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Rio de Janeiro
2014
1
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO
ESCOLA POLITÉCNICA – CURSO DE ENGENHARIA CIVIL
DEPARTAMENTO DE CONSTRUÇÃO CIVIL
Rio de Janeiro
Agosto de 2014
2
ESTUDO DE ASPECTOS E IMPACTOS AMBIENTAIS NAS OBRAS DE CONSTRUÇÃO
DO BAIRRO ILHA PURA - VILA DOS ATLETAS 2016
Examinada por:
__________________________________________
Prof. Jorge dos Santos, D.Sc., Orientador
__________________________________________
Prof. Ana Catarina Evangelista, D.Sc.
__________________________________________
Prof. Isabeth da Silva Mello, M. Sc.
__________________________________________
Prof. Wilson Wanderley da Silva, Arq.
iii
RIO DE JANEIRO – RJ, BRASIL
AGOSTO 2014
iv
DEDICATÓRIA
v
AGRADECIMENTOS
Agradeço aos meus pais, Luis Augusto e Lélia, por todo investimento em minha
educação, pelo suporte emocional doado da mais bela maneira, pelos diversos conselhos
e orientações fornecidos, pela motivação em momentos difíceis e pela alegria
compartilhada em todos os dias de vitória. Ainda, acima de tudo, agradeço todo amor e
entrega durante toda minha vida e dos meus irmãos.
Aos meus irmãos, Thaís e Victor, pelo companheirismo de uma vida inteira, por
acreditarem em mim e me darem forças para manter a engenharia em nossa família.
Agradeço todo amor, carinho, união e cumplicidade que sempre tivemos.
Aos meus cunhados Angelo e Marina, pela amizade e por tantas conversas confortantes
durante todos esses anos e em especial ao Angelo, por, junto à minha irmã Thais, ter me
dado os maiores presentes da minha vida: meus sobrinhos Pedro e Gabriel. Certamente
são o maior motivo da minha alegria!
Às minhas avós, Carmen e Minda, pelas palavras doces e sábias que sempre me fizeram
refletir e me deram forças para obter o título de Engenheira.
À todos os meus familiares, em especial meus Dindos de coração, Célia e Luis Eduardo e
minha prima e melhor amiga Natália, pela preocupação, pelo apoio, por cada palavra de
motivação e confiança durante todo curso de Engenharia.
Aos amigos de graduação, pelas boas risadas, pelo companheirismo, por tantas noites
mal dormidas fazendo trabalhos intermináveis e por diversas histórias inesquecíveis. Em
especial agradeço a amizade de Luísa Gontijo, Fernanda Couto, Anália Torres e Eduarda
Bacellar, que estiveram comigo em grande parte dessa trajetória e que levarei para a vida
toda.
À todos os meus amigos que vivenciaram comigo essa grande etapa em minha vida, me
ajudando a superar desafios e vibrando comigo em minhas conquistas. Muito obrigada.
vi
Resumo da Monografia apresentada à POLI/UFRJ como parte dos requisitos necessários
para a obtenção do grau de Engenheira Civil.
AGOSTO/2014
vii
Abstract of Undergraduate Project presented to POLI/UFRJ as a partial fulfillment of the
requirements for the degree of Engineer.
AUGUST/2014
viii
Sumário
ÍNDICE DE TABELAS............................................................................................xii
1. Introdução ....................................................................................................... 15
1.1. Importância do Tema ................................................................................... 15
1.2. Objetivo ....................................................................................................... 16
1.3. Justificativa .................................................................................................. 17
1.4. Metodologia ................................................................................................. 18
1.5. Estrutura da Monografia .............................................................................. 18
2. Impactos Ambientais....................................................................................... 20
2.1. Contextualização: Aspectos e Impactos Ambientais ................................... 20
2.1.1. Seleção de uma atividade, produto ou serviço......................................... 22
2.1.2. Identificação de Aspectos Ambientais ...................................................... 22
2.1.3. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 23
2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais ...................................................... 24
2.1.5. Classificação de Impactos Ambientais ..................................................... 24
2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais ..................................... 27
2.2. Os Impactos Ambientais na Visão da Legislação ........................................ 27
2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes .................. 29
2.3.1. Aspectos Gerais das Ocorrências ............................................................ 29
2.3.2. Acidentes de Transporte .......................................................................... 32
2.3.2.1. Acidentes de Transporte em Terra ....................................................... 32
2.3.2.2. Acidentes de Transporte no Mar ........................................................... 33
2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo ............................................................ 34
2.3.3. Megacidades - Acidentes Urbanos........................................................... 34
3. Impactos Ambientais na Construção Civil....................................................... 37
3.1. Princípios da Avaliação do Ciclo de Vida (ACV).......................................... 38
3.1.1. Definição de Objetivo e Escopo ............................................................... 39
3.1.2. Análise de Inventário ................................................................................ 40
3.1.3. Avaliação de Impactos ............................................................................. 40
3.1.4. Interpretação de Resultados .................................................................... 40
3.1.5. ACV na Construção Civil .......................................................................... 41
ix
3.2. Construção e o Meio Ambiente ................................................................... 43
3.3. Geração de Impactos ao longo do Ciclo Produtivo...................................... 43
3.3.1. Concepção, Planejamento e Projeto ........................................................ 46
3.3.2. Construção e Implantação ....................................................................... 47
3.3.3. Uso e Ocupação ...................................................................................... 50
3.3.4. Demolição ................................................................................................ 50
3.4. Conceitos e Definições do Guia de Sustentabilidade na Construção .......... 51
3.4.1. Aspectos Ambientais - Macrotemas Sustentáveis ................................... 52
4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental ...................................... 55
4.1. Licenciamento Ambiental ............................................................................ 55
4.1.1. Política Nacional de Resíduos Sólidos ..................................................... 57
4.1.2. Licenciamento Ambiental no Estado do Rio de Janeiro ........................... 57
4.2. Tipos de Licenças Ambientais ..................................................................... 58
4.2.1. Licença Prévia - LP .................................................................................. 59
4.2.2. Licença de Instalação - LI ........................................................................ 59
4.2.3. Licença Prévia e de Instalação - LPI ........................................................ 60
4.2.4. Licença de Operação - LO ....................................................................... 60
4.2.5. Licença de Instalação e Operação - LIO ................................................. 61
4.2.6. Licença de Operação e Recuperação - LOR ........................................... 61
4.2.7. Licença Ambiental Simplificada - LAS ...................................................... 61
4.2.8. Licença Ambiental de Recuperação - LAR............................................... 61
4.2.9. EIA/RIMA ................................................................................................. 61
4.3. A Obtenção das Licenças Ambientais ......................................................... 62
5. Boas Práticas na Construção Civil .................................................................. 66
5.1. Sistemas de Gestão Ambiental ................................................................... 66
5.1.1. NBR ISO 14001/2004 "Sistemas de Gestão Ambiental - Especificação e
Diretrizes para uso" ............................................................................................... 67
5.1.1.1. Política Ambiental ................................................................................. 68
5.1.1.2. Planejamento ........................................................................................ 69
5.1.1.3. Implementação e Operação .................................................................. 69
5.1.1.4. Verificação e Ação Corretiva................................................................. 70
5.1.1.5. Análise Crítica pela Administração ....................................................... 70
5.2. Sistema de Redução de Impactos Ambientais ............................................ 71
5.3. Práticas Recomendadas ............................................................................. 73
5.3.1. Infraestrutura do Canteiro de Obras ......................................................... 73
x
5.3.2. Seleção de Recursos e Materiais ............................................................. 75
5.3.3. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 76
5.3.4. Incômodos e Poluição .............................................................................. 78
5.4. Matriz Aspecto x Impacto ............................................................................ 79
6. Estudo de Caso .............................................................................................. 80
6.1. Aspectos Gerais .......................................................................................... 80
6.2. O Bairro Ilha Pura ........................................................................................ 80
6.3. Aspectos e Impactos Ambientais das Obras de Construção ....................... 83
6.4. Monitoramento dos Impactos ...................................................................... 88
6.4.1. Gestão de Resíduos Sólidos .................................................................... 89
6.4.1.1. Beneficiamento de Resíduos ................................................................ 90
6.4.2. Recursos Hídricos .................................................................................... 91
6.4.2.1. Usina e Recicladora de Concreto ......................................................... 91
6.4.3. Consumo de Energia Elétrica................................................................... 93
6.4.4. Emissão de Gases de Efeito Estufa (GEE) .............................................. 93
6.4.5. Cadeia de Suprimentos ............................................................................ 93
6.4.5.1. Capacitação de Mão de Obra ............................................................... 93
6.4.6. Educação Ambiental ................................................................................ 94
7. Considerações Finais ..................................................................................... 95
xi
ÍNDICE DE TABELAS
xii
ÍNDICE DE FIGURAS
xiii
ÍNDICE DE QUADROS
xiv
1. Introdução
No âmbito da construção civil, desde a antiguidade nota-se que ela sempre existiu
para atender às necessidades básicas do ser humano, inicialmente sem preocupação
com as técnicas adotadas e seus impactos ao meio ambiente, visando apenas proteção e
atingir seus objetivos de forma imediata (CORRÊA, 2009). Atualmente este cenário não é
mais o mesmo; É verdade que a construção civil vivenciou décadas de dificuldades e
baixo crescimento, resultado da conjuntura econômica adversa e da falta de incentivo
para suas atividades, porém atualmente encontra-se em um novo e importante ciclo de
desenvolvimento, contribuindo para o crescimento da economia nacional. O setor de
construção ocupa posição de destaque, sendo responsável por uma parcela bastante
significativa no Produto Interno Bruto (PIB), além de gerar grande contingente de mão de
obra direta (CONSTRUBUSINESS, 2003). Devido a tamanha influência da indústria da
construção civil no desenvolvimento econômico e social do país, os impactos gerados por
ela vem ganhando cada vez mais importância. Ao se tratar da participação do setor no
quesito meio ambiente, no Brasil, a dificuldade de preservá-lo pode ser ainda agravada
pelos grandes desafios que a indústria da construção deve enfrentar em termos de défict
habitacional e infraestrutura para transporte, comunicação, abastecimento de água,
energia, saneamento, atividades comerciais e industriais (DEGANI, 2003).
