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DOI: 10.1590/1413-81232017229.

11412017 3077

Feminicídios: conceitos, tipos e cenários

ARTIGO ARTICLE
Femicides: concepts, types and scenarios

Stela Nazareth Meneghel 1


Ana Paula Portella 2

Abstract This text is a theoretical essay that Resumo Este texto é um ensaio teórico que dis-
discusses the concepts, types and scenarios of fe- cute os conceitos, os tipos e os cenários de feminicí-
minicides, and presents some proposals for the dios e apresenta algumas propostas para a preven-
prevention of these premature, unjust and avoid- ção destas mortes prematuras, injustas e evitáveis.
able deaths. The text revisits the original concept O texto traz o conceito original de femicídio pro-
of femicide proposed by Diana Russell and Jane posto por Diana Russel e Jane Caputti, caracteriza
Caputti and shows new and old scenarios where tipos e mostra cenários novos e antigos onde estes
these crimes occur. It points to patriarchy, un- crimes ocorrem. Aponta o patriarcado, entendido
derstood as being a hierarchical system of power como sistema hierárquico de poder entre homens
between men and women, as one of the main de- e mulheres, como um dos principais determinan-
terminants of these deaths. It ends by presenting tes destas mortes. Finaliza apresentando ações e
actions and proposals to prevent and combat these propostas para prevenir e combater estes crimes
gender crimes. de gênero.
Key words Femicides, Feminicides, Violence Palavras-chave Femicídios, Feminicídios, Vio-
against women lência conta a mulher

1
Escola de Enfermagem,
Universidade Federal do
Rio Grande do Sul. R. São
Manoel 963, Rio Branco.
Porto Alegre RS Brasil.
stelameneghel@gmail.com
2
Núcleo de Estudos e
Pesquisas em Violência,
Criminalidade e Políticas
Públicas, Universidade
Federal de Pernambuco.
Recife PE Brasil.
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Meneghel SN, Portella AP

