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A Bioquímica do Candomblé – Possibilidades Didáticas de

Aplicação da Lei Federal 10639/03

Patrícia F. S. D. Moreira, Guimes Rodrigues Filho, Roberta Fusconi, Daniela F. C. Jacobucci

Desde a promulgação da lei federal 10639/03, que determina a obrigatoriedade do ensino de história e cultura
africana e afro-brasileira nas escolas, pouco tem sido feito por parte das esferas responsáveis pela educação
básica na aplicação dessa lei nas diversas disciplinas, inclusive na Química. A falta de material didático espe-
cífico e o desconhecimento da maioria dos professores são fatores que dificultam a implementação da lei. A
impossibilidade de relação da cultura negra com os conteúdos previstos na educação básica tem sido limitante
na eliminação de ideologias, desigualdades e racismo. Como possibilidade para o ����������������������������
cumprimento da lei e a di-
vulgação de conhecimentos científicos atrelados à cultura africana e afro-brasileira, focalizamos a bioquímica
e o candomblé por se tratar de uma das religiões afro-brasileiras mais difundidas em todo o país. Dentre as
várias espécies de plantas utilizadas nos rituais do candomblé, abordaremos a noz-de-cola e suas aplicações
na Química em aulas do ensino médio.

candomblé, lei federal 10639/03, química, bioquímica


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Recebido em 12/05/10, aceito em 03/05/11

D
esde que a lei federal 10639/031 ampliar a inserção da temática das apesar das exigências dos Parâme-
foi sancionada e consubstan- relações étnico-raciais no interior das tros Curriculares Nacionais (Brasil,
ciada pelo parecer CNE/CP instituições de ensino superior. Esse 2002) e das Orientações Curricula-
03/20042 e pela Resolução CNE/CP apoio ocorre por meio de três ramos res Nacionais para o Ensino Médio
01/20043, muito tem sido debatido a de ações distintos e (Brasil, 2004), pou-
respeito da forma como a legislação interligados: a) For- cos trabalhos foram
que obriga a educação das relações mação continuada Combater o racismo, desenvolvidos no
étnico-raciais e o ensino de história de professores em trabalhar pelo fim da sentido de aplica-
e cultura africana e afro-brasileira educação para as re- desigualdade social e ção e abordagem
nos estabelecimentos de ensino de lações étnico-raciais; racial, empreender a efetiva da lei federal
educação básica públicos e privados b) Publicação de ma- reeducação das relações 10.639/03 nas salas
podem e devem ser cumpridos. teriais sobre a temá- étnico-raciais não são de aulas. Dentre es-
Enquanto a quantidade de material tica étnico-racial; c) tarefas exclusivas da escola. tes, podem ser cita-
bibliográfico vem crescendo de forma Permanência de alu- As formas de discriminação dos Pinheiro (2010),
substancial, inclusive pelo incentivo nos negros e cotistas de qualquer natureza não que trabalhou com
do Governo Federal para a produção no ensino superior. têm o seu nascedouro na objetos de apren-
de materiais didático-pedagógicos Com o lançamento escola, porém o racismo, dizagem virtuais de
por meio de programas de ações do Compromisso to- as desigualdades e as alguns conteúdos
afirmativas como, por exemplo, o dos pela educação discriminações correntes na de Química na for-
UNIAFRO/MEC/SESu/SECAD/FNDE, e do plano de ações sociedade perpassam por mação inicial de pro-
ações efetivas de implementação articuladas, o Progra- ali (Brasil, 2004). fessores; e Francisco
da lei por parte das instituições de ma UNIAFRO ganha Júnior (2008) sugere
ensino superior ainda são diminutas mais importância como uma ação várias abordagens da contribuição do
nesses oito anos do sancionamento efetiva que contribui para o cumpri- conhecimento científico dos povos
desta. Esse programa de ações afir- mento da lei 10.639/03. africanos e seus descendentes para
mativas tem o objetivo principal de No caso do ensino de Química, os professores de Ciências.