15
civil é responsável por vários reflexos ao local onde se instala a obra, causados por suas
atividades, direta ou indiretamente.
A partir daí, surge a ideia das construções sustentáveis, que devem ser concebidas e
planejadas a partir de várias premissas, dentre elas a escolha de materiais
ambientalmente corretos, de origem certificadas e com baixa emissão de CO2; a menor
geração de resíduos durante a fase de obra e o cumprimento das normas de desempenho
(CÂMARA DA INDÚSTRIA DA CONSTRUÇÃO. Guia de Sustentabilidade na Construção.
Belo Horizonte: FIEMG, 2008. 60p.).
1.2. Objetivo
16
bem estar em respeito ao meio ambiente, atendimento às necessidades dos usuários
atuais e garantia do atendimento das necessidades dos usuários das próximas gerações.
Para a identificação dos aspectos e avaliação dos impactos ambientais associados
a determinado empreendimento deve-se procurar, inicialmente, selecionar todas as
atividades, produtos e serviços relacionados à atividade produtiva, de modo a separar o
maior número possível de impactos ambientais gerados, reais e potenciais, benéficos e
adversos, decorrentes de cada aspecto identificado, considerando, sempre, se são
significativos ou não (BACCI apud SANTOS e NETO, 2004).
O conhecimento e a divulgação dos aspectos ambientais de um empreendimento
atendem às expectativas de uma melhoria no desempenho ambiental (Aspectos
Ambientais de Pedreira em Área Urbana - Artigo, 2006). Depois de realizar diversos
estudos e, então, conhecendo-se, previamente, os problemas associados à implantação e
operação do empreendimento, por meio de instrumentos de avaliação de impacto e
planejamento ambientais, pode-se obter soluções para reduzir ou mitigar os impactos
ambientais gerados nas obras de construção de determinado empreendimento. O
presente trabalho analisará os aspectos ambientais presentes na implementação da 1ª
fase do Bairro Planejado Ilha Pura, também designada Vila dos Atletas, assim como as
medidas adotadas para redução dos impactos ambientais associados.
1.3. Justificativa
17
1.4. Metodologia
Para a realização desta pesquisa, foi adotada uma metodolgia baseada na coleta
de dados relevantes ao tema do trabalho, incluindo buscas virtuais, para fundamentação
teórica.
Foram realizada visitas e entrevistas, além de coletas de dados, com responsáveis
pelo setor de sustentabilidade do empreendimento Vila dos Atletas. O empreendimento foi
escolhido para realização de um estudo de caso para os assuntos abordados no presente
trabalho. A identificação dos aspectos e impactos apresentados no estudo de caso foi
realizada com base nos dados disponibilizados pelas empresas. Duas renomadas
empresas do ramo da construção civil formam a então denominada Ilha Pura, planejada
em uma área de 870 mil metros quadrados na Barra da Tijuca. A organização
responsável pelas obras de construção do empreendimento incorporou os conceitos e as
práticas alinhadas às diretrizes do desenvolvimento sustentável aos princípios
empresariais, e, portanto, o novo espaço urbano está sendo desenvolvido com o objetivo
de se tornar referência de bairro planejado ancorado nas premissas de sustentabilidade.
As conclusões e observações analisadas no estudo de caso são válidas apenas
para a empresa e o empreendimento em estudo, pois o sistema de gestão ambiental é
único para cada organização e os impactos ambientais dependem do meio em que estão
ocorrendo não perdendo de vista a diversidade e a função social do mesmo.
18
Já o Capítulo 6 é destinado ao Estudo de Caso da obra da Vila dos Atletas, 1ª
Fase do Bairro Planejado Ilha Pura. Caracteriza-se a obra em estudo e descrevem-se as
medidas de controle implementadas para reduzir ou mitigar os impactos ambientais e os
resultados obtidos.
O Capítulo 7 é dedicado às considerações finais e sugestões para trabalhos
futuros.
19
2. Impactos Ambientais
20
Figura 1: Impacto Ambiental (Simonetti, 2010)
21
No contexto deste requisito é importante compreender que a ABNT NBR ISO
14004/96 explicitamente prescreve que o processo de avaliação para determinar a
significância dos aspectos e impactos ambientais deve conter quatro etapas mínimas:
22
Segundo Moura apud Heuser (2007), um aspecto ambiental se caracteriza pela
associação de um agente de poluição com um dado evento ou causa do aspecto
ambiental (Figura 2). Dessa forma, Agente de Poluição + Evento = Aspecto Ambiental.
Figura 2: Exemplo de Agentes de Poluição e Eventos (fonte: Moura apud Heuser, 2007)
Segundo a NBR ISO 14004/96, esta etapa consiste em identificar o maior número
possível de impactos ambientais reais e potenciais, positivos e negativos, associados a
cada aspecto identificado.
Segundo Moura apud Heuser (2007), um impacto ambiental pode ser
caracterizado pela associação de um aspecto ambiental com um dado evento causador
do impacto. Dessa forma, é obtida a designação do impacto ambiental (Figura 3). Aspecto
Ambiental + Evento (de Impacto) = Impacto Ambiental.
23
2.1.4. Identificação de Impactos Ambientais
24
Seus critérios são:
a) Grau 1: atribuído para problemas que se restringem a uma área limitada dentro
da empresa e têm seus efeitos eliminados, sem provocar sequelas, dentro de até 3
meses;
b) Grau 2: relaciona-se a problemas que não se limitam a uma única área dentro
da empresa e que sem provocar sequelas permanentes requerem entre três a seis meses
para terem seus efeitos eliminados;
c) Grau 3: atribuído a problemas que extrapolam os limites da empresa, ou que
causam sequelas permanentes ou, ainda, que requerem mais de seis meses para terem
seus efeitos eliminados. (SEIFFERT apud HEUSER, 2007).
Também define-se com qual frequência o impacto ocorre para cada aspecto
ambiental caracterizado, analisando-se as probabilidades ou as frequências de
ocorrência.
a) Frequência/Probabilidade Baixa: Também conhecida como frequência
remota. Existência de procedimentos, controles e gerenciamentos adequados dos
25
aspectos ambientais. Reduzido número de aspectos ambientais associados ao impacto
em verificação de importância.
b) Frequência/Probabilidade Média: Também conhecida como frequência
provável. Ocorre mais de uma vez por mês. Existência de procedimentos, controles e
gerenciamentos inadequados dos aspectos ambientais. Número médio de aspectos
ambientais associados ao impacto em questão.
c) Frequência/Probabilidade Alta: Ocorre diariamente. Inexistência de
procedimentos, controles e gerenciamento dos aspectos ambientais. Elevado número de
aspectos ambientais associados aos impactos em verificação de importância.
26
2.1.6. Priorização de Aspectos e Impactos Ambientais
Art. 1. [...] considera-se impacto ambiental qualquer alteração das propriedades físicas,
químicas e biológicas do meio ambiente, causadas por qualquer forma de matéria ou
energia resultante das atividades humanas que, direta ou indiretamente afetam:
III - a biota;
27
Artigo 6º - O estudo de impacto ambiental desenvolverá, no mínimo, as seguintes
atividades técnicas:
c) o meio sócio-econômico[...];
III - Definição das medidas mitigadoras dos impactos negativos, entre elas os
equipamentos de controle e sistemas de tratamento de despejos, avaliando a eficiência
de cada uma delas.
28
2.3. Ocorrências de Impactos Ambientais Motivados por Acidentes
Foram grupados sob esse título diversos desastres provocados pelo homem, que
afetaram e ainda afetam grandes áreas e complexos ecossistemas naturais. São
impactos cuja reversão é hoje, em alguns casos, impossível ou que envolva custos
elevadíssimos. Os grandes acidentes ambientais da história tiveram a importância de
despertar a humanidade para a urgência e relevância da questão ambiental. Os primeiro
relatos de acidentes ambientais foram os chamados Acidentes Radioativos. São
denominados acidentes radioativos todas as ocorrências provocadas pelo homem que
resultam em perdas de vida e/ou efeitos adversos sobre a saúde humana e os
ecossistemas, quando decorrentes de radiações ionizantes e de substâncias radioativas.
Os acidentes causados pela radioatividade trazem consigo dois grandes problemas que
carecem ainda de soluções satisfatórias: a destinação definitiva dos rejeitos e a
descontaminação das áreas afetadas.
Na década de 50, o primeiro marco foi o acidente ambiental da cidade de
Minamata no sul do Japão. A indústria química Chisso se instalou às margens da baia de
Minamata em 1939 e por diversos anos despejou catalisadores esgotados nessa área,
liberando efluentes com alto teor de Mercúrio e sem o devido tratamento. Foram
constatadas altas concentrações de mercúrio em peixes e moradores da região, que
morreram devido a então conhecida "Doença de Minamata", cujos reflexos se estenderam
por muitos anos. Segundo Michel Llory (2013), o desastre sanitário de Minamata fez entre
30 e 40 mil mortos, se tornando o mais grave desastre sanitário devido à química e muito
provavelmente o mais grave acidente de toda a indústria.
Desastres similares foram observados em outros locais no Japão, como Mitsui,
Niigata e Yokkaichi. Neste momento a humanidade desperta para a questão ambiental, se
formam os primeiro movimentos ambientalistas, e na década de 70 ocorrem as primeiras
iniciativas governamentais para proteção ambiental. Mais de 450 campanhas anti-
poluição foram lançadas no Japão até 1971. Vazamentos não previstos de materiais
radioativos, erros de operação, falta de treinamento adequado e de experiência prévia por
parte das equipes envolvidas nesses acidentes são apenas algumas causas identificadas
para ocorrências desses primeiros desastres (CYRO EYER DO VALLE, 2009).
29
Em 26 de abril de 1986, na atual República da Ucrânia, um dos quatro reatores da
usina nuclear de Chernobyl explode devido a uma falha no resfriamento, causando
intensa contaminação radioativa em toda região, com efeitos em diversos países vizinhos.