Introdução em todas as configurações. A distribuição destes


crimes no território do estado não é homogênea
Este artigo é um ensaio teórico que discute e está associada a fatores macrossociais: desigual-
conceitos e características de crimes de gênero dade de renda e taxa de urbanização, e a fatores
perpetrados contra mulheres, atualmente deno- relacionados às desigualdades de gênero, como
minados de femicídios e/ou feminicídios. Neste chefia feminina do domicílio e taxa de fecun-
texto, respeitaremos o conceito adotado pelas didade total. Os resultados demonstram que os
autoras originalmente citadas, reportando-se a contextos dos homicídios de mulheres são diver-
femicídio ou feminicídio. O texto divide-se em sificados e obedecem a dinâmicas sociais distin-
quatro partes: uma introdução, que apresenta o tas, nas quais o marcador de gênero, mesmo de
itinerário de pesquisas das autoras no tema da modos diferentes, está sempre atuante 4.
violência contra a mulher; um subcapítulo que Dados do Mapa da Violência no Brasil5 mos-
discute conceitos e tipos; uma seção que mostra tram taxas ascendentes de mortes femininas por
os cenários antigos e atuais e, finalmente, uma agressão no período de 1980-2010 e coeficientes
síntese de algumas ações nos diferentes âmbitos de mortalidade que passaram de 2,3/100.000
da sociedade que visam a prevenção destes cri- para 4,8/100.000, representando um aumento
mes. Salienta-se que o feminicídio é a etapa final de 111% no período. Atualmente, o Brasil ocu-
do continuum da violência contra a mulher, mui- pa o 5º posto em escala mundial, ficando abaixo
tas destas mortes são “anunciadas” e evitáveis. apenas de El Salvador, Colômbia, Guatemala e
Uma das autoras iniciou o estudo deste tema Rússia.
com a pesquisa “Femicídios e assassinatos basea- É provável que no crescimento das taxas
dos em gênero no Rio Grande do Sul”, financiada observado nesse período estejam operando de
pelo CNPq através do Edital 20-2010 Relações de modo articulado elementos da subordinação de
Gênero, Mulheres e Feminismos, um projeto que gênero e raça e da situação socioeconômica em
atuou na intersecção do campo da saúde coleti- contextos de criminalidade urbana, o que cria
va e dos estudos de gênero, elegendo o femicídio uma nova condição de vítima para as mulheres.
como um indicador para identificar situações de Uma parcela considerável dos feminicídios ocor-
iniquidade de gênero na população. Os resulta- ridos no Brasil, nos últimos anos, relaciona- se
dos quantitativos desta pesquisa1,2 mostraram à dinâmica do tráfico e do uso de drogas e aos
associação entre mortalidade por homicídios homicídios sexistas6.
masculinos e mortalidade feminina por agres- Este ensaio tem por objetivo refletir sobre os
são, em todos os recortes territoriais trabalha- tipos e os cenários dos feminicídios e apontar o
dos: Unidades da Federação (UF), Microrregiões quanto a inter-relação entre as condições de gê-
homogêneas do Rio Grande do Sul (MCH-RS) e nero, raça e situação socioeconômica no contexto
municípios com população maior de 400.000 ha- do capitalismo patriarcal está agudizando a vul-
bitantes, podendo-se afirmar que os locais mais nerabilidade das mulheres e requer novas com-
perigosos para os homens também o são para as preensões e explicações teóricas.
mulheres. Na etapa qualitativa deste projeto, em
que se analisaram inquéritos policiais de assassi- Conceitos e situações de risco
natos de mulheres em Porto Alegre, 64% destas
mortes foram tipificadas como feminicídios3. A ocorrência dos homicídios masculinos, na
A segunda autora defendeu recentemente a maioria dos países, é superior aos femininos, po-
tese de doutoramento denominada “Como mor- rém, a menor magnitude dos assassinatos femi-
re uma mulher? Configurações da violência letal ninos não confere importância secundária a esse
contra mulheres em Pernambuco” cujo principal evento, pois a maioria destas mortes por agressão
objetivo foi compreender e analisar as dinâmicas possui uma direcionalidade única sendo perpe-
sociais que produzem este tipo de violência e o trada por homens com os quais as mulheres se
conjunto das situações em que as mulheres são relacionam intimamente7. Nos Estados Unidos,
assassinadas, incluindo também os homicídios 35% dos assassinatos de mulheres são cometidos
de homens. A autora identificou quatro configu- por parceiro íntimo, enquanto que apenas 5%
rações de homicídios no estado de Pernambuco: dos homicídios masculinos são efetuados por
criminalidade, violência doméstica e familiar, mulheres, a maioria dos quais em autodefesa8,9.
violência interpessoal e violência cometida por O assassinato de mulheres é habitual no re-
parceiro íntimo. Com exceção do contexto da gime patriarcal, no qual elas estão submetidas ao
violência interpessoal, as mulheres são vitimadas controle dos homens, quer sejam maridos, fami-
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liares ou desconhecidos. As causas destes crimes autoriza o uso da violência, inclusive a letal, para
não se devem a condições patológicas dos ofenso- fazer valer sua vontade sobre elas. O femicídio,
