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PSICOLOGIA E SAÚDE EM DEBATE

ISSN (eletrônico) 2446-922X

ARTIGO TEÓRICO

O USO DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS PARA A


ORIENTAÇÃO PROFISSIONAL NA PRÁTICA CLÍNICA
DOI: 10.22289/2446-922X.V8N1A29

Beatriz Amália Albarello 1

RESUMO

Este artigo teve como objetivo realizar uma pesquisa bibliográfica de caráter descritivo e exploratório
sobre a importância da orientação profissional para jovens e quais os instrumentos psicológicos
podem ser utilizados como prática clínica pelos profissionais de psicologia. A partir dos achados na
literatura sobre a escolha profissional, a orientação profissional e os tipos de avaliação, buscou-se
realizar uma proposta de caráter metodológico para uma intervenção clínica em orientação
profissional com o uso de instrumentos e testes psicológicos. Os achados indicam a importância
em utilizar recursos e técnicas psicométricas de testes de autorrelato, testes expressivos e
projetivos de personalidade para a compreensão da psicodinâmica, escolhas e preferências
profissionais.

Palavras-chave: Orientação Profissional; Testes Psicológicos; Prática Clínica.


487

THE USE OF PSYCHOLOGICAL INSTRUMENT FOR


VOCATIONAL GUIDANCE IN CLINICAL PRACTICE
ABSTRACT

This article aimed to carry out a descriptive and exploratory bibliographical research on the
importance of vocational guidance for young people and which psychological instruments can be
used as clinical practice by psychology professionals. Based on the findings in the literature on
professional choice, professional guidance and types of assessment, we sought to make a
methodological proposal for a clinical intervention in professional guidance using instruments and
psychological tests. The findings indicate the importance of using psychometric resources and
techniques of self-report tests, expressive and projective personality tests for the understanding of
psychodynamics, professional choices and preferences.

Keywords: Professional Guidance; Psychological Tests; Clinical Practice.

1
Endereço eletrônico de contato: beatrizamalia@gmail.com
Recebido em 18/05/2022. Aprovado pelo conselho editorial para publicação em 21/07/2022.

Rev. Psicol Saúde e Debate. Jul., 2022:8(1): 487-498.


EL USO DE INSTRUMENTOS PSICOLÓGICOS PARA LA
ORIENTACIÓN PROFESIONAL EN LA PRÁCTICA CLÍNICA
RESUMEN

Este artículo tuvo como objetivo realizar una investigación bibliográfica descriptiva y exploratoria
sobre la importancia de la orientación profesional para los jóvenes y qué instrumentos psicológicos
pueden ser utilizados como práctica clínica por los profesionales de la psicología. Con base en los
hallazgos de la literatura sobre elección profesional, orientación profesional y tipos de evaluación,
se buscó hacer una propuesta metodológica para una intervención clínica en la orientación
profesional utilizando instrumentos y pruebas psicológicas. Los hallazgos indican la importancia de
utilizar recursos psicométricos y técnicas de pruebas de autoinforme, pruebas de personalidad
expresiva y proyectiva para la comprensión de la psicodinámica, las elecciones y preferencias
profesionales.

Palabras clave: Orientación professional; Pruebas psicológicas; Práctica clínica.

1 INTRODUÇÃO

O uso de instrumentos psicológicos para a avaliação da personalidade, de aptidões e


