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FUNDAÇÃO EDSON QUEIROZ 


UNIVERSIDADE DE FORTALEZA - UNIFOR 
CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS - CCT 
GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA E URBANISMO 
TRABALHO DE CONCLUSÃO DE CURSO I 
 
 
 
 
 
GABRIELLA RODRIGUES DE OLIVEIRA PINTO 
 
 
 
 
 
 
 
RESI-LAR 
 
CONJUNTO DE CASAS-LARES PÚBLICO: 
 
UMA SOLUÇÃO EM PROJETO ARQUITETÔNICO PARA CRIANÇAS DESAMPARADAS POR UMA SOCIEDADE 
DESIGUALITÁRIA, ESPAÇO DE CRESCIMENTO INTEGRADOR E ACOLHEDOR  
 
 
 
 
 
  
 
 
 

FORTALEZA, CE 
2019.2 
 
 
 
GABRIELLA RODRIGUES DE OLIVEIRA PINTO 
 
 
 
 
 
 
 
 
RESI-LAR 
 
CONJUNTO DE CASAS-LARES PÚBLICO: 
 
UMA SOLUÇÃO EM PROJETO ARQUITETÔNICO PARA CRIANÇAS DESAMPARADAS POR UMA SOCIEDADE 
DESIGUALITÁRIA, ESPAÇO DE CRESCIMENTO INTEGRADOR E ACOLHEDOR  
 
 
 
 
 
 
 
Relatório final, apresentado à Universidade de Fortaleza-UNIFOR, como parte das exigências para a 
obtenção do título de Casa-lar instituição para crianças. 
 
Orientadora: Prof. Dr. Lia Costa Mamede 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
Fortaleza 
2019.2 
 
AGRADECIMENTOS 
A  vida  é  feita  de  ciclos  que  começam  e  terminam  para  dá  espaço  a  novos  planos,  sonhos  e  vivências.  Mais  um  desses 
ciclos  se  conclui,  a  tão  sonhada  graduação  está chegando. Uma caminhada que se iniciou em 2015, 5 anos e meio depois, 
sou grata a todos os momentos e pessoas que passaram e fizeram parte de tudo isso. 

Primeiramente  agradeço  a  Deus,  por  nunca ter falhado, demorei muito para entender que Ele já tinha preparado tudo para 


mim, a única coisa a qual devo fazer, é confiar em cada plano que Ele propõe. Agradeço por ter sido consolo e força quando 
minha  cabeça  virava  e  dava  um  nó,  quando  achei  que  não  era  capaz  e  Ele  provou  com  todas essas minhas falhas, que eu 
estava errada. Obrigada Deus, por ter escolhido esse caminho e por ter sonhado sonhos tão lindos para mim. 

Agradecer  a  minha  família  que  em  especial  vivenciou  esse  período  de  graduação  e  de  conclusão  de  curso.  Estiveram 
comigo  desde  dos  dias  que  chegava  em  casa  exausta e eles tinham que lidar com a falta de humor e minhas reclamações, 
até  nos  dias  que chegava radiante com alguma notícia boa. Ao meu pai, Cláudio por ter muitas vezes ter perdido um pouco 
da  sua  hora  de  descanso,  após  um  dia  de  trabalho  para  revisar  o tópico que tinha escrito e por ajudar a pesquisar artigos 
as  quais  eu  não  encontrava,  só  ele.  A  minha  mãe,  Sivanda  que  me  influenciou  e  tanto  para  a  escolha  do  meu curso, com 
suas  palavras  encorajadoras.  A  minha  irmã,  Daniella  que  passou  boas  noites  ao  meu  lado,  por ter sido colo de calmaria e 
ouvidos  quando  estava  aflita  e  que  sempre  vai  me  escutar,  eu  sei  disso.  Ao  meu  irmão,  Raphael  que  mesmo  de  longe, 
perguntava como estava o andamento de todo o processo. Amo vocês. 

Retribuir  também  todo  o  apoio  que  recebi  aos meus amigos, que me motivaram, incentivaram e tranquilizaram. Torceram 


fortemente  e  acompanharam  de  perto,  mais um ciclo. Além de, compreenderem todas as vezes, ao qual não pude me fazer 
presente  nos  ‘rolês’,  muitas  vezes  tive  que  abdicar  para  o  nascimento  desse trabalho. Obrigada por tudo gente, vocês são 
essenciais amo vocês. 

Agradecer  às  lindas  amizades  que  construí  ao  longo  da  graduação  em  especial,  a  Rafaela  e  a  Sofia  que  deixaram  essa 
jornada  que foi cansativa, mas de uma forma muito leve. Nos altos e baixos, nos dias de luta e nos dias de glória. Obrigada, 
por  cada  momento  e  conhecimento  compartilhado.  Não  posso dizer que foi fácil esses cinco anos, mas com vocês tudo foi 
mais sútil. 

Quero  agradecer  a  minha  orientadora  Lia  Mamede,  por  ter  escolhido  e  abraçado  esse  convite  com  tanta  dedicação  e 
eficiência,  através  do  seu  profissionalismo.  Motivou  com suas palavras ‘Gabi, tô gostando muito da sua evolução’ ou ‘Gabi, 
depois  que  desenrolou  neh?!’  Fazia  ir  em frente para deixar cada vez mais, o nosso trabalho enriquecedor. Aconselhou em 
conversas  quando  estava  perdida  e  presa.  Apoiou  e  confiou  tanto,  que  fez  um  dos  textos  do  trabalho,  virar  artigo  para  o 
mestrado, porque de acordo com ela, eu levo jeito para a carreira acadêmica. Obrigada professora. 

Ser  grata  também  a  todos  do  Escritório  da  Acessibilidade-UNIFOR,  por  cada  aprendizagem  e  por  me  introduzirem  ao 
mundo  real  da  arquitetura.  Nas  soluções  e  nos  projetos,  sempre  pensando  no  próximo  e  visando  por  um  mundo  mais 
sensível. Em especial, a Aline e Rita que acompanharam diariamente o processo, foram ouvidos, consolos e motivações. 

Por  final,  mas  não  menos  importante,  pois  foram  os  grandes  influenciadores  da  escolha  do  meu  tema.  A  todos  do  Lar 
Davis,  que  sempre  me  acolhem  tão  bem  e  me  mostram  valorizar  o  simples,  que  passa  a  ser,  o  essencial.  Gratidão  por 
aprender tanta coisa com esses pequenos, inclusive que o amor é tudo e é a resposta da esperança. 
 

  

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Dedico este trabalho a todos do Lar Davis e as crianças e 


adolescentes que estão passando ou passaram por alguma 
situação de vulnerabilidade social. 
 

     

   
 

 
“Vulnerabilidade  é  o  berço  do  amor,  pertencimento,  alegria, 
coragem,  empatia  e  criatividade.  É  a  fonte  de  esperança, 
empatia,  responsabilidade  e  autenticidade.  Se  queremos 
maior  clareza  em  nosso  propósito  ou  vidas  espirituais  mais 
profundas  e  significativas,  a  vulnerabilidade  é  o  caminho.” 
(Brené Brown). 
 

RESUMO 
Atendimento  massificado,  autoritarismo  e  situações  de  negligência  em  relação  às  necessidades  básicas  de  crianças  e 
adolescentes  marcaram  o  histórico  de acolhimento institucional, dentro da problemática de vulnerabilidade social ao redor 
do  mundo.  Após  diversas  discussões  acerca  disso,  o  Brasil  promulga  o  Estatuto  da  Criança  e  Adolescente  (ECA)  da  ​N​º 
8.069,  DE  13  DE  JULHO  DE  1990​.  Diante  disso,  com  a efetivação da lei foi notória essa mudança no espaço arquitetônico 
como  também  nas disciplinas internas. Além da criação de normas como a, Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento 
para  Crianças  e  Adolescentes-(Resolução  n°1,  CNAS/CONANDA,2009),  que  expõe  as  diversas  modalidades  com  público 
alvo,  objetivo,  capacidade  e  os  cômodos  com  dimensões  mínimas.  No  entanto,  essas  transformações  dos  espaços  estão 
cautelosamente  sendo  aplicadas  e  apresentam  dificuldades  na  implementação  dos  princípios  dentro  das  disposições 
normativas  e  legislativas,  porém  se  constatou  que  algumas  são  atendimentos  atuais  se  repetem  aos  antigos  padrões  de 
acolhimento.  Considerando  tudo  isso,  este  trabalho  de  final  de  curso  tem  como  objetivo  subsidiar  a  elaboração  de  um 
projeto  arquitetônico,  de  um  conjunto de casas lares pública para acolher 45 crianças e adolescentes, com faixa etária de 0 
a  12  anos,  em  casos  de  situação  de  vulnerabilidade  social  na cidade de Fortaleza-CE. O projeto tem como conceito passar 
uma  sensação  de  casa,  onde  os  relacionamentos  possam  ser  estreitos  e  afetivos  através  da  volumetria  e  do  conceito  de 
biofilia,  utilização  de  espaços  ergonômicos  adequados ao conceito de desenho universal, desenvolvimento de espaços que 
favorecem  o  desenvolvimento  cognitivo, emocional e social dentro da psicologia ambiental, ​visando aproximação social e a 
questão  da  eficiência  do  edifício  assim  como  a  manutenção  o  conceito  da  ecoarquitetura.  Em  suma,  esse  projeto  visa  a 
busca  da  melhoria  de  vida  dessas  crianças  que  sofrem  com  esses  problemas,  para  que  possam  crescer  e  desenvolver  o 
futuro com confiança. 

Palavras- chave:​ casa lar; vulnerabilidade social; crianças; psicologia ambiental; biofilia; desenho universal e 
ecoarquitetura. 
 

ABSTRACT 
Massive  care,  authoritarian  and  neglectful  situations  regarding  the  basic  needs  of  children  and  adolescents  marked  the 
history  of  institutional  reception,  within  the  problematic of social vulnerability around the world. After several discussions 
about  this,  Brazil  promotes  the  Child  and  Adolescent  Statute  (ECA),  No.  8.069,  OF  13  JULY  1990.Given  this,  with  the 
implementation  of  the  law,  this  change  in  the  architectural  space  as  well  as  in  the  internal  disciplines was noticeable. In 
addition  to  the  creation  of  standards  such  as,  Technical  Guidelines:  Childcare  Services  for  Children  and  Adolescents 
(Resolution  No.  1,  CNAS  / CONANDA, 2009) which exposes the various modalities with target audience, objective, capacity 
and  the  rooms  with  minimum  dimensions.  However,  these  transformations  of  spaces  are  being  carefully  applied  and 
present  difficulties  in  the  implementation  of  the  principles  within  the  normative  and  legislative  dispositions,  but  it  was 
found  that  some  current  attendance  is  repeated  to  the  old  standards  of  reception.Considering  all this, this end-of-course 
work  aims  to  support  the  elaboration  of  an  architectural  project,  a  set  of  public  homes  to  accommodate  45  children  and 
adolescents,  aged  0-12  years,  in  cases  of  vulnerable  situations.  in  the city of Fortaleza-CE. The project's concept is to feel 
like home, where relationships can be close and affective through volumetry and the concept of biophilia, use of ergonomic 
spaces appropriate to the concept of universal design, development of spaces that favor cognitive, emotional and emotional 
development.  social  within environmental psychology,aiming at social approach and the issue of building efficiency as well 
as  maintaining  the  concept  of  ecoarchitecture.  In short, this project aims to improve the lives of these children who suffer 
from these problems so that they can grow and develop the future with confidence. 

Keywords:  home  home;  social  vulnerability;  children;  environmental  psychology;  biophilia;  universal  design  and 
eco-architecture. 
LISTA DE FIGURAS 
Figura 1: Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo 27 
Figura 2:Exemplo da Instituição Total 28 
Figura 3: Exemplo da Instituição Total  28 
Figura 4: Exemplo da Instituição Total 29 
Figura 5: Exemplo da Instituição Total  29   
Figura 6: Inácio de Loyola, fundador da Companhia de Jesus 32 
Figura 7: Santa Casa de Misericórdia - RJ  32 
Figura 8: SAM - Dormitório 32 
Figura 9: Internos na FEBEM 32 
Figura 10: Planta baixa da casa de correção San Michele, em Roma 34 
Figura 11: Quarto de acolhimento de orfanatos, retratando esse serviço em alta quantidade 35 
Figura 12: Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 37 
Figura 13: Quadra esportiva na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 38 
Figura 14: Quarto dos meninos na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre  39 
Figura 15: Corredor da Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 39 
Figura 16: Vista aérea Jardim de Infância Beisha 60 
Figura 17: Planta térreo Jardim de Infância Beisha 61 
Figura 18: Planta 1° pavimento de Infância Beisha 62 
Figura 19: Caminhos tortuosos entre os prédios 62 
Figura 20: Área central recreativa com acesso a plataforma 63 
Figura 21: Vista da plataforma do primeiro andar  64  
Figura 22: Área interna da sala de pintura 64 
Figura 23: Croqui do projeto de jardim de infância 65 
Figura 24: Vista lateral do Jardim de Beshia 66 
Figura 25: Perspectiva eletrônica do Orfanato 67 
Figura 26: Foto da construção do Orfanato Lali 68 
Figura 27: Plantas baixas do térreo, 1° pavimento, 2° pavimento e 3° pavimento do Orfanato 69 
Figura 28: 1°Corte esquemático 69 
Figura 29: 2° Corte esquemático 70 
Figura 30: Perspectiva na fachada do Orfanato 71 
Figura 31: Corte esquemático com os sistemas renováveis 72 
Figura 32: Maquete do esqueleto do prédio do Orfanato 73 
Figura 33: Perspectiva eletrônica do interior do Orfanato 73 
Figura 34: Perspectiva do interior do Orfanato, área externa da horta com as salas 74 
Figura 35: Perspectiva do interior do Orfanato, área dos quartos  74 
Figura 36: Área de lazer ao ar livre, Lar davis 76 
Figura 37: Área de lazer no Lar Davis usada para a prática do futebol 77 
Figura 38: Módulo da unidade da casa lar 77 
Figura 39: Unidade da casa lar, no lar Davis 78 
Figura 40: Fluxograma da Resi-lar 97 
Figura 41: Organograma​ ​da Resi-lar 98 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 
 
CREAS​- Centro de Referência Especializado de Assistência Social 
UPA ​- Unidades de Pronto Atendimento 
SUS​ - Sistema Único de Saúde 
CEDECA ​- Centro de Defesa da Criança e do Adolescente 
CAOPIJI ​- Centro de Apoio às promotorias da Infância e juventude 
COMDICA - ​Conselho Municipal de Crianças e Adolescentes 
ECA - ​Estatuto da Criança e do Adolescente 
ONG’s ​- Organizações das Nações Unidas   
CNJ​ - Conselho Nacional de Justiça 
CMDA​ - Conselho Municipal de Direitos da Criança e do Adolescente 
DPCA​ - Delegacia de Proteção à Criança ao Adolescente 
PBF​ - Programa Bolsa Família 
PSE ​- Programa Saúde na Escola 
MDS​ - Ministério de Desenvolvimento Social e Combate à Fome  
CNASS​ - Conselho Nacional dos Direitos das Crianças e dos Adolescentes 
FEBEM​ - Fundações Estaduais do Bem-estar do Menor 
DCA​ - Defesa da Criança e do Adolescente 
IPEA​ - Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada 
SINASE ​- Sistema Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente  
CONADA ​- Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente 
CATI​ - Centro de Atendimento Integral  
ABNT - ​Associação Brasileira de Normas Técnicas 

 
 

LISTA DE TABELAS 
 
Tabela 1: Objetivos de pesquisa e suas respectivas metodologias 19 

Tabela 2: Modalidades de Acolhimento 42 

Tabela 3: Infraestrutura e espaço mínimo sugeridos para acasalar 49 

Tabela 4: Programa de necessidades setor administrativo  89 

Tabela 5: Programa de necessidades setor educacional 90 

Tabela 6: Programa de necessidades setor de lazer 90 

Tabela 7: Programa de necessidades setor de saúde 91 

Tabela 8: Programa de necessidades setor de serviços 91 

Tabela 9: Programa de necessidades da casa de visitação 92 

Tabela 10: Programa de necessidades da casa 01- berçário 0 a 2 anos 92 

Tabela 11: Programa de necessidades da casa 02-1° módulo- crianças 4 a 6 anos 93 

Tabela 12: Programa de necessidades da casa 02-2° módulo- crianças 4 a 6 anos 93 

Tabela 13: Programa de necessidades da casa 03-1° módulo- crianças 7 a 9 anos 94 

Tabela 14: Programa de necessidades da casa 03-2° módulo- crianças 7 a 9 anos 95 

Tabela 15: Programa de necessidades da casa 04- 1° módulo - crianças de 10 a 12 anos  


96  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE GRÁFICOS 
 
Gráfico 1: Linha do tempo com os acontecimentos com relação a história do abrigamento no Brasil 32 
Gráfico 2: Quanto à natureza do programa de acolhimento nas instituições de Fortaleza 45 
Gráfico 3: Quanto ao tipo de acolhimento nas instituições de Fortaleza  46 
Gráfico 4: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza  46 
Gráfico 5: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza      47
 
  
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
LISTA DE MAPAS 
 
​ Mapa 1: Instituições de acolhimento infantil, de Fortaleza e sua natureza 81 
Mapa 2: Unidades de pronto atendimento de Fortaleza 82 
Mapa 3: CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social em Fortaleza 83 
​Mapa 4: Localização do bairro Messejana em relação a cidade de Fortaleza 84 
Mapa 5: Terreno em relação ao bairro Messejana 85   
Mapa 6: Terreno com condicionantes ambientais  87 
   

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
SUMÁRIO 

1.INTRODUÇÃO 16 

1.1 Justificativa e Relevância 16 

1.2 Objetivos 17 

1.3 Procedimentos de pesquisa 18 

2. CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL  20 

2.1 Contextualização e Evolução 20 

2.2 Políticas Públicas 23 

3 SERVIÇO DE ACOLHIMENTO  26 

3.1 Histórico do serviço de acolhimento no Brasil  


26 

3.2 O Estatuto e sua repercussão na arquitetura 33 

3.3 Modalidades no serviço de acolhimento 40 

3.4 Situação atual do acolhimento no Brasil 42 

3.5 Acolhimento Institucional em Fortaleza 44 

3.6 Adequação em acolhimento casa-lar 47 

4.ASPECTOS TEÓRICOS PROJETUAIS 50 

​4.1 Ecoarquitetura 50 

4.2 Biofilia 52 


4.3 Psicologia Ambiental 54 

4.4 Desenho Universal  57 

5.ANÁLISE DOS PROJETOS REFERENCIAIS 59 

5.1​ ​ ​Beisha K​indergarten​ - Jardim de infância 59 

5.2 Orfanato e Centro de Aprendizagem Lali Gurans 67 

5.3 ​ ​Lar de Crianças Sara e Burton Davis-Unidade Aquiraz 75 

6.DIRETRIZES PROJETUAIS ​ 78
 

7.ESCOLHA DO TERRENO 80 

7.1 Localização 80 

7.2 Diagnóstico do terreno e seu entorno 85 

7.3 Terreno e os seus condicionantes 86 

8.PROJETO ARQUITETÔNICO  87 

8.1 Programa de necessidades 87 

8.2 Fluxograma e Organograma 97  

9.CONSIDERAÇÕES FINAIS 98 

10. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 99


1.0 INTRODUÇÃO    
1.1. Justificativa 

Meu  interesse  em  abordar  essa  temática  surgiu  desde  de  2013,  quando  comecei  a  frequentar e fazer parte de um grupo de 
voluntários  e  amigos,  no  Lar  Davis,  um espaço que acolhe crianças e adolescentes que vivem em situação de vulnerabilidade 
social  no  município  de  Aquiraz,  no Estado do Ceará. Projeto voluntário esse que se iniciou ainda no colégio, onde recebemos 
o  incentivo  para  ajudar  as  crianças  desta  instituição,  com  arrecadação  de  alimentos  e  doações,  através  de  gincana.  Após  a 
primeira  visita,  criamos  vínculos  e  nos  aproximamos  dos  meninos  do  lar  e  dos  funcionários,  voluntários  que  trabalham 
naquela  associação,  em  que  observei  a  oferta  de  muito  amor  e  assistência.  Eu  e  meus  colegas  permanecemos,  com  a 
proposta  de  organizar  encontros  oferecendo afeto, lazer e doações, mesmo após o término do ensino médio. .Após seis anos 
de  visitas,  criei  um  apego  muito  forte  com  as  crianças,  assim  como  o  espaço,  onde  sinto-me  bem  a  cada  oportunidade  de 
compartilhar esse momento e saber que a toda visita, sempre será retribuído com amor. 

O  afeto  pela  instituição  que  visitei  me  fez pensar o quão importante é assistenciar esse público, já que são pessoas carentes 


e  precisam  ser  acolhidas  em um lugar digno, com boa alimentação, educação, cuidado e proteção. Percebi que os espaços de 
moradia  e convivência de crianças e adolescentes não adequados, pois não remetem a ambientes lúdicos, humanizados e não 
ergonômicos.  Acredito  que  as  crianças, adolescentes e os funcionários dessas instituições merecem uma estrutura completa 
e elaborada, com isso a arquitetura vem a contribuir para trazer conforto e funcionalidade ao local.  

Deste  modo,  esse  trabalho  consiste  na  elaboração  do  projeto  arquitetônico,  consistindo  em  um  lar  público  para  crianças  e 
adolescentes,  em  estado  de  vulnerabilidade  social  da cidade de Fortaleza. A idealização desse projeto, me traz uma sensação 
de  amor  e  esperança  em  assegurar  esse  público  tão  necessitado,  analisando  assim  também  a  escassez  de  lar  público  na 
cidade,  já que as existentes são organizações não-governamentais (OGN’s), e dependem de voluntários e patrocinadores para 
se  sustentar.  A pretensão do projeto é atender as crianças de forma integral, em um ambiente agradável e saudável em todos 
os  sentidos,  onde  vão  ser  aplicados  os  conceitos  de  biofilia,  desenho  universal,  eco-arquitetura,  psicologia  ambiental  de 
maneira que possam formar indivíduos dignos. 

Alguns  motivos  estruturam  a  justificativa  desse  projeto  e  sobressai,  como:  o  abandono  infanto-juvenil  no Ceará; que é uma 
questão  social,  segundo  LIMA  (2016).  Em  razão  da  revolução  industrial  trouxe  como  consequência  o  êxodo  rural,  que 
acarretou  a  fuga  da  seca,  de  1877,  em  direção  a  capital  Fortaleza.  A  situação  se  agravou  devido  a  grande  demanda  de 
pessoas chegando na cidade, os ‘flagelados’. Poucas famílias sobreviveram. Os casos eram de mulheres viúvas ou até mesmo 
de pais que vinham a falecer, dando origem o abandono desse público no estado, surgindo assim as instituições de orfanato.  

No  contexto  histórico  brasileiro,  antes  da  concepção  da  ​lei  ​N​º  8.069,  DE  13  DE  JULHO  DE  1990  (Estatuto  da  Criança  e  do 
Adolescente),  as  instituições  existentes  para  acolhimento  de  crianças  e  adolescentes  eram  os  antigos  orfanatos  e  colégios 
internos.  ​Durante  décadas,  essas  associações ficaram conhecidas como espaços hostis funcionando como grandes entidades 
isoladas e atendendo muitas crianças ao mesmo tempo. N​o entanto, com a criação do Estatuto a realidade tenta ser alterada e 
atualmente  no  país,  47  mil  crianças  e adolescentes estão cadastradas em acolhimento, amparadas em: abrigos, casas lares e 
orfanatos,  segundo  o  ​Conselho  Nacional  de  Justiça  (CN​J)​,  porém  ainda  há  a  concepção  de  lugares  inapropriados  para  esse 
tipo de instituição, já que trata de uma problemática tão delicada e precisa de atenção específica. 

16
Em  2010,  de  acordo  com  a  Fundação  Oswaldo  Cruz,  foi  catalogado  2.624  abrigos  no  Brasil,  que  não  era  suficiente  para 
comportar a quantidade de crianças e adolescentes.  No estado do Ceará, encontramos poucos equipamentos de lar, abrigo ou 
outras  instituições  que  visem  o  acolhimento  dos  desamparados.  Em  conformidade  com  o  portal  de  notícia  G1  (2017) 
atualmente  são  22  instituições  que  deveriam  acolher  de  20  a  30  crianças  e  adolescentes,  mas  que  chegam  a  abrigar  60 
pessoas.  Com  base  nesse  dado,  foi  realizado  um  levantamento  quantitativo  que verificou da totalidade, 16 são organizações 
não-governamentais  (ONG’s) e 6 instituições públicas. Ressalta-se assim com essa pesquisa, a importância na elaboração de 
um  lar  público,  visto  que  o  números de entidades governamentais, deste gênero, ainda não é suficiente, em meio ao número 
de  crianças  que  se  encontram  nessa  circunstância.  Além  disso,  de  acordo  com o Ministério Público do Estado do Ceará, que 
inspeciona  essas instituições, verificou-se que os abrigos encontram-se superlotados, não oferecendo uma qualidade, devida 
no acolhimento dos infantis. 

Conforme  o  IPEA, ​Instituto de Pesquisa Econômica (2003) que informa a quantidade de crianças e adolescentes, órfãs ou em 
situação  de  risco,  e  a  quantidade  de  abrigos,  mostrou  que  87%  das  crianças tem família e 58,2% mantêm vínculos afetivos 
com  familiares.  O  principal  motivo  para  isso  é  o  abandono  por  situações  financeiras  ou  até  mesmo  o  simples  abandono. 
.Sabendo  disso,  a  proposta  deste  trabalho  é  ​um  lar  que  deve  receber  crianças  e  adolescentes  que  sofrem  abandono  e/ou 
orfandade,  bem  como  para  aqueles  cujas  famílias  ou  responsáveis  encontram-se  temporariamente  ou  permanentemente 
impossibilitados de suprir sua função paterna, e precisam afastar-se por ordem judicial.  
 
Diante  dessas  razões  acima  expostas,  surge  a  concepção  da  elaboração  de  um  projeto  de  lar  público,  que procura abrigar a 
alta  quantidade  de  crianças  que  são  cadastradas  em  casas  de  acolhimento,  mas  que  encontram-se  em  instituições,  que 
comportam  um  número  excedente.  A  idealização  é  de  ambientes  que  possam  remeter  à  casa e à sua estrutura física, com a 
intenção  da  proximidade  da  realidade  familiar;  integrando  o  público  infantil  ao  local  com  ambientes  acolhedores,  lúdicos  e 
com  áreas  de  lazer;  favorecendo  o  desenho  universal, para todos os usuários; propondo alguns cuidados básicos como apoio 
psicológico,  de  saúde  e  educacional.  O  intuito dos ambientes é  oferecer um maior apoio possível a esse público, visando em 
adquirirem experiências futuras para formar indivíduos dignos. 
 
