados e murmurar entre os seus lá bios a
cançã o da antiga fé ».
Estudos sacerdotais em Roma
Ele era um seminarista bom e diligente em seus estudos. Aos
poucos foi se aproximando da meta do sacerdó cio, sem outra
ambiçã o que ser capaz de servir a Igreja em alguma modesta
paró quia rural de sua diocese.
Foi durante sua vida de seminarista que ele começou a
con iar seus propó sitos ı́ntimos de perfeiçã o espiritual à s
pá ginas do que viria a ser seu Diário da Alma . Um deles foi
formulado nos seguintes termos:
"Vou me esforçar para chegar a tal ponto de uniã o e entrega total de
mim mesmo nas mã os de Deus, que estou preparado para sacri icar
tudo, inclusive o estudo, para obedecer a sua vontade divina."
Comentando sobre este seu propó sito, aquele que foi seu
secretá rio e iel guardiã o de sua memó ria, Loris Capovilla, diz:
«Essa aniquilação o induziu a abraçar como regra de vida uma regra
dupla resumida em duas palavras programá ticas: a primeira delas
re letia a sı́ntese da sagacidade ancestral; a segunda, a do ascetismo
cristã o: Age quod agis , que é como dizer: “ Esforce-se para fazer bem
o que tem nas mã os” ».
Para rati icar esta a irmaçã o, o ex-secretá rio dobrou como seu
bió grafo contribui com outra citaçã o do mesmo Diario del
alma :
«Os entusiasmos juvenis, ardentes, irresistı́veis, com os quais me
parece cheio o espı́rito pela causa de Cristo, pelo seu triunfo glorioso,
pelas novas formas de exercer a vida cristã em benefı́cio da
sociedade, sã o coisas em si muito sagradas, mas excessivamente
indeterminado e, portanto, um tanto perigoso. Eles poderiam perder
muito tempo com poucas frutas. Hoje o meu Deus quer de mim que,
sem perder de vista estes ideais sagrados, o meu ardor, o meu
entusiasmo, o fogo vivo que me move por dentro, o inverta e dê um
contributo a tudo o que possa levar a fazer-me um verdadeiro
aspirante ao sacerdó cio, um bom seminarista. Isso e nada mais é o
que me pedem para ser hoje ».
“Obediê ncia e paz” seria o lema do seu episcopado. Era, sem ter
o direito de fazer disso um lema por ainda nã o ser bispo, seu
propó sito de vida como seminarista. Ele o exerceu nos
momentos e atos aparentemente "normais" de sua vida
cotidiana, e o exerceu por um projeto de seus superiores com o
qual nã o poderia sonhar. Foi quando, no inı́cio de 1901, ele foi
designado para completar seus estudos em Roma.
Estudar em Roma, para a cerca de uma dezena de seminaristas
da diocese de Bé rgamo que o izeram, nã o era uma questã o de
sorteio. Foi uma eleiçã o do bispo e de seus colaboradores mais
pró ximos que recaiu sobre seminaristas que se destacaram por
suas qualidades intelectuais e por sua conduta. Implicava a
vontade de "usar" o candidato em tarefas que iam alé m do que
era usual para padres "simples".
Sabe-se, pelo Diário da alma , que chegou a Roma à s 6h40 do
dia 4 de janeiro. Outros detalhes de sua primeira viagem
romana sã o conhecidos porque ele mesmo, em 5 de janeiro de
1960, aludiu a eles em um discurso:
«Há exatamente 59 anos passei hoje o meu primeiro dia nesta cidade
de Roma, com destino ao seminá rio romano, para estudar
teologia. Precisamente no dia 5 de janeiro de 1901, na Capela da
Propaganda Fide[7]Recebi como iluminaçã o o que seria minha
existê ncia humilde enquanto frequentava os alunos da Polyglot
Academy of the Urban College. Eu nunca esqueci.
Você pode imaginar a impressã o em minha alma de jovem
seminarista ao descer de minha cidade e minha cidade natal para
Roma no inı́cio do sé culo. Naquela é poca, nã o tinha dois milhõ es ou
mais de habitantes como hoje. Mas a substâ ncia espiritual e
monumental da cidade era mais ou menos o que tem hoje. Aquela
Academia poliglota, referindo-me ao misté rio do Pentecostes,
completou aquelas experiê ncias novas e felizes e abriu-me para
horizontes mais amplos.
Com a convicçã o de uma certa fragmentaçã o, mais uma peça se
junta ao mosaico de memó rias romanas do seminarista Angelo
Giuseppe Roncalli. Resulta de um discurso seu (28-01-1960)
aos seminaristas da Cidade Eterna, reunidos na igreja de San
Ignacio, mais conhecida como a do Gesù :
«Direi-vos num sussurro que nos anos da minha vida de seminarista
romano, muitas vezes vim a este templo de San Ignacio, ao altar de
San Luis Gonzaga e San Juan Berchmans, para pedir a sua intercessã o,
como podem supor, que preservarã o, sem atenuaçã o da delicadeza e
do esplendor, a graça da castidade. Foram esses os anos em que a
minha jovem alma gozou da procura e da bê nçã o das iguras
hierá ticas do grande Leã o XIII e depois de Sã o Pio X, particularmente
amá veis e paternais ».
3
Bispo de Deus e "Visitador
Apostólico" do Vaticano
Em 3 de março de 1925, o entã o Secretá rio de Estado, Cardeal
Pietro Gasparri, informou-o de sua nomeaçã o como "Visitador
Apostó lico" na Bulgá ria, isto é , representante da categoria mais
baixa da Santa Sé .[12].