comportamentos em práticas de orientação profissional tem sido pouco utilizado no contexto clínico.
Profissionais de psicologia tem optado por realizar essa avaliação com ferramentas de análise
488
comportamental de uso comum a todas as categorias profissionais, bem como uso de entrevistas
semiestruturadas para compreender a história de vida e a partir disso, amparar-se em técnicas de
orientação profissional voltado para interesses mercadológicos e de sucesso profissional (Giacaglia,
2003).
O que tem se observado são pessoas que após realizar uma entrevista de avaliação, seja
para o autoconhecimento ou análise de sua trajetória profissional, se deparam com uma realidade
diferente daquela que foi expectada no processo de análise e avaliação juntamente com
profissionais da área. Numa perspectiva analítica sobre o funcionamento psíquico, é de extrema
relevância considerarmos o cenário em que uma pessoa possa se submeter e os estressores
ambientais que pode afetar seu equilíbrio psíquico. Todavia, não podemos negligenciar esse olhar
da psicodinâmica quando estamos analisando a personalidade e as competências do sujeito
(Sparta, Bardagi, & Teixeira, 2006).
Em se tratando de orientação profissional, várias são as demandas que chegam ao
consultório, onde perpassa desde uma avaliação das aptidões e da personalidade para um
processo de decisão vocacional, como também para a escolha profissional, primeiro emprego,
recolocação profissional e até mesmo transição de carreira. Isso varia conforme os estágios da vida
profissional destes sujeitos, que em sua maioria estão vivenciando sentimentos de ambiguidade,
imprecisão, incerteza, indefinição, instabilidade, mudanças e até mesmo transitoriedade (Giacaglia,
2003).

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Portanto é fundamental compreender as abordagens teóricas e as técnicas recomendadas
para o uso na orientação profissional, a fim de que cada abordagem cumpra o seu papel na função
de auxiliar os profissionais da área para que os objetivos sejam atendidos conjuntamente com as
demandas do paciente.
Nesta dimensão, foi realizado uma pesquisa de revisão bibliográfica sobre a escolha e
orientação profissional, e após estudos exploratórios sobre os tipos de instrumentos utilizados no
contexto da avaliação psicológica, foi delineado como proposta metodológica um descritivo de como
realizar um processo interventivo na prática clínica, no que tange a avaliação e orientação
profissional.

2 DESENVOLVIMENTO

A fase da escolha profissional acontece na adolescência, onde há o surgimento de


mudanças sociais e culturas significativas, ocasionando conflitos internos e externos no indivíduo.
Conforme as necessidades surgem em vivenciar mudanças pertinentes no período da adolescência
e, ainda, ter que definir um caminho profissional a seguir, em que o público jovem encontra certas
dificuldades, considerando um período de transição delicado do ritmo do período escolar para o
mercado profissional, mudança considerada relativamente impactante com a realidade de alguns 489

jovens e adolescentes (Calligaris, 2000).


Este período de transição faz com que o sujeito faça questionamentos sobre seu contexto
atual, sua realidade atual e as mudanças que serão exigidas. Para jovens acostumados com uma
rotina apenas de estudo, pensar em sua vida profissional leva-o a ter questionamentos sobre “que
profissão escolher? ” e naturalmente as dúvidas e questionamentos acerca de qual será o caminho
a ser trilhado são complexas, com muitas dúvidas, questionamentos e paradigmas (Lucchiari, 2002).
Independente da faixa etária, este período é considerado um momento crítico e de muito
estresse, tendo em vista que os jovens trazem uma bagagem com uma grande responsabilidade
em seu processo decisório. Independente se a escolha profissional é por vocação, por retorno
financeiro ou aceitação parental, neste momento a pressão se faz presente quando se tenta
conciliar todas as vertentes. A orientação o profissional é considerado algo de suma relevância,
tendo em vista que estas terão reflexos diretamente ligados nas decisões de toda uma trajetória de
vida (Calligaris, 2000; Lucchiari, 2002).
De acordo com Calligaris (2000), há momento da adolescência em que o indivíduo passa a
não ser tão novo quanto uma criança para ter atitudes imaturas, e ao mesmo tempo não seja tão
maduro para ter atitudes consolidadas como um adulto formado. O jovem passa por uma fase
transição representado por uma ruptura, por mais que o jovem não queira, ou não esteja pronto, é
hora de crescer, o autor deixa a seguinte observação “Por consequência, ele não é mais nada, nem