1.2 OBJETIVOS 
 
OBJETIVO GERAL: 
 
O  intuito  é  projetar  um  lar  público  de  permanência  contínua,  na  cidade  de  Fortaleza  para  45  crianças  e  adolescentes,  com 
faixa  etária  de  0  anos  até  12  anos  do sexo feminino e masculino, que sofrem com a vulnerabilidade social ou orfandade. Um 
espaço  agradável, de acolhimento e crescimento, em cima dos conceitos: da psicologia ambiental, biofilia, eco-arquitetura e o 
desenho universal para construir indivíduos dignos de forma a ressignificar a humanidade.  
 
OBJETIVOS ESPECÍFICOS:  
 
Para atender o objeto geral têm se os seguintes objetivos específicos: 
 
a) Compreender  a  demanda,  necessidades  e  as  obrigações  do  atendimento à crianças e adolescentes com 
vulnerabilidade social, na faixa etária de 0 a 12 anos; 

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  b)  Utilizar  os  princípios  da  psicologia  ambiental  de que forma que o ambiente possa interferir na qualidade de 
vida; 
 
 c) Compreender o perfil das crianças e adolescentes abrigadas no Lar Davis de forma a compreender a rotina e as 
necessidades; 
 
d)  Reunir,  conhecer,  estudar  e  aplicar  a  lei  ​N​º  8.069,  DE  13  DE  JULHO  DE  1990  (Estatuto  da  Criança  e  do 
Adolescente)  e  a  norma  de  Orientações  Técnicas:  serviços de acolhimento para crianças e adolescentes (Brasília, 
Junho de 2009), com o intuito de diagnosticar de que forma essas normas vão interferir no ambiente físico; 
 
e) Conhecer princípios e conceitos do desenho universal, biofilia e eco-arquitetura, visando a qualidade do lugar; 
 
f) Escolher, conhecer e justificar um terreno na cidade de Fortaleza para o projeto do lar público; 
 
g)  Conhecer e respeitar na legislação urbana de Parcelamento e Uso e Ocupação do solo (LEI COMPLEMENTAR N° 
236 DE 11 DE AGOSTO DE 2017) para a realização do projeto arquitetônico; 
 
 
 
1.3 PROCEDIMENTOS DE PESQUISA 
  
Para  o  desenvolvimento  e  a  efetivação  dos  objetivos  da  presente  pesquisa,  a  metodologia  consiste  em  levantamento 
bibliográfico  em:  livros,  artigos,  revistas  e  sites na finalidade de desenvolver a problemática, conhecer o tema, analisar o seu 
contexto  no  país  e na cidade em base de uma fundamentação, além do levantamento de normas técnicas e leis para conhecer 
como são as necessidades e obrigatoriedades de um lar para a realização da proposta do projeto arquitetônico. 
 
Além  das  pesquisas  bibliográficas  realizadas  para  embasar  na  parte  teórica,  outras  metodologias  mais  práticas  e  com  a 
intenção  de  criar  um vínculo com o tema, vão facilitar a compreender como funcionam as instituições, saber as necessidades 
e  a  realidade  desses  lugares  na  cidade.Para  isso  vão  ser  usados  métodos  de  pesquisa  de  visitas  nos  lares  e  entrevistas  in 
loco​ com os responsáveis que são envolvidos na problemática. 
 
Para  uma  fundamentação  e  uma  proximidade  com  a  realidade  do  projeto  arquitetônico  vai  ser  necessário  a  análise  dos 
projetos  de  referências  visando  compreender  e  fazer  uma  leitura,  de  ambientes  com  o  intuito  similares  ao  que  vão  ser 
propostos. Além de uma verificação em legislações e normas para aplicar no projeto arquitetônico. 
 
Com  isso  a  seguir,  foram  listados  todos  os  procedimentos  de  pesquisa  que  vão  ser  realizados  com  o  intuito  de  atingir  os 
objetivos específicos:   
 
-Levantamento bibliográfico em livros, artigos, revistas e sites para conhecer o tema, a sua história, o seu 
contexto no país e na cidade e para a fundamentação base para o estudo; 

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-Levantamento de normas técnicas e leis para a realização do projeto arquitetônico do lar público; 
 
-Pesquisa  de  campo  nos  lares  e  abrigos  da  cidade  de  Fortaleza  com  o  intuito de conhecer a vivência, as 
necessidades e as realidades desses lugares na cidade; 
 
-Entrevistas  in  loco  nos  lares  da  cidade  de  Fortaleza  a  fim  de,  entender  como  funciona  a  sistemática  e 
quais são necessidades e os atuais problemas; 
 
-Análise  dos  projetos  de  referências  visando  compreender  e  fazer  uma  leitura  arquitetônica  dos 
ambientes propostos; 
 
-Verificação da legislação vigente para a aplicabilidade do projeto arquitetônico; 
 
-Levantamento  de  dados  do  quantitativo  de  crianças  com  alta  vulnerabilidade  social  nos  bairros  de 
Fortaleza e sobrepor onde localiza os lares em Fortaleza. 
 
Para  facilitar  a  compreensão  foi  desenvolvido  uma  tabela  listando  os  objetivos  específicos  e  elencando  com  suas 
correspondentes metodologias de pesquisa: 

 
Tabela 1: Objetivos de pesquisa e suas respectivas metodologias 
​Fonte​: ​da autora, 2019  
 
 

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​2.0 ​CRIANÇAS EM SITUAÇÃO DE VULNERABILIDADE SOCIAL  
  
​ 2.1 Contextualização e Evolução 
 
O  conceito  de  vulnerabilidade  e  situações  de  risco  vêm  sendo  discutido  durante  vinte  anos.  E  recentemente,  na  América 
Latina,  por  se  tratar  de  região  que  a  situação  da  desigualdade  social  e  pobreza  acentuada,  essa  discussão  conceitual  ficou 
mais  evidente.  O  termo  vulnerabilidade  social  foi  introduzido  decorrente  das  epidemias  e  síndromes crescentes, a partir do 
ano  de  1980.  Já  no  Brasil,  um  país  em  crescente  desenvolvimento,  mas  com  forte  desigualdade  social,  possui  um  grande 
número  de  crianças  em  situação  de  risco social,  decorrente da pobreza e da  miséria, bem como da violação  dos direitos de 
proteção.  
 
Na  década  de  1980,  com  a  Assembleia  Nacional  Constituinte  Brasileira  foi  impulsionada  a  ideia  do  estado  social de direito, 
inserindo-se  na  Constituição  Federal  de  1988  institutos  legais,  positivando  garantias  que  define  um  estado  de  bem  estar 
social,  relacionado  com  a  garantia  de  direitos  da  cidadania.  Com  isso,  a  vulnerabilidade  pode  ser  entendida  como  uma 
condição de risco que o indivíduo se encontra ou que pode estar suscetível. 
 
Com exercício etimológico resgatamos que a conexão dos vocábulos, em latim ​vulnerare​, que significa ferir, lesar, 
prejudicar  e  bilis  ​suscetível  a  ,  teria  dado  origem  à  palavra  vulnerabilidade.  O conceito de vulnerabilidade como 
condição  inerente  ao  ser  humano,  naturalmente  necessitado  de  ajuda  ,  diz do estado de ser/estar em perigo ou 
exposto a potenciais danos em razão de uma fragilidade atrelada à existência individual derivada de contradições. 
(EUSTÁQUIA e LUBE 2018, p.5). 
 
A  vulnerabilidade  por  estar  intrinsecamente  ligado  ao  aspecto  social do indivíduo, é comum a propensão dele ao risco dessa 
problemática,  por  sofrer  com  a  estrutura  desigual  da  sociedade.  Os  fatores  resultantes  dos  problemas  sociais  não  são 
exclusivos  para  a  configuração  da  situação  de  risco,  mas  remetendo  a  alguma  situação  de  perigo,  que  esteja  vinculada  a 
fatores  sociais, como pobreza, desemprego, acesso a bens e serviços públicos e outros. Todas essas questões geram traumas 
ainda como criança, que se perduram até a vida adulta, trazendo consequências danosas. 
 
Depreende-se  que  a  vulnerabilidade  social  é  um  estado  condicionado  à  situação  de  dano em que o ser humano poderá a vir 
sofrer  ou  que  esteja  suscetível  por  possuir  desvantagem  social  em  comparação  com  o  cidadão  médio.  “Isso  porque 
percebemos  que  o  estado  de  vulnerabilidade associa situações e contextos individuais e sobretudo, coletivos” ​(EUSTÁQUIA e 
LUBE,  2018,  p.6).  ​Na  maioria  das  vezes,  constata-se  que  fatores  sociais  a  desencadeia,  mas  também  às  fragilidades  de 
vínculos  afetivos-relacionais  são  preponderantes.  “​Vulnerabilidade  se  remete  a  ideia  de  fragilidade,  de  indefesa  e 
dependência,  em  determinados  casos  pode  afetar  a  saúde,  mesmo  sem  ser  doença,  abalo  psicológico,  social  e  mental, 
afetando assim a qualidade de vida das mesmas” (FAGUNDES, 2012, p 259). 
 
Devido  a  relação  do  conceito  com  os  fatores  sociais,  sabe  se  uma  vez  que  a criança é também é um “indivíduo  inserido na 
sociedade,  ela  sofre  com  as  estruturas  sociais  que  são  oferecidas  para  ela”  (PERREIRA;  SILVA  e  FERNANDES,  2016,  p.70), 
sendo  a  soma  dessas  tipificações  e  dos  padrões  recorrentes  de  interação  estabelecidas. Sabendo que a vulnerabilidade está 
relacionada  com  a  realidade  da  vida  social,  como confirma ​Berger (1985), destaca-se que a realidade está fundamentada em 
ações  individuais  que  estabelecem  um  contexto  de  sua  vivência,  de modo que a interação e a formação do indivíduo é o que 
constrói sua realidade que pode está marcada ou não por situação de risco. 
 
Trazendo  essa  discussão  da  vulnerabilidade  para  o  público  infantil,  percebe-se  que  há  fatores  relacionados  ao  círculo  de 
convivência  sócio-familiar  em  que  está  inserido.  Os  casos  mais  comuns  são  aqueles  em  que  encontramos  a  formação  de 
crianças  em  situação:  de  pobreza  extrema;  d​e  pais  hospitalizados  ou  portadores  de  alguma  doença  que  venha  a 
impossibilitar  a  criação  da  criança;  de  pais  em  cumprimento  de  pena privativa de liberdade; por ​abuso sexual; exploração do 
trabalho  infantil;  conflitos  familiares;  riscos  no  local  de  moradia;  desamparo  familiar  e  a  falta  do  acesso  à  educação.  Outro 

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caso  de  vulnerabilidade  marcante  é  o  de abandono de incapaz, em que as mães transferem a responsabilidade do cuidado da 
criança  para  o  Conselho  Tutelar.  Assim,  todos  estes  riscos  resultam  na  falta  de  uma  melhor  perspectiva  de  vida  para essas 
crianças,  obstando  projetos  futuros  e  afetando  o  seu  desenvolvimento,  levando  muitas  vezes  a  continuar  nessas  mesmas 
condições, indefesas e por caírem em descrédito da vida.  
 
Diante  deste  problema  social,  inseriu-se  legislação  que  visava  resguardar  a  criança  como  um  cidadão  de  direitos  na 
sociedade.  A  principal  medida  de  proteção  foi  o  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente  (ECA-  Lei  ​n°  8.069/90​)  e  a 
Constituição  Federal  (BRASIL,  1988) que trouxeram como fundamento o objetivo de garantir os direitos e a proteção integral 
das  crianças  e  dos  adolescentes,  para  que  tenham  assegurados  seus  direitos  perante  a  sociedade.  Sempre  que  os direitos 
reconhecidos  no  Estatuto  forem  ameaçados  ou  violados,são  aplicadas  medidas  de  proteção,  como  as  instituições  de 
acolhimento.Ainda  assim,  a  vulnerabilidade  se  faz  presente  no Brasil, sendo frequente os riscos  e o afronto  ao estatuto,  de 
forma que esforços são realizados para que os mesmos não possam ser violados. 
 
Em  conformidade  com  o  Art.23  do  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente  (ECA),  a  falta  de  recursos  materiais  por  si  só  não 
constitui  motivo  suficiente  para  afastar  crianças  e  adolescentes  do  seu  convívio  familiar​,  caso  em  que  podem  ser 
encaminhados  para  serviços de acolhimento, viabilizando sua integração social​. O afastamento apenas é justificado quando o 
dever  de  sustento,  guarda  e  educação dos filhos menores é descumprido (Art.22) (BRASIL, 1991). Uma grande problemática 
se  discute  à  respeito  do  tema  é  a  posição  da  família  dentro  desse  contexto  social  e  educativo.  A  falta  de  atenção paterna e 
materna  em  meio  a  esse  processo  de  criação  influencia  negativamente  no  desenvolvimento  infanto-juvenil, levando a uma 
outra realidade que ameaça a vida destes. 
 
Então,  necessário  se  faz  uma  maior  atenção  às  transgressões  dos  direitos  dos  infantes.  Some-se  a  isso,  a  imagem 
construída  durante  a  infância  e  juventude  desses  desamparados,  que  certamente  acarretará  em  mudanças  profundas  como 
indivíduo,  em  sua  fase  adulta.  O  fundamental é que essas crianças possam ser acolhidas em instituições, que recebam estes 
meninos  e  jovens,  com  o  objetivo  principal  de  inclusão  social  e  de  proteção,  possibilitando  a  eles  o  exercício  de 
desconstrução  desse  ciclo  de  vulnerabilidade.  Desta  feita,  rompe-se  a  ideia  de  continuidade  do  risco  decorrente  de  fatores 
sócio-econômicos,  por  desenvolver  mecanismos  de  proteção,  apoio  e  promoção,  ao  implementar o desenvolvimento desses 
indivíduos,  preparando-os  para  o  exercício  da  cidadania  e  qualificação  laboral,  garantindo-lhes  uma  melhor  qualidade  de 
vida.  De  modo  contrário,  não  ocorrendo  esse  acolhimento,  os  pequenos  se  tornam  mais  vulneráveis  de  envolvimento  com 
drogas, tráfico, roubo, furto, violência e outras realidades da e cotidiana marcada no Brasil. 
 
De  forma  geral,  as  vulnerabilidades  das  crianças,  adolescentes  e  de  suas  famílias  manifestam-se  em 
violência  cotidiana  no  contexto  familiar  e  escolar.  A  falta  de  oferta  de  uma  educação  de qualidade, os 
baixos  salários  e  o  desemprego  afetam também a trajetória de vida desses brasileiros, obrigando-os a 
se inserirem precocemente no mercado de trabalho e/ou no tráfico de drogas (FAGUNDES, 2013). 
 
 
A  exposição  das  crianças  a  essas  situações  e  até  mesmo  por abandono familiar causa muita fragilidade, momento em que a 
força  da  lei  deve  prevalecer,  com  todos  os  direitos  garantidos.  É  de  suma  relevância  o  desempenho  da  família, que deveria 
realizar  um  papel  extremamente  importante  para  o  processo  social, já que é de responsabilidade e dever dos pais, o cuidado 
com  os filhos. Nesse período infantil é primordial o envolvimento da família durante todo esse desenvolvimento e construção 
do  indivíduo  sob  sua  guarda.  As  ações  da  família acabam interferindo no futuro das crianças. Caso os pais invistam em uma 
qualidade  de  vida  adequada,  possibilitando  melhores  condições  de  saúde,  educação,  lazer  e  cultura  às  crianças,  certamente 
elas  terão  uma  visão  de  excelência  próspera,  e,  provavelmente  levarão  para  a  sua  vida.  Ao  contrário,  se  isso  não  for 
trabalhado durante a fase infantil, os casos de risco se tornaram mais incidentes, reforçando a vulnerabilidade dos infantis. 
 

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A  vulnerabilidade  infantil  atinge  vários  pontos  da  vida  social  da  criança.  Elas  se  evidenciam por causar transtornos mentais 
em  todas  as  fases  da  vida,  principalmente  na  infância.  Então,  é  preciso  compreender  que  essas  crianças  sentem 
amargamente  a  desigualdade  social,  vivem  negativamente  sem  visualizar  um  futuro  próspero,  visto  que  não  tem  uma  vida 
digna  de  criança.  Essas  são  postas  em  situações  de  risco  não  por  escolha  própria,  mas  por  estarem  inseridas  no  contexto 
sócio-familiar  instável.  Tais  crianças  vivem  as  consequências  sociais  da  pobreza,  exclusão social e dos vínculos familiares e 
até  mesmo  da  comunidade.  Com  isso,  são  marcadas  principalmente  pela  a  autoestima  comprometida,  sentimento  de 
inferioridade,  desvalorização,  incapacidade  e  ausência  de  reconhecimento social, que as façam crer em seu próprio potencial 
como ser humano, ​existindo um forte sentimento de solidão e vazio existencial. 
 
Como  foi  dito,  ​o  Brasil  é  um  país  em  crescente  desenvolvimento,  mas  infelizmente  possui  ​grande  número  de  crianças  em 
situação  de  risco,  os  quais  demonstram  a  violação  dos  direitos  desse  público  infantil.  É  necessário reduzir esse número de 
forma  que  possa  proporcionar  um  melhor  amadurecimento  na  infância,  como  tentativa  também  de  reduzir  a  desigualdade 
social.  Os  reflexos  desses  índices  são visualizados no grande número de crianças em trabalho infantil, as que sofrem abusos 
sexuais,  ou  que  passam  fome,  bem  como  por  quaisquer  circunstâncias  de  não  receberem  os  devidos  cuidados  pelos  pais 
e/ou responsáveis. 
 
Os  estudos  históricos  e  sociológicos  sobre  infância  e  adolescência  têm  produzido  uma análise crítica 
dos  avanços  jurídicos na área de proteção e dos direitos da criança ,sem deixar de problematizar o tipo 
de  representação  social  que  vai  sendo  constituída  sobre  a  criança  e  o  adolescente  no  contexto  das 
práticas sociais (SOUZA ,2010, p.93). 
  
Nessa  situação  de  vulnerabilidade  social  implica  que  é  necessário  trabalhar  sobre  essa  problemática,  cuja  a  adoção  de 
medida,  em  alguns  casos,  pode  ser  dada  por  ordem  do  Conselho  Tutelar,  para  que  possam  ser  levadas  às  instituições  de 
acolhimento  de  crianças  e  adolescentes.  Nestas  entidades  deverá  ser  trabalhado  esse  tema, no qual haverá um papel mútuo 
como  família  e  comunidade,  de  forma  que  possam  acolher,  amparar  e  apoiar  os  pupilos  para serem cidadãos dignos para o 
futuro.  ​Indispensável  assim  abordar  esse  contexto  do  acolhimento  por  essas  instituições​,  principalmente  pela  fragilização 
dos  vínculos  afetivos,  relacionais,  de  pertencimento  social  ou  vinculados  à  violência.  “As  relações  em  contexto  de 
vulnerabilidade  social  geram  crianças,  adolescentes  e famílias passivas e dependentes, com a autoestima consideravelmente 
comprometida”​ (SANTOS, 2018). 
 
A  realidade  de  quando  não  acontece  o  acolhimento  é  bem  diferente.  A  falta  de  oferta  de  uma  educação  de  qualidade,  os 
baixos  salários  e  o  desemprego  afetam  também  a  trajetória  de  vida  desses  pequenos  brasileiros,  obrigando-os  a se inserir 
em  uma  perspectiva  de  vida  inadequada  à  idade.  Estando  exposto assim à vida de rua e a vários fatores de risco, que podem 
torná-los  mais  vulneráveis,  provocando  o  envolvimento  com  drogas,  gravidez  precoce,  prostituição,  e  prática  de  roubo,  por 
não suprirem as necessidades básicas. 
 
Com  isso,  segundo  Santos  (2018),  a  reflexão  da  problemática  é  bem  ampla  do  que se imagina, é necessário entender como 
se relaciona as possibilidades de um serviço que acontece com vários atores, que no caso são: crianças, adolescentes, família, 
escola,  comunidade,  serviço  de  saúde,  Serviços  de  Assistência  Social,  Justiça  da  ​Infância  e  da  Juventude,  Delegacia  de 
Proteção  da  Criança  e  do  Adolescente,  Conselho  Tutelar,  serviços  de  acolhimento  institucional  (Abrigo,  Casa-lar,  Serviço de 
Acolhimento  em  Família  Acolhedora  e  República)  e  demais  órgãos  do  Sistema  de  Garantia  de  Direitos.  Todos  eles  são 
responsáveis  pela  execução  de  serviços  nas  áreas  de  cultura,  lazer,  geração  de  trabalho  e  renda,  habitação,  transporte, 
capacitação  profissional  e  pela  garantia  do  acesso  das  crianças,  adolescentes  e  suas  famílias  a  estes  serviços,  que  devem 
funcionar juntos proporcionando uma nova vida para esses jovens. 

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2.2 Políticas Públicas 
 
Diante  da  relevância  da  vulnerabilidade  social  destaca-se  a  importância  da  implementação  de  políticas  públicas  para  o 
enfrentamento  dessa  problemática.  Constatada  a  existência de vários índices socioeconômicos agravantes, o estado realiza 
programas  assistenciais  e  políticas  de  intervenção,  com  a  finalidade  de  atingir  na  base  dos  fatores  de risco, na infância e 
adolescência.  Essas  diretrizes  assistenciais  de  política  pública  têm  o  objetivo  de  trabalhar  a  proteção  social,  visando  à 
efetivação  da  cidadania  e  o  desenvolvimento  dos  desamparados,  de  forma  que  lidem  com  a  questão  da  vulnerabilidade  e 
outras problemáticas sociais, reduzido seus efeitos intrínsecos e extrínsecos. 
 
É  necessário  o  reconhecimento  prioritário  do  acolhimento  assistencial  público  em  relação  à  demanda  de  crianças  e 
adolescentes,  de  forma  que  venha a promover saúde, educação e lazer entre outras necessidades básicas. O grande desafio 
é  realizar  as  políticas  de  atendimento  e  de  auxílio  às  crianças  existentes  para  que  convirjam,  buscando  a  interação  dos 
órgãos executores, de forma a trabalhem de modo contínuo, para assegurar os direitos desses sujeitos. Precisa-se da soma 
de esforços e de uma articulação na gestão pública para busca de soluções e tomada de decisões necessárias, condizentes à 
implementação  de  ações  eficazes,  com  perspectiva do desenvolvimento de processos evolutivos na sociedade e redução da 
vulnerabilidade. 
 
Para  realização  disso,  a  Constituição  Federal  (BRASIL,  1998)  e  ações  públicas  de  assistência  social  e  de  saúde  garantem 
que  a  população  é  usuária  desses  serviços,  tendo  direito  ao  acesso  e  usufruto,  criando-se  o  exercício  e  sentimentos  que 
influenciam  nas  práticas  de  atos  de  cidadania.  As  articulações  de  ações  públicas  para  a  população,  são  garantidas  na 
Constituição  Federal  no  Art°  224,  que  prevê:  “A  política  de  atendimento  dos  direitos da criança e do adolescente far-se-à 
através  de  um  conjunto  articulado  de  ações  governamentais  e  não  governamentais,  da  União,  dos  Estados,  do  Distrito 
Federal  e  dos  municípios”  (BRASIL,  1988) promovendo assim  o desenvolvimento de saúde, educação e lazer entre outros, 
“[...]  à  organização  das  Políticas  de  Estado  e  bem-estar  social,  que  configuram  os  componentes  de  oportunidades  que 
provêm do Estado do mercado e da sociedade como um todo” (PERREIRA; SILVA e FERNANDES, 2016, p.71). 
 
O  início  da  regulamentação  da  política  pública  de  assistência  social  aconteceu  em  um  cenário  de 
conflitos  e  contradições,  na  sequência  das  normativas  da  política  pública  de  saúde. Em 2004, quando 
foi  instituída,  a  Política  Nacional  de  Assistência  Social  (PNAS)  explicitou  em  seu  texto  que  a 
vulnerabilidade  social,  expressa  por  diferentes  situações  que  podem  acometer  os  sujeitos  em  seus 
contextos de vida, é o campo de atuação de suas ações (EUSTÁQUIA e LUBE 2018, p.2). 
 
O  governo  respaldado  na  Constituição  Federal  criou  medidas  que  pudessem  assistenciar  essas  crianças,  ou  excluídas por 
algum  motivo,  de  forma  a  minorar  os  riscos  das  mesmas.  Entre  essas,  tais  medidas existentes têm: Estatuto da Criança e 
do  Adolescente  (ECA),  Conselho  Municipal  de  Direitos  da  Criança e do Adolescente (CMDA), Conselho Tutelar, Delegacia de 
Proteção  à  Criança  ao  Adolescente  (DPCA)  e outros programas de assistência do governo, Programa Bolsa Família (PBF) e 
o Programa Saúde na Escola (PSE). 
 
Todas  essas  medidas  que  foram  introduzidas  por  legislação, estão em pleno vigor e têm o sentido de beneficiar e fornecer 
assistência  à  esse  grupo  de  necessitados,  numa  tentativa  de  enfrentamento  desses  riscos,  que  a  vulnerabilidade  vem  a 
causar.  

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Alguns  programas  assistenciais  do  governo  também  ajudam  a  beneficiar  não  só  crianças  que sofrem dessa problemática, 
mais  também,  as  suas  famílias  através  dos  programas  como  o  Programa  Bolsa  Família  (PBF)  e  o  Programa  de Saúde na 
Escola  (PSE).  Resultando  na  redução  da  pobreza,  diminuição da desigualdade de renda e até uma maior frequência escolar 
garantindo  que as crianças não submeter a situações vulneráveis, como por exemplo o  trabalho infantil. “Políticas públicas 
de  auxílio/atendimento  a  crianças  vem  atuando  de  forma  eficaz  no  que  diz  respeito  aos  direitos  violados destes sujeitos, 
gerando  assim,  diretamente  ou  indiretamente  as  situações  de  risco  e  estado  de  vulnerabilidade  na  vida  da  criança  e  do 
adolescente” (PERREIRA; SILVA e FERNANDES, 2016). 
 
Para  o  enfrentamento  dessa  questão  a  Constituição  de  1988  proporcionou a abertura de direitos, com isso um dispositivo 
legal muito importante foi criado, o Estatuto da Criança e do Adolescente lei n° 8.069 foi criada em 13 de julho de 1990, no 
Brasil  em  seu  conjunto  tem  como  objetivo  a  proteção  integral  da  criança  e  do  adolescente, de forma a garantir através de 
medidas corretas os seus direitos à vida, saúde e educação, como também na realização de políticas públicas para combater 
a  realidade  da  vulnerabilidade  social,  de  maneira  que  possam  permitir  o  crescimento  e  desenvolvimento  em  condições 
dignas.  
 
O Estatuto define que crianças e adolescentes são cidadãos que tem direito que são garantidos no estatuto pelo artigo 4°: 
 
É  dever  da  família,  da  comunidade,  da  sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta 
prioridade,  a  efetivação  dos  direitos  referentes  à  vida,  à  saúde,  à alimentação, à educação, ao esporte, 
ao  lazer,  à  profissionalização,  à  cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade, e à convivência familiar e 
comunitária (BRASIL, 1990). 
 
