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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA

TERAPIA DE CASAL: POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO NOS


RELACIONAMENTOS CONJUGAIS EM CRISE.

Por: Priscila de Oliveira Martins Medeiros

Orientadora
Profª. Naura Americano

Niterói
2011
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UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES


PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”
AVM FACULDADE INTEGRADA

TERAPIA DE CASAL: POSSIBILIDADE DE INTERVENÇÃO NOS


RELACIONAMENTOS CONJUGAIS EM CRISE.

Apresentação de monografia à Universidade


Cândido Mendes como requisito parcial para
obtenção do grau de especialista em Terapia de
Família.
Por: Priscila de Oliveira Martins Medeiros.
3

AGRADECIMENTOS

Agradeço, primeiramente, a
Deus pela força durante toda essa
caminhada. Aos meus familiares, pela
dedicação e apoio, aos professores e a
todos aqueles que me ajudaram em
minha vida profissional e acadêmica.
4

DEDICATÓRIA

Dedico esse trabalho à minha família e


principalmente aos meus pais.
5

RESUMO

A terapia de casal tem mostrado grande influência nos relacionamentos


conjugais em crise e tem sido um instrumento, comprovado, para a
manutenção da saúde emocional e psicológica do casal. Possibilita assistência
nos relacionamentos entre diferentes perspectivas, levando o casal a uma
integração e desenvolvimento de suas relações harmoniosas e de cada um de
seus membros. Existem diferentes abordagens que referenciam a terapia de
casal, tais como, abordagem psicanalítica, cognitivo comportamental,
sistêmica, dentre outras. São diversos os motivos que levam um casal a uma
crise. A dificuldade de diálogo, por exemplo, tem se caracterizado de forma
significativa entre casais, onde o falar e o ouvir encontram-se prejudicado. As
diferenças biológicas, psicológicas e sociais, muitas vezes são fatores de
incompreensão entre os cônjuges.
A terapia de casal poderá buscar, no relacionamento conjugal, o
entendimento necessário de ambas as partes, juntamente, com o
esclarecimento das funções assumidas no casamento e ainda, a melhoria de
vida emocional e psicológica dos membros do casal.

Palavras-chave: Terapia de casal e crise conjugal.


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METODOLOGIA

A atual pesquisa é de cunho bibliográfico e desenvolvida a partir da


ampliação de estudos relacionados a autores da área, no intuito de refletir
aspectos significativos, sobre a influência da terapia de casal, em parceiros que
passam por crise conjugal. Um dos autores referenciados foi Calil (1987) que
enfatiza aspectos importantes sobre a escolha do indivíduo para o casamento.
E Albisetti (1997) que reflete sobre a importância da participação, envolvimento
e consciência no território do casamento. Foram utilizados também para este
trabalho artigos e revistas científicas. Trata-se, portanto, de propiciar ao leitor
uma maior compreensão do assunto.
7

SUMÁRIO
INDRODUÇÃO............................................................................................08

CAPÍTULO I - TERAPIA DE
CASAL.......................................................................................................10

CAPÍTULO II - CRISE CONJUGAL E DINÂMICA DO


CASAL........................................................................................................18

CAPITULO III - TERAPIA DE CASAL: INTERVENÇÃO POSSÍVEL NA CRISE


CONJUGAL..................................................................................................26

CONCLUSÃO................................................................................................32

BIBLIOGRAFIA
CONSULTADA...............................................................................................34
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INTRODUÇÃO

Atualmente encontramos muitas mudanças, de aspecto social, entre homens e


mulheres. Mudanças estas, importantes para as estruturas dos
relacionamentos do casal. Atualmente temos um mundo cheio de dinamismo e
transformações.
As pessoas encontram-se com muitos problemas de ordem psicológica e
emocional. Os papéis e valores da contemporaneidade têm sido muito
diferentes, principalmente no que diz respeito às mulheres. Essas assumem
mudanças de papéis totalmente transformados. Onde a mulher não mais fica
em casa cuidando dos filhos e não mais submetidas aos homens. Com todas
essas mudanças e transformações as pessoas desenvolvem estresses,
ansiedades, fragilidade emocional, etc.
Com isso os casais em seus relacionamentos desenvolvem crises sérias que
afetam todo o interior da família. Isso acaba gerando muitas complicações para
o casal. O diálogo entre os casais está cada vez mais prejudicado, onde falar e
ouvir, muitas vezes, não existe mais.
Segundo Albisetti (1997), poder comunicar as próprias emoções, os próprios
sentimentos e também os medos e problemas faz parte integrante do
casamento.
As diferenças biológicas e psicológicas também se determinam para ajudar na
manutenção da crise. Pois homem e mulheres são totalmente diferentes nesse
aspecto. E isso quando falta comunicação, cumplicidade, e companheirismo
acabam sendo um fator para a manutenção da dificuldade e crise.
A terapia de casal entra como psicoterapia, que auxilia na possível resolução
do problema, ou ajuda no desenvolvimento da autonomia do casal.
A terapia trabalha no sentido de minimizar o sofrimento que os membros do
casal vivenciam. O terapeuta de casal tem função bastante variada e
complexa, pois, lida o tempo todo com as mudanças emocionais do casal.
Ramadam (2004), conclui que a função do terapeuta de casais é bastante
variada e complexa, sendo específica para cada casal. É essencial a arte de
transmitir sem rejeitar, pois, lida o tempo todo com polaridades e conflitos do
casal. É desejável que possa ajudar os cônjuges a viverem suas diferenças e
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igualdades, como estímulos para a individuação de cada um e do


desenvolvimento da relação do casal como um todo.
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CAPÍTULO I

TERAPIA DE CASAL

"O problema não é o problema. O problema é sua atitude com relação ao


problema." (Kelly Young)

A Terapia de Casal, ou Psicoterapia de Casal, é uma intervenção


terapêutica focada em casais que estejam com dificuldades em seus
relacionamentos conjugais. No início de um relacionamento, muitas coisas na
história de vida do casal, tais como: obrigações, rotina, responsabilidades,
acabam gerando problemas de convivência e proximidade, podendo gerar uma
dificuldade no decorrer da vida conjugal. A partir daí, muitas queixas do
relacionamento são criadas e a terapia para casal passa a ser indicada. O
amor conjugal acaba deficiente, prejudicando a admiração mútua e a
reciprocidade. De acordo com Albisetti “nós seres humanos recordamos mais
as ofensas que as alegrias, mais as desiluções do que as satisfações.”
(ALBISETTI, 1997, p.13). As situações de crise vão se tornando latentes e
questões de conflitos acabam ficando em aberto, ocasionando ao
relacionamento dificuldades e conflitos.
A terapia de casal auxiliará na construção psicológica e social da
identidade do homem e da mulher. Acarretará numa maior interação entre os
cônjuges e facilitará o processo de melhoria da autonomia, visando orientar os
membros do casal para um maior crescimento psicológico e conjugal. O
relacionamento conjugal trata-se da aceitação do outro, da capacidade de
compreender o cônjuge em sua personalidade. Desenvolver atributos capazes
de respeitar e cuidar do parceiro conjugal. Muitas vezes, a pessoa tem como
motivação pensamentos de que o outro é responsável pelo bem-estar da
relação, porém isso acaba desenvolvendo atitudes que trazem decepções e
desgaste no relacionamento. Como relata Albisetti:

As neuroses pessoais não são desenvolvidas quando


descarregadas sobre quem se ama sobre quem participa de
nosso cotidiano. Deste modo, não só não diminuímos nossas
inseguranças como também fazemos infelizes os outros.
(ALBISETTI, 1997, p.16).
11

O papel da terapia de casal é promover a saúde emocional e


psicológica dos membros do casal e existem vários problemas que levam um
casal a buscar a terapia, tais como: falta de comunicação, fragilidade no
vínculo emocional, disfunções de vínculos afetivos, problemas sexuais,
mudanças individuais de um dos membros do casal, desgaste, etc. Tais
problemas trazem, para a vida da família desequilíbrios e relações
insatisfatórias. Cada membro do casal deverá, também, buscar um
conhecimento sobre si mesmo para que, então, possa ser trabalhada sua
questão com o outro. Albisetti afirma que se deve obter um bom conhecimento
sobre sua própria personalidade:

Depois de ter obtido um bom conhecimento da própria


personalidade, cada um dos parceiros poderá procurar e
identificar suas aspirações e expectativas em relação ao
casamento, e reconhecer, por exemplo, que elas são
exageradas e irrealistas, ou ainda que devem ser
administradas com a participação do parceiro e que, de
qualquer forma, devem ser assumidas como responsabilidade
pessoal. (ALBISETTI, 1997, p.20).

A terapia de casal ajudará a aprimorar a comunicação, explorar


habilidades, desenvolver participação mútua, enriquecer a construção da
identidade masculina e feminina, resgatar papéis sociais da família.
O casamento contemporâneo tem características diferenciadas do
casamento tradicional. O casamento tradicional é ligado à reprodução, o
homem é visto como o responsável pela manutenção econômica do lar e a
mulher pelo exercício da maternidade. Já o casamento contemporâneo,
destaca-se pela igualdade das relações sociais, não somente o homem agora é
o responsável pela manutenção financeira, mas a mulher passa a ter esse
papel, compartilhado com o homem. Deveres e direitos são igualmente
compartilhados.
Mudanças de valores, aspecto social, cultural e sócio-econômico
geram uma mudança significativa na instituição do casamento atual. Isso tem
acarretado diversas crises no relacionamento do casal. A terapia de casal
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então auxiliará nesse processo de crise, gerando uma relação mais saudável e
amadurecimento emocional.
Diferentes abordagens teóricas orientam a terapia de casal:

1.1 - Modelo Psicanalítico

O modelo psicanalítico descreve que a escolha do outro se baseia em


uma escolha, não somente consciente, mas com aspectos inconscientes.
Segundo Lamano Calil (1987) a abordagem psicanalista com casais envolve
escolhas de características inconscientes:

A atração sentida pelos cônjuges não se fundamenta somente


na percepção consciente dos aspectos “bons” de cada um
deles, mas também numa percepção a nível inconsciente.
Inconscientemente a “escolha” é feita, geralmente a partir de
uma complementariedade, um “encaixe” das personalidades
dos cônjuges (CALIL, 1987, p.120).

É focada no passado, em interpretar e identificar, as causas das


possíveis crises. É resgatada toda história do relacionamento conjugal e,
também, é investigada a história de cada membro do casal. De acordo com
Calil (1987) também é levado em conta as questões extramatrimoniais:

Mas, embora essa abordagem reconheça os processos


extramatrimoniais que influenciam esses processos tais como:
desemprego, acidente, a emancipação feminina, a descoberta
dos contraceptivos etc. Considera-se que os processos
criativos e destrutivos no casamento são influenciados
fundamentalmente pelos modelos de relacionamento
vivenciados pelos cônjuges a nível consciente e inconsciente,
em suas famílias de origem (CALIL, 1987, p.124).

Nesse modelo de terapia, o casal é levado a identificar quais são os


seus conteúdos inconscientes, que podem estar causando o sintoma da
crise. Uma vez identificados o terapeuta de casal poderá ajudar a
estabelecer a interação, entendimento e harmonia.
Segundo Calil os conflitos intrapsíquicos de cada cônjuge são
externalizados:
13

Portanto, essa abordagem enfatiza que, no casamento, os


conflitos intrapsíquicos de cada um dos cônjuges são
externalizados. Ou seja, as necessidades, medos e fantasias
inconscientes, pertencentes ao mundo interno dos parceiros
são constantemente testados e vivenciados no relacionamento
entre eles (interpessoalmente). Problemas antigos, não
resolvidos, de amor e ódio, dominância e submissão,
abstinência e desejos insaciáveis, são manifestados na
interação dos cônjuges (CALIL, 1987, p.125).

As sessões são realizadas uma vez por semana, e, geralmente, dois anos de
terapia se fazem necessários, para reestabelecimento e trabalho desses conflitos
inconscientes. Acontecem de forma individual e conjunta, de acordo com a
necessidade de cada casal. Em alguns casos, são utilizadas somente as sessões
conjuntas e a co-terapia, que se trata de dois terapeutas atendendo o mesmo casal,
objetivando o entendimento dos conteúdos inconscientes do casal e trabalhando no
sentido de que o casal possa recuperar o seu próprio inconsciente individual, para
que, então, se reestabeleça o processo de realização dos membros do casal.
Segundo Aldofi, Angelo e Saccu “o casal também aciona um processo de
transformação e conhecimento, constituído por: conhecer o outro; conhecer a si
próprio no outro, ou seja, as próprias partes projetadas no outro; conhecer a si
mesmo, por meio da imagem refletida pelo outro.” (ALDOFI, ANGELO E SACCU,
1995, p.79).

1.2- Modelo Cognitivo-Comportamental

O modelo cognitivo-comportamental descreve que as crenças


disfuncionais seriam a base das dificuldades psicológicas e relacionais dos
membros do casal. Essa abordagem trata, as desordens psicológicas
vivenciadas pelo casal como distorções cognitivas. Muitas vezes o estresse, a
má comunicação, a resolução de problemas de forma inadequada, as
dificuldade de expressar a emoção, ocasionam essas disfunções cognitivas no
relacionamento. Então se torna necessária a ajuda da terapia de casal. Essas
distorções, quando resolvidas de forma inadequada, acabam gerando
consequências graves para o relacionamento. A má resolução dessas
distorções gera problemas significativos para o convívio do casal. E a terapia
cognitivo-comportamental para casais, trabalhará a reestruturação dessas
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cognições inadequadas, modificação de padrões disfuncionais, manejo das


emoções, etc. Segundo Dattilio e Padesky sobre distorções cognitivas:

As distorções cognitivas podem ser evidentes nos


pensamentos automáticos que os casais relatam e podem ser
reveladas por meio do questionamento sistemático ou
socrático, envolvendo o significado que um parceiro vincula a
um determinado evento (DATTILIO E PADESKY, 1995, p. 21).