O acidente de Chernobyl ocorreu por falta de comunicação e de coordenação entre
operadores e não por falha nos sistemas de comando. Desconsiderando diversos
procedimentos de segurança obrigatórios, os operadores resolveram testar por quanto
tempo o reator poderir operar sem produzir potência. O reator não respondeu ao teste e
fugiu inteiramente ao controle dos operadores (CYRO EYER DO VALLE, 2009).
Ocultado, inicialmente, pelas autoridades do país, o acidente só foi detectado a
quilômetros de distância, na Suécia. As autoridades soviéticas informaram a ocorrência
oficial de 31 mortes devido ao acidente e a necessidade de evacuação de mais de 100 mil
habitantes das regiões vizinhas, apesar da evacuação, centenas de pessoas foram
contaminadas o que ocasionou muitas outras mortes. O número de casos de câncer na
tiróide em crianças desta região aumenta desde então. Ainda hoje, os níveis de radiação
em Chernobyl são 10 vezes maiores que o suportado pelo organismo humano.
No Brasil, um dos acidentes mais catastróficos foi o do acidente com o Césio-137,
em Goiânia, causado pela atividade humana, ou ao contrário, pela sua não-atividade ou
negligência . No dia 13 de Setembro de 1987, duas pessoas retiraram uma fonte de
Césio-137 do prédio abandonado do Instituto Goiano de Radioterapia, na região central
de Goiânia e, com o auxílio de várias ferramentas, conseguiram romper o invólucro de
chumbo, expondo o material radioativo ao meio ambiente. A fonte era de cloreto de césio,
um sal muito parecido com o potássio, podendo ser concentrado em animais e plantas
(GRASSI E FERRARI, 2009).
Pesquisadores alertavam para o fato de que a exposição a doses de radiação
promoveria alterações genéticas a médio e longo prazo, muitas delas transmissíveis às
gerações seguintes (BITTENCOURT, 2007). A segunda geração de crianças e
adolescentes hoje busca espaço e inserção social e tenta – apesar do eterno medo de
doenças causadas pela radiação, da perda de familiares dizimados pela contaminação,
da discriminação e da marginalização a que foram legados pelo Estado (no claro
descumprimento do compromisso firmado de assistência) – estabilizar suas vidas,
trabalhar, se sustentar e constituir família.
Também no Brasil, a partir de 1997, uma série de acidentes industriais ampliados
foi observada no curso das atividades da Petrobrás, grande empresa estatal brasileira do
setor de petróleo. De vazamentos de óleo a explosões em plataformas marítimas, esses
30
episódios foram vistos, ao mesmo tempo, como acidentes de trabalho e catástrofes
ambientais.
No início da década de 50 foi elaborado o projeto original da refinaria do sistema
Petrobrás, a REDUC (Refinaria Duque de Caxias), inaugurada então em setembro de
1961. Nessa época, as técnicas de análise de confiabilidade e de risco não se
encontravam desenvolvidas para aplicação em projetos desse tipo. Toda a concepção
básica do projeto da refinaria foi desenvolvida, portanto, sem os estudos básicos
necessários ao planejamento do controle/mitigação de acidentes.
Em 1987 foi assinado um termo de compromisso entre a Petrobrás e o Governo do
Estado com 27 itens de controle ambiental. A assinatura do termo exprime bem a
consciência que a própria empresa desenvolveu sobre o risco de suas atividades: dentre
os 27 itens a serem submetidos ao controle ambiental foram listados: “redução dos gases
nas tochas”, “redução de óxidos de enxofre”, “tratamento biológico de efluentes”, “redução
da carga de óleo”, dentre muitos outros, estimados em mais de 85 milhões de dólares,
mas o órgão de controle ambiental não fiscalizou de forma efetiva se esses investimentos
contribuíram para reverter o quadro de risco assumido pela empresa. Não houve um
balanço periódico entre empresa, sociedade e órgão de controle ambiental, do que foi
efetivamente realizado, do que foi sendo gasto ou dos impactos e melhorias resultantes
para o meio ambiente. Em 1992 foi realizado ainda um convênio com a COPPE/UFRJ
para auxílio técnico de análises e prevenção de riscos e ainda para atuação em casos de
acidentes.
Apesar de demonstrar tamanha preocupação e interesse com os riscos de suas
atividades, poucos anos depois, em janeiro de 2000 ocorreu o grande derramamento de
1,3 milhões de litros de óleo combustível na Baía de Guanabara. Um vazamento de óleo
no duto PE-II, um dos nove dutos que interligam a REDUC ao terminal da Ilha d’Água foi
causado devido ao rompimento do duto.Segundo a Petrobrás, o duto havia sido
inspecionado em 1998, em razão de um acidente nele ocorrido em 1997. Manguezais
foram atingidos, e a atividade pesqueira na Baía de Guanabara teve de ser interrompida.
Ainda que a empresa não estivesse em dia com suas obrigações para com a regulação
ambiental, não se cogitou fechá-la, já que REDUC representa alta fonte de recursos para
o Estado. A solução encontrada foi a assinatura de um acordo de adequação de
comportamento, em que a REDUC se comprometeu a adequar-se às leis ambientais
vigentes (ACSELRAD e MELLO, 2002).
A conscientização da sociedade para as questões ambientais tem sido
despertadas pela ocorrência de grandes desastres ecológicos que deixaram marcas,
31
muitas ainda visíveis e até permanentes em ecossistemas em todo o mundo. A cada
desastre noticiado, tem correspondido lições e processos de aprendizado, que, quando
absorvidos, podem evitar sua repetição no futuro. A importância do treinamento de
operadores de uma instalação, a identificação mais rigorosa dos aspectos ambientais da
organização e criação de algumas ferramentas como as análises de risco, estudo de
impactos ambientais e planos de emergência são os maiores aprendizados obtidos
dessas ocorrências catastróficas (CYRO EYER DO VALLE, 2009).
32
Acidentes ferroviários também podem causar desastres ambientais, principalmente
devido às cargas transportadas, que muitas vezes incluem produtos químicos e materiais
inflamáveis contaminando a área em que o acidente ocorreu.
Um acidente em terra, seja de origem ferroviária ou rodoviária requer rapidez na
comunicação da ocorrência, para que as medidas de mitigação de seus efeitos sejam
tomadas no mais curto prazo de tempo, possibilitando, assim, que a extensão do desastre
e os impactos associados sejam controlados da melhor maneira possível.
33
2.3.2.3. Acidentes de Transporte Aéreo
Os acidentes aéreos, apesar dos danos irreparáveis causados pela perda de vidas
humanas, normalmente não são avaliados pelo seu impacto ambiental, mas os efeitos
provocados pela queda de uma aeronave em área ocupada pode ser bastante relevante
no quesito meio ambiente. Além dos destroços do próprio avião, muitas vezes o
transporte de bagagem pessoal ou de pequenas encomendas podem dar origem a
incidentes que conduzem a acidentes com graves impactos no meio ambiente. O desastre
é ainda maior quando o acidente ocorre em aviões de carga, por nesses casos o
transporte de materiais explosivos e produtos químicos são permitidos, o que ocasionaria
danos muito maiores ao ambiente (CYRO EYER DO VALLE, 2009).
34
Por outro lado, à jusante da cadeia de produção, mal se consegue reduzir a
pressão exercida por volumes crescentes de resíduos e os locais utilizados para sua
disposição. Constituindo-se, portanto, de um grande foco de degradação ambiental, as
megacidades contribuem para modificação do clima em suas microrregiões e provocam
alterações profundas em suas zonas de influências. Grandes áreas urbanizadas,
especialmente cidades de grande porte, com cenário de crescimento descontrolado e
serviços públicos saturados e deficitários levam a predisposição à ocorrências de
acidentes que podem atingir proporções de difícil controle, resultando em grandes
impactos ambientais.
Alguns Impactos Ambientais causados por estas cidades em crescimento
costumam fugir do controle de seus administradores e transformam-se em problemas de
difícil reversão, como por exemplo:
35
impedem a absorção das águas pluviais diretamente pelo solo, aumentando assim o
volume a ser escoado pela superfície. Outros fatores que contribuem para o acúmulo da
água nos solos são as alterações nos cursos d'água e obstrução das redes de águas
pluviais pelo lixo mal disposto. Como consequência desses fatos temos as conhecidas
enchentes, que propagam doenças, o desabamentos de imóveis e diversas perdas de
patrimônios.
Os acidentes urbanos, devido à extensão dos impactos que podem causar,
requerem uma análise cuidadosa de suas causas para que sejam desenvolvidas soluções
que incorporem a prontidão da população e o treinamento de todas as entidades
participantes. A articulação de todos os organismos e setores da sociedade responsáveis
pela conscientização da população para os riscos de acidentes, incluindo-se a mídia,
escolas, centros comunitários, corpo de bombeiros, polícia civil e todos capazes de fazer
frente a uma ocorrência acidental, é de extrema importância para prevenção de acidentes
urbanos. A educação ambiental da população é outra solução preventiva para os
acidentes, já que esta seria capaz de identificar e notificar situações de risco, incluindo-se
conhecimentos sobre materiais perigosos e práticas inadequadas, como fumar em áreas
perigosas, entre outros.
36
3. Impactos Ambientais na Construção Civil
37
análise devem considerar todas as etapas do ciclo de vida do empreendimento, desde a
extração de matérias-primas, transporte, fabricação, até o uso e descarte de resíduos,
conforme ilustrado na Figura 5. Esse procedimento permite uma avaliação científica da
situação , além de facilitar a localização de eventuais mudanças associadas às diferentes
etapas do ciclo que resultem em melhorias no seu perfil ambiental. (SOARES et al.
Construção e Meio Ambiente).
Figura 5: Esquema de Fases do Ciclo de Vida dos principais produtos da Construção Civil (fonte:
Soares, 2002)
Todo produto, de alguma forma, causa no meio ambiente um impacto que pode
ocorrer tanto durante a extração das matérias-primas utilizadas no processo de fabricação
quanto no próprio processo produtivo; ou na sua distribuição; ou, ainda, no seu uso; ou,
também, na sua disposição final (CAMPOS, 2012).