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Segundo as diretrizes curriculares empreender a reeducação das rela- visões de mundo e ideologias. O
nacionais para a educação das rela- ções étnico-raciais não são tarefas professor, tendo como referencial a
ções étnico-raciais e para o ensino de exclusivas da escola. As formas de realidade socioeconômica de onde
história e cultura afro-brasileira e afri- discriminação de qualquer natureza a escola está inserida, pode mudar
cana (Brasil, 2004), convivem, no Bra- não têm o seu nascedouro na escola, o cenário atual e quebrar tabus, tais
sil, de maneira tensa, porém o racismo, as como: discussão sobre o que seria
a cultura e o padrão desigualdades e as cultura; potencializar por meio de
estético negro e afri- O professor, tendo como discriminações cor- pesquisas a cultura popular presente
cano e um padrão referencial a realidade rentes na sociedade na classe; mostrar ao aluno o conteú-
estético e cultural socioeconômica de onde a perpassam por ali do, porém sempre o chamando para
branco europeu. No escola está inserida, pode (Brasil, 2004). o lado crítico etc. Claro que isso será
entanto, a presença mudar o cenário atual e A escola tem pa- aplicado de acordo com as séries,
da cultura negra e quebrar tabus, tais como: pel preponderante e é fundamental que o professor
o fato de 45% da discussão sobre o que para eliminação das tenha consciência da ideologia que
população brasilei- seria cultura; potencializar discriminações e carrega em si, que é sujeito ideológi-
ra ser composta de por meio de pesquisas a para emancipação co produzido e que as culturas são
negros (IBGE, 2000) cultura popular presente na dos grupos discrimi- hierarquizadas e, portanto, não agra-
não têm sido sufi- classe; mostrar ao aluno o nados. A �����������
importân- dará a todos, mas estará produzindo
cientes para eliminar conteúdo, porém sempre cia de se trabalhar cidadãos mais conscientes, porque
ideologias, desigual- o chamando para o lado essa questão dentro serão ativos nesse cenário constante
dades e estereótipos crítico etc. do ambiente escolar de multiculturalismo (Arruda, 2010).
racistas. Francisco perpassa por vários Moreira (2001) define a educação
Júnior (2008) comenta sobre a visão aspectos como: formação ideológica multicultural como uma resposta que
eurocentrista de Ciência e o papel do aluno, aceitação da sua cultura ocorre a essa condição, em ambien-
do professor ao abordar questões (aceitação como valorização), con- tes educacionais, com o intuito de
86 sobre a Ciência dos povos africanos, tribuição para a mudança de uma sensibilizar a pluralidade de valores
demonstrando que estes possuíam sociedade focada e limitada no e universos culturais. O conceito de
conhecimentos científicos muito eurocentrismo. O espaço escolar cultura adotado pelos professores
avançados: é importante para a habilitação de formadores caracterizará o proces-
professores e análise pedagógica, so educacional como estático ou
Na maioria das vezes, quan- elaboração de projetos a serem dinâmico.
do falamos em Ciência, é desenvolvidos ao longo do período Relações entre saberes popula-
totalmente desconsiderada a letivo e não somente no dia 20 de res, escolares e científicos
dimensão de Ciência e tecno- novembro do calendário escolar. Os conhecimentos são diferen-
logia dos povos pré-colombia- Segundo a professora Petronilha ciados por suas funções e usos.
nos, africanos, indígenas etc. (Brasil, 2004, p. 17), Todo conhecimento é sistematizado
A supervalorização de deter- e processado pelo pensamento. Es-
minadas culturas, por exemplo, [...] a relevância do estudo de pecificamente os denominados de
a europeia, em detrimento de temas decorrentes da história e senso comum perpassam os saberes
outras, é um ato discriminatório cultura afro-brasileira e africana sociais, perceptivos e cotidianos. Os
e que, amiúde, nos passa des- não se restringe à população saberes dialogam, interagem e repro-
percebido. (p. 405) negra, ao contrário, dizem duzem na cultura escolar.
respeito a todos os brasileiros, Alice Lopes (1999) afirma que o
Ainda persiste em nosso país um uma vez que devem educar-se senso comum, sendo a forma de
imaginário étnico-racial que valoriza enquanto cidadãos atuantes expressão do saber popular, cons-
principalmente as raízes europeias no seio de uma sociedade titui-se na maneira que as camadas
da sua cultura, ignorando ou pouco multicultural e pluriétnica, ca- populares concebem e interpretam
valorizando as outras culturas como pazes de construir uma nação o mundo.
a indígena, a africana e a asiática. democrática. A sociedade brasileira é pluricul-
Deve-se ressaltar que, como tural e, seguindo o discurso atual de
descreve a relatora das Diretrizes O hibridismo como sinônimo de educar para a igualdade de acesso e
Curriculares Nacionais para a Edu- multiculturalismo é uma realidade direitos, a escola assume o papel de
cação das Relações Étnico-Raciais constante e presente na sociedade. A formar a nação, e as diferenças têm
e para o Ensino de História e Cultura sala de aula é o lugar de confluência que ser dimensionadas no currículo
Afro-Brasileira e Africana, a Profa. Dra. das diferenças que provêm de diver- comum.
Petronilha Beatriz Gonçalves e Silva, sos grupos. Devemos tratar a sala de O conhecimento científico coteja
combater o racismo, trabalhar pelo aula como um espaço multicultural o conhecimento popular e, segundo
fim da desigualdade social e racial, formado por alunos com diferentes Schwartzman (1998), não há nada de