O  ECA  também  dispõe  sobre  os  casos  de  maus  tratos,  opressão  ou  abuso  sexual  realizados  pelos  pais  ou  por  alguma 
pessoa  responsável,  que  de  acordo  com  estatuto,  uma  autoridade  judiciária  irá  promover  o  afastamento  do  agressor  da 
moradia  como  também  da  criança.  O  estatuto  estabelece  outros  casos  específicos  como  o  envolvimento  em  drogas, 
gravidez  na  adolescência  e  quaisquer  tipos  de  casos,  que  a  crianças  ou  adolescentes  possam  ficar  vulneráveis  a  riscos, 
direcionando  esses  casos  à  ordens  judiciais,  acompanhando  nas  participações  de  setores  públicos  e  outras  medidas  que 
venham a proteger e afirmar suas vantagens. 
 
Sabendo  assim  da  importância  da  elaboração  do estatuto, posto que consiste na afirmação das garantias dessas crianças e 
adolescentes, de maneira que as mesmas possam passar ou não por momentos frágeis e de risco. Afirma-se que: 
 
[...]  o  estatuto,  vem  sofrendo  oposições  de  várias  ordens  conservadores.A  resistência  e  o 
pronunciamento  de  críticas  contra  a garantia de direitos e crianças e adolescente apresentam traços 
culturais.A  falta  da  noção  de  ‘possuir’  direitos  e  de  mecanismo  que  garantam o acesso aos direitos 
tornam  difícil  convencer  a  população  brasileira  sobre  a  importância  do  teor  do  ECA  (FAGUNDES; 
KRIS; LANE; VELOSO e MELO, 2013, p.261). 
 
Apesar  dessas  oposições  e  críticas  ressalta-se  a  importância  da  sua  criação,  como  estatuto  propõe  o  seu  envolvimento  e 
atuação  com  a  sociedade,  através  das  Organizações  Não  Governamentais  (OGNs),  criação  de  fóruns  e  Conselhos,  que 
formulam  e  acompanham  a  execução  das  políticas  públicas.  Essas  diferentes  atuações  de  representações  sociais  e 

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governamentais  exercem  um papel muito importante, que é o de aplicação desses direito de forma prática, a favor do ECA, ao 
executar o exercício das suas atribuições como lei.  
 
Os  Conselhos  de  Direitos  são  órgãos  deliberativos,  decisivos  e  justos,  responsáveis  por  assegurar  na  união  de  estados  e 
municípios  a  prioridade  da  infância  e  do  adolescente,  além  da  política  de  atendimento  desse  público.  Como  também  é  sua 
função  a  fiscalização  do  cumprimento  da  legislação,  que  rege  os  direitos  dos  mesmos.  São  feitos  de  forma  partidária,  por 
representantes  do  governo  e  da  sociedade,  vinculados  por  administração  ao  governo  do  estado  ou  por  município,  têm 
autonomia  para  acionar  os  Conselhos  Tutelares,  as  Delegacias  de  Proteção  Especial,  as  Defensorias  Públicas  e  os  Juizados 
Especiais da Infância e Juventude, ou quaisquer outros órgãos que são responsáveis pela proteção de direitos e adolescentes.   
 
Outro  conselho  também  atuante  é o Conselho Tutelar que é um órgão público, autônomo e não jurisdicional. Tem como papel 
zelar  as  medidas  de  proteção,  apoio  e  orientação  às  crianças  e  aos  adolescentes,  de  forma  a  serem  cumpridas.  Atuam  no 
âmbito  do  município,  a  sua  função  é  atender  esse  público  que  sofreu  ou  passou  por  alguma  situação  de  abandono,  maus 
tratos  ou  por  qualquer  circunstância  de  violência.  Esse  órgão  deve  responsabilizar  com  o  completo  estado  de  bem  estar 
físico,  mental  e  social  acionando  e requerendo serviços nesses âmbitos, além do encaminhamento ao Ministério Público, em 
caso de descumprimento dos direitos garantidos, todas as atribuições são dispostas no Art. 136 do ECA (Brasil, 1990).  
 
Além  do  estatuto  são  inseridos  também  os  Conselhos  que  visam  os  direitos  da  criança  e  adolescente,  como  foi  descrito 
acima.  A  delegacia  de  Proteção  à  Criança  ao  Adolescente  (DPCA) auxilia e trabalha junto com os conselhos, com a função de 
investigar,  fiscalizar,  instaurar,  inquéritos  e  procedimentos  judiciais  nos  casos  de  infração  penal  contra  crianças  e 
adolescentes;  o  Comissário  da  Vara  da  infância  e  da  Juventude  que  trabalha  na  fiscalização  das  normas  de  prevenção  e 
proteção às crianças e adolescentes.   
 
Nesse  sentido,  a  criação  de  alguns  programas  governamentais  vêm  para  complementar,  dentro  desse  mesmo  objetivo,  de 
garantir  os  direitos  que  são  expostos  no  ECA.  O  programa  do  Governo  Federal,  Bolsa  Família  (PBF) criado em 2003, com o 
intuito  de  beneficiar  não  só  as  crianças  e  os  adolescentes,  como também as famílias carentes do Brasil, ou seja a população 
mais  vulnerável,  de  forma a propor uma qualidade de vida às famílias, suprindo a fome e a pobreza. É um forte programa das 
políticas públicas sociais que trabalha na tentativa de reduzir as taxas de pobreza e desigualdade social.  
 
Na  primeira vigência de 2011, os órgãos competentes de saúde, registraram acompanhamento de 7,35 
milhões  de  famílias  cadastradas,  no  PBF  , constituído por crianças menores de sete anos ou mulheres 
de  14  a  44  anos.Entre  as  crianças,  71,0%  totalizam  4,24  milhões  de  beneficiados,  acompanhadas 
integralmente (FAGUNDES; KRIS; LANE; VELOSO e MELO, 2013, p.262). 
 
Outro  programa  também  com  o  mesmo  objetivo,  é  o Programa Saúde na Escola (PSE) une a educação e a saúde, um projeto 
político-pedagógico  com  a  perspectiva de uma assistência à saúde das crianças, adolescentes e jovens integradas dentro das 
escolas  de  ensino  básico.  Prevê  avaliações  clínicas,  nutricionais,  psicossociais  entre  elas  avaliações  da  saúde  bucal, 
alimentação  saudável,  saúde  sexual,  conscientização do tabaco e drogas entre outras ações que são promovidas. Ações essas 
que são direcionadas a questão da vulnerabilidade, e que afetam o desenvolvimento de crianças e jovens. 
 
Conclui-se  então  que  alguns  avanços  foram  realizados  no  que  diz  a  respeito  as  políticas  públicas,  constando  que  possam 
intervir  nos  problemas  de  risco  na  infância  e  adolescência,  mas  ainda  necessita  trabalhar  para  garantir o direito integral da 

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mesma,  conforme  rege  o  estatuto.  Deve-se  propor  estratégias  de  conscientização,  de  maneira  que  essas  leis  e  direitos 
existem,  assim  como  devem  serem  cumpridas.  Ressalta  também  a  importância da criação de abrigos, espaços comunitários 
que acolham as crianças e adolescentes que sofrem riscos e necessito assim de um afastamento familiar. 
 
3. SERVIÇO DE ACOLHIMENTO  
 
3.1 Histórico do serviço de acolhimento 
 
No  período  colonial,  com  a  descoberta  do ‘Novo Mundo’, os portugueses chegaram no Brasil com a intenção de explorar tudo 
que  o  país  tinha  a  oferecer.  A  assistência  à  crianças  seguia  por  determinação  de Portugal, aplicadas pela corte e pela igreja 
católica,  pois o processo de catequização acontecia também com os infantes indígenos. Foi estabeleceram uma relação direta 
com  a  população nativa existente, que eram resistentes à cultura européia, porém foram adotadas algumas estratégias com o 
fim de explorar e povoar o novo território.  
 
Com  o  intuito  de  converter a população nativa ao cristianismo, principalmente crianças e adolescentes, foram lhes ensinados 
a  leitura  e  a  oração,  destacando-se  a  Companhia  de  Jesus,  liderada  por  Manuel  da  Nóbrega.  Deste  modo,  surgia  uma 
oportunidade de inserção na sociedade, fazendo com que entregassem seus filhos para a catequese. Assim, passou com mais 
frequência  ver  crianças  órfãs,  acompanhando  os  padres  nas  missões.  Não  havia  planos  estruturados  para  educar  e 
profissionalizar  as  crianças  e  adolescentes  desamparados,  essas  ações  tinham  cunho somente religioso e não de mudanças 
sociais.  “Logo,  com  a  intenção  de  não  só  catequizar,  mas  sim  de  ‘arrebanhar’  todos  e  quaisquer  indivíduos  acerca do novo 
território português, muitas crianças foram afastadas das suas tribos em prol da ‘educação’ ”(BAPSTISTA, 2010).  
 
Além  da  inclusão de valores culturais durante o período de colonização portuguesa nas terras brasileiras, por volta de 1550 e 
1553,  foram  criadas  as  Casas  Muchachos,  que  funciona  quando  as  crianças  separadas  das suas famílias, passavam a morar 
em  abrigos  e  eram  educadas  por  padres.  Essas  casas  recebiam  órfãos,  crianças  indígenas  e  enjeitados  vindos  de Portugal, 
dando  origem às primeiras instituições de acolhimento. Funcionavam como espaço para a catequização dos indígenas e local 
para  intermediação  dos  nativos  com  os  jesuítas.  ‘A  dificuldade  financeira  de  muitas  famílias  era  outra  causa  frequente  do 
aumento  dos  casos  de  desamparo  infantil’  (MARCÍLIO,  2006).  Com  as  diferentes  perspectivas  de vida e a não adequação ao 
modelo  europeu,  a  miséria  e  o  abandono  aumentaram. A infraestrutura não refletia no cuidado que se propuseram para com 
as crianças.   
 
Até  meados  dos  século  de  XIX,  ainda  existia  esse  cunho  religioso  uma  vez  que,  nessa  época  o  clero recebia forte influência 
sobre  as  decisões  do  Estado.  O  atendimento  às  crianças  em  situação  de  vulnerabilidade  social  neste  século  era 
exclusivamente  por  conta  da  igreja,  que  desenvolvia  com  caráter  emergencial  e  mantida  por  conta  de  doações,  ou  seja, 
assumindo a responsabilidade por esse acolhimento. 
 
Era  muito  comum  também  o  acolhimento  de  forma  informal,  que  consistiam  em  residência,  de  pessoas  com  a  classe 
econômica  elevada,  recebiam  na  informalidade  esses  desamparados.  Eram  denominadas  de  criação  de  expostos.  Nessas 
espécie  de  acolhimento,  as  crianças  sofriam  por  essa  condição,  sendo  chamadas  de  ‘filhos  de  criação’  e  não  tinham  os 
mesmos  direitos  que  os  residentes  da  casa.  ‘Os  abrigados  prestavam  serviços  domésticos,  em  troca da moradia e alimento 
enquanto  as  famílias  afortunadas acreditavam que esse ato de caridade estaria salvando as próprias almas’  (SAVI, 2008). Os 

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assistenciados  entravam  dentro  de  um  contexto  de  escravidão  ‘[...]  ora  [  os  filhos  de  criação]  eram  aceitos  como  filhos  da 
família, ora se confundiam com os serviçais da casa onde eram criados’ ( MARCÍLIO, 2006, p.139) 
 
Do  ponto  de  vista  legal,  as  Câmaras  Municipais  eram  as  responsáveis  pelo  cuidado  dos  mesmos.  A  incubencia  era  ajudar 
financeiramente  as  famílias  dispostas  a  cuidar  das  crianças,  ou  estabelecer  convênios com as Santas Casas de Misericórdia. 
Assim  as  primeiras  instituições  de  acolhimento  surgem  de  fato,  em  meados  do  século  XVIII,  foram  as  Santas  Casas  de 
Misericórdia,  as  crianças  eram  abandonadas  pela  ‘roda  dos  expostos’  ou  ‘roda  dos  enjeitados’  ​(Figura  1)​,  um  sistema  de 
recolhimento  de  crianças,  principalmente  recém-nascidos,  por  uma  espécie  de  cilindro  instalado  na  porta das instituições, 
com um giro entravam no edifício de forma a garantir o anonimato evitando em constrangimentos, a morte dessas crianças e 
até mesmo os abortos. 
 

​  
​ ​ ​Figura 1: Roda dos Expostos da Santa Casa de Misericórdia São Paulo   
Fonte: ​https://www.facebook.com/rodadosexpostos/​ Acesso 25/09/19. 
 
Geralmente,  as  Santas  Casas  eram  ambientes,  em  sua  maioria,  insalubres  e  precários,  com  atendimento focado como única 
preocupação  a  moradia  e  o  alimento  à  criança,  não  havendo  nenhum  vínculo  familiar  aos  abandonados  e  nem  um  possível 
retorno  à  família  de  origem.  A  tentativa  da  utilização  da  roda,  se  mostrou  ineficiente  uma  vez  que,  a  falta  de  recursos, 
resultava  em  altas  taxas  de  mortalidade  infantil,  segundo  Marcílio  (1998).  A  roda  dos  expostos  foi  extinta  no  Brasil,  e  seu 
último  registro  foi  no  ano  de  1951,  em  São  Paulo.  Além  da  roda,  aos  poucos  foram  surgindo  instituições  para  crianças 
maiores, como os recolhimentos de meninas e os colégios internos para os meninos. 
 
Em  meados  do  século  XIX  ,  algumas  mudanças  socioeconômicas  aconteceram  no  Brasil,  entre  essas  tais  mudanças estão o 
crescimento  das cidades brasileiras e consequentemente, a exclusão de grandes camadas sociais, além da aprovação das Leis 
do Ventre Livre e Lei Áurea, levando assim no aumento do número de crianças abandonadas nas instituições. 
 
No  Ceará,  com  a  seca  que  aconteceu  em  1877,  ocorreu  a  migração  de  famílias  para  a  metrópoles,  devido  a  dificuldade  de 
permanência  no  meio  rural,  aumentando  a  população  na  cidade  e  havendo  uma  reconstrução  na  estrutura  familiar  forçado 
por  esse  êxodo.  Por  essa  razão,  ocorreu  um  grande  número  de  crianças  pobres  e  órfãs,  decorrente  pelo  abandono  ou  por 
falecimento dos pais. 
 

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O  Estado  passa  assim  a  prestar  assistência  à  essa  população  carente,  mas  as  medidas  tomadas  para  solucionar  são  mais 
inibidoras  do  que  assistenciais.  Essas crianças são vistas como potencial alarmante para o aumento da marginalidade, assim 
como  da  violência.  Logo  as  providências  tomadas,  eram  mais  relacionadas  a  inibir  as  ações  de  criminosos  do  que  de 
proporcionar  um  bem  estar  social,  de  modo  a  ampará-las.  ‘As  ações  tinham  iniciativa  religiosa  e,  até  a  década  de  20  do 
século  XX,  o  Estado  permanecia  omisso  quanto  às  suas  obrigações  de  assistência  às  crianças  e jovens abandonados, dando 
espaço  exclusivamente  para  as  instituições privadas’ (SAVI, 2008). Surge então no Brasil o primeiro estabelecimento público 
para crianças e adolescentes no Rio de Janeiro, em 1922. 
 
Assim  grandes  estabelecimentos  de  internação  foram  construídos  no  país,  chamadas  instituições  totais.  O  objetivo  era 
retirar  as  crianças  órfãs,  pobres  e  abandonadas  da  rua,  para  educar-las  e  prepará-las  para  a  vida  futura.  Esses 
estabelecimentos eram prédios de amplas dimensões, longos corredores, muitos dormitórios, localizado distante de bairros e 
da  sociedade,  além  do  tratamento  diferenciado.  A  ​Figura  2,  3,  4 e 5 mostra alguns exemplos dessas instituições totais, que 
no  caso  é  da  Santa  Casa  de  Misericórdia  em  São  Paulo,  onde  se  percebe  a  localização  rural  desses  estabelecimentos  e  o 
número  excessivo  de  crianças  atendidas.  Ficaram  popularizados  entre  as famílias de baixa renda, que queriam oferecer uma 
condição de vida melhor. 
 
 

  
Figura 2 - Exemplo da Instituição Total  
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo. 
​https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2 
Acesso 07/10/19 

 
Figura 3 - Exemplo da Instituição Total  
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo. 
​https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2 
Acesso 07/10/19 

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Figura 4 - Exemplo da Instituição Total  
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo. 
​https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2 
Acesso 07/10/19 

 
Figura 5 - Exemplo da Instituição Total  
Fonte: Acervo Fotográfico da Santa Casa de São Paulo. 
​https://www.santacasasp.org.br/portal/site/quemsomos/museu/pub/8689/web-site-museu---acervo-fotografico-2 
Acesso 07/10/19 
 
Em  1929,  Nova  Iorque  passa por uma crise da bolsa de valores que afetou não só o Brasil, como também o mundo todo, esse 
período  é  marcado  por  transformações  econômicas,  sociais  e  demográficas.  A  partir  de 1930, o discurso de proteção social 
ganha  visibilidade.  Em  1927,  surge  o  Código  de  Menores,  uma  legislação  que  defende  a  pobreza  como  questão  para  a 
marginalidade,  e  para  resolver  os  problemas  de  violência  justifica  a  importância  que  o  lugar  da  criança  é  no  acolhimento, 
para essas crianças que vivem em situação de desvio e afastamento dos pais.  
 
Devido  a  alguns  efeitos  do  início  da  industrialização  e  mudança  do  campo  para  a  cidade,  devido a expansão demográfica, o 
que  acontece  é  um  rápido  crescimento  urbano  na  população  e  com isso atrelado a questão da necessidade de infraestrutura 
de  novas  instituições  para  atender  a  demanda  existente.  Com  isso,  são  criados  vários  estabelecimentos  de  assistência  e 
proteção  ao  menor,  entre  eles  o  SAM  (Serviço  de  Assistência  a  Menores)  espaço  não  constava  com  a  diferenciação  dos 
internos. 
 

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A  partir  dos  anos  de  1960,  influenciados  pelo  governo  através  do  Regime  Militar,  o  em  1964,  o  SAM  é  extinto,  a  infância 
passou  a  ser  competência  do  governo militar, onde chamavam as crianças de ‘menor’ e eram tratados como um problema de 
segurança nacional.  
 
Assim  começaram  a  surgir  medidas  como  a  criação  da  Fundação  Nacional  do  Bem-estar do Menor (FUNABEM), baseada na 
ideologia  de  segurança  nacional,  reveste  do  propósito  de  reeducar  os  jovens  com  a  estratégia  de  implantar  o  bem  estar 
social,  absorvendo  a  assistência  social  dos  menores,  buscando  acabar  com  os  métodos  repressivos  das  instituições  de 
internação.  
 
O  objetivo  era  ‘a  massa  crescente  de menores abandonados não viesse a transformar-se em presa fácil do comunismo e das 
drogas’  (RIZZINI  E  PILOTTI,  2011,  p.27).  Com  isso,  e  o  interesse  de  propor  um  desenvolvimento  a  essas  crianças  teve  a 
criação  também  das  Fundações  Estaduais  do  Bem-estar  do  Menor  (FEBEM),  em  1970,  a  mudança  foi  só  na  nomenclatura, 
pois  o  espaço  era a mesma estrutura física, a internação em larga escala e  dos ‘menores irregulares’, ficando conhecido pela 
repressão  e  assistencialismo.  Na  década  de  70  é  que  dão  incentivo  para  a  redemocratização  da  política,  após  tornar essas 
fundações ficarem conhecidas como lugar de tortura e espancamento dos internos. 
 
Essas  instituições  tinham  o  intuito  de  educarem  as  crianças  como  estímulo  para  reinserção  na  sociedade.  Nelas  eram 
abrigadas  tanto  crianças  que  sofrem  pela  vulnerabilidade  social,  como  também  aquelas  que  cometeram  algum  crime.  Com 
isso,  a  fundação  não  era  vista  com  bons  olhos  pela  sociedade,  independentemente  do  motivo  que  as  levaram  ao  local  de 
acolhimento,  e  muitas  não  queriam  ficar  lá.  Assim  surgiram  as  rebeliões, e aos poucos a questão da carência e dos  direitos 
das mesmas foi deixado de lado. 
 
Através  dessas  organizações  é  possível  caracterizar  o  modelo  tradicional  que  se  comportam  tais  associações.  Com  o 
atendimento  aglomerado  e  de  longa  permanência,  elas  não  respeitavam  as  individualidades  dos  internos. Muitas vezes, em 
um  quarto  residiam  várias  crianças,  enfatizando o cuidado massificado, além de não trabalhar uma inserção das crianças na 
comunidade,  afastando  a  perspectiva  de  preservar  os  laços  familiares,  vindo  a  promover  a  segregação  e  isolamento.  ‘  A 
ênfase  da  proteção  social  especial  deve  priorizar a reestruturação dos serviços de abrigamento para as novas modalidade de 
atendimento.  A  história  dos  abrigos  e  asilos é antiga no Brasil. (...) São chamados orfanatos, internatos, educandários, asilos 
entre outros(...)’ (PNAS, 2004) 
 
As  denúncias  de  falta  de  estrutura  física,  torturas,  maus  tratos  e  rebeliões  resulta  na  formulação do novo  Código de Menor 
em  1979,  sendo  esse  o  segundo  código,  levando  esse  sistema  repressivo  de  tratamento  do  menor  à  falência.  Os  jovens 
deixam de ser abandonados e passam a ser considerado ‘em situação irregular’. 
 
Entre a década de 80 e 90 transformações bruscas aconteceram a cerca dos movimentos populares em defesa dos direitos da 
cidadania,  que  ganharam  força  pelo  país,  gerando  debates entre os defensores da proteção dos menores e os conservadores 
que  defendiam  e  se  preocupavam  com  o  Código  de  menores  e  de  cidadania.  ‘Mesmo  com  esse  contraponto  de  ideias 
acontecendo  foi  possível  fundar  o  Fórum  Nacional  de  Defesa  da  Criança  e  do  Adolescente  (Fórum  DCA),  que  se  tornou  o 
principal  interlocutor  social  que  procurava inserir os direitos das crianças e adolescentes na Constituição.’ (SAVI, 2008). Fica 
clara  a  necessidade  de  reformular  o  sistema  de  assistência  que  estava  falido,  o  que  culminou  em  na  Constituição  Federal 
Brasileira de 1988. 
 

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Com  o  novo  regime  democrático  brasileiro,  fundado  com  o  advento  da  República,  novos  questionamentos  sobre  a  infância 
deram  origem  a  uma  perspectiva  mais  humanista  bem  como  a  promulgação  da  constituição  de  1988,  o  legislador 
constituinte  procurou  garantir  direitos  às  crianças,  de forma que elas não pudessem ficar abandonadas, dando lugar a novos 
serviços  de  acolhimento,  de  maneira  a  assegurar  a  inclusão  social,  que  deveria  ser  aplica  para  aqueles  que  não  se 
enquadraram no modelo imposto pela sociedade, considerados desprotegidos.  
 
Após  anos  de  discussões  e  debates  por  parte  do  Fórum  DCA,  em  19 de julho de 1990, ‘Finalmente em 1990, foi aprovado o 
ECA,  Estatuto da Criança e do Adolescente, que definiu os direitos das crianças e adolescentes, redefinir os deveres do Estado 
e  da  sociedade  civil  e  reorganizar  as  atribuições  e  competências  do  poder  público  federal,  estadual  e  municipal’  (SANTOS, 
1992).  Que  é  a lei vigente atual para crianças e adolescentes, concebidos como provedores de direitos de forma que, venham 
a garantir o desenvolvimento desses indivíduos, proteger e estipulando também regras a serem seguidas para as instituições 
de abrigamento. 
 
Com  o  passar  dos  tempos,  as  unidades  de  acolhimento  existentes  no  país  modificaram  suas  condutas,  o  intuito  dessas 
instituições  passaram  a  ser  de  acolher/cuidar  crianças e adolescentes, em situação de vulnerabilidade social. Deixava assim, 
o  modelo  anterior,  que  fundava-se  por  um  atendimento  desumano  e  rígido,  a  política  repressiva  e  refletindo  na  proposta 
socioeducativa. O ECA representa grande avanço no tratamento, que foi refletido no espaço arquitetônico. 
 
Seguindo  até  os  dias  de  hoje,  as  unidades  são  consideradas  equipamentos  de  proteção  emergencial  e  provisório  dessas 
crianças,  em  decorrência  de  terem  seus  direitas  ameaçados  devido  a  algum  motivo  relacionado  à  vulnerabilidade  social, 
mostrando assim a prática sob a lei apesar de um processo lento e complexo. 
 

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Gráfico 1: Linha do tempo com os acontecimentos com relação a história do abrigamento no Brasil. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
  
 
 
 

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3.2 O Estatuto e sua repercussão na arquitetura  
 
A  criação  do  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente  (ECA),  em  1990,  é  considerado  um  grande  marco  para as mudanças das 
instituições,  com  alternativas  lúdicas  e  mais  individualizadas  dos  ambientes,  como  foram  previstas  na  lei.  Antes  da 
legalização  do  ECA,  as  crianças  abandonadas  eram  abrigadas  em  orfanatos,  reformatórios,  internatos,  educandários  que 
tinham  estadias  permanentes  e  em  massa,  não  prevalecendo  a  característica  do  acolhimento  familiar  e  educacional  após  a 
promulgação da lei.  
 
As  entidades  de  acolhimento  anterior  a  criação  do  Estatuto  eram  conhecidos  por  suas  rotinas  e  as  regras  rígidas  e 
uniformes,  sem  oferecer  um  serviço  individualizado,  não  prevalecendo  a  personalidade  de  cada  criança.  Muitas  vezes,  elas 
perdiam  o  vínculo  familiar,  ficando  fadadas  a  crescer  nos  orfanatos,  com  privação  de  afeto  e  referências  familiares.  Os 
funcionários  eram  chamados  de  monitores  ou  pajens  e  tinham  como  função  cuidar  da  rotina  e  cuidados  básicos,  além  de 
controlar e punir desvios de conduta.  
 
Os  locais  eram  afastados  da  comunidade  e  pautadas  em  um  trabalho  assistencial  e  de  caridade.  Dentro  desses  espaços 
aconteciam  atividades  educacionais,  atendimentos  relacionados  à  saúde  e  outras  aquelas  que  visavam a recreação, o que as 
privavam  de  sua  inserção  na  comunidade.  Todas  essas  características  do  local  eram reflexos do contexto histórico-social da 
época, bem como da ausência de importância das crianças e das classes menos favorecidas. 
 