Os pensamentos automáticos deverão ser identificados, no sentido de


facilitar a mudança dos casais em terapia. De acordo com Leahy, “os
pensamentos automáticos surgem espontaneamente, parecem válidos e estão
associados a comportamentos problemáticos ou emoções perturbadoras”.
(LEAHY, 2006, p.23). Esses pensamentos, quando disfuncionais, acabam
gerando, nos casais, crenças negativas e expectativas, muitas das vezes,
irreais para esse relacionamento. O terapeuta deverá desenvolver, nos
membros do casal, uma postura constestadora de questionamento dos
pensamentos negativos para que possa promover uma resposta emocional
satisfatória. Esse modelo tem como finalidade criar habilidades, para que o
casal possa reduzir suas situações de conflito. Os membros do casal aprendem
a examinar e contestar suas crenças.
Segundo Datillio e Padesky “o objetivo da terapia cognitiva com casais é
abordar as estruturas de crenças de cada parceiro, a fim de promover a
reestruturação para um relacionamento mais produtivo”. (DATTILIO E
PADESKY, 1995, p.19).
Na terapia cognitivo-comportamental são utilizadas entrevistas, técnicas
cognitivas, inventários, etc. Em geral, as sessões acontecem uma vez por
semana, por uma hora e cinqüenta minutos.
A entrevista inicial é conjunta, onde o terapeuta irá buscar dado e
informação sobre a vida do casal e dos membros do casal. Serão aplicados
também inventários e questionários, no sentido de avaliar as crenças que
esses cônjuges desenvolveram sobre o relacionamento. As entrevistas
individuais também acontecem após a entrevista conjunta, para que o
terapeuta tenha um contato maior com cada pessoa e possa coletar
informações muitas vezes não expressadas na entrevista conjunta. Durante as
entrevistas e avaliações, o terapeuta deverá avaliar os possíveis problemas
15

psicopatológicos e de maiores proporções e, se necessário, fazer


encaminhamento para outros profissionais.
O terapeuta também, após a coleta de dados, deverá orientar o casal
sobre o modelo cognitivo-comportamental. A psicoeducação proporciona ao
casal aprendizado sobre como se desenvolve o trabalho dentro dessa
abordagem e uma maior consciência sobre pensamentos automáticos e
crenças disfuncionais que geram o conflito. O terapeuta terá que identificar
quais os pensamentos automáticos de cada membro do casal ajudá-los a
desenvolver habilidades para resolução de conflitos. Sobre os pensamentos
automáticos Datillio e Padesky descrevem:

A chave do modelo cognitivo de terapia de casais é a


identificação dos pensamentos automáticos dos parceiros
sobre si mesmo e mais importante, sobre o relacionamento.
Novamente, os pensamentos automáticos são definidos como
pensamentos que ocorrem, espontaneamente, na mente do
indivíduo, acerca de certas circunstâncias de vida ou
indivíduos, no ambiente. Estes pensamentos automáticos
podem ser negativos ou positivos; entretanto, na maioria das
situações de conflito, eles são negativos (DATTILIO E
PADESKY, 1995, p. 55).

Também será abordado o treinamento da comunicação. Esse trabalho é


muito importante, no sentido de orientar o casal a desenvolver essa habilidade.
De acordo com Datillio e Padesksy:

Com frequência, portanto, a primeira tarefa do terapeuta é


ajudar o casal a compreender que a boa comunicação não
significa, necessariamente, concordância. Em vez disso, a boa
comunicação envolve aprender a falar e ouvir de modo que
conduzam a um mútuo entendimento e, idealmente, mútua
solução de problemas, quando existem divergências
(DATTILIO E PADESKY, 1995, p. 66).

É grande a influência da má comunicação nos relacionamentos


conjugais. Rangé & Dattilio destacam que “o foco central desse procedimento é
fornecer ao casal habilidades de escuta e fala que podem auxiliar na
diminuição das brigas e aumentar a satisfação e ajustamento conjugal”.
(RANGÉ & DATTILIO, 2001).
Será trabalhada, também nas últimas sessões de terapia de casal, a
prevenção de recaídas. Será criada uma consciência de que decisões
16

aparentemente sem importância podem ocasionar recaídas. Orientando os


membros do casal para que estejam aptos a lidar com processo de mudanças
de comportamento.

1.3 – Modelo Sistêmico

Esse modelo de terapia de casais é uma extensão da terapia familiar na


abordagem sistêmica. Essa terapia é desenvolvida objetivando a mudança no
sistema familiar e conjugal pela comunicação entre os parceiros. Um sistema
familiar muito rígido, ele exclui qualquer possibilidade de mudança. Esse
modelo de terapia vai buscar desenvolver um sistema de equilíbrio entre os
membros do casal e auxiliar o casal a desenvolver um funcionamento de
homeostase. Segundo Caillé:

A função principal do sistema é levar os comportamentos que


perturbam o equilíbrio a uma zona de compatibilidade. A
homeostase não exclui inovações de comportamento.
Somente quando os limites que põem em jogo fenômenos
homeostáticos se fecham e se enrijecem é que o sistema
perde seu aspecto funcional, eliminando qualquer
possibilidade de mudança (CAILLE, 1994, p.34).

O foco é a comunicação dos membros do casal na atualidade. Não é


focado o passado, mas sim, no momento atual. A relação é vista como um
sistema equilibrado e as regras mantêm esse equilíbrio. Uma vez essas regras
desfeitas o sistema equilibrado é perdido. De acordo com Caillé sobre a terapia
sistêmica:

A primeira sistêmica se inspira essencialmente na cibernética,


concentrando-se, portanto, no equilíbrio dinâmico entre os
cônjuges. Procurando compreender os dados desse equilíbrio,
ela se aplicará a análise cuidadosa das características
observáveis da vida do casal (CAILLE, 1994, p.32).

A abordagem sistêmica de casais possui uma intervenção voltada para os


aspectos comunicacionais dos casais e buscam uma intervenção na
reconstrução da subjetividade. O profissional deverá ter uma escuta sobre os
anseios do casal e o que possivelmente estará acarretando a crise, intermediar
17

conversas, auxiliar no processo de desenvolvimento da identidade do casal. E


gerar no casal uma possibilidade de novos significados.
A terapia sistêmica de casais tem tido grandes resultados no decorrer de
seu desenvolvimento. Segundo Caillé:

Certos clientes comunicam espontaneamente que a


transformação pessoal ocorrida após uma terapia de casal de
cerca de seis meses lhes parece mais importante do que a
resultante de uma psicoterapia individual de vários anos.
Outros relatam ter resolvido problemas profissionais ou
familiares aos quais nunca se referiram durante a terapia
(CAILLE, 1994, p.134).

O terapeuta trabalha a família no sentido de melhorar seu sistema e


segundo Calil “o modelo sistêmico considera o casal como um sistema, ou
melhor, um subsistema no interior da família.” (CALIL, 1987,p.135).
O terapeuta levará os cônjuges a um desenvolvimento da comunicação
entre si visando e diminuir essa rigidez, acreditando que os conflitos possam
ser resolvidos. Caillé relata sobre os objetivos de terapêutas adeptos a este
modelo:

Terapeutas de casal adeptos da escola sistêmica objetivam


melhorar a capacidade dos cônjuges de enviar e receber
mensagens, e tendem a prestar especial atenção às
discrepâncias nas comunicações verbais, ou seja, no que está
sendo dito e na postura, expressão e tom de voz que
acompanham a mensagem verbalizada (CAILLÉ, 1994,
p.136).