A nomeaçã o foi acompanhada de promoçã o ao
episcopado. Anteriormente, eles haviam sussurrado algo para
ele que parecia um destino geogra icamente remoto, como
pode ser deduzido de uma carta dele para a famı́lia datada de
19 de fevereiro de 1925:
"Depois de outubro, partirei para a missã o mais distante que o
cardeal Gasparri me disse que seria em um paı́s da Amé rica, mas que
enquanto isso isso pode mudar."
E possı́vel que nem todos em sua famı́lia - especialmente as
irmã s Ancila e Maria, que viveram com ele em Roma - tenham
acolhido a perspectiva de um destino tã o remoto: Angelino
representou uma referê ncia afetiva muito importante para
todos.
Ele os ajudou a entender que ele nã o poderia e nã o deveria
fazer nada alé m de obedecer (19/02/1925):
«O que devo fazer face à obediê ncia que o Santo Padre me
pede? Dizer nã o, já que me leva um pouco longe? Dizer nã o para nã o
abandonar minhas irmã s? Eu me considero muito indigno da honra e
da tarefa que a Igreja me impõ e. Mas se esta realmente é a vontade
do Senhor para mim, posso estar convencido de que a bê nçã o do
Senhor estará comigo se eu resistir a fazer isso só porque me custa
um pouco?
Nã o se esqueça, por outro lado, que nunca desejei nenhuma dessas
homenagens, porque sei por experiê ncia pró pria que sã o
responsabilidades enormes. També m estava convencido de que, para
um ilho do campo pobre como eu, a Igreja já havia me concedido
muitas honras. Por isso, termino resignando-me e abstendo-me de
mais elogios: limito-me a recomendar-me com veemê ncia ao Senhor
a ajuda e a convidar-vos a fazer o mesmo. Bem sabeis que o estrago
nã o é muito forte se cair de baixo, mas é desastroso cair de cima ».
Para compreender ainda melhor o espı́rito com que acolheu a
nomeaçã o, vale a pena recorrer a um documento tã o iá vel
como o Diário da Alma . Ele escreveu, nos exercı́cios espirituais
que fez entre 13 e 17 de março, preparando-se para sua
consagraçã o:
«Nã o fui eu quem procurou ou desejou este novo ministé rio, mas o
Senhor escolheu-me com tã o evidentes sinais da sua vontade que me
parece que seria uma falta grave da minha parte contradizê -
lo. Portanto, é ele quem é obrigado a cobrir minhas misé rias e
preencher minhas insu iciê ncias. Isso me conforta e me dá paz de
espı́rito e segurança. Que susto para mim, que me sinto e me sinto tã o
miserá vel e cheio de defeitos em tantas coisas! Que grande razã o para
permanecer humilde, humilde, humilde! ».
E ele acrescentou:
«O mundo já nã o tem sugestõ es para me oferecer. Quero ser tudo e
exclusivamente de Deus, penetrado pela sua luz, resplandecente de
caridade para com a Igreja e as almas. Tentarei ler frequentemente o
capı́tulo 9 do terceiro livro da Imitaçã o de Cristo: "Tudo deve referir-
se a Deus como o objetivo inal." Isso me impressionou
profundamente, na solidã o desses dias. Aı́ está , em poucas palavras,
realmente tudo »[13].
O leitor permitirá o nome de algué m cuja amizade com Roncalli
teria sido uma de muitas se nã o o fosse, devido à s
circunstâ ncias de ambos, especialmente signi icativas: a de um
- naquela é poca - padre muito jovem - 16 anos mais jovem que
ele— chamado Juan Bautista Montini. Eles já eram amigos há
alguns meses.
Montini, já convertido em Paulo VI, recordaria ao receber os
peregrinos de Sotto il Monte:
“Fui vá rias vezes visitar seu escritó rio na piazza Mignanelli, um
palá cio que dependia da Propaganda Fide. Sempre o achei muito
acolhedor, apesar de até entã o ser uma estranha para ele. Mas logo
nos tornamos amigos, por causa daquela extraordiná ria virtude que
ele tinha de comunicaçã o cordial, de tornar-se imediatamente
acessı́vel a quem o abordava. O facto de ser eu bresciana jogou a favor
da nossa amizade ... ».
Angelo Roncalli guardava uma carta de Juan Bautista Montini
datada de 2 de março de 1925, e Loris Capovilla a publicou em
um volume que reú ne a correspondê ncia entre os dois. E nesse
mesmo dia que Roncalli recebeu a noti icaçã o da sua missã o na
Bulgá ria e da sua elevaçã o ao episcopado.
Para um melhor enquadramento, deve-se explicar que na é poca
Montini, um "empregado" das manhã s na Secretaria de Estado,
ocupava o resto do dia como capelã o eclesiá stico de estudantes
universitá rios cató licos em Roma.
A carta era assim:
«Reverendı́ssimo Excelê ncia: E-me muito grato apresentar-lhe as
mais calorosas felicitaçõ es pela nomeaçã o de Vossa Excelê ncia; muito
feliz embora saiba que o peso é novo e sé rio; porque penso no bem
que a providê ncia prepara. Tenho a ousadia de pedir uma antevisã o
desta evangelizaçã o. Os meus jovens gostariam que Sua Excelê ncia os
ajudasse a preparar a comunhã o pascal com alguns sermõ es curtos e
simples: apenas um sermã o por dia, à s 18h30, na igreja da piazza de
la Pigna, nos dias 18, 19, 20 e 21 de março pró ximo. Pela bondade
que sempre me mostrou, espero que o meu pedido e o dos meus
jovens sejam ouvidos. Com o devido respeito, de Sua Excelê ncia o
mais atento, G B M ».