Registra-se  as  mudanças  entre  as primeiras instituições que no caso foram improvisadas para receber esse novo uso. O que 
marcava  a  estrutura  arquitetônica  era  o  pátio  interno,  o  que  facilitava  a  ampliação  de  futuras  construções,  organizados  em 
pátios  conectores  para  o  controle  de  atividades  que  era  realizadas,  no  local.  A  forma  era  feita  normalmente  por  alas 
horizontais  que  permitia  a  ventilação  cruzada  e  a  melhor  iluminação  natural,  que  foi adotada a partir do século XIX, adotada 
para  melhorar  a  salubridade  dos  ambientes  institucionais.As  edificações  em  si,  apresentavam  características  plásticas  bem 
pesadas,  bastante  austeras  em  razão  dos  volumes  imponentes.  As  fachadas  tinham  ritmos  repetitivos  entre  os  cheios  e 
vazios,  junto  com  os  elementos  decorativos. A arquitetura caracterizava a forte distinção entre; exterior, interior, sociedade e 
a instituição. 
 
Relatos  dos  primeiros  registros  dos  espaços de internação de crianças no mundo datam do século XVI: as casas de correção, 
na  Europa.  Tais  casas  destinavam  aos  abrigos  dos  excluídos  da  sociedade  em  geral,  mulheres  de  comportamento  imoral, 
jovens  que  cometiam  algum  crime,  crianças  abandonadas  e  mendigos.  Essas  casas  de  correção,  no  início  utilizavam  as 
instalações de edificações já existentes e só no século XVIII e XIX passaram a construir novas edificações com esse propósito.  
 
A casa de correção de San Michele, em Roma, no ano de 1705, foi registrada como a primeira edificação construída com esse 
propósito. Apresentava uma tipologia que se assemelhava com as prisões da época. 
 
Aplicado  originalmente  às  arquitetura  prisionais  dos  adultos,  logo se empregam os conceitos 
nas  instituições  de  assistência infantil, através da vigilância centralizada pela manutenção dos 
pátios internos (EYNG,2018,p.58). 
 

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A  tipologia  arquitetônica  dessa construção funciona da seguinte forma: uma planta retangular, com os quartos voltados a um 
pátio  central  interno,  onde funciona a área comum do acolhimento, atividades, refeições e missas, distribuem as galerias que 
se  acessava  os  quartos.  Esses foram projetados assim de forma que, houvesse um maior controle dos internos, divididos em 
razão  da  faixa  etária  e  do  sexo.  A  arquitetura no caso, tinha o intuito específico de controle, fiscalização, fundado na ideia de 
poder  daqueles  que  acolhiam,  como  mostra a ​figura 10​. Implica uma clausa e isolamento, o que fica clara na organização do 
espaço.  ‘O  modelo  filantrópico  produziu  um  cotidiano  de  disciplina  rígida  com  elevado  número  de  fugas  individuais  e 
coletivas’ (EYNG, 2018,p.67). 
 

 
 
​ Figura 10: Planta baixa da casa de correção San Michele, em Roma. 
Fonte: [JOHNSTON, Norman. Forms of Constraint – A History of Prison Architecture. Chicago, Univers]. 
Disponível em: <​https://www.vitruvius.com.br/revistas/read/arquitextos/11.131/3832​> 
 
O  layout  dos  quartos  tinham  camas  e  berços  lado  a  lado  em  grandes  área  de  alojamento.  ‘Eram  escassos  os  cuidados  de 
iluminação  e  ventilação  natural,  permanecendo,  altas  as  taxas  de  mortalidade  em  razão  do  ambiente  insalubre’  (MARCÍLIO, 
2006). Como está ilustrada na ​figura 11​. 
 

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​Figura 11: Quarto de acolhimento de orfanatos, retratando esse serviço em alta quantidade 
Fonte: Instituto fazendo história. 
Disponível em: 
<​https://www.fazendohistoria.org.br/blog-geral/2017/4/25/orfanatos-no-existem-ento-onde-moram-ento-as-crianas-abandonadas​ > 
 
Na  Europa  após  a  Segunda  Guerra  Mundial, compreende que a estrutura não atende mais aos anseios sociais. Nascem assim 
novos  modelos  baseados  na  Declaração  Universal  dos  Direito  Humanos,  de  1949  e  outras  legislações  específicas.  Assim, 
cada  país  de acordo com a sua situação socioeconômica estabelece diferentes propostas arquitetônicas. Porém a maioria dos 
países elimina as instituições e aplica as políticas públicas de apoio às famílias. 
 
A arquitetura européia exerceu fortemente influencia no Brasil, percebe-se que existiam as mesmas características prisionais 
e uma tipologia arquitetônica voltada para punição e uma ordem maior. Destaca-se o mesmo caso da Europa, a improvisação, 
o  ambiente  construído  era adaptado ‘[...] na maioria dos casos funcionavam em prédios improvisados, acanhados, insalubres, 
sem móveis, berços, água encanada, esgoto, luz e ventilação’ (MARCÍLIO, 2006,p. 161).  
 
A  arquitetura  dos  edifícios  assumiu  fortemente  os  critérios  do  Movimento  Higienista,  baseados  em  alguns  modelos 
higienistas,  os  modelos  eram  de  grandes  instituições  com  planta  baixa  retangular  com  pátios  internos,  divididos  em  alas 
para  ter  uma  forte  vigilância,  através  de  um  isolamento espacial. O que era perceptível  um forte contraste entre o exterior e 
o  interior.  Em  relação  a  composição  volumétrica  a  mesma  seguia  os  princípios  de  ordenamento  e  simetria.  A  localização 
dessas  instituições  eram  distantes  da  área  urbana  e  os  recuos  isolavam  o  edifício  do  lote,  não  permitindo  o  contato  com a 
sociedade. Os materiais utilizados na construção eram de baixo custo e de fácil manutenção e limpeza. 
 
Por  volta  de  1964, os espaços começaram a ser pensados a partir da diferenciação dos usuários e do tratamento. A mudança 
não  só  acontece  no  espaço.  Além  disso,  passaram  a  ser  divididos  por  grupos  com  cada  especificação.  Registra-se  que  a 
maior  parte  das  arquiteturas  foram reaproveitadas do final do século XIX, repassadas depois para o governo. Quando houve a 
construção  de  novas  arquiteturas  elas  repetiam  o  modelo  existente,  permanecendo  o  objetivo  de  isolar  os  acolhidos  da 
sociedade.  Com  isso,  após  muitas  discussões realizadas com o intuito da criação de uma nova legislação assim, em 1990 foi 
aprovado  o  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente.  Que  provocou  em  mudanças  no  espaço  arquitetônico  e  nas  condutas 
internas. 

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Na  ​figura  12​,  mostra  uma  dessas instituições que funcionou como orfanato e hoje como Fundação Pão dos Pobres de Santo 
Antônio,  em  Porto  Alegre  no  Rio  Grande  do  Sul,  que  abriga  crianças  e  adolescentes  em  vulnerabilidade  social.  Instituição 
essa projetada pelo engenheiro-arquiteto alemão Joseph Lutzemberger, com sua fachada de inspiração francesa. 
 
A  instituição  de  1895,  funciona  até  hoje  como  acolhimento  após  120  anos  e  abriga  crianças  e  adolescentes.  O  prédio com 
estilo  eclético  e  meio  sóbrio,  tem  quatro  pavimentos  diferentemente  como  a  maioria  das  entendidades  da  europa  não  tem 
pátio interno, mas tem as mesmas considerações de tipologia interna.  
 
O  fluxo  se  inicia  na  parte  central  do  edifício,  que  é  a  parte  administrativa,  a  partir  desse  bloco a circulação permeia para as 
laterais.  Ou  seja  a  circulação  é  do  centro  para  as  bordas,  o  que  mostra  o  vigor  das  regras  do  local, refletido na arquitetura. 
Nas  laterais  o  edifício  é  dividido  em duas alas onde se distingue por gênero e sexo do acolhimento. Deixando mais claro que 
o  bloco  central  representa  imponência  sobre  os  outros  dois  da  laterais.  Além  disso,  em planta percebe-se que o prédio tem 
uma  perfeita  simetria,  onde  o  eixo  de  simetria  se  concentra  no  bloco  administrativo,  ressaltando  mais  uma  vez  essa 
imponência na administração e no controle, dos internos.  
 

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​ Figura 12: Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 
Fonte: Apêndice 4, Doutorado Aline Eyng. 
 
Ao longo dos anos e com o ECA a tona, a instituição de grande porte para atendimento de crianças e adolescentes nos moldes 
dos antigos internatos, teve que algumas mudanças na organização, conduta e na estrutura foram alterados. A estrutura atual 
atende  crianças  com  a  escola,  oficinas  pedagógicas,  artísticas  e  esportivas.  Possibilitaram  aos  abrigados  desenvolvimento 
integral  das  dimensões  humanas,  além  da  proteção integral e atenção básica constituída de moradia, vestuário, alimentação, 
educação, saúde e uma convivência humana saudável. 
 
Com  auxílio  do Centro de Atendimento Integral, o CATI foi visado o fortalecimento dos vínculos familiares e comunitários que 
apesar  de  frágeis  ainda  não  foram  rompidos.  Desenvolve  ações  de  resgate  da  identidade,  de  formação  e  de  educação, 
auxiliando  e  potencializando  crianças  e  adolescentes  na  construção  de  sua  autonomia  e  no  seu  projeto  de  vida.  Com  foco 
pedagógico  com  trabalho no campo lúdico e relacional com oferta complementares nas áreas culturais, artísticas, desportivas 

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e  sociais,  uma  ilustrada  na  ​figura  13​.  Outro  centro  atuante  é  o  Centro  de  Educação  Profissional  do  Pão  dos  Pobres, o CEP 
oferecendo  trabalho  com  cursos técnicos profissionalizantes. Com isso espaços com esses intuitos foram remodelados, além 
do aumento de educadores trabalhando no local. 
 
   

 
​ Figura 13: Quadra esportiva na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 
Fonte: Gilmar Staub. 
Disponível em: < ​http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000009/00000903.pdf​ > 
 
Em  relação  a  parte  do  acolhimento  após  a  chegada  do  ECA,  algumas  mudanças  sobre  o  ambiente  interno  a  parte  da 
hospedagem,  foram  realizadas  já  que  algumas  regras  foram  colocadas  em  prática.  Deixando  assim  o  contexto  de  orfanato 
prisional  que  existia  antes  do  estatuto,  e  indo  para  um  contexto  de  acolhimento  mais  individualizado, respeitando o espaço 
de cada criança e oferecendo um espaço mais humanista e oferecendo a cada uma seus direitos. 
 
Esses  direitos  ofertados  por  lei  são  refletidos  na  organização  interna  dos  quartos,  como  mostra  a  ​figura  14  a  sua 
composição  é  feita  de  forma  mais  individual,  quartos  com  o  número  reduzido  de  hospedados  e  cada  criança  com  ‘seu 
espaço’,  apesar  de  muitas  vezes,  o  quarto  ser  dividido  com mais de uma criança, cada uma tem o seu espaço para guardar e 
manter seus objetos pessoais, deixando assim a criança mais livre de habitar aquele local. 

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​ Figura 14: Quarto dos meninos na Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 
Fonte: Arquivo Pessoal Gilmar Staub. 
   
Espaços  lúdicos  e  mais  infantis  foram  propostos  com  intuito de deixar a criança em um ambiente mais familiar e com que a 
criança  se  identificasse  com  o  lugar, como mostra o corredor na ​figura 15 ​repleto de estantes de brinquedos e enfeites para 
deixar  o  acolhimento  mais  característico  a  idade  delas,  e  deixar  o  tempo  de  abrigamento  mais  sutil,  sobre  os  efeitos  da 
problemática que levaram elas até o lar. 
 

 
​ Figura 15: Corredor da Fundação Pão dos pobres de Santo Antônio, Porto Alegre 
Fonte: Gilmar Staub 
Disponível em: < ​http://biblioteca.asav.org.br/vinculos/000009/00000903.pdf​ > 
   
 

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Com  a  chegada  da  república,  o  país  se  inspirou  nas  novas  formas  de  pensar  sobre  o  espaço  e  as  alterações  da  legislação 
ocorrem ao longo da história, permitindo inserir um novo contexto no espaço destinado ao acolhimento dos infantes. 
 
No  final  do  século  XIX,  como  foi  retratado  como  exemplo,  da  Fundação  Pão  dos  Pobres  de  Santo  Antônio,  as  novas 
instituições  são  construídas  com  as  novas  mudanças,não  somente  no  espaço  físico,  mas  passaram  a  ser  diferenciados  os 
tipos  de  serviços  de  acolhimento,  com  suas  especificações  para  cada  grupo. Somente em 1948, começa a dar importância a 
necessidade  de  direitos  humanos.  Em  1959,  a  Assembléia  Geral  da  ONU  aprova  a  Declaração  Universal  dos  direitos  da 
criança.  No  ano  de  1980,  tratados  e  convenções  que  envolvem  crianças  e  adolescentes  ganham  força,  que  se  destaca  a 
garantia de direitos e deveres dos mesmos. 
 
Através  da  criação  do  Estatuto,  nota-se  as  primeiras  preocupações  com a finalidade de retratar a necessidade de mudanças, 
através  da  construção  de  unidades  socioeducativas,  que  se  diferencia  da tipologia das antigas instituições. De acordo com o 
artigo  123,  do  mencionado  Estatuto,  exigiu  que  no  período  de  internação  é  obrigatório  atividades  pedagógicas,  com  isso 
passou-se inserir nesses projetos tipologia referente à essas atividades. 
 
Noutro  aspecto,  o  ECA  também  inseriu  a  exigência,  no  art.  124,  inciso  X,  a  obrigatoriedade  de  no  alojamento  garantir 
condições  adequadas  de  higiene  e salubridade. Observa-se, deste modo, o cuidado do legislador infraconstitucional destinou 
aos acolhidos um ambiente sadio, isento de qualquer forma que comprometesse a saúde e bem estar. 
 
Considerou  também  o  aspecto  da  individualidade  na  construção  desses  espaços  de  acolhimentos,  visando  o  respeito  à 
singularidade  e  a  personalidade  de  cada  indivíduo  acolhido,  conforme  se observa no art. 124, inciso XIV, que propôs manter 
os objetos pessoais e dispor de um local seguro para guardá-los.  
 
Assim  como  o  ECA,  a  fim  de  estabelecer  essas  implementações  estratégicas  relacionadas  à  arquitetura,  o Sistema Nacional 
dos  Direitos  da  Criança  e  do  Adolescente  (SINASE)  é  aprovado  pelo  Conselho  Nacional  dos  Direitos  da  Criança  e  do 
Adolescente  (CONANDA)  apresenta  sendo  o  primeiro  documento  legal  do  país  que  define  o  espaço  arquitetônico,  traz 
parâmetros  e  elementos  que  devem  ou  não  existir.  Para  a  construção  desses espaços, de forma a contribuir na recuperação 
dos abrigados. Considera a organização espacial e funcional como instrumento para a viabilização da proposta pedagógica. 
 
Considera-se  a  adoção  de  medidas  simples  como  a  composição  de  arranjos  espaciais  que  valorizem  a  convivência  intensa 
entre  grupos  ou  a  criação  de  ambientes lúdicos. Promovendo melhorias nas condições gerais do ambiente, tornando o clima 
mais  favorável  à  interação  social, suavizando os efeitos provocados pela longa permanência, proporcionando assim o contato 
íntimo e afetuoso com a criança. 
 
Em  síntese  coloca-se  a  importância  da  arquitetura,  sendo  um  dos  instrumentos para trabalhar essa ação socioeducativa. De 
modo que, essas estratégias projetuais utilizadas pelos arquitetos possam contribuir para as funções desses espaços. 
 
 
 
 
 
 

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​ ​3.3 Modalidades nos serviços de acolhimentos 
 
Muitas  mudanças  nas  instituições  foram  realizadas  até  a  concepção  e  aprovação  do  ECA,  as  instituições  tinham  caráter 
assistencialista  filantrópico,  baseadas  no  Código  de  Menores.  Já  com  o  Estatuto  as  ações  fundaram  na  perspectiva 
socioeducativas.  O  ECA  é  uma  legislação  que  assegura  à  crianças  e  adolescentes  ‘direitos  fundamentais  inerentes à pessoa 
humana  , sem prejuízo da proteção integral’ (BRASIL, 1990). Por lei garante desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual 
e  social  independentemente  de  qualquer  quesito.  Conforme  o  Art.  4°  do  estatuto,  toda  criança  tem  o  direito  ao  convívio 
familiar  e  social,  além  dos  direitos  referentes  à  vida,  saúde,  alimentação,  educação,  esporte,  lazer,  à  profissionalização, 
dignidade, cultura e liberdade. 
 
Com  isso,  o  documento  Orientações Técnicas Serviço de Acolhimento para Crianças e Adolescentes (BRASIL, 2009) aprovada 
em  18  de  junho  de  2009,  é  um  caderno  regulamentador  que  estabelece  orientações  para  o  funcionamento  dessas 
instituições,  lista  os  tipos  de  acolhimento,  estabelecem  a  definição,  o  público  alvo,  suas  especificidades,  características, 
aspectos físicos e as dimensões mínimas para serem usadas em projetos arquitetônicos. 
 
De acordo com o Art.92 do ECA, todas as instituições de acolhimento institucional devem adotar os seguintes princípios: 
1) Preservação dos vínculos familiares; 
2) Integração em família substituta, quando esgotados os recursos de manutenção na família de origem; 
3) Atendimento personalizado em pequenos grupos; 
4) Desenvolvimento de atividades em regime de coeducação; 
5) Não-desmembramento de grupos de irmãos; 
6) Evitar sempre que possível, a transferência para outras entidades de crianças e adolescentes abrigados; 
7) Participação na vida comunitária local; 
8) Preparação gradativa para o desligamento; 
9) Participação de pessoas de comunidade no processo educativo; 
10) Propiciar  a  convivência  comunitária  e  a utilização dos serviços disponíveis na rede para atendimento de demandas 
de saúde, lazer, educação etc 
11) Manter permanente contato com a Justiça da Infância e Juventude. 
 
Todos  os  tipos  de  serviço  de  acolhimento  em  geral,  devem  ter  um  aspecto  semelhante  ao  de  uma  residência,  de  estar 
inserido  o  mais  próximo  em  comunidade  no  ponto de vista geográfico e socioeconômico.  Entre os tipos de acolhimento são 
classificados  em  4  tipos  diferentes  que  estão  detalhados  na  ​tabela  2  que  divide  os  tipos  e  faz  suas  caracterizações, 
diferenciados  em  relação  ao  público  alvo,  capacidade  e  o  objetivo,  acerca  de  cada um: Abrigo Institucional, Casa-lar, Serviço 
de Acolhimento em Família Acolhedora, República, com base no documento citado. 
 

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​ Tabela 2: Modalidades de Acolhimento  
Fonte: Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, Brasil 2009, editado pela autora, 2019.  
 
 
Com  isto  o  objetivo  desse  trabalho  é  projetar,  um  conjunto  de  casas-lares  já  que,  uma  unidade  de  casa-lar  comporta  no 
máximo  10  crianças  e  adolescentes.  O  porte  do  projeto  arquitetônico  visa  a  capacidade  de  abrigamento  de  60  crianças  e 
adolescentes em 6 unidades de casas-lares. 
 
​ 3.4 Situação atual do acolhimento no Brasil 
 
Apesar  das  recomendações  e  orientações,  quanto  ao  funcionamento  das  instituições  de  acolhimento  existirem,  são 
frequentes  os  casos  em  que  o  acolhimento  se  contradiz  com  as  leis  e  normas  sobre  o  assunto.  Segundo  Jauczura  (2008) 
afirma  que,  em  geral,  a  aplicação  das  disposições  previstas  pelo  ECA  e  por  outras  políticas  de  proteção  à  infância  e  à 
juventude ainda é um desafio no Brasil. 
 
Segundo  uma  pesquisa  publicada  em  2003  pelo  Instituto  de  Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), o Sudeste é a região com 
maior concentração de instituições de acolhimento público   cadastradas  da  REDE  SAC/Abrigos  para  crianças  e  adolescentes. 
Os  estados  do  sudeste  reúnem  cerca  de  49,4%  das  instituições  cadastradas.  Em  segundo  lugar,  está  a  região  Sul,  com 
20,7%,  seguido  da  região  Nordeste,  com  19,0%.  Logo  depois  está  o  Centro-Oeste,  com  7,0% das instituições, e Norte, com 
4,2%. Dentro desse aspecto, 589 instituições existentes em todo o Brasil, 290 são concentradas na região do Sudeste. 
 

42
De  acordo  com  o  ECA,  as  instituições  de  acolhimento  tem  caráter  de  medida  provisória,  até  o  retorno  da  criança  para  a 
família  de  origem  ou  uma  família  substituta.  No  entanto,  por  conta  de  uma  grande  burocracia  para  a  adoção,  o  abrigo  se 
torna uma medida permanente de moradia para muitas crianças e adolescentes: 
 
[...]  As  maiores  dificuldades  para  o  retorno  das  crianças  e  adolescentes  para  as  famílias  encontram-se  nas 
condições  socioeconômicas  das  famílias  (35,45%),  na  fragilidade,  ausência  ou  perda  do  vínculo  familiar 
(17,64%), na ausência de políticas públicas e de ações institucionais de apoio à reestruturação familiar (10,79%), 
no envolvimento com drogas (5,65%) e na violência doméstica (5,24%) (IPEA, 2003). 
 
Conforme,  o  Levantamento  Nacional  de  Abrigos  para  crianças  e adolescentes da Rede SAC, publicada em 2003 pelo Instituto 
de  Pesquisa  Econômica  Aplicada  (IPEA),  órgão  ligado  à  Presidência  da  República,  constatou  que  a  maioria  dos  abrigados 
(86,7%)  tinham  família  e  apenas  5,2%  eram  órfãos. No entanto, apesar de tantos terem família, somente 58,2% mantinham 
vínculos  familiares.  Os  outros  28,5%  tinham  família,  mas  viviam  totalmente  afastados  dela,  não  estavam  impedidos  pela 
justiça de ver seus pais.  
 
O  motivo  para  o  afastamento  dessas  famílias,  e  de  qual  maneira  levaram  esses  meninos e meninas aos abrigos, a pesquisa 
do  IPEA  mostra  que,  a  pobreza é o motivo mais recorrente, com 24,1% dos casos, mas não pode ser apontado como o único. 
Porém,  não  só  a  pobreza  é  a  causa  de  acolhimento, em seguida a esse dado vem o abandono (18,8%), a violência doméstica 
(11,6%), a dependência química dos pais ou responsáveis incluindo alcoolismo (11,3%), a vivência de rua (7%) e a orfandade 
(5,2%).  Assim  se  ressalta  a  imprescindibilidade  das  entidades  de  acolhimento  ao  oferecerem  serviço  de  qualidade  às 
crianças e adolescentes, pois suas histórias anteriores às medidas de proteção comumente são marcadas por dificuldades. 
De  acordo  com  o  relatório,  do  Fundo  das  Nações  Unidas  para  a  Infância,  Situação  Mundial  da  Infância  2008-  Caderno  do 
Brasil,  mostra  que  a  pobreza  é  um  fator  determinante  de  abrigo  infantil  evidencia  que  no  país  cerca  de  ‘11,5  milhões  de 
crianças  ou 56% das crianças brasileiras de até 6 anos de idade vivem em famílias cuja renda mensal está abaixo de ½ salário 
mínimo per capita por mês’ (UNICEF, 2008) o que imagina sendo uma processo vicioso para as futuras institucionalizações 
 
Em  relação  ao  período  de  institucionalização,  a  realidade  nos  mostra  que  o  período pode ser ultrapassado, apesar do § 2 do 
Art.  19  do  ECA  definir  que  a  permanência  de  criança  e  do  adolescente  não  se  prolongará  por  mais  de  dois  anos  em 
programas  de  acolhimento.  Assim  o  tempo,  permanente  em  abrigos  varia  conforme  as  necessidades  de  cada  criança  e 
adolescente,  podendo variar de 2 a 5 anos, como funciona para 32,9% dos abrigos, mostrando assim que o termo ‘provisório’ 
não  se  faz  válido  para  maioria  dos  casos.  Segundo  Siqueira  e  Dell’Aglio  (2006),  ressaltam  que  a  duração  da  instituição 
quando  prolongada  por  anos, pode interferir no desenvolvimento cognitivo, social e emocional dos acolhidos. Portanto, como 
proposto pelo ECA, essa característica do acolhimento institucional não é cumprido em considerável parte dos casos. 
 
De  acordo  com  psicólogos,  se  uma  situação  assim  se prolonga por muito tempo, pode provocar grande carência 
afetiva,  dificuldade  para  estabelecer  vínculos,  baixa  autoestima,  atrasos no desenvolvimento psicomotor e pouca 
familiaridade  com  rotinas  familiares.  Nesses  casos,  crianças  e  adolescentes  também  têm  a  dificuldade  para 
adquirir sentimento de pertencimento e adaptar-se ao convívio em família e na comunidade (MPF). 

 
Tendo  em  vista  a  questão  do  retorno  da criança e do adolescente à sua família de origem, de forma que ela possa ser o mais 
breve  possível.  Os  abrigados  têm  como  direito  manter  vínculos  com  suas famílias e estas necessitam de apoio para receber 
seus  filhos  de  volta  e  conseguir  exercer  suas  funções  de  forma  adequada.  Assegura  assim,  no ECA, no Art.92 a convivência 
familiar  e  comunitária,  na  mesma  pesquisa  verificou-se  que  mais  de  75%  das  entendidade  de acolhimento declararam que 

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havia  acolhidos  que  não  recebiam  a  visita  dos  pais  ou  responsáveis.  O  que fragiliza os vínculos familiares e reduz a criança 
retornar para o lar de origem. Se questiona, com isso se essas instituições incentivam o convívio familiar que é recomendado 
pelo  Estatuto  da  Criança  e  do  Adolescente, já que somente 14,1% das instituições avaliadas realizam ações integrativas com 
a família. 
 
De  forma  que  o  acolhimento  possa  ser  o  mais  próximo  a  realidade  familiar  o  projeto  arquitetônico  deve  ser  influenciado, 
garantindo  que  a  construção  deve  parecer  com  uma  residência  comum,  evitando  grandes  pavilhões,  típicos  o  dos  antigas 
instituições  totais.  O  atendimento  também  deve  ser  realizado  em  pequenos  grupos,  permitindo  assim  que  preste  mais 
disposição.   
 
Na  mesma  pesquisa  o  IPEA  (2003)  constatou  que  85,9%  das  instituições  de  abrigo  não  possuem  especialidades  no 
atendimento, para crianças e adolescentes com alguma deficiência, e apenas 12,6% possuem instalações físicas acessíveis.  
 
Conclui-se  então  que  são  muitas  ambiguidades  que  permeiam  os  discursos  e  as  práticas  presentes  nas instituições, o que, 
consequentemente,  compromete  o  desenvolvimento  dos  acolhidos.  Outro  fator  importante  a  ser  considerado  é  o  da 
organização  espacial  dessas  instituições, como esses espaços devem ser projetados? Quais são as suas necessidades? Como 
o espaço deve influir no desenvolvimento dos abrigados? 
 