A ACV surgiu da necessidade de se estabelecer uma metodologia que facilitasse a
análise e os impactos ambientais entre as atividades de uma empresa, incluindo seus
produtos e processos. A partir dessa metodologia pode-se verificar que a prevenção à
poluição se torna mais racional, econômica e efetiva do que uma ação na direção dos
efeitos gerados. Um dos objetivos da ACV é estabelecer uma sistemática confiável e que
38
possa ser reproduzida a fim de possibilitar a decisão entre várias atividades, aquela que
terá menor impacto ambiental (HINZ et al., 2006).
A ACV consiste na análise e na comparação dos impactos ambientais causados
por diferentes sistemas que apresentam funções similares. Sob a ótica ambiental, ela
estabelece inventários completos do fluxo de matérias e energia para cada sistema e
permite a comparação desses balanços entre si, sob a forma de impactos ambientais
(Figura 6) (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).
Figura 6: Representação Esquemática da ACV (fonte: SOARES et al. Contrução e Meio Ambiente)
A metodologia para avaliação do ciclo de vida sugerida pela norma ISO 14004
inclui quatro fases: definição de objetivo e escopo, análise de inventário, avaliação de
impactos e interpretação de resultados.
39
A dependência dos resultados com as hipóteses de partida faz com que esta fase
adquira uma notável importância (CARDIM et al., 1997).
40
sensibilidade estuda a influência das variações dos dados de entrada, que podem
promover alterações no resultado (SOARES et al. Construção e Meio Ambiente).
Nesta etapa, que como a anterior está pouco normalizada, analisam-se os
resultados, conclusões são estabelecidas, e determinam-se, como aspecto fundamental,
as possíveis melhoras no sistema considerado. Isto tem especial relevância no caso de
analisar atividades, processos ou materiais específicos para otimiza-los. Ainda que no
caso seja o objetivo uma comparação entre alternativas (CARDIM et al., 1997).
As quatro fases da ACV são resumidas e caracterizadas na Figura 7.
Ortiz et al (2009) afirmam que a ACV vem sendo utilizada na construção civil
desde 1990, tornando-se, desde então, um importante instrumento para a avaliação de
edifícios, e várias ferramentas de ACV foram desenvolvidas a partir daquela época. Na
indústria da construção existem duas aplicações para a ACV − uma focada nos materiais
de construção e suas combinações e outra focada em todo o processo da construção.
Na edificação, a ACV é um processo de quantificação de análise de uma unidade
funcional. A aplicação da ACV para a edificação tem, portanto, como objetivos, avaliar
aspectos culturais de consumo tanto na fase de construção quanto na fase de utilização;
41
promover alternativas de melhor desempenho e desenvolver tecnologias para utilização
de energias renováveis, ao passo que a ACV para materiais tem sido aplicada para
analisar, comparar e promover produtos e contribuir positivamente para melhorar as
decisões ambientais sobre um determinado produto (CAMPOS, 2012).
Devido a sua ampla possibilidade de aplicação, a elaboração de um estudo de
ACV permite aos pesquisadores:
1. Desenvolver uma sistemática avaliação das consequências ambientais
associadas com um dado produto;
2. Analisar os balanços (ganhos/perdas) ambientais associados com um ou
mais produtos/processos específicos de modo a que os visados (estado,
comunidade, etc.) aceitem uma ação planejada;
3. Quantificar as descargas ambientais para o ar, água, e solo relativamente a
cada estágio do ciclo de vida e/ou processos que mais contribuem;
4. Assistir na identificação de significantes trocas de impactos ambientais
entre estágios de ciclo de vida e o meio ambiental;
5. Avaliar os efeitos humanos e ecológicos do consumo de materiais e
descargas ambientais para a comunidade local, região e o mundo;
6. Comparar os impactos ecológicos e na saúde humana entre dois ou mais
produtos/processos rivais ou identificar os impactes de um produto ou
processo específico;
7. Identificar impactos em uma ou mais áreas ambientais específicas de
interesse (DA LUZ, 2010).
42
3.2. Construção e o Meio Ambiente
43
gestão da qualidade para melhorar seus processos e obter melhores resultados com os
clientes, devem usar a mesma lógica para melhorar sua relação com o meio ambiente
(NASCIMENTO, 2012).
Todos os aspectos apresentados se manifestam em todas as fases do ciclo de
vida das edificações. Ciclo de vida é o conceito que trata de todas as etapas ligadas a um
produto, desde a extração de suas matérias-primas até sua disposição final. Segundo o
Guia da Sustentabilidade na Construção (2008), o ciclo de vida de edificações é
geralmente dividido em 5 fases principais:
1. Concepção
2. Planejamento/Projeto
3. Construção/Implantação
4. Uso/Ocupação
5. Requalificação/Desconstrução/Demolição
44
Construção sustentável significa que os princípios do desenvolvimento sustentável
são aplicados ao ciclo de vida dos empreendimentos que fazem parte do ambiente
construído, desde a extração e beneficiamento da matéria prima, passando pelo
planejamento, projeto e construção das edificações e obras de infra-estrutura, até a sua
demolição e gerenciamento dos entulhos, em intensidades que variam segundo suas
especificidades (NASCIMENTO, 2012).
A construção de edificações, especialmente a vertical, é um setor da indústria da
construção civil que gera uma série de aspectos ambientais como: desperdício de
materiais; lançamento não monitorado; descarte de recurso renovável; impermeabilização
do solo; uso da via pública; supressão da vegetação; rebaixamento do lençol freático;
remoção de edificações; impermeabilização do solo; lançamento de fragmentos; emissão
de material particulado; consumo e desperdício de água; consumo e desperdício de
energia elétrica em todas as fases e etapas do ciclo de vida do empreendimento.
Segundo Nascimento, 2012, as fases e etapas de um empreendimento podem ser
descritas no Quadro 4.
FASES ETAPAS
Identificação da demanda
CONCEPÇÃO Seleção de áreas
Projeto
Terraplanagem
Edificação e demais obras
CONSTRUÇÃO
Bota – fora
Paisagismo
Uso (Manutenção)
OCUPAÇÃO
Ampliação
Quadro 4: Fases e Etapas do Empreendimento (fonte:Do Nascimento, Edna Almeida)
45
Figura 8: Diferentes Fases de um Empreendimento e a Ocorrência de Perda de Materiais (fonte:
SOUZA et al., 1998)
47
transporte dos materiais, a decomposição do calcário e outros carbonetos durante a
calcinação (materiais cerâmicos, cimento, aço, vidro, alumínio e outros), e a extração de
madeira nativa (AGOPYAN apud CAMPOS, 2012).
Além disso, as obras causam outros impactos ambientais significativos, como
exposição a riscos e incômodos sonoros e visuais tanto para os que nela trabalham e
também para a vizinhança, que está constantemente exposta aos ruídos da obra, além
da poluição do solo, da água e do ar, impactos aos ecossistemas no local da obra,
acarretamento de erosões, assoreamentos, dentre muitos outros. Movimentação de terra
e escavações são atividades que devem ser minimizadas o máximo possível para reduzir
o incômodo da população no entorno e também os impactos no meio ambiente.
Quanto à perda de materiais no canteiro de obra, no caso da execução, são várias
as fontes de perdas possíveis: no transporte inadequado, no recebimento e no processo
de estocagem, por exemplo, blocos estocados inadequadamente estão sujeitos a serem
quebrados mais facilmente, gerando desperdício de materiais. Além disso, pode haver
perda por excesso de materiais, muitas vezes devido ao sobreconsumo em dosagem e
misturas geradas no próprio canteiro de obras (SOUZA et al., 1998).
Pode-se notar que o volume de matéria-prima consumida na produção de edifícios
no Brasil é elevado e crescente, devido às grandes dimensões dos produtos resultantes
das atividades construtivas e à tendência, no Brasil, de atendimento à demanda por
moradias e novos empreendimentos. Geralmente, a matéria-prima utilizada em obras
brasileiras é obtida da extração de recursos naturais, como por exemplo a areia, o
cimento Portland, a pedra britada, a madeira e o aço. Dois dos principais aspectos
notados nesta fase são a energia gasta e as matérias-primas consumidas nas várias
etapas de construção de uma edificação. Água, aço, madeira, cimento, cal, tijolos, tintas,
tubulações prediais e esquadrias e alguns insumos tais como produtos de limpeza, a água
para a cura do concreto, escoras, pregos e madeiras para as formas são fortes exemplos
de matérias-primas gastas durante toda a fase de construção. Pode-se considerar
também as emissões de gases poluentes causados pelo transporte desses materiais, na
maioria das vezes realizados por caminhões entre a obra e o local do fornecimento.
A questão do consumo de matéria-prima em excesso também deve ser abordada.
De acordo com Paliari apud Degani (2003), sempre que é consumida uma quantidade
maior de material do que a estritamente necessária gera-se uma perda, e esta pode
refletir-se na forma de gastos extras para a aquisição dos materiais adicionais, no
consumo adicional de mão de obra para movimentar e aplicar tais materiais e,
principalmente, na maior utilização dos recursos naturais de nosso planeta.
48
É importante ainda ressaltar o elevado consumo de energia gasto no processo de
alguns materiais para as obras civis, prioriza-se, então, que caso seja necessário
empregar materiais cuja produção exija elevado consumo de energia ou obtidos a partir
da matéria-prima escassa, estes deverão ser, pelo menos, recicláveis, fáceis de
desmontar e cujo processo de aplicação e uso facilitem sua reciclagem, por exemplo
evitando contaminações.
49
3.3.3. Uso e Ocupação
Como os edifícios são produtos com longa vida útil, a fase de uso por parte dos
proprietários, é responsável por parcela significativa de impacto ambiental. Por se tratar
efetivamente da fase de operação do empreendimento, há grande consumo de energia,
de água e grande geração de resíduos, especialmente esgoto e lixo doméstico.
