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ARTIGO

AS VIOLÊNCIAS SOFRIDAS POR MULHERES QUE


OFENDERAM SEXUALMENTE

VIOLENCES SUFFERED BY WOMEN WHO OFFENDED SEXUALLY

RESUMO: O objetivo deste texto é apresentar e ABSTRACT: The purpose of the text is to pres- CASSIA DE FREITAS
discutir histórias das várias vitimizações sofridas ent and discuss history of the various victim- TEIXEIRA PASSARELA1
pela ofensora sexual do gênero feminino, buscan- izations suffered by the female sex offender in
do contribuir para os atendimentos psicossociais. order to contribute to psychosocial care. It is a
LUCY MARY
Trata-se de um recorte de pesquisa desenvolvida research cut developed in partnership between
CAVALCANTI STROHER1
em parceria entre uma instituição pública e uma a public institution and a public university, and
universidade pública, e a opção metodológica foi a the methodological option was the documentary
pesquisa documental, com a obtenção das infor- research, with the obtaining of information taken LIANA FORTUNATO
mações retiradas diretamente do registro contido directly from the record contained in the institu- COSTA2
nos prontuários da instituição. As participantes tion’s health records. The participants were five
foram cinco mulheres com idades entre 19 e 52 women between the ages of 19 and 52 who re-
anos que receberam atendimento psicossocial ceived psychosocial care after referral of justice 1
Secretaria de Estado de
após encaminhamento de serviços de justiça e and health services during the first half of 2018. Saúde do Distrito Federal
saúde, durante o primeiro semestre de 2018. Os The results point to stories of intense suffering (DF), Brasília, Brasil
resultados apontam histórias de intenso sofrimen- experienced by these women who started very
to vividas por essas mulheres que tiveram início early in childhood, being continuous, permanent, 2
Universidade de Brasília,
muito precocemente na infância, sendo contínuas, with many facets: physical, neglect, street life and Brasília (DF), Brasil
permanentes, com várias facetas: física, abando- sexual violence. There were still deaths, separa-
no, negligência, vivência de rua, violência sexual. tions, rupture of affective bonds, great changes
Ainda ocorreram mortes, separações e ruptura de and disengagement of the environment and of
vínculos afetivos, grandes mudanças e desvin- people. The experience of these various violence
culações do ambiente. A vivência dessas várias has had grave consequences on the development
violências trouxe consequências graves para o de- of affectivity and the establishment and mainte-
senvolvimento da afetividade e estabelecimento e nance of binding relationships. These results co-
manutenção de relações vinculares. Esses resul- incide with the international literature. The aspect
tados são coincidentes com a literatura internacio- analyzed in this text needs to be included in any
nal. O aspecto analisado nesse texto necessita ser program of psychosocial or clinical intervention
considerado em qualquer programa de interven- with these women.
ção psicossocial ou clínico com essas mulheres.
KEYWORDS: Sexual offender female; Sexual
PALAVRAS-CHAVE: Mulher ofensora sexual; Abuso abuse; Violence; Victimization.
sexual; Violência; Vitimização.

Este texto tem por objetivo apresentar e discutir as histórias das várias
vitimizações sofridas pela ofensora sexual do gênero feminino, conforme é relatado
amplamente pela literatura internacional (Cauffman, 2008; Comartin, Burgess-
Proctor, Kubiak & Kernsmith, 2018; Grattagliano, Owens, Morton, Campobasso,
Carabelle, & Catanesi, 2012; Levenson, Willis, & Prescott, 2015; Strickland, 2008; Recebido em: 09/01/2019
Willis & Levenson, 2016). Os casos de violência sexual cometidos por mulheres Aprovado em: 25/04/2019

