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Luís de Camões, Rimas: A representação da mulher amada

Fase 1
Retirar informação essencial dos textos
O texto A aborda uma temática relativamente à mulher amada e faz uma alusão à
conceção platónica do amor, na qual o amor e a amada surgem no mundo das ideias.
A musa de Petrarca que é o centro deste texto é caracterizada pelo poeta como
representando o ideal de beleza feminino da época, sendo esta inalcançável e inacessível.
Por sua vez, é comparada ainda com as ninfas de Botticelli, com Gioconda e é dito que esta
mulher seria invisível. É perfeita, de tamanha excelência que se assemelha a algo irreal.
Note-se que no texto B, o tema é bastante semelhante pois mostra-nos que não só
na altura do renascimento, que era onde se situava este ideal de perfeição há pouco
referido, também ao longo dos séculos o próprio tomou diversas formas e ainda na Idade da
Pedra existia um. Efetivamente, houve severas transformações no que lhe diz respeito
desde a Pré-História onde o ideal estava virado para a obesidade que na altura era vista
como sinal de fertilidade e disponibilidade de recursos até hoje em que a perfeição está nas
formas bem esculpidas e na magreza.
Concluímos que as civilizações desde muito cedo têm vindo a criar rótulos e
etiquetas, como se o ser humano fosse um produto, obrigando as nossas mentes a montar
uma imagem irreal e inalcançável da beleza, aproximando-nos outra vez do Renascimento
parecendo que em vez de evoluirmos estamos a regredir.

Relacionar imagens do PPT e textos


As imagens apresentadas retratam o ideal de beleza da mulher que é referido em
ambos os textos. A mulher é dada como o objeto por excelência do homem a quem a
própria tem que obedecer e respeitar, mas que nada se parece com ele.
Como se pode ver, na pintura da autoria de Antonello da Messina, a senhora
retratada mostra-se com um rosto simples e simétrico com um olhar doce, calmo, mas com
o cabelo e corpo tapados. Por sua vez, nas pinturas de Piero del Pollaiolo é desenhada com
cabelos loiros, rosto simétrico e nariz perfeito, sobrancelhas finas e longas, bem como olhos
e pele claros tal como no texto é referido que a certa altura no ano de 1960 se tomou essa
forma de pensamento o que nos mostra que já em anos anteriores tal já aconteceu, porque
o quadro em questão é do séc.XV. Não menos importante, nas obras de Sandro Botticelli
sobressaem mais uma vez mulheres de pele clara e olhos bonitos e para além disso temos
os corpos proporcionais e esteticamente belos de acordo com o padrão onde são realçadas
as formas do corpo feminino que se assemelha ao ideal estético assumido na altura do
renascimento tal que é apontado no texto.
O que temos de comum em todos os quadros é um padrão que se adequa à época
em que foram pintados que se baseia principalmente em formas, aparências e feições
impossíveis de sustentar ou alcançar.
Fase 2
Leitura e interpretação dos sonetos
Texto C
No texto C, o sujeito poético retrata a sua mulher amada, seguindo os moldes de
Petrarca, ou seja, enaltecendo a mulher como sendo a representação do ideal de beleza e
perfeição.
Assim sendo, este ideal verifica-se através da descrição metafórica e valorativa,
evidenciando, deste modo, as suas características, não só físicas, como o cabelo, loiro e
valioso (“ondados fios de ouro reluzente”), e os olhos, doces e brilhantes, os quais exercem
o poder sobre o poeta de o fazer viver dependente dela (“olhos, que vos moveis tão
docemente em mil divinos raios encendidos”), mas também das psicológicas, como a doçura
(“que vos moveis tão docemente”), a honestidade (“honesto riso”) e a graça (“fazeis que sua
graça se acrecente”).
Na verdade, a sua amada é apenas uma idealização, inatingível e intocável, da
mulher ideal, sendo fruto da imaginação de Camões, pelo que, no último terceto, o sujeito
lírico manifesta o desejo de ver a sua amada motivado pela incondicional admiração
relativamente à mulher, sendo iste destacado pela interjeição (“Ah!”), da interrogação
retórica (“que será quando a vir”) e da exclamação.

Texto D
No texto D, o sujeito poético descreve, mais uma vez, a sua mulher amada, de
acordo com o registo do texto anterior, mais precisamente, como sendo o modelo de
beleza, perfeição e delicadeza.
Por isso, Camões elogia e aprecia a amada através da caracterização física e
psicológica, recorrendo à enumeração de adjetivos, à hipérbole e à adjetivação, com o
intuito de enfatizar as suas qualidades. Portanto, esta é referida fisicamente como perfeita
(“que representa em terra hum paraíso”), formosa (“como por natureza, ser fermosa”), de
cabelos loiros e preciosos (“debaixo de ouro”) e de pele branca, rosada e delicada (“neve
cor de rosa”), e psicologicamente como sendo doce (“entre rubis e perlas doce riso”),
serena (“leda serenidade deleitosa”), rara (“rara, suave”) e discreta e graciosa (“presença
moderada e graciosa”).
Assim, ao longo do poema, a mulher, símbolo da beleza inigualável, é considerada
superior relativamente ao sujeito lírico, tornando-se, assim, submisso e vivendo em função
dela (“Fala de quem a morte e a vida pende”).
Por conseguinte, na chave de ouro, este revela-se rendido ao encanto da sua amada,
por todas qualidades anteriormente referidas, demonstrando o seu amor incondicional por
ela.
Fase 3
Leitura e análise do poema “Trovas a ũa cativa com quem andava d’amores na Índia,
chamada Bárbora”
Texto E
O seu tema trata-se do amor sentido por Camões, que é uma das temáticas de
eleição da lírica camoniana em que descreve a mulher amada, Bárbora.
Logo no primeiro verso do poema o poeta diz ter uma relação de vassalagem para com a
amada e sugere então ser escravo amoroso da própria. De seguida nos versos 5 a 8 ele
encarrega-se de retratá-la como “fermosa”, bela e ainda utiliza elementos da Natureza para
ajudar na sua caracterização. Por sua vez, nos versos 7 e 8 dá uso à hipérbole para enaltecer
uma ideia e superiorizar a amada (“que pera meus olhos/ fosse mias fermosa”).
Na segunda estrofe, começa por fazer uma comparação entre um campo de flores e
um céu de estrelas e a mulher enfatizando que jamais o esplendor das formas da Natureza
alcançariam a beleza da sua cativa. No verso 13 faz transparecer ao dizer: “Rosto singular”,
que ela teria um rosto único, incomum. Associa-lhe a calma e a tranquilidade (“olhos
sossegados”) e opondo-se ao ideal de mulher, que era de corpos bem formados, bonitos e
bem esculpidos, descreve-a com olhos pretos e cansados fazendo uma analogia ao trabalho
duro.
Na terceira estrofe, Camões volta a reforçar que ela apesar de cativa é senhora e
questiona a beleza dos cabelos loiros. Refere o povo ao ser vão, inútil por ter essa opinião
generalizada.
No caso da quarta estrofe, a base é essencialmente a descrição psicológica e física da
senhora como alegre, meiga e contraria mais uma vez o padrão estético da época,
caracterizando-a como uma “doce figura”.
Por fim, na última estrofe utiliza uma antítese no início que opõe a serenidade com a
tormenta e termina o poema como o iniciou.
Assim, podemos concluir que o poeta está apaixonado por Bárbora pela sua
invulgaridade, excecionalidade e pelo que esta contraria o modelo do Renascimento em que
a mulher teria de ser loira, de olhos e pele clara, mas se aproxima deste molde ao ser serena
e calma.

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