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novo nisso, uma vez que o conheci- como cirurgias cerebrais, de catarata, frequentemente aceitas e difundidas
mento científico avança por tentativas engessamento de ossos, conheci- (desconstruir a visão eurocêntrica
e erros e sabe também que pessoas e mento de substâncias anestésicas de Ciência) e possibilitar a inclusão
civilizações sobreviveram e ainda so- e cicatrizantes – encontrados em social, propondo a mudança e a
brevivem a custa de conhecimentos papiros médicos datados de 1550 a. melhoria do mundo em que vivemos
práticos e tradições acumuladas ao C.); conhecimento de procedimentos em diversos níveis. Nessa discussão,
longo do tempo, sem uma base dita físicos e químicos de mumificação; é desejável um ensino de ciências
científica constituída de forma explí- descobertas na astronomia, matemá- que contemple aspectos históricos,
cita. Existe um corpo de ideias que tica; domínio de técnicas de irrigação dimensões ambientais, pos����������
turas éti-
questionam a demarcação absoluta e da forja do aço (Geledés, 2010). cas e políticas, intercalados com os
entre os diferentes tipos de conheci- O saber sábio produzido na saberes populares e nas dimensões
mento. O positivo dessa perspectiva comunidade acadêmica é desper- etnocientíficas, conferindo amplitude
é que ela permite recuperar e valorizar sonalizado a partir da difusão e pro- na formação de professores.
tradições e formas de conhecimento dução social do conhecimento. Para O ensino formal deve iniciar a
que são muitas vezes abandonadas Chevallard (1991), o saber sábio, ao abordagem nas etnociências na
e destruídas pelo poder avassalador se transformar em saber ensinado, produção de conhecimentos. Como
de outras formas de conhecimento é descontextualizado, naturalizado, afirma Francisco (2005), o desafio
oriundas da tradição científica e da despersonalizado e descontempora- dos estudos nesse campo é esta-
técnica ocidental. lizado. O saber científico é referência belecer os seus fundamentos, as
O conhecimento científico se principal para o saber ensinado, suas características e as respectivas
constitui em um processo ����������
estrutura- apesar de afirmar a necessidade implicações para os fins educativos.
do de organização, sistematização e de sua adaptação. A transposição Podem-se observar as relações
testes de conhecimentos, variando dos saberes científicos em saberes dicotômicas das manifestações
de disciplina para disciplina, que escolares, partindo da concepção de populares: se por um lado se reno-
aceita graus diferentes de erros e que o espaço escolar produz sabe- vam, por outro, estão propensas a
tolerâncias. Entretanto, é distinto res, leva em consideração o estudo acabar. Até os dias atuais, podemos 87
dos processos de constituição dos dos aspectos da cultura escolar, elencar o uso de ervas medicinais
conhecimentos populares, mais aber- analisando as práticas, os rituais e os caseiras para solucionar diversos
tos e menos sensíveis a indefinições valores presentes em seu cotidiano. males corporais e os típicos festejos
e contradições. Isso nos remete a O ensino de um determinado elemen- de carnaval e festa junina presentes
Foucault (1988) quando afirma que to do saber só será possível se esse comemorados ano após ano. Ape-
a Ciência segue regras estabeleci- elemento sofrer certas deformações sar das alterações, estes mantêm
das pela comunidade científica e para que esteja apto a ser ensinado. sua simbologia com a finalidade
preestabelecidas de construção de Esse trabalho de transformação de exclusiva de unir a população, esta-
proposições. um objeto de saber em um objeto de belecendo uma identidade.
É possível concatenar o desenvol- ensino é o que Chevallard denomina Francisco Júnior (2008, p. 406)
vimento da Ciência com o continente de transposição didática. A origem aponta que o acesso aos conheci-
africano. A história da África já era dos saberes, segundo ele, pode mentos advindos da África é escasso:
antiga quando a Europa nasceu. acontecer nas práticas sociais, mas
Documentos demonstram que as nem todo saber chega a ser legitima- Será que esses povos não
primeiras universidades da Europa do e alcança o status de saber sábio desenvolveram conhecimen-
foram fundadas mui- (Marandino, 2004). tos? Ou será que seus co-
to depois da Univer- Chassot (2003) nhecimentos foram pratica-
sidade de Sankore, Alice Lopes (1999) afirma afirma a importância mente aniquilados durante a
em Tombuctu, cujos que o senso comum, sendo de uma leitura uni- colonização? Uma vez que a
professores eram a forma de expressão do versal de Ciência. transmissão desses conheci-
todos africanos. A saber popular, constitui-se Dentro das Ciências mentos ocorria, geralmente,
civilização egípcia, na maneira que as camadas Naturais (Química, pela oralidade, o extermínio de
que desenvolveu populares concebem e Física, Biologia), povos e tribos teve consequên-
sua própria escrita interpretam o mundo. existem intersecções cias desastrosas. Algo similar
e várias técnicas de de campos específi- ao que ocorreu e ocorre no
construção (as pirâmides do Egito cos como a bioquímica, entre outras. Brasil com as tribos indígenas.
são exemplos da grande contribui- Se misturadas às ciências humanas, Por isso, a impressão que se
ção dada pelos povos africanos à temos cada vez mais a ciência mar- tem é de que tais povos não
engenharia e a arquitetura), possuíam cada por interconexões. É possível desenvolveram conhecimento
conhecimentos���������������������
médicos e farmacoló- aplicar o conceito de alfabetização algum. É essa leitura crítica
gicos sistematizados e muito desen- científica com o objetivo de modificar que deve perpassar o ensino
volvidos (várias técnicas da medicina concepções errôneas da Ciência de Ciências.