3.5 Acolhimento Institucional em Fortaleza 
 
Agora  trazendo  para  a  realidade  do  acolhimento  institucional  em  Fortaleza,  e  com  uma  análise  realizada  por  um 
monitoramento  do  CEDECA-  Ceará  (Centro  de  Defesa  da  Criança  e  do Adolescente) fez um Monitoramento das Unidade de 
Acolhimento Institucional, onde buscou se apropriar sobretudo da legislação pertinente e das políticas públicas existentes.  
 
Com  isso,  foram  realizadas  pesquisas,  entrevistas  e  a  sistematização  de  dados  até  2012  foram  listadas  23  unidades  de 
acolhimento institucionais da cidade de Fortaleza, unidades essas que acolhem crianças em situação de vulnerabilidade. 
 
Os  dados  recolhidos  dessas  instituições  atendiam  prioritariamente  crianças  e  adolescentes  da  cidade.  Esse  dados  foram 
coletados  com  auxílio  da  COMDICA  (Conselho  Municipal  de  Crianças  e  Adolescentes)  e  pelo  CAOPIJ  (Centro  de  Apoio  às 
promotorias  da  Infância  e  juventude).  As  primeiras  informações  recolhidas,  foram  sobre  a  natureza  dos  programas  de 
acolhimento institucional se variava em público, particular ou algum vínculo religioso, como mostra o ​gráfico 2   

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​ Gráfico 2: Quanto à natureza do programa de acolhimento nas instituições de Fortaleza  
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.35.  
 
O  gráfico  acima  mostra  que  a  maior  parte  do  serviço  é  realizado  por  organizações  não  governamentais  e/  ou  com  algum 
vínculo  religioso.  O  poder  público  atua  com  apenas  25%  desse  tipo  de  atendimento.  Devido  a  isso,  preocupa-se  com  a 
responsabilidade  governamental  e  a  terceirização  de  um  serviço  que  era  pra  ser  de  dever do governo. Diminuindo cada vez 
mais, a sua responsabilidade direta dessa política pública.   
 
Outro  dado  de  relevância  levantado  foi  em  relação  aos  tipos,  a  modalidade  de  acolhimento.  A  resolução  conjunta  n°1, 
CNAS/CONANDA,2009  as  Orientações  Técnicas:  Serviços  de  Acolhimento  para  Crianças  e  Adolescentes,  aborda  os 
parâmetros  para  cada  tipo  de  funcionamento  desses  serviços  dividindo  em  4  tipos  de serviço: abrigo, casas- lares, famílias 
acolhedoras  e  a  casa  de  passagem.  No  recolhimento  dos  dados  foi  visto  que houve certa dificuldade de cada instituição não 
saber  em  qual  classificação  se  adequaria  Apontando  assim  a  necessidade  das  organizações  que  realizam  acolhimento 
institucional se apoiarem na legislação vigente, resultando no dado apresentado no ​gráfico 3​. 

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​Gráfico 3: Quanto ao tipo de acolhimento nas instituições de Fortaleza  
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.38.  
 
Em  relação  ao  público alvo da política os dados apontam que a maioria do público é por parte de criança/ adolescente e  sexo 
dos  acolhidos.  Ocorre apenas uma variação pequena entre o atendimento de jovens que foram institucionalizados na infância 
e ainda não conseguiram se desvincular com a instituição de acolhimento.Como apresenta no ​gráfico 4​. 

 
​ Gráfico 4: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza  
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.39. 

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Já em relação ao ingresso do público se dá por decisão ou encaminhamento judicial. Há também a possibilidade de alguns 
casos de emergência, a partir do conselho tutelar. As entidades fazem uma espécie de triagem para avaliar o perfil dessas 
crianças e adolescentes. Os motivos são bastantes variados como mostra o​ gráfico 5​.  

 
​ Gráfico 5: Quanto ao público alvo nas instituições de Fortaleza  
Fonte: Monitoramento das Unidade de Acolhimento Institucional, CEDECA 2012, p.47. 
 
Os motivos declarados para o acolhimento institucional não é considerado um importante elemento para o ingresso dessa 
política e sim outros casos fazem com que não entrem nas instituições como os casos de drogadição. 
 
Então  se  resume  com  esses  dados apresentados se concretiza a importância da criação da casa lar pública, como prever esse 
projeto.  Como  foi  registrado,  há  poucas  instituições  públicas.  E  o  acolhimento mais individualizado como propõe o conceito 
de  casa  lar  ainda  não  é  a  maioria  na  cidade,  como  foi dito quando explicado sobre as modalidades esse tipo se preocupa em 
reproduzir a vivência familiar.   
 
3.6 Adequação acolhimento casa-lar 
 
Com  base  na  Resolução Conjunta CNAS/CONANDA nº 1/2009, que trata das Orientações Técnicas de Serviço de Acolhimento 
para  crianças  e  adolescentes  (BRASÍLIA,  2009),  conceitua  a  casa-lar,  um  tipo  de  serviço  de  acolhimento  provisório 
organizado  em  unidades  residenciais.  Consiste  em  desenvolver  relações  mais  próximas,  a de um ambiente familiar, no qual 
pelo  menos  uma  pessoa  ou  um  casal  trabalha  como  educador/cuidador  residente  prestando  cuidados  sócio-educativo,  em 
crianças  e  adolescentes,  afastados  do  convívio  familiar,  por  meio  de  um  medida  protetiva  o  abrigo  acolhe,  como  rege  no 
Estatuto  da  Criança  e  Adolescente  no Art° 101. As famílias e os responsáveis não disporem de condições de maternagem ou 
paternagem,  por  descumprimento  de  algum  direito,  assim  as  crianças  são  acolhidas  temporariamente,  até  que  seja 
viabilizado o retorno para o seu convívio com a família. 

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Um  estudo,  em  Israel,  teve  o  objetivo  de  acompanhar  o  bem-estar  de  crianças  expostas  à 
situações  de  risco  (  abuso  ou  negligência),  após  a  decisão  dos  conselhos  tutelares  de 
mantê-las  ou  tirá-las  de  suas  casas.  As  crianças  que  ficaram  em  casas-lares  tiveram  um 
escore  de  qualidade  de  vida  superior  àquelas  que  ficaram  em  instituições  do  tipo 
convencional.  Provavelmente,  características  de  casas-lares, como presença da família-social, 
número  reduzido  de  crianças  e  espaço  físico similar ao de uma casa convencional (BRANDÃO 
e CAVALCANTE, 2009, p.335) 
 
Tipo  de instituição essa que abriga crianças e adolescentes de 0 a 18 anos , onde em cada casa-lar deverá atingir um número 
máximo  de  10  usuários,  definido  através  da  resolução  conjunta  com  as  orientações  técnicas.  Esse  tipo  de  serviço  visa 
estimular  a  proximidade  da  realidade  familiar,  tanto  no  ponto  de  vista  arquitetônico,  que  deve  se  assemelhar  a  uma 
residência  unifamiliar,  como  também  da  confinidade  do  ambiente  familiar,  promover  hábitos  dentro  de  uma  rotina 
doméstica, além da ideia de interação social com os integrantes da instituição e da comunidade que rodeia a casa-lar.  
 
Diferentemente  dos  outros  tipos  de  acolhimento  como o abrigo e o orfanato, o que distingue da casa-lar é a presença de um 
educador/cuidador  dentro  da  casa,  com  esse  intuito de exercer um desenvolvimento familial, assim o acolhido se torna mais 
estável  e  afetivo.  Esse  educador  ocupa  um  lugar  de  referência  afetiva  a  fim  de,  proporcionar  um  vínculo  estável  entre  o 
mesmo  e  as  crianças  e  adolescentes,  favorecendo  assim  o  convívio  familiar  além  do  acompanhamento  em  cuidados  e  na 
rotina da casa assim como da vida do resistente. Recomenda também que estas crianças e adolescentes ajudem nessa função 
de  organização  e  cuidado  de  modo  a  se  sentirem  pertencentes  ao  grupo  com  os  seus direitos e deveres. Mesmo exercendo 
esse  papel  o  cuidador  não  tem  o  intuito  de  substituir  o  cargo  de pais ou responsáveis de origem, mas sim contribuir para o 
fortalecimento  de  vínculos  familiares  de  forma  que  não  venha  a  perder  essa  relação,  favorecendo  futuramente  em  um 
possível processo de reintegração familiar ou até encaminhamento de uma família substituta, se for o caso.  
 
Para  este  tipo  de  acolhimento  as  Orientações  Técnicas  (BRASIL,  2009),  apresenta  tabelas  que  especificam  a  equipe 
profissional,  quantidade  de  funcionários  e  a  infraestrutura  mínima  a  de  assistência.  No  regulamento também confere que a 
casa-lar  deve  evitar  atendimentos  exclusivos,  tais como atender uma faixa etária ou sexo específico, pois necessitam de uma 
atenção especializada o que irá contribuir para a capacitação especificação dos cuidadores. 
 
A  equipe  profissional  mínima  para  casa-lar  deve  ser  composta  de  um  coordenador,  equipe  técnica,  educador/cuidador 
residente  e  auxiliar  de  educador/cuidador.  O  coordenador  é  quem  participa  de  toda  a  gestão  da  entidade,  supervisiona  e 
organiza  os  profissionais  que  trabalham  dentro  da  instituição.  A equipe técnica trabalha no acompanhamento psicossocial e 
o  acompanhamento  do  trabalho  dos  educadores.  O  educador/cuidador  residente  é  quem  vai  gerar  assistência  à  criança  e 
oferecer  os  cuidados  básicos.  O  profissional  auxiliar  de  educador/cuidador  residente  são aqueles que vão apoiar as funções 
do educador/cuidador residente.  
 
Sobre  a  infraestrutura  do  espaço  pela  norma,  alguns  espaços  são  sugeridos,  o  quarto  dos  residentes  se  recomenda dormir 
até  4  pessoas por cômodo, com dimensão mínima para acomodar camas e algum espaço para guarda dos pertences pessoais 
de  forma  individualizada.  No  quarto  para  educador/cuidador  residente  é  necessário  um  tamanho  suficiente  para mobiliário 
com  a  finalidade  de  armazenar  os  objetos  pessoais.  O espaço da casa-lar também deverá incluir a sala de estar e jantar com 
espaço  suficiente  para  acomodar  todas  as  crianças,  adolescentes  e  o  cuidador  que  moram  na  casa.  Inclui  também  no 

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programa  de  necessidades  de toda casa-lar, ambiente de estudo, banheiro, a cozinha, área de serviço e uma área externa que 
pode ser uma varanda, quintal ou jardim. 
 
Outros  espaços  fora  da  casa-lar  também são exigidos onde deverão funcionar, como uma área específica para administração 
técnico-administrativa  que  deverá  conter  sala  para  equipe  técnica,  sala  de  coordenação/  atividades  administrativas  para 
desenvolvimento  de  atividades  contábeis,  financeiro,  logístico  e  documental  e  por  último  uma  sala  de  reuniões  em  equipe. 
Como completa na ​tabela 3​, que apresenta todas as características da infraestrutura interna de uma casa-lar. 
 

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​ ​Tabela 3: Infraestrutura e espaços mínimos sugeridos para casa lar. 
Fonte: Orientações Técnicas: Serviços de Acolhimento para Crianças e Adolescentes, Brasil 2009, editado pela autora, 2019.  
 
É  garantido  por  fim  que  a  infraestrutura  da  casa-lar  deverá  oferecer  a  acessibilidade  para  o  atendimento de todo o público, 
deficiente  ou  não,  para  que  possa  ser  usado  por  todos  sem  quaisquer  limitações.  Além  de  permitir  com  isso espaços mais 
próximos  ao  ambiente  familiar,  de  forma  a  se  respeitar  a  classificação  desse  tipo  de acolhimento, para que nesse período a 
vida da criança possa ser mais branda.   
 
4. ASPECTOS TEÓRICOS PROJETUAIS 

​4.1 Ecoarquitetura 
Na  natureza  deve  ser  perdido,  tudo  pode  ser  transformado.  Nos  atuais  dias  muito  se  é  comentado  sobre  a  quantidade  de 
resíduos sólidos que é desperdiçado de forma exagerada, gerando esgotamento de recursos naturais. Devido a esta condição, 
é  constatado, que o ramo da construção influi fortemente  no impacto do planeta. Um dos motivos é o uso abundante de água 
e o descarte dos resíduos durante o processo.  

A  pesquisa,  ‘​Ecoarquitetura  é alternativa para construção sustentável’, realizada por Rosa Cristina Cecche Lintz, professora da 


PUC-Campinas,  constatou  que  o  descarte  de  concreto  produz  entre  10  e  11  bilhões  de  agregados  não  renováveis,  além  de 
consumir  1  trilhão  de  água  anualmente.  Só  a  produção  de  cimento  gera  cerca  de  1,6  bilhões  de  toneladas  de  resíduos  por 
ano, além disso sua fabricação gera 7% do total de dióxido de carbono que é produzido na atmosfera. 

Devido  a  poluição  das fábricas, descarte de material acontecendo, algumas mudanças climáticas entre outras transformações 


estão  acontecendo  no  planeta,  surgindo  assim  essa  preocupação.  Com  essa  instabilidade  acontecendo,  foi  havendo  uma 
consciência  em  relação  a  sustentabilidade,  de  forma  que  tornou  algo  relevante  para o mundo. Diante dessa situação, que se 

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agrava  dia  após  dia,  procura-se  reavaliar  a  forma  que  as  construções  atuais  se  relacionam  com  atual  situação  do  planeta. 
Começaram  a  aparecer  no  mercado  materiais  biodegradáveis,  como  também  outras  técnicas,  que  foram  utilizadas  como 
medidas  para  minimizar  esses  efeitos  de  consumo  exacerbado  que  passaram  a  serem  empregadas  por  profissionais  no 
mundo todo.   

Durante  o  século  XIX,  os  conhecimentos  científico  tecnológico  defendiam  o  uso  de  materiais  sintéticos.  No  século  XX,  a 
população  era  mais  urbana  e  se  utilizou  de  ambiente  mais  artificiais  submetidas  à  iluminação  artificial  e  ao  uso  do  ar 
condicionado,  por  exemplo  como  relata,  Castelnou  (2003).  Posteriormente  passaram  a  descartar  o  natural  e  degradam  o 
ambiente.  Com  a  apresentação  dos  movimentos  ambientalistas,  buscou-se  atingir  uma  situação  de  equilíbrio  entre 
demandas e disponibilidades de recursos naturais (BRANCO, 1999). 

Através  dessas  condições,  surgiu-se  uma  tendência  que  já  entrou  no  mercado  imobiliário,  a  chamada  ecoarquitetura.  De 
acordo  com  Busana  (2013)  se  define  sendo  a  criação  e  aplicação  de  conceitos  simples  e  consciência  ambiental.  Conceito 
utilizado  que  exprime  uma  forma  de  planejar  e  construir  usando  técnicas  simples e complexas, de maneira ambientalmente 
harmonizado,  economizando  a  energia  e  sempre  favorecendo  o contexto de desenvolvimento sustentável. Às vezes chamada 
também,  por  um  neologismo,  de  arquitetura  verde.  Produzindo  assim  em  edifícios  com  esmero,  mas  sempre  com  a 
orientação  de  qualificados  profissionais da área. Envolvendo tudo que envolve a natureza assim são usados abundantemente, 
como exemplos, o sol, ventos e o paisagismo. 

Para  entender  esse  conceito  a  “palavra  Ecologia  tem  origem  no  grego ​oikos​, que significa casa, e logos​, estudo. Em 1869, o 
cientista  alemão  Ernst  Haeckel  foi  o  primeiro  a  usar  este termo para designar o estudo das relações entre os seres vivos e o 
ambiente em que vivem” (RANGEL, 2015). 

Por  esse  neologismo  acontecer  o  conceito  da  ecoarquitetura  está  diretamente relacionado com o da sustentabilidade, com o 


da  arquitetura  verde  ou  da  arquitetura  ecológico  e  assim  simultaneamente,  considerando  ainda  a  nova  tendência  social  à 
sustentabilidade.  Termos  esses  que  vêm  sendo  cada  vez  mais  usados  e  conhecidos.  Em  relação  a  sustentabilidade,  um 
edifício  é  considerado  sustentável,  devido  a  sua  alta  qualidade  ecológica,  econômica  e  sociocultural  esses  são  os  três 
principais  pilares  da  sustentabilidade.  Onde  para  ser  considerável  sustentável,  o  edifício  precisa  que  esses  três  pilares 
trabalhem juntos.  

Essa  definição  consistente  em  uma  postura  na  prática  profissional  da  construção  civil  de  valorizar  a  relação  homem  e 
ambiente,  juntamente  com a intenção de integrar o edifício com o meio através de consumir suas tecnologias e aproveitar os 
recursos  renováveis  disponíveis  de  forma  sustentável  e  consciente.  Com  finalidade  de  minimizar os custos, gerando menos 
resíduos e prejuízos à natureza e consequentemente para as gerações futuras.  

No  entanto,  essa nova forma de construir ainda precisa tornar algo mais usual, de forma que o apoio público e privado, venha 


a fortalecer o reconhecimento desse conceito. O sucesso de projetos sustentáveis tem despertado muitos novos adeptos, mas 
não  o  suficiente  para  superar  as  formas  tradicionais  de  construção.  De  certo  forma  ainda  é  preciso  trabalhar  com  a 
divulgação  da  ideia  da ecoarquitetura. Ainda lamenta-se o pouco apoio das prefeituras em apoios como esses, podendo estar 
ligadas a convênios, escolas, universidades e cooperativas.   

51
 

Defender  a  arquitetura  sustentável  demonstra  a  necessidade  de  o  homem  assumir  a  responsabilidade  sobre  o 
ambiente,  o  que  significa  criar  ambientes  não  naturais  que  não  provocam  mais  danos  à  capacidade  física  e 
psicológica  humana,  ação  que  valoriza  as  gerações  futuras  por  meio  do  cuidado  com  o  planeta  Terra.  Nesse 
cenário,  os  edifícios  deixam  de  ser estruturas herméticas que causam desconforto, para dar origem a habitações 
agradáveis,  que  instigam  a  produção  e  o  bem-estar  no  trabalho  e  o  relaxamento  quando  em  casa.  (OLIVEIRA, 
2009). 

Além  disso,  infelizmente  muitos  municípios  desrespeitam  as  leis  ambientais  existentes,  o  que  poderia  contribuir  para  a 
propagação  dessa  conceituação.  Por  haver  essa  situação,  propõe-se  que  todos  os  municípios  devem  elaborar  o  Plano 
Integrado  de  Gerenciamento  de  Resíduos  de  Construção  Civil,  até  2005,  o  que  aconteceu  com  a  cidade  de  Fortaleza.  Junto 
com  a  elaboração  do  plano  indica-se  que  toda  cidade  deve  ter pelo menos uma usina de reciclagem de materiais, usados na 
construção civil, contudo infelizmente não é uma realidade. 

A  fim  de  diminuir  a  agressão  ao  meio  ambiente,  os  arquitetos  que  apoiam  a  causa  de  usar  materiais  alternativos, 
reutilizáveis  nas  construções.  ​”Procuramos  alternativas  que  reduzam  o  custo  de  produção,  substituindo  materiais  e 
reaproveitando  o  que  as  pessoas  chamam  de  lixo,  mas  para  nós  seria  resíduo”,  explica  a  pesquisadora  e  professora  da 
PUC-Campinas, Rosa Cristina Cecche Lintz.  

A  adoção  desse  conceito  pode  levar  à  ampliação  do  conforto  e  da  economia  de  recursos  naturais.  Trabalham-se  então 
algumas  técnicas  construtivas,  as  chamadas  ecotécnicas  que  são  utilizadas  a  fim  do  edifício  se  adequar  para  o  contexto da 
ecoarquitetura  como: a exploração da iluminação e ventilação natural, coleta e reutilização da água da chuva, utilização de um 
espaço  para separação do lixo para reciclagem, uso de piso permeável, utilização de madeiras em reflorestamento certificada, 
estratégias  utilizando  a  vegetação  além  do  uso  de  materiais  da  região.  Através  dessas  técnicas utilizadas alguns benefícios 
são  adquiridos  para o funcionamento do edifício, aumentando a vida útil do mesmo que acarreta na melhoria da qualidade do 
ar  consequentemente  para  a  qualidade  de  vida,  redução  da  utilização de água e energia elétrica, menor manutenção e maior 
durabilidade. 

Visando  a  aplicabilidade  desse  conceito  para  a  concepção  do  lar  público  de  crianças  e  adolescentes,  de  forma  que  venha  a 
reduzir  os  custos  da  obra  assim  como  também,  baratear  a  manutenção  do  edifício  garantindo  o  aumento  da  vida  útil.  A 
eficiência  energética  irá  ser  explorada  com  o  aproveitamento  da  iluminação  e  ventilação  natural,  de  modo  que  o  uso  de 
equipamentos  climáticos  artificiais,  venha  a  ser  abolido.  Além  de  outras  medidas  e  materiais  com  a  intenção  de 
reaproveitamento vão ser usados no projeto. 

4.2 Biofilia 
Ao longo dos anos a relação entre ser humano e meio ambiente foram alteradas. Inicialmente as pessoas tinham uma relação 
saudável  com  a  natureza,  sabiam  usufruir  dos recursos naturais. Durante o processo evolutivo o homem estava intimamente 
envolvido com a natureza, onde dependia da mesma para a sobrevivência humana. 

Para  a  grande  maioria  da  existência  humana,  a  paisagem  natural  forneceu  recursos  necessários  para  a 
sobrevivência  humana,  principalmente  a  comida,  água,  luz  solar,  comida  animal  e  vegetal,  materiais  de 
construção,  abrigo,  vistas,  e  fogo. O sol forneceu calor e luz, bem como informações sobre a hora do dia. Árvores 
de  grande  porte  forneceu  abrigo  do  sol  do  meio-dia  e  lugares  para  dormir  à  noite  para  evitar  predadores 
terrestres.  Flores  e  vegetação  sazonal  forneceram  alimentos,  materiais  e  tratamentos  medicinais.  Rios  e 
cisternas  forneceram  o  fundamento  para  a  vida  -  água  para  beber  e  tomar  banho,  peixes  e  outros  recursos 

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animais  para  alimentação.  Também  forneceu  um  meio  de  navegação  para  chegar  a  terras  distantes 
(HEERWAGEN, 2009, p.39). 

Portanto  com  o  passar  do  tempo,  a  relação  de  respeito  ao  meio se alterou para a degradação. Devido a essas circunstâncias 
alguns  debates  sobre  o  tema  foram  realizados,  de  forma  internacional,  em  congressos  e  encontros.  Tentando  assim  que 
trabalhar  a  questão  da  consciência  ecológica,  a  educação  ambiental  e  a  filiação  emocional  restabelecendo  vínculos  das 
pessoas  com  o  meio.  ‘Auxiliando  para  além  do  conhecimento  socioambiental,  mas  com  foco  na  formação  psicossocial’ 
(SILVA; HIGUCHI; FARIAS, 2015). 

Atualmente  enfrenta-se  um  dualismo,  busca-se  proteger  os  recursos  naturais  e  preservá-los  com  responsabilidade  e  do 
outro  lado  o  modernismo,  que  invade  o  mundo  propondo  um  novo  cenário,  com  as  tecnologias  que  não  oferecem  ao  ser 
humano  despertar  o  interesse  para  se  filiar  com a natureza. Uma questão de valor cultural que foi perdida durante a história 
do  planeta,  com  a  chegada  desse  ‘novo  mundo  tecnológico’,  onde  foram  trazidos  novos  valores.  Ultimamente  acredita-se 
nessa  necessidade  de  recuperar  o  que  foi  perdido,  tanto  na  relação  afetiva  dos  dois  meios  assim  como,  a  preservação  dos 
recursos naturais. 

Em  dias  como  hoje  estamos  muito  associados  ao  stress,  ansiedade  e  sensações,  segundo  Palma  passamos  90%  da  nossa 
vida  em  ambientes  que  não  exploram  a  natureza  ou  os  ambientes  externos,  o  que  torna  urgente  trazer  essa  vivência  para 
esses  ambientes.  De  forma  a  potencializar  as  capacidades  humanas  e  proporcionar  uma  qualidade  de  vida  melhor  a  quem 
usufrui  o  espaço.  Podemos  entender  então,  que  os  profissionais  designers,  engenheiros  e  arquitetos  devem  sim  propor 
ambientes que impactam psicologicamente e fisicamente, de forma positiva.  

Através  dessa  base  histórica,  percebe-se  que  é  uma das principais questões, para o desenvolvimento do conceito da Biofilia, 


que  há  30  anos  vem  se  adequando  a  conceitos  da  interação  de  pessoas  com  o  meio  ambiente  e  de  como  o  meio  pode  ser 
projetado  para  melhor  apoiá-los.  O  termo  foi popularizado pelo ecólogo americano Edward G. Wilson em 1984. ​‘Biofilia vem 
do  grego ​bios​, que significa vida e ​philia​, que significa amor, afeição, ou necessidade de satisfação. Ao pé da letra, biofilia é o 
amor  pela  vida’  (WILSON,1984).  O  primeiro  a  usar  o  conceito  foi  o  psicanalista  alemão  Erich  Fromm,  para  descrever  a 
orientação psicológica de atração por tudo que é vivo. 

Então  sobre  o  conceito,  sabe-se  que  a​plica  a  ideia  de  afinidade  humana  pelos  elementos  naturais  e  como  os  ambientes 
podem  interagir  com  esses  elementos,  promovendo  bem  estar,  saúde  e melhor desempenho. ​O design biofílico é concebido 
como  uma  condição  humana  que  faz  as  pessoas  se  sentirem  afiliadas  à  natureza  e  que  induz  à  busca  de  relação  com  os 
demais seres vivos e processos naturais (WILSON,1984).  

Se  resume  sendo  a  relação  do  homem  com  a  natureza  e  a  filiação  emocional  inata  com  a  natureza,  é  sobre  as  pessoas 
sentirem a necessidade básica desse contato com a natureza. Assim ​‘[...] a Biofilia pode ser definida como a tendência natural 
para  voltarmos  a  nossa  atenção  às  coisas  vivas,  à  natureza,  sendo  que  está  provado  que  ao  estarmos  em  comunhão  com a 
Natureza temos melhores prestações em todos os campos da nossa vida’. (PALMA, 2018). 

Contudo,  Kellert  (1997)  afirma  que  a  espécie  humana  quando  se  relaciona  com  o  meio  ambiente,  aumenta a capacidade do 
homem  sobreviver  e  prosperar  fisicamente,  emocionalmente  e  intelectualmente.  A  natureza  presente  nos  ambientes 
impactam  fortemente  no  bem  estar,  na  produtividade,  na  criatividade  e  motivação.  Como  evidência  em  pesquisa,  pelo 
relatório  Human  Spaces  no  Impacto  Global  de  Design  Biofílico  no  Local  de  Trabalho​,  aqueles  que  trabalham  em  ambientes 
com  elementos  naturais  relatam  níveis  mais  altos  de  bem-estar  (+15%),  produtividade  (+6%)  e  criatividade  (+15%)  do  que 

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aqueles que trabalham em ambientes sem natureza. 