Loris Capovilla a irma nã o ter conseguido localizar a resposta
do novo bispo a Montini. O certo é que nessa circunstâ ncia
Roncalli nã o conseguiu agradar ao amigo, pois, para se preparar
para a consagraçã o episcopal, fez alguns dias de retiro
espiritual.
Poucos meses antes de sua nomeaçã o para a Bulgá ria, Roncalli
havia aceitado com elegante "esportividade" (a palavra é usada
em um sentido analó gico, sabendo de sua inadequaçã o) uma
certa grosseria de um eclesiá stico sê nior que nã o é um dos que
partiram., Depois passando pelo cená rio deste mundo, a
memó ria mais serena. Nã o divulgaremos seu nome aqui, mas
isso inevitavelmente virá à luz.
A crô nica acidental do acontecimento foi redigida por Angelo
Roncalli em sua é poca como arcebispo de Veneza (12-13-1955),
por ocasiã o do discurso fú nebre de um arcebispo sufragâ neo
seu, ex-companheiro e amigo: o de Udine , Monsenhor Nogara:
«Foi formada uma grande comissã o na qual cada um tinha a sua
parte. Eu estava encarregado da publicidade e da imprensa.
O trabalho estava progredindo, mas parecia ao nosso presidente, um
prelado vigoroso e volitivo, que está vamos indo devagar demais. Um
belo dia, fomos todos privados de nossas posiçõ es. Ele icou sozinho,
o chefe, Monsenhor, o futuro Cardeal Marchetti Selvaggiani, com
Monsenhor Nogara e Monsenhor Pietro Ercole. Tudo saiu
esplendidamente.
Prestes a partir para o seu destino bú lgaro, escreveu uma carta
de famı́lia, na qual foi esta despedida:
Somos sentinelas de plantã o. As vezes, eles mudam por nó s, e
procedemos de acordo com a disciplina, com um espı́rito silencioso
de obediê ncia e paz. Sim, obediê ncia e paz: é o meu lema episcopal.
Gostaria que fosse um motivo de alegria e um tı́tulo de honra no
ú ltimo dia. Estou deixando a Obra para a Propagaçã o da Fé , cuja
presidê ncia aceitei por pura obediê ncia há quatro anos e cujo
crescimento me deu algum trabalho e muito conforto. Eu o
carregarei, no entanto, sempre em meu coraçã o. E direi a todos, onde
quer que eu vá , que poucas coisas devem agradar tanto ao Coraçã o de
Jesus e corresponder ao espı́rito da Igreja como ajudar e fazer
prosperar esta obra abençoada.
Na veia das memó rias Roncallianas, vale a pena relembrar uma
de data signi icativa: 19 de março de 1961. Alude a uma
discussã o sua sobre seu modelo perfeito de diplomata
eclesiá stico, justamente situado em ..., seu co-padroeiro Sã o
José :
«Quando o Cardeal Gasparri, entã o Secretá rio de Estado, quando me
informou da nomeaçã o de Visitador Apostó lico na Bulgá ria e da
elevaçã o à dignidade episcopal que isso implicava, soube que a minha
consagraçã o seria na festa de Sã o José e no igreja de San Carlo al
Corso, com aquele jeito determinado, mas sempre amigá vel,
perguntou-me: "E por que exatamente na festa de Sã o José ?" Minha
resposta foi muito simples: "Porque me parece que este santo é o
melhor mestre e patrono dos diplomatas da Santa Sé ." "Oh!",
Exclamou o cardeal, "nã o era isso que eu esperava."
“E ainda assim”, disse eu, “olha, Eminê ncia: saber obedecer e calar-se
quando necessá rio; fale com moderaçã o e brio: este é um diplomata
da Santa Sé . E este é Sã o José . Veja-o partir imediatamente, em
obediê ncia, a Belé m; ocupado procurando por
acomodaçã o; guardando a gruta, entã o; oito dias apó s o nascimento
de Jesus, ele presidiu ao rito hebraico que decidiu a pertença dos
recé m-nascidos ao povo eleito. Olhe para ele, Eminê ncia, como
recebe com honras os Magos, esplê ndidos embaixadores do
Oriente. Olhe para ele nas estradas do Egito, e depois de volta a
Nazaré , sempre obedecendo silenciosamente: ele apresenta e
esconde Jesus, o defende e o alimenta. E quanto à sua pessoa,
continua com discriçã o e permanece à sombra dos misté rios do
Senhor, que de vez em quando recebia uma luz celestial do toque leve
e fugaz de um anjo ”. "Eu entendi, eu entendi!", Concluiu entã o o
cardeal Gasparri. "E certo. E se vos é difı́cil escolher quem vai ser
consagrado bispo, apresento-me a mim mesmo, que consagrei tantos
representantes da Santa Sé ”».
Ser consagrado pelo Cardeal Secretá rio de Estado de Pio XI, já
consagrado por Bento XV em seus ú ltimos anos e entrado no
conclave de 1922 como papá vel, nã o teria deixado de ser uma
grande honra para o ilho de lavradores de Montanha Sotto
il. Mas este nã o estava procurando honras.