res, mas ao desejo de posse das mulheres, em mui- assim, é parte dos mecanismos de perpetuação da
tas situações culpabilizadas por não cumprirem os dominação masculina, estando profundamente
papeis de gênero designados pela cultura10,11. enraizado na sociedade e na cultura. São expres-
As violências contra as mulheres compre- sões deste enraizamento a identificação dos ho-
endem um amplo leque de agressões de caráter mens com as motivações dos assassinos, a forma
físico, psicológico, sexual e patrimonial que ocor- seletiva com que a imprensa cobre os crimes e
rem em um continuum que pode culminar com com que os sistemas de justiça e segurança lidam
a morte por homicídio, fato que tem sido deno- com os casos. O fato das mulheres, muitas vezes,
minado de femicídio ou feminicídio12. No semi- negarem a existência do problema é atribuído à
nário internacional realizado em 2005, Feminicí- repressão ou negação produzida pela experiência
dio, Política e Direito, Diana Russel considerou traumática do próprio terrorismo sexista, além
adequada a tradução do inglês “femicide” para o da socialização de gênero, em que a ideologia
espanhol “femicídio”, para evitar a feminização de gênero (ideologia considerada aqui no seu
da palavra homicídio. Porém, autores como Mar- aspecto negativo) é utilizada para naturalizar as
cela Lagarde13 diferenciam femicídio, ou assassi- diferenças entre os sexos e impor estes padrões e
nato de mulheres, de feminicídio, ou assassinato papeis como se fossem naturais ou constituintes
de mulheres pautado em gênero em contextos de da natureza humana18.
negligência do Estado em relação a estas mortes, O femicídio compreende um vasto conjunto
configurando crime de lesa humanidade. de situações e não apenas as ocorridas no am-
O debate acerca do uso de um ou outro ter- biente doméstico ou familiar. Inclui mortes pro-
mo ainda é recente e por se tratar de um conceito vocadas por mutilação, estupro, espancamento,
relativamente novo houve países que optaram as perseguições e morte das bruxas na Europa, as
por utilizar na tipificação legal o termo femicídio, imolações de noivas e viúvas na Índia e os crimes
enquanto outros optaram pelo uso de feminicí- de honra em alguns países da América Latina e
dio, ambos para designar o assassinato misógino do Oriente Médio. A morte das mulheres repre-
de mulheres14. México, Nicarágua e República senta então a etapa final de um continuum de ter-
Dominicana incorporaram na legislação o termo ror que inclui estupro, tortura, mutilação, escra-
feminicídio, enquanto Honduras, Chile e Guate- vidão sexual (particularmente na prostituição),
mala optaram pelo uso de femicídio15. incesto e abuso sexual fora da família, violência
O assassinato intencional de mulheres come- física e emocional, assédio sexual, mutilação ge-
tido por homens é a manifestação mais grave da nital, cirurgias ginecológicas desnecessárias, he-
violência perpetrada contra a mulher e, em socie- terossexualidade compulsória, esterilização e/ou
dades patriarcais, a condição feminina é o fator maternidade forçada, cirurgias psíquicas, experi-
de risco mais importante para a violência letal, mentação abusiva de medicamentos, negação de
embora possa haver maior incidência em mulhe- proteínas às mulheres em algumas culturas, ci-
res que possuem condicionantes raciais, étnicos, rurgias cosméticas e outras mutilações em nome
de classe social, ocupação ou geracionalidade16. do embelezamento. Para as autoras sempre que
O conceito de femicídio foi utilizado pela pri- essas formas de terrorismo resultarem em morte
meira vez por Diana Russel em 1976, perante o tem-se um femicídio18. Descrito desta forma, o
Tribunal Internacional Sobre Crimes Contra as femicídio seria parte de mecanismos sociocultu-
Mulheres, realizado em Bruxelas, para caracteri- rais amplos, que ultrapassam em muito o âmbi-
zar o assassinato de mulheres pelo fato de serem to estrito das relações entre homens e mulheres.
mulheres17, definindo-o como uma forma de Muitas das práticas elencadas – como a mutilação
terrorismo sexual ou genocídio de mulheres. O genital e os procedimentos médicos – são realiza-
conceito descreve o assassinato de mulheres por das por mulheres e, na maior parte das vezes, re-
homens motivados pelo ódio, desprezo, prazer sultam de disposições institucionais e não indivi-
ou sentimento de propriedade. Russel ancora-se duais ou pessoais. Tamanha abrangência termina
na perspectiva da desigualdade de poder entre por conferir à sociedade patriarcal uma natureza
homens e mulheres, que confere aos primeiros terrorista, que produziria todas as situações de
o senso de entitlement – a crença de que lhes é abuso e violência sofridas pelas mulheres, sendo
assegurado o direito de dominação nas relações o femicídio o desfecho fatal destas situações.
com as mulheres tanto no âmbito da intimidade Apesar deste espectro tão amplo de situações,
quanto na vida pública social – que, por sua vez, que apontam em grande medida para contextos
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de abuso institucional, a tendência de associar causas de morte em mulheres jovens e adoles-