Esse  design  nos  reconecta  a  natureza  tornando  essencial estar em lugares mais saudáveis. O design biofílico pode reduzir o 


estresse,  melhorar  a  função  cognitiva  e  a  criatividade,  melhorar  nosso  bem-estar  e  acelerar  a  cura,  em  casos  de  doença. A 
medida  que  a  população  mundial  continua  a  urbanizar,  essas  qualidades  são  cada  vez  mais  importantes,  no  mundo.  ‘O 
conceito  de biofilia tem um efeito positivo da natureza e do verde sobre a recuperação de pacientes em contextos relacionado 
a saúde e sobre o bem estar, o desenvolvimento emocional e cognitivo das crianças’ (WELLS, 2000). 

O  uso  desse  conceito  não  é  só  relacionado  um  compromisso  com  a  sustentabilidade,  mas incorpora uma relação de melhor 
desempenho  para  quem  utilizar  o  ambiente.  De  maneira geral, é uma abordagem à sustentabilidade, porém de uma maneira 
mais  tática,  emocional,  experiencial  e  humana.  Usando  esse  conceito  desde  do  início  do  projeto  e  incluindo  em  todas  as 
conversas de equipe de projeto, tende a melhorar o resultado final do projeto, assim como irá trazer a satisfação do cliente.   

Com isso, o design que nos conecta com a natureza está comprovado que aumenta a produtividade, como foi mencionado, em 
pesquisa,  de  forma que todos esses elementos influenciam na psicologia e na fisiologia humana. As estratégias dentro desse 
conceito,  são  técnicas  simples  e  devem  ser  implementadas  para  que  tudo  funcione  em  conjunto.Trazer  a  natureza,  para 
dentro  dos  espaços  vai  além  da  distribuição  de  plantas  no  local.  Envolve  outros  aspectos  diferentes  da  vegetação, ​tende no 
impacto  de  mudanças  ambientais  como  a  luz,  cor,  espaço,  forma,  ar,  material,  água  e  os  animais.  ​Todos  esses  aspectos 
auxiliam  em  deixar  mais  conectados  com  a  natureza,  estarmos  mais  próximos  da  mesma  promovendo  assim  satisfação, 
comodidade, orientação, conforto e produtividade contribuindo para a saúde e bem estar. 

Novas  pesquisas  apontam  e  apoiam  os  impactos  mensuráveis  e  positivos  ao  design,  fortalecendo  essa  conexão  entre  a 
natureza e humano, aumentando assim o número de pesquisas. Embora o conceito exista há 30 anos ainda não é uma prática 
comum,  padrão  e  nem  é  uma  discussão  leva  entre  profissionais  e  clientes.  No  entanto,  existem  poucas  orientações  para 
implementação desse conceito. 

Ainda  que  todas  essas  considerações  possam  ser  válidas  a  qualquer  tipo  de  ambiente,  quando  pensamos  em ambientes de 
acolhimento  em  que  a  criança  é  recebida  em  um  novo  local  para  morar,  muitas  vezes  por  um  tempo  indeterminado  e  com 
toda  a situação da vivência da problemática sendo afetada pelo psicológico. No caso o uso do conceito da biofilia irá amenizar 
toda  essa  situação  de  fragilidade  vivenciada nos acolhimentos. ‘Com toda essa questão é importante destacar a relevância da 
natureza  no  bem-estar  e  na  saúde  infantil  e  compreender  como  as  crianças  percebem  e  constroem  vínculos  com  os 
ambientes, seres e processos do mundo natural’ (WELLS, 2000). 

Assim  dentro  do  design  biofílico  procura-se  introduzir  a  natureza  dentro  dos  espaços  de  acolhimento,  da  casa  lar,  dessa 
forma  a  propor  ambientes  que  as  crianças  possam  vivenciar  a  natureza.  Essa  inclusão  do conceito tende a ser realizada em 
espaços  havendo  uma  conexão  visual  com  a  natureza,  estimulando  a  criança  vivenciar  de  forma  sensorial,  trabalhar  as 
questões  de  variâncias  térmicas,  presença  de  vegetação  e  contato  com  a  àgua.  Deixando  o  ambiente  mais  próximo  da 
natureza,  buscando  o  equilíbrio  com  o  planeta  e  o  apelo  estético,  mas  sobretudo  através  desse  contato  direto,  a  criança 
adquire  conhecimento  junto  com  emoções  agradáveis,  com  reforço  na  afetividade,  expansão da criatividade, imaginação e o 
bem estar criado com locais que trabalham essas percepções​. 

4.3 Psicologia Ambiental 


Trabalhar  com  arquitetura  é levar em consideração quem ocupa o ambiente, ​de modo a entender seus comportamentos e sua 
conexão  com o espaço, por isso, a psicologia ambiental é essencial. Dentro da psicologia, considerada multidisciplinar por ter 

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contribuições  em outras áreas como na arquitetura. As primeiras discussões foram em 1940 e se tornou conhecida em 1960 
e  1970.  Para  Okamoto  (1996),  existem  dois  universos  que  compõe o ser humano: o exterior e o interior. O exterior está em 
constante  adaptação  ao  meio  e  o  segundo  responde  a  estímulos  que  foram  recebidos  do  ambiente.  O  interior  é  mudado 
constantemente  pelo  contato  com  os  ambientes,  e  é  essa  relação  de  ser  humano  e  ambiente  construído,  que  a  Psicologia 
Ambiental trabalha.  

‘A  psicologia  ambiental  inclui  teoria, pesquisa e prática, na intenção de primeiro compreender, e posteriormente melhorar as 


relações  humanas  com  o  ambiente  natural,  bem  como  fazer  com  que  o  ambiente  construído  seja  mais  humanizado’ 
(GIFFORD,2014).  Os  psicólogos  ambientais  estabelecem  conceitos  como a percepção ambiental, cognição ambiental, espaço 
social, desenvolvimento humano e personalidade, apropriação, espaço e lugar. 

A  percepção  e  cognição  são  importantes  para  um  projeto  arquitetônico,  elas são as respostas aos estímulos dos ambientes. 


Apropriação  e  o  apego,  em  relação  ao  lugar  são  vistos  como  uma  reação,  cada  um  dos  cincos  sentidos são mecanismos de 
interface  para interpretar os estímulos externos, assim como os sentidos individuais, as crenças, ambições, medos e desejos. 
A  cognição  espacial  referem-se  às  sensações  percebidas  que  adquirem  valor  e  significado,  pois  o  ser  humano  tem  a 
capacidade de extrair as informações do local e toma uma consciência sobre o espaço criando através percepção. 

Assim,  na  relação  entre  o  ambiente  construído  e  os  seus  usuários,  o  conceito de percepção, serve para explicar 
reação  ao  ambiente  construído  imediato,  baseadas,  exclusivamente,  nos  sentidos,  enquanto  o  conceito  de 
cognição  serve  para  explicar  reações  ao  ambiente  construído  mais  amplo,  baseados,  além  de  nos sentidos, nos 
valores, conhecimento, personalidade e etc [...] (REIS E LAY, 2006, p.24). 

Uma  das  reações  é  a  apropriação,  que é um processo psicossocial centrado na interação pessoa e ambiente. É a mudança do 


espaço  que  se  transforma  em  lugar,  se  conecta  com  o  conceito  de ​place-attachment¹​, ou apego e o ​place- identity, o sujeito 
se  identifica  fortemente  e  cria  um  sentimento  de  proteção,  segurança  e  pertencimento,  desenvolvendo  uma  conexão 
emocional (GIFFORD, 2014). 

Além  do  espaço  físico  e  o  estudo  comportamental,  a  questão  das  memórias  também  são  levadas  em  consideração,  são 
chamadas  de  ​place-attatchment1,  que  se  diz  a  respeito  de  ligações  simbólico  afetivas  que  são  inerentes  à relação pessoa e 
ambiente. 

Percebe-se que elementos dentro do ambiente influenciam os comportamentos, quais são gerados os comportamentos pelos 
estímulos  ambientais.  Os  indivíduos agem sobre o ambiente modificando, ajustando-o, mas o ambiente também modifica os 
indivíduos,  influenciando  em  condutas,  comportamentos  e  ações.  Essa  inter  relação  como  sugere  Cavalcanti  e  Elali  (2011) 
apresenta  uma  visão  multidimensional  onde  é  necessário  compreender  os  componentes  físicos  da  situação,  em  relação  ao 
ambiente  e  a  arquitetura,  os  componentes  não  físicos  mais  relacionados  a  psicologia  e  as  reações  pessoais  de 
comportamento e por último os aspectos sociais, culturais, econômicos e políticos que são carregados dentro de cada pessoa. 
É Importante destacar o fato das pessoas se comportarem de diferentes maneiras, em espaços distintos. 

Em  uma  análise  geral,  respostas  surgem  ao  espaço  e  suas  reações  geram  apego  ou  afastamento.  Algumas  características 
impactam  diretamente  nesse  processo,  que  é  consequência  das  experiências  do  indivíduo.  Se  forem  favoráveis  ao 
desenvolvimento  à  permanência  essas  características  auxiliam  na  transformação  de  um  espaço  genérico  em  um  lugar com 
significado, garantindo a apropriação e a sensação de uma identidade construída.  

1
"Place attachment - É um conceito da psicologia ambiental que se resume sendo o vínculo emocional entre a pessoa e o lugar. 

55
Ao  se  tratar  especificamente  de  projetos  arquitetônicos  têm  que  se  considerar  o  fato  das  pessoas  estabelecerem 
conexões  positivas  quando  o  espaço  está  de  acordo  com  as  necessidades.  Garantir  essa conexão é uma tarefa que o projeto 
estará envolvido, por gerar uma proposta de uso equivalente. 

Para  isso dentro dos ambientes de acolhimento esse conceito de psicologia ambiental é tão importante, pelo tempo que pode 
se  passar  ao  longo  dele, já que o local de permanência variada e é um fato há levar em conta, pois geralmente a permanência 
é  considerada.  Cada criança reage de maneira distinta, é importante destacar aos tipos de relações estabelecidas. O ambiente 
favorece  para  que  relações  sejam  construtivas  em  termos  de,  crescimento  pessoal  e  na  sociedade  assim  a  arquitetura 
interfere nas relações.  

Devido  aos  problemas  que  levam  a  criança à institucionalização, as maiores dificuldades apresentadas pelos abrigados são a 


carência  afetiva, comportamentos agressivos, rebeldes, dificuldades escolares, experiência sexuais precoces e problemas com 
a enurese. Dentro dessas condições essas crianças adquirem muitas ambiguidades, ambivalências e conflitos.  

É  necessário  então,  entender  como  a vulnerabilidade perturba o desenvolvimento individual da criança e invade esferas mais 


abrangentes  da  sua  vida.  O  que  exige  dos  profissionais  e  da  entidade  em  si  darem  conta  desses aspectos psicogenéticos e 
sociogenéticos,  dessas  crianças  e  adolescentes.  ‘A  criança  institucionalizada  é  o  protótipo  dos  resultados  devastadores  da 
ausência  de  uma  vinculação  afetiva  estável  e  constante  e dos prejuízos causados por um ambiente empobrecido e opressivo 
ao desenvolvimento infantil’ (WEBER, 2008, p.1). 

Com  esses  problemas  segundo  a  pesquisa  de Pacheco (2002), as crianças apresentam uma característica comum entre elas, 


que  é  a  baixa  autoestima,  devido  a situação de abandono familiar. Isso se reflete em problemas de comportamento na escola 
e  no  lar,  acarretando  em  dificuldade  de  aprendizagem e comportamento que denuncia algum tipo de sofrimento psíquico. Já 
que  esse  sentimento  de  abandono  e  desproteção  sentido  pelas  crianças  desenvolvem  comportamentos  anti  sociais  que 
afetam  a  estrutura  da  personalidade  das  mesmas.  As  características  além  da  diminuição  da  autoestima,  é  um 
empobrecimento  do ego, que é levado ao quadro de inferioridade, uma percepção de uma reserva por parte delas, relacionada 
provavelmente a temores no contato com alguém, a desesperança, a falta de perspectivas e o medo desses jovens. 

É comum em sistemas de acolhimento notar que o atendimento padronizado, o alto índice de crianças por cuidador, a falta de 
atividades  planejadas  e  a  fragilidade  de  redes  de  apoio  afetivo  e  social  viabilizam  um  bom  desenvolvimento  para  a  criança 
por  um  bom  tempo.  A  compreensão  desses  fatores  auxilia  a  prevenção  e  promoção  dos  aspectos  mais  saudáveis  dos 
indivíduos,  portanto  o  fortalecimento  desses  aspectos  podem  ajudar  o  indivíduo  a  melhorar  suas  respostas  pessoais,  a 
frente às situações de risco. 

Dentro  da  psicologia  a  abordagem  ambiental  auxilia  a pensar-se nas interações da pessoa com os ambientes, desde os mais 


próximos  aos  mais  distantes.  ‘Para  o crescimento psicológico, importa a maneira como o crescimento psicológico, importa a 
maneira como o indivíduo percebe o ambiente mais significativo para a pessoa numa dada situação’ (YUNES, 2004). 

Dentro  dessa  perspectiva  o  ambiente  construído  vem  de  forma  a  suavizar  esse  período  de  acolhimento  e  auxiliar  em 
problemas  psicológicos.  Segundo  Winnicott  (2000),  o  desenvolvimento  emocional  saudável  depende  essencialmente de um 
ambiente  suficiente  bom.  Com  isso,  ambientes  integradores,  sociáveis  e  comunitários procuram auxiliar na reconstrução de 
comportamento, auxiliando na confiança em si e no outro, oferecer espaço para surgir criatividade e individualidade.  

O programa de necessidades quando focado nessa perspectiva, auxilia e estimula as relações de aptidões e talentos dentro do 
lar  procurando  descobrir  os  desejos  e  motivações  das  crianças  abrigadas.  Convivência  em  um  ambiente  intelectualmente 

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mais  estimulante,  acesso  garantindo  a  ensino  de  qualidade  e  outras  atividades  que  venham  a  estimular  habilidades 
cognitivas. 

Tizard  e  Ress  (1974)  concluem  que  qualquer  que seja o ambiente institucional ou familiar onde a criança esteja crescendo e 


se  desenvolvendo,  desde  os  primeiros  dias  de  vida  precisa  certamente  receber  estímulos  variados  para  que possa aguçar o 
interesse pelo meio que a cerca e desenvolver diferentes habilidades e competências ao longo da vida. 

Trabalhando  isso  dentro  do  lar,  o passado tem cada vez menos protagonismo na vivência emocional e cognitiva das crianças, 


a  experiência  do  acolhimento  assume  caráter  irremediável  por  oposição  ao  presente que carrega consigo a possibilidade de 
mudança.  O  futuro  é  visto  como  ‘melhor’, o pessimismo e a desesperança dão lugar ao otimismo e a esperança na resolução 
do problema. 

Além  do  ambiente  construído,  os profissionais competentes e capacitados também são capazes de rever atitudes e conceitos 


diante  da  complexidade  das  interações  humanas.  Os  técnicos  das  instituições  de  acolhimento  são  percebidos  como 
disponíveis,  apoiadores  fundamentais  no  apoio  da  reorganização  da  sua  vida  assim  como  em  famílias. Para isso, dentro da 
instituição  de  acolhimento  é  necessário  pensar  em  um  trabalho  multidisciplinar,  o  que  contribui  para  a  normatização  das 
reações  de  acolhimento  e  integração  desejada.  Permitindo  assim  operar  em  mudanças  nas  diversas  áreas  das  suas  vidas, 
minimizando os efeitos decorrentes da exposição da violência continuada.  

Em relação ao ambiente Dorian (2003) sugere a pertinência de se proporcionar aos abrigados ambientes mais positivos, com 
maior  segurança  e  estabilidade  e  promotores  de  resiliência,  o que significa propiciar um local onde haja fatores de proteção 
para o desenvolvimento humano, é preciso assim dar voz a criança. 

O  novo  tipo  sistema  de  acolhimento  comentado  e  comparado  em  relação  ao  histórico  de  acolhimento  como  foi  dito  antes, 
acaba  sendo  favorável  a  para  algumas  situações  de  risco  como  o  tratamento  massificado,  privação  da  convivência  familiar, 
separação  da  figura  de  apego  e  o  confinamento  social,  mas  somente  a quantidade e intensidade desses fatores de risco são 
decorrentes  a  experiência  de  privação  afetiva  seriam  capazes de definir o quão adversas e hostis podem ser as condições do 
ambiente  físico  e  social  para  o  desenvolvimento  da criança que se encontra sob os cuidados do abrigo. Assim o acolhimento 
proporciona  uma  perspectiva  das  crianças  em  um  ambiente  favorável  ao  bem  estar,  reflexão  e  reorganização  do  projeto 
pessoal familiar. 

Visto  a  importância  desse  conceito  dentro  da  situação  de  abrigamento  considera-se  importante  aplicar  o  conceito  de 
psicologia  ambiental  dentro  do  projeto  arquitetônico.  Com  isso,  foi  escolhido  a  teoria  de  ​place  attatchment  ​dentro  do 
conceito  da  psicologia.  Criando  assim,  uma  relação  sentimental,  um  apego  e  significado  ao  lugar,  a  relação  do  conceito  da 
proximidade da casa e o uso do verde podem deixar as crianças mais à vontade para criar esse apego ao espaço.  

4.4 Desenho Universal 


O  conceito de desenho universal foi criado em 1987 pelo americano Ron Maces e desenvolvido entre os profissionais da área 
de  arquitetura  na  Universidade  da Carolina do Norte - EUA. Com objetivo de definir um projeto de produtos e ambientes para 
ser  usados  por  todos,  na  sua  máxima  extensão  possível  sem  que  tivesse  necessidade  de  adaptação  ou  até  um  projeto 
especializado para pessoas com deficiência.  

O  projeto  universal,  é  deixar  acessível  para  todas  as  pessoas,  independentemente de suas características pessoais, idade ou 

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habilidades.  A  ideia  é  que  qualquer  ambiente  possa  ser  alcançado,  dentro  do  conceito  do  desenho  universal  de forma a ser 
usado  independentemente  de  qualquer  característica  que  o usuário tenha. É justamente evitar a necessidade de ambientes e 
produtos  especiais  para  pessoas  com  deficiência, assegurando que todos possam usar com segurança e autonomia. Hoje em 
dia o conceito acontece na nossa sociedade não é completa, mas já se torna consciente. 

O  desenho  universal  tem  como  objetivo  definir  projetos  de  produtos  e  ambientes  que  contemplem  toda  a  diversidade 
humana  desde  de  crianças,  adultos  altos  e  baixos,  anões,  gestantes,  idosos,  obesos,  pessoas  com  deficiência  e  com 
mobilidade  reduzida.  Resume  sendo  acessível  não  só para pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida, mas como uma 
transformação  para  todas  as  pessoas  que  vivem  em  sociedade.  Esse  tipo de desenho é o caminho para uma sociedade mais 
humana e cidadã.   

A  ideia  inicial  é  de  um  ​Universal  Design  ​que  nasceu  após  a  Revolução  Industrial,  quando  começou  a  se  questionar  sobre o 
processo  repentino  da  área  imobiliária,  onde  fazia  modelos  iguais  para  usuários  que  não são iguais. O conceito do conforto 
está  intimamente  ligado,  pensando  nisso  em  1961,  países  como  Japão,  EUA e nações europeias se reuniram na Suécia para 
discutir  sobre  o  ‘homem padrão’ nem sempre é o ‘homem real’. A normalidade é que a espécie humana sejam pessoas muito 
diferentes.  Em  1963  foi realizada a primeira conferência internacional em Washington a ‘​Barrier Free Design​’ com o objetivo 
de discutir os desenhos de equipamentos, edifícios e áreas urbanas . 

Mais  tarde  em  1987,  o  conceito  ficou  mais  profundo  com  o  americano  Ron  Mace  usava  cadeira  de  rodas  e  criou  essa 
terminologia ​Universal Design​. Acreditava no surgimento não de um estilo ou ciência, mas de uma percepção necessária para 
que  se  aproximamos  da  ideia  de  tornar  útil  para  todas  as  pessoas.  É  importante  ressaltar  que  o  desenho  universal 
democratiza o espaço e equipara as pessoas. 

No  Brasil  esse  debate  teve  início  em  1980  com  o objetivo de conscientizar os profissionais desta área, discussões mundiais 
ficaram  repercutidas  aqui  no país. Assim foram promulgadas algumas leis brasileiras para regulamentar o acesso para todos 
garantindo  a  parcela  da  população  com  deficiência  tivessem  as  mesmas  garantias  de todos os cidadãos. Com isso em 1985 
foi criada a ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) NBR 9050, a norma de acessibilidade a edificações, mobiliários, 
espaços  e  equipamentos  urbanos  à  pessoa  com  deficiência.  Sendo  revisada  em  1994  e  em  2004  foi  revisão,  a  sua  última 
revisão foi em 2015 e até hoje é regulamentada com todos os aspectos de acessibilidade. 

Na  década  de  90,  Ron  criou  um  grupo  com  arquitetos e defensores da ideia para estabelecer os setes princípios do desenho 
universal.  Conceitos  esses  que  passaram a ser mundialmente adotados, para qualquer programa de acessibilidade plena. São 
eles: igualitário, adaptável, óbvio, conhecido, seguro, sem esforço e abrangente. 

O  primeiro  desses  princípios  estabelecidos  é  o  igualitário,  tornar  o  uso  equiparável  e igual nos espaços, objetos e produtos 


se  forma  que  podem  ser  utilizados  por  pessoas  com  diferentes  capacidades.  Já  o  princípio  adaptável,  relacionado  ao  uso 
flexível  e  maleável,  ou  seja  espaços  e  objetos  têm  que  serem  adaptáveis  a  diferentes  tipos  de  uso  e  atendendo  suas 
diferentes  habilidades  e  as  diversas  preferências.  O  princípio  óbvio  é  atrelado  ao  uso  simples  e  intuitivo,  a  pessoa  deve 
conhecer  facilmente,  a  informação  deve  ser  clara  e  evidente,  ou  seja  de  fácil  entendimento  para  que,  a  pessoa  possa 
compreender independentemente de sua experiência, habilidade e conhecimento. 

O  quarto  princípio  é  o  conhecido, quando permite que a informação consiga chegar ao receptor, de forma fácil, é transmitida 


de  forma  a  atender  as  necessidades  do  receptor.  O  princípio  seguro,  quando é tolerante ao erro, previsto para minimizar os 
riscos  e  as  possíveis  ações  acidentais  e  não  intencionais.  Penúltimo  princípio  é  sobre  o  sem  esforço,  quando  tem  baixo 
esforço  físico,  usado  eficiente  entemente  com  conforto,  mas  o  mínimo de fadiga. Já o último princípio é sobre o abrangente 

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quando  a  dimensão  e  espaço é para aproximação e uso, estabelece  dimensões e espaços apropriados para o acesso, alcance, 
manipulação, uso, tamanho, mobilidade do usuário e a postura. 

Todos  os  princípios  do  desenho  universal  reforçam  a  ideia  de  acessibilidade  para  todos  e  visa  democratizar  o  acesso  não 
apenas aos ambientes, mas, a produtos e serviços. 

Os  locais  devem  sim  seguir  as  normas  da  ABNT,  que  no  caso  da  acessibilidade  é  a  NBR  9050  que  garante a acessibilidade 
desses  espaços.  ​Em  suma,  para  aplicar  o  desenho  universal  é  preciso  conhecer  as  diferentes  necessidades  e  pensar  nelas 
antes  de  começar  uma  construção,  a  fim  de  evitar  que  sejam  feitas  adaptações.  E,  mais  do  que garantir o acesso, é preciso 
ter  em  mente  que  dessa  forma  será  possível  incluir  a  todos,  aumentar  os  ganhos  e  visibilidade  das  marcas  que  com 
acessibilidade podem aumentar seu alcance. 

Dentro  dessas  questões  mencionadas  tão  importantes  para  a  construção  de  uma  edificação,  que é o desenho universal este 
conceito  foi  escolhido  para  ser  trabalhado  dentro  do  atual  projeto,  a casa lar pública. Sendo tão primordial já que vai haver a 
diferença  de  espaços  destinados  aos  usuários  crianças  assim  como  também  aos  adultos.  Além  disso,  o  lar  deve  ser  um 
espaço inteiramente acessível para quaisquer tipos de usuários, não havendo restrições. 

A  fim  de  atingir esses objetivos, o conceito de desenho universal vai ser usado, dentro dos sete princípios determinados pela 


sua  fundamentação  vão  ser  trabalhados  dois  em  projeto  que  é  o  abrangente,  que  é  em  relação  a  dimensão  dos  espaços  e 
suas  dimensões.  E  o  outro  princípio  é  o  igualitário,  que  se  resume sendo, tornar igual ou seja, acessível a todos e atingindo 
as diferentes capacidades. 

5. ANÁLISE DOS PROJETOS REFERENCIAIS 

5.1 ​ ​Beisha K​indergarten​ - Jardim de infância Beisha 


O  jardim  de  infância  ​Beisha  Kindergarten​,  é  considerado  a  ‘segunda  casa’  para  as  crianças,  já  que  muitos  pais  migram 
sazonalmente  para as grandes cidades, devido ao trabalho, perdendo assim grandes períodos de crescimento dos seus filhos. 
Foi  concebido  como  uma  vila,  um  conjunto  de  estruturas  semelhantes  a  casas,  agrupadas  em  torno  de  uma  praça  e 
conectadas por caminhos e passarelas elevadas. 

O  projeto  se  localiza  na  Vila  ​Beisha​,  no  condado  de  Fu’ning​,  Jiangsu  a  primeira  província  na  China.  Uma  região  rural  que 
apresenta  altos índices de alfabetização pré-escolar. Através de aliviar a escassez de educação pré-escolar nas áreas rurais, o 
projeto  foi  encomendado  em  2015,  pelo  governo  Chinês  junto  com  o  departamento  de  educação,  pelo  escritório  de 
arquitetura  ​Crossboundaries​,  de  Pequim.  O  resultado  da  aplicação  do  projeto,  foi  um  acelerado  desenvolvimento  com  uma 
educação de alta qualidade para crianças e adolescentes. 

O  condado  de  ​Fu’ning  é  historicamente  conhecido  por  sua  tradição  de  defender  a  educação,  a  cultura,  a  moralidade. 
Localizada  entre  a  planície  norte  e  a  rede  hídrica  central  a  província  de  ​Jiangsu​,  que  possui  uma  dinâmica  sazonal  da 
produção  agrícola  do  município que ocupa grande parte do espaço como principal economia da região, colocando moradias e 
todo o ambiente construído em segundo plano.   

O  projeto  de  2.815  m²  resume-se  por  casas  pequenas,  entre  o  térreo  e  1°  andar,  semelhante  às  casas  unifamiliares 
tradicionais,  que  compõem  uma espécie de ‘mini aldeia’, com telhados com diversas alturas que trazem movimento além das 

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fachadas de tijolos, como mostra a ​figura 16 ​em foto aérea.  

