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LEACH Edmund Ronald. Sistemas Politicos
LEACH Edmund Ronald. Sistemas Politicos
LEACH, Edmund Ronald. Sistemas Políticos da Alta Birmânia. São Paulo: Edusp, 2014.
Conclusão
Conclusões que o autor chega ao final do livro:
(…) A população da Região das Colinas de Kachin não é culturalmente
uniforme; não se poderia esperar que o fosse, porque a ecologia varia. Mas, se
pusermos de lado essa parte muito grande da cultura que está preocupada com
a ação econômica prática – ou seja, a totalidade do que Malinowski
consideraria o aparato para a satisfação das necessidades humanas básicas –,
ficamos ainda com algo, esse algo que tratei neste livro sob o nome de ação
ritual. E, no que diz respeito a esses aspectos rituais da cultura, a população da
Região da Colinas de Kachiné relativamente uniforme. As pessoas podem falar
línguas diferentes, usar tipos de roupas diferentes, morar em tipos diferentes de
casa, mas compreendem o ritual uma da outra. Os atos rituais são modos de
“dizer as coisas” sobre o status social, e a “língua” em que essas coisas são
ditas é comum à totalidade da Região das Colinas de Kachin. (p.321)
(…) A geração de antropólogos britânicos de que faço parte proclamou
altivamente sua crença na irrelevância da história para o entendimento da
organização social. O que se prentente relamente com essas teses é, não que a
história seja irrelevante, mas que é difícil expressá-la por escrito. Nós, os
antropólogos funcionalistas, não somos realmente “anti-históricos” por
princípio; apenas não sabemos como adaptar os materiais históricos à nossa
estrutura de conceitos. (p.324)
O cândido reconhecimento de que os sistemas sociais não são por força
naturalmente estáveis não precisa compelir o antropólogo social de inclinações
estruturais a abandonar suas técnicas tradicionais de análise, pois ele será ainda
mais justificado em continuar a usar susas ficções científicas. Nas situações
práticas de trabalho de campo, o antropólogo deve sempre tratar o material de
observação como se fosse parte de um equilíbrio global; do contrário a
descrição torna-se quase impossível. Tudo o que estou propondo é que a
natureza fictícia desse equilíbrio seja francamente reconhecida. (p.326)
Somente o observador externo tende a supor que as mudanças na cultura e na
organização estrutural de um grupo devem ter um significado desagregador. É
um preconceito do antropólogo supor que a mudança é “destruidora da lei, da
lógica e da convenção”. (p.328)
Não posso crer que qualquer análise ao longo destas linhas possa corresponder
estritamente aos fatos. Parece-me axiomático que, onde comunidades vizinhas
têm relações econômicas, políticas e militares uma com a outra demonstráveis,
então o campo de qualquer análise sociológica útil deve estrapolar as fronteiras
culturais. (p.333)