o femicídio à violência cometida por parceiro centes nos Estados Unidos9. Em grande parte dos
íntimo permanece forte na análise de Russel e países, as vítimas são jovens, não brancas, pobres
Caputti e segue no imaginário coletivo e mesmo e vivem em espaços urbanos onde a segurança é
nas produções científicas da atualidade. Desta mínima ou inexistente. A maioria destas mortes
maneira o femicídio cometido por um familiar, não é investigada pelas instituições policiais, ha-
amigo ou conhecido do sexo masculino, ou a si- vendo arquivamento de grande parte dos proces-
tuação do casal heterossexual, é a que apresenta o sos. Estes dados reforçam a ideia de que o femini-
maior risco de morte para as mulheres. cídio é um tipo de crime de poder e dominação,
Em países como EUA, Canadá e Costa Rica, atingindo os grupos mais fragilizados na socie-
60% a 70% dos homicídios de mulheres corres- dade26 e que é mais frequente nos locais onde o
pondem a femicídios16,19. A dominação patriarcal Estado é tolerante com a violência, havendo im-
explica a desigualdade de poder que inferioriza punidade para com os agressores27. Portanto, os
e subordina as mulheres aos homens, estimulan- homicídios – tanto de homens quanto de mulhe-
do o sentimento de posse e controle dos corpos res – concentram-se em áreas onde são precárias
femininos e o uso da violência como punição e as condições sociais de existência coletiva e onde
mecanismo para mantê-las na situação de subor- a qualidade de vida é degradada. O diferencial de
dinação. Assim, os feminicídios são mortes femi- risco para as negras e as pobres evidencia que há
ninas que se dão sob a ordem patriarcal, uma for- para os homens, mas também para as mulheres, a
ma de violência sexista que não se refere a fatos “distribuição desigual do direito à vida”28.
isolados, atribuídos a patologias ou ciúmes, mas Em relação à vitimização feminina, Russel
expressa ódio misógino, desprezo às mulheres e e Caputti18 partiram do pressuposto de que, em
constituem mortes evitáveis e, em grande maio- uma sociedade racista e sexista, os fatores indi-
ria, anunciadas, já que grande parte representa o viduais teriam menor influência do que os fato-
final de situações crescentes de violências20. res socioculturais, uma vez que tanto as pessoas
Há uma relação entre a violência estrutural que apresentam distúrbios psicológicos quanto
de uma sociedade e o tipo de feminicídio mais aquelas consideradas “normais”, frequentemen-
frequente. Os perpetrados por parceiro íntimo te tomam atitudes racistas e sexistas legitimadas
atingem maiores proporções quando a taxa total socialmente. A violência contra as mulheres, nes-
de homicídios é pequena, ou seja, quando a vio- sa perspectiva, teria como objetivo a preservação
lência estrutural tem baixa prevalência. Em locais da supremacia masculina no âmbito das relações
com altas taxas de mortalidade masculina por interpessoais e no nível macrossocial. O estupro,
agressão predominam os crimes cometidos por por exemplo, seria uma expressão direta do que
desconhecidos e, em contextos de criminalidade, ela denomina política sexual, uma afirmação das
onde a violência estrutural é maior, as mulheres normas machistas e uma forma de terrorismo que
são assassinadas na esfera pública por gangues e preserva o status quo, enquanto o assassinato de
grupos armados, havendo uma alta prevalência mulheres seria tão somente a forma mais extrema
de mortes perpetradas por desconhecidos, com de terrorismo sexista. Essa interpretação represen-
violações sexuais e execuções21. ta uma nova compreensão política do problema
O aumento da violência letal entre homens da violência contra as mulheres e, por isso, foi pre-
pode ocasionar crescimento dos homicídios en- ciso construir um novo conceito, capaz de refletir
tre mulheres, uma vez que sociedades violentas a nova abordagem, esse conceito é o femicídio. 
para com os homens possuem configurações so-
cioculturais que produzem também altas taxas Cenários
de violência contra mulheres, como o machismo,
o culto à virilidade e o padrão de resolução de Os cenários onde ocorrem os feminicídios
conflitos violento e privado1,22. Estudos que in- ajudam a compreender os seus determinantes,
vestigaram a associação entre estrutura social e alguns conhecidos de longa data, outros emer-