A vegetação protege o solo da erosão, tanto pela interceptação da chuva pelas
copas das árvores, como pelas raízes que favorecem a infiltração da água da chuva. O
solo é protegido do impacto direto da chuva e da insolação, reduzindo assim o
escoamento superficial e a incidência de erosões. Os empreendimentos da construção
civil, por se tratarem de bens de grandes dimensões físicas, ao fazerem uso do solo
diminuem as áreas verdes e permeáveis, devido às altas taxas de ocupação do terreno.
Assim, o carreamento do solo e consequente poluição dos rios e as enchentes se
multiplicam, principalmente em grandes cidades. Além disso, serviços de terraplanagem
realizados muitas vezes alteram o perfil natural do terreno, desviando o escoamento
natural das águas superficiais e reduzindo a vegetação nativa.
Ainda na fase de utilização do empreendimento, ao se tratar da manutenção, há
necessidade de reposição de componentes que atingiram o fim da sua vida útil e de
manutenção de equipamentos e sistemas. Algumas vezes há ainda a necessidade de
correção de falhas de execução ou de patologias, consumindo novamente recursos
naturais e manufaturados, água, energia e mão de obra. Por exemplo, perde-se material
ao fazer a repintura de uma fachada precocemente, pois estar-se-á consumindo mais tinta
que o esperado inicialmente (SOUZA et al., 1998).
Portanto, a fase de uso e ocupação do solo, responsável por grande parte da
energia utilizada em todo o ciclo de vida de um empreendimento da construção civil deve
ser tratada com cautela para que estes gastos sejam minimizados de forma consciente.
3.3.4. Demolição
Figura 9: Características das Fases de um Empreendimento Comercial Tradicional (fonte: Ceotto, 2006
apud Guia da Sustentabilidade na Construção, 2008)
51
A busca por sustentabilidade em um empreendimento começa antes mesmo de
sua concepção. A sustentabilidade não depende apenas dos conceitos, processos e
ferramentas adotadas em seu planejamento e construção, mas também da relação destes
com o ambiente em seu entorno. A redução de custos e de impactos socioambientais
pensada nas fases de concepção e projeto com foco apenas na fase de construção é
insuficiente para que o setor da construção e as edificações se tornem mais sustentáveis.
É preciso que o planejamento do empreendimento e de seus projetos contemple todos os
possíveis impactos incorridos durante todo o ciclo de vida das edificações e busque
formas de minimizá-los nas suas primeiras fases, que, como observado na figura 9,
geram melhorias significativas com baixo custo, trazendo maior retorno socioambiental.
Logo, a primeira ação a ser executada por um incorporador é a previsão e
classificação dos impacto ambientais e socioeconômicos que podem ser gerados pelo
empreendimento. Dessa forma, é possível definir ações prioritárias alinhadas com os
recursos disponíveis para a implantação. Consequentemente, o planejamento incluirá a
sustentabilidade como um de seus aspectos e buscará minimizar ou eliminar estes
impactos do empreendimento (Guia de Sustenbilidade na Construção, 2008).
52
1. Sustentabilidade do habitat (sítio) e qualidade de implantação;
A observação do entorno, seus condicionantes físicos ambientais e as
considerações críticas sobre os marcos legais adotados, por parte do empreendedor,
constituem ações a serem pesadas como parte de uma atitude sustentável para a cidade.
53
foco na satisfação dos clientes, assim como nas necessidades de todas as partes
interessadas no que diz respeito ao atendimento de suas expectativas.
Tabela 1: Ferramenta para análise e priorização de ações práticas (fonte: Guia da Sustentabilidade na
Construção, 2008).
54
4. Aprovações de Construções - Legislação Ambiental
55
1. rodovias, ferrovias, hidrovias , metropolitanos;
2. barragens e diques;
3. canais para drenagem;
4. retificação de curso de água;
5. abertura de barras, embocaduras e canais;
6. transposição de bacias hidrográficas;
7. outras obras de arte.
56
Desde 1981, de acordo com a Lei Federal 6.938/81, o licenciamento ambiental
passou a ser obrigatório em todo território nacional, e as empresas que funcionam sem a
licença estão sujeitas a sanções previstas em Lei.
57
procedimentos à realidade local e à conjuntura do desenvolvimento industrial e
empresarial de sua região
O Estado do Rio de Janeiro manteve inalterado por mais de 30 anos seu sistema
de licenciamento ambiental, bem como os procedimentos do órgão ambiental para a
avaliação das solicitações e emissão de licença. A instalação do Instituto Estadual do
ambiente (Inea), em janeiro de 2009, foi uma evidência das mudanças na estrutura
ambiental do Estado, que antes tinha como órgão licenciador apenas a FEEMA -
Fundação Estadual de Engenharia do Meio Ambiente.
No Estado do Rio de Janeiro atuam três órgãos ambientais com diferentes
responsabilidades nos níveis Federal, Estadual e Municipal. Na esfera Federal, o IBAMA -
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - é o
responsável pelo licenciamento de atividades desenvolvidas em mais de um estado, cujos
impactos ambientais ultrapassam os limites territoriais.
Segundo a Lei Federal 6.938/81, atribui-se aos Estados a competência de licenciar
as atividades localizadas em seus limites regionais. Dessa forma, para uma atividade
localizada em sua totalidade no Estado do Rio de Janeiro, o órgão responsável pelo
licenciamento é o INEA - Instituto Estadual do Ambiente.
No entando, a Resolução CONAMA 237/1997 sugere que, em casos de atividades
com impactos ambientais locais, os órgaos estaduais deleguem esta competência aos
órgaos municipais responsáveis. No caso do Rio de Janeiro, à Secretaria Municipal do
Meio Ambiente.
É importante ressaltar que todo licenciamento deve ser solicitado em uma única
esfera de ação.
58
Trata-se de A atividade está
A Atividade está recuperação ou em operação
A Atividade está Não A Atividade está A Atividade está A Atividade está
Não Não Não em fase de início Não Não regular e necessita
definida na definida na em fase de em fase de início melhoria ambiental
de operação ou de área pública ou de de licença para
Classe 1? Classe 2? Planejamento? de implantação?
em operação? passivo ambiental de realizar ampliação
empreendimentos / ou ajuste de
Sim Sim Sim atividades fechadas atividade?
ou desativadas? Sim
Não há Necessita de EIA ou O Impacto da
Sim Possui passivo O Impacto da
necessidade de RAS? operação é
ambiental? Operação é
Licenciamento insignificante? Sim
insignificante?
Não Sim
Não Sim Não Sim Não Sim
Averbação
da Licença
de
Operação
(LO)
Figura 10: Tipo de Licença a ser requerida (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)
59
especificações constantes dos planos, programas e projetos aprovados, incluindo as
medidas de controle ambientais e demais condicionantes.
A execução do projeto deve ser feita conforme o modelo apresentado
previamente. Qualquer alteração na planta ou nos sistemas instalados deve ser
formalmente enviada ao órgão licenciador para avaliação.
A LI pode autorizar a pré-operação, por prazo especificado na licença, visando a
obtenção de dados e elementos de desempenho necessários para subsidiar a concessão
da Licença de Operação (MACHADO, 2010).
60
4.2.5. Licença de Instalação e Operação - LIO
4.2.9. EIA/RIMA
61
poderá ser solicitado estudo ambiental diverso, em conformidade com a tipologia,
localidade e características do empreendimento ou atividade a ser licenciada.
O EIA consiste em um estudo realizado no local de implantação do
empreendimento ou empresa, mais precisamente no solo, água e ar para verificar se a
área contem algum passivo ambiental além de prever como o meio socio-econômico-
ambiental será afetado pela implantação do empreendimento. O escopo do estudo
compreende, em linhas gerais, as atividades técnicas de diagnóstico ambiental, análise
de impactos ambientais, definição de medidas mitigadoras de impactos ambientais,
elaboração de programa de acompanhamento e monitoramento ambiental de projetos e
atividades impactantes ao meio.
Já o RIMA é um relatório conclusivo que traduz os termos técnicos para
esclarecimento, analisando o Impacto Ambiental. Este relatório é responsável pelos
levantamentos e conclusões, devendo o órgão público licenciador analisar o relatório
observando as condições de empreendimento (http://lfg.jusbrasil.com.br/).
Como dito anteriormente, o EIA/RIMA pode ser exigido como estudo
complementar na etapa de requerimento da Licença Prévia. (Manual do Licenciamento
Ambiental).
62
Tabela 2: Classe do Empreendimento dentro do SLAM (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)
63
Preenchido o cadastro e anexados todos os documentos exigidos, inicia-se o
processo de licenciamento ambiental da empresa. A abertura do processo deve ser
publicada em jornal de circulação e no Diário Oficial do Rio de Janeiro pela empresa.
64
Quadro 7: Exigências Ambientais - FEEMA (fonte: Manual do Licenciamento Ambiental)
65
5. Boas Práticas na Construção Civil
66
ações preventivas e corretivas identificadas nas inspeções e auditorias ambientais e se
elaboram ações que assegurem a qualidade ambiental da empresa.
A gestão ambiental nas empresas era tradicionalmente vista como um freio ao
crescimento. A ideia que prevalecia era que qualquer providência com relação a variável
ambiental traria um aumento das despesas. Hoje a gestão ambiental não é mais vista
apenas como um aspecto legal a ser cumprido e que traz custos para a empresa, mas
sim como uma oportunidade para abrir mercados e prevenir restrições futuras ao mercado
internacional. Algumas empresas demonstram que é possível transformar as restrições e
ameaças em oportunidades de negócios e ainda protegendo o meio ambiente (HEUSER,
2007).
De acordo com a ISO 14004/1996, um sistema de gestão ambiental (SGA) é parte
de um sistema global de gestão que provê ordenamento e consistência para que as
organizações abordem suas preocupações ambientais, através da alocação de recursos,
definição de responsabilidades e avaliação contínua de práticas, procedimentos e
processos, voltados para desenvolver, implementar, atingir, analisar criticamente e manter
a política ambiental estabelecida pela empresa. É de grande importância para a empresa
que a gestão seja abrangente e inclua desde os problemas sociais e econômicos da
organização, passando pelos problemas de seus colaboradores. O SGA é uma estrutura
organizacional, a qual recomenda-se o monitoramento periódico, a fim de que as
atividades ambientais possam ser dirigidas com eficácia e respondam às mudanças de
fatores interno e externos da organização.