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Os saberes populares estão con- permanece sem efeito em um texto e a flora é condição fundamental para
catenados a práticas culturais de escrito. os participantes dessa manifestação
determinados grupos e, a partir des- Mitos, fórmulas rituais, louvações, cultural. Os ritos e rituais são propi-
ses saberes, um grupo se identifica genealogias, provérbios, receitas ciados por meio de folhas, banhos
e interpreta sua realidade. medicinais, encantamentos, clas- de águas naturais e por partes de
Fazendo uma aproximação entre sificações botânicas e zoológicas, animais consagrados aos orixás.
os saberes populares e a Química tudo é memorizado. Tudo se aprende “Ewe orixá, orixá ewe” – sem folhas,
(como saber científico), podemos por repetição, e a figura do mestre não há orixás, e sem orixás, não há
inferir que o saber científico legitima- acompanha por muito tempo a vida contato com o sagrado, assim como
do pelas instituições acadêmicas é dos aprendizes. Os idosos são os com as águas das cachoeiras, dos
construído em acordo com os demais depositários da cultura viva do povo, rios, dos igarapés, do mar; a fortaleza
saberes, provocando uma transfor- e a convivência com eles é a única das pedreiras; a biodiversidade das
mação na vida dos estudantes e, a maneira de aprender o que eles sa- florestas. Enfim, podemos afirmar
longo prazo, na sociedade dos que bem. Estes são os sábios, e a vida que a religião dos orixás está ligada à
têm acesso a eles. comunitária depende decisivamente preservação da natureza que é parte
de seu saber, de seus mistérios. O fundadora da constituição dos seres
O candomblé como manifestação ancião detém o segredo da tradição. (Botelho, 2010). Esses rituais envol-
cultural negra Sua palavra é sagrada, pois é a única vem adivinhação, banhos de cura e
No Brasil, a escravidão colocou fonte de verdade (Prandi, 2001). incensos, nos quais é necessário o
em contato as religiões de diferentes Sendo uma religião originária de uso de plantas para mediar a comu-
povos africanos, de várias comuni- segmentos marginalizados de nossa nicação com os guias espirituais5.
dades e diversidade cultural, que sociedade, as práticas religiosas pro- Dentro da trajetória da constitui-
acabaram por assimilar e trocar entre venientes do continente africano eram ção da religião afro-brasileira, pode-
si elementos de suas culturas. Uma consideradas feitiçaria. No entanto, se apontar um marco importante que
das vertentes culturais em que foi como afirma Botelho (2010, p. 211), foi a organização do culto na cidade
88 possível o resgate de suas raízes foi e a consequente transição de culto
o candomblé, que possibilitou a união Lembramos que os candom- doméstico para a consolidação de
dos povos africanos, e isso caracteri- blés serviram e servem para a organização político-social-religiosa
za a importância dessa religião como preservação da herança religio- com a construção do primeiro terreiro
manifestação cultural afro-brasileira, sa e cultural africana, sempre de candomblé no Centro Histórico de
resgatando a cultura e a dignidade e atuantes na luta do povo negro, Salvador (Santos, 2008). A instituição
formando a identidade desses povos. resistindo à opressão, à domi- candomblé
Sua manifestação por meio de festas, nação e à exclusão, buscando
danças, comidas e batuques de- um espaço de valorização [...] centenária e fortalecida,
monstram o orgulho da particularida- polariza não apenas a vida
de ter um passado de negra no pa- religiosa, mas também a vida
e de possuir uma O conhecimento científico trimônio cultural social, a hierarquia, a ética, a
história. se constitui em um brasileiro. moral, a tradição verbal e não
O candomblé no processo estruturado verbal, o lúdico e tudo enfim
Brasil possui várias de organização, Além disso, o que esse espaço de resistên-
nações. Seu culto é sistematização e testes candomblé é um cia conseguiu preservar da
também conhecido de conhecimentos, espaço onde estão cultura do homem africano.
como xangô ou tam- variando de disciplina presentes elemen- (Lody, 1987)
bor de mina no Nor- para disciplina, que aceita tos das etnociên-
deste, batuque no graus diferentes de erros cias. Por exemplo: Segundo os estudos de Voeks
Sul ou macumba no e tolerâncias. Entretanto, o sistema divinatório (1997), os negros africanos, apesar
Sudeste, distinguin- é distinto dos processos de Ifá, reconhecido de terem perdido parte de sua cultu-
do-se igualmente as de constituição dos pela Unesco (2006) ra, introduziram no Brasil elementos
diferentes nações de conhecimentos populares, como patrimônio oral relacionados à sua religião e à sua
que se originam nas mais abertos e menos e imaterial da huma- medicina. Entre esses elementos
formas de seus ritos: sensíveis a indefinições e nidade e praticado estão espécies de plantas conside-
ketu, gege, angola contradições. pelas comunidades radas pelos iorubás e pelos seus
etc. iorubas, utiliza um descendentes no Brasil de primordial
Segundo Verger extenso conjunto de importância nos rituais de iniciação
(1995), a transmissão oral do conhe- fórmulas matemáticas que pode ser em cerimônias tradicionais.
cimento é considerada na tradição um recurso didático na etnomatemá- A noz-de-cola, que tem uso sacro
iorubá 4 como veículo do axé – o tica (Florentino e Silva, 2010). na África Ocidental, no Brasil, tem uso
poder, a força das palavras –, que Preservar, cuidar e manter a fauna sagrado no candomblé, na qual é co-