Seu programa o ixou em alguns pontos que nada tinham a ver
com vaidades mais ou menos mundanas, embora eclesiá sticas
na aparê ncia. Pontos que foram os seguintes, citados da pá gina
386 do Diário da Alma e retirados (é perceptı́vel na linguagem
nã o muito "Roncallian") do Ponti ício Romano :
«1) Para acomodar a minha conduta segundo as normas da Sagrada
Escritura e ensiná -la ao povo com palavras e com o exemplo.
2) Receber com respeito, ensinar e preservar as tradiçõ es dos pais, as
disposiçõ es da Santa Sé .
3) Mostrar em todos os momentos idelidade, obediê ncia e
submissã o ao Apó stolo Pedro e ao Santo Padre.
4) Observar uma conduta livre de todo mal e orientá -la, com a ajuda
de Deus e com todas as minhas forças, para a realizaçã o de todo o
bem.
5) Preservar e ensinar castidade e sobriedade.
6) Entregar-me totalmente aos interesses de Deus e permanecer
alheio aos assuntos terrenos e todos os ganhos ilı́citos.
7) Observar em mim mesmo a humildade e a paciê ncia e ensiná -la
aos outros.
8) Seja afá vel e caridoso para com os pobres, os peregrinos e todos os
necessitados ».
Precisamente porque nã o procurava o mais honorı́ ico, mas o
que - no seu caso - mais correcto, descartou a consagraçã o do
Cardeal Gasparri. Em seu lugar, outro cardeal de menor
categoria legal atuou como consagrador: Giovanni Tacci,
secretá rio da Congregaçã o para a Igreja do Oriente.
A escolha de Angelo Giuseppe Roncalli foi ditada por um tipo
diferente de ló gica de classi icaçã o superior ou inferior: a
Bulgá ria, um paı́s cató lico muito pobre (menos de 50.000,
espalhado por pequenas populaçõ es no interior)
religiosamente caiu sob uma jurisdiçã o mais potencial do que
real da Congregaçã o para a Igreja Oriental, parcialmente
compartilhado com a Propaganda Fide .
Angelo Roncalli começou respeitando escrupulosamente as
competiçõ es. Talvez eles nã o fossem tã o respeitosos com
eles. Nã o levaremos muito tempo para intuı́-lo com clareza
cristalina. Mas vamos parar antes que chegue ao seu destino.
Fê -lo, apó s uma longa viagem por metade da Europa, no dia 25
de abril, quando, a bordo do Expresso do Oriente, chegou à
estaçã o de So ia, a capital.
A sı́ntese cronoló gica elaborada por Loris F. Capovilla a irma
brevemente que, a partir de 20 de maio, “ele inicia suas
peregrinaçõ es pela Bulgá ria”.
E que um dos seus primeiros gestos foi fazer "uma visita de
cortesia ao Santo Sı́nodo Bú lgaro reunido em So ia", na qual se
entende que fez um gesto de autê ntico ecumenismo,
mostrando-se civilizado e aberto ao alto clero da "ortodoxia.
«que, pelo contrá rio, relutava em aceitar« a presença em Só ia
de um visitante apostó lico »do Vaticano.
Aconteceria com ele ao longo de sua vida, inclusive na reta inal
como papa: sob a aparê ncia externa da serenidade que
espalhava e para a qual, em parte, parecia encontrar
correspondê ncia, muitas vezes se escondiam situaçõ es de
angú stia e sofrimento. Aconteceu, é claro, na Bulgá ria, onde
ainda nã o haviam passado dois anos quando ele con iou à
testemunha mais iel de seus estados de espı́rito, uma pá gina
(391, neste caso) do Diário da alma :
«Já sou bispo há vinte meses. Como era fá cil para mim prever, meu
ministé rio teve que reservar muitas tribulaçõ es para mim. Mas,
curiosamente, nã o provê m dos bú lgaros para quem trabalho, mas dos
ó rgã os centrais da administraçã o eclesiá stica. E uma forma de
morti icaçã o e humilhaçã o que nã o podia esperar por mim e que me
causa imensa dor. “Senhor, tu sabes tudo” (Jo 21,17). Devo, quero
habituar-me a carregar esta cruz com um espı́rito de maior paciê ncia,
calma e suavidade interior do que até agora. Acima de tudo, tentarei
me controlar nas manifestaçõ es externas com quem quer que seja.
Os sofrimentos que con iou à s pá ginas discretas do Diário da
Alma quase nunca foram revelados ao exterior, porque nã o
queria que outros sofressem com ele e por ele. Deduz-se de
uma con iança feita a sua irmã Ancila alguns meses apó s o
desembarque na Bulgá ria:
"Quem poderia ter dito isso? A Bulgá ria é um paı́s difı́cil em todos os
aspectos. Mas estou me divertindo muito até o inverno. E certo que
estou levando uma vida de eremita, mas minha cela está bem
aquecida. Os aborrecimentos vê m um de cada vez. Preocupo-me
acima de tudo nã o buscar o meu conforto, mas cumprir a vontade de
Deus, e o Deus bom e misericordioso nã o para de me ajudar. Tento
semear um grã o todos os dias. No devido tempo, eu ou outros
faremos a colheita.
Esteve à frente da "visitaçã o" apostó lica da Bulgá ria quando, a
21 de abril de 1929, celebrou as suas "bodas de ouro",
antecipando ligeiramente o 25º aniversá rio da sua ordenaçã o.
[14].