http://dx.doi.org/10.21452/2594-43632019v28n64a04
tiveram identificação, em países de lher adulta ou adolescente, em nosso
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língua inglesa, a partir das décadas país, é praticamente nulo. No Distrito
de 1980/1990 (Pflugradt, Allen, & Federal (Brasil), no ano de 2018, ha-
Marshall, 2018). Ainda hoje muitos viam cinco mulheres adultas senten-
casos se mantêm desconhecidos e ciadas por abuso sexual e recolhidas
inacessíveis, e há uma tendência a ao sistema prisional (Ronny Alves de
serem menosprezados por conta do Jesus, comunicação pessoal, em 15 de
mito sobre a mulher, vista sempre outubro de 2018). E é muito recente o
como cuidadora (Strickland, 2008). despertar do interesse do Ministério
Essa desqualificação da violência Público por encaminhamento para
cometida por mulheres contra crianças atendimento clínico dessas mulheres
e adolescentes é particularmente (Thiago André Pierobom de Ávila, co-
observada no contexto jurídico que municação pessoal, em 15 de outubro
se mostra leniente e, muitas vezes, de 2018). Dessa forma, constata-se que
irresponsável em relação a identificar começa a surgir uma demanda institu-
e responsabilizar a mulher ofensora cional mais sistematizada por identi-
sexual (Cauffman, 2008; Kington, ficar mulheres que cometeram ofensa
2014). Por outro lado, há uma sexual e se estabelecer oferecimento
tendência a se categorizar a mulher de ações de atendimento psicológi-
ofensora sexual como portadora de co a essa população. Exemplo disto é
problemas mentais, ou então como que o Ministério da Saúde (2015), na
pessoa má, evidenciando com esta ficha de notificação de violência inter-
leitura patologizante ou moralista pessoal/autoprovocada, trouxe espaço
uma dificuldade geral (até mesmo para preenchimento de variável sobre
de profissionais da psicologia e o tipo de violência sexual praticada, o
juristas) de reconhecer sua condição sexo e a faixa etária do autor da vio-
de sofrimento. Em outros termos, lência, no intuito de mapear e trazer
de se aproximar da subjetividade ao conhecimento público essa preva-
das mulheres em questão e, até, de lência. Espera-se, em futuro próximo,
realizarem o encaminhamento para haver conhecimento mais detalhado
atendimento específico (Cauffman, desse fenômeno, no entanto, agora o
2008; Nicoletti, Giacomozzi, & Cabral, índice de mulheres autoras de violên-
2017; Peter, 2006). cia sexual é quase inexistente.
A indicação correta de prevalência Este texto pretende contribuir não
do abuso sexual cometido por apenas para visibilizar estas mulheres
mulheres é desconhecida. Alguns que ofenderam sexualmente, porém,
estudos apontam uma prevalência mais especificamente contribuir para
de 4% a 6% de ocorrência de abuso a iniciativa de encaminhamentos para
sexual cometido por mulheres em atendimentos na rede (pública e priva-
comparação com o cometimento de da). Além disso, apresenta as histórias
abusos sexuais de forma geral. Porém, de violências sofridas e vitimizações
essa estimativa pode ser maior se a pelas mulheres adultas ofensoras se-
contagem for realizada a partir do xuais em concordância com a una-
relato de adultos que foram vítimas nimidade dos autores internacionais
sexuais de mulheres na infância que privilegiam o conhecimento desse
(Cortoni, Babchishin, & Rat, 2017). aspecto no tratamento desses sujeitos
O conhecimento sobre o cometi- (Blom, Högberg, Olofsson, & Daniels-
mento da violência sexual por mu- son, 2014; Kington, 2014; Levenson

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et al., 2015; Willis & Levenson, 2016; e múltiplas vitimizações na infância.
As violências sofridas por
Gillespie, Williams, Elliot, & Eldridge, Porém, a mulher vitimizadora sexual mulheres que ofenderam
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2017). Sem exceção, os autores cita- sofreu maior número de violências sexualmente
Cassia de Freitas Teixeira
dos neste texto concordam que a mu- do que as mulheres ofensoras não Passarela
lher que comete ofensa sexual sofreu sexuais. Esses achados têm relação Lucy Mary Cavalcanti Stroher

graves injúrias na infância e na pré- intensa com preconceitos de gênero, Liana Fortunato Costa