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criança amada, nem adulto reconhecido". Percebe-se então que este período de transição é
também um período muito sensível, onde estão a ocorrer diversas mudanças, inclusive o grau de
responsabilidade.
Segundo Calligaris (2000) um jovem está pronto para tomar uma decisão a respeito de sua
carreira quando este tem um vasto conhecimento e uma ampla capacidade de exploração sobre as
informações, facilitando assim suas escolhas. As informações sobre as profissões é um dos
métodos adotados para orientação profissional, desta forma temos como forma de clareza no
caminho a ser seguido, ampliar o conhecimento teórico e excluir grande parte de incertezas.
Dentre diversos fatores anteriormente citados, como família, renda, local de inserção, o
maior fator em grau de importância neste cenário é o papel da escola quanto a mudança social.
Toda mudança ocorre mediante uma tomada de decisão, mas esta, só ocorrerá com aqueles que
tem consciência da realidade, e ciências das alternativas das mudanças que irão ocorrer. Vejamos
a seguir o que Lucchiari (2002) relata a respeito.
A escolha consciente por parte dos jovens de sua futura profissão pode ser um dos caminhos
para se alcançar uma maior relação da escola com a realidade. À medida que um maior número de
pessoas ingressar na universidade, conscientes do seu compromisso social, poderá reivindicar
mudanças, alterações curriculares e estruturais da universidade, tentando aproximá-la mais da
realidade (Lucchiari, 2002, p. 58-59). 490
Neste contexto, vários são os caminhos que devem ser seguidos, bem como seus
influenciadores a atingirem tais resultados, onde a história de vida e familiar influência nas escolhas
profissionais. Mas há um ponto que vale o alerta, por mais que sejam métodos eficazes com
objetivos claros, devemos respeitar também a limitação de cada envolvido, onde cada envolvido
(pais, professores e tutores) possuem uma maneira diferente de aprendizado, seja uma forma
preferida de estudo ou uma forma que há maior aproveitamento na qualidade do que foi posto como
aprendizado.
Em tempos de escassez de empregos, dificuldades econômicas e instabilidade no mercado,
as pessoas tendem a sentir mais a necessidade de planejar sua vida profissional, buscando
orientações, métodos e instrumentos que as ajude nesse processo. Portanto, é fundamental
compreender as competências, ampliar as redes de relacionamentos e buscar o autoconhecimento.
Diante disso, o elemento fundamental para a escolha profissional é o autoconhecimento. Na
orientação profissional, o psicólogo pode utilizar técnicas e instrumentos contendo testes
vocacionais, em casos de jovens adolescentes em busca da escolha profissional ou de seu primeiro
emprego, tendo em vista essa fase ser o início da vida profissional, gerando ansiedade, insegurança
e confusão para fazer escolhas sem ser influenciado com os viés mercadológicos, ou modelos
parentais e sugestão grupal.
Os principais elementos para a escolha profissional é compreender os princípios e valores
que regem a história de vida destes jovens, sua estrutura de personalidade, habilidades e

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interesses, a sua maturidade para a escolha profissional e seu histórico familiar, tendo em vista a
necessidade em fazer escolhas pautadas em conhecimentos já adquiridos e familiarizados com sua
trajetória de vida.
Portanto, é importante que psicólogos conduzam esse processo de construção da trajetória
profissional, do autoconhecimento e da aprendizagem de si, onde os jovens que se sentem perdidos
com uma sensação de desamparo ou com medo do desconhecido possam encontrar através de
técnicas e ferramentas respostas para suas dúvidas e inquietações.