A terapia então deverá ser capaz de melhorar a percepção do casal,


facilitar a comunicação entre ambos, expor suas expectativas com relação ao
outro e a ele mesmo. E mostrar seus medos e dificuldades.
18

Capítulo II

CRISE CONJUGAL E DINÂMICA DO CASAL

Segundo estatísticas as taxas de divórcio na atualidade têm sido


consideravelmente grandes e significativas. Indicação da insatisfação conjugal
que tem se tornado frequente entre casais. Nessa época, transformações vêm
ocorrendo no contexto social e familiar, alterando assim a dinâmica familiar.
Garcia chama atenção sobre as formas de conjugalidade nas relações afetivo-
sexuais:

Na modernidade, as relações afetivo-sexuais passam a ter


experiências novas formas de conjugalidade e sobre eles é
colocado um processo reflexivo quanto à projeção do futuro. O
tipo de vínculo a ser estabelecido, as regras e valores que
nortearão a relação, e as expectativas quanto ao desempenho
do papel de cada um da díade, são projetados e antecipados
as respostas no cotidiano presente. Permanecer ou romper um
vínculo conjugal é uma questão que envolve a díade e reflete
todo o cenário de mudanças ocorridas na sociedade (GARCIA,
2004, p. 26).

Existem escolhas e decisões que são intermediadas por valores


sociais que acabam refletindo nas escolhas do casal. Muitas vezes essas
escolhas e decisões causam um desacordo entre os parceiros prejudicando o
relacionamento. Garcia descreve o ideal de felicidade no interior dessas
transformações:

No interior dessas transformações, o ideal de felicidade


aparece representado por cada um de forma paradoxal: ao
mesmo tempo em que acreditamos ter perdido algo a que
temos direito, sabemos que a felicidade é uma imagem virtual
e fugidia a ser perseguida e não alcançada em sua plenitude,
porque é fugaz. Os relacionamentos tornaram-se arriscados e
perigosos porque o cotidiano das relações afetivo-sexuais
tornou-se móvel, instável e ‘aberto’. (GARCIA, 2004, p 27.)

O início de qualquer relacionamento remete a algo a princípio


prazeroso onde existe a evidência de um otimismo e alegria na tentativa de
buscar uma satisfação conjugal. Mas muitas vezes acontece uma frustração e
as coisas começam a não ir tão bem assim. As dificuldades do dia-a-dia e as
19

crises começam a aparecer. Esse fenômeno é tão comum nos dias atuais, que
podem levar os casais despreparados para o enfrentamento do problema a
enxergarem uma dificuldade tamanha que pode resultar numa separação. Em
um relacionamento a satisfação conjugal é fator primordial para que esse
vínculo permaneça. A satisfação conjugal é resultado de um desenvolvimento
dinâmico e ativo do casal, com comunicação satisfatória, aceitação das
diferenças, companheirismo, respeito, amor, afeição, etc. Segundo Norgren,
Souza, Kaslow, Hammerschimidt e Sharlin sobre satisfação conjugal eles
dizem:

Satisfação conjugal é, sem duvida, um conceito subjetivo,


implicando em ter as próprias necessidades e desejos
satisfeitos,assim como responder,em maior ou menor
escala,ao que o outro espera,definindo um dar e receber
recíproco e espontâneo (NORGREN, SOUZA, KASLOW,
HÁMMERSCHIMIDT, SHARLIN, 2004).

O relacionamento conjugal é de grande importância, e seu sucesso é


fator primordial para a qualidade de vida dos membros do casal. Este se
transforma ao longo da vida do casal, passando por crises e por modificações
sociais ao longo da história, com a necessidade de reformulação dos papéis de
mulher, homem, pai e mãe, à medida que a sociedade muda, criando novas
atuações para homens e mulheres.
As fases do ciclo familiar variam de acordo com o convívio, chegada
de filhos, saída ou independência dos mesmos. Lidar com essas fases nem
sempre é fácil e natural para todos e acaba desencadeando ansiedades e
estresse e prejudicando o relacionamento do casal. O sistema familiar está
sempre em mudança e vai se modificando com o tempo. São vários papéis a
serem desempenhados durante a vida familiar, e os indivíduos estão em
constante desenvolvimento buscando novas possibilidades. E toda esta
mudança movimenta o relacionamento do casal. Se os mesmos não
desenvolverem um relacionamento funcional, pode acabar gerando crises
graves.
Atualmente as pessoas se relacionam principalmente por razões
afetivas, no entanto, as mudanças da contemporaneidade levam o casal a um
questionamento e transformação desse sentimento afetivo. De repente por não
20

saber lidar com essas novas funções atribuídas ao homem e a mulher. São
diversas mudanças. Muitas vezes a mulher desenvolve múltiplas funções e
acabam abdicando de seus interesses em favor da família, filhos e o próprio
cônjuge, mas a interação entre a família deve acontecer. Carneiro fala da
individualidade e importância da relação entre os cônjuges

A constituição e a manutenção do casamento contemporâneo


são muito influenciadas pelos valores do individualismo. Os
ideais contemporâneos de relação conjugal enfatizam mais a
autonomia e a satisfação de cada cônjuge do que os laços de
dependência entre eles. Por outro lado, constituir um casal
demanda a criação de uma zona comum de interação, de uma
identidade conjugal. (CARNEIRO, 1998, p.3).

Essa identidade conjugal é um processo que muitos casais precisam


desenvolver, no sentido de estabelecer uma relação íntima e satisfatória com o
outro. Essa identidade deve ser desenvolvida de forma madura, por ambos os
parceiros, para que possam tomar decisões definidas com relação ao
relacionamento conjugal.

2.1 - Dificuldades de Comunicação

A comunicação é fator imprescindível para um relacionamento


saudável e harmonioso, quando aparece à dificuldade nesse sentido o
casamento acaba vivenciando dificuldades. A convivência diária de anos acaba
provocando desentendimentos e conflitos e a falta de comunicação ou
dificuldade para que a comunicação aconteça gera discussões inevitáveis. A
comunicação é um meio eficaz para que os parceiros possam criar
possibilidade de mudanças no seu relacionamento. Mas para que essa
mudança aconteça os membros do casal devem estar dispostos a inventar
novas possibilidades e abandonar mágoas e ressentimentos. Albisetti (1997)
declara que a comunicação é o único meio para sustentar o casamento:

A comunicação é o único meio que os cônjuges podem usar


para criar e manter a sua vizinhança, a cumplicidade, a
compreensão. È o único meio para sustentar um casamento.
Por comunicação não entendo apenas a verbal, ainda que ela
seja sobremaneira importante, mas também a gestual, a da
21

mímica facial, a da postura corporal, a do comportamento, a


das atitudes, a do tom de voz. (ALBISETTI, 1997.p 69)