-adolescência, como violência sexual apontando uma posição social da


vivida de forma severa, além de outras mulher como submissa, dominada
violências, trazendo experiência trau- e violentada (Lauritsen & Carbone-
mática e grande sofrimento para sua Lopez, 2011; Williams et al., 2017;
história de vida. Assim, tem-se que a Willis & Levenson, 2016).
criação de políticas públicas e de ações De modo semelhante, os homens
terapêuticas depende enormemente adultos ofensores sexuais também
do conhecimento que se produza so- viveram experiências de violência,
bre um aspecto fundamental para a sendo esse aspecto já bastante
criação de métodos de atendimento, elucidado (Blomet al., 2014; Cotter,
qual seja: a vitimização precoce da Drake, & Yung, 2016). Os últimos
ofensora sexual, do ponto de vista físi- anos têm revelado uma preocupação
co, emocional, sexual, social e familiar de autores que pesquisam sobre o
(Willis & Levenson, 2016). homem adulto ofensor sexual e seu
Os estudos sobre a mulher ofensora próprio sofrimento em relação a
sexual mostram que elas foram víti- vivências violentas em suas histórias
mas de maus-tratos, e de que sua his- de vida, retomando a importância da
tória de violências sofridas é maior do pesquisa qualitativa para a melhor
que as histórias dos maus-tratos so- compreensão das dinâmicas abusivas
fridos pelos homens ofensores sexu- (Bowden, Glorney, & Daniels, 2017;
ais. Além disto, estas mulheres foram Geiger & Fischer, 2017; Winder, 2017).
expostas a modos de relacionamento Nesse sentido, Conceição, Penso,
agressivo e abusivo. As violências e Costa, Setubal e Wolff (2018) vêm
maus-tratos são de ordem física, emo- propondo o método psicodramático
cional e principalmente sexual. Essas como mediador no trabalho prático
violências sexuais foram, em geral, de aprofundamento da compreensão
cometidas por familiares, e, sobre elas, do sofrimento desses sujeitos nas
tem-se ainda a dizer que essas mulhe- ações terapêuticas. Por exemplo,
res sofreram um processo permanen- não abordar o tema do abuso sexual
te de erotização (Budd & Bierie, 2018; sofrido durante a infância pode
Burger-Proctor, Comartin, & Kubiak, se constituir em um impasse na
2017; Oliver & Holmes, 2015). progressão do processo terapêutico
Há evidências em pesquisas do homem adulto que ofendeu
que mostram que as mulheres que sexualmente (Bowden et al., 2017).
cometeram ofensa sexual sofreram Ainda é importante indicar que
abuso sexual por um número maior Willis e Levenson (2016) apontam o
de abusadores, sendo que a primeira erro que muitos programas realizam
vitimização ocorreu em idade precoce, de oferecerem o mesmo modus ope-
tendo permanecido subjugadas à randi de atendimento ao homem ofen-
violência por longo tempo. De forma sor sexual para os casos de mulher
geral, as mulheres que cometeram ofensora sexual. Assim, um fator mui-
algum tipo de crime sofreram várias to importante que faz diferença mar-

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cante para o atendimento da mulher em função de que os/as ofensores/
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ofensora sexual é a consideração das ofensoras sexuais não aceitam parti-
suas muitas vitimizações, e da maior cipar de atividades (como uma pes-
agressividade contida nessas violên- quisa) nas quais precisam se identifi-
cias. Esse é o aspecto principal da con- car como ofensores/as sexuais (Wolff,
tribuição do texto. Oliveira, Marra, & Costa, 2016). A de-
pender dos contextos jurídico, psicos-
social, clínico, e dos profissionais para
MÉTODO quem estão informando, essas pessoas
negam ou admitem o ato violento co-
Trata-se de recorte de uma pesquisa metido. A principal fonte das infor-
desenvolvida em uma parceria inte- mações foi o prontuário no qual está
rinstitucional de pesquisa/consultoria registrado tudo a respeito dos sujeitos.
entre um programa de atendimento As participantes foram cinco mu-
psicossocial de uma secretaria de saúde lheres com idades entre 19 e 52 anos,
de governo e uma universidade pública. encaminhadas pelo Sistema de Justi-
O programa de atendimento a adultos ça e por serviços de saúde, sendo que
que cometeram violência sexual contra ainda estão em atendimento psicos-
crianças e adolescentes e tem seu espa- social. Essa amostra significa 100%
ço em hospital geral público teve início da população atendida no primeiro
em 2013, já tendo sido atendidos 150 semestre de 2018. O procedimento de
homens. Todos os atendimentos são acesso às mulheres teve o seguimen-
realizados por encaminhamento pelo to: primeiro houve estudo de caso
Sistema Judiciário e outros Serviços de por meio de discussão conjunta dos
Saúde (público e privado). No ano de profissionais (psicólogos e assistentes
2016 começaram a chegar ao programa sociais) que acompanham diretamen-
encaminhamentos do Ministério Pú- te cada mulher, com outros profissio-
blico e da Vara da Infância para atendi- nais da equipe (psicólogos, assisten-
mento também de mulheres que come- tes sociais e psiquiatra). Em seguida
teram ofensa sexual, o que desafiou a os prontuários foram consultados e
equipe a se instrumentalizar para obter retiradas as informações referentes às
conhecimento teórico e metodológi- várias agressões sofridas por elas em
co específico para a atenção à mulher seu curso de vida. A síntese dessas
ofensora sexual. Os encaminhamen- informações encontra-se na Tabela 1,
tos são realizados após cumprimento na seção Resultados.
da pena em sistema fechado (no caso A análise desses achados seguiu
dos sujeitos do gênero masculino vin- orientação de priorizar as vivências de
dos da Vara de Execuções Penais), ou violência nos aspectos físico, emocio-
após recebimento de pena alternativa nal, sexual, psicológico, negligência,
(no caso dos sujeitos do gênero mas- trabalho infantil, abandono, vivência
culino vindos da Vara de Execução de de rua (Cauffman, 2008; Grattaglia-
Medidas Alternativas). Com relação às no, Owens, Morton, Campobasso,
mulheres ofensoras sexuais, até o mo- Carabelle, & Catanesi, 2012; Willis &
mento os encaminhamentos foram re- Levenson, 2016). Primeiramente as
alizados pelo Ministério Público e pela informações foram retiradas e pos-
Vara da Infância e Juventude. teriormente agrupadas para compre-
A opção pelo método recaiu sobre ensão do processo de ocorrência das
a Pesquisa Documental (Berg, 1998) vivências apontadas. Buscou-se orga-