Antes das celebraçõ es espirituais do aniversá rio, por ocasiã o de
um retiro espiritual preparató rio (de 20 a 24 de dezembro de
1928) realizado num convento de Paú les, ele nota no Diário da
Alma (p. 395):
«25 anos de sacerdó cio! Quantas graças, ordiná rias e
extraordiná rias! A preservaçã o das quedas graves, as inú meras
oportunidades de fazer o bem, a boa saú de fı́sica, a paz de espı́rito
permanente, uma boa reputaçã o entre os homens, muito superior aos
meus mé ritos, o feliz desfecho das vá rias tarefas que me foram
con iadas pela obediê ncia, entã o eclesiá stica distinçõ es, inalmente
episcopar, nã o só acima, mas contra meus mé ritos! Muito obrigado,
meu Deus!
Tudo isso deve me manter em uma atitude habitual de amor, humilde
e trê mula.
No entanto, a celebraçã o antecipada de tais "bodas de prata
sacerdotais" teve uma explicaçã o, que ele mesmo deu em uma
carta a suas irmã s Ancila e Marı́a em 30 de abril de 1929:
“No domingo, 21 de abril, festa do Padroado da Virgem, os cató licos
latinos queriam antecipar a festa do meu 25º aniversá rio
sacerdotal. Houve uma grande solenidade em Só ia, com a
participaçã o de dois bispos e numerosas representaçõ es de toda a
Bulgá ria. Cada um se esforçou para me homenagear: discursos,
telegramas, cartas, presentes de coisas de um paı́s desconhecido; Vou
levar alguns presentes para casa, que sã o preciosos porque sã o todos
feitos à mã o. Insistiram em me mostrar que, sob uma pele um tanto
carrancuda, um bom coraçã o bate neles. Isso me confortou muito,
porque me permite compreender que, quando se trabalha com boa
intençã o e para a gló ria do Senhor, no devido tempo nã o faltarã o
frutos ».
Ainda à frente da visitaçã o apostó lica bú lgara, ele se
surpreende - digamos! - por meio sé culo de vida. Por isso con ia
em seu Diário (p. 417), em 25 de novembro de 1930:
«Hoje entrei no 50º ano da minha vida. Eu queria santi icar esse
passo com oraçã o con iante e noturna.
“Meu Jesus, somos 50 anos de graças de sua parte, de misé rias e
imperfeiçõ es minhas. Eu te abençoo, eu te louvo, eu te agradeço. Nã o
tenho mais nada a oferecer a nã o ser os pequenos sacrifı́cios desta
minha vida aqui, nesta terra que tanto amo e que gostaria de ver
in lamada com o teu amor, completamente resplandecente com a luz
da Igreja Cató lica, mã e e mestra da civilizaçã o. Mas, o que sã o esses
sacrifı́cios comparados à paz de coraçã o que você continua a me dar,
e a esse mesmo desejo ardente e ativo de vê -lo aqui, amado e
abençoado, um desejo que me queima por dentro e ao mesmo tempo
é uma fonte de alegria para mim permanente? "".
O de "visitante apostó lico" na Bulgá ria era - já foi dito - uma das
posiçõ es mais baixas na diplomacia eclesiá stica. Roncalli nã o se
sentiu nem um pouco humilhado. Ele estava se esforçando
apenas para fazer bem seu trabalho como representante do
Papa.
Ele disse isso em uma carta datada de 15 de março de 1931 ao
Secretá rio de Estado, a quem ele nã o poderia "contornar"
escrevendo diretamente a seu amado Papa Ratti, mais
conhecido agora pelo nome de Pio XI:
“Continuo neste paı́s cada vez mais convencido de que, por enquanto,
nada melhor do que seguir o mesmo caminho, isto é , garantir a
presença vigilante do Papa, mantendo, no entanto, uma reserva feita
de franqueza e gentileza. ; sem negar a verdade a ningué m; Pelo
contrá rio, expondo-o com clareza, mas sem caminhos intempestivos
que prejudiquem o futuro da boa causa ao invé s de bene iciá -la e
continuar o trabalho paciente da formiga pela valorizaçã o do
cristianismo em todos os aspectos, promovendo obras de piedade, de
cultura. religioso e social, caritativo, preparando sobretudo um novo
clero, culto e apostó lico ... O Santo Padre é um bom juiz tanto das
minhas de iciê ncias como do pouco que posso fazer e que faço com
bom coraçã o em todos os casos. De minha parte, continuo sendo um
bom ilho obediente. Eu nã o penso ou desejo o contrá rio.
Poucos dias depois da carta anterior (24 de março de 1931), ele
dirigiu uma a seus pais na qual sugeria, a tı́tulo de pergunta, a
possibilidade de deixar a Bulgá ria em breve:
«No dia de Sã o José rezei especialmente por todos aqueles que, na
nossa famı́lia, levam o nome do patriarca celeste. E, como sempre, dei
uma grande refeiçã o a todos os padres cató licos de So ia. Eramos 21.
Será este o ú ltimo Sã o José que faleceu em So ia? Quem sabe. Como
de costume, con io-me à providê ncia. No que me diz respeito, nã o
tenho gostos nem desejos, e vejo que este sistema é o melhor para ter
menos dores de cabeça. A inal, o bispo carrega a cruz: ai dele se nã o a
carregou! A cruz está sempre com ele, onde quer que seja
enviada. Uma cruz que à s vezes pode ser um pouco pesada e
dolorosa, mas que segura e infalivelmente carrega consigo uma
alegria autê ntica e uma verdadeira gló ria ».