Em grande parte dos casos de casais que enfrentam dificuldades de


comunicação, tanto o homem quanto a mulher, acabam se acusando e não
exprimem seus verdadeiros sentimentos e angústias. Os membros do casal
dão lugar a lamentações, martírios, críticas e acusações. Não estando flexível
para entender, a realidade do outro, o que desenvolve um ambiente defensivo.
Albisette relata que a comunicação conjugal “deve ser aberta, disponível,
pronta para mudar de opinião. Deve ser um meio para melhor entender o
universo do outro, tão diferente e tão distante do próprio universo.”
(ALBISETTE, 1997, p.70).
O diálogo entre casais deve ser assegurado como um momento de
transformação, de busca a entender o outro e de crescimento mútuo do casal.
É uma forma que os parceiros têm também de expressar suas emoções, seus
medos e dificuldades. E quando não se é satisfatória acaba desenvolvendo um
relacionamento conturbado. Albisetti fala sobre a boa comunicação:

A boa comunicação é ação. È uma escolha. É decidir fazer o


primeiro movimento. È aproximar-se de qualquer forma do
parceiro e penetrar em sua esfera de interesses. A boa
comunicação não é egoismo. Nao acontece por si só, mas
sempre considera o outro. Ajuda a cada um a sentir-se
compreendido, aceito, importante, útil (ALBISETTI, 1997, p
80).

A falta de comunicação também acontece de formas prejudiciais nos


relacionamentos e podem se tornar destrutivas, pois, muitos cônjuges preferem
ficar em silêncio e não expressarem suas emoções às vezes por medo,
insegurança ou dificuldade de entrar em contato com a realidade do
casamento. Albisetti descreve:

Poder comunicar ao outro as próprias emoções, os próprios


sentimentos e também os medos e problemas faz parte
integrante do casamento. È essencial. Em um relacionamento
amoroso deve haver a possibilidade de dizer ao outro quem
somos. Não devemos ter medo de revelar-nos. No casamento
a pessoa pode ser ela mesma, sem ser rejeitada por isso. O
silêncio em geral, não é bem vindo ao casamento. O fato de
um parceiro não falar, estar constantemente em silêncio
22

provoca no outro um sentimento de culpa e também pode ser


visto como punição (ALBISETTI, 1997, p. 72).

Casais com boa comunicação desenvolvem uma auto-estima


satisfatória, iniciativa de mudar dificuldades e situações, abandona com
facilidade sentimentos negativos, etc. As situações rígidas tornam-se mais
maleáveis quando o diálogo é feito de forma satisfatória. De acordo com Gray
“comunicação é de importância primordial. Dividir seus sentimentos pessoais é
muito mais importante do que atingir metas e sucesso. Conversar e se
relacionar umas com as outras é fonte de imensa satisfação.” (GRAY,
1996.p.16). E o terapeuta deve trabalhar nesse sentido, de facilitar a
comunicação entre o casal e mostrar para o mesmo que boa comunicação não
necessariamente é um concordar com o outro, mas aprender a compreender, a
falar e ouvir para que haja concordância. Padesky trata sobre a tarefa do
terapeuta

Com frequência, portanto, a primeira tarefa do terapeuta é


ajudar o casal a compreender que a boa comunicação não
significa, necessariamente, concordância. Em vez disso, a boa
comunicação envolve aprender a falar e ouvir de modo que
conduzam a um mútuo entendimento e, idealmente, mútua
solução de problemas, quando existem divergências.
(PADESKY, 1995, p.66)

O terapeuta deve estar atento ao progresso do casal, qual a mudança


apresentada pelos mesmos. Deve focar seu trabalho na terapia da mudança,
aceitação, no compromisso emocional e na colaboração dos membros do
casal. Santos descreve

No que concerne especificamente à psicoterapia de casal, o


profissional é uma pessoa interessada em aprender a escutar
o casal, a manejar conversações por vezes muito difíceis,
buscando facilitar um contexto auspicioso para construir boas
conversações entre os parceiros, possibilitando a descrição de
histórias melhores e identidades mais criativas e positivas.
(SANTOS, 2005, p.2).

No processo terapêutico de casais tanto o casal como o terapeuta tem


papel ativo no processo. O processo de comunicação deve ser reconstruído na
23

intervenção de casais. A escuta do terapeuta também é bastante significativa


no processo, para facilitar boas conversações.

2.2 - Diferenças biopsicosocias entre homens e mulheres

Homens e mulheres são totalmente diferentes. Possuem uma estrutura


cerebral distinta. De acordo com Pease, “Hoje em dia, sabemos que homens e
mulheres processam a informação de modos distintos. Pensam diferentes. Têm
crenças, percepções, prioridades e comportamentos diversos.” (PEASE, 2010,
p.11). Homens e mulheres pensam, sentem e se comportam de modo distinto.
Entendendo um pouco da história biológica do homem e da mulher,
Pease (2010) descreve,

[...] os cérebros masculino e feminino evoluíram com potência,


capacidades e talentos diversos. O homem, responsável pela
caça, precisava de áreas no cérebro que comandassem a
travessia de longas distâncias, com o desenvolvimento de
táticas para localizar e atingir o alvo. [...] a mulher, ao
contrário,precisava da aptidão para percorrer pequenas
distâncias, visão periférica mais ampla para monitorar o
ambiente em volta, habilidade de fazer várias coisas ao
mesmo tempo e boa capacidade de comunicação (PEASE,
2010, p. 31).

Com isso o cérebro se desenvolveu de forma a se adaptar às


necessidades masculinas e femininas. Anteriormente, o homem era visto como
mantenedor do lar, trabalhava para manter a família e os filhos. A mulher era
perpetuadora da espécie, cuidando da casa e dos filhos. A mulher era
reconhecida por sua capacidade de zeladora e cuidadora. E o homem de
sucesso era o que conseguia manter sua família. Mas, nos dias de hoje, os
papéis de homens e de mulheres tem mudado de forma significativa. A mulher
hoje assume papel de mantenedora do lar. Não tem mais a obrigação de ficar
em casa e cuidar dos filhos, o homem não é mais o único responsável pela
manutenção da casa. Segundo Pease (2010) nos dias atuais:

“A família não depende unicamente do homem para sua


sobrevivência e não se espera mais que a mulher fique em
casa exercendo as funções de mãe e zeladora. Pela primeira
vez na história da espécie humana, a maior parte dos homens
24

e mulheres se confunde na hora de definir suas atividades.”


(PEASE, 2010, p.14).

Homens e mulheres buscam ter direitos iguais na contemporaneidade


e procuram maiores oportunidades, principalmente, no que diz respeito ao
mercado de trabalho. Mais biologicamente existem diferenças essenciais que
fazem toda a diferença. As estruturas físicas, biológicas, e mentais são
totalmente diferentes. Pease descreve que nós não somos idênticos.

Homens e mulheres devem ser iguais no direito à


oportunidade de desenvolver plenamente suas
potencialidades, mas, definitivamente, não são idênticos nas
capacidades inatas. Se homens e mulheres têm direitos
iguais, isto é, uma questão política e moral. Se são idênticos, é
uma questão científica (PEASE, 2010, p.14).