homicídios evidenciaram que onde a desorgani- gentes na atualidade. Os mais conhecidos e es-
zação social, a privação socioeconômica, a insta- tudados são os cenários familiares e domésticos,
bilidade social e a criminalidade são maiores há já que a família em sociedades patriarcais confe-
mais homicídios de ambos os sexos23-25. re todo o poder ao homem, e nas relações entre
Mulheres assassinadas encontram-se predo- parceiros íntimos as mulheres são consideradas
minantemente entre adolescentes e adultas jo- propriedade dos maridos, companheiros, namo-
vens. O assassinato representa uma das primeiras rados e ex-companheiros29.
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Fatores que podem aumentar a vulnerabili- em alta prevalência de mortes de mulheres pelos
dade das mulheres de serem mortas pelos parcei- clientes, cafetões ou chefes do tráfico. Além do
ros íntimos incluem a disparidade de idade entre mais, os estereótipos veiculados pela ideologia
os cônjuges, a situação marital não formalizada, patriarcal, produzem uma situação de indiferen-
as tentativas prévias da mulher em obter a sepa- ça em relação a essas mortes, geralmente havendo
ração (especialmente nos três meses que ante- atribuição de culpa às vítimas. O ódio misógino é
cederam o assassinato) e histórias repetidas de tão elevado em relação às trabalhadoras do sexo,
violência e agressões. Grande parte dos homens a ponto de tonarem-se alvo de ações internacio-
que assassinam as esposas não difere de seus pa- nais diretas de extermínio sob o rótulo de limpe-
res na sociedade e são considerados “comuns e za social29. Mulheres que exercem a prostituição
convencionais”, o que é ainda mais perigoso30,31 possuem um risco em torno de 50 vezes maior
porque há uma tendência de atribuir o delito a que a população feminina geral34, já que o cliente
uma explosão de cólera, ou um motivo “passio- ao pagar pelo sexo, sente-se no direito de dispor
nal” impossível de ser previsto e prevenido. Por do corpo da mulher.
esse motivo, considerar o femicídio como uma Atividades ilegais referentes ao tráfico de dro-
explosão passional ou atribui-lo à doença do gas, armas e migração clandestina têm contado
agressor, significa retirar a conotação social e de com participação cada vez maior de mulheres.
gênero do crime, reduzindo-o à esfera individual. Nesse contexto, elas muito facilmente se con-
Em mais de 70% dos assassinatos de mulhe- vertem em território de vingança e, pela maior
res por parceiro íntimo há relatos de violência facilidade de serem localizadas, são executadas
de gênero em níveis ascendentes em termos de em lugar dos companheiros, fazendo com que
frequência e gravidade32. Mulheres que possuem esse tipo de crime também se caracterize como
melhores níveis de escolaridade, situação socio- femicídio, embora não seja visto como tal pelos
econômica e laboral que os companheiros estão operadores policiais e população29.
em maior risco8,33, indicando a presença do fenô- A presença destes contextos e condicionantes
meno chamado backlash ou feminicidios perpe- pode coexistir havendo várias situações super-
trados por homens (companheiros ou conheci- postas, dificultando a identificação e o enfren-
dos) quando estão em situação socioeconômica tamento das causas. Enfim, existe um cenário
ou social desvantajosa em relação às mulheres ou de misoginia e crueldade em que as mortes são
quando elas querem separar-se e eles não o de- acompanhadas de violações e os corpos são mu-
sejam. Dentre os agressores há uma sobrepreva- tilados, desnudados e desqualificados. O femi-
lência de homens desempregados, que possuem nicídio representa então uma mensagem envia-
armas de fogo, histórico de agressões e ameaças da às mulheres (para aterrorizá-las e mantê-las
de morte dirigidas à vítima8. submissas) e aos outros homens (para demarcar
Outra situação que pode levar ao feminicí- território e mostrar quem é que manda)35,36.
dio é a agressão sexual, que ocorre em todas as Novas tipologias e cenários incluem as mor-
classes sociais, no âmbito público e no privado. tes por conexão: quando uma mulher está na li-
A violência sexual representa situação em que as nha de fogo em que um homem mata ou tenta
mulheres estão na posição de meros objetos des- matar outra mulher; feminicídios sexuais sistê-