Em 1931 (26 de setembro) houve um ligeiro "salto qualitativo"
em sua obra, com uma ascensã o na hierarquia: de "visitante"
passou a "delegado apostó lico". Ele relatou isso em uma carta
(31/10/1931) à s irmã s Ancila e Marı́a:
«Esta manhã dirigi-me ao Ministé rio das Relaçõ es Exteriores para
entregar o documento que me credencia como delegado
apostó lico. Tudo ocorreu bem. A partir de agora, em vez de visitante,
você sempre me escreverá "delegado apostó lico".
Questã o de nome: continuo o mesmo de sempre. Nã o é ruim que seja
assim. A coisa vai agradar a todos aqui, exceto talvez os bons barbas
longas do santo Sı́nodo Ortodoxo. Mas també m será bom para eles
usarem um pouco de paciê ncia. Por quantos anos continuarei como
Delegado Apostó lico na Bulgá ria? Nã o sei e nã o quero
saber. Continuemos vivendo para o dia e nas mã os de Deus ».
Na Bulgá ria foi ainda um ano depois, mal auxiliado pela
colaboraçã o de um padre idoso (padre Metó dio) que perdia as
forças sob o olhar compreensivo do delegado do Papa, que na
é poca ainda era Pio XI.
Em uma carta de 3 de janeiro de 1932, dirigida a um amigo
sacerdote (possivelmente Gustavo Testa) disposto a se tornar
seu colaborador, o delegado de Roncalli a irmou:
“A medida que os anos passam e o velho pai Assuncionista que está
comigo se torna menos ú til para mim por causa das doenças, sinto
uma necessidade maior de uma jovem secretá ria para me ajudar a
despachar muitas coisas que roubam meu tempo. Mas quando penso
que um jovem padre enquanto está aqui nã o pode exercer o
ministé rio, estremeço com a responsabilidade de chamá -lo. Você
gosta da possibilidade de ter que se confessar, explicar o catecismo e
celebrar bem. Tudo isto é alimento precioso para a alma de um
sacerdote, é uma celebraçã o perene, é um tı́tulo de mé rito e de
verdadeira gló ria. Por regra, um eclesiá stico, mesmo sendo uma
celebridade, se nã o ama o seu ministé rio, é algo insı́pido e vã o ».
Que o seu primeiro destino, o inı́cio - sem que ele percebesse -
de uma tarefa diplomá tica que ainda devia ser longa, penetrou
profundamente na alma de Angelino Roncalli. Tanto que, já
Papa, em mensagem radiofô nica de seu ponti icado (março de
1959), nã o pô de evitar uma alusã o à sua memó ria do povo
bú lgaro:
«Quem nã o poderá compreender e perdoar-me se o meu coraçã o nã o
souber conter uma palpitaçã o da mais ardente ternura pelos ilhos de
um povo forte e bom, que conheci ao longo do meu caminho e com
quem partilhei o meu vida dos anos mais vigorosa, para alé m e para
alé m dos grandes Balcã s, num exercı́cio de ministé rio espiritual,
inspirado por um sentimento recı́proco de respeito e fraternidade
cristã ? Gosto sempre de recordar com sincero carinho essas pessoas
boas, honestas e sinceras e trabalhadoras, e a sua maravilhosa
capital, So ia ... Por muitos anos, a visã o daquele querido paı́s
desapareceu dos meus olhos; mas todos aqueles amá veis conhecidos
de pessoas e famı́lias ainda estã o vivos no meu coraçã o e na minha
oraçã o diá ria ».
4 Representante de Pio XI
(e seu sucessor) na
Turquia e Grécia
5 Núncio Apostólico
em Paris
6 Arcebispo-
Patriarca de Veneza
7 meu nome é
joão XXIII
V J ̃ XXIII
A ideia do Conselho
[1]O Diário da alma foi publicado pelas ediçõ es do cristianismo. Infelizmente, deve estar esgotado,
enquanto em alguns paı́ses continua a ser reeditado com sucesso (por exemplo, na Itá lia: San
Paolo, Cinisello-Balsamo, onde chegou à 11ª ediçã o). As Cartas aos seus familiares ainda se
encontram no mercado em espanhol, com o selo de San Pablo, 1978 2 .
[2] Foi seu secretá rio particular desde que Roncalli foi nomeado, em 1953, arcebispo de Veneza,
até sua morte.
[3] Substituto das sopas de milho, muito comum nas famı́lias da pobre Itá lia no inal do sé culo XIX
e inı́cio do sé culo XX.
[4]A nomeaçã o como bispo já o havia chegado poucos dias antes: em 3 de março. Foi a
consagraçã o episcopal que ele quis receber, e de fato recebeu, na festa de Sã o José , veremos porque
motivaçã o espiritual ı́ntima.
[5]Ele o recebeu em 31 de março de 1889, aos oito anos. Um mê s antes, no dia 12 de fevereiro,
havia recebido a con irmaçã o do bispo da diocese, monsenhor Gateano C. Guindani.
[6]Ele foi tentado, como ele mesmo confessou em 29 de Julho de 1960, para viajar para Munique,
Alemanha, para participar do Congresso Eucarı́stico Internacional, a convite do entã o arcebispo
Josef Wendel. Mas no inal ele desistiu de fazê -lo, e enviou como seu representante o cardeal
Gustavo Testa, um camponê s e um amigo pró ximo dele. Ele disse assim: «O convite cortê s e devota
do Venerá vel Irmã o Cardeal Arcebispo Josef Wendel, inté rprete dos desejos dos Arcebispos e
Bispos da Alemanha, constituı́das para mim uma tentaçã o tipo de participaçã o de minha humilde
pessoa no mundo manifestaçã o eucarı́stica. Mas també m as razõ es do coraçã o estã o sujeitos à s
sugestõ es de sagacidade sereno e con iante.