O homem concentra suas atividades cerebrais do lado esquerdo.


Embora o volume do cérebro feminino seja menor, possui áreas de maiores
concentrações de neurônios. O hemisfério direito é fundamental na emoção.
Os homens são melhores nas habilidades espaciais que as mulheres. Nesse
caso, as mulheres são bem mais limitadas que os homens. Os homens têm no
cérebro uma área específica para as habilidades espaciais. As mulheres são
mais comunicativas e os homens já não têm tanta habilidade com o diálogo. As
mulheres quando estressadas sentem a necessidade de falar, buscando achar
alívio e resolução para seus problemas. No caso dos homens, esses
apresentam maiores dificuldades de falar e expressar o que estão sentindo.
Mulheres desempenham papéis bem mais satisfatórios em atividades que
necessitam de raciocínio verbal. Homens já foram criados de modo a
desenvolverem boas atividades, com raciocínio espacial e matemático. Gray
descreve homens e mulheres em situações de estresse:

Quando uma mulher está estressada, ela instintivamente


sente necessidade de conversar sobre seus sentimentos e
todos os possíveis problemas que estão associados com seus
sentimentos. Quando ela começa a falar, não prioriza o
significado de qualquer problema. Se está aborrecida, então
está aborrecida com todos eles, grandes ou pequenos. Ela
não está preocupada em achar soluções imediatas para seus
problemas, mas sim busca alívio expressando-se e querendo
ser compreendida. [...] Como um homem sob estresse tende a
25

se concentrar em um problema e esquecer os outros, uma


mulher sob estresse tende a se expandir e tornar-se indefesa
contra todos os problemas (GRAY, 1996, p.26).

Cérebros de homens e mulheres se desenvolvem em áreas


específicas. O cérebro feminino geralmente é mais organizado e diz respeito ao
processamento emocional. O cérebro masculino geralmente dá conta de
identificar figuras geométricas, distâncias, etc. As mulheres têm áreas
desenvolvidas para a fala. Pease descreve sobre a fala no cérebro feminino:

No cérebro da mulher, a fala tem duas áreas específicas: a


principal fica localizada na parte frontal do hemisfério esquerdo
e a outra, menor, no hemisfério direito. O fato de terem os
centros de fala em ambos os lados do cérebro torna as
mulheres boas de conversa. Elas falam muito e gostam. E
como a fala é restrita a áreas específicas, o cérebro fica livre
para executar outras tarefas, permitindo que façam várias
coisas ao mesmo tempo (PEASE, 2010, p.51).

As mulheres já são destaque nas áreas que necessitam de criatividade


e homens já não tem essa habilidade criativa. As mulheres demonstram mais
emoções que os homens. Eles geralmente escondem as emoções. As
mulheres são grandemente mais emocionais que os homens. Essas
proporções são uma média, pois existem exceções.
26

Capitulo III

TERAPIA DE CASAL: INTERVENÇÃO POSSÍVEL NA CRISE


CONJUGAL

Há diversos problemas que podem estar levando um casal à terapia. A


família passa por eventos importantes durante seu ciclo vital: a fase de se
tornar casal, nascimento do primeiro filho, perda do status de filho, perda do
exclusivo relacionamento a dois, segundo filho, o filho que vai para escola,
adolescência, etc. Não sabendo, como lidar com esses períodos, o casal acaba
desenvolvendo uma série de sintomas prejudiciais para o casamento que
geram a crise conjugal. Tais como:

-Dificuldades de comunicação
-Manutenção de comportamentos negativos
-Dificuldade na resolução de problemas
-Problemas sexuais
-Medo do abandono
-Ciúmes
-Traição
-Divergência na educação dos filhos
-Dificuldade na relação individualidade X conjugalidade

Essas dificuldades desencadeiam um período de grandes turbulências


para o relacionamento, então, a terapia de casal passa a ser indicada. O
período conjugal nem sempre é fácil de estabelecer de forma satisfatória.
Albisetti relata “para superar os momentos de sofrimento no casamento, os
cônjuges têm à sua disposição muitos recursos psicológicos.” (ALBISETTE,
1997, p.118). Com certeza ocorrem situações difíceis de serem resolvidas. Mas
o ponto de vista psicológico tem sido de grande contribuição para esse
enfrentamento. Percebe-se que atitudes posteriores tornam-se diferentes das
atuais e são desenvolvidas de forma satisfatória para o relacionamento. A
terapia de casal tem auxiliado, significativamente, casais que a buscam e
27

querem maior conhecimento pessoal e conjugal. Casais que assumem uma


postura de mudança e decisão, desenvolvem relacionamentos mais positivos.
A terapia de casal tem auxiliado, além da comunicação que se torna
indispensável ao relacionamento, nas seguintes questões:

3.1-Melhoria da relação individualidade x conjugalidade

A autonomia é desenvolvida à medida que o membro do casal entende


o seu papel diante de seu companheiro, é de somar com o outro e não de fazer
críticas e acusações. Os membros do casal devem entender que são duas
individualidades diferentes e uma conjugalidade. Na sociedade contemporânea
a individualidade está muito presente e influencia muito no relacionamento.
Caillé chama de absoluto do casal não uma visão passiva, mas ativa do sujeito.
“o absoluto do casal não é uma visão passiva, histórica, cristalizada, mas, pelo
contrário, uma visão atuante, móvel, cujo significado pode evoluir. (CAILLE,
1994, p. 43).
O casal acaba se vendo confrontado por essa relação da
individualidade e conjugalidade, que a sociedade impõe. Valores esses de
individualidade e manutenção do eu. Os cônjuges devem identificar que fazem
parte de um casal, e devem desempenhar esse papel. Mas não fazem parte
exclusivamente desse casal. Possuem outras identidades, inclusive de
cônjuge. Caillé descreve que o absoluto do casal é algo que gira com o casal:

Os cônjuges se veêm como parte de um casal, mas não


exclusivamente como tal. O fato de pertencerem a um casal
representa apenas um aspecto de sua identidade. Existem
nessa identidade outras facetas através das quais eles
mantêm contato com outros absolutos, outros modelos
cognitivos que organizam a realidade para eles. Ambos têm
família de origem, são membros de uma profissão, são pais,
pertencem a um dos sexos, professam certas crenças
(CAILLE, 1994, p. 45).

A terapia de casal irá trabalhar essa dualidade no sentido de diminuir a


ansiedade, estresse e sofrimento, que essa manutenção da individualidade
imposta pela sociedade acarreta. Ajudará os membros do casal a identificar e
administrar todas essas identidades que cada um desenvolve na sociedade.
28

A entender a influência da emancipação da mulher e autonomia da


mesma. Possibilita uma melhor relação com as imposições da sociedade
contemporânea. Amplia a aceitação de um pelo outro, contribui para identificar
que o cônjuge não é perfeito e o entendimento das suas responsabilidades
pessoais.