67
municipais, bem como requisitos adicionais da própria organização, permanecendo em
conformidade com a norma (HARRINGTON e KNIGHT apud HEUSER, 2007).
Um passo importante na implementação do SGA é a avaliação ambiental inicial,
isto é, o relacionamento inicial da empresa com o meio ambiente. A norma ISO
14001/2004 recomenda que esta avaliação cubra quatro áreas fundamentais:
De acordo com a NBR ISO 14001/2004, a avaliação inicial tem por objetivo
identificar aspectos ambientais significativos associados às atividades, produtos ou
serviços. Entretanto, não é especificada pela norma a exigência de uma avaliação
detalhada do ciclo de vida de processos, produtos ou serviços.
Após realizada a etapa de avaliação inicial, os demais requisitos propostos e
especificados pela norma são implementados, ressaltando-se que é possível desenvolver
mais de uma etapa concomitantemente.
68
5.1.1.2. Planejamento
A seguinte etapa tratada na ISO 14001 trata do planejamento do SGA, que tem
como objetivo possibilitar uma visão holística do sistema, antever dificuldades e aproveitar
potencialidades. A visão do todo possibilita minimizar os custos e a tensão
organizacionais, obtendo um maior aproveitamento e eficácia do processo (SCHERER
apud CAGNIN, 2000).
A NBR ISO 14004/96, determina que, de acordo com as atividades desenvolvidas
pela organização, e através do estabelecimento e manutenção de procedimentos e
programas de gestão ambiental, sejam abordados os seguintes aspectos:
69
empresa deve identificar a necessidade de treinamentos, conscientizar e capacitar seus
colaboradores a exercer suas funções de acordo com as necessidades do sistema de
gestão ambiental e implicações ambientais.
Figura 11: Modelo de Sistema de Gestão Ambiental (fonte: ABNT ISO 14001, 2004)
71
efetiva dos mesmos, graças ao conhecimento das tecnologias e dos instrumentos
gerenciais disponíveis e ao papel ativo da empresa na busca de soluções efetivas e
inovadoras. Já a terceira, voltada aos “aspectos e impactos sociais e econômicos”,
procura valorizar os impactos de natureza socioeconômica positivos e minimizar os
negativos (CARDOSO e ARAUJO, 2007).
O Sistema deve ter seus desdobramentos em cada obra em que a construtora
atue. Assim, a empresa construtora deve elaborar e documentar o Plano de Redução dos
Impactos Ambientais de uma obra específica, consistente com o seu Sistema de Redução
dos Impactos Ambientais. Um dos desafios para a empresa construtora que inicia uma
obra é obter as informações para que possa implementar um plano adequado. O próprio
Sistema de Redução de Impactos Ambientais deve ser considerado, bem como toda a
legislação pertinente e ainda informações sobre o local da obra, incluindo condições do
terreno, vegetação, vizinhança, ventos, nível de poluição do solo, riscos naturais do
terreno, entre muitos outros.
Todo esse levantamento é fundamental para que a empresa elabore um Plano e
um projeto de canteiro coerentes, incorporando as medidas adequadas de minimização
de impactos, antecipando-se a possíveis situações futuras ao longo da obra e evitando
surpresas, que possam ter como consequências impactos negativos significativos,
reclamações e pedidos da vizinhança, problemas de saúde e segurança com
funcionários, multas, embargos por causas ambientais, custos de despoluição, etc.
É também com base no Plano, e de sua experiência registrada em obras
anteriores, sobre os custos do tratamento das diferentes classes de resíduos,
considerando a seleção, o transporte e a destinação, incluindo o reaproveitamento, que
ela será capaz de estimar o custo da implementação das medidas mitigadoras, podendo
incluir em seu orçamento ou corrigir um pré-orçamento baseado em índices médios
anteriores. Dele resultará o Plano de Gerenciamento de Resíduos da obra.
Para elaborar Planos de qualidade, o Sistema da empresa deve implementar
mecanismo de atualização de informações sobre produtos, processos, legislações,
normas, novas tecnologias e equipamentos, etc., de forma que ela seja sempre capaz
dispor das soluções mais respeitosas para o ambiente. Essa busca deve considerar as
diferentes etapas do ciclo de vida, como fabricação, aplicação, funcionamento, perdas e
disposição de resíduos.
Uma vez implementado o Plano, deve haver um controle permanente durante toda
a obra da aplicação das medidas estabelecidas (CARDOSO e ARAUJO, 2007).
72
5.3. Práticas Recomendadas
73
da vegetação são a execução de um inventário de todos os recursos naturais existentes e
a elaboração de um plano de preservação ambiental, além de prever soluções para a
proteção de árvores remanescentes no canteiro. As boas práticas da construção civil
recomendam ocupar o mínimo de espaço possível do terreno natural para a infraestrutura
e atividades do canteiro de obras, procurando assim preservar ao máximo as áreas
verdes existentes, de modo a não causar diminuição da capacidade de infiltração de água
pelo solo.
O segundo aspecto a ser tratado diz respeito ao risco de desmoronamento, que
em geral, é consequência de taludes mal feitos, erosões em estágios avançados, entre
outros. Para evitar o risco, as construtoras devem projetar cuidadosamente os taludes e
proteger o solo através do uso de lonas.
Ao se tratar da geração de energia no canteiro de obras, normalmente pelo
emprego de geradores de combustão, temos como significativo impacto ambiental o
comprometimento da qualidade do ar devido a emissão de gases e a geração de ruídos
que trará incômodos para a vizinhança. A medida mais utilizada para reduzir o impacto é
a proteção dos geradores com tapumes, diminuindo assim o ruído iminente. Quanto ao
consumo de combustível, o gerador deve ser utilizado somente quando necessário,
desligando-o sempre que possível.
Outro aspecto a ser tratado são as construções provisórias, consideradas as áreas
de vivência e apoio, acesso à obra e tapumes. A qualidade paisagística é um dos
impactos causado pelas construções provisórias, dada a inserção de elementos como
tapumes no ambiente local, recomenda-se portanto a adoção de tapumes com menor
impacto visual. Outra preocupação é o uso de materiais e componentes não reutilizáveis
ou não recicláveis, que aumentam o consumo de recursos e a geração de resíduos no
canteiro de obras. Para reduzir tal aspecto, propõe-se o uso de componentes modulares
reutilizáveis para abrigar as construções provisórias ou até mesmo a utilização de
containers como escritórios ou área de vivência (ARAÚJO, 2009).
Dentre as ações que visam à redução dos impactos, sugere-se assegurar que
máquinas, veículos e equipamentos sejam submetidos a manutenções regulares. Limpar
as ferramentas,equipamentos, máquinas e veículos imediatamente após o uso, evitando o
uso de produtos perigosos e prevendo dispositivos que recuperem as águas utilizadas e
que possam ter outras finalidades na obra.
Por fim, as diretrizes decorrentes do armazenamento de materiais no canteiro
envolvem evitar as perdas, contaminações do meio ambiente e preservar a saúde e
segurança dos trabalhadores. Para tanto, recomenda-se proteger e manipular
74
adequadamente os produtos, de forma a não danificá-los e prever segurança nas áreas
de armazenagem para evitar furtos e consequente desperdício de materiais.
75
são aplicáveis nas instalações provisórias e em outros pontos do canteiro, funcionando ao
longo de todo o período da obra e com a possibilidade de reaproveitamento dos
equipamentos (JOHN apud ARAÚJO, 2009).
Outra prática recomendada em obras de construção é a utilização de fontes
alternativas, como as águas pluviais, que pode ser utilizada para limpeza do canteiro,
irrigar plantas e outras finalidades não potáveis.
Ao se tratar do consumo e desperdício de energia, as principais formas de reduzir
ou mitigar os impactos ambientais são a utilização de fontes de energia renovável e de
aparelhos energeticamente eficientes. Por exemplo o uso de energia solar em chuveiros
dos vestiários é uma boa prática que minimiza o consumo de energia elétrica. Além disso,
outra forma de reduzir o consumo e desperdício de energia é integrar a iluminação e
ventilação artificial com a natural por meio de aberturas (ARAÚJO, 2009).
Parte das ações aplicadas depende do uso correto dos equipamentos, dessa
forma, propõe-se a promoção de campanhas educativas e palestras, envolvendo os
funcionários na gestão do consumo e orientando sobre as estratégias tomadas. É preciso
zelar para que não haja consumo desnecessário com luzes acesas, banhos longos em
chuveiros elétricos, aparelhos de ar-condicionado funcionando ininterruptamente, etc.
Devem ser promovidas no próprio canteiro de obras campanhas de conscientização para
sensibilizar e envolver os trabalhadores, de modo a evitar o desperdício.
76
A Resolução CONAMA 307/2002 estipula que o gerador destes resíduos tem
como objetivo principal a não geração destes e, secundariamente, a redução, a
reutilização, a reciclagem e a destinação final dos mesmos. Devem ser escolhidos
materiais e componentes que gerem poucos ou nenhum resíduo e que possam ser
lançados no solo, água ou ar, e ainda que seja dada preferência a materiais reciclados ou
recicláveis. Assim, quando a geração do resíduo é inevitável, se faz necessária a
reciclagem do material descartado. Há pesquisas e processos que possibilitam a
utilização com a implantação de usinas de reciclagem e que podem substituir muitos
materiais. Os principais usos do material reciclado oriundo de RCD são (MARQUES
NETO apud NOSCHANG et al., 2009):
77
Civil, de forma a controlar e propor ações mitigadoras dos impactos gerados pelos
resíduos da construção.
