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A UM POETA (Olavo Bilac)

Longe do estéril turbilhão da rua,

Beneditino, escreve! No aconchego

Do claustro, no silêncio e no sossego,

Trabalha, e teima, e lima, e sofre, e sua!

Mas que na forma se disfarce o emprego

Do esforço; e a trama viva se construa

De tal modo, que a imagem fique nua,

Rica, mas sóbria, como um templo grego.

Não se mostre na fábrica o suplício

Do mestre. E, natural, o efeito agrade,

Sem lembrar os andaimes do edifício:

Porque a Beleza, gêmea da Verdade,

Arte pura, inimiga do artifício,

É a força e a graça na simplicidade

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Análise

O texto trata de como um poeta deve escrever sua obra, o que transparecer aos leitores,
o que o torna belo, o que é necessário, o que deve ficar de fora. Olavo Bilac deixa claro em
forma de poema como se deve construir um poema. Longe da multidão e do alvoroço
encontrado na rua Beneditino escreve. De acordo com as características dadas no soneto, do
local onde ele está a escrever sua obra Beneditino deve ser uma pessoa de cargo religioso,
talvez um padre, monge ou sacerdote.

Trabalha seu texto em um convento ou templo religioso, ambiente muito calmo,


silencioso tranquilo, de modo que ele consegue expressar suas ideias podendo trabalhar
sossegado longe de tudo que possa tirar seu foco e sua atenção, pois, escrever o trabalho em
questão não parece ser um trabalho fácil, aparentemente a escrita parece ser bem custosa e
árdua. Ele insiste ferozmente em seu texto por mais trabalhoso que seja ele continua em busca
da perfeição, escrevendo, lapidando suas ideias, até chegar no seu objetivo desejado.

Ele pontua que ao longo da obra não se deve deixar explícito trabalho e o esforço que
aquele texto deu ao autor. Ela deve ser limpa de tais características, só chamar atenção do
leitor por sua grandiosidade, sua beleza, ser imponente, clara e objetiva. Como ele mesmo diz
[...] “como um templo grego”. Bilac quer nos dizer que no texto não deve transparecer a
dificuldade e o esforço que a obra deu para ser escrita, ele acredita que o texto tem que
chamar atenção por si só, pelo seu caráter natural e sua beleza, de forma que o leitor o
enxergue de maneira limpa, sem características desnecessárias que não venham a agregar ao
todo.

Ele utiliza de toda sua genialidade para reforçar o que foi dito anteriormente, a súplica,
o sofrimento do autor não devem aparecer no poema pois tiraria a sua graciosidade. Um poeta
se entrega por inteiro no processo de produção e suas dificuldades, desagrado,
descontentamento suas frustrações não podem ficar evidente. O poema deve ser agradável
sem marcas de seu processo construtivo. O importante é produto obtido no fim, o texto está
belo e agradável ao leitor. Tudo tem que ser muito trivial.

Na última estrofe ele reforça o que foi dito ao longo do poema e encerra dizendo que o
poema é uma obra majestosa e não deve utilizar de truques pois sua beleza vem da verdade,
para ele arte é pureza e deve transparecer toda essa delicadeza sem utilizar malabarismo com
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falsas ou meias verdades. Como já citado o autor se entrega de corpo e alma ao escrever um
poema, mas essa entrega não deve ser evidenciada, seu esforço deve ficar nos bastidores da
construção pois o leitor deve receber um poema bem construído a obra deve ser singela, sútil,
natural, bela. Embora o resultado óbito tenha sido através do esforço e trabalho árduo do autor
o interessante ao público é a obra finalizada. Sua graça.

O autor utiliza de metalinguagem, usa o código para explicar o próprio código. O


poema possui 14 versos e quatro estrofes dois quartetos e dois tercetos. Na primeira estrofe
fica evidente que Beneditino gosta de escrever longe do barulho, na solidão. O conectivo "e" é
empregado com o intuito de reforçar, da ênfase ao esforço, trabalho do poeta ao escrever.
Passa a ideia de que o poeta está em busca da perfeição, da obra mais bem lapidada.
"Trabalha, teima" (verso 3). Bilac utiliza da norma culta da língua (padrão) em todo o poema.

Na segunda estrofe ele evidencia que na forma do poema não pode aparecer o esforço
do poeta para escrever, " mas que na forma se disfarce o emprego” (verso 5), o poema precisa
estar livre de tais marcas, necessita ser leve e chamar a atenção do leitor por sua essência por
seus traços naturais. Ele utiliza de "um templo grego” (verso 8) como comparação a beleza
que deve ser passada.

Na terceira estrofe á o emprego de uma metáfora " não se mostre na fábrica o suplício
do mestre" com a intenção de reforçar o que havia dito na estrofe anterior de não deixar
evidente no produto final a súplica do autor, a utilização de suplício passa a ideia de
sofrimento demasiado ao escrever, e não deve ficar evidente para não tirar a elegância do
poema.

A quarta e última estrofe, encerra o poema dizendo que a beleza está na simplicidade e
que utilizar de artifícios, métodos que fujam a verdade tira a pureza do poema. Bilac faz
comparação entre beleza e verdade, para mostrar que a beleza não vem da trapaça. E finaliza
dizendo que embora a beleza venha do esforço do poeta esses esforços não devem aparecer.
Apenas o belo.

Referências:

BILAC, Olavo. A um poeta. Antologia Poética - Porto Alegre, RS: L&PM, 2012. p.
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