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nhecida como obi (seu nome iorubá). fisiológicos da cafeína no organismo teofilina (3,7-dihidro-1,3-trimetil-1H-
Para a mitologia iorubana preservada humano: o efeito estimulante, o diu- purina-2,6-diona) e a teobromina
no Brasil na cultura religiosa dos rético e a dependência química. A (3,7-dihidro-3,7-trimetil-1H-purina-
terreiros, os orixás retornam à terra cafeína aumenta o metabolismo e, 2,6-diona). A teobromina (encontrada
tomando o corpo dos devotos mortais. temporariamente, a concentração e também no chocolate) e a teofilina
Nos rituais de preparação, entre outras a energia. Seus efeitos no consumo são duas dimetil-xantinas, com dois
coisas, é utilizado o obi (Prandi, 2005, moderado são o relaxamento da grupos metil, em contraste com a
apud Fusconi e Rodrigues Filho, 2009). musculatura lisa dos brônquios, do cafeína, que possui três grupos metil,
Dentre as várias espécies de trato biliar, do trato gastrintestinal e de conforme Figura 1.
plantas utilizadas nesses rituais, fa- partes do sistema vascular. Afeta tam- Fazendo a ponte para a cultura
laremos sobre a noz-de-cola e suas bém a reparação do DNA ao inibir a africana e afro-brasileira e com o pro-
aplicações na Química em aulas do ação de proteínas. A cafeína pode ser pósito de explorar valores em torno da
ensino médio, apontando possibilida- detectada em todo o corpo humano diversidade, poderia ser abordado o
des para o cumprimento da lei federal cinco minutos após fato de como extra-
10.639/03. o consumo e atin- tos de cola foram
ge a concentração É desejável um ensino de incorporados em for-
A bioquímica da noz-de-cola em sala máxima aos 20-30 ciências que contemple mulas farmacêuticas,
de aula minutos. É metaboli- aspectos históricos, em bebidas não al-
De acordo com as orientações zada no fígado e tem dimensões ambientais, coólicas, na química
curriculares para o ensino médio uma meia vida de posturas éticas e políticas, do refrigerante, por
(Brasil, 2006), é possível, de forma cerca de 3-6 horas. intercalados com os exemplo, contextua-
transdisciplinar e por meio da Bio- Quando ingerida em saberes populares e nas lizando a Coca-Cola
química, trabalhar conceitos dentro excesso, pode cau- dimensões etnocientíficas, e fazendo referência
dos temas estruturados do ensino sar vários sintomas conferindo amplitude na à sua composição.
de Química, interfaciados com o que desagradáveis, in- formação de professores. Um breve histó-
apresentamos anteriormente sobre o cluindo irritabilidade, rico da Coca-Cola 89
candomblé e a lei 10.639/03. Como dores de cabeça, insônia, diarreia Company e da origem da noz-de-cola
exemplo, contextualizamos como a e palpitações do coração (Brenelli, e sua utilização no candomblé ligaria
cafeína está presente em nosso coti- 2003). à temática. A Coca-Cola Company é
diano classificada como estimulante O professor apresentaria então a detentora de ¾ do mercado mundial
em diversos produtos, que também molécula de cafeína e identificaria a de refrigerantes do tipo cola, sendo o
está presente na noz-de-cola e que sua estrutura, nomenclatura e clas- Brasil o terceiro maior produtor mun-
possui um significado na cultura afri- sificação. Se fosse possível, poderia dial de refrigerantes (Lima e Afonso,
cana e afro-brasileira. propor uma aula de informática, utili- 2008). Na história da Coca-Cola, o
Na bioquímica que envolve os zando o software ACD/ChemSketch extrato da noz-de-cola esteve presen-
conhecimentos da química orgânica, Freeware® na construção das mo- te por muitos anos com a função de
podem ser abordadas as funções léculas de cafeína e de teobromina, estimulante para o cérebro. Até 1890,
presentes em sua fórmula estrutural, presentes na noz de cola. Vários a Coca-Cola ainda era considerada
sua classificação e aplicação. recursos poderiam ser explorados um remédio (Rosa, 2007).
O professor pode introduzir o (nomenclatura IUPAC, criação bidi- As nozes-de-cola são as se-
tema questionando onde podemos mensional de estruturas, otimização mentes das árvores do gênero Cola
encontrar a cafeína. Esta está pre- em 3D, análise de sua estrutura e sp., nativas das florestas da África
sente em bebidas de uso comum estereoquímica). Ocidental. Na composição química,
como chás, café e refrigerantes. Pa- A cafeína (1,3,7-trimetil-3,7-dihi- elas contêm, juntamente com outros
ralelamente é encontrada em vários dro-1H-purina-2,6-diona) faz parte compostos, grandes quantidades
produtos alimentícios, farmacêuticos da família dos alcaloides, mais pre- de cafeína e menores quantidades
e cosméticos. Como demonstração, cisamente as metil-xantinas. Outras de teobromina, colatina e glicose.
seria relevante levar para a sala de metil-xantinas importantes são a Todos esses são estimulantes: a
aula diferentes amostras: café, chá,
a noz-de-cola ou seu extrato, Coca-
Cola®, energético, chocolate, com-
primido para gripe, creme anticelulite.
Inicia-se uma discussão a respeito
da finalidade/função que a cafeína
desempenha em cada amostra. A
sala poderia ser dividida em grupos.
Em um segundo momento, poder-
se-ia discutir os principais efeitos Figura 1. Fórmula estrutural da cafeína e teobromina (ACD/ChemSketch Freeware).