3.2 - Enriquecer os comportamentos positivos

A terapia de casal envolve ajuda aos casais e um desenvolvimento da


consciência, de que todos os seus comportamentos negativos existentes
geram o conflito. Na terapia ocorre um processo educacional, no sentido de
identificar e eliminar os comportamentos impulsivos disfuncionais, evidenciando
os comportamentos positivos e conscientização dos membros do casal da
necessidade de eliminá-los. Dattilio e Padesky descrevem que,

O terapeuta trabalha no sentido de ajudar o casal a avaliar os


esforços de mudança de uma forma realista, de modo que o
progresso feito não seja ignorado com base na imperfeição ou
em um sucesso apenas parcial (DATTILIO E PADESKY, 1995,
p.78).

Por diversas vezes os parceiros procuram para um relacionamento um


parceiro ideal. Busca comodismo, vida tranqüila, felicidade. Cria-se uma
procura de alguém muitas vezes irreal, inexistente. E com a decepção, acaba
possibilitando uma conduta do membro do casal de críticas e visão somente do
negativo. Albisetti fala sobre a buscar e um parceiro ideal:

O desejo de um parceiro ideal pertence a uma visão típica da


adolescência,quando a pessoa se apaixona por alguém sem
que,muitas vezes, o outro saiba. Apaixona-se mais
frequentemente pela idéia do amor do que por uma pessoa de
carne e osso. Muitos adultos, no fundo, procuram parceiros
que recordem as pessoas pelas quais se sentiam atraídos na
adolescência. Frequentemente se arriscam a perseguir
sozinhos um ideal inexistente e a envelhecer na constante
desilusão (ALBISETTI, 1997).

Com isso o indivíduo cria uma relação de buscar no outro o que


gostaria que o outro tivesse e não como ele realmente é.
29

A terapia de casal possibilitará o entendimento de que não existe


perfeição em se tratando de seres humanos. E que tentar buscar a perfeição só
irá transformar o relacionamento em algo falido e impossível. Ajudará no
entendimento de que é possível ver e enriquecer o positivo no outro e viver
uma vida feliz e de crescimento mútuo.

3.3 - Desenvolvimento de habilidades e de resolução de problemas

O terapeuta de casal irá desenvolver atividades para apresentar


estratégias de como os casais se comportarão, diante de um problema e a
possibilidade de resolver o mesmo de uma forma satisfatória. E demonstrar
como a capacidade de falar e ouvir são importantes para esta resolução.
Datillio e Padesky relatam “Aprender a falar e ouvir são os elementos
fundamentais da boa comunicação. Após dominá-los, o casal está pronto para
aprender estratégias de solução de problemas para aquelas áreas nas quais
discordam.” (DATTILIO E PADESKY, 1995, p. 78).
Nesse caso será trazida possibilidade de soluções que acolham as
necessidades dos parceiros. Será praticada a flexibilidade entre o casal,
através da comunicação. O terapeuta trabalhará no sentido de enriquecer
também a reciprocidade do relacionamento. E encorajar os parceiros a
buscarem resoluções para seus próprios problemas e dificuldades. Albisetti fala
sobre a importância das pessoas entenderem que o significado do
relacionamento conjugal depende somente de si mesmas “As pessoas não
devem se esquecer nunca que são elas o artifício e as protagonistas do
relacionamento conjugal, só elas. Depende delas dar o significado que querem
às suas coisas.” (ALBISETTI, 1997, p.63).

3.4 - Aliviar problemas sexuais

O sexo faz bem para a pessoa humana, e é importante para o


relacionamento do casal. No início o sexo é só satisfação, porém, com o passar
do tempo homens e mulheres podem acabar perdendo o estímulo e o prazer
pelo sexo, o que pode desencadear uma crise conjugal. Pease relata sobre o
sexo nos relacionamentos:
30

No início do relacionamento, o sexo é só amor e prazer. Ela se


entrega e ele transborda de amor. Um alimenta o outro.
Depois de alguns anos, porém, ficam tão preocupados, ele em
conseguir comida e ela em cuidar da cria, que sexo e amor
aprecem acabar para os dois. Se a vida sexual é boa ou ruim,
a responsabilidade é de ambos. Mas quando as coisas
desandam logo começa a troca de acusações. Os dois têm o
que aprender. (PEASE, 2010, p.117)

Hoje, com frequência, os relacionamentos enfrentam crises sexuais.


Isso tudo é consequência da vida contemporânea, trabalho, filhos, ansiedades.
O sexo é importante no relacionamento, deve ser considerada a perpetuação
do vínculo. Quando é desenvolvido um problema de ordem sexual o casal
acaba gerando um conflito no relacionamento. A terapia ajudará aproximar o
casal sexualmente, melhorar a comunicação não verbal do casal, descoberta
do que agrada e desagrada no outro. Irá ajudar a eliminar possíveis distorções
sexuais entre o casal. O terapeuta atua como facilitador do seu crescimento e
de sua modificação, caminhando para a mudança do problema sexual. Mostra
para o casal, a importância de se manter uma vida sexual ativa e satisfatória,
para que possa ajudar desenvolver comportamentos positivos entre ambos.

3.5 - Resoluções de Conflitos e melhoria nos casos de infidelidade


Conjugal

Os conflitos e relações extraconjugais têm sido cada vez mais comuns


dentro do casamento. Albisetti fala sobre relações extraconjugais

A traição esconde algo sério e profundo. Os casais fechados


são mais expostos às traições que os abertos, pois nestes os
parceiros partilham tudo. Todos sonham com um amor eterno,
duradouro, entretanto, na realidade, muitíssimos são os casos
de traição. Por quê? Entre outras coisas, não existem
diferenças significativas entre os dois sexos em matéria de
infidelidade. Parece, de qualquer forma, que as mulheres são
mais infiéis. Isto para contradizer um lugar-comum que vê nos
homens os grandes traidores. (ALBISETTI, 1997.p.165)
31

Os casos extraconjugais são o grande vilão para as relações. Mas uma


traição nem sempre é sinal do fim do casamento. Inúmeras vezes, o parceiro
ama seu companheiro (a), mas acaba se envolvendo numa relação
extraconjugal por motivos diversos. Muitos são os motivos que levam o
parceiro conjugal a praticar a infidelidade, como por exemplo, a falta de auto-
estima, desilusões, falta de afeto e carinho, rotina, etc.Albisetti fala sobre
motivos que levam o parceiro a se envolver num caso extraconjugal:

Em geral, as relações extraconjugais são causadas pela baixa


auto-estima e por uma inadequada valoração da própria
personalidade. Também é necessário dizer que se chega a
este tipo de relação quando não mais se espera uma
modificação do próprio casamento. Mas quais são as
verdadeiras razões que levam a trair? (ALBISETTI,
1997.p.165-166).