2.1 A Orientação Profissional

Como forma de auxílio aos jovens e adolescentes, surgiu então uma tarefa denominada
Orientação Profissional (Ribeiro, 2011). A orientação profissional foi definida por Savickas (1999,
apud Silva, 2014) como um processo que tem como principal objetivo orientar as pessoas em
relação às suas futuras carreiras, com a finalidade de uma maior compreensão das características
profissionais e autoconhecimento, podendo desenvolver também desta forma potenciais
anteriormente desconhecidos.
Na orientação profissional, o jovem busca orientação para compreender suas habilidades e
competências, como também compreender as suas características de personalidade e 491
funcionamento psíquico que encontrar uma profissão que promova bem-estar e realização pessoal
e profissional. Para tanto, o processo de orientação é essencial e o uso de testes e ferramentas
psicológicas e outros recursos avaliativos são necessários.
Na literatura encontramos vários tipos de orientação profissional aplicados na prática e
usados por profissionais da área utilizando de referencial teórico psicanalítico, sócio-histórico,
psicopedagógico, psicodramático, dentre outros. As teorias psicológicas sustentam as práticas da
orientação profissional, tais como: a teoria dos traços e fatores; a teoria desenvolvimentista; as
teorias psicodinâmicas e as teorias da decisão (Lucchiari, 1997).
Na teoria dos traços, nos deparamos com a influência psicométrica. Essa teoria pressupõe
medição de aptidões e interesses dos indivíduos para compatibilizá-los com as habilidades e
competências requeridas por cada profissão. Essa teoria originou-se com as pesquisas de Frank
Parsons (1909/2005) considerado o pai da orientação vocacional, profissional e de carreira, por
causa de seu pioneirismo na sistemática teórico e prática dos primeiros trabalhos realizados nos
EUA. Sua abordagem "atuária", tem como finalidade encontrar o perfil de competências pessoais
com o perfil ocupacional. Sua teoria está vinculada a uma concepção positivista e
metodologicamente fundamentada na psicologia diferencial e na psicometria, tendo como premissa
que a escolha certa é aquela em que melhor coincide o perfil ocupacional com o individual. Para
essa abordagem, os profissionais utilizam-se de técnicas de entrevista, análise dos traços

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comportamentais e uso de ferramentas de avaliação vocacional com questionários de autorrelato
para uma autoanálise com base em um planejamento de vida.
Na teoria desenvolvimentista, baseia-se na premissa que a percepção da escolha
profissional desenvolve como um processo que ocorre em diferentes etapas ao longo do ciclo vital.
Na abordagem proposta por Super, Donald (1985) traduz a sua teoria do desenvolvimento de
carreira em termos didáticos, criando um modelo de avaliação e orientação profissional (C-DAC
Model) que utiliza os conceitos de maturidade de carreira, saliência dos papéis e autoconceitos,
contribuindo para que os orientadores profissionais possam auxiliar as pessoas a resolverem os
seus problemas de carreira de forma integradora. Seu modelo foi criado para a compreensão dos
determinantes subjetivos do desenvolvimento de carreira e supera o modelo tradicional baseado na
combinação de perfis.
Nas teorias psicodinâmicas, desenvolvida a partir da década de 60, aprimorada por
Bohoslavsky (1993/1971) e outros, consiste na aplicação dos conceitos e das técnicas psicanalíticas
à escolha ocupacional. A compreensão da história do indivíduo através de sua narrativa e a forma
como ele lida com a realidade e o princípio do prazer são aspectos fundamentais. O processo
interventivo ocorre no desvelamento e elaboração dos conflitos, ansiedades, medos e fantasias
relacionados com o dilema ocupacional, bem como a busca de escolhas reparatórias ou
conciliatórias. Essa abordagem dialoga com questões sociais, familiares e psicológicas para a 492
determinação da escolha pela sociedade, considerando as influências da família, da estrutura
educacional e socioeconômica, da mídia e da cultura. No decorrer das entrevistas, o orientador
alterna a escuta psicanalítica com interpretações, interposições, comparações, questionamentos e
esclarecimentos. É utilizado na prática técnicas projetivas, dinâmicas e jogos e questionários.
Nas teorias da decisão, são fundamentadas os modelos econômicos, conceitos e técnicas
da Psicologia Cognitiva e da Psicologia Social. Essa abordagem é pautada na crença de que as
pessoas escolhem profissões que irão maximizar ganhos e minimizar perdas em termos daquilo
que elas valorizam. Cada profissão possui um valor particular para cada indivíduo. O processo de
orientação busca identificar e analisar, junto com o cliente, atitudes, valores, expectativas,
esquemas cognitivos, autoconceito, autoeficácia e objetivos pessoais, a fim de auxiliá-lo nos
processos de solução de problemas, tomada de decisão e estabelecimento de prioridades em
relação à sua formação e trajetória ocupacional.
Segundo Giacaglia (2003) as alternativas apresentadas ao jovem devem lhe dar liberdade
de escolhas munido de seu conhecimento do mundo dos cursos e das profissões, como também
de seu autoconhecimento. Neste caso, cabe ao orientador auxiliar o orientando em sua tomada de
decisão. Essa teoria preocupa-se com a instrução e o treinamento dos jovens que eles tenham mais
segurança às suas escolhas futuras e as que já passaram, para que estas escolhas sejam seguras.
Na literatura encontramos dois modelos de avaliação em orientação profissional. Segundo
Bohoslavsky (1993/1971) temos o modelo estatístico, sendo utilizado técnicas da psicometria