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cafeína afeta o sistema nervoso as nozes como mastigatório para, ras, que discutem e socializam ideias
central, a teobromina ativa os mús- segundo os informantes, dar força às entre seus pares, têm maior facilidade
culos esqueléticos, a colatina atua palavras (Camargo, 1999). Portanto, em analisar sua prática pedagógica
sobre o coração e a glicose fornece a Coca-Cola é uma bebida que pos- diante das questões raciais e, dessa
energia para o corpo como um todo sibilita um caminho para a discussão forma, interferem positivamente no
(Lovejoy, 1980). Segundo a ANVISA da lei 10.639 no ensino de Química, conteúdo que compartilham e nas
(2009), a noz-de-cola possui princi- pois o extrato de noz-de-cola possui reflexões que suscitam, utilizando
palmente em sua composição cerca uma série de benefícios e significa- o espaço escolar para romper com
de 1,7% de taninos totais e 2,0% de dos representados em rituais como conceitos equivocados e preconce-
cafeína. o candomblé. bidos. No ensino de bioquímica, a
A noz-de-cola foi introduzida nos Em um terceiro momento, o abordagem cultural, social e racial é
países sul-americanos na época do professor pode propor que, a partir também relevante no cumprimento
comércio de escravizados africanos das amostras que contêm cafeína, da lei 10.639/03.
no século XVII. os alunos pesquisem a quanti- Reforçamos a importância do en-
Na Europa, nas Américas e na dade de cafeína (mg) presente gajamento dos pesquisadores nessa
África Ocidental, as em cada tipo, por área para alcançarmos rapidamente
sementes são utiliza- quanto tempo du- práticas escolares efetivas na difu-
das na produção de Acredita-se que ram seus efeitos no são dos conhecimentos inerentes à
diversas drogas far- professores que têm organismo, listar os cultura afro-brasileira e ao ensino de
macêuticas, vinhos acesso a informações, benefícios e malefí- ciências.
e licores (Nienmenak leituras, que discutem e cios fisiológicos. Em
et al., 2008). A bebi- socializam ideias entre uma segunda aula, Agradecimentos
da mais famosa feita seus pares, têm maior se houvesse labo- Os autores agradecem a CAPES
à base de extrato facilidade em analisar sua ratório disponível, pelo uso do Portal de Periódicos
de noz-de-cola é a prática pedagógica diante esse conteúdo seria e pela verba PROAP; e Moreira
90 Coca-Cola. das questões raciais e, finalizado com uma agradece ao CNPq pela bolsa de
A noz-de-cola no dessa forma, interferem prática demonstra- Doutorado, Programa de Doutorado
Brasil pode ser en- positivamente no conteúdo tiva sobre extração Multi-institucional: UFU/UFG/UFMS.
contrada na mata que compartilham e nas da cafeína (Bre-
atlântica, assim reflexões que suscitam, nelli, 2003). Como Notas
como em casas de utilizando o espaço os procedimentos 1 Essa lei foi alterada pela Lei
folhas e feiras-livres escolar para romper com para extração de 11.645 de 10 de março de 2008, pas-
na forma de extratos conceitos equivocados e cafeína da literatura sando a incorporar também a história
e/ou desidratada. É preconcebidos. são direcionados ao e a cultura dos povos indígenas.
conhecida popular- ensino superior, são 2. Parecer CNE/CP nº 03/2004 -
mente entre os pais de santo e mães necessárias adaptações para sua Diretrizes Curriculares Nacionais para
de santo6 como obi ou orobô e é execução no ensino médio. a Educação das Relações Étnico-
utilizada para fins litúrgicos. Enfim, é possível abordar, junta- Raciais e para o Ensino de História
Segundo Almeida (apud Pires mente com a cultura africana e afro- e Cultura Afro-Brasileira e Africana.
et al., 2003), a lógica do sistema brasileira, como espécies de plantas 3. Resolução CNE/CP nº 01/2004 -
etnobotânico do candomblé tem foram incorporadas aos costumes e Diretrizes Curriculares Nacionais para
fundamento num culto que associa hábitos do povo brasileiro e que estão a Educação das Relações Étnico-
à prática religiosa um esforço tera- presentes em nossa cultura. Raciais e para o Ensino de História
pêutico. Os babalorixás e yalorixás e Cultura Afro-Brasileira e Africana
(sacerdotes), portadores de conheci- Considerações finais (CNE – Conselho Nacional de Edu-
mento etnomédico, prescrevem o uso Estamos vivenciando uma nova cação/Brasília; CP – Conselho Pleno/
das folhas, raízes, sementes e cascas realidade na história da educação Brasília).
para fins medicinais, banhos e outros brasileira. A ênfase aos conteúdos 4. Os iorubás constituem o se-
propósitos ritualísticos relacionados a sobre a história da África e dos gundo maior grupo étnico na Nigéria,
orixás específicos. afro-descendentes exige mudan- representando aproximadamente
A noz-de-cola (cola acuminata ças na estrutura e nas concepções 18% da população. Vivem em grande
R. Br.) possui ação psicoativa gra- que permearam e ainda permeiam parte no sudoeste do país. Também
ças à ação dos alcaloides cafeína a formação acadêmica de nossos há comunidades de iorubás signifi-
e teobromina que agem no sistema professores, considerando que a cativas em Benin, Togo, Serra Leoa,
nervoso central, melhorando a fadiga, Academia ainda privilegia a cultura Cuba e Brasil.
aclarando as ideias e aumentando o ocidental europeia em detrimento das 5. Entende-se por guias espirituais
estado de vigília. No jogo de adivinha- demais. Acredita-se que professores os orixás cultuados nas cerimônias de
ção (jogo de búzios), são utilizadas que têm acesso a informações, leitu- candomblé. No total, são 18 e cada