cartáveis, tornando esse ato extremamente pe- micos, precedidos de sequestro, tortura e estu-
rigoso pela necessidade do agressor de eliminar pro; morte de mulheres que exercem prostituição
testemunhas e vestígios, matando a vítima após ou ocupações estigmatizadas; morte de mulheres
uma violação sexual29. em situação de tráfico ou contrabando de pesso-
Um terceiro cenário corresponde à explora- as e finalmente os feminicídios em que há marcas
ção e tráfico sexual de mulheres e meninas, que de racismo, quando há ódio à origem étnica, ra-
constituem um dos negócios mais lucrativos a ní- cial ou traços fenotípicos da mulher e quando há
vel mundial, contando com a proteção de políti- preconceitos em relação à orientação sexual, in-
cos, policiais e membros do sistema judiciário de cluindo feminicídios transfóbicos e lesbofóbicos.
muitos países. Nas redes de tráfico sexual, as mu- Além dessas, também se consideram femi-
lheres são um objeto valioso, mas podem ser des- nicídios as execuções de mulheres em conflitos
cartadas facilmente, quando adoecem, ameaçam armados, a perseguição e morte de militantes
fugir ou não estão cumprindo as tarefas impostas políticas e sociais, a eliminação de grupos con-
nas situações de trabalho a que são submetidas. siderados inferiores em ações de “limpeza racial”
No comércio sexual, em que predomina a “coisi- como o que acontece com mulheres pertencentes
ficação” feminina, a vida pouco vale. Isso implica a minorias étnicas.
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Ao caracterizar esse tipo de mortes não se em maior risco de morte, para que possam ser
pode deixar de analisar as novas configurações tomadas medidas de proteção14.
na organização social do trabalho, a crescente ur- Estudos sobre as rotas críticas percorridas
banização da população e os movimentos migra- pelas mulheres no enfrentamento das violências
tórios, os reflexos globais de mudanças de com- mostram que o sistema jurídico-policial é o mais
portamento incidindo em culturas de honra, a procurado e o setor saúde não tem funciona-
proliferação de máfias e organizações criminosas do como porta de entrada para o diagnóstico e
que têm explorado as mulheres e as descartado o acolhimento de casos32. Profissionais do setor
quando não são mais necessárias ou para intimi- saúde dificilmente consideram a violência con-
dar as instituições sociais e as outras mulheres. A tra a mulher como um problema de saúde pú-
coexistência de fenômenos tradicionais e moder- blica, embora tenha sido definida como tal pela
nos tem levado à vulnerabilização cada vez maior Organização Mundial da Saúde nos anos 1990.
dos grupos mais frágeis e sem redes de proteção, Dentre os motivos para esta omissão pode-se
incluindo as mulheres jovens, pobres e migran- elencar a não inclusão deste tema nos cursos da
tes, vítimas preferenciais deste tipo de crime. área da saúde, além da percepção conservadora
e tradicional sobre os papeis de gênero por par-
Enfrentamentos te dos operadores que acreditam que a violência
doméstica pertença à esfera do privado e que as
Para fazer frente aos femicídios, diz Dora mulheres instigam os homens à violência ou não
Munevar37 é preciso realizar as ações de nome- sabem se proteger. Essas percepções fazem com
ar, visibilizar e conceituar as mortes violentas de que, em muitas situações, a violência fique invi-
mulheres, o que constitui o exercício material do sibilizada nos serviços que não percebem nem
direito a ter direitos. Do mesmo modo, há neces- mesmo o risco de morte destas usuárias39,40.
sidade de definir os elementos objetivos e subjeti- Outro fator que obstaculiza a atuação dos
vos do tipo penal que sancione esses crimes. trabalhadores da saúde é a insuficiência ou ine-
Para o monitoramento dos feminicídios em xistência de equipamentos sociais como serviços
um território é preciso dispor de informações fi- especializados e casas de passagem que possam
dedignas. No Brasil, as declarações de óbito que albergar e proteger essas mulheres. O fato de
fazem parte do Sistema de Informação de Mor- realizar um diagnóstico de violência de gênero
talidade/DATASUS não contêm dados referentes perpetrada contra uma mulher e não ter recur-
à causa do crime, sendo impossível classificar as sos humanos e materiais para oferecer é uma si-