[7]E o que se denomina uma espé cie de Colé gio Romano em que estudam os seminaristas dos
territó rios de missã o destinados a regressar aos seus paı́ses de origem. Em muitos casos, uma
grande parte da hierarquia cató lica indı́gena vem de entre eles.
[8]Eis, num discurso de 6 de janeiro de 1963, uma das muitas provas possı́veis de que Joã o XXIII
estava ciente do afeto que o rodeava e que agradecia com a mais natural simplicidade: “Outro dia,
indo venerar o Romano Santo Gaspar del Bú falo em Santa Marı́a de Trivio, em um dos bairros mais
caracterı́sticos de Roma, meu coraçã o exultou e as lembranças o comoveram. Há quarenta anos,
pelas mesmas ruas que percorri na sexta-feira, viajava para ir de Santa Marı́a na via Lata à Plaza de
Españ a. Hoje, o movimento e a velocidade dos carros cresceram desproporcionalmente. Mas o
rosto dos romanos é o mesmo; e tem uma espé cie de nã o sei o que te faz exclamar: "Sim, eles sã o
bons e sensı́veis ao chamado das coisas celestiais!" E quando vi as mã os que se estendiam para
mim, os braços que balançavam dos ô nibus, das lojas e comé rcios, das janelas e varandas, parecia
ouvir uma voz que se dirigia a mim e dizia: “Amamos este homem a quem a providê ncia elevou à
pompa do ponti icado romano da santidade e nobreza do paı́s ”».
[9]Anos depois de sua morte, sua causa de beati icaçã o foi apresentada por seu terceiro sucessor, o
arcebispo Juan Bautista Montini. Eleito papa como sucessor de Joã o XXIII, o pró prio Montini
(Paulo VI) ansiava por declará -lo abençoado em uma viagem que planejava fazer a Milã o. Mas o
processo foi mais lento do que ele gostaria. Foi Joã o Paulo II quem o beati icou.
[10]A expressã o entre aspas - també m no original do qual é aqui traduzida - é uma referê ncia tã o
atual na literatura italiana quanto, pelo menos, na nossa é "En un lugar de la Mancha ...", pois
corresponde ao primeiro verso da Divina Comédia de Dante Alighieri: Nel mezzo del cammin di
nostra vita ... (Encontrando-me no meio de minha trajetó ria de vida ...).
[onze]Na gı́ria da famı́lia eclesiá stica, o prefeito da Congregaçã o da Propaganda Fide é chamado de
"papa vermelho" (em contraste com o "papa branco") , nã o apenas por causa de sua condiçã o (e
cor da roupa) como cardeal, mas també m por causa do amplitude dos territó rios dependente de
sua jurisdiçã o: todas as chamadas "missõ es" (mais ou menos, o Terceiro Mundo).
[12] As categorias ascendentes sã o "delegado apostó lico" e "nú ncio", isto para os paı́ses com
relaçõ es plenas, a nı́vel de embaixada, com a Santa Sé .
[13]Todas as citaçõ es foram tiradas e traduzidas da ediçã o italiana (Il Giornale dell'Anima, San
Paolo, Cinisello-Balsamo 1989, neste caso da p. 385).
[14]A ordenaçã o sacerdotal tivesse ocorrido em 10 de agosto de 1904. Ele deu um signi icado
essencialmente espiritual e conteú do para este evento. Na verdade, de acordo com uma nota por
Loris F. Capovilla, a celebraçã o deste aniversá rio durou vá rios meses com missas celebradas em
locais de signi icado religioso especial e com intençõ es particulares: 1929/04/21: na igreja de San
José de Sofı́a , pelos cató licos latinos; 11-8: na Igreja da Assunçã o de So ia, por Rito Oriental
cató licos; 13-16 agosto: trê s dias de retiro em Praga, coincidindo com as celebraçõ es de Sã o
Venceslau, o má rtir eo milé nio cristã o de Bohemia; 17-8: no santuá rio de Nossa Senhora de
Czestochowa (Poló nia); 20-8: na catedral de Gniezno (Poló nia); 22-8: a Catedral de Berlim; 268:
na catedral de Bergamo, diante do altar do santo padroeiro, Santo Alexandre; 9-21: em Sotto il
Monte consagra a igreja paroquial; 22-9: comemorado por seus parentes e compatriotas, com a
presença do bispo da diocese, Dom Luigi M. Marelli.
[quinze] A nomeaçã o para a Delegaçã o Apostó lica da Turquia e Gré cia seria datada de 24 de
novembro de 1934.
[16]Desde a primavera de 1924, alugou alguns quartos em um antigo solar situado na parte alta da
cidade, denominado Camaitino, que se tornaria sua residê ncia durante suas estadas em Sotto il
Monte e residê ncia de suas irmã s Ancila e Marı́a. A partir de 1958 tornou-se sua propriedade, por
doaçã o da famı́lia Scotti-Buffanti que a possui. Atualmente, e desde a morte de Joã o XXIII, foi
convertido em um museu de suas memó rias.
[17] Denominaçã o da casa da famı́lia Roncalli, a mesma onde nasceu Angelino.
[18] Em parte, parece que a pressa com que teve de se mover no ú ltimo minuto dependia do fato
de que, se a representaçã o diplomá tica da Santa Sé nã o tivesse sido atendida a tempo, o reitor teria
se correspondido ao embaixador do Soviete. Uniã o, uma situaçã o que o general De Gaulle nã o era
nada atraente.