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do Instituto de Química, coordenador do Núcleo de
um deles representa uma força da responsável ou autoridade máxima Estudos Afro-Brasileiros (UFU), é sócio fundador do
natureza. Eles têm sua história, seu de um terreiro ou tenda. IGUNGA, Instituto de Educação e Cultura Gunga.
símbolo, dia da semana, alimento e Roberta Fusconi (rfusconi@gmail.com), presidente
saudação. Patrícia F. S. D. Moreira (patriciafsdm@hotmail.com), do IGUNGA, é pesquisadora associada do Núcleo
graduada em Química, mestre em Química Orgânica de Estudos Afro-Brasileiros (UFU). Daniela F. C. Jaco-
6. Pais de santo e mães de santo –
pela Universidade Federal de Uberlândia (UFU), bucci (danielafcj@inbio.ufu.br), professora doutora
definição para padrinho de umbanda é aluna do curso de doutorado multi-institucional do Instituto de Biologia, coordenadora do Curso de
ou chefe de terreiro – são termos UFU/UFMS/UFG em Química e da pós-graduação Ciências Biológicas, é pesquisadora do Programa
usados em várias das religiões afro- lato sensu em Ensino de Ciências (UFU). Guimes de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de
brasileiras para designar a pessoa Rodrigues Filho (guimes@ufu.br), professor doutor Educação (UFU).

