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Considerações e comentários acerca do Art. 227 da Constituição Federal e da lei n.

8.069/ 1990 que trata exclusivamente do “Estatuto da Criança e Adolescente” no que


se refere tanto à sua inclusão social quanto à sua tutela

Loise Maria Baraúna Guedes1

Considera-se, legalmente, que criança é a pessoa de até doze anos de idade


incompletos, e adolescente a que tem entre doze e dezoito anos de idade, segundo
Art. 2 da lei nº 8.069 de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança
e do Adolescente – ECA. Nela, é assegurada à criança, adolescente e ao jovem a
absoluta prioridade, conforme o Art. 227 da Constituição Federal de 1988, sendo
dever da família, sociedade e do Estado assegurar o direito à vida, saúde,
alimentação, educação, lazer, profissionalização, cultura, dignidade, respeito,
liberdade, convivência familiar e comunitária, assim como coloca-los a salvo de toda
forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão.
As formas pelas quais o poder público lida até hoje com a infância e a juventude
são marcadas e modificadas por transformações da sociedade brasileira. Durante
séculos, crianças e adolescentes suscitam reflexões sobre a dinâmica de exclusão e
inclusão retratada nesse processo histórico. As leis anteriores ao Estatuto da Criança
e do Adolescente (ECA) abordavam correção, prevenção, instrução, bem-estar e
educação. Entretanto, as instituições que foram sendo criadas para assistir à
população, sobretudo pobre, raramente ofereciam uma política que fosse eficaz à
realidade das famílias na sociedade brasileira. Um dos reflexos disso na atualidade
são os números significativos de casos em que o ataque aos direitos fundamentais da
criança e adolescente são visíveis.
Um levantamento do Ministério da Saúde aponta que o Brasil registrou 32 mil
casos de abuso sexual contra crianças e adolescentes só em 2018, esse foi o maior
número desde 2011, ano em que os agentes de saúde passaram a ter obrigação de
computar os atendimentos. Já em Manaus, só entre os meses de janeiro e abril de
2018, o Sistema Integrado de Segurança Pública (SISP) registrou 173 casos de abuso
sexual de crianças e adolescentes.

1
Discente de Serviço Social, 8º período. Disciplina: Direito e Legislação – Noturno. Instituição de Filosofia,
Ciências Humanas e Sociais – UFAM, campus Manaus. E-mail: loisebarauna@gmail.com
Dados do disque denúncias de 2019 apontaram que em mais de 70% dos
casos, esses atos são praticados por familiares e em suas próprias casas. Diante
desse cenário, viu-se crescer o número de denúncias durante a pandemia, em março
de 2020, com um aumento de 85%, de 11.232 em março de 2019 para 20.771 em
março deste ano. Segundo o Ministério da Mulher, Família e Direitos Humanos, as
denúncias em abril aumentaram em relação ao mesmo período que o ano passado,
mas teve uma redução de 34% em relação a março, e a hipótese é que devido à
restrição maior por conta da pandemia, muitas crianças e adolescentes não estão
tendo a oportunidade de denunciarem seus abusadores, já que se trata de um período
de distanciamento e isolamento social, momento em que o potencial agressor está
dentro de casa.
Nesse contexto, destaca-se aqui a importância da elaboração de políticas
públicas eficazes, e ações norteadas pelo Sistema de Garantia dos Direitos da
Criança e do Adolescente (SGDCA), que possui a finalidade de promover, defender e
controlar a efetivação integral de todos os direitos da criança e adolescente (direitos
civis, políticos, econômicos, sociais, culturais, coletivos e difusos), definidas no ECA
e normatizadas pelo CONANDA na Resolução nº 113/2006. Trata-se de um sistema
estratégico, para além de um sistema de atendimento, complexo em sua estruturação,
que deve garantir de acesso à justiça e à proteção jurídico social, voltadas para o
sistema de justiça traduzidos na atuação das Varas da Infância e da Juventude e no
Conselho Tutelar, como órgão autônomo representativo da sociedade para zelar pelos
direitos da criança e do adolescente.
Na promoção dos direitos, é exigido o engajamento de órgãos públicos,
representantes da sociedade civil e pessoas da comunidade, não isolados e de forma
articulada, como bem refere o Art. 70-A do ECA, onde trata “Da Prevenção”, sendo
dever de todos promover e efetivar os direitos da população infanto-juvenil através da
elaboração e implementação da política de atendimento, que é função essencial do
Conselho de Direitos da Criança e do Adolescente.
O controle da efetivação dos direitos é o espaço específico para o
acompanhamento, avaliação e monitoramento dos mecanismos de promoção e
defesa dos direitos, consistindo, portanto, em espaço de vigilância que será exercido
prioritariamente pela sociedade civil organizada, por organismos institucionais e
mistos, como o Conselho de Direitos. Tais ações efetivas e eficazes dependem da
articulação intersetorial, interinstitucional, intersecretarial e até intermunicipal,
resultando em um todo organizado e relativamente estável, norteado por finalidades.

REFERÊNCIAS

BRASIL, Constituição da República Federativa do Brasil, 1988.

_______, Lei Federal n° 8.069, de 13 de julho de 1990, Estatuto da Criança e do


Adolescente – ECA.

Ministério da Saúde registra recorde de abusos sexuais infantis no Brasil - 02/03/2020


- UOL Universa Acesso em 09/12/2020.

MINISTÉRIO DA MULHER, DA FAMÍLIA E DOS DIREITOS HUMANOS. Ministério


Divulga Dados de Violência Sexual Contra Crianças e Adolescentes. Governo
Federal, 18/05/2020. Disponível: https://www.gov.br/mdh/pt-
br/assuntos/noticias/2020-2/maio/ministerio-divulga-dados-de-violencia-sexual-
contra-criancas-e-
adolescentes#:~:text=O%20levantamento%20da%20ONDH%20permitiu,%2C%20pa
ra%2062%25%20dos%20casos.

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