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nizar esse material contemplando-se RESULTADOS
As violências sofridas por
as questões culturais e de ordem so- mulheres que ofenderam
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cioeconômicas como são valorizadas Os resultados referentes às agres- sexualmente
Cassia de Freitas Teixeira
por Bowdenet al. (2017) e Geiger e sões impostas às vítimas estão des- Passarela
Fischer (2017). O projeto foi submeti- critos, de forma sucinta, na Tabela 1. Lucy Mary Cavalcanti Stroher

do ao Comitê de Ética do Instituto de Logo em seguida são relatadas, com Liana Fortunato Costa

Ciências Humanas da Universidade mais detalhes, as histórias de vitimiza-


de Brasília e recebeu parecer favorável ções precoces sofridas pelas mulheres
datado de 19/02/2015. que perpetraram as violências sexuais.

Tabela 1: Informações sobre a ofensora sexual como vítima

Idade Vitimizações
Violência Violência
Idade Violência Violência Trabalho Situação
Participantes sexual sexual Abandono Negligência
atual física psicológica infantil de rua
intrafamiliar extrafamiliar
11, 22 a
1 52 17 a 19 11 e 14 22 a 27 11
27
2 41 8, 12 e 40
Infância Infância
3 45 25 a 41 10
25 a 41 25 a 41
4 29 9 e 13 13 e 16 15 14
6, Infância,
5 19 17
adolescência 17

A participante 1, aos 11 anos, es- sário de 19 anos, este namorado a es-


tava no parque brincando com uma tuprou e ela acabou por engravidar de
menina da mesma idade, quando um seu primeiro filho. Dos 22 aos 37 anos:
senhor se aproximou e ofereceu-se sofreu violência física e psicológica de
para brincar com elas, e acabou por um companheiro. Foi feita denúncia
tocá-las nas partes íntimas. Tempos desta agressão física. Quando voltou
depois, após a morte do seu pai, ela para casa, após alta hospitalar, esse
e a irmã foram forçadas a realizarem companheiro tentou pôr fogo na casa.
todo o serviço doméstico, por cobran- Ele ainda foi acusado de ter cometido
ça da mãe. Quando as tarefas não eram violência sexual com suas três filhas,
cumpridas, a mãe as agredia fisica- entre 2005 e 2007, quando as meninas
mente com correia de couro, batia em estavam com nove, oito e cinco anos.
sua cabeça, e machucava com vassou- A avó materna das meninas registrou
ra. Aos 14 anos: foi convidada por uma denúncia na delegacia. A participante
amiga de 19 anos para ir a uma festa. 1 foi acusada de ter ciência das violên-
Ao chegar na festa, estavam apenas o cias e de ter agredido as filhas para im-
namorado da amiga e mais um rapaz, pedir a revelação da violência sexual
que “tentou tocá-la”. Como ela chorava por meio de ameaças, espancamentos
muito, ele foi embora. Dos 17 aos 19 e castigos, que ocorreram todas as ve-
anos: conheceu seu primeiro namo- zes em que as meninas disseram que
rado, sendo que não gostava que ele contariam o que acontecia. Ela chegou
tocasse em seu corpo. Em seu aniver- a atear fogo em uma parte do corpo de

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uma das meninas. Houve condenação proteger a mãe, começou a enfrentar o
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a oito anos de prisão e perda do pátrio pai e passou a sofrer violência física e
poder. Foi presa e permaneceu em re- psicológica do mesmo. Quando adul-
gime fechado por mais de um ano. ta, sofreu violência física e psicológi-
A participante 2 e sua irmã gêmea ca de seu próprio companheiro, por
“brincavam de médico”, na vizinhan- meio de empurrões, pontapés, tapas,
ça, com meninos que tinham entre murros e ameaça de morte com uso de
oito e 14 anos. Um morador da mes- arma. Após ter feito denúncia da vio-
ma rua onde a família morava convi- lência doméstica, houve um acordo.
dou as duas crianças para entrarem Durante o relacionamento conjugal, a
em sua casa, tendo ambas sofrido filha sofria violência sexual pelo com-
violência sexual com penetração. As panheiro da mãe, dos 5 aos 14 anos. A
crianças relataram à mãe que, vali- participante 3 relatou ter sido obriga-
dando o relato, pensou em registrar da a estar junto nas violências sexuais
denúncia na delegacia, mas o autor e tinha o papel de preparar e conven-
da violência falou que seriam “pala- cer a filha a se submeter aos abusos
vra delas contra a dele”. A participante sexuais. Em outros momentos, ciente
2 tem diagnóstico de retardo mental de que os estupros ocorreriam, saía de
moderado, avaliado por psiquiatra de casa para passear com o sobrinho. A
uma organização não governamental. violência sexual somente foi revelada
Esta participante tem sido atendida quando a filha se tornou adulta.
fora do sistema público de saúde por A participante 4, aos nove anos, so-
uma psicóloga que elaborou um do- freu violência sexual com penetração
cumento de encaminhamento ao pro- cometida por um vizinho da família.
grama no qual indica que há 11 anos Posteriormente, em função de grandes
a participante abusou de um menino conflitos com a mãe, esta tentou colo-
filho de amigas da família, e que esta cá-la em instituição de acolhimento,
criança ainda tem contato com ela. No mas o pai não deixou. Desse modo, ela
decorrer dos atendimentos, a partici- permaneceu em casa. Aos 13 anos, na-
pante 2 informou que cometeu vio- morou um rapaz que dizia ter 19 anos,
lência sexual com um sobrinho que tendo fugido de casa para morar com
atualmente está com 14 anos de idade. ele, o qual acabou por agredi-la com
Também relatou que, quando tinha 21 murros. A escola denunciou porque
anos, cometeu violência sexual com ela estava machucada. Aos 14 anos foi
uma criança pequena. A participan- morar na rua, e escondia-se do pai que
te diz não entender que seus atos se queria levá-la para casa. Aos 15 anos,
constituem em violência, pois “não saiu da rua e foi morar na casa de uma
faz mal à criança”. Não há processo de colega do colégio. Conheceu seu atu-
responsabilização, uma vez que nun- al marido com 19 anos, que cometeu
ca houve denúncia. Ela participa de violência física contra ela por várias
relacionamentos sexuais nos quais se vezes. A participante cometeu violên-
submete, em virtude de sua vulnera- cia sexual contra suas filhas de seis e
bilidade, a determinadas práticas que oito anos, na própria residência. A vio-
posteriormente causam sofrimento. lência consistia em pedir às filhas que
A participante 3, durante a infân- tocassem sua genitália (esse foi o relato
cia, presenciava violência física e psi- da participante). O relato de uma filha
cológica do pai para com a mãe. À vitimizada foi que a mãe acordava as
medida que cresceu, na tentativa de duas filhas durante a noite, manipu-

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lava suas genitálias, alisava suas ná- Loinaz, 2016; Strickland, 2008; Willis
As violências sofridas por
degas e pedia que as filhas a tocassem & Levenson, 2016). Essa violência mulheres que ofenderam
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na genitália, ameaçando bater nelas se se mostra contínua, permanente, se sexualmente
Cassia de Freitas Teixeira
contassem ao pai. A situação ocorreu expressando em várias facetas: física, Passarela
por várias vezes. As filhas dormiam abandono, negligência, vivência de rua Lucy Mary Cavalcanti Stroher

no mesmo quarto do casal. Uma das e, principalmente, a violência sexual. Liana Fortunato Costa

filhas vitimizadas revelou a violência Ainda na infância dessas mulheres


na escola, que acionou o conselho tu- ocorrem mortes, separações e ruptura
telar. Houve registro de ocorrência po- de vínculos afetivos que determinam
licial. Foi decretada medida protetiva grandes mudanças e desvinculações do
de afastamento do lar da ofensora e de ambiente e de pessoas. Pode-se obser-
proibição de aproximação de contato var também processos de empobreci-
(90 dias). As crianças foram encami- mento material, de escolarização e de
nhadas para atendimento, e a vitimi- oportunidades de inserção social em
zadora também. Recentemente, o pro- função desses acontecimentos, assim
cesso criminal foi arquivado. como indicam os autores citados e os
A participante 5, durante sua in- registros nos prontuários.
fância e adolescência, presenciava as A compreensão das características
agressões físicas e psicológicas cometi- socioambientais (condições de infra-
das pelo pai contra a mãe, sendo que a estrutura, saneamento, proximidade
mãe lhe perguntava o que fazer diante de criminalidade) e da presença da vio-
da situação. Aos seis anos sofreu vio- lência na comunidade vem recebendo
lência sexual do primo nove anos mais atenção no sentido de que essas carac-
velho, na adolescência sofreu assédio terísticas são também fatores de risco e
do namorado da mãe e, posteriormen- aumento da vitimização (Grossi, 2017;
te, de um namorado. Foi encaminhada Willis & Levenson, 2016). Além dis-
ao programa por ter relatado fantasias so, há concordância de que a violência
sexuais com crianças em um atendi- atinge mais agressivamente a mulher
mento em outra instituição pública. (ou a menina ou a adolescente), e deve
A participante apresenta histórico de ser estudada em separado em seus efei-
tentativas de suicídio e suspeita de tos, em relação à violência que atinge o
transtorno de personalidade border- homem (ou o menino ou o adolescen-
line (ainda em investigação). Em seu te) (Lauritsen & Carbone-Lopez, 2011).
último relacionamento, relatou haver Lauritsen e Carbone-Lopez (2011)
trocas de agressões físicas e verbais. realizaram pesquisa para averiguar se
Não há admissão, pela participante, de os fatores pessoa, família e vizinhan-
prática de ofensa sexual. ça diferem em relação ao gênero, com
maior ou menor influência na vitimi-
zação. Concluiu-se que o gênero mo-
DISCUSSÃO dera esses três fatores na vitimização
pela violência (Lauritsen & Carbone-
As “histórias de horror” -Lopez, 2011; Pflugradt, Allen, &
(Grattagliano et al., 2012, p. 180) vividas Marshall, 2018). No que diz respeito à
por essas mulheres têm início muito violência sexual, a menina permanece
precocemente, na infância, assim como mais tempo em família, e isto aumenta
indicam os autores sobre o tema (Blom as possibilidades de vitimização e revi-
et al., 2014; Cauffman, 2008; Comartin timização. O que ainda ocorre em des-
et al., 2018; Levenson et al., 2015; vantagem com relação ao sexo femini-

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no é o fato de que as mulheres acabam de gênero presente (Cauffman, 2008;
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por se associar com homens violentos, Gillespie, Williams, Elliot, Eldridge,
como foi descrito por todas as cinco Ashfield, & Beech, 2015). Para Peter
participantes (Lauritsen & Carbone- (2009), quando há a presença desse
-Lopez, 2011). parceiro a mulher é mais jovem, ou
Dessa forma, a violência quase se mantém com ele um relacionamento
perpetua por toda a vida, ocorrendo na submisso há muito tempo.
adolescência, na fase de jovem adulta, Na fase adulta, a mulher ofensora
na gestação, na conjugalidade (partici- sexual reproduz o padrão de relação
pantes 1, 3 e 4). Nesse ponto há que se violenta que recebeu de seus cuida-
referenciar as questões de transgera- dores (Oliver & Holmes, 2015), pois
cionalidade que se repetem na vivên- as meninas são mais suscetíveis para
cia e sofrimento pela violência, bem essa reprodução porque vivenciam
como na relação violenta com as filhas, os acontecimentos com mais sensibi-
como acontece com as participantes 1 lidade quando pequenas. Os abusos
e 3. A experiência de vitimização e/ou sexuais das mulheres se dirigem mais
vitimização sexual ocorre em função às meninas e crianças conhecidas, e
de delegações não explícitas, mas apre- quando ocorrem com meninos, estes
endidas como forma e qualidade de têm menor idade (Strickland, 2008). A
estabelecimento de relações com ou- pequena amostra desse texto encontra
tras pessoas. A delegação se manifesta ressonância com essas informações.
como um mandado transmitido de ge- As violências sexuais cometidas con-
ração a geração, e se efetiva em função tra meninos tendem a ficar encober-
da existência de uma lealdade invisível tas por mais tempo, pois o menino é
que permanece e “exige” que haja re- usualmente cuidado por uma mu-
produção de uma forma de interagir lher, então o abuso sexual fica sub-
(Boszormenyi-Nagy & Spark, 1983). -notificado, porque os atos abusivos
Um aspecto que merece atenção é a são vistos como cuidados e não como
forma como a ofensa sexual cometida abuso (Strickland, 2008). As crianças
por mulheres se manifesta. A partici- que ficam sob sua responsabilidade
pante 3 cometeu ofensa sexual contra a são escolhidas em função de poderem
filha, em coautoria com o companhei- manter um contato mais próximo sem
ro. Nesse caso, tem-se violência sexual se envolverem com maior intensidade,
materna que necessita ser compreendi- em função da aprendizagem de um
da de maneira distinta da violência se- padrão de inadequação e isolamento
xual cometida por mulher. A violência social que leva à dificuldade de estabe-
sexual cometida por mulher pode ser lecerem relações amorosas autênticas
realizada unicamente por ela, ou em (Strickland, 2008).
parceria com um homem desconhe- Outro ponto importante e caracte-
cido ou com um companheiro habi- rístico da violência sexual cometida
tual. As mulheres mais independentes por mulher é que a situação da violên-
cometem violência sozinhas (Loinaz, cia pode permanecer por mais tempo,
2016). Por isso, o fato de cometerem ou surgirem várias situações que faci-
violência sexual com um parceiro ha- litam a condição de abuso, porque as
bitual (relação conjugal ou estável) in- mulheres são vistas como cuidadoras
dica uma possível dependência e sub- (Kington, 2014). A trajetória da parti-
missão dessa mulher, trazendo para cipante 2 ilustra essa questão. A presen-
o centro da discussão uma dimensão ça do preconceito de que mulheres são

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sempre cuidadoras existe em relação bilização como o processo de reco-
As violências sofridas por
à sociedade e em relação às próprias nhecimento do dano causado à outra mulheres que ofenderam
55
sexualmente
ofensoras, já que elas não reconhecem pessoa. Por esta razão, apesar de ter
Cassia de Freitas Teixeira
o abuso como violência e justificam havido uma resposta punitiva advin- Passarela

que não podem ser vistas como agres- da da justiça, o encaminhamento para Lucy Mary Cavalcanti Stroher
Liana Fortunato Costa
soras, pois são as mães. Desse modo, atendimento é visto como o momento
as ofensoras se mantêm sem denúncia, mais próximo a um possível processo
responsabilização e, o mais importante: de reconhecimento desse dano.
sem receberem qualquer tipo de ajuda Kington (2014) é explícita em afir-
(Gannon & Alleyne, 2013; Grattaglia- mar que a justiça criminal é leniente
no et al., 2012; Levenson et al., 2015; com a mulher que ofende sexualmen-
Willis & Levenson, 2016). Os precon- te, em especial com a mãe que assim
ceitos de gênero influenciando nega- procede. Peter (2006) também aponta
tivamente a identificação da violência a presença de preconceito indicando
cometida por mulheres podem se mos- que a criança sob a responsabilidade
trar impactantes no contexto jurídico e da mãe está sempre protegida, o que
clínico (Pflugradt, Allen, & Marshall, não é verdade sempre. Há uma ver-
2018; Weinsheimer, Woiwod, Coburn, dadeira “cegueira” da sociedade em
Chong, & Connolly, 2017). sequer duvidar dessa assertiva porque
Com relação à responsabilização, a sociedade descreve o homem abusa-
observa-se uma débil resposta da so- dor sexual como mau/monstro/diabo,
ciedade e da justiça. A participante 1 e não há espaço para a desconfiança
foi a que teve uma responsabilização em relação à qualidade das ações da
mais definida: foi condenada a oito mulher. Com relação à mulher que
anos de prisão por cada vítima, perda abusa sexualmente, a sociedade não
do pátrio poder (artigos 214, atenta- sabe como classificar ou onde colocar
do violento ao pudor, posteriormente essa informação. A mulher ofenso-
revogado, juntamente com o artigo ra sexual é vista como doida, pessoa
224, alínea “a”, presunção de violência ruim ou, até mesmo, doente mental,
– menor de 14 anos, posteriormente face à dificuldade de compreender que
revogado, e artigo 226, inc. III e art. se trata de uma expressão de grave dis-
71 / Todos os crimes praticados em túrbio emocional e psíquico e que esta
acordo com o art. 5º - violência do- ofensora necessita de atendimento es-
méstica, da Lei n. 11.340/2006 (Lei pecializado (Willis & Levenson, 2016).
Maria da Penha). Ela foi presa e per- Sobre as vítimas, é importante re-
maneceu em regime fechado por um portar que, quando houve notifica-
ano e seis meses, em regime semia- ção ao sistema de saúde, por meio do
berto por um ano e, no momento, está preenchimento da Ficha de Notifica-
em prisão domiciliar até 2019. Sobre a ção de Agravos (Ministério da Saúde,
participante 2 não houve notificação, 2015), e posterior denúncia, houve
e a participante 3 não tem ainda con- também encaminhamento para aten-
clusão sobre o processo criminal. O dimento psicológico, como foi o caso
mesmo se seguiu com a participante 4, das três filhas da participante 1, e das
que teve processo criminal arquivado, duas filhas da participante 4. Autores
e a participante 5 não teve nenhuma como Cortoni et al. (2017), Blom et al.
notificação e nem denúncia. Punição (2004), Goldhill (2013), Peter (2006),
e responsabilização são condições Willis e Levenson (2016) compro-
diferentes. Considera-se responsa- varam em estudos qualitativos com

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as vítimas de abuso sexual cometido E finalmente, ainda se deve apon-
56
por mulheres que os danos emocio- tar a grande quantidade de possíveis
nais provenientes dessas experiên- vítimas sem uma identificação ade-
cias são muito prejudiciais e tendem quada. A participante 2 informou que
a se prolongar por muito tempo pois, abusou de uma criança sem maiores
para muitas dessas vítimas, não foi informações. A participante 5 oferece
possível a interrupção da violência informação não muito precisa sobre se
pela falta de crédito sobre a existên- abusou ou não de crianças, admitin-
cia da mesma, ainda mais cometida do, até o momento, ter fantasias des-
por quem cuidava dessas vítimas. ta natureza. Apesar de essas mulheres
Goldhill (2013) ainda acrescenta que permanecerem ainda em atendimento,
essas consequências são, atualmente, constata-se uma situação conflitante,
estudadas e descritas (não no Brasil) pois é preciso estabelecer vínculo de
e, mesmo assim, os tribunais per- confiança com a ofensora, e ao mes-
manecem sendo pouco responsáveis mo tempo não se afastar de princípios
com essa questão. A ausência de no- éticos envolvidos nessa situação. O
tificação sugere que as vítimas segui- conflito diz respeito principalmente
ram, ou ainda seguem, em situação de ao conhecimento, durante o processo
extrema vulnerabilidade. de atendimento, por parte dos profis-
Um aspecto sensível da história de sionais de que há crianças e/ou ado-
violências sofridas por essas mulheres lescentes em risco de serem abusadas
é quanto à situação de abandono em sexualmente.
que se encontraram ao longo de suas
vidas, seja abandono afetivo ou aban-
dono do local de pertencimento. A CONSIDERAÇÕES FINAIS
participante 1 foi vítima de trabalho
infantil, com a participante 2 houve Neste texto foram problematizadas
uma tentativa da mãe de levá-la para as violências sofridas por mulheres que
uma instituição de acolhimento, sendo cometeram ofensa sexual. Este ponto
que depois foi morar na rua. É preciso se constitui em um aspecto primordial
que esses movimentos de desvincu- de toda a intervenção psicossocial ou
lações ou de rompimento de relações clínica com essa população. Os auto-
afetivas sejam considerados de maior res consultados neste trabalho concor-
importância, porque se constituem em dam que essas mulheres necessitam ser
um aspecto primordial dos problemas atendidas em uma condição de acolhi-
na afetividade da mulher ofensora se- mento e estabelecimento de relação de
xual. Como meninas, sofreram maus- confiança, sem julgamento ou crítica
-tratos e abandonos; como adultas, sobre sua conduta. A presença de ideias
não conseguiram estabelecer identifi- preconcebidas de que a mulher sempre
cação positiva com figuras femininas cuida ou que a maternidade é imacu-
(em geral isso ocorre com a mãe) cui- lada pode toldar um olhar investigativo
dadoras e cresceram com graves danos sobre o problema, seja por parte da so-
ao seu desenvolvimento afetivo emo- ciedade ou dos profissionais.
cional. Esses danos são agravados por O quadro traçado na Tabela 1 é bas-
condições sociais de gênero, colocan- tante rico na apresentação das várias
do-as em posição inferiorizada ou de- violências sofridas pela mulher que
pendentes de homens violentos (Willis comete violência sexual, e de suas va-
& Levenson, 2016). riadas formas. O risco de se invisibili-

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zar ou desqualificar as ofensas sexuais Methods Analysis. Journal of
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ção e estudo específicos, pois se corre Comartin, E. B., Burgess-Proctor, A.,
o risco de vê-las mais como vítimas ou Kubiak, S., & Kernsmith, P. (2018).
como vitimizadoras, dicotomizando a Factors related to co-offending
questão. A abordagem a essa mulher é and coerced offending among fe-
complexa e específica, não podendo se male sex offenders: The role of
negligenciar a influência do gênero em childhood and adult trauma histo-
sua constituição psíquica emocional ries. Violence and victims, 33(1), 53-
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CASSIA DE FREITAS TEIXEIRA
60 NPS 64 | Agosto 2019
PASSARELA

(https://orcid.org/0000-0001-5662-5024)
Assistente social, Programa de Pes-
quisa, Atenção e Vigilância à Violên-
cia. Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal. Programa de Pesqui-
sa, Atenção e Vigilância à Violência –
PAV Alecrim – Secretaria de Estado de
Saúde do Distrito Federal (SES-GDF).
E-mail: pav.alecrim@gmail.com

LUCY MARY CAVALCANTI STROHER

(https://orcid.org/0000-0002-4525-9281)
Assistente social, Programa de Pes-
quisa, Atenção e Vigilância à Violên-
cia. Secretaria de Estado de Saúde do
Distrito Federal. Programa de Pesqui-
sa, Atenção e Vigilância à Violência –
PAV Alecrim – Secretaria de Estado de
Saúde do Distrito Federal (SES-GDF).
E-mail: lustroher@gmail.com

LIANA FORTUNATO COSTA

(http://orcid.org/0000-0002-7473-1362)
Psicóloga, Programa de Pós-Gradua-
ção em Psicologia Clínica e Cultura da
Universidade de Brasília (PPGPSICC-
-IP-UnB).
E-mail: lianaf@terra.com.br

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