78
5.4. Matriz Aspecto x Impacto
Segundo ARAÚJO, 2009, uma vez entendidas as razões para se preocupar com
cada aspecto e impacto ambiental, é necessário adequar as relações e os graus de
importância às condições da cada canteiro de obras. Assim, devem-se classificar os
impactos ambientais, a fim de conhecer as intensidades e frequência desses, e suas
consequências para os meios físico, biótico e antrópico do local onde a obra está inserida,
para então priorizá-los.
A opção sobre a melhor maneira de reduzir ou eliminar um impacto pode
acontecer segundo critérios e prioridades pré-estabelecidas – custos, redução dos
impactos negativos ou potencialização dos impactos positivos. Embora possua limitações,
esta postura permite uma ordenação rápida das alternativas, supondo-se que seja
possível associar-se uma escala de ponderação representativa dos interesses priorizados
envolvidos.
79
6. Estudo de Caso
O estudo teve início com uma visita ao local onde será implantado o
empreendimento Ilha Pura, visando a identificação da região e coleta de informações do
local da 1ª fase de implantação. Foi realizada, então, entrevistas e buscas com a empresa
construtora que possibilitaram o acesso a pesquisas sobre a região, envolvendo dados
como vegetação, uso do solo, geologia, etc. Estes dados, aliados à revisão bibliográfica
envolvendo os aspectos e impactos ambientais de canteiros de obras, forneceram
informações que possibilitaram a identificação das interferências negativas que poderiam
ocorrer na etapa de execução das obras de construção do empreendimento.
Posteriormente foram identificadas as causas de tais interferências e as medidas
aplicadas pela empresa construtora para a redução ou mitigação das mesmas.
É importante ressaltar que apesar deste estudo abranger somente a fase
construtiva, é importante que sejam observadas e consideradas as boas práticas ao longo
de toda a etapa de projetos, bem como as medidas que serão implantadas futuramente já
na fase de ocupação do Bairro Planejado.
A Vila dos Atletas dos Jogos Olímpicos e Paraolímpicos de 2013 está inserida no
Bairro Ilha Pura, localizada na zona oeste da Cidade do Rio de Janeiro, na Barra da
Tijuca, em uma área com aproximadamente 870 mil m², a 35 km do centro da cidade. Á
área é avizinhada por paisagens naturais e limitada por empreendimentos residenciais e
um centro de convenções.
80
Figura 13: Localização do Bairro Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)
Figura 14: Lotes e Tipologias das Edificações - 1ª Fase Ilha Pura (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)
81
A estrutura de sustentabilidade da Ilha Pura foi desenvolvida a partir de 6 pilares,
visando compreender as problemáticas mais relevantes na busca de um empreendimento
sustentável. Os pilares são: Meio ambiente e sociedade, redução de gases de efeito
estufa, eficiência no uso da água, eficiência energética, materiais e resíduos e mobilidade,
que deverão ser tratados inclusive durante a fase de construção do empreendimento.
Para o desenvolvimento dos projetos, estes pilares são desdobrados em dez
temas (Figura 15), visando estabelecer diretrizes mais focadas em torno de problemáticas
de projeto, como mostrado no diagrama a seguir:
Figura 15: Temas para Desenvolvimento de Projetos (fonte: Relatório Ilha Pura, 2012)
82
e. Materiais e Resíduos aborda a conservação de recursos materiais e a gestão dos
resíduos sólidos urbanos;
f. Mobilidade abrange transporte e conectividade.
Por meio da adoção de inúmeras soluções inovadoras que tem como objetivo o
uso racional de recursos e redução do impacto ambiental e social, a Ilha Pura se tornou
o primeiro bairro planejado da América Latina a receber a Certificação LEED for
Neighborhood Development (LEED para Desenvolvimento de Bairros).
O LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) é um sistema
internacional de certificação e orientação ambiental para edificações, utilizado em 143
países, e possui o intuito de incentivar a transformação dos projetos, obra e operação das
edificações, sempre com foco na sustentabilidade de suas atuações. Segundo o Green
Building Council Brasil, a certificação determina 7 dimensões a serem avaliadas nas
edificações. Todas elas possuem pré requisitos obrigatórios e créditos, que quando
atendidos garantem pontos a edificação. O nível da certificação é definido conforme a
quantidade de pontos adquiridos. Os benefícios da aquisição da certificação são
econômicos, sociais e ambientais, já que podem reduzir custos operacionais, além de
incentivar a implantação de medidas que redutoras de impactos ambientais.
A certificação integra princípios de crescimento planejado e inteligente, urbanismo
sustentável e edificações verdes, em diferentes tipologias de edificações e mistura de
usos dos espaços urbanos.
83
Com base nos dados obtidos nos relatórios da empresa construtora, foram
identificados os aspectos ambientais mais relevantes que provavelmente serão gerados
por determinadas atividades de construção do empreendimento, produtos ou serviços.
Dessa forma, foi possível correlacioná-los com seus respectivos impactos ambientais por
meio das tabelas 3, 4, 5 e 6, subdivididas de acordo com as atividades ou processos do
ciclo imobiliário: Incorporação, Administrativo-Financeiro, Construção e Engenharia.
Atividade, Produto e
Processo Subprocesso Aspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)
Serviço
Alteração da qualidade do
Vazamento de óleo
solo/recurso hídrico
Adminstrativo Limpeza de Fossa Filtro
Alteração da qualidade do
Transbordo do sistema fossa filtro
solo/recurso hídrico
Redução dos recursos
Consumo de água
naturais
Limpeza de caixa Geração de Residuos Sólidos (embalagens de alcool, Alteração da qualidade do
Adminstrativo-Financeiro
84
Atividade, Produto e
Processo Subprocesso Aspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)
Serviço
Estocagem de materiais Geração de Resíduos Sólidos (EPI) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Recebimento,
armazenamento de Geração de resíduos sólidos (embalagens, lonas, madeira...) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
materiais
Logística
Tranporte interno de Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
materiais
(deslocamento) Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.
Construção
Aplicação de tintura Geração de Resíduos Sólidos (Classe I) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Geração de resíduos (tinta, solvente, embalagens, lixas) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Pintura
Consumo de água Redução dos recursos naturais
Revestimento cerâmico Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas
Produção / Execução e
Operação de Poços Operação do sistema de Alteração da qualidade da água subterrânea
Esgotamento por Bombeamento das águas subterrâneas
para o Rebaixamento do poços
Alteração da qualidade da água
lençol Freático
Erosão
Concretagem Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas
Construção
85
Atividade, Produto e
Processo Subprocesso Aspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)
Serviço
Produção / Instalações
Descarte de lâmpadas queimadas Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Elétricas e Hidráulicas Troca de Lâmpadas
Geração de resíduos sólidos (reator, soquete, lampada
Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
quebrada..)
Geração de resíduos sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Instalções hidraúlica
Geração de resíduos classe I (adesivo plastico, pasta
Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
lubrificante...)
Soldagem Geração de resíduos contaminados (pontas de eletrodo) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Aplicação de tintura Geração de Resíduos Sólidos (Classe I) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Produção Consumo de material de empréstimo (areia...) Redução dos recursos das jazidas
Estacionamento /
Geração de resíduos classe II (sobras de concreto) Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Execução de meio-fio
Estacionamento /
Aplicação de emulsão Geração de resíduos classe I Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
asfáltica
Consumo de água Redução dos recursos naturais
Escavação/ Construção
Produção / Construção de Aterro/ Reaterro/
Vazamento de óleo Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
de Alojamento Compactação/
Concretagem Emissão de Particulados Alteração da qualidade do ar.
equipamentos/
Lubrificação/ Usinagem/ Consumo de água Redução dos recursos naturais
Oficina Borracharia/ Mecânica/
Elétrica Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
Projetos
Incêndio Alteração da qualidade do ar.
Sustentabilidade Gestão de Resíduos Geração de Resíduos Sólidos Alteração da qualidade do solo/recurso hídrico
86
Atividade, Produto e
Processo Subprocesso Aspecto Ambiental (AA) Impacto Ambiental (IA)
Serviço
Pode-se observar, a partir dos dados das tabelas, que os principais impactos
ambientais decorrentes das obras de construção do empreendimento são a redução dos
recursos naturais com o alto consumo de água e energia elétrica, a alteração da
qualidade do solo e dos recursos hídricos devido ao elevado índice de geração de
resíduos sólidos e a alteração da qualidade do ar por conta da emissão de particulados
em diversas atividades.
Diante da avaliação da severidade dos Impactos ambientais, percebe-se que a
alteração da qualidade do solo e dos recursos hídricos pode ser classificada, na maioria
dos casos, como grau de severidade baixa, devido à abrangência apenas local e
facilidade de reversão com aplicação de ações de controle. Apesar disso, alguns aspectos
ambientais decorrentes da fase de construção, tais como vazamento de óleo, tranbordo
do sistema fossa filtro e a geração de resíduos sóligos agressivos (lixo eletrônico, tinta,
87
solventes, cerâmica, cimento, entre outros) podem agravar a severidade do impacto
ambiental, tornando-o de média magnitude, sendo portanto capaz de alterar a qualidade
ambiental da região, mas ainda assim reversível com a aplicação adequada de ações
mitigadoras.
A redução de recursos naturais devido ao consumo elevado de água e energia
pode ser considerado um impacto ambiental trivial e de severidade baixa, apresentando
ações de controle diante da alta frequência de ocorrência. Apesar disso, o elevado
consumo de água durante a cura do concreto, o alto índice de descarte de água com a
limpeza de equipamentos e bebedouros e a ainda o consumo excessivo em refeitórios e
vestiários devem ser tratados com cautela, pois dependendo da frequência podem se
tornar de abrangência regional e causar impactos nos limites da obra, tornando-se
portanto de média magnitude.
Dentre os principais impactos ambientais decorrentes da obra de construção do
empreendimento em estudo, o que apresenta maior preocupação é a alteração da
qualidade do ar, pois na maioria dos casos é tratado como um impacto de severidade
média, que pode gerar degradação ambiental com consequências para os negócios e até
mesmo para imagem da empresa. A possível ocorrência de incêndios, a emissão de
particulados e a geração de poeira são os principais aspectos agravantes e, portanto
devem ser controlados de maneira adequada.