mortes femininas por agressão, como femicídios tuação que gera mal-estar, ansiedade e angústia,
ou feminicídios, já que não contam com infor- fazendo com que muitos trabalhadores prefiram
mação referente ao agressor e à intencionalidade ignorar este problema.
do evento. Outros documentos que se referem Também têm sido relatados, principalmente
aos óbitos femininos por agressão, mas não os por profissionais que atuam em regiões com a
tipificam são os prontuários de serviços de emer- presença do tráfico, sentimentos de medo e im-
gência, laudos periciais e inquéritos periciais, potência gerados pelo confronto com o crime or-
porém o acesso é restrito, o manuseio é difícil e ganizado. Para o profissional da atenção básica,
podem demandar um longo espaço de tempo até que está na ponta do sistema e se sente muitas
sua conclusão. vezes sozinho e sem apoio da retaguarda, efe-
Em 2006, o Ministério da Saúde implantou tuar um notificação de violência (que pode ser
o sistema de Vigilância de Violências e Acidentes lida como denúncia; que é anônima, mas muitas
(VIVA) no âmbito do Sistema Único de Saúde vezes que todos sabem quem a produziu) pode
(SUS), em dois componentes: (1) vigilância de significar exposição à retaliação por parte dos
violência doméstica, sexual, e/ou outras violên- agressores. Acrescente-se a dificuldade do Estado
cias interpessoais e autoprovocadas (VIVA-Con- brasileiro em proteger as testemunhas e/ou os de-
tínuo), e (2) vigilância de violências e acidentes poentes e o rompimento do sigilo que ocorre em
em emergências hospitalares (VIVA-Sentinela)38. muitas situações pelos trabalhadores que alimen-
Mesmo após a criação deste sistema, as violên- tam sistemas de informação ou pelos rituais jurí-
cias têm sido pouco notificadas, principalmente dicos que colocam frente a frente vítimas, réus e
aquelas contra a mulher. No Brasil, assim como testemunhas.
em outros países, ainda não há bases de dados Além do mais, os profissionais da saúde for-
fidedignas que indiquem a prevalência da violên- mados para oferecer ações técnicas frente às do-
cia contra a mulher e identifiquem as que estão enças sentem-se despreparados para lidar com
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um agravo cuja resolução implica em outras ha- violência doméstica e familiar e/ou menosprezo
bilidades e atitudes. Uma abordagem equivocada ou discriminação à condição de mulher passa a
é a de tratar a violência como uma doença, medi- ser considerado feminicídio.
calizando e psiquiatrizando um problema cujas Em 2016, é publicado o documento “Diretri-
raízes são sociais41. zes Nacionais para investigar, processar e julgar
A violência contra a mulher é um evento de com perspectiva de gênero as mortes violentas
caráter crônico, portanto a resolução demanda de mulheres”, uma adaptação do Modelo de Pro-
tempo e as vítimas precisam ser atendidas, acom- tocolo latino-americano para investigação das
panhadas e fortalecidas em linhas de cuidado que mortes violentas de mulheres por razões de gê-
podem demandar longos períodos de tempo. Por nero. As Diretrizes visam colaborar para o apri-
outro lado, o feminicídio é uma ação que pode moramento da investigação policial, do processo
ocorrer abruptamente após uma ameaça ou con- judicial e do julgamento das mortes violentas
flito e, neste caso, as providências de proteção da de mulheres de modo a evidenciar as razões de
mulher precisam ser oportunas e rápidas. gênero na ocorrência dessas mortes. Adotar esta
Há necessidade de implantar protocolos nos perspectiva é fundamental para que o Estado
serviços de saúde, tanto na atenção básica, quan- consiga agir de modo mais eficiente para preve-
to nos níveis de maior complexidade, para iden- nir e punir os feminicídios20.
tificar a violência contra a mulher e o risco de Embora pontuais, há experiências, projetos e
morte. Deve-se perguntar sempre se a mulher programas bem sucedidos, principalmente quan-
sofreu/sofre violência, para romper os tabus de do existem redes, parcerias com os movimentos
que “disso não se fala”. É preciso ouvir sem julgar, sociais e protagonismo das mulheres. Um exem-
não pressionar a mulher para denunciar, traçar plo deste tipo de intervenção foi a Patrulha Maria
planos de cuidado, ajudar a construção de redes da Penha, organizada no ano de 2012 no estado