A  questão  da  ‘mini  aldeia’  oferece  às  crianças  uma  sensação  de  familiaridade,  proximidade  e  pertencimento  do  local. 
Enquanto  a  conexão  irregular  entre  cada  edifício,  introduz  uma  novidade  e  estimula  a  curiosidade  para  a  criança. Em torno 
das  casas  há  uma  área aberta, centralizada e multifuncional. Integrando essa questão do exterior com o interior do ambiente, 
favorecendo a recreação e a educação infantil que é inata ao contexto rural.  

​ ​ Figura 16: Vista aérea Jardim de Infância Beisha. 


Fonte: Wu Qingshan, Designboom, 2019.   
Disponível em: < ​https://www.designboom.com/architecture/crossboundaries-beisha-kindergarten-jiangsu-china-06-03-19/​ > 
 
A  escola  com  capacidade  para  300  alunos  tem  sua  entrada  de  frente  para  o  espaço  externo  que  fica  centralizado, em torno 
dos  edifícios,  que  funciona  com  espaço  de  lazer.  O  ambiente  é  cercado  por  árvores,  os  acessos  aos  edifícios  são feitos por 
caminhos  tortuosos,  que  são  incentivados  para  a  descoberta  de  pequenos  lugares  secretos  escondidos  da  praça  recreativa 
central, que podem até serem utilizados como esconderijos de brincadeiras como ‘esconde-esconde’. 

Projetada  como  uma  alternativa  à  natureza  repetitiva  e  homogênea  diferentemente,  de  muitos  edifícios  mais  comuns  em 
áreas  mais  urbanas.  As  salas  de  aula  do  projeto  são  colocadas  dentro  de  uma  mistura  de  blocos  ou  “casas”  individuais  de 
térreo  e um andar. Blocos separados maiores contêm para escritórios, cantinas e enfermarias, como mostra as plantas baixas 
nas ​figura 17​ e ​figura 18​. 
 

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​ ​ ​ Figura 17: Planta térreo Jardim de Infância Beisha. 


Fonte: Archdaily, 2018 e editado pela autora, 2019.   
Disponível em:  
<​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a277284dd119c700000c-jiangsu-beisha-
kindergarten-crossboundaries-1f-plan?next_project=no​ > 
 
As  plantas  baixas  mostram  o  programa  de  necessidades  bem  simplificado,  com  espaços  para  as  salas  com  o  padrão  mais 
normatizado  e  salas  de  aula  com  layout  mais  diferenciado  para  cada  uso  e  até  salas  multiuso,  banheiros,  sala  dos 
professores, enfermaria e cantina.  
 

61
 
​ Figura 18: Planta 1° pavimento de Infância Beisha. 
Fonte: Archdaily, 2018 e editado pela autora, 2019.   
Disponível em:  
<​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a2c8284dd1e06500000c-jiangsu-beisha-
kindergarten-crossboundaries-2f-plan?next_project=no​ > 
 
Sobre  os fluxos, a circulação no nível do solo, é irregular e ‘indefinida’, conectada por corredores sinuosos que cercam o pátio 
central  ao  ar  livre  e  é  usada  como partido arquitetônico, pois é utilizada como brincadeira entre as crianças, como mostra na 
figura 19​.  

​ Figura 19: Caminhos tortuosos entre os prédios. 


Fonte: Mini Liu, ArchDaily, 2018.   

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Disponível em:  
<​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0af7b284dd1e065000027-jiangsu-beisha-k
indergarten-crossboundaries-photo​ > 
 
No  primeiro  pavimento  a  circulação  interna  é  feita  pelo  acesso  de escadas no térreo, que levam até as plataformas elevadas, 
que  circundam  o  centro  ​do  jardim  de  infância  Beshia.  O  acesso  ao  outro  pavimento  é  realizado  em  alguns  blocos  que  têm 
esse pavimento. Como mostra a ​figura 20​. 
 
Os  caminhos  do  jardim  de  infância  é  um  diferencial  para  o  projeto,  no  primeiro andar não são somente vias de fluxos entre 
as  áreas.  Os  caminhos  se  combinam  com  uma  plataforma,  tipo  passarelas  onde  são  utilizadas  também  para  o  lazer  ao  ar 
livre,  que  explora  as  crianças  a  serem  criativas  nas  brincadeiras,  auxiliando  na  diversão  além,  da  vista  para  o  telhado  e  da 
área  central.​"As  vias  do  segundo  andar  não  são  apenas  uma  conexão  entre  áreas,  elas  se  combinam  para  formar  uma 
plataforma de exploração para crianças", disse o estúdio ​Crossboundaries. 

Figura 20: Área central recreativa com acesso a plataforma. 


Fonte: Wu Qingshan, Designboom, 2019.   
Disponível em: < ​https://www.designboom.com/architecture/crossboundaries-beisha-kindergarten-jiangsu-china-06-03-19/​ > 
 

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​ Figura 21: Vista da plataforma do primeiro andar.   
Fonte: Hongi Hao, ArchDaily, 2018.   
Disponível em: < ​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries​ > 
 
Quando  você  está  no  segundo andar, sua experiência é superada pelas inclinações dinâmicas dos telhados - essa 
pequena mudança de perspectiva permite que as crianças expandam sua experiência espacial cotidiana.”confirma 
o escritório de arquitetura Crossboundaries (ARCHDALIY, 2019). 
 
O  projeto  explora  a  utilização  abrangente  de  luz  natural,  com  as  grandes  janelas  de  nível  superior,  as  pequenas  aberturas 
voltadas  para  dentro  em  direção  ao  pátio  e  as  claraboias  criam  uma  variedade  de  conexões  visuais  entre  cada  bloco.  Como 
demonstra  a  ​figura  22​,  em  uma  sala  de artes, utiliza o partido das clarabóias no teto para a entrada da luz solar, diminuindo 
os custos e a utilização de equipamentos climatizados artificiais. 
 

​ Figura 22: Área interna da sala de pintura. 


Fonte: Wu Qingshan, Designboom, 2019.   
Disponível em: < ​https://www.designboom.com/architecture/crossboundaries-beisha-kindergarten-jiangsu-china-06-03-19/​ > 

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Em  croqui  na  ​figura  23  ilustra  e  exemplifica  como  funciona  os  pátios  de  ligações  que  dão  acesso  ao  1°  pavimento desses 
edifícios  em  blocos,  que  se  dá  por  escadas.  Além  de  acesso  ao  outro  pavimento,  por  uma  passarela  a  espécie de mezanino 
funciona  também  como  atividades  ao  ar  livre  para  as  crianças.  Essas  plataformas  ao  ar  livre  e  as  aberturas  em  cada  bloco, 
auxiliam na permeabilidade da ventilação em todo o terreno.  
 

 
​ Figura 23: Croqui do projeto de jardim de infância. 
Fonte: Archdaily, 2018 e editado pela autora, 2019.   
Disponível em:  
<​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a306284dd119c700000f-jiangsu-beisha-k
indergarten-crossboundaries-scale-and-interaction-sketch​> 
 
A  tipologia  arquitetônica  se  repete  no  ambiente,  o  que  faz  o  diferencial  do projeto é um volume prismático que se dissocia 
no  ambiente,  juntamente  com  as  inclinações  dinâmicas.  Cada  bloco  tem  alturas  diferentes  e  inclinações  diferentes  dos 
telhados  de  duas  águas,  trazendo  um  movimento  na  volumetria  e  um  diferencial na proposta, como mostra a ​figura 24​, em 
uma vista lateral.  

Os  materiais  utilizados  nas  fachadas são tijolos reciclados disponíveis no local, combinados com gesso branco, criando faces 


diferentes de cada ‘casa’.  

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​Figura 24: Vista lateral do Jardim de Beshia. 


Fonte: Wu Qingshan, ArchDaily, 2018.   
Disponível em:  
<​https://www.archdaily.com.br/br/920808/jardim-de-infancia-de-jiangsu-beisha-crossboundaries/5cf0a4b7284dd119c7000019-jiangsu-beisha-
kindergarten-crossboundaries-photo?next_project=no​ > 
   
Através  dessa  referência  arquitetônica  do  Jardim  de  Infância  Beisha,  procura-se  utilizar  algumas  propostas e conceitos que 
foram empregados no edifício para a realização do projeto arquitetônico da Casa-lar pública.  

A  questão  a  ser  usada  como  referência, é a volumetria, que se assemelha a de uma residência unifamiliar, remetendo a ideia 


da  ‘casa’,  em uma instituição de abrigamento, através da sua estrutura arquitetônica. Os blocos em conjunto, remetem a essa 
ideia  de  uma  ‘mini  aldeia’  de  um  conjunto  de  casas,  o  que  seria  uma  das  intenções  do  projeto,  transmitindo  através  da 
construção, uma comunicação de familiaridade entre os edifícios que ficam ao redor e as pessoas que habitam no local.  

Outro  aspecto  que  vai  ser  usado  como  referência  projetual,  é  em  relação  a  disposição  das  inclinações  dos  telhados  que 
compõem  o  projeto.  Diferentes  alturas  dos  telhados  e  inclinações  variadas  fazem  com  que,  as  casas  apesar  de  terem  uma 
estrutura ‘simples’ de uma residência, venham a tornar-se diferenciada, com a utilização desse partido dos telhados.  

O  uso  do  pátio  central  ao  ar  livre,  que  funciona  como  uma  grande  área  de  lazer  no  edifício,  que  se  conecta,  traz  uma 
proximidade  e  remete  a  uma  ‘forma  acolhedora’.  Apesar  de  cada  bloco ter o seu uso distinto, o pátio conecta aos acessos de 
cada  bloco  e  permite  a  interação  dos  espaços  internos  com  o  espaço  externo,  através  da  transparência  com  a  utilização de 
grandes  aberturas  com  vidros,  onde  é  possível  saber  o  que  acontece  na  área  central  e  assim  sucessivamente,  remetendo 
sempre  a  proximidade  e  facilitando  essa  permeabilidade  visual.  Visando  a  realização  do  projeto  da  casa-lar,  como 
equipamentos  que  abrigam  crianças  com  uma  fragilidade  afetiva  e  emocional,  para  isso  o  intuito  é  usar  essa  afeição  na 
forma arquitetônica, através do uso do pátio central, que irá a conectar aos blocos.  

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5.2 Orfanato e Centro de Aprendizagem Lali Gurans 
Lali  Gurans  é  o  primeiro  orfanato  autosustentável do mundo, o projeto atualmente em fase de construção, que consiste além 
do  orfanato  e  centro  de  aprendizagem,  como  sistema  de  assistência  a  infancia.  Localizado  próximo  a  uma  região  de 
Katmandu,  uma  zona  rural  de  Nepal.  O  projeto  surgiu  como  parceira  entre  o  escritório  responsável,  MOS  Arquitects  e  a 
organização  Seeds  of  Change  Foundation,  com  o  objetivo  de  contribuir  socialmente  para  a  situação  de  crianças  pobres,  na 
região  do  Nepal,  que  é  uma  das  regiões  com  os  maiores  índices de crianças e jovens pobres e uma situação exacerbada por 
costumes  punitivos  contra  as  mulheres,  onde uma mulher geralmente não pode trabalhar depois do divórcio, sendo portanto 
incapaz de sustentar suas crianças.  

Através  disso,  o  projeto  tem  como  objetivo,  um  edifício  semi  autônomo  e  acessível  através  de  um  projeto  sustentável  e 
eficiente  com  técnicas  de  construção  simples,  o  projeto  utilizou  técnicas  da  arquitetura  vernacular.  Aproveitando o máximo 
material  disponível  na  região,  técnicas  simples  e  disponíveis na região, de forma a maximizar a vida útil do prédio. O intuito 
da realização do projeto é fornecer essa instituição como modelo para outros centros educacionais e abrigos infantis. 

​ ​ Figura 25: Perspectiva eletrônica do Orfanato.   


Fonte: Bierig​, Aleksandr ​ArchDaily, 2014. 
Disponível em: 
<​https://www.archdaily.com.br/br/01-164641/mos-architects-assume-projeto-humanitario-no-nepal/5298d60ce8e44ec16e00016b-mos-architec
ts-take-on-humanitarian-design-in-nepal-photo​> 
 

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​ Figura 26: Foto da construção do Orfanato Lali.   
Fonte: Junho de 2017,UrbanNext. 
Disponível em: < ​https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/​ > 
 
O  projeto  funciona  mais  do  que  um  abrigo para crianças mais também como um centro de ensino e capacitação de crianças, 
jovens  e  mulheres  nepalesas.  O  edifício  de  2.325  m²,  com  o  térreo  e  3  pavimentos  que  abriga  uma  série  de  programas  e 
serviços, de abrigamento aliado a projetos educacionais modernos com sustentabilidade. 

Assim  comporta  uma  biblioteca  comunitária,  salas  multiuso  e  de  administração  no  térreo,  que serão abertas a comunidade. 
No  primeiro  pavimento  fica  a  cozinha,  despensa,  sala  de  jantar  e  dos  funcionários  e  banheiros,  o  acesso  é feito por escada 
com  uma  área  livre  de  ventilação  na  fachada  frontal  do  prédio.  Já  no  segundo  pavimento,  é  dedicado  aos  dormitórios  que 
receberão  as  40  crianças  e  jovens  desabrigadas,  há  os  quartos  para  os  funcionários,  salas  de  leitura  e  estudo.  No  último 
pavimento  outras  atividades  recreativas  onde  são  propostas  salas  de  música,  arte,  sala de aula e o jardim que fica livre para 
atividades.  Como  mostra  a  ​figura  27​,  com  todas  as  plantas  dos  pavimentos,  os  fluxos,  acessos  e  o  programa  de 
necessidades. 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

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Figura 27: Plantas baixas do térreo, 1° pavimento, 2° pavimento e 3° pavimento do Orfanato.   
Disponível em: 
<​http://src.lafargeholcim-foundation.org/flip/A15/Childrens-Ziggurat/files/assets/common/downloads/publication.pdf​> e editado pela autora 
 

​ Figura 28: 1°Corte esquemático.   


Fonte:UrbanNext, editado pela autora, 2019. 
Disponível em: <​https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/​> 

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​ ​ Figura 29: 2° Corte esquemático.   
Fonte:UrbanNext, editado pela autora, 2019. 
Disponível em: <​https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/​> 
   
   
Nas  fachadas  foram  abertos  grandes  vãos  com  brises  que  aproveitam  a  luz  natural  e  sombreiam  os  ambientes  internos 
quando  necessário.  A  estrutura  vazada  da  fachada  deixa  o  local sempre ventilado. O uso dos materiais e os detalhes visam a 
melhoria do conforto ambiental para o usuário, reduzindo o uso de refrigeração interna. 
 
O  edifício  abrange  jardins,  dois  jardins  verticais  e  um  na  cobertura  projetados  de  forma  que,  as  frutas  e  verduras  fossem 
suficientes  para  produzir  alimentos  e  atender  as  crianças.  A  irrigação  é  realizada  por  um  80  ganchos  com  sistema  de 
gotejamento  fixo e mais de 300 suspensões verticais plantadores na fachada do edifício. Esses jardins são todos alimentados 
com  uma  água reutilizada através da bio-pasta e água cinza. Árvores frutíferas no jardim do pátio são para complementar, os 
legumes  e  ervas  cultivadas  no  exoesqueleto  do  prédio,  na  fachada.  Como  ilustra  a  ​figura  30  com  a  perspectiva,  onde  é 
possível  visualizar  os  brises  na  fachada,  que  facilita  a  iluminação  e  ventilação  natural  como também a presença dos jardins 
em todos os pavimentos. 

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​ Figura 30: Perspectiva na fachada do Orfanato.   


Fonte: Bierig​, Aleksandr ​ArchDaily, 2014. 
Disponível em: 
<​https://www.archdaily.com.br/br/01-164641/mos-architects-assume-projeto-humanitario-no-nepal/5298d61ae8e44e3dd20000f7-mos-architec
ts-take-on-humanitarian-design-in-nepal-photo​> 
 
Por  estar  inserido  em  um  local  desprovido  de  infraestrutura  é  importante  que  o  projeto  atenda  as  necessidades,  com  isso 
diversas  atividades  sustentáveis  foram  levadas  em  consideração,  além  do  futuro  das  gerações  assim  como  o  do  edifício,  o 
projeto adota medidas que foram utilizadas na arquitetura, diminuindo o impacto no ambiente pela construção.  

Como  dito  anteriormente,  o  edifício  possui  sistemas  de aproveitamento de água pluvial, onde é passado por um processo de 


purificação  que  vai  ser  utilizado  na  irrigação  dos  jardins  e  na  agricultura.  Reutiliza  também  além  dos  recursos  de  águas 
pluviais,  o  de  rios  e  aproveita  a  água  das  cinzas,  que  são  água  usadas  em  chuveiros  e  cozinha.  Outro  método  adotado  é a 
colheita  de  biogás,  que  através  da  utilização  dos  seus  desperdícios  e  água  preta,  irá  alimentar duas cisternas para digestão 
com  biogás  de  resíduos  sólidos  biodegradáveis,  e  então  os  materiais  processados  criarão  um  fertilizante  natural  rico  em 
nutrientes para o cultivo do solo.  

O  edifício  também  conta  com  o  sistema  de  coleta  e  aquecimento  de  energia  solar  por  meio  dos  painéis  solares,  que  serão 
utilizados para gerar eletricidade, sendo o principal fornecimento de energia para o orfanato.  

Em  geral,  o  edifício  integra  sistemas  e  métodos  sustentáveis  e  renováveis,  que  são  mostrados  na  ​figura  31​,  inclui jardins, 
uso  de  brise  ​soleil​,  permacultura,  biogás que será reciclado para gerar energia no edifício, 15 painéis solares de 175 ​wolters 
montados no telhado, coleta de água de chuva em 3 grandes cisternas, tratamento passivo de águas residuais e exploração da 
iluminação  e  ventilação  natural.  De  modo  que  possa  reduzir  os  custos  operacionais  pela  metade,  permitindo  que  a 
organização maximize seu desempenho social do impacto da comunidade. 

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​ Figura 31: Corte esquemático com os sistemas renováveis.   


Disponível em: 
<​http://src.lafargeholcim-foundation.org/flip/A15/Childrens-Ziggurat/files/assets/common/downloads/publication.pdf​> 
 
O  projeto  foi  realizado  em  uma  região  que  sofre  abalos  sísmicos,  então  como estrutura, foi concebido com uma base sólida 
de  concreto,  sendo  importante  para  a  resistência  do  edifício  nessas  condições  de  terreno.  O  método  da  construção  é  uma 
estrutura  de  concreto  com  enchimento  de  tijolos,  mas  no  projeto  do  orfanato,  essa  estrutura  de  concreto  padronizada  é 
dobrada  para  se  tornar  estruturalmente  redundante,  de  modo  que  o  tijolo  possa  ser  removido,  permitindo  mais  conexões 
visuais do interior para o exterior. 
 
A  estrutura  de  concreto  armado,  feito  de  cinzas  volantes de usinas de carvão, de 30 cm de enchimento de tijolos, adicionado 
a  uma camada extra de colunas para eliminar a necessidade do tijolo. Isso cria uma estrutura mais aberta que admite a luz do 
dia  no  interior.  Entre  as  camadas  da  estrutura  externa,  há  uma  zona  que  oscila  entre  o  interior  e  o  exterior,  contendo 
circulação  vertical  primária as escadas, bem como solários e os jardins. As escadas entre as duas camadas da estrutura agem 
como  suporte  em  ‘X’  para  estabilidade  lateral conectados através do jardim vertical, a permacultura, a produção de alimentos 
e proteção solar. Como mostra na ​figura 32​, a estrutura do orfanato Lalis Gurans. 

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Figura 32: Maquete do esqueleto do prédio do Orfanato.   


Fonte: UrbanNext. 
Disponível em: <​https://urbannext.net/mos/lali-gurans-orphanage/​> 
 
Sobre  sua  forma  a  sua  fachada  possui  ritmo e simetria através do pilares de concreto, que são usados tanto estruturalmente 
como para formar a fachada, de forma que o acesso ao prédio é demarcado por uma descontinuidade da malha dos pilares. 
 
Já  na  ​figura  33  é  possível  visualizar  uma  perspectiva  eletrônica  do  interior  do  orfanato,  com  a  estrutura  aparente  em 
concreto,  as  grandes  esquadrias  de  vidro possibilitando as visuais entre o exterior e o interior do terreno além, das questões 
de  favorecimento da iluminação natural, no intuito da eficiência energética. É possível verificar de como funciona a circulação 
da  escada,  para  o  acesso  aos  outros  pavimentos.  Ficando  entre  a  colunas  de  concreto,  de frente para o prédio, e os grandes 
painéis de vidro, onde fica a escada e o plantio de verduras e legumes, como jardim vertical. 
 

​ Figura 33: Perspectiva eletrônica do interior do Orfanato.   


Fonte: Bierig​, Aleksandr ​ArchDaily, 2014. 
Disponível em: 
<​https://www.archdaily.com.br/br/01-164641/mos-architects-assume-projeto-humanitario-no-nepal/5298d680e8e44e5c5000011e-mos-archite
cts-take-on-humanitarian-design-in-nepal-photo?next_project=no​ > 
 

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No  interior  do  edifício  e  trabalha as visuais, através de painéis de vidro, do exterior com o interior entre espaços com jardins 
que  servem  para  o  plantio  e  favorecem  um microclima agradável do prédio, como ilustra a figura 8, em perspectiva ilustrada 
do orfanato.   
 

 
​​ ​Figura 34: Perspectiva do interior do Orfanato, área externa da horta com as salas.  
Fonte: SPACESNEPAL, 2017. 
Disponível em: < ​https://spacesnepalblog.wordpress.com/2017/09/10/childrens-ziggurat-lali-gurans-orphanage-library/​> 
 
Na  ​figura  35  ​mostra  como  vai  ficar  a  parte  do  acolhimento,  dos  quartos  que  são  divididos  por  beliches  que  abrigam  2 
crianças com áreas individuais para manter os seus pertences individuais, com móveis de madeira reutilizada.  
 

   
​ ​ ​ Figura 35: Perspectiva do interior do Orfanato, área dos quartos.  
Fonte: Fabrizio Gallanti, ABITARE,2016. 
Disponível em: <​http://www.abitare.it/en/architecture/projects/2016/06/23/mos-presta-soccorso-nepal/​ > 
 

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Assim  conclui-se  então  sobre  essa  referência  projetual,  que  a  mesma  vai  ser  utilizada  como  modelo,  para  a  realização  do 
projeto  arquitetônico  da  casa-lar  pública.  A referência de maior destaque é a importância que se dá em questão da eficiência 
energética  e  a  sustentabilidade,  com  o  uso  de  materiais  do  local,  aproveitamento  da  ventilação  e  iluminação  natural,  a 
presença  de  jardins  internos  ajudando  na  criação  de  um  microclima  agradável,  uso  de  painéis  solares,  aproveitamento  de 
água pluvial através de cisternas e utilização de biogás, para a utilização da energia ser produzida no edifício.  
 
Tudo  com  o  intuito  de  reduzir  os  custos  do  prédio  de  forma  a aproveitar toda a energia consumida do prédio, que no caso é 
rebatida  através  desse  aproveitamento.  A  elaboração  do  atual  projeto,  se  refere a um equipamento público, então é de suma 
importância  o  edifício  ter  os  custos  reduzidos  na  construção  e  na  manutenção.  Com  isso,  de  certa  forma,  os  conceitos  da 
eficiência energética e da sustentabilidade vão ajudar para o funcionamento ideal e de custo barateado da casa-lar. 
 
Outra  referência que vai ser utilizada é a questão comunitária e humanizada que o projeto remete, através de seus ambientes 
e  elementos,  trazendo  a  arquitetura  para esse lado mais social. Ambientes e elementos esses que são a: horta comunitária, a 
permacultura,  a  existência  de  árvores  frutíferas no jardim do pátio e o jardim vertical. A intenção é projetar um equipamento 
que  as  crianças  possam  ter  essa  uma  convivência  ecológica  e  de  plantio  coletivo  para  a  sobrevivência  das  mesmas,  no 
edifício de forma, a atender a alimentação de todos os usuários.   
 
5.3 ​ ​Lar de Crianças Sara e Burton Davis-Unidade Aquiraz 
É  uma  instituição  fundada  em  2001,  que  tem  como  foco  restaurar  e  preparar  vidas,  acolhendo  crianças  e adolescentes que 
viviam  em  situação  de  vulnerabilidade  social,  levando  elas  a  habitar  em  um  lugar  digno,  com  boa  alimentação,  educação, 
cuidado  e  proteção.  Atuando  há  18  anos no Brasil e fundado pelos americanos Mark e Paige Anderson essa organização luta 
com  os  desafios  diários,  sobrevivendo  e  sendo  mantida  apenas  com  doações  voluntárias,  ofertas  recebidas  de  igrejas, 
parcerias e convênios com algumas empresas. 

A  ideia  surgiu  de  uma  senhora  chamada  Betty  Brown,  que  ao visitar o Brasil, junto com um grupo de médicos missionários, 
ficou  impressionada  e  sensibilizada  com  a  quantidade  e  as  situações  das  crianças  vítimas  de  vulnerabilidade  social.  Ao 
retornar  ao  seu  país,  ela  doou  parte  de  sua  herança  para  construir  um  abrigo  que  cuidasse  dessa  crianças.  O  nome  da 
instituição  foi  uma  homenagem  feita  a  um  casal  de  médicos  e  missionárias  que  trabalham  muitos  anos  no  Brasil, 
defendendo as causas sociais. 

Com  três  unidades  espalhadas  pelo  Ceará,  com  uma  unidade  no  Aquiraz,  a  outra  no  Eusébio  e  a  última  em  Fortaleza.  No 
Aquiraz  são  5  casas  lares  no  local  que  acolhe  meninas  e  meninos  de  03  a  17  anos,  com  56  crianças  e  adolescentes 
atualmente,  sendo  23  do  sexo  masculino  e  33  do  sexo  feminino.  A  estrutura  contempla  biblioteca,  consultório  médico  e 
odontológico, sala de artes, sala de reforço escolar, sala de informática, refeitório, piscina e área de lazer.  

Todos  os  abrigados  estudam  na  rede  pública  de  ensino,  sendo  trabalhados  nas  unidades  de  acolhimento  o  reforço  escolar, 
curso de informática e cursos de patchwork, como incentivo e apoio a educação dos mesmos.As casas lares são formadas por 
uma  equipe  de  voluntários  com  pediatra,  dentista  e  bibliotecária,  com  atendimentos  quinzenais  e  semanais.  Cada  unidade 
compõe de uma equipe técnica com 23 funcionários, 1 psicóloga e 1 assistente social. 

A  unidade  da  instituição  Lar Davis que vai ser analisada como projeto de referência arquitetônico é a unidade do Aquiraz que 


comporta 56 crianças, em 5 casas lares. 

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O  lar  é  marcante  por  uma  grande  área  de  lazer aberta, o que torna possível para a realização de inúmeras atividades, onde a 
criança  fica  livre  para  usar  a  imaginação.  Uma  das  atividades  de  lazer  é  o  futebol,  como  ilustra  a  ​figura  37​.  Essa  área  de 
aberta  funciona  como  um  pátio  interno,  as  casas  lares  e  os  blocos  de  serviço e administração circundam por toda essa área 
verde como mostra na ​figura 36. 