Ainda segundo o autor motivos como negação, o não enfrentamento


dos problemas, os sentimentos de inferioridade. Desilusões ou frustrações com
relação ao companheiro, sentimentos de inferioridade. Traem para provar algo
a si mesmo. O prazer sexual que contribuem para que as pessoas se envolvam
nesse tipo de relacionamento, também o tédio, a rotina e a vingança.
A terapia de casal irá fazer com que os cônjuges se assim quiserem,
entenderem e resgatarem a confiança e o interesse pelo companheiro.
Trabalhando através de técnicas e identificando as distorções no
relacionamento.
32

CONCLUSÃO

A terapia de casal é usada para casais com dificuldades de


relacionamento, e em crise conjugal. A terapia tem tido grandes contribuições
para os relacionamentos, que estão em crise, às diferentes abordagens tem
trabalhado no sentido de resolução e melhoria do problema. A
contemporaneidade, e mudanças nos papéis sociais, têm contribuído
significativamente para isso. Então a terapia desenvolve sua contribuição para
as pessoas, que se encontra em crise no seu relacionamento. Segundo
diversos autores a terapia de casal têm auxiliado, e desenvolvido um trabalho
de escuta e intervenção nos relacionamentos, valorizando nos membros do
casal uma mudança do sistema de ansiedades, e intervindo no sentido de
buscar juntamente com os parceiros, o enfrentamento dos conflitos e
necessidades atuais.
A pesquisa foi desenvolvida de acordo com vários teóricos, no intuito
de corroborar a importância da terapia de casal para os membros do casal e
cônjuges que enfrentam dificuldades e crises. Viabilizando a importância da
comunicação para esse processo, pois, a maioria dos casais que enfrentam
essas dificuldades busca a terapia para tentar minimizá-la.
O indivíduo tem papel primordial no período de terapia, pois, os casais
têm revelado múltiplas experiências e exercido grande participação no
tratamento psicoterápico. O terapeuta possui variadas habilidades para auxilar
os casais em crise, e promover uma empatia em torno da relação. A terapia de
casal e seus estudos têm demonstrado sua eficácia como intervenção clínica e
significativos resultados para os participantes.
Considero o assunto de extrema importância, já que tem sido muito
discutido sobre crise ou falência do casamento, nos dias atuais. E esse referido
estudo, mostra que a mudança pode ser possível. O fato de os parceiros
vivenciarem essa nova modalidade de vida que a sociedade impõe, não
impede que os cônjuges invistam em uma relação conjugal mais satisfatória e
equilibrada. Os casais quando procuram a terapia de casal, buscam investir no
relacionamento e na sua própria felicidade. Pois a vivência de uma vida de
33

crises e discussões traz para qualquer indíviduo frustração pessoal e


desenvolve estresse e ansiedade.
Podemos observar através dos estudos bibliográfico, que a prática tem
mostrado a eficácia da terapia de casal nos relacionamentos em crise e
proporcionado melhoria da autonomia e potencialidades do casal.
34

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA

ALBISETTI, Valério. Terapia do Amor Conjugal. São Paulo: Paulinas,


1997(Psicologia e Personalidade).

ANDOLFI, Maurizio, ÂNGELO, Claudio e SACCU, Carmine. O Casal em Crise.


São Paulo: Summus, 1995.

CAILLÉ, Philippe. Um e Um são Três. O casal se Auto-Revela. São Paulo:


Summus, 1994.

CALIL, Vera Lúcia Lamanno. Terapia Familiar e de Casal. São Paulo:


Summus, 1987.

CARNEIRO, Terezinha Féres. Casamento Contemporâneo: o Difícil


Convívio da Individualidade com a Conjugalidade. Psicologia Reflexão e
Crítica, ano/vol.11 numero 002.

DATTILIO, Frank M.e PADESKY, Christine A. Terapia Cognitiva com Casais.


Porto Alegre: Artmed, 1995.

GARCIA, Maria Lúcia Teixeira. Problemas no Casamento: a Presença


Utópica do Amor Romântico. São Paulo, 2004.

GARCIA, Maria Lúcia Teixeira. TASSARA, Eda Terezinha de Oliveira.


Estratégias de Enfrentamento do Cotidiano Conjugal. Psicologia:
Reflexão e Crítica. 2001,14(3), pp.635-642.

GRAY, John. Homens são de Marte e as Mulheres são de Vênus. Rio de


Janeiro: Rocco, 1996.

LAROSA, Marco Antônio. AYRES, Fernando Arduini. Como Produzir uma


Monografia. Rio de Janeiro: Wak Editora, 2008.
35

LEAHY, Robert L. Técnicas de Terapia Cognitiva. Manual do Terapeuta.


Porto Alegre: Artmed, 2006.

MORAES, Cláudia. Sobreviver a Crise Conjugal. Oficina do Livro, 2004.

NATHANIEL Branden. A Psicologia do Amor. Rio de Janeiro: Record: Rosa


dos Tempos,1998.

NOGREN, Maria de Betânia Paes; SOUZA, Rosane Mantilla; KASLOW,


Florence; HAMMERSCHMIDT, Helga; SHALIN Shiomo A. Satisfação
Conjugal em casamentos de Longa duração: uma Construção Possível.
Estudo de Psicologia (Natal) vol.9 número 3 Sep/Dec.2004.

PEASE, Allan. Porque os Homens Fazem Sexo e as Mulheres Fazem


Amor? Rio de Janeiro: Sextante, 2010.

RANGÉ, Bernard. DATTILIO, Frank M. In: RANGÉ, Bernard (Org).


Psicoterapia Comportamental e Cognitiva: Pesquisa, Prática. Aplicações e
Problemas. Campinas, SP: L. Pleno, 2001.

RAMADAM, Zacaria Borge Ali. Terapia de Casais: Uma Visão Jungiana.


Revista de Psiquiatria Clínica. Vol.31 número 3 São Paulo 2004.

SANTOS, Manoel Antônio. ”Nós na fita”: Terapia de Casal na Abordagem


Sistêmica Sob o Enfoque Construcionista Social. Vínculo V.2 Número 2.
São Paulo, dez.2005.
36

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO............................... ............................................................2


AGRADECIMENTO............................................................................................3
DEDICATÓRIA...................................................................................................4
RESUMO............................................................................................................5
METODOLOGIA.................................................................................................6
SUMÁRIO...........................................................................................................7
INTRODUÇÃO....................................................................................................8

CAPÍTULO I
Terapia de casal...............................................................................................10
1.1 - Modelo Psicanalítico.................................................................................12
1.2 - Modelo Cognitivo-Comportamental...........................................................13
1.3 – Modelo Sistêmico.....................................................................................16

CAPÍTULO II
Crise conjugal e dinâmica do casal...............................................................18
2.1- Dificuldade de comunicação...................................................................20
2.2 -Crenças biopsicosocias entre homens e mulheres.................................23

CAPÍTULO III
Terapia de casal: intervenção possível na crise
Conjugal.............................................................................................................26
3.1- Melhoria da relação individualidade x conjugalidade.................................27
3.2- Enriquecer os comportamentos positivos...................................................28
3.3- Desenvolvimento de habilidades e de resolução de
problemas..........................................................................................................29
3.4- Aliviar problemas sexuais........................................................................29
3.5 - Resoluções de Conflitos e melhoria nos casos de infidelidade
Conjugal.............................................................................................................30

CONCLUSÃO....................................................................................................32
37

BIBLIOGRAFIA CONSULTADA........................................................................34
ÍNDICE...............................................................................................................36

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