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centrado no Resultado. Este modelo preocupa-se com a definição da escolha profissional, onde os
testes psicológicos são utilizados para a definição das características individuais (inteligência,
aptidões, interesses e personalidade) com a finalidade de combiná-las com as características e
ambientes ocupacionais. No modelo clínico, centrado no processo, é usado técnicas de entrevista
como principal instrumento para a avaliação psicológica, e o uso de testes psicológicos é facultativo.
Neste modelo, a preocupação é centrada com questões relativas aos processos internos e externos,
que levam o indivíduo à escolha profissional e à tomada de decisão.

2.2. O Uso de Instrumentos Psicológicos na Orientação Profissional

A avaliação psicológica é uma área da Psicologia que tem apresentado contribuições


significativas para diversos campos de atuação profissional. Na orientação profissional, a utilização
de testes psicológicos e outros instrumentos tem sido muito demandado neste contexto de prática
clínica do Psicólogo, com a finalidade de identificar ou quantificar as características de seu objeto
investigativo. (Sparta, Bardagi, & Teixeira, 2006).
Neste caso, a avaliação permite o uso de entrevistas psicológicas, testes psicológicos,
instrumentos e escalas avaliativas, análise comportamental, observação clínica e outras técnicas e
recursos que favorecem o processo avaliativo na orientação profissional. 493
De acordo com a nova resolução do Conselho Federal de Psicologia, Resolução nº 9/2018,
o uso de testes psicológicos é exclusivo de profissionais da Psicologia, e seu manuseio requer
consulta de instrumentos com parecer favorável pelo Sistema de Avaliação dos Testes Psicológicos
(SATEPSI). Contudo, podemos optar por recorrer aos instrumentos disponíveis na literatura
científica. Deste modo, é importante verificar quais instrumentos psicológicos e não psicológicos
estão disponíveis para utilização dos profissionais que atuam em Orientação Profissional e de
Carreira.
Dentre os principais instrumentos psicológicos recomendados para avaliação de interesses
profissionais e favorável pela listagem do SATEPSI relacionados ao uso em contextos de orientação
profissional, para a avaliação de maturidade para a escolha profissional, os mais utilizados são:
EMEP - Escala de maturidade para a Escolha Profissional da Vetor Editora (NEIVA, 2003).
EAE-EP - Escala de autoeficácia para escolha profissional da Pearson (Ambiel & Noronha,
2012).
No processo avaliativo, é importante compreender a personalidade do sujeito para que a
orientação não fique fragmentada e limitada apenas às preferencias e escolhas profissional. Neste
quesito, a utilização de instrumentos e testes psicológicos para a avaliação da personalidade requer
alguns cuidados. De acordo com a literatura, recomenda-se o uso de testes psicométricos de
autorrelato e testes projetivos e expressivos da personalidade, tais como:

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QUATI – questionário de avaliação tipológica é um teste da Vetor Editora que permite
entender as inclinações comportamentais do indivíduo (Zacharias, 2003).
BFP – bateria fatorial de personalidade da Editora casa do psicólogo é um instrumento
psicológico construído para avaliação da personalidade a partir do modelo dos Cinco Grandes
Fatores (Nunes, Hutz, & Nunes, 2013).
IFP-II – Inventario fatorial de personalidade da Pearson Editora tem por objetivo traçar o
perfil de personalidade do indivíduo, com base em 13 necessidades ou motivos psicológicos (Leme,
Rabelo, & Alves, 2013).
NEO-PI – Neo Personality inventory é um inventário de personalidade da Vetor Editora que
examina os cinco grandes traços da personalidade de uma pessoa (Costa & Mccrae, 2007).
HTP - House, Tree, Person é um teste de grafismo utilizado em avaliações psicológicas para
avaliar características de personalidade da Vetor Editora (Buck, 2003).
Palográfico – é um teste da Vetor Editora que avalia a personalidade por meio do
comportamento expressivo (Alves & Esteves, 2004).
Pfister – as pirâmides coloridas de Pfister é um teste da Hogrefe que avalia a personalidade
por meio de técnicas projetivas (Villemor Amaral, 1978).
Rorschach – é um teste de avaliação da dinâmica e da estrutura da personalidade por meio
de técnicas expressivas (EXNER, 1994). 494
Zulliger ou Z–teste avalia a personalidade por meio de técnicas expressivas (Villemor-
Amaral, Primi, Franco, Nuniz, Cardoso, & Machado, 2005).
No que tange a avaliação dos interesses profissionais, os avaliadores precisam atentar-se
ao uso de instrumentos e escalas de avaliação que não necessariamente são de uso exclusivo de
psicólogos. Portanto, destaca-se os testes abaixo:
AIP – avaliação dos interesses profissionais é uma coleção da Vetor Editora que objetiva
avaliar os interesses profissionais dos jovens. (Bandeira & Levenfus, 2009).
BBT – BR teste de fotos e profissões é uma coleção da Hogrefe que tem por objetivo avaliar
as inclinações profissionais por meio de técnicas projetivas. (Achtnich, 1979, 1991).
EAP – Escala de aconselhamento profissional é uma coleção da Vetor editora que tem como
objetivo avaliar as preferencias por atividades profissionais (Noronha & Santos, 2007).
Matriz de habilidades e interesses profissionais - é uma bateria que tem como objetivo
auxiliar as pessoas a escolher e/ou planejar a carreira profissional (Magalhães, 2011).
Segundo Mahl, Soares e Oliveira Neto (2005) O programa de orientação profissional
intensivo (POPI) utiliza várias técnicas em grupos para orientação profissional e que pode ser
adaptada no individual, considerando algumas técnicas, como por exemplo:
O Acróstico das Características para trabalhar a autoimagem e a autobiografia do futuro
auxilia a pessoa a pensar a integração temporal do seu eu projetando-se no futuro e planejando os
passos a serem dados para ser alcançado.

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A linha do tempo da história de vida e trajetória profissional é uma técnica utilizada para
trabalhar o autoconhecimento, a influência familiar, o conhecimento da realidade social, as
informações a respeito das possibilidades profissionais e as ansiedades do sujeito.
A roda da vida como ferramenta que mede o índice de satisfação das pessoas em áreas
importantes de sua vida, tendo um formato de mandala.
O Genoprofissiograma é a representação gráfica de uma família e das gerações anteriores,
destacando as profissões de cada um de seus componentes, identificando em sua estrutura familiar
as relações estabelecidas entre os membros da família, os modelos e padrões que são repetidos
entre as gerações, o lugar em que o paciente ocupa nessa família e suas referências (Lucchiari,
1997).
Dentre os recursos adicionais recomendados para a orientação profissional, temos o DNA
motivacional, sendo um instrumento que possui quatro leis fundamentais da motivação, onde essas
leis ajudam a eliminar uma das maiores dificuldades nos relacionamentos humanos: aceitar a
diferença entre os indivíduos, seus níveis de motivação e resultados obtidos de acordo com cada
perfil que é único e pessoal (Lowe, 2010).
Foi realizado uma pesquisa bibliográfica de caráter descritiva e exploratória sobre a temática
orientação profissional foi desenvolvida para fins acadêmicos pautado no conhecimento elucidado
por diversos autores que apresentam questões e práticas sobre a perspectiva da avaliação e 495
orientação profissional. Foi desenvolvido uma proposta de intervenção clínica com o descritivo dos
procedimentos a serem utilizados em sessões para orientação profissional.
Para o desenvolvimento da orientação profissional, propor-se-á um planejamento de 10
sessões para a avaliação, acompanhamento e orientação profissional, a ser realizado por um
psicólogo que conduza as sessões de acordo com o plano de desenvolvimento abaixo:
Sessão 1. Análise da demanda com o paciente jovem adolescente ou adulto. Cabe ressaltar
a importância da presença dos pais para a explanação dos procedimentos éticos e legais.
Sessão 2. Análise de preferências e motivações com a paciente. Nesta sessão, deverá ser
apresentada a proposta de trabalho, entrevista inicial e aplicação do recurso acróstico das
características pessoais. A partir desse encontro, inicia-se o contrato de trabalho, que deverá ser
lido e assinado juntamente com o termo de consentimento livre e esclarecido pelo paciente, para
que o processo seja de comum acordo e aceite pela proposta de trabalho. Cabe ressaltar que no
contrato tenha especificado o número de sessões, horários e honorários do terapeuta e direitos do
paciente. É importante que em caso de jovem adolescente menor de 18 anos, a presença de um
dos pais ou responsável legal é necessário para validar o contrato de trabalho.
Sessão 3. Análise de preferências e relação parental. Nesta sessão, realizar a aplicação do
teste psicológico EMEP (escala de maturidade para a escolha profissional) em caso de jovem
adolescente ou o teste IAO (inventário de avaliação ocupacional) para jovem adulto que procure