 
​ Figura 36: Área de lazer ao ar livre, Lar davis 
Fonte: ​https://www.facebook.com/lardavisbrasil/ 

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Figura 37: Área de lazer no Lar Davis usada para a prática do futebol. 
Fonte: ​https://www.facebook.com/lardavisbrasil/ 
 
As  5  casas  lares  são  distribuindo  ao  longo  da  grande  área  aberta  e  de  acordo  com  as  faixas  etárias  são  separadas  em 
módulos.  Cada  casa  lar  recebe  na  fachada  uma  cor  e  a  mesma contém em média de dois a três quartos para as crianças que 
são  divididos  entre  2  e  3  crianças,  o  quarto  da mãe social, uma sala que é usada para a convivência e banheiro. Cada criança 
tem seu espaço individual para guardar os pertences. 
 

 
Figura 38: Módulo da unidade da casa lar. 
Fonte: ​https://www.facebook.com/lardavisbrasil/ 

 
Figura 39: Unidade da casa lar, no lar Davis. 
Fonte: ​https://www.facebook.com/lardavisbrasil/ 
 

6. DIRETRIZES PROJETUAIS 
Com  base  nas  referências  projetuais,  no  estudo  de  caso  e  levando  em  conta  a  relação  da  problemática  do  tema  com  a 
arquitetura,  foram  estabelecidas  algumas  diretrizes  projetuais  que  vão  auxiliar  e  nortear  no  desenvolvimento  do  presente 
projeto, uma casa lar pública para abrigar 45 crianças de 0 a 12 anos em situação de vulnerabilidade social. 

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É  necessário  entender  que  o  projeto  é  destinado  ao  público  infantil,  que  vão  estar  sob  os cuidados de  funcionários e que o 
ambiente  de  dormitório  vai  ser  o  mais  próximo  a  de uma realidade familiar. Podendo considerar que o projeto do lar vai ser 
para  uma  família,  que  possui  particularidades  e  especificidades,  como  qualquer  uma,  sendo  necessário  entender  sua 
dinâmicas e necessidades. 

Um  dos  desafios  é  projetar  sabendo  que  os  membros  das  casas-lares  variam  com  uma certa frequência, uns podem passar 
meses  e  outros  anos.  Assim  como  o  sexo  e  a  idade  dos  seus  membros  variam,  podendo  sofrer  alterações  no  espaço.  As 
regras  são  estabelecidas  em  cada  casa,  assim  como  funciona  em  uma  casa  com  família,  sendo  que  o  acesso  a  casa  nunca 
deve ser restrito, impedido ou controlado.   

O  projeto  é  comportado  por  blocos  com  o  setor administrativo, educacional, saúde, serviço, casa de visitação e 6 casas-lares 


que são cercadas por um pátio central de área de lazer. 

No setor administrativo e o de saúde as diretrizes vão ser: 

- Propor um ambiente mais rígido remetendo a uma instituição e destinados aos funcionários; 
- Visuais para a rua; 
- Implantar em um local mais afastado das casas lares. 

O setor educacional as diretrizes que regem o setor são: 

- Ambientes  mais  lúdicos  que  possam  promover  a  integração  das  crianças  com  as  atividades,  de  forma 
mais prazerosa; 
- Uso de cores e formas lúdicas, infantis e atrativas;  

As casas lares e a casa de visitação, que são as unidades residenciais terão as diretrizes: 

- Ofertar espaços parecidos como um de uma residência unifamiliar comum;  


- Releitura da forma básica de uma residência; 
- Espaços personalizados aos acolhidos; 
- Oferecer  assistência  personalizada  e  individualizada,  mas  não  separar irmãos, ou qualquer tipo de parentesco sem 
perder os vínculos;  
- Criar espaços de convivência dos moradores da residência; 
- Propor ambientes adequados para estudo; 
- Atender o número de usuários máximo para cada unidade de casa lar. 

Nos espaços ao ar livre e de convivência as diretrizes: 

- Integrar os espaços internos com os externos; 


- Promover a integração da criança com a natureza; 
- Criar espaços seguros de forma a propor uma integração com a comunidade; 
- Propor um espaço de eventos beneficentes para ajudar na manutenção da casa lar; 
- Fazer um parque infantil acessível para as crianças; 
- Sugerir  espaços  comunitários  em  que  as  crianças  possam  auxiliar  na  realização  de  atividades  diárias  de  forma  a 
sentir mais próximas ao cotidiano de uma família; 
- Compor uma área livre com diferentes espaços de atividades e permitindo a socialização; 

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- Conceber espaço de gentileza urbana para o bairro. 

Em geral as diretrizes que vão permear o projeto são: 

- Utilizar  de  meios  sustentáveis  e  de  eficiência  energética  com  o  aproveitamento  solar,  aproveitamento  das  águas 
das  cinzas  para  que  possa  ser  reaproveitado  e  reduzido  os  custos  de  manutenção  do  edifício.  De  forma  também 
que os jovens possam familiarizar com esses métodos a fim de aplicá-los; 
- Uso de materiais e métodos alternativos/ locais; 
- A  edificação  ser  totalmente  acessível,  de  acordo  com  a  norma  NBR  9050,  de  forma  que  o  espaço  possa  ser 
projetado  e  utilizado  por  todos.  Para  que  o  espaço  não  imponha  em  barreiras  para  a  vivência  de  quem  tem 
mobilidade reduzida; 
- Os  ambientes  dos  dormitórios  devem  ser  os  mais  livres  e  modulares  possíveis  para  facilitar  na  organização, 
permitindo que eles possam ser reajustados de acordo com a necessidade do morador; 
- Aproveitar a ventilação e iluminação natural e proteger as fachadas com maior incidência solar; 
- Favorecer a criação de vínculos afetivos entre os acolhidos e os cuidadores; 
- Tornar  o  mobiliário  ergonômico  adequado  a  dimensões  infantis  e  adultas,  principalmente  as  crianças  para  ter 
acesso livre, sentindo-se mais pertencentes daquele local. 

7.ESCOLHA DO TERRENO 

7.1 Localização 
Como  já  foi  mencionado  é  exigido  de  acordo  com  a  Orientações  Técnicas:  Serviços  de  Acolhimento  para  Crianças  e 
Adolescentes-  Brasília,  Junho  de  2009,  sobre  a  localização  das  casas  lares.  As  mesmas  devem  estar  localizadas  em  áreas 
residenciais,  sem distanciar-se muito pelo ponto de vista geográfico e socioeconômico da realidade de origem das crianças e 
adolescentes  acolhidos.  Como  também,  é  importante  a  proximidade  com  escolas,  equipamentos  de  saúde,  lazer  e  de 
transporte público.  

Então algumas diretrizes foram determinadas para nortear a escolha do bairro e futuramente do terreno, os critérios foram: 

O  entorno  sendo  residencial  já  que,  como  foi  dito  no  histórico  de  acolhimento  do  Brasil  as  antigas  instituições  eram 
implementadas  distantes  da  cidade,  normalmente  em  área  rural.  Após  a  criação  do  ECA  foi  dito  que  as  entidades deveriam 
estar  localizadas  em  zonas  residenciais.  De  forma  então,  que  as  habitações  do  entorno  não  devem  destoar  da  condição 
socioeconômica dos acolhidos.  

Outra  questão  relevante  que  foi  levantada  é  a  proximidade  com as escolas, creches os equipamentos educacionais em geral, 


pois são serviços essenciais de atenção às crianças gerando assim facilidade na locomoção até o local. 

A  proximidade  de  serviços  de  saúde  também  é  bastante  relevante  assim  como,  as  escolas  pois  são  serviços  fundamentais 
para qualquer população. O que garante assim um atendimento médico ágil e eficiente em casos de emergência. 

As  últimas  diretrizes  são  em  relação  à  proximidade  de  equipamentos  de  lazer  ou  de  áreas  verdes  e  a  proximidade  ao 
comércio.  Espaços  de  lazer  nos  arredores  promovem  uma  interação  e  socialização  entre  a  população  local. As áreas verdes 
contribuem  para  o  desenvolvimento cognitivo e psicológico das crianças. A imediação com o comércio como supermercados, 

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farmácias, padarias é importante para qualquer bairro residencial facilitando no cotidiano.  

O  primeiro  passo  para  a  escolha  do lote foi verificar e mapear as instituições de acolhimento infantil existentes na cidade de 


Fortaleza/CE.  E  dividir  quais  são  instituições  governamentais  e  quais  OGN’s, instituições privadas. Foi visto, como mostra o 
mapa  1​,  que  em  alguns  bairros  apresenta-se  mais  de  uma  instituição.  Resume  então  com  esses dados, que as instituições 
em  Fortaleza,  atendem  o  público  infantil  estão  localizadas  ao  longo  do  eixo  do  centro  da  cidade,  difundidas  pelo  centro. 
Percebe-se  que as áreas perimetrais, não são contempladas com esse serviço. A intenção é escolher um bairro que não fosse 
contemplado ainda com esse tipo de serviço. 

​ Mapa 1: Instituições de acolhimento infantil, de Fortaleza e sua natureza.  


Fonte: da autora, 2019. 
 
Assim  mais  um  dado  foi  analisado,  como  foi  dito  nas  diretrizes  da  escolha  do  terreno,  a  presença  de  algum  elemento 
relacionado  a  saúde  é  de  fundamental  importância  para  a  escolha  do  bairro,  que  vai ser instalado o conjunto de casas lares. 
Assim  foi  escolhido  as  Unidades  de  Pronto  Atendimento  (UPA),  como  tipo  de  serviço  a  saúde  já  que, estas unidades tem o 
objetivo  de  suprir  as  necessidades  de  um  atendimento  rápido. Dentro do Sistema Único de Saúde (SUS),se enquadra em um 
atendimento secundário de saúde, uma emergência, urgência com atendimento mais centrado. 
 

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Então  para  a  escolha  do  bairro  foi  determinante,  que  o  mesmo  tivesse  uma  UPA,  para  suprir  necessidades  em  quaisquer 
eventualidades,  para  depois  ser  encaminhado  a  um  hospital,  com  atendimento  terciário,  que  seria  um  serviço  mais 
específico. 
 
Através disso, foi elaborado o ​mapa 2​, onde foram localizadas as UPA’s por bairro.  

 
Mapa 2: Unidades de pronto atendimento de Fortaleza. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
Após  isso, foi colocado as informações do ​mapa 1 em sobreposição com o ​mapa 2​. Foi percebido que alguns bairros que não 
eram  contemplados  com nenhuma instituição de acolhimento,  o já que é uma diretriz para a escolha do bairro. Esses bairros 
ainda  não  são  contemplados  com  o  serviço  de  acolhimento,  mas  são  os  bairros  que  tem  unidade  de  pronto  atendimento 
(UPA),  os  seguintes  bairros  foram:  José  Walter,  Messejana,  Vila  Velha,  Praia  do  Futuro,  Conjunto  Ceará,  Granja  Lisboa, 
Canindezinho, Autran Nunes, Itaperi, Cristo Redentor e Bom Jardim. 
 
Por  fim  o  último  elemento  para  justificar  a  escolha  do  bairro, para a implantação do projeto, foi a proximidade com o centro 
de  assistência  social.  No  caso,  o  centro  de  assistência  mais  ideal  para  o  serviço  de  acolhimento  é  o  Centro  de  Referência 
Especializado  de  Assistência  Social  (CREAS),  que  é  um​a unidade pública da política de Assistência Social onde são atendidas 
famílias e pessoas que estão em situação de risco social ou tiveram seus direitos violados. 
 

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Além  de  orientar  e  encaminhar  os  cidadãos  para  os  serviços da assistência social ou demais serviços públicos existentes no 
município,  no  CREAS  também  se  oferece  informações,  orientação  jurídica,  apoio  à  família, apoio no acesso à documentação 
pessoal  e  estimula  a  mobilização  comunitária.  Um  dos  públicos  que  o  centro  recebe  é  justamente,  o  que  sofre  com  o 
afastamento  do  convívio familiar devido à aplicação de medida de proteção ou outro casos são relacionados a vulnerabilidade 
social,  público  este  que  está  intimamente  atrelado  ao sistema de acolhimento. Resultando no ​mapa 3​, onde os CREAS foram 
posicionadas por bairro. 
 

 
Mapa 3: CREAS- Centro de Referência Especializado de Assistência Social em Fortaleza. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
Com  esse  mapa  foi  visto  que,  não  havia  nenhum  bairro  que  era  contemplado  com  as  três  diretrizes  simultaneamente 
escolhidas.  Ou  seja  não  tinha  um  bairro  que  havia  uma  UPA  e  o  CREAS  e  que  ainda  não  havia  alguma  entidade  de 
acolhimento. 
 
Então,  foi  dado  prioridade  a  questão da UPA, pensando em solucionar eventualidades que poderiam surgir e em bairros que 
possam  ser próximos a outros que tem o CREAS. Através de todos esses motivos, o bairro escolhido para o conjunto de casas 
lares  foi  o  bairro  de  Messejana,  que  é  beneficiado  pelas  diretrizes  escolhidas  após  todos  esses  levantamento  de  dados.No 
mapa 4​ mostra-se a localização do bairro, em relação a cidade. 

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Mapa 4: Localização do bairro Messejana em relação a cidade de Fortaleza. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
O  bairro  de  Messejana é um bairro que contempla equipamentos de saúde importantes e de referência para o estado, como o 
hospital Carlos Alberto, conhecido como hospital do coração e o hospital Gonzaga Mota. 
 
Visando  a  questão  cultural  e  de  lazer  ressalta-se  a  importância  da  proximidade  com  o  CUCA  do  Jangurussu  que  poderá 
oferecer  esse  entretenimento  gratuito  pelo  estado.  O  empreendimento  oferece  cursos,  práticas  esportivas,  difusão  cultural, 
formações  e  produções  na área de comunicação e atividades que fortalecem o protagonismo juvenil e realizam a promoção e 
garantia  de  direitos  humanos.  Além  disso,  a  Rede  Cuca  também  visa  trazer  para  a  periferia  de  Fortaleza  possibilidades  e 
alternativas  de  fruição  cultural  por  meio  da realização de eventos estratégicos, festivais, mostras, exposições e programação 
permanente  de  shows,  espetáculos  e  cinema.  O  que  é  de  extrema  importância  para  a  localidade  do  lar,  na  tentativa  de 
promover esse contato com a população e gerar distração fora da entidade de acolhimento. 
 
Um  fato  importante  a  se  comentar  sobre  Messejana  é  em  relação  ao  plano  de  Fortaleza  2040  que  o  bairro  é  cotado  para 
receber investimento através de eixos da: mobilidade, meio ambiente, lazer, economia e social.  
 
 

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​ 7.2 Diagnóstico do terreno e o seu entorno  

Após  a  escolha  do  bairro, o terreno foi escolhido em torno de algumas prioridades, no caso as diretrizes. Relacionando agora 


a  escala  terreno  e  entorno,  as  diretrizes  como  foi  mencionado,  foi  a  proximidade  das  escolas, equipamentos de saúde e de 
lazer.  

Foram  levantados  esses  dados  no  bairro,  resultando  no  ​mapa  5​,  para  no fim escolher um terreno, que estivesse livre para a 
efetivação do projeto das casas lares, dentro dessas tais diretrizes. 

 
Mapa 5: Terreno em relação ao bairro Messejana. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
No  ​mapa  5  ​foram  identificadas  no  bairro  e  no  entorno  imediato  as  áreas  livres,  o  parque  urbano  em  torno  da  lagoa, 
equipamento da área da saúde em âmbito estadual e municipal, escolas infantis e pré escolas. 
 
As escolas encontradas foram escolas infantis e de ensino fundamental que enquadra com o público que a casa lar irá receber 
de  0  a  12  anos.  As  escolas  municipais  encontradas  no  bairro  atendendo  esse  público  foram:  Escola  Municipal  Professor 
Clodomir  Teófilo  Girão,  Escola  Municipal  Professora  Raimundo  Felix  de Alcantara, Escola Municipal Josefa Barros de Oliveira 
e a Escola Municipal Angélica Gurgel.  
 

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Há  a  proximidade  também  da  creche  infantil  Jardim  Encantado,  no  bairro  Barroso  que  fica  de  limite  com  o  bairro  de 
Messejana. E a proximidade do centro de educação infantil Nossa Senhora da Guadalupe no bairro Cajazeiras. 
 
O  terreno  escolhido  foi  levado  em  conta  os  dados  do  mapa  5  ​e  as  diretrizes,  assim  como  levar  em  conta  a  locação  mais 
próxima  de  uma  zona  mais  residencial.  Assim  o  terreno  escolhido  fica  em  uma  área  do  bairro  onde  são  predominantes 
comércios, residências e uso misto. 
 
Por  fim,  uma  questão  levada  em  conta  foi  que  o  terreno  fica  em  frente  a  uma  areninha  o  que  facilita  a  convivência  e  a 
socialização com a comunidade do bairro oferecendo esse serviço de lazer fora do lar. 
 

7.3 Terreno e os seus condicionantes 


O  lote  escolhido  localiza-se  na  rua  Inácio  Oriá,  no  bairro  Messejana,  sudeste  da  cidade.  As  ruas  limitantes  são:  rua  Pedro 
Estanislau, rua José Belchior,Rua Inácio Oriá e a rua Professor José Henrique. Contém uma área de sdfa.  

As  residências  no  entorno  do  lote  são  de  padrão  construtivo  médio,  não  destoando,  por  conseguinte,  da  realidade  das 
crianças e adolescentes em vulnerabilidade social. 

No entorno das vistas norte, oeste e sul são habitações unifamiliares ou edifício de uso misto com uma média de  gabarito de 
6m de altura. Sendo esse o principal motivo pela definição dos limites do mesmo. 

O terreno apresenta uma área total de 2.779 m² e um perímetro de 245 m. 

Com  o  terreno  localizado  foi  visto  os  condicionantes  ambientais,  como  mostra  o  ​mapa  6​.  O  terreno  tem  apenas  uma  cota 
topográfica  com  o  desnível  de  1m,  no  terreno  todo.  É  apresentado  no  mapa  a  posição  do  sol  nascente  e  poente,  a 
predominância dos ventos vindo de sudeste, a vegetação no terreno existente e a barreira de barulho. 

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Mapa 6: Terreno com condicionantes ambientais. 
Fonte: da autora, 2019. 
 
8.PROJETO ARQUITETÔNICO  

8.1 Programa de necessidades 


O  programa  de  necessidades  foi  definido  de  acordo  com  as  Orientações  Técnicas:  Serviços  de  Acolhimento  para Crianças e 
Adolescentes-(Resolução  n°1,  CNAS/CONANDA,2009),  a  qual  consta  os  dados  de  dimensoes mínimas e seus layout de cada 
cômodo.  As  áreas  mínimas  apresentadas  na  resolução  são  relacionadas por pessoa. Através, de artigos lidos e mencionados 
nas referências bibliográficas, que comentavam espaços que são ideais para unidades de acolhimento.  

O  estudo  de  caso,  o  Lar  Davis  também  foi  um  elemento  muito  importante  para  a  realização  da  definição  dos  espaços,  a 
noção de áreas necessárias e espaços mínimos. 

O  conjunto  de  casas  lares  tem  como  objetivo  abrigar  45  crianças  dispostas  em  6  unidades  de  casas  lares.  Cada  moradia  é 
dividida  em  relação  a  proximidade  da  idade.  Fazendo  com  que  essa  divisão,  pudesse  facilitar  o  atendimento personalizado, 
em grupos menores e com suas idades parecidas. 

A  primeira  unidade  de  casa  lar  é  um  berçário  que  recebe  crianças  de  0  a  3  anos  com capacidade para abrigar 7 crianças. A 
segunda  casa  tem  2  módulos,  o  primeiro  módulo  recebe  cinco  crianças  de  4  a  6  anos  e  o  segundo  módulo  recebe  nove 
crianças  com  a  mesma  faixa  etária.  A  casa  três  recebe  crianças  com  7  a  9  anos,  o  primeiro  módulo  abriga  5  crianças  e  o 
segundo  9  crianças.  E  por  fim,  o  quarto  módulo  recebe  crianças  de  10  a  12 anos abrigando 10 crianças dentro da unidade 

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habitacional.  Os  cômodos  em comum dentro dessas casas lares são: sala de estar, a suíte dos pais sociais e banheiro. Alguns 
módulos das casas lares também são contemplados com a suíte acessível para receber crianças de deficiência e um quarto de 
quarentena  que pode ser utilizado quando alguma crianças tiver com alguma doença que pode ser passada quando entrar em 
contato com outra.  

O  bloco  administrativo  contém  salas  de  coordenação  e  administração  do lar, a parte mais burocrática, uma sala de reuniões, 


sala para guardar doações, a sala de descanso dos funcionários assim como o vestiário deles.   

O  setor  educacional  vai  receber  a  parte  de  disposição  de  atividades  lúdicas  e  possíveis  atividades  profissionalizantes,  que 
venham  a  impactar  na  decisão  e  na  descoberta  de  talentos.  Há  também espaços de estudo, para o acompanhamento escolar 
dentro  do  lar.  Contém  assim,  salas  de  informática,  sala  de  dança,  sala  de  vídeo,  sala  de  estudo,  sala  de  de  reforço 
brinquedoteca e biblioteca. 

No  bloco  da  área  de  lazer  vai  estar  localizado  na  área  central  do  prédio,  como  um pátio interno aberto na área externa. Com 
horta,  área  do  pomar,  criação  de  animais,  quadra,  uma capela ecumenica para receber eventos religiosos e serem praticados 
quaisquer  cultos  independentemente  da  religião e um grande parque infantil que vai conter brinquedos prontos para receber 
crianças com deficiência. 

Já  no  setor  de  saúde  que  vai  ser  necessário  para possíveis atendimentos que as crianças vão receber assim como primeiros 
cuidados  em  casos  emergenciais.  Com  sala  para  psicologico,  sala  odontológica,  médica,  para  nutricionista  e  um  pequeno 
ambulatório.  

No  setor  de  serviços,  o  refeitório  que  vai  abrigar  todos  da  instituição  no  local,  uma  cozinha  comunitária,  área  de  depósito, 
espaço para a reserva de lactário, área de serviço e espaço para lava mãos e escovódromo. 

Por  último  a  casa  de visitação que vai ta disposta a abrigar os pais ou familiares que se disponham a visitar as crianças, com 


quarto, banheiro, sala e varanda.   

Assim  se  resultou  o  programa  de  necessidades,  feito  uma  setorização,  que  se  dividiu  em:  setor  administrativo,  setor 
educacional, setor de lazer, setor saúde, setor serviço, casa de visitação e 6 unidades de casas lares. 

87
  

Tabela 4: Programa de necessidades setor administrativo  

Fonte: da autora. 

88
 
Tabela 5: Programa de necessidades setor educacional 

Fonte: da autora. 

 
Tabela 6: Programa de necessidades setor de lazer 

Fonte: da autora. 

89
 
Tabela 7: Programa de necessidades setor de saúde 

Fonte: da autora. 

 
Tabela 8: Programa de necessidades setor de serviços 

Fonte: da autora. 

90
 
Tabela 9: Programa de necessidades da casa de visitação 

Fonte: da autora. 

 
Tabela 10: Programa de necessidades da casa 01- berçário 0 a 2 anos 

Fonte: da autora. 

91
 
Tabela 11: Programa de necessidades da casa 02-1° módulo- crianças 4 a 6 anos 

Fonte: da autora. 

92
Tabela 12: Programa de necessidades da casa 02-2° módulo- crianças 4 a 6 anos 

Fonte: da autora. 

 
Tabela 13: Programa de necessidades da casa 03-1° módulo- crianças 7 a 9 anos 

Fonte: da autora. 

93
 
Tabela 14: Programa de necessidades da casa 03-2° módulo- crianças 7 a 9 anos 

Fonte: da autora. 

94
 
Tabela 15: Programa de necessidades da casa 04- 1° módulo - crianças de 10 a 12 anos 
Fonte: da autora. 

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8.2 Fluxograma e Organograma   
A instituição deve possuir dois acessos, um social e outro para serviço para funcionários, familiares e visitantes do lar. A área 
externa  integra  todos  os  blocos  e  funciona  como  um  pátio  interno,  como foi mostrado no programa de necessidades vai ser 
um  espaço  de  encontro  dos  acolhidos  com  suas  famílias,  um espaço para brincadeiras com o pátio, horta, pomar, criação de 
animais e outros espaços. 

A ​figura 40 ​traz o fluxograma e a ​figura 41 ​o organograma do projeto. 

Figura 40: Fluxograma da Resi-lar 


Fonte: da autora, 2019. 

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Figura 41: Organograma da Resi-lar 
Fonte: da autora, 2019. 
 
 

9.CONSIDERAÇÕES FINAIS 
Como  foi  apresentado  ao  longo  deste trabalho, infelizmente ainda nos dias de hoje muitas crianças encontram-se em estado 
de  vulnerabilidade  social  e  não  são  atendidas  por  alguma  política  pública, nem mesmo com algum acolhimento. No Brasil, o 
atendimento  institucional  de  crianças  ,em  muitos casos,não é personalizado e nem atendente necessidades primordiais para 
uma  situação  tão  frágil  como  essa. Como foi enaltecido, o acolhimento deve ser provisório e excepcional, no entanto foi visto 
que  isso  não  acontece  com muita frequência. É preciso um incentivo constante para a reintegração familiar. Assim, melhorar 
a condições de vida dessas pessoas envolve uma série de esforços e agentes. 

A  arquitetura  pode  sim  ser  um  desses  agentes  fundamentais  a  contribuir  com  essa  situação.  Aliviando  esse  processo  de 
acolhimento  e  afastamento  familiar  e  promovendo atividades, sensações a trabalhar o desenvolvimento cognitivo, emocional 
e  social dos indivíduos, através dos espaços. Pode ser visto, como foi mencionado em trabalho que os ambientes influenciam 
sim, no comportamento e nas sensações. 

Abrigar  vai  além  do  sentido  denotativo  da  palavra,  é  preciso  incluir  conceitos  de  um  lar,  de algo familiar, de apropriação do 
espaço.  Com  base  nessas  ideias  o  conjunto  de  casas  lares  ‘Resi-lar’  vai  ser  realizado.  Todos  os  espaços  vão  ser projetados 
para articular essas ideias teóricas para vivenciá-las em prática no projeto. 

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Enfim,  conclui-se  sobre  a  importância  da  contribuição  arquitetônica  para  esses  espaços  de  forma  a  atribuir  contribuições 
para  as  demandas  infantis  havendo  uma  maior  participação  de  estudantes  e  profissionais  da  área  para  promover  uma 
melhoria na qualidade de vida dessas crianças. 

 
10.REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 
 
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Indicadores de Qualidade. 2009. Psicologia: Reflexão e Crítica,22 (3), 334-343. 
 
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Disponível em: <​http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8069.htm​> Acesso em 20/08/19. 
 
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