[19] Como o Colombera e o Camaitino, Brusicco era uma referê ncia familiar à modé stia de origem
dos Roncalli.
[vinte] Por causa das privaçõ es que se seguiram à guerra, especialmente para os paı́ses derrotados,
como em parte era a Itá lia.
[vinte e um]LF C , Giovanni XXIII, un santo della mia parrocchia, Bergamo 1993, 130.
[22]«Setenta sã o os anos do homem. Caso tenhamos boa saú de, oitenta. Mas a maioria deles é
sofrimento e vaidade.
[2,3]Na verdade, o Senhor lhe daria mais doze anos. Ele morreu em 3 de junho de 1963, aos 82
anos.
[24] Com a morte do seu secretá rio de Estado, o cardeal Luigi Maglione, Pio XII renunciou para
nomeá -lo sucessor, tornando-se - como algué m dizia - secretá rio de Estado, embora aliá s
descarregasse mais trabalho sobre os seus substitutos, Tardini e - especialmente - Montini.
[25]Tã o reservado era que Montini o escreveu à mã o. De fato, no livro citado (Giovanni e Paolo:
Due Papi. Saggio di corrispondenza: 1925-1962, Istituto Paolo VI, Brescia 1982), cuja ediçã o icou
a cargo de Monsenhor Loris Francisco Capovilla, o texto autó grafo é reproduzido com caligra ia
nı́tida por Juan Bautista Montini (pp. 55-56).
[26]A promoçã o a "procuradores" tanto de Domenico Tardini como de Juan Bautista Montini foi
um gesto de reconhecimento ao trabalho de ambos de Pio XII, que com ela agradeceu també m o
gesto dos dois suplentes de renunciarem ao cardeal, que o Papa havia oferecido eles. Por motivos
de humildade, mais evidentes - com perdã o - por parte de Montini do que de seu homó logo e
apesar do amigo Tardini, outro aderiu. Ambos sabiam que Pio XII queria promover a cardeal a um
nú mero ixo e fechado (70) de candidatos. Ao se resignar, eles deram entrada a outros dois. O gesto
nã o deixou de comover Pio XII, que o tornou pú blico no ato solene da noti icaçã o do lote cardinal
de que os dois se excluı́ram.
[27]Ele foi excomungado e declarado vitandus em 1926 sob a acusaçã o de modernismo. Houve
tentativas subsequentes de resgatar sua memó ria. Ele morreu em 1946. Ele escreveu em seu
testamento: “Eu poderia estar errado. Mas, na substâ ncia de meu ensino, nã o encontro maté ria
para condenaçã o ou retrataçã o ”( Diario del Alma, p. 525, nota 5).
[28] Aclamando, segundo o antigo costume: “Que Cristo, nossa gló ria, nossa luz, nosso caminho,
nossa vida e nossa força te proteja por muitos anos”.
[29] Loris F. Capovilla a irma ter visto "documentos" dessa previsã o.
[30]Habı́a sido secretario de Estado de Pı́o XI, fallecido casi de improviso el 10 de febrero de 1939.
Entró como «papable» en el có nclave inaugurado el 1 de marzo del mismo añ o, y que por esa razó n
fue el má s rá pido de todos los de a histó ria. As iscalizaçõ es começaram na manhã do dia 2 e à s
17h25 desse mesmo dia já havia uma fumaça branca: o cardeal Pacelli havia sido eleito papa com o
nome de Pio XII.
[31] No citado livro de correspondê ncias entre Roncalli e Montini, o texto da carta aparece na
pá gina 100 e o respectivo autó grafo na pá gina seguinte.
[32]Nesse primeiro consistó rio, nomeou 23 cardeais, abrindo a lista com o nome de Juan Bautista
Montini. Na verdade, nã o aconteceu uma semana, mas sim no dia 17 de novembro.
[33]Fruto de uma longa pesquisa histó rica, que desenvolveu com paciê ncia e sem descurar as suas
funçõ es de representante diplomá tico da Santa Sé , Angelo Roncalli publicou, entre 1936 e 1958,
uma obra em cinco volumes intitulada Atti della Visita apostolica di San Carlo Borromeo um
Bergamo. O quinto e ú ltimo volume apareceu com um pró logo do Arcebispo de Milã o, que
considerou o convite recebido do augusto autor "uma honra, uma grande dignidade e gentileza".
[3,4]Esta circunstâ ncia levou alguns a precipitarem-se para um prognó stico de inidor - "papa de
transiçã o" - que, se fosse correto, era em um sentido muito diferente daquele imaginado por eles: a
transiçã o para uma Igreja adaptada aos tempos, de um duradouro e impressã o profunda, diga (E
diga!) Seus crı́ticos o que eles pensaram em dizer. Houve també m aqueles que anteciparam
negativamente sua origem e treinamento para a posiçã o suprema. Um dos cardeais mais antigos e
sagazes do conclave que o elegeu, o arcebispo de Florença Elia Della Costa, apostou lucidamente na
sua “idoneidade” para o cargo com estas palavras: “E ilho de camponeses. Conheça o ritmo das
estaçõ es, a dinâ mica do plantio, a violê ncia do clima. Ele será um agricultor digno no campo de
Deus.
[35]Citado por LF C em Giovanni XXIII, un santo della mia parrocchia, Bergamo 1993,
125.
[36]Ib , 153-154.
[37]Ib , 329.