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orientação de carreira. Para análise atitudinal, utilizar o recurso adicional Roda da Vida e análise
das preferências do paciente e sua relação parental.
Sessão 4. Entrevista semiestruturada para abordar valores e profissões e atividades que
mais gosta e as influências externas.
Sessão 5. Aplicação e análise do genoprofissiograma e aplicação e análise do AIP
(avaliação dos interesses profissionais) e solicitar ao paciente que descreva as 10 profissões que
mais se identifica.
Sessão 6. Aplicação do teste de personalidade NEO –PI e Palográfico. Solicitar ao paciente
revisitar as profissões e reduzir para 5 profissões ou áreas de atuação.
Sessão 7. Aplicação do teste projetivo HTP e DNA Motivacional.
Sessão 8. Aplicação do teste projetivo Zulliger, versão individual com inquérito e entrevista.
Solicitar ao paciente a revisão das escolhas profissionais ou interesses e reduzir para 2 profissões
ou áreas de atuação.
Sessão 9. Apresentação dos resultados dos testes projetivos.
Sessão 10. Devolutiva juntamente com os pais, em caso de paciente menor de 18 (dezoito)
anos.

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS 496

Considerando as práticas apresentadas pelo pesquisador, podemos aferir que existem


diversos instrumentos e testes psicológicos de uso exclusivo pelos profissionais de Psicologia,
sendo que a sua maioria é usado para atender uma demanda de abordagem teórica dos traços ou
comportamental como costumam usar na literatura.
Muitos profissionais utilizam também das teorias desenvolvimentistas e da decisão para
realizar a avaliação psicológica centrado no resultado. Esses testes em sua maioria psicométricos
mensuram os interesses, as preferencias e os traços de personalidades dos sujeitos com uma certa
precisão empírica e cientifica.
Contudo, com um olhar clínico da subjetividade, alguns fatores como o funcionamento e a
estrutura psíquica são negligenciados. Para tanto, recomenda-se o uso de testes projetivos e
expressivos para análise da estrutura e da dinâmica da personalidade e quais são os recursos
disponíveis que este sujeito possui para lidar com a sua trajetória profissional. Desta maneira, o
modelo de avaliação centrada no processo pressupõe com mais cautela a análise de processos
intrínsecos e extrínsecos que conjuntamente levam o profissional e fazer escolhas assertivas.
Portanto, a partir dos apontamos teóricos recomenda-se que os profissionais de psicologia
utilizem desde testes psicométricos de autorrelato a testes projetivos e expressivos da
personalidade e inventários de atitudes e interesses profissionais para a compreensão das

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necessidades, habilidades, atitudes e interesses profissionais. Como ferramentas adicionais ao
processo de avaliação psicológica, recomenda-se o uso de entrevistas conjuntamente com outros
recursos de avaliação da subjetividade, seja com técnicas validadas cientificamente ou recursos
adicionais para avaliação profissional.

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