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Texto expositivo- Análise do soneto “Um mover d’olhos brando e piadoso”

O tema deste soneto é a beleza da amada e o fascínio por ela exercido no sujeito
poético. Trata-se de um retrato mais espiritual do que físico, que se justifica após a
referência à transformação do pensamento provocada pela formosura, que funcionaria
como um veneno mágico .
Existe uma escassa referência a traços físicos, predominando as qualidades
morais da amada. Todavia, a ausência de características físicas na composição poética
foi, de certa forma, compensada com a adjetivação abundante e por substantivos
abstratos remetendo para particularidades morais da mulher.
O poema está repartido em dois momentos: o primeiro momento é integrado
pelas duas quadras e o primeiro terceto, no qual se realiza uma descrição
pormenorizada da amada. Todavia, a primeira quadra refere os aspectos mais exteriores
da mulher, e as restantes estrofes pertencentes ao primeiro momento abordam uma
visão mais espiritual; neste caso, retratam as atitudes, comportamentos, etc.
No que toca ao carácter descritivo deste soneto, foi utilizado um leque de
recursos expressivos, como, por exemplo, a repetição do recurso ao artigo indefinido no
início do verso - anáfora; a enumeração assindética; a dupla adjetivação e, por fim, a
metáfora (Ex-mágico veneno para representar a paixão/minha Circe para representar a
amada).
É interessante assinalar enquanto elemento de intertextualidade a figura de
Circe, pelo que importa explorar em moldes mais profundos a personagem mitológica
que aparece no texto poético, criando também uma relação entre esta e a amada.
Circe era, na mitologia grega, uma feiticeira e, em versões racionalizadas do
mito, uma especialista em venenos e drogas. Porém, representa também a sedução
amorosa, daí ter dado a beber aos companheiros de Ulisses a poção que os transformou
em porcos, impedindo o navegador de partir, no desejo de que fosse só seu.
Na composição poética em análise, a referência a Circe e ao seu mágico veneno
remete para a paixão que submerge o sujeito poético, causando o sentimento de estar
sob um feitiço, sob a influência de algo que não lhe permite manter o controlo de si, sob
efeito de algo que o transcende.
Passemos, neste ponto, a uma breve síntese da informação encontrada em
diversas fontes. De acordo com o blogue Sentir Português (Sentir Português: ANÁLISE
DE UM MOVER D'OLHOS BRANDO E PIADOSO, CAMÕES
(sentirportugus.blogspot.com), «este soneto retrata a mulher amada cuja beleza é
dominada pelos sentimentos sendo a sua caracterização de ordem moral e psicológica.
Nesta mesma caracterização, sente-se a influência direta de Petrarca no que se refere
ao elogio dos aspetos físicos, nomeadamente, olhar, riso, gesto… O sujeito poético faz
esta análise em contemplação tal como preconiza Petrarca…»
Já no site Prezi (Um mover d´olhos brando e piedoso by Filipa Costa (prezi.com)),
pode ler-se que «a composição poética é constituída por quatro estrofes: duas quadras
e dois tercetos. É pertencente à medida “nova”, significando que é composta por 10
sílabas métricas e o seu esquema rimático é ABBA ABBA CDE CDE.».
Por fim, no blogue 11c ESQM 14-15, lê-se que «neste soneto, o sujeito poético
descreve a sua amada, salientando as suas características: a amada revela-se alegre
(“sorriso”), genuína (“honesta”), amável (“um doce e humilde gesto”), benévola (“uma
pura bondade”), fazendo o poeta demonstrar o seu desejo carnal (“um desejo quieto e
vergonhoso”) pela mulher, pela sua figura feminina (“celeste formosura”). Figura
feminina que lhe enfeitiçou, tornando-a num pensamento inevitável (“que pôde
transformar meu pensamento”)».
Em jeito de conclusão, neste soneto Luís Vaz de Camões, seguindo o modelo
petrarquista, elabora um retrato da mulher amada inalcançável, ideal este que foi beber
às cantigas de amor: uma senhor inalcançável, com a qual o sujeito poético mantinha
uma relação de adoração hiperbólica, embora muitas vezes a mulher nem lhe dirigisse a
palavra.

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