de suporte e, principalmente, identificar quando do Rio Grande do Sul para atender regiões de
a situação é de risco imediato e, nestes casos, agir elevada vulnerabilidade social. A patrulha cons-
rapidamente para proteger a vítima. Em suma, tituiu uma ação intersetorial criada pelas secreta-
elaborar um plano terapêutico singular para cada rias da Segurança Pública e de Políticas paras as
mulher afetada pela violência42. Mulheres, operacionalizada pela Brigada Militar
De acordo com a normativa internacional, os e Polícia Civil, fiscalizando o cumprimento da
Estados nos casos de violência contra as mulhe- medida protetiva de urgência solicitada por mu-
res por razões de gênero, possuem quatro obriga- lheres vítimas de violência doméstica43.
ções: atuar com diligência, prevenção, investigar A patrulha teve ampla aceitação pela popu-
e sancionar, e garantir uma justa e eficaz repara- lação e pelos setores policial e jurídico devido ao
ção20. impacto positivo que alcançou, evitando reinci-
A formulação da Lei Maria da Penha (Lei nº dências e efetuando a prisão de agressores que
11.340), em 2006, constituiu um dos marcos le- descumpriam as medidas protetivas. Porém, a
gais para o enfrentamento dos crimes de gênero. mudança de governo e as restrições que segui-
Com a lei Maria da Penha, a violência deixou de ram, como a extinção da Secretaria de Políticas
ser considerada como crime de menor potencial para Mulheres, tanto no âmbito do estado quan-
ofensivo, foi conceituada e tipificada, sendo ra- do do país, indicam que o projeto permanecerá
pidamente conhecida e incorporada no discurso apenas “no papel”.
das mulheres do país, independentemente de po- Isso significa que, a despeito da adoção de
sição social41. mecanismos e políticas para a erradicação da
Uma década depois, frente ao recrudesci- violência contra as mulheres, os Estados ainda
mento de assassinatos contra a mulher e à positi- não foram capazes de cumprir adequadamente as
vação em lei efetuada por vários países, inicia no obrigações no tocante à prevenção, investigação,
país a discussão sobre uma lei específica para o julgamento e punição dos assassinatos de mu-
feminicídio. O Brasil regulamentou esta lei, após lheres. Entre os maiores desafios estão a ausência
uma série de debates e discussões com vários de vontade política para confrontar os crimes;
setores da sociedade, instituições e movimentos os obstáculos existentes para as investigações
sociais. O crime de feminicídio foi sancionado incluindo omissões, erros e negligências; a falta
através da Lei, que passa a considerar a questão de evidências para julgamento dos acusados; a
de gênero como circunstância qualificadora do revitimização da vítima; a ausência de acesso à
homicídio. O assassinato de uma mulher cometi- Justiça e de assistência aos membros da família
do por razões de gênero, quando o crime envolve na busca do julgamento dos perpetradores de
3084
Meneghel SN, Portella AP

modo a eliminar a impunidade característica da recebam formação teórica, mas educação con-
violência contra as mulheres44. tinuada que inclua a discussão dos casos na sua
Poderia se acrescentar ainda o caráter patriar- integralidade, o partilhar de experiências mesmo
cal da sociedade, que mantém as desigualdades as mais dolorosas, o apoio e a retaguarda para a
de poder entre homens e mulheres e segue consi- equipe e, principalmente, a capacidade de man-
derando estas como propriedade dos primeiros, ter viva a capacidade de se indignar, sentimento
que têm licença, portanto, para matá-las. que ajuda a elaborar o mal estar que nos atinge
Finalmente, na medida em que todas e todos ao nos defrontarmos com o sofrimento humano
somos afetados pelas violências, é preciso que os e com estas mortes prematuras, evitáveis, cruéis
trabalhadores sociais e de saúde, assim como os e iníquas.
operadores do setor jurídico-policial não apenas

Colaboradores

SN Meneghel e AP Portella partilharam igual-


mente todo o processo de elaboração do artigo.
3085

Ciência & Saúde Coletiva, 22(9):3077-3086, 2017


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Artigo apresentado em 13/01/2017


Aprovado em 18/04/2017
Versão final apresentada em 20/04/2017

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