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da-africa-e-afro-brasileiro/>. Acessado Acesso em: abr. 2009. Acesso em: jan. 2011.

Abstract: Biochemistry and Candomblé - didactic possibilities of application of federal law 10639/03. Since the promulgation of federal law 10639/03 that determining the mandatory teaching of
history and culture African and Afro-brazilian in schools, little has been done by the spheres responsible for Basic Education to application of this law at various disciplines, including Chemistry. The
92 lack of specific didactic material and the unfamiliarity with the law by the most teachers are factors that difficult the implementation of it. The absence of relationship between black culture with the
contents provided in basic education are limiting in the elimination of ideologies, inequalities and racism. As possibility to accomplishment of the law and dissemination of scientific knowledge linked
to African and Afro-Brazilian culture we focus in the Biochemistry and at Candomblé, for be one of the Afro-Brazilian religions more widely spread across the country. Among the various species of
plants used in the rituals of Candomblé, highlight the kola nut and its applications in Chemistry in lessons of high school.
Keywords: Candomblé, Federal Law 10639/03, Chemistry

Resenha

Ciência na tela: experimentos no retro- var correntes de convecção; ondas na apenas uma demonstração de efeitos
projetor superfície da água; linhas de indução do maravilhosos, mas que sejam a possi-
campo magnético; força magnética sobre bilidade de se considerar os fenômenos
corrente alternada; e efeitos relacionados como fundamentais nas interações a
Na tela: muitos experimentos!!! E muita à polarização da luz. serem estabelecidas nas salas de aula.
ciência!!! Já se na sua tela a questão a ser abor- Assim, apresentar fenômenos com
A equipe do pontociência já é nossa dada envolver conhecimentos de biologia, efeitos lindos possibilita que os alunos
velha conhecida. Alfredo, Helder e Débo- você vai ter sugestões que lhe permitirão busquem explicá-los, colocando em
ra – juntamente com alunos de diferentes discutir como a luz é essencial para que cena suas ideias e conceitos científicos
cursos de graduação – prepararam para a fotossíntese aconteça; observar a foto- já aprendidos.
nós, leitores, uma seleção especial de fobia das planárias e alguns organismos Além do “passo a passo”, existe sempre
experimentos utilizando o retroprojetor. aquáticos; porque temos que escovar os uma explicação detalhada sobre “o que
Pois é, pensaram que ele já estava sem dentes; e se encantar com a arquitetura acontece” no experimento e sugestões
lugar? Foi uma ideia incrível. E quantos das folhas. para quem desejar “saber mais” e “ver
efeitos surpreendentes. O leitor vai encontrar no início de cada também”.
Se você prefere ter na tela de sua sala experimento um quadro que contém Alfredo, Débora, Helder e a equipe do
de aula efeitos químicos, vai se maravilhar informações sobre: materiais a serem pontociência têm oferecido uma contri-
com as cores do arco-íris e processos de utilizados – onde encontrar e quanto cus- buição importante para a melhoria da
absorção da radiação eletromagnética. ta; tempo envolvido na apresentação de qualidade do ensino de ciências no Brasil.
Vai usar transformações num lindo por cada demonstração; nível de dificuldade; Aproveite! Mãos à obra!
de sol químico; dar bandeira e produzir e aspectos relacionados à segurança.
cristais metálicos. A equipe do pontociên- Em cada experimento sugerido, são
cia mostra uma forma surpreendente de apresentadas orientações sobre o Andréa Horta Machado
utilizar o velho retroprojetor para projetar que deve ser feito “passo a passo”. As
um frasco na posição vertical. orientações são bem claras e incluem
Se a preferência for por trabalhar alguns sugestões de abordagem como, por MATEUS, Alfredo Luis; REIS, Débora
experimentos no campo da física, você vai exemplo:“pergunte a seus alunos o que d’Àvila; Paula, Helder de Figueiredo e.
ter sugestões de utilização da tela para eles esperam que aconteça”. Isso re- Ciência na tela – experimentos no retropro-
discutir ideias envolvidas no lançamento vela uma preocupação dos autores em jetor. Belo Horizonte: Editora da UFMG,
de um projétil; vai poder projetar e obser- sugerir que os experimentos não sejam 2009. 152 p. ISBN 978-85-7041-749-7.

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