O presente estudo descreve, em seguida, algumas medidas implantadas nas
obras de construção com objetivo de reduzir ou até mesmo mitigar esses impactos e as
formas de controle utilizadas pela empresa para monitorá-los.
88
indicadores tem como objetivo minimizar o impacto ambiental e otimizar o uso de recursos
naturais durante o planejamento e execução das obras da Ilha Pura Empreendimentos
Imobiliários S.A., assim como verificar a eficácia das propostas, programas e ações da
equipe de sustentabilidade.
Como a Ilha Pura consiste em um conjunto de 7 condomínios distintos, esse painel
é encaminhado para os gerentes de produção e responsáveis de engenharia de cada
condomínio do empreendimento, possibilitando a análise crítica e incentivando ações de
melhoria contínua.
As iniciativas aplicadas na Ilha Pura contemplam a implantação de usinas de
concreto no canteiro de obras, redução na geração e reuso dos resíduos, redução do
impacto na utilização de recursos hídricos e energéticos; diminuição da emissão de gases
de efeito estufa (GEE), e o recrutamento e capacitação da mão de obra do entorno. Além
das práticas sustentáveis na construção do Bairro, o projeto do empreendimento
incorpora inovações visando a utilização racional de energia e de água, principalmente.
89
Na Ilha Pura, algumas ações foram tomadas para garantir a gestão adequada dos
resíduos de classe A dentro do canteiro de obras. Como pode-se verificar na Figura 16,
essa classe corresponde a 40% do total de volume gerado pelos resíduos da construção
civil nas obras da Vila dos Atletas. Na 1ª fase de implantação da Ilha Pura, todos os
resíduos Classe A gerados na etapa de infraestrutura foram reutilizados dentro do
canteiro de obras. As sobras de concreto foram utilizadas para a construção de pré-
moldados como vergas, contravergas, newjersey, entre outros.
Quando não podem ser reutilizados, os resíduos recicláveis são enviados às
cooperativas de reciclagem, enquanto os resíduos orgânicos do canteiro são coletados
por empresas parceiras e transformados, por meio da técnica da compostagem, em
adubo que será utilizado na próxima etapa do empreendimento, a construção do Parque.
Figura 16: Previsão de Geraçao de Resíduos Sólidos da Vila dos Atletas (fonte: Relatório Ilha Pura,
2012)
Uma das ações tomadas como solução para o tratamento dos resíduos Classe A
foi o beneficiamento interno. O beneficiamento consiste na separação do concreto das
armações metálicas, redução do tamanho, britagem e triagem dos resíduos. Dessa forma,
os resíduos são transformados em materiais que podem ser reaproveitados dentro do
próprio canteiro de obras como substituto ao agregado natural, bica corrida mista (BCM),
para uso como base e sub-base em vias de acesso.
O beneficiamento interno contribuiu com a redução do consumo de recursos
naturais, das emissões de gases de efeito estufa e do trânsito de caminhões no entorno
da obra. Além disso, possibilitou uma economia de custo com a compra de agregados
naturais e com o transporte e a destinação desses resíduos.
90
6.4.2. Recursos Hídricos
A gestão de recursos hídricos no canteiro de obras da Ilha Pura é feita por meio do
cálculo da chamada "pegada hídrica". A ferramenta indica o impacto da construção na
bacia hidrográfica onde ela está situada. Dessa forma, é possível mensurar o volume
necessário para assimilar a carga de poluentes com base nos padrões de qualidade
ambiental da água locais.
Cada condomínio é controlado com hidrômetros inidividuais, para que o consumo
de água possa ser analisado separadamente e o Painel de Gestão seja elaborado com
indicadores precisos de cada condomínio e o consolidado de todo empreendimento. A
Ilha Pura conta, ainda, com uma estação de reuso de águas cinzas, para tratar a água
dos chuveiros e lavatórios utilizando-a nas bacias sanitárias. Além disso, para umectação
das vias de serviço há um sistema de coleta de águas pluviais através de calhas nos
telhados das instalações do canteiro de obras.
Ainda para gestão dos recursos hídricos, a Ilha Pura conta com uma recicladora
de concreto, através da qual cerca de 50% da água usada para o concreto é proveniente
da recicladora.
91
Quando o caminhão betoneira se aproxima, o funcionamento da recicladora é
automaticamente acionado. Com a ajuda de vibradores o concreto residual chega no
tambor de lavagem, sendo possível descarregar até 2 caminhões simultaneamente. Os
postes injetores de água limpa são acionados através de um quadro de comando pelo
operador, despejando 200 litros de água dentro do balão do caminhão-betoneira e
lavando o concreto residual por princípio de contra-corrente. Através de canaletas
vibratórias, a mistura com granulometria maior que 0,2 mm é separada e sai do tambor.
Assim, a água residual (água rica) restante contém componentes do concreto com
agregados finos, menores que 0,2 mm. Após a água ir para o tanque com agitador, a
mesma fica em constante movimento. Desta forma, impede-se a sedimentação dos
componentes finos e possibilita a reutilização da água para fabricação de um novo
concreto.
Atualmente utiliza-se um blend de 50% de água potável e 50% de água resultante
da recicladora o que já suficiente para o aproveitamento de toda a água reciclada e,
paralelamente, ainda permite manter-se o ambiente do entorno da Central muito mais
seco e limpo.
O equipamento proporciona ainda uma redução na geração de resíduos sólidos,
redução no tempo de limpeza das betoneiras e no ciclo de produção da Central de
Concreto, tornando ainda o ambiente muito mais bem organizado. Detectou-se também,
porém em fase de estudos comprobatórios, que com a utilização de água reciclada, o
concreto produzido pode estar incorporando ligeira melhora na resistência,
principalmente, aos 28 dias.
Dessa forma, como resultado da implantação da Unidade Recicladora temos a
preservação de água, com economia de volume de água a ser utilizado de água tratada
pela concessionária, reaproveitamento de agregados que seriam descartados, além da
preservação das jazidas utilizadas na produção de cimento com agregados.
92
6.4.3. Consumo de Energia Elétrica
Assim como a água, as emissões de gases de efeito estufa gerados pela obra e
pela cadeia de fornecedores também são monitorados. Além de contabilizar as emissões
ao final da obra, a Ilha Pura tem um programa para a redução das emissões de GEE com
metas e planos de ação específicos.
Para garantir que todo o processo construtivo seja sustentável, a Ilha Pura
seleciona fornecedores que tenham desempenho ambiental satisfatório. A iniciativa
garante a manutenção da sustentabilidade em todo o processo de construção e estimula
que as empresas busquem melhorias contínuas.
93
6.4.6. Educação Ambiental
a. Visão geral de meio ambiente e seus benefícios no cotidiano (podem ser incluídos
assuntos como ciclos da natureza, fauna e flora, ecossistemas, etc.);
b. Coleta seletiva;
c. Contaminação de solos;
d. Qualidade do ar nos ambientes de obra;
e. Preservação dos corpos d’água;
f. Produtos contaminantes;
g. Impactos à saúde no uso de determinados materiais (amiantos, lãs minerais, etc.);
h. Benefícios de um edifício sustentável;
i. Fauna;
j. Aquecimento Global;
k. Visão de Sustentabilidade da Ilha Pura.
94
7. Considerações Finais
95
mais relevantes em obras da construção civil e analisar as principais práticas sustentáveis
realizadas por empresas do segmento.
A Matriz de Aspectos e impactos ambientais mostrou-se uma ferramenta bastante
útil para a gestão ambiental relacionada às atividades da empresa. A partir do
conhecimento proporcionado por este estudo, uma empresa pode estabelecer metas e
objetivos adequados, focados a redução dos impactos gerados por suas atividades.
Portanto, tendo sido caracterizado o consumo de recursos naturais decorrente das
atividades construtivas, verifica-se a necessidade de ação por parte das empresas
construtoras no sentido de controlar este consumo. Para tanto, sugere-se o controle do
desperdício de recursos na fase de produção e, principalmente, a atuação mais efetiva
das empresas construtoras durante a fase de planejamento, ocasião em que são
selecionados os materiais, os fornecedores, as tecnologias construtivas e na qual também
é feita a caracterização dos sistemas prediais – sendo, todos estes, fatores determinantes
para o bom desempenho ambiental e para a extensão da vida útil do empreendimento. Ao
visar a construção sustentável é essencial que a etapa de execução seja um dos focos,
possibilitando que o canteiro de obras gere o mínimo de impactos ao meio ambiente.
As recomendações para trabalhos futuros referem-se a uma pesquisa junto aos
órgãos competentes para que sejam identificados os requisitos legais relacionados aos
aspectos ambientais da empresa e assim adotados sistemas de gestão ambiental
eficazes, minimizando os impactos ambientais decorrentes das atividades construtivas.
Além disso, propõe-se a aplicação de ferramentas como a ACV (Avaliação do
Ciclo de Vida), que consiste em avaliar os impactos ambientais de um produto ou
empreendimento desde a aquisição da matéria-prima ou geração de recursos naturais até
a disposição final do mesmo.
Ainda no que diz respeito a trabalhos futuros, após a análise das ações
mitigadoras dos impactos ambientais adversos, recomenda-se a quantificação dos
resultados obtidos. Com base em indicadores, é possível elaborar uma matriz quali-
quantitativa para identificar a real redução dos impactos no meio ambiente e os possíveis
ganhos financeiros com a adoção de medidas de controle.
96
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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ambiente causados pelos produtos e materiais da construção civil. Anais do IV
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habitacionais – Desempenho” e possíveis impactos no setor da construção civil na
cidade do Rio de Janeiro. Dissertação (Graduação) Universidade Federal do Rio de
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SOUTO, Elizete Ventura. Mitigação dos Impactos Ambientais Negativos gerados pela
implantação da usina Termelétrica de Queimados. Dissertação (Pós-Graduação), AVM
Faculdade Integrada. 2012.
100
ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas. ISO 14001: Sistemas de Gestão
Ambiental - Especificação e Diretrizes para Uso. 2004.
101
REFERÊNCIAS ELETRÔNICAS
102