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O banheiro feminino da UFSCar, em Sorocaba (SP), está sem uma das portas
desde quarta-feira (3). Ela foi retirada pela Polícia Federal como parte da mais
recente investigação aberta para tentar identificar o responsável de mensagens
de ódio e de morte contra negros encontradas no local.
O pai era caminhoneiro e foi assassinado nos anos 70. A mãe, empregada
doméstica. Trabalhou como ajudante geral em uma fábrica até que ingressou
na PUC nos anos 80 para cursar jornalismo. Segundo ele, foi o primeiro da
família a entrar em uma faculdade.
Desde então, passou a ser militante do movimento negro. Hoje, com mestrado
e doutorado pela USP, Juarez é professor da Unesp Bauru e coordenador do
Núcleo Negro Unesp para a Pesquisa e Extensão (Nupe).
“Fazia quatro anos que havia chegado à Unesp, sendo o segundo professor
negro de jornalismo. Eu comecei a discutir a questão racial desde quando
ingressei na universidade no inicio dos anos 80. Então, os enfrentamentos
começam desde aquela época e, por isso, não me espantou essas
manifestações. Porém, já tinha enfrentado como estudante, mas como
professor foi a primeira vez”, afirma.
*Combate.*
A ouvidora da Unesp afirmou ao G1 que este ano nenhum caso de injúria racial
foi registrado. Contudo, em 2018 houve oito registros, sendo que sete desses
eram de um mesmo caso.
*Ameaça no campus.*
É em Sorocaba, no interior de São Paulo, que a jovem paulistana negra Thalita
Suzan se dedica há dois anos no curso de engenharia florestal da UFSCar. A
universitária é engajada na luta contra o racismo dentro do campus e tornou-se
alvo de ameaças graves desde o ano passado.
Ao G1, ela contou que soube por outros alunos que teve o nome estampado
em ameaças racistas em meio aos símbolos nazistas deixados no banheiro.
"Não sei porque fizeram isso, talvez seja por causa das ações. Mas a gente
tem um coletivo para fazer palestras, vai em escolas e falamos da temática
sobre negros. O nosso grupo tem cerca de 15 pessoas", diz.
"Nós temos cerca de 3.500 alunos, é muito difícil saber quem foi apenas pela
letra. Mas esperamos denúncias e o trabalho da polícia."
Em nota, a UFSCar afirma que para tratar de casos de desvio de conduta por
parte de servidores ou estudantes mantém um órgão denominado
Coordenadoria de Processos Administrativos Disciplinares e que para
promover orientação e facilitar denúncias mantém uma Ouvidoria e a Comissão
Permanente de Ética.
A universidade ressalta que tem uma posição clara contra a violência e atua
proativamente no combate a quaisquer formas de violência.
Negra e de família
simples, Gracinda começou a trabalhar como empregada doméstica aos 10
anos de idade.
“Como trabalhava para pagar a faculdade, tinha dias que chegava atrasada nos
estágios. Uma vez, a professora falou perto de todos que era para eu continuar
sendo empregada. Além disso, alguns colegas não queriam fazer trabalho em
grupo comigo. Mas decidi que ia ser a melhor da sala e fui me destacando”,
conta.
Quando criança, segundo ela, a família não tinha condições e passou por
muitas dificuldades. A mãe era empregada doméstica e a levava para ajudar na
casa como babá.
"Quando me formei, tinha uma dívida na faculdade e não pude pegar meu
diploma. Mas uma mulher me contratou e falou que podia trabalhar na escola e
pagar meu diploma, foi assim que consegui."
"Dependendo dos fatos apurados será o promotor de Justiça que decidirá por
qual crime oferecerá a denúncia. Isso depende do contexto e do conjunto
probatório."
“Isso para nós é importante. Queremos recuperar a alma da lei de 89, que é
criminalizar o crime de racismo para permitir a punição severa. A ideia é
criminalizar a pratica de racismo ligada a questão étnica racial, origem e
religião”, ressalta.
*Conselho.*
"Temos uma parceria com a Defensoria Pública e o S.O.S Racismo que tem
sido fundamental para fiscalizarmos as denúncias de racismo e de injúria que
chegam até nós", conta.
No caso recente da UFSCar, Ivan afirma que será acompanhado pelo órgão e